Artigo Constelação Familiar
Artigo Constelação Familiar
Artigo Constelação Familiar
10.37885/201001697
RESUMO
Um dos grandes desafios enfrentados pelas equipes de atenção básica são aqueles
relacionados ao sofrimento mental. Pessoas que apresentam queixas como sono de má
qualidade, alterações no apetite, dores (geralmente crônicas e difusas), cansaço, palpitações,
tontura e até alterações gastrointestinais frequentemente são também pessoas tristes, desa-
nimadas, que não demonstram prazer em viver, irritadiças, ansiosas. A ansiedade, a soma-
tização e a depressão são as síndromes mais comuns na atenção primária (BRASIL, 2013).
É muito comum que pessoas procurem a unidade de saúde com sintomas físicos que
não podem ser explicados. Como os sintomas persistem, apesar de não haver um diagnós-
tico e, por conseguinte um tratamento, essa pessoa demanda um grande esforço da equipe
e acaba sendo julgada como alguém que “só quer chamar a atenção”. No entanto, pode
tratar-se de uma pessoa que esteja em profundo sofrimento, e nem ela mesma consegue
correlacionar o sofrimento com suas dores. O profissional da atenção primária deve acolher
esta angústia, mostrando à pessoa sua influência em sua vida, e ainda atribuindo um novo
significado ao sintoma (BRASIL, 2013).
As constelações familiares sistêmicas surgem como uma alternativa aos pacientes
que possuem dores crônicas ou algum tipo de sofrimento mental. Trata-se de um método
de terapia breve, desenvolvido pelo filósofo alemão Bert Hellinger. Nesse trabalho, são uti-
lizadas pessoas comuns para representar o sistema familiar do paciente. É como se fosse
um genograma vivo, que busca na família a origem de dificuldades ou bloqueios que trazem
sofrimento ao longo da vida da pessoa. Não substitui, de maneira alguma, o tratamento
médico ou psicológico. Age apenas como um complemento, que traz à tona questões que
antes não eram percebidas nem mesmo pelo próprio paciente (BRAGA, 2009).
De acordo com Bert, todas as pessoas pertencem a uma consciência coletiva, que por
sua vez é regida por três regras: hierarquia, pertencimento e equilíbrio. Quando uma dessas
regras é descumprida, surgem como compensação doenças, conflitos, sentimentos de tris-
teza e angústia. Esses sentimentos e doenças podem passar de uma geração a outra sem
que se saiba o motivo. Além disso, questões vividas por um sistema familiar como suicídios,
assassinatos, fatalidades que levam a mortes precoces, podem inconscientemente afetar a
vida das próximas gerações, resultando em novos suicídios ou assassinatos, doenças físi-
cas ou mentais, distúrbios de aprendizagem ou mesmo comportamentos conflitantes com
parceiros, chefes ou colegas de trabalho, familiares, entre outros (BRAGA, 2009).
Sendo assim, objetivou-se com este trabalho, desenvolver a técnica da constelação
familiar na unidade básica de saúde, sensibilizando e informando a equipe sobre a mesma
e ainda verificar a percepção dos participantes do grupo sobre as constelações.
A constelação familiar, desenvolvida por Bert Hellinger, é uma forma de terapia breve
onde a dor e as doenças são vistas como processos inconscientes, causados por trau-
mas pessoais e até mesmo familiares que chegam a atravessar gerações (DEUS et al.,
2014). Em seu livro “O essencial é simples”, Bert utiliza as constelações em diversos sintomas
e doenças. Seu objetivo não era a cura, mas sim ajudar o paciente a conviver melhor com
suas dores. No entanto, ocorreu o inesperado. Muitos pacientes relataram o desaparecimento
dos sintomas (MELO, 2011).
A filosofia é um recurso adicional com possíveis efeitos terapêuticos, não substituindo a
terapia médica ou psicológica. É vista como uma forma de levar o paciente a perceber qual
a mensagem da dor. Com isso é possível que se tenha a melhora ou que possa aprender
a conviver em paz com a doença. Trata-se uma técnica na qual se utilizam esculturas vivas
para representar a árvore genealógica do cliente. Com isso consegue-se identificar bloqueios
emocionais presentes em qualquer geração do sistema familiar (MELO, 2011).
Em trabalho realizado na UFG (Universidade Federal de Goiás) com mulheres com dor
pélvica crônica, Deus et al. (2014) citam que em mais de 70% das mulheres estudadas a dor
surgiu em paralelo a eventos conflituosos ou traumáticos. Em mais de 40% foram citados
conflitos conjugais ou familiares. Em mais de 50% estiveram presentes os traumas familiares.
Cabe destacar ainda que 84,3% apresentaram exame físico normal e 69,6% apresentaram
ultrassonografia normal ou com achados incidentais (geralmente assintomáticos e muitas
vezes no lado contralateral da dor). Essas pacientes foram orientadas a procurar um servi-
ço de psicoterapia. 25,2% aceitaram a sugestão, sendo que 20,9% aderiram à constelação
familiar, 2,6% à cognitivo-comportamental e 1,7% a outras modalidades. Todas tiveram
diminuição na escada de dor, enquanto que as que participaram da constelação familiar
oferecida tiveram uma redução de 2,9 pontos.
