Artigo Constelação Familiar

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“ Constelação familiar sistêmica


segundo Bert Hellinger na
atenção primária

Quele de Melo Resende Marcelo José de Sousa

Amanda Tatiele Carneiro Alves Marcos Leandro Pereira

Anna Alice de Paula Marinho Marilene Rivany Nunes

Dário Tavares Jacinto Mayara Esteves de Oliveira

David Lucas Morais Rodrigues

Letícia Ribeiro Morais

10.37885/201001697
RESUMO

As constelações familiares são um método de terapia breve desenvolvido por Bert


Hellinger, que surgem como uma alternativa aos pacientes que possuem dores crônicas
ou algum tipo de sofrimento mental. Esta pesquisa objetivou desenvolver a técnica da
constelação familiar na unidade básica de saúde em Patos de Minas, MG. Trata-se de
uma intervenção de implantação seguida por uma pesquisa de campo descritiva explora-
tória desenvolvida na Unidade Básica de Saúde Padre Eustáquio, no município Patos de
Minas – MG, no ano de 2019. Participaram dos grupos 68 pessoas com média de idade
de 34,7, das quais 26 constelaram, sendo estas todas do sexo feminino. O participante
do grupo, após assinatura dos termos, foi constelado com um tema de sua escolha e em
seguida preencheu dois questionários de percepção, o segundo a longo prazo. A análise
dos dados foi feita de forma estatística descritiva e apresentada na forma de tabelas e
gráficos. Em relação ao questionário de percepção a longo prazo, 11% afirmaram que
não houve mudanças na sua vida após a constelação e todas disseram que perce-
beram alterações positivas em seus relacionamentos familiares, desejando constelar
novamente. Ainda dentre as consteladas, 81% indicaram o trabalho para conhecidos e
todas pediram que o projeto tivesse continuidade na UBS. Sobre o tema trabalhado, 93%
mudaram sua opinião a respeito do mesmo. As demais pessoas que estavam no grupo
apresentaram grande aceitação. Foi possível verificar a satisfação e agradecimento dos
participantes em relação aos temas trabalhados, refletindo melhorias em suas relações
interpessoais e familiares.

Palavras-chave: Constelação Familiar, Práticas Integrativas, Saúde Mental.


INTRODUÇÃO

Um dos grandes desafios enfrentados pelas equipes de atenção básica são aqueles
relacionados ao sofrimento mental. Pessoas que apresentam queixas como sono de má
qualidade, alterações no apetite, dores (geralmente crônicas e difusas), cansaço, palpitações,
tontura e até alterações gastrointestinais frequentemente são também pessoas tristes, desa-
nimadas, que não demonstram prazer em viver, irritadiças, ansiosas. A ansiedade, a soma-
tização e a depressão são as síndromes mais comuns na atenção primária (BRASIL, 2013).
É muito comum que pessoas procurem a unidade de saúde com sintomas físicos que
não podem ser explicados. Como os sintomas persistem, apesar de não haver um diagnós-
tico e, por conseguinte um tratamento, essa pessoa demanda um grande esforço da equipe
e acaba sendo julgada como alguém que “só quer chamar a atenção”. No entanto, pode
tratar-se de uma pessoa que esteja em profundo sofrimento, e nem ela mesma consegue
correlacionar o sofrimento com suas dores. O profissional da atenção primária deve acolher
esta angústia, mostrando à pessoa sua influência em sua vida, e ainda atribuindo um novo
significado ao sintoma (BRASIL, 2013).
As constelações familiares sistêmicas surgem como uma alternativa aos pacientes
que possuem dores crônicas ou algum tipo de sofrimento mental. Trata-se de um método
de terapia breve, desenvolvido pelo filósofo alemão Bert Hellinger. Nesse trabalho, são uti-
lizadas pessoas comuns para representar o sistema familiar do paciente. É como se fosse
um genograma vivo, que busca na família a origem de dificuldades ou bloqueios que trazem
sofrimento ao longo da vida da pessoa. Não substitui, de maneira alguma, o tratamento
médico ou psicológico. Age apenas como um complemento, que traz à tona questões que
antes não eram percebidas nem mesmo pelo próprio paciente (BRAGA, 2009).
De acordo com Bert, todas as pessoas pertencem a uma consciência coletiva, que por
sua vez é regida por três regras: hierarquia, pertencimento e equilíbrio. Quando uma dessas
regras é descumprida, surgem como compensação doenças, conflitos, sentimentos de tris-
teza e angústia. Esses sentimentos e doenças podem passar de uma geração a outra sem
que se saiba o motivo. Além disso, questões vividas por um sistema familiar como suicídios,
assassinatos, fatalidades que levam a mortes precoces, podem inconscientemente afetar a
vida das próximas gerações, resultando em novos suicídios ou assassinatos, doenças físi-
cas ou mentais, distúrbios de aprendizagem ou mesmo comportamentos conflitantes com
parceiros, chefes ou colegas de trabalho, familiares, entre outros (BRAGA, 2009).
Sendo assim, objetivou-se com este trabalho, desenvolver a técnica da constelação
familiar na unidade básica de saúde, sensibilizando e informando a equipe sobre a mesma
e ainda verificar a percepção dos participantes do grupo sobre as constelações.

