Do Direito Internacional
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RESUMO: Neste artigo, discute-se a posição que ocupam decisões dos tribu-
nais internacionais na teoria das fontes do Direito Internacional, partindo do
argumento de que é insuficiente atribuir a tais decisões o papel de simples meio
auxiliar para a determinação do direito no plano internacional. Inicialmente,
procurou-se apresentar a tradicional classificação das fontes do direito interna-
cional, a partir do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, que reconhece,
como fonte primária, apenas os costumes, os tratados e os princípios gerais de
direito. As decisões dos tribunais internacionais e a opinião dos juristas seriam
apenas meios auxiliares, posição esta se mostra limitada para explicar o crescente
prestígio das decisões dos tribunais internacionais. Em seguida, apresenta-se
a atuação da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CorteIDH) como
exemplo do argumento em favor da jurisprudência como fonte do Direito
Internacional, em especial a partir do desenvolvimento da regra-garantia do
controle de convencionalidade, como direito assecuratório da supremacia da
ordem internacional sobre o direito interno dos Estados. Longe de se constituir
apenas um meio auxiliar, a jurisprudência da CorteIDH constitui, de forma
primária, uma regra-garantia, cuja pretensão é a de assegurar o enforcement da
Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH). Tanto é que a jurispru-
dência dos tribunais brasileiros tem utilizado o controle de convencionalidade
para reconhecer a superioridade da CADH sobre o direito interno. Conclui-se,
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ABSTRACT: This article brings a discussion on the position that the decisions
of international courts occupy in the theory of the sources of International Law,
based on the argument that it is insufficient to attribute to such decisions the
role of mere auxiliary means for determining International Law. Initially, the
traditional classification of the sources of International Law is presented, based
on the Statute of the International Court of Justice, which recognizes, as a pri-
mary source, only the customs, treaties and general principles of Law. Decisions
of international tribunals and the lawyers’ opinions would only be secondary
sources, a position that has proven to be limited in terms of explaining the
growing prestige of the decisions of international courts. Next, the Inter-A-
merican Court of Human Rights activity is presented as an example of the
argument in favor of jurisprudence as a source of International Law, especially
after the development of the “guarantee-rule” of conventionality control, as a
right that assures the supremacy of the international order over the domestic
law of States. Far from constituting only an auxiliary means, the jurisprudence
of the International Courts is, in a primary form, a “guarantee-rule”, whose
intention is to ensure the enforcement of the American Convention on Human
Rights (ACHR). So much so that the jurisprudence of the Brazilian courts has
used the conventionality control to recognize the superiority of the ACHR on
domestic law. The conclusion reached is that the classification of the Statute of
the International Court of Justice is partially overcome by not recognizing the
jurisprudence of the courts as a source of International Law.
Keywords: International Law. Sources. Inter-American Court of Human
Rights. “Guarantee-rule”. Conventionality control.
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1. INTRODUÇÃO
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1. Com sede na cidade de San José, na Costa Rica, a CorteIDH foi instituída na Convenção
Americana de Direitos Humanos (CADH), de 1969, também conhecida como Pacto de San
José, com o propósito de salvaguardar os preceitos da Convenção (cf.: CORTE..., 2018).
Além da CorteIDH, foi instituída também a Comissão Interamericana de Direitos Humanos
(CIDH), vinculada a Organização dos Estados Americanos (OEA), com sede em Washington
(EUA), também integrando o sistema interamericano de proteção dos direitos humanos (cf.:
OEA, 2018).
2. A literatura internacionalista, seguindo a tendência da Teoria Geral do Direito, costuma dividir
o estudo das fontes em materiais e formais, que os primeiros os elementos ou motivos que
levam ao aparecimento de normas jurídicas, que podem ser de ordem sociológica, filosófica,
política, dentre outras. As formais são fontes expressas, positivadas de alguma forma, como
leis, tratados, costume, dentre outras (PORTELA, 2017, p. 69).
3. Adota-se aqui um estrato bastante amplo de consideração quanto aos sujeitos do Direito In-
ternacional, pelo que implica ter presente não apenas os Estados, mas também organizações
internacionais e, em determinadas situações, até mesmo o indivíduo, mormente quando se
tem a possibilidade de Cortes internacionais, como a Corte Europeia de Direitos Humanos,
tutelar direitos fundamentais individualmente considerados (MATTOS, 2002, p. 4-5).
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4. Por essa razão será deixada de lado a discussão entre fontes materiais e formais do Direito Inter-
nacional, que pode ser consultada em: Mazzuoli (2008, p. 96 e ss.), Mattos (2002, p. 25 e ss.)
e Accioly, Silva e CASELLA (2012, p. 134 e ss).
