As Sete Festas Do Senhor

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 27

AS SETE FESTAS

DO SENHOR
PRÓLOGO
As festas do Senhor, conforme descritas no capítulo 23 de Levítico,
eram “festas fixas” (ou “solenidades”), isto é, tempos acertados para o
povo aproximar-se de Deus e apresentar sacrifícios (v. 37).
Para o Senhor não eram festas do povo, mas “festas fixas” do Senhor,
realizadas para Ele e para a Sua glória. Quando a tradição e os ritos as
despojaram de seu verdadeiro significado (ao ponto de excluir delas o
próprio Senhor Jesus), tais festas foram simplesmente denominadas “fes-
tas dos judeus” (João 5.1; 7.2).
Estas festas, além do seu valor histórico por serem celebradas em
Israel, têm também um significado simbólico e um alcance profético. Fo-
calizaremos apenas este último para dedicar-nos a buscar a sua aplica-
ção à vida cristã.
Por outro lado, os caminhos do Senhor são os mesmos quer para o
Seu povo terreno, ou para o Seu povo celestial ou, particularmente, para
cada um dos Seus resgatados.
Alegra-nos lembrar que o cristão não celebra festas rituais (Colos-
senses 2.16; Gálatas 4.10), mas as de Levítico 23 podem considerar-se
como outras tantas experiências espirituais que o resgatado experimenta
talvez até mais de uma vez na vida cristã.
Para nos aprofundarmos no assunto, recomendamos ao leitor o estudo
dos comentários de C. H. Mackintosh sobre o Pentateuco.