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REFERENCIAL TEÓRICO

A constelação familiar, desenvolvida por Bert Hellinger, é uma forma de terapia breve
onde a dor e as doenças são vistas como processos inconscientes, causados por trau-
mas pessoais e até mesmo familiares que chegam a atravessar gerações (DEUS et al.,
2014). Em seu livro “O essencial é simples”, Bert utiliza as constelações em diversos sintomas
e doenças. Seu objetivo não era a cura, mas sim ajudar o paciente a conviver melhor com
suas dores. No entanto, ocorreu o inesperado. Muitos pacientes relataram o desaparecimento
dos sintomas (MELO, 2011).
A filosofia é um recurso adicional com possíveis efeitos terapêuticos, não substituindo a
terapia médica ou psicológica. É vista como uma forma de levar o paciente a perceber qual
a mensagem da dor. Com isso é possível que se tenha a melhora ou que possa aprender
a conviver em paz com a doença. Trata-se uma técnica na qual se utilizam esculturas vivas
para representar a árvore genealógica do cliente. Com isso consegue-se identificar bloqueios
emocionais presentes em qualquer geração do sistema familiar (MELO, 2011).
Em trabalho realizado na UFG (Universidade Federal de Goiás) com mulheres com dor
pélvica crônica, Deus et al. (2014) citam que em mais de 70% das mulheres estudadas a dor
surgiu em paralelo a eventos conflituosos ou traumáticos. Em mais de 40% foram citados
conflitos conjugais ou familiares. Em mais de 50% estiveram presentes os traumas familiares.
Cabe destacar ainda que 84,3% apresentaram exame físico normal e 69,6% apresentaram
ultrassonografia normal ou com achados incidentais (geralmente assintomáticos e muitas
vezes no lado contralateral da dor). Essas pacientes foram orientadas a procurar um servi-
ço de psicoterapia. 25,2% aceitaram a sugestão, sendo que 20,9% aderiram à constelação
familiar, 2,6% à cognitivo-comportamental e 1,7% a outras modalidades. Todas tiveram
diminuição na escada de dor, enquanto que as que participaram da constelação familiar
oferecida tiveram uma redução de 2,9 pontos.
O trabalho com constelações vem sendo realizado há cerca de nove anos na UFG
pelos médicos José Miguel e Vânia Meira. No início o objetivo era ajudar mulheres com dor
pélvica crônica. Hoje os grupos contam com uma média de 150 pessoas. Os consteladores
explicam que o trabalho ajuda o cliente a concordar com seu destino e com isso lidar melhor
com suas culpas. O olhar biopsicossocial do trabalho possibilita que se veja o paciente de
um modo mais completo, levando em conta aspectos emocionais nos quais a doença pode
se manifestar (MELO, 2011).
Pesquisas no Brasil e no mundo mostram que cerca de uma a cada quatro pessoas
que procuram a atenção básica têm algum transtorno mental. Se forem incluídos os casos
subclínicos (limiar abaixo do diagnóstico), a proporção aumenta para uma a cada duas.