5. O art. 38 do Estatuto, na redação em língua inglesa, dispõe: “1. The Court, whose function is
to decide in accordance with international law such disputes as are submitted to it, shall apply: a.
international conventions, whether general or particular, establishing rules expressly recognized by
the contesting states; b. international custom, as evidence of a general practice accepted as law; c. the
general principles of law recognized by civilized nations; d. subject to the provisions of Article 59,
judicial decisions and the teachings of the most highly qualified publicists of the various nations,
as subsidiary means for the determination of rules of law. 2. This provision shall not prejudice the
power of the Court to decide a case ex aequo et bono, if the parties agree thereto” (INTERNATIO-
NAL…, 2018).
6. Originalmente, a redação desse trecho era: “the general principles of law recognized by civi-
lized nations” (<https://treaties.un.org/doc/Publication/CTC/uncharter.pdf>. Acesso em:
27.4.2017), aspecto que mereceu a crítica dos internacionalistas (ACCIOLY; SILVA; CASEL-
LA, 2012, p. 141-2).
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7. Observam Accioly, Silva e Casella (2012, p. 147), no entanto, que esse fator “tempo” na cons-
trução do direito consuetudinário internacional tem sofrido mudanças desde a segunda me-
tade do séc. XX. Os avanços tecnológicos e outros fatores contemporâneos reclamam, pro-
gressivamente, respostas mais céleres da comunidade internacional. Por isso, o fator “tempo”,
isoladamente, mostra-se frequentemente como critério insatisfatório para estabelecer a existên-
cia de um costume internacional passível de se converter em fonte. No mesmo sentido, explica
Rodrigo More (2002, p. 10) que o binômio costume-tempo não é totalmente incorreto, mas
os avanços nos meios de comunicação entre as diversas sociedades não reclamam mais “longos
períodos de tempo” para a consolidação de um costume internacional.
8. Sobre o tema, dispõe o art. 2º, item 1, alínea “a” da Convenção de Viena (1969): “[...] tratado
significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito
Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos co-
nexos, qualquer que seja sua denominação específica”.
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9. Como acentua Valério Mazzuoli (2008, p. 66 e 68), a concepção dualista, assentada na con-
sideração de que o direito internacional e o interno constituem ordens jurídicas diferentes,
emana do entendimento de que os tratados internacionais representam apenas compromissos
externos do Estado, sem que isso possa produzir efeitos imediatos e concretos no âmbito inter-
no. Nessa ótica, as normas dispostas em tratados não teriam aplicabilidade interna imediata,
senão por meio do instituto da “recepção”, mercê, pois, de um processo de introdução formal
das disposições dos tratados no ordenamento jurídico interno, aí sim subsumindo as regras
anteriores aos processos de antinomia normativa, isso na versão moderada da técnica, pois na
versão mais radical haveria, ainda, a necessidade de revogação das leis internas dispostas em
sentido contrário ao tratado recepcionado, assim como admitiria a revogação da norma inter-
nacional por outra norma interna posterior.
10. É o que sucede no Brasil, cuja Constituição não reconhece o império automático das normas
internacionais sobre o Direito interno, como se vê dos arts. 4º (Princípios da República nas re-
lações internacionais), 5º, §§ 2º, 3º e 4º (Direitos fundamentais); 49 (competências exclusivas
do Congresso Nacional), 84, inciso VIII (atribuições do Presidente da República).
11. No mesmo sentido, a posição histórica do Supremo Tribunal Federal: “[...] SUBORDINA-
ÇÃO NORMATIVA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS À CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA. – No sistema jurídico brasileiro, os tratados ou convenções internacionais estão
hierarquicamente subordinados à autoridade normativa da Constituição da República. Em
conseqüência, nenhum valor jurídico terão os tratados internacionais, que, incorporados ao
sistema de direito positivo interno, transgredirem, formal ou materialmente, o texto da Carta
Política. O exercício do treaty-making power, pelo Estado brasileiro – não obstante o polêmico
art. 46 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (ainda em curso de tramitação
perante o Congresso Nacional) –, está sujeito à necessária observância das limitações jurídicas
impostas pelo texto constitucional [...]” (ADI 1480 MC, Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal
Pleno, julgado em 04/09/1997, DJ 18-05-2001).
12. O texto da Convenção de Viena sobre tratados internacionais foi ratificado pelo Brasil, por
meio do Decreto n. 7.030/2009 (BRASIL, 2009).
13. De acordo com More (2002, p. 11-12), as fontes principais do Direito Internacional são
apenas os tratados e os costumes, não constituindo consenso se os princípios gerais de direito
seriam fontes primárias ou subsidiárias, decorrentes, nesta última concepção, dos próprios
costumes internacionais, conquanto sustente esse autor que “os princípios gerais de direito
internacional são a quintessência do direito internacional, representativos de toda uma evolu-
ção histórica, política, econômica, jurídica e social da comunidade internacional em torno de
princípios universalmente reconhecidos por todos os “povos”.