INTRODUÇÃO
O sábado é mencionado no início das festas fixas (Levítico 23.2-3)
sem, contudo, fazer parte das sete festas (v. 4). “O primeiro pensamento
de Deus é o repouso (Gênesis 2.2-3), não a inatividade, mas a satisfação
profunda que experimentou ao ver concluída Sua obra. Deus deseja que
os Seus sejam participantes do repouso, mas, para gozá-lo, não deve
haver nem sequer um único pensamento que não se possa compartilhar
com Ele” (J. N. Darby).
O repouso, embora seja o primeiro pensamento de Deus, na reali-
dade é o resultado final, a meta, o fim de todos os Seus planos. É neces-
sário todo o ciclo espiritual das sete festas para que o Seu povo seja le-
vado ao Seu próprio repouso, não ao repouso da Criação, mas ao repouso
da Redenção, isto é, a toda a satisfação que Deus encontrou na Pessoa e
na Obra de Seu Filho amado, repouso da Igreja e do próprio resgatado no
céu, repouso de Israel na terra durante o Milênio e repouso da Criação,
que gozará da gloriosa liberdade dos filhos de Deus (Romanos 8.21).
O pecado tornou impossível ao homem gozar este repouso sem a sua
redenção; daí a necessidade da primeira festa, a Páscoa, fundamento das
outras. Deus achou Seu repouso absoluto na Obra de Cristo. Ele vê o
sangue do Cordeiro nas “ombreiras e na verga da porta” (Êxodo 12.7), isto
é, no batente.
Para nós, a base de todo o repouso é que Deus aprecia a Obra de
Cristo. Sem dúvida que, para sermos salvos, devemos apropriar-nos
desta Obra pela fé, assim como cada família israelita devia escolher um
cordeiro, guardá-lo, matá-lo, untar com seu sangue o batente da porta
de sua casa, confiando na promessa de Deus feita a Moisés de que, assim
fazendo, o primogênito estaria protegido. Esta é a responsabilidade do
homem, mas o fundamento de todo repouso está no fato de que Deus Se
satisfez com a Obra de Cristo na cruz.
O cordeiro pascal é também o alimento daqueles que já estão no
abrigo que oferece o seu sangue. Assim, a Páscoa se transformará para
Israel no memorial a ser celebrado anualmente em lembrança da mara-
vilhosa libertação realizada de uma vez para sempre. Assim é a Ceia do
Senhor para o cristão. A Páscoa antecipa a cruz; a Ceia a comemora.
A Páscoa estava intimamente ligada à Festa dos Pães Asmos, a qual
durava sete dias. Na própria Páscoa já se encontram os pães sem fer-
mento; somente o Senhor Jesus não teve nenhum pecado. Ao abrigo do
Seu sangue, o redimido se nutre dEle, o Cordeiro de Deus oferecido em
sacrifício, mas também Homem perfeito que glorificou plenamente a Deus
ao estar absolutamente separado de todo o mal.
Além disto, unido a Cristo, o crente é exortado a viver durante toda
a sua vida separado do mal, tão perfeitamente quanto Cristo manifestou
esta separação. De fato, a festa da Páscoa e a dos Pães Asmos eram cele-
bradas como se fossem uma só (Lucas 22.1). Não se pode dizer: “Cri no
Senhor Jesus e estou salvo” e, a seguir, viver como as pessoas do mundo.
A terceira festa, chamadas das Primícias, consistia em oferecer a
Deus “um molho das primícias” da colheita e só poderia celebrar-se “na
terra”, isto é, em Canaã (v. 10). O Egito é figura do mundo, do qual o povo
de Deus é tirado. O deserto é o que este mundo tem sido para o crente:
lugar de combate e de provações, mas também de numerosas experiên-
cias espirituais da graça divina.
Para entrar no país, isto é, na plenitude das bênçãos que temos em
Cristo, é necessário atravessar o Jordão ou, em outras palavras, termos
experimentado a morte e ressurreição com Cristo (Colossenses 3.1-3).
Ao chegar a colheita, devia-se separar o primeiro molho e oferecê-lo
ao Senhor no dia após o primeiro sábado da semana da Páscoa (v. 12).
Trata-se de uma viva figura de Cristo ressurreto de entre os mortos, “pri-
mícias dos que dormem” (1 Coríntios 15.20), como também figura daque-
les que, unidos a um Cristo ressurreto, somos chamados a andar em
novidade de vida. É o lado positivo da vida cristã.
