Autarquias Locais - VascoAlmeidaeCosta
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CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
3. Existem alguns aspectos do poder local que merecem uma mais detida
atenção. Estão neste caso os da conciliação da democracia com a eficâcia
administrativa, a contribuição das instituições locais para a instauração e
consolidação da democracia política e, finalmente, o aperfeiçoamento dos
esquemas democrâticos.
A necessidade de promover a conciliação de democracia com a eficâcia
administrativa resulta do reconhecimento de que se a vontade popular ganha
em poder de esclarecimento e expressão através de debates e discussões em
assembleias amplas, perde, contudo, por esse facto, o dinamismo e poder de
decisão que em regra se logra obter pela coesão de um grupo pouco numero-
so. Por conseguinte, para contrabalançar as hipotéticas dificuldades ql/e na
prâtica se observarão, decorrentes do primado concedido às amplas assembleias
eleitas, hâ que implementar um mecanismo de delegação de poderes.
A instauração e consolidação da democracia política é uma contribuição
assegurada pela electividade de todos os órgãos de poder local e pela cri-
teriosa divisão de poderes (atribuições e competências) a que a regra de
proporcionalidade dá ainda uma maior dimensão. O rigor como os poderes
são repartidos e os limites postos ao exercício de tutela administrativa con-
figuram um poder local e o carácter das efectivas condições de autonomia
existentes.
Por último, o aperfeiçoamento dos esquemas democrâticos podem con-
tribuir para corrigir as inevitáveis imperfeições de quadros normativos que
raramente repercutem a miríade de aspectos que caracterizam a riqueza
vivencial das comunidades locais.
Neste sentido e considerando que nos órgãos eIectivos formais não se
esgota todo o elenco da actividade das populações quanto à definição e de-
fesa dos seus interesses, serâ vantajosa a existência de mecanismos que per-
mitam a participação tanto de organizações de criação espontânea como de
agrupamentos socioprofissionais.
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Para se dar conteúdo real ao Poder Local haverá que ter em conta a
existência de 3 factores que o condicionam:
- a aptidão para a gestão político-administrativa dos titulares dos
órgãos;
- a existência de meios técnicos adequados;
- a disponibilidade de meios financeiros.
Em resumo, a existência de verdadeiros órgãos de administração local
implica que estes disponham de capacidade de acção nos campos político,
técnico e financeiro.
Importa então e de «per si», analisar muito abreviamente, cada uma destas
questões.
Estes cuidados são essenciais para que a vida autárquica não fique ao
sabor de mais um qualquer diploma legal que, emanado de um qualquer Mi-
nistério (e a despeito de ser presente ao Conselho de Ministros), lhe outorga,
retira, aumenta, diminui o que por direito lhe é devido ou conveniente,
sem curar das consequências a nível local.
É de notar a primazia dada à exigência de democracia relativamente
às questões de eficácia. Esta circunstância traduz-se no conjunto do peso
de competências conferidas ao órgão deliberativo privilegiando-o comparati-
vamente ao órgão executivo e, sobretudo, não concebendo poderes de dele-
gação latos para permitir ao executivo efectivar operações de gestão qualita-
tivamente mais impressivas em conteúdo de interesse imediato para as popu-
láções. Esta opcção é significativa.
NOTA FINAL