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14. De acordo com Accioly, Silva e Casella (2012, p. 180-81), houve grande protagonismo da
opinião dos juristas na formação do Direito Internacional. Embora tenha seu papel arrefecido,
“não se pode ignorar a importância de interpretação doutrinária judiciosa em que o autor
desenvolve normas consuetudinárias ou mesmo textos convencionais que podem carecer de
clareza”.
15. Essa mesma opinião é compartilhada por Rodrigo More (2002, p. 14), que enxerga na ju-
risprudência “a simples análise do direito existente, seja convencional, consuetudinário ou
inspirado em princípios gerais de direito”.
16. Sublinha, ainda, Mazzuoli (2008, p. 118-119) que as decisões da Corte Internacional de Jus-
tiça se encontram numa espécie de vértice hierárquico no cenário das cortes internacionais,
qualificadas com a mais alta autoridade, ainda que o Estatuto (art. 59) ressalve que a vincula-
tividade só teria lugar para as partes litigantes em um determinado caso. Daí, conclui-se que
aquela “hierarquia” seria muito mais uma consideração de respeito às decisões da Corte, do que
o resultado de um sistema piramidal e vinculativo de precedentes, até porque esse modelo seria
potencialmente inviável no plano das diversas jurisdições internacionais.
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Será mesmo esse papel auxiliar o único papel a ser exercido pela
jurisprudência das Cortes? A de mero meio auxiliar? Ou é possível consi-
derar a possibilidade de também constituir fonte do Direito Internacional?
É preciso considerar que a afirmação da jurisprudência como mero
meio auxiliar – e não fonte do Direito Internacional, não constitui, nem
de longe, uma posição indene de contestação. Isso decorre, inclusive, da
consideração feita, ao longo do tempo, pela própria Corte Internacional de
Justiça, que aplica suas próprias decisões como autênticas fontes do direito
(ACCIOLY; SILVA; CASELLA, 2012, p. 175).
A discussão, no âmbito da Teoria do Direito – e de suas fon-
tes – parece ultrapassar as fronteiras do Direito das gentes, constituindo
uma das grandes controvérsias contemporâneas, nomeadamente a partir
da aproximação progressiva das grandes famílias jurídicas (DAVID, 1998,
p. 20), este também um fenômeno decorrente da reconfiguração da socie-
dade global (FRIEDMAN, 2005).
Comparatistas, como Mauro Cappelletti (1999, p. 73), esforçam-
-se em demonstrar que não antagoniza com a teoria jurídica a consideração
da jurisprudência como fonte, na medida em que “a criatividade constitui
um fator inevitável da função jurisdicional”, ainda que, como pontuou
René David (1998, p. 120), esse papel criador, por vezes, apresente-se de
forma dissimulada, por trás da aparência de uma interpretação da lei, ou,
no caso do Direito Internacional, de tratados, costumes ou outras fontes.
Essa linha de pensamento sobre as fontes do Direito não ignoram
que a jurisprudência, mesma qualificada como fonte, ostenta peculiarida-
des que a distingue das demais fontes, como aquelas escritas (leis, tratados
etc.). Mas, a distinta procedimentalidade na formação dessa fonte jurispru-
dencial não lhe retira a mesma natureza das demais, enquanto elemento de
“trabalho” do Direito.
Daí porque internacionalistas, como Antônio Augusto Cançado
Trindade (1981, p. 116), afirmam: “não há como negar à grande massa de
decisões arbitrais e judiciais o caráter de ‘fonte’ do Direito Internacional,
ainda que operando de modo intermitente e sendo as decisões não raro de
peso desigual”.
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17. Nesse caso, assentou a Corte o seguinte, a despeito do controle de convencionalidade: “[...] los
jueces y tribunales internos están sujetos al imperio de la ley y, por ello, están obligados a aplicar las
disposiciones vigentes en el ordenamiento jurídico. Pero cuando un Estado ha ratificado un tratado
internacional como la Convención Americana, sus jueces, como parte del aparato del Estado, tam-
bién están sometidos a ella, lo que les obliga a velar porque (sic) los efectos de las disposiciones de la
Convención no se vean mermadas por la aplicación de leyes contrarias a su objeto y fin, y que desde
un inicio carecen de efectos jurídicos. En otras palabras, el Poder Judicial debe ejercer una especie de
“control de convencionalidad” entre las normas jurídicas internas que aplican en los casos concretos
y la Convención Americana sobre Derechos Humanos. En esta tarea, el Poder Judicial debe tener
en cuenta no solamente el tratado, sino también la interpretación que del mismo ha hecho la Corte
Interamericana, intérprete última de la Convención Americana”.
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18. Cf.: Boyce y otros Vs. Barbados (20 de novembro de 2007); Aguado Alfaro y otros Vs. Peru (24
de novembro de 2006); Cabrera García y Montiel Flores Vs. México (25 de novembro de 2010);
Gelman Vs. Uruguay. Fondo y Reparaciones (24 de fevereiro de 2011); dentre outros.