Cinquenta anos mais tarde, realizava-se a Festa do Pentecostes (ou
Festa das Semanas), na qual era apresentada uma nova oferenda ao Se-
nhor, no dia seguinte ao sétimo sábado. Este primeiro dia de uma nova
semana prefigura a descida do Espírito Santo (Atos 2.1-4), poder para o
andar do crente.
Um longo período ocorria sem festa até o sétimo mês. E isto não
acontece também na vida cristã? Uma pessoa tem sido levada ao Senhor
Jesus; em certa medida está vivendo separada do mundo e está usu-
fruindo uma nova vida guiada pelo Espírito Santo. Agora, lentamente,
estas bênçãos tão apreciadas vão perdendo seu atrativo. Esta pessoa se
descuidou um pouco ou, talvez, insensivelmente, adormeceu. É necessá-
rio que Deus a desperte.
No primeiro dia do sétimo mês, o som das trombetas anunciava ou-
tra solenidade: a festa das Trombetas. Por uma poderosa ação da Sua
Palavra, por uma provação ou por outro meio qualquer, Deus quer levar
aquela alma a uma comunhão mais íntima com Ele.
Entretanto, se a graça divina restabelece e restaura, isto não pode
acontecer sem um exercício de consciência do qual nos fala o Dia da Ex-
piação (v. 27). É imprescindível que esta pessoa, tanto quanto possível,
seja levada a uma apreciação muito mais profunda do que é o pecado aos
olhos de Deus, dos sofrimentos de Cristo para expiá-lo e do valor do Seu
sangue. A alma então se encomenda a Deus, descansando no sacrifício
realizado há tanto tempo, mas de valor sempre atual.
Poucos dias após a aflição da festa do Dia da Expiação, chegava a
alegria da festa dos Tabernáculos. É figura do gozo da comunhão do
crente com Cristo e do gozo e bênção de Israel sob o cetro do Messias.
Mas também, no oitavo dia desta festa, vemos a antecipação do céu e o
gozo eterno de todos os redimidos.
Em todas estas festas deviam se oferecer sacrifícios, particularmente
holocaustos, como vemos em Números capítulos 28 e 29, durante a maior
parte dos dias solenes. Nenhum progresso espiritual real pode ser conse-
guido sem o sentimento de que Cristo ofereceu-Se a Deus, de que cum-
priu a vontade do Pai, de que Se propôs glorificá-lO em tudo
Sem dúvida, o que foi feito a nosso favor, mas é preciso irmos mais
longe para compreendermos o que é devido a Deus por aqueles que somos
beneficiários das bênçãos representadas por estas festas: “Da Minha
oferta, do Meu manjar para as Minhas ofertas queimadas, do aroma agra-
dável, tereis cuidado, para Mas trazer a seu tempo determinado” (Núme-
ros 28.2).
Finalmente, Deuteronômio capítulo 16 menciona as três grandes fes-
tas: a da Páscoa e dos Pães Asmos, a de Pentecostes (ou das Semanas) e
a dos Tabernáculos. Este capítulo, escrito para o tempo quando Israel
estivesse “na terra”, enfatiza a reunião do povo no lugar que o Senhor
escolhesse.
A Páscoa indica a aflição; o Pentecostes, o gozo compartilhado com
os gentios (os dois pães); e os Tabernáculos indica o gozo completo: “De
todo te alegrarás” (v. 15).
O israelita, da mesma maneira como hoje o cristão, não se apresen-
tava perante Deus para obter uma bênção ou para fazer-se merecedor de
algum mérito, mas para agradecer pela bênção recebida.
Durante a longa história de Israel, estas festas foram esquecidas,
descuidadas ou mal observadas, mas o Espírito de Deus Se compraz em
citar e frisar as ocasiões em que a Páscoa ou a festa dos Tabernáculos
foram celebradas segundo as prescrições divinas como gozo de uma nova
comunhão com o Senhor.
E muitas vezes não acontece também assim em nossa vida? E se há
momentos em que Deus nos quer falar ou restaurar a nossa alma para
fazer-nos progredir espiritualmente, saibamos escutar, humilhar-nos pe-
rante Ele e contemplar a Cristo e Sua Obra.
“Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso, a fim de que nin-
guém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência” (Hebreus 4.11),
repouso que nos tem sido conseguido por tão elevado preço!