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Muitos procuram a atenção básica devido ao sofrimento psíquico, e não a uma doença.
Dentre os doentes, a doença normalmente não explica tamanho sofrimento. Esses pacien-
tes que sofrem e não estão doentes são os que lotam a unidades básicas e aumentam as
estatísticas de depressão e ansiedade (BRASIL, 2013).
Sabe-se que pacientes com doenças crônicas ou recorrentes, em sua maioria, têm
índices mais altos de problemas mentais que a população geral. Estudos realizados no Brasil
mostram que as queixas de problemas mentais estão entre as causas mais frequentes de
procura por atendimento na atenção básica. Em torno de 20% da população possui algum
transtorno psíquico. Há ainda uma correlação entre transtornos mentais e nível sócio eco-
nômico (CAMPOS et al., 2011).
Cabe às equipes da Atenção Básica lidar com problemas de saúde de grande relevância
como uso abusivo de drogas, violência na família e até mesmo na comunidade, transtornos
mentais e as mais variadas formas de sofrimento psíquico. Dessa forma espera-se que
somente chegue ao psiquiatra aquele paciente que realmente precisa de seus cuidados, e
que seja evitada a medicalização dos problemas sociais e individuais (WANDERLEY et al.,
2013). Esse cuidado pode acontecer de várias formas. Grupos terapêuticos, grupos ope-
rativos, abordagem familiar, redes de apoio, grupos de convivência, grupos de artesanato
ou outras formas de geração de renda. Através destes, pode-se também abordar outros
problemas de saúde (BRASIL, 2013).
Pesquisas que estudaram o sofrimento mental deram indícios consistentes de que este
influencia no curso de agravos à saúde prevalentes como cardiovasculares, cerebrovascula-
res e também diabetes. Isso ocorre como fator de risco, diminuindo a adesão ao tratamento
ou ainda piorando o prognóstico. Além disso, a dependência de drogas psicoativas também
aparece como influenciadora no curso de doenças infecciosas, principalmente no que diz
respeito à aderência ao tratamento (BRASIL, 2013).
A dor crônica surge de uma interação entre aspectos orgânicos e psicológicos. O es-
tresse que é gerado por relacionamentos conflituosos leva a liberação de substâncias neu-
ro-hormonais como as citocinas que agridem suas próprias células. O corpo em constante
estresse necessita de quantidades maiores de glicose, que é conseguida através da pro-
teólise causada por tais substâncias. Com o passar dos anos, os tecidos musculares e a
bainha de mielina podem sofrer danos irreparáveis. Além disso, a resposta ao estresse leva
a diminuição da resposta imune, deixando o organismo mais vulnerável (SILVA; ROCHA;
VANDENBERGHE, 2010).
Torna-se evidente a importância de uma abordagem na clínica que contemple a saú-
de mental e a saúde do corpo como sendo totalmente interrelacionadas. O caderno 34 do
Ministério da Saúde (Saúde Mental) traz como uma das sugestões para isso a criação de

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grupos que promovam a saúde mental. Dessa forma, o paciente tem a oportunidade de trocar
experiências, visto a grande pluralidade de seus participantes. No atendimento individual
tal troca não seria possível.
Em 2006, o Ministério da Saúde aprovou a Política Nacional de Práticas Integrativas
e Complementares (PNPIC), que trata da incorporação de ações, serviços e produtos da
Medicina Tradicional Chinesa/Acupuntura, Homeopatia, Plantas Medicinais e Fitoterapia.
Incluiu-se ainda os observatórios de saúde de Termalismo Social/Crenoterapia e Medicina
Antroposófica. Trata-se de práticas que possuem em comum uma visão diferenciada sobre
o processo saúde-doença, e que contribuem para uma mudança nos paradigmas atualmente
vigentes, aumentando assim as possibilidades terapêuticas. O objetivo da PNPIC é propor-
cionar ao público medidas que venham a estimular formas naturais de se prevenir agravos
e recuperar a saúde (BRASIL, 2013). Em 12 de março de 2018, durante o 1º Congresso
Internacional de Práticas Integrativas e Saúde Pública (INTERCONGREPICS), foi anunciado
pelo Ministro da Saúde a inclusão das constelações familiares na lista das práticas integra-
tivas (VALADARES, 2018).

OBJETIVOS

Objetivo geral

Tornar conhecida a proposta da constelação familiar como uma técnica possível de


solução para os emaranhados emocionais para os profissionais da UBS (Unidade Básica
de Saúde) Padre Eustáquio e comunidade atendida.

Objetivos específicos

• Sensibilizar e informar a equipe da atenção básica sobre a existência do trabalho


das constelações familiares como uma proposta de intervenção terapêutica;

• Caracterizar o perfil demográfico dos constelados que aderirem por demanda es-
pontânea durante o trabalho em grupo;

• Aplicar os exercícios da constelação familiar e descrever as posturas e sentimentos


que são apresentados pelos participantes durante os mesmos;

• Acompanhar o movimento sistêmico das pessoas consteladas e enumerar as trans-


formações percebidas nas relações familiares dos sujeitos envolvidos no trabalho
em grupo.