O trabalho com constelações vem sendo realizado há cerca de nove anos na UFG
pelos médicos José Miguel e Vânia Meira. No início o objetivo era ajudar mulheres com dor
pélvica crônica. Hoje os grupos contam com uma média de 150 pessoas. Os consteladores
explicam que o trabalho ajuda o cliente a concordar com seu destino e com isso lidar melhor
com suas culpas. O olhar biopsicossocial do trabalho possibilita que se veja o paciente de
um modo mais completo, levando em conta aspectos emocionais nos quais a doença pode
se manifestar (MELO, 2011).
Pesquisas no Brasil e no mundo mostram que cerca de uma a cada quatro pessoas
que procuram a atenção básica têm algum transtorno mental. Se forem incluídos os casos
subclínicos (limiar abaixo do diagnóstico), a proporção aumenta para uma a cada duas.
OBJETIVOS
Objetivo geral
Objetivos específicos
• Caracterizar o perfil demográfico dos constelados que aderirem por demanda es-
pontânea durante o trabalho em grupo;
RESULTADOS
Tais resultados são corroborados pelo que diz por Braga (2009) que explicam de forma
sucinta como acontece uma constelação. Segundo ele, o cliente que está constelando um
tema se “vê” através dos representantes. Este “ver” acontece de várias maneiras diferentes,
levando a diversas sensações físicas como tremores, arrepios, suores, dores. E também por
diversos sentimentos como tristeza, raiva, alegria, medo, alívio, entre outros. Além disso,
o cliente ainda consegue reconhecer nos representantes pessoas de seu sistema familiar
através do comportamento, da postura e das expressões faciais dos mesmos. Os autores
explicam ainda que através dessas expressões o terapeuta faz sua leitura daquilo que
acontece no campo e através desta, encontra a melhor solução para a reconciliação e res-
tabelecimento do fluxo amoroso no sistema do cliente.
O gráfico 02 mostra os problemas que foram trabalhados na constelação.
Tais resultados veem de encontro ao que diz o Ministério da Saúde (BRASIL, 2013)
que afirma que muitas pessoas procuram atendimento nas unidades básicas em virtude
não de uma doença física, mas sim de um grande sofrimento pelo qual estejam passando.
Muitas dessas pessoas não sabem sequer identificar a origem de tal sofrimento. O caderno
conclui que a ansiedade, a depressão e a somatização são as síndromes mais comuns na
atenção primária, e que, quando o profissional tem seu foco voltado para o sofrimento, im-
plementando novas expectativas e objetivos no tratamento, passa a ter um grande número
de novas possibilidades para o alívio do mesmo e desaparecimento dos sintomas. O gráfico
03 aponta a impressão das pessoas que constelaram.
DISCUSSÃO
Os resultados obtidos vêm de encontro ao que dizem Muniz e Eisenstein (2009). Eles
afirmaram que os problemas psicossociais sempre trazem consigo alterações biológicas, e
ainda que os pacientes procuram ajuda com seus corpos e mentes, juntamente com suas
crenças e mitos. Os autores afirmaram que atualmente já existem estudos que evidenciam a
importância do círculo familiar na saúde e na doença, e citam uma teoria que serviu de em-
basamento para a compreensão da dinâmica familiar e ficou conhecida como terapia familiar
sistêmica, que trouxe o conceito dos estressores que atuam sobre as famílias. Estressores
verticais são aqueles derivados dos padrões, mitos, segredos e legados transmitidos através
de gerações. Como estressores horizontais temos as ansiedades presentes no decorrer da
vida. O indivíduo se encontra no confluir do eixo de ambos os estressores.
Não obstante, Hausner (2010) afirmou que ao levarmos em conta o envolvimento de
sistemas transgeracionais e de conexões com dinâmicas familiares na geração de sintomas
físicos, estamos lançando uma nova luz sobre os mesmos, o que possibilita um enfoque
mais integral ao paciente. O autor disse ainda que as constelações não têm a intenção de
substituir tratamentos médicos e psicológicos, mas sim servir como pedra fundamental num
modelo integral de tratamento. Quando procedimentos utilizados com bons resultados pas-
sam a não proporcionar mais resultados esperados, uma visão do quadro multigeracional
da família abrirá novas possibilidades.
CONCLUSÃO
Por meio das reuniões foi possível apresentar o trabalho das constelações familiares
para a equipe de saúde, sensibilizando-a quanto à relevância do mesmo, haja vista sua
incorporação às práticas integrativas e complementares (PNPIC) do SUS. Todos tiveram a
oportunidade de conhecer um pouco sobre as leis sistêmicas de Bert e seus efeitos na vida
prática. Foi possível verificar a satisfação e agradecimento dos participantes em relação
aos temas trabalhados, refletindo, de forma geral, melhorias em suas relações interpes-
soais e familiares.
Foi possível ainda verificar o grande número de usuários do SUS que enfrentam proble-
mas familiares e que puderam perceber uma melhora desses problemas após a constelação.
Por fim, em virtude do alto índice de satisfação dos usuários, bem como da dificuldade
dos mesmos em encontrar apoio para seus problemas emocionais que trazem tanto prejuízo
para sua saúde, sugerimos que a técnica seja implantada nas UBS em Patos de Minas, MG,
e que a equipe da ESF recebam treinamento para aplicação da mesma.
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