A PÁSCOA
Êxodo 12.1-13; Números 9.1-5;
Levítico 23.5; Deuteronômio 6.1-8

Deus quer reunir Seu povo ao redor de Si mesmo, em Seu repouso e


para que anuncie Seu louvor (Isaías 43.21). Para que isto seja possível,
tudo deve estar em ordem, não somente pela graça, mas também pela
justiça, porque Deus é tanto luz quanto amor. Figurativamente, a Páscoa
lançará os fundamentos desta obra.
“Este mês vos será o principal dos meses; será o primeiro mês do ano”
(Êxodo 12.2). Algo inteiramente novo vai começar; o que tinha passado
não interessava mais para Deus. O ano civil continuava, mas um novo
ano começaria, marcado por novas relações com Deus e sob uma base
inteiramente diferente.
Aconteceu isso mesmo conosco no momento da conversão e do novo
nascimento? Talvez tenhamos sido levados a Cristo aos doze anos, ou aos
vinte, ou aos sessenta, mas o importante para Deus são somente os anos
da nova vida: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas
já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Coríntios 5.17).
Vamos considerar quatro aspectos da Páscoa:
• O lado de Deus
• O lado do resgatado
• A Páscoa como alimento
• A Páscoa como memorial.

O lado de Deus
O pecado impede o repouso ao homem desde a queda. É como disse
o Senhor Jesus: “Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também” (João
5.17).
Não há repouso sem a redenção, sem a Páscoa, figura da Obra per-
feita realizada na cruz.
Deus tinha perante Si um Cordeiro, Cordeiro predeterminado
mesmo antes da fundação do mundo, mas no tempo certo manifestado.
É por isso que Êxodo capítulo 12 não fala de muitos cordeiros, embora
cada família devesse sacrificar um. Para Deus há um único Cordeiro: Seu
Filho amado.
O cordeiro devia ficar em quarentena durante quatro dias para ma-
nifestar que não tinha defeito. “Foi Ele tentado em todas as coisas, à
nossa semelhança, mas sem pecado” (Hebreus 4.15). E o Cordeiro de
Deus só manifestou perfeição durante a Sua vida aqui. Os quatro evan-
gelhos o testificam.
Mesmo um cordeiro perfeito, estimado por aqueles que viviam com
ele, não os podia salvar. “É o sangue que fará expiação, em virtude da
vida” (Levítico 17.11). (Veja-se a explicação da palavra “expiação” no final
do livro.). Este cordeiro estimado devia ser morto e um ramo de hissopo
devia ser embebido com seu sangue e usado para untar o batente da
porta da casa. E com quem ansiedade o primogênito da família deve ter
acompanhado todos os movimentos do pai para estar certo de que tudo
estava sendo feito conforme a ordenança divina, pois que, somente assim,
ele escaparia da morte!
Mas não cabe a nós apreciar o valor do sangue; é Deus que o faz. Ele
disse: “O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando
Eu vir o sangue, passarei por vós” (Êxodo 12.13). Deus não permitiria que
o destruidor entrasse naquela casa para matar o primogênito. E que san-
gue o Senhor via ali? Não o do cordeiro imolado naquela tarde naquele
lar israelita (sangue que não podia tirar o pecado), mas o sangue de Seu
Filho amado, sangue que seria vertido na cruz do Calvário.
A justiça de Deus devia ferir os egípcios que desfaziam de Sua Palavra e
das Suas obras, mas esta mesma justiça devia salvar toda casa onde o
sangue do cordeiro tivesse sido posto. Deus não teria sido justo se tivesse
castigado um lar onde uma vítima tinha sido imolada. Deus não é apenas
amor para perdoar, mas Ele é também justo e Aquele que justifica o que
tem fé em Jesus (Romanos 3.26).
E Pedro acrescenta: “Fostes resgatados... pelo precioso sangue, como
de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (1 Pedro 1.18-
19). Sangue precioso, sim, para nós, mas mais precioso para Deus, o
único que pode estimar devidamente o valor de tal sacrifício no qual
achou Seu pleno repouso.

O lado do resgatado
Embora seja certo que Deus fez tudo e que deu o Cordeiro para ser-
mos alvos, todo homem deve apropriar-se pessoalmente da Obra de
Cristo: “Cada um tomará para si um cordeiro”.
Tomar o cordeiro, guardá-lo, imolá-lo, pôr seu sangue no batente da
porta da casa, tudo isto era responsabilidade da família.
A segurança do primogênito dependia do sangue visto no exterior.
Seus sentimentos em nada influíam. A certeza de escapar do juízo de-
pendia da fé na palavra do Senhor transmitida por Moisés.
Atualmente, muitas pessoas estão seguras quando aceitam a morte
do Senhor Jesus a seu favor, mas continuam temerosas em quanto não
depositam toda a sua fé na Palavra de Deus, que declara taxativamente:
“Quem crê no Filho tem a vida eterna” (João 3.36), “Quem ouve a Minha
palavra e crê nAquele que Me enviou tem a vida eterna, não entra em
juízo, mas passou da morte para a vida” (João 5.24).
A segurança da salvação provem da fé na Palavra de Deus. A segu-
rança eterna da nossa alma está baseada na Obra que Cristo realizou na
cruz.
“Consagra-Me todo primogênito... Meu é”, declara o Senhor (Êxodo
13.2). “Cristo... morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais
para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2
Coríntios 5.15).
Para o resgatado, uma vida nova começou na cruz. Ele é feliz por ser
salvo, lavado, purificado e justificado, mas não deve esquecer que não se
pertence mais a si mesmo, mas Àquele que o resgatou com um preço tão
elevado.