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METODOLOGIA

Trata-se de uma intervenção de implantação seguida por uma pesquisa de cam-


po descritiva exploratória. Os grupos aconteceram na Unidade Básica de Saúde Padre
Eustáquio, que fica situada à Rua dos Bariris, 338, bairro Padre Eustáquio em Patos de
Minas – MG. Os participantes foram usuários do SUS, acima de 18 anos, de ambos os se-
xos, pertencentes à área de atuação das três equipes de Estratégia de Saúde da Família
que atuam na UBS.
O trabalho foi iniciado após a autorização do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do
Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM, e a coleta de dados se deu após a assi-
natura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido dos participantes (TCLE).
Inicialmente, foi realizada uma reunião com toda a equipe profissional da UBS com
o intuito de informar e sensibilizá-los quanto à Constelação Familiar. Em um segundo mo-
mento, foi utilizada a técnica da Constelação Sistêmica Familiar desenvolvida por Bert
Hellinger. Os participantes sentavam-se todos em círculo e aquele que tinha interesse em
trabalhar uma questão, sentava-se à direita do constelador. Após o participante identificar
a questão a ser trabalhada, o constelador escolhia aleatoriamente entre os integrantes do
grupo pessoas que iriam participar da representação. Os representantes moviam-se confor-
me seu impulso, agindo de acordo com os sentimentos mais profundos daqueles que eram
representados. Com esses movimentos, conseguiu-se perceber o que poderia estar por
trás dos problemas apresentados pelo participante. Ao final, esperava-se que o participante
conseguisse mudar sua postura interna.
Em sequência, foram aplicados dois questionários. O primeiro, constando informações
como: idade, sexo, profissão, estado civil e expectativa quanto ao tema trabalhado. Após um
mês, os participantes compareceram novamente à unidade, onde preencheram um segundo
questionário acerca de suas considerações a longo prazo.
A análise dos dados foi feita de forma estatística descritiva e apresentada na forma de
tabelas e gráficos. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro
Universitário de Patos de Minas sob parecer nº 3.018.097 de 13 de novembro de 2018.

RESULTADOS

Durante a realização dos sete encontros houve a participação de 68 pessoas de am-


bos os sexos, porém apenas 26 participantes, 100% de mulheres, constelaram. Os demais
acompanharam as constelações e participaram como representantes, além de terem também
feito parte das dinâmicas. A média das idades das consteladas foi de 34,7 (±11,93) anos,
idade mínima de 21 anos e máxima de 62 anos.

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Destas participantes, 54% não conheciam o trabalho das constelações. Dentre as pro-
fissões das participantes foram citadas: agente comunitário de saúde, agente de endemias,
estudantes, donas de casa, autônomos, professoras, técnicas de enfermagem, desempre-
gadas, aposentadas.
Quanto ao estado civil, 46% solteiras, 42% casadas e 12% divorciadas. Após a aplica-
ção do primeiro questionário, todas disseram que participariam novamente e que também
indicariam o trabalho a amigos, bem como acreditam que o trabalho trará alguma mudança
na sua vida. Foi questionado ainda se a pessoa queria que o trabalho continuasse na UBS e
as respostas foram positivas na totalidade do grupo. O gráfico 01 apresenta os sentimentos
que foram experimentados pelos constelados.

Gráfico 01. Sentimentos experimentados durante a sessão de constelação familiar

Tais resultados são corroborados pelo que diz por Braga (2009) que explicam de forma
sucinta como acontece uma constelação. Segundo ele, o cliente que está constelando um
tema se “vê” através dos representantes. Este “ver” acontece de várias maneiras diferentes,
levando a diversas sensações físicas como tremores, arrepios, suores, dores. E também por
diversos sentimentos como tristeza, raiva, alegria, medo, alívio, entre outros. Além disso,
o cliente ainda consegue reconhecer nos representantes pessoas de seu sistema familiar
através do comportamento, da postura e das expressões faciais dos mesmos. Os autores
explicam ainda que através dessas expressões o terapeuta faz sua leitura daquilo que
acontece no campo e através desta, encontra a melhor solução para a reconciliação e res-
tabelecimento do fluxo amoroso no sistema do cliente.
O gráfico 02 mostra os problemas que foram trabalhados na constelação.

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Gráfico 02. Problemas trabalhados pelas pessoas que constelaram

Tais resultados veem de encontro ao que diz o Ministério da Saúde (BRASIL, 2013)
que afirma que muitas pessoas procuram atendimento nas unidades básicas em virtude
não de uma doença física, mas sim de um grande sofrimento pelo qual estejam passando.
Muitas dessas pessoas não sabem sequer identificar a origem de tal sofrimento. O caderno
conclui que a ansiedade, a depressão e a somatização são as síndromes mais comuns na
atenção primária, e que, quando o profissional tem seu foco voltado para o sofrimento, im-
plementando novas expectativas e objetivos no tratamento, passa a ter um grande número
de novas possibilidades para o alívio do mesmo e desaparecimento dos sintomas. O gráfico
03 aponta a impressão das pessoas que constelaram.