19. É de se destacar que a CADH, em seu art. 2º, explicita o compromisso dos Estados signatários
em adotar “as medidas legislativas ou de outra natureza que forem necessárias para tornar efe-
tivos tais direitos e liberdades”.
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22. Segue a redação ao art. 7º, item 7 da CADH, extraída do sítio eletrônico da Corte Interame-
ricana de Direitos Humanos: “Nadie será detenido por deudas. Este principio no limita los
mandatos de autoridad judicial competente dictados por incumplimientos de deberes alimen-
tarios” (Disponível em: <http://www.cidh.oas.org/Basicos/Spanish/Basicos2.htm>. Acesso em
2.5.2017).
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26. Para uma síntese dessas críticas, cf., por todos: ACIOLI, 2011. Boa parte delas decorre do
fato de que o Supremo Tribunal Federal tratou, em mesma perspectiva, o devedor fiduciário,
e o depositário contratual em geral, e o depositário judicial infiel, mesmo diante de distintas
naturezas jurídicas de que são impregnadas aquelas situações.
27. O conceito de bloco de constitucionalidade é assim delineado por Ana Maria D’Ávila Lopes
(2009, p. 45 e 53): “conjunto de normas que, junto com a Constituição codificada de um
Estado, formam um bloco normativo de nível constitucional”, de modo a servir, inclusive,
de parâmetro para controle de constitucionalidade no tecido normativo infraconstitucional.
28. Quanto ao tema, merece destaque o seguinte trecho, do voto do Min. Gilmar Mendes: “Não
se pode perder de vista que, hoje, vivemos em um 'Estado Constitucional Cooperativo', iden-
tificado pelo Professor Peter Haberle como aquele que não mais se apresenta como um Estado
Constitucional voltado para si mesmo, mas que se disponibiliza como referência para os outros
Estados Constitucionais membros de uma comunidade, e no qual ganha relevo o papel dos
direitos humanos e fundamentais. Para Haberle, ainda que, numa perspectiva internacional,
muitas vezes a cooperação entre os Estados ocupe o lugar de mera coordenação e de simples
ordenamento para a coexistência pacífica (ou seja, de mera delimitação dos âmbitos das sobe-
ranias nacionais), no campo do direito constitucional nacional, tal fenômeno, por si só, pode
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induzir ao menos a tendências que apontem para um enfraquecimento dos limites entre o in-
terno e o externo, gerando uma concepção que faz prevalecer o direito comunitário sobre
o direito interno” (grifo nosso).
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29. A decisão formal da revogação da súmula n. 619 foi adotada pelo STF nos autos do Habeas
Corpus n. 95.566, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado no mesmo dia 3.12.2008.
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30. Destacou-se, na oportunidade, que essa consideração produzia efeitos sobre os dispositivos
contidos no art. 652 do Código Civil e em todo o Decreto-Lei n. 911/69.
31. O acórdão em exame também ressalvou a possibilidade do Congresso Nacional submeter o
texto da CADH e de outros pactos internacionais ao regime do art. 5º, § 3º, da Constitucio-
nal, emprestando-lhes status de emenda constitucional, o que não só incluiria esses tratados no
bloco de constitucionalidade, como, principalmente, tornaria essas normas passíveis de atuar
como normas-parâmetro para controle de constitucionalidade, inclusive concentrado, e não
apenas de controle difuso de convencionalidade.
32. Cf., por todos: REsp 914.253/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, Corte Especial, julgado em
2/12/2009, DJe 04.2.2010, onde restou sublinhado o caráter supralegal dos tratados que cui-
dam da proteção aos direitos humanos, enfatizaram que, “no plano material, as regras pro-
vindas da Convenção Americana de Direitos Humanos, em relação às normas internas, são
ampliativas do exercício do direito fundamental à liberdade, razão pela qual paralisam a eficácia
normativa da regra interna em sentido contrário, haja vista que não se trata aqui de revogação, mas
de invalidade” (RESp 1.640.084 (STJ, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª. Turma, DJe 1.2.2017).
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4. CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
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Correspondência | Correspondence:
Luciano Athayde Chaves
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas,
Av. Sen. Salgado Filho, 3000, Lagoa Nova, CEP 59.078-970. Natal, RN, Brasil.
Fone: (84) 3215–3542.
Email: lucianoathaydechaves@gmail.com
Recebido: 05/11/2017.
Aprovado: 26/02/2018.
Nota referencial:
CHAVES, Luciano Athayde. As decisões das cortes internacionais como fonte do
direito internacional: a contribuição da Corte Interamericana de Direitos Humanos
na construção da regra-garantia do controle de convencionalidade. Revista Direito e
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