A Páscoa como alimento


Na família sobre a qual pairava a morte foi introduzido o cordeiro.
Tudo mudou e, agora, há segurança e paz. Na noite em que o destruidor
passa, a família se alimenta da vítima assada ao fogo, de pães asmos e
de ervas amargas.
A instituição da Páscoa em Êxodo 12.1-11 menciona muitas vezes
“comer”. Crer no Senhor Jesus não é uma simples adesão intelectual ao
que a Palavra nos diz dEle, nem uma fórmula mágica a ser repetida, como
alguns dizem. Após declarar “quem crê em Mim tem a vida eterna” (João
6.47), o Senhor Jesus acrescenta: “se não comerdes a carne do Filho do
homem e não beberdes o Seu sangue, não tendes vida em vós mesmos” (v.
52).
Não se trata de comer e beber fisicamente o Seu corpo e o Seu sangue
(e nem se refere ao ritual da Ceia), pois Ele ainda acrescentou: “As pala-
vras que Eu vos tenho dito são espírito e são vida” (v. 63).
Para ter vida é necessário que, espiritualmente falando, nos apropri-
emos em nossa alma e de todo o coração, daquele corpo entregue e da-
quele sangue derramado pelo Senhor Jesus, os únicos que tiram os pe-
cados. Comer Sua carne e beber Seu sangue não é um ato ritual.
Assim como os alimentos que ingerimos tornam-se parte integrante
de nosso corpo e finalmente o constituem, assim nossa alma deve (pela
fé, pela inteligência e pelo coração) captar o que significa a Obra da cruz
e aceitá-la por completo.
“Comer”, em João 6.52, no original grego, está no pretérito e refere-
se a um ato cumprido de uma vez para sempre para ter vida. “Comer” em
João 6.56, no original grego, está no presente e refere-se a uma ação
contínua para permanecer nEle.
O cordeiro não devia estar meio cozido ou cozido em água, mas as-
sado ao fogo. Gideão não o tinha compreendido, pois apresentou a carne
num cestão e o caldo numa panela. E o que lhe ordenou o Anjo do Se-
nhor? “Toma a carne e os bolos asmos, põe-nos sobre esta pedra e
derrama-lhes por cima o caldo... Estendeu o Anjo do Senhor a ponta do
cajado que trazia na mão e tocou a carne e os bolos asmos; então, subiu
fogo da penha e consumiu a carne e os bolos” )Juízes 6.20-21). Cristo de-
via passar sob o juízo de Deus. Nada Lhe foi evitado. “Todas as Tuas
ondas e vagas passaram sobre Mim” (Salmo 42.7). A cabeça, as pernas,
o interior, isto é, inteligência, atos e sentimentos íntimos, tudo devia pas-
sar pelo fogo e Sua perfeição pôde brilhar mais.
Ervas amargas acompanhavam a comida, assim como pães asmos,
ou “pão de aflição”, como diz Deuteronômio 16.3. A alegria da salvação é
acompanhada pelo sentimento amargo do que nossos pecados custaram
ao Senhor Jesus.
Todos participavam do cordeiro; havia uma porção completa para
cada pessoa; ninguém podia dizer que sua parte não tinha sido prevista.
No entanto, mais tarde, na parábola do filho pródigo (Lucas 15), o filho
mais velho recusará entrar na casa e participar da festa preparada pelo
amor do pai.
Qualquer pessoa que naquela noite entrasse na casa de um israelita
poderia ver que a família estava pronta para partir. Todos os membros
abandonariam o Egito. Seus lombos estavam cingidos, suas sandálias
estavam nos pés e o cajado estava na mão. Todo resgatado pelo Senhor
Jesus vem a ser, neste mundo, um estrangeiro cuja pátria está no céu.

Em Jesus, na senda do amor,


Um tesouro nossa alma achou,
Bem eterno que, pelo seu valor,
Estrangeiros aqui nos tornou.

Havia muitas famílias e muitas casas, mas todos comiam o cordeiro,


“nas casas onde o comerem” (Êxodo 12.7). A unidade do povo de Deus se
expressa participando todos de um só Cordeiro, que é o centro de todos
os seus afetos e de sua comunhão.