Gráfico 03. Impressão das pessoas que constelaram sobre o trabalho

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Em uma pesquisa realizada com usuários do SUS, Campos et al. (2011) indagaram
sobre a utilização de tratamentos alternativos. Muitos destes queixaram-se de que não havia
divulgação de tais tratamentos por parte das equipes e ainda citaram que tais tratamentos
seriam mais eficazes que os medicamentos.
Com relação ao questionário de percepção a longo prazo, 11% afirmaram que não hou-
ve mudanças na sua vida após a constelação e 100% afirmaram que perceberam alterações
positivas em seus relacionamentos familiares. Estas mensuraram que a constelação as aju-
dou e que gostariam de constelar novamente. Ainda dentre as consteladas, 81% indicaram o
trabalho para conhecidos e todas pediram que o projeto tivesse continuidade na UBS. Já so-
bre o tema trabalhado, 93% mudaram sua opinião a respeito desta prática integrativa.
As pessoas que estavam no grupo, mas que não constelaram, apresentaram grande
aceitação com relação ao trabalho. Ao final de cada sessão, sempre haviam questionamentos
sobre a data do próximo encontro. Foram realizadas ainda dinâmicas onde todos partici-
pavam e experimentavam sensações variadas a respeito de temas de grande importância,
como relacionamento com os pais, colegas de trabalho, pacientes da UBS, dentre outros.

DISCUSSÃO

Os resultados obtidos vêm de encontro ao que dizem Muniz e Eisenstein (2009). Eles
afirmaram que os problemas psicossociais sempre trazem consigo alterações biológicas, e
ainda que os pacientes procuram ajuda com seus corpos e mentes, juntamente com suas
crenças e mitos. Os autores afirmaram que atualmente já existem estudos que evidenciam a
importância do círculo familiar na saúde e na doença, e citam uma teoria que serviu de em-
basamento para a compreensão da dinâmica familiar e ficou conhecida como terapia familiar
sistêmica, que trouxe o conceito dos estressores que atuam sobre as famílias. Estressores
verticais são aqueles derivados dos padrões, mitos, segredos e legados transmitidos através
de gerações. Como estressores horizontais temos as ansiedades presentes no decorrer da
vida. O indivíduo se encontra no confluir do eixo de ambos os estressores.
Não obstante, Hausner (2010) afirmou que ao levarmos em conta o envolvimento de
sistemas transgeracionais e de conexões com dinâmicas familiares na geração de sintomas
físicos, estamos lançando uma nova luz sobre os mesmos, o que possibilita um enfoque
mais integral ao paciente. O autor disse ainda que as constelações não têm a intenção de
substituir tratamentos médicos e psicológicos, mas sim servir como pedra fundamental num
modelo integral de tratamento. Quando procedimentos utilizados com bons resultados pas-
sam a não proporcionar mais resultados esperados, uma visão do quadro multigeracional
da família abrirá novas possibilidades.

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Campos et al. (2011) referiram que as equipes de saúde ainda não costumam olhar
para o processo saúde-doença em suas várias vertentes. Com isso tem-se um atendimento
fragmentado e centrado nas especialidades. É necessária a aproximação entre saúde mental
e atenção primária, evitando assim o excesso de medicalização.

CONCLUSÃO

Por meio das reuniões foi possível apresentar o trabalho das constelações familiares
para a equipe de saúde, sensibilizando-a quanto à relevância do mesmo, haja vista sua
incorporação às práticas integrativas e complementares (PNPIC) do SUS. Todos tiveram a
oportunidade de conhecer um pouco sobre as leis sistêmicas de Bert e seus efeitos na vida
prática. Foi possível verificar a satisfação e agradecimento dos participantes em relação
aos temas trabalhados, refletindo, de forma geral, melhorias em suas relações interpes-
soais e familiares.
Foi possível ainda verificar o grande número de usuários do SUS que enfrentam proble-
mas familiares e que puderam perceber uma melhora desses problemas após a constelação.
Por fim, em virtude do alto índice de satisfação dos usuários, bem como da dificuldade
dos mesmos em encontrar apoio para seus problemas emocionais que trazem tanto prejuízo
para sua saúde, sugerimos que a técnica seja implantada nas UBS em Patos de Minas, MG,
e que a equipe da ESF recebam treinamento para aplicação da mesma.

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Saúde Em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 3 225

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