A Páscoa como memorial


A saída do Egito foi de uma vez para sempre. A primeira Páscoa não
devia ser repetida e nem o sangue deveria ser aplicado novamente no
batente das portas, mas o Senhor tinha declarado: “Este dia vos será por
memorial, e o celebrareis como solenidade ao Senhor; nas vossas gera-
ções o celebrareis por estatuto perpétuo” (Êxodo 12.14). Assim, todo ano
a Páscoa recordaria ao povo que tinha “saído” do Egito, uma expressão
repetida diversas vezes em Deuteronômio 16.1-8. Anualmente, o mesmo
cordeiro assado ao fogo os congregaria e lhes recordaria o preço pago por
sua libertação.
Números 9.1-14 apresenta a Páscoa como memorial celebrado no
deserto. No primeiro mês do ano, o povo tinha saído do Egito. No primeiro
dia do primeiro mês do segundo ano, o Tabernáculo tinha sido levantado,
seguido da dedicação do altar durante doze dias (Números 7), as lâmpa-
das do santuário tinham sido acesas e os levitas tinham sido dedicados.
Pela primeira vez, após seu livramento do juízo de Deus que tinha caído
sobre o Egito e do poder de Faraó, cujo exército tinha perecido no Mar
Vermelho, o povo, agora congregado ao redor do santuário, ia celebrar o
memorial da Páscoa.
Alguns homens estavam imundos e, embora conscientes do seu es-
tado, desejavam comer a Páscoa. Seriam excluídos dela? A graça divina
lhes faria provisão. Purificados segundo Números 9, poderiam celebrar a
festa no segundo mês. Também aquele que estivesse de viagem no pri-
meiro mês (figura de um crente que se afastou do Senhor), poderia voltar
sem demora e, no segundo mês, ter a sua parte no cordeiro. Até mesmo
o estrangeiro, desejoso de celebrar a Páscoa, poderia fazê-lo, com a
condição de ser circuncidado, símbolo de sua identificação com o povo
de Deus.
Pelo contrário, quão solene é o juízo pronunciado contra aquele que,
estando limpo e não estando em viagem, se abstivesse de celebrar a Pás-
coa: “Essa alma será eliminada do seu povo, porquanto não apresentou a
oferta do Senhor, a seu tempo; tal homem levará sobre si o seu pecado”
(Números 9.13). Não se tomava a Páscoa para si mesmo, mas para Deus,
porque Ele o tinha determinado.
Deuteronômio 16.1-8 dá instruções para celebrar o memorial da
Páscoa na terra. Esta passagem dá ênfase ao lugar onde o Senhor pu-
sesse o Seu Nome, único lugar aonde se poderia celebrar a festa.
Josué 5.10-12 descreve a celebração da Páscoa em Canaã, depois da
travessia do Jordão e da circuncisão. Está acompanhada de alimentos
novos: o trigo do país de anos anteriores (Cristo nos conselhos de Deus),
pães asmos (perfeição no Seu andar) e cereais tostados (lembrança de
Seus sofrimentos). Que bênção ter saído do mundo, ser livre de toda es-
cravidão e ter entrado na realidade das bênçãos divinas!
Através dos séculos, certamente a Páscoa foi celebrada numerosas
vezes, embora a Palavra se limite a mencionar apenas sete ocasiões e,
entre elas, as que celebraram Ezequias e Josias, quando a energia da fé
de um homem provocou um despertar, um anelo de celebrar o memorial
(2 Crônicas capítulos 30 e 35).
Mas chegaria o dia em que o sacrifício do qual a Páscoa era figura
seria oferecido. Na noite em que o Senhor foi entregue, ouvimos Sua voz
falando ao coração de Deus discípulos: “Tenho desejado ansiosamente
comer convosco esta Páscoa, antes do Meu sofrimento” (Lucas 22.15). e,
no final da refeição, o Senhor instituiu outro memorial: “Tomai, comei;
isto é o Meu corpo... Bebei dele todos, porque isto é o Meu sangue” (Mateus
26.26-29; Marcos 14.22-25; Lucas 22.15-20).
Para o cristão, a Ceia dominical tomou o lugar da Páscoa. Será que
ela fala com menos eloquência ao nosso coração? Vamos abster-nos dela,
quando a voz do Senhor repete: “Fazei isto em memória de Mim” ? (Lucas
22.19). Digamos como disse o profeta: “No Teu Nome e na Tua memória
está o desejo da nossa alma” (Isaías 26.8).
Jovens pais de família que participais do memorial da morte do Se-
nhor, um dia ouvireis uma voz infantil que perguntará: “Que rito é este?”
(Êxodo 12.26). Então, com emoção e com afeto, tereis a maravilhosa opor-
tunidade de fazer vibrar o coraçãozinho de vosso filho, falando-lhe dA-
quele que nos amou até a morte.

A FESTA DOS PÃES ASMOS


Levítico 23.6-8; Números 28.17-25;
Deuteronômio 16.3-4, 8

Nas Escrituras, a festa dos Pães Asmos está intimamente ligada à da


Páscoa. Não se pode crer no Senhor Jesus e continuar vivendo como
antes. “Cristo, nosso Cordeiro pascal foi imolado. Por isso, celebremos a
festa não com o velho fermento... e sim com os asmos da sinceridade e da
verdade” (1 Coríntios 5.7-8).
O crente é exortado a manifestar, mediante uma vida de separação
do mal, que pertence a Cristo. Não somente a Páscoa deveria ser comida
com pães asmos, mas durante toda a semana seguinte (figura da vida
inteira do resgatado) o fermento devia ser eliminado do “território” de Is-
rael: vida individual, familiar e coletiva.
Finalmente, embora a Páscoa deve-se ser celebrada “no lugar que o
Senhor, teu Deus, escolher para fazer habitar o Seu Nome” (Deuteronômio
16.6), a festa dos Pães Asmos devia ser observada nas casas. Podemos
considerar esta festa sob um duplo aspecto:

• Só Cristo sem pecado


• O andar de separação do resgatado.

Só Cristo sem pecado


Realmente, é dEle, de Sua humanidade e de Sua vida perfeita que
nos falam os pães asmos. O apóstolo Paulo diz: “Aquele que não conheceu
pecado, Ele O fez pecado por nós; para que, nEle, fôssemos feitos justiça
de Deus” (2 Coríntios 5.21). O apóstolo Pedro afirma: “O qual não cometeu
pecado, nem dolo algum se achou em Sua boca” (2 Pedro 2.22). E o após-
tolo João enfatiza: “Nele não existe pecado” (1 João 3.5).
Nele tudo foi perfeito, não houve nenhuma aparência que não fosse
realidade e nada que não fosse a vontade de Deus. Como é necessário
nos nutrirmos de tal Cristo. Em Êxodo 12.15-20, sete vezes a instituição
da Páscoa ordena “comer”.
Mas esta vida perfeita não podia estar dissociada de Sua morte e de
Sua completa consagração a Deus. É o que nos ensina Números 28.17-
25, onde se ordena que em cada da festa dos Pães Asmos se oferecesse
um holocausto com sua oferta de farinha acompanhada com um sacrifí-
cio pelo pecado.

O andar de separação do resgatado


Em Cristo, o crente está sem fermento (1 Coríntios 5.7). Trata-se,
pois, de demonstrar isto praticamente, seja pelo andar individual, seja
pelo andar coletivo. O fermento, em todas as suas formas, deve ser ex-
cluído. “O fermento velho” é o que ensoberbece, é o orgulho que eleva o
homem, é o que permanece da nossa maneira de ser anterior à conversão.
A velha natureza continuará sempre aqui conosco: “Se dissermos
que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a ver-
dade não está em nós” (1 João 1.8), mas temos que cuidar para que, pelo
poder do Espírito Santo, os frutos desta velha natureza não se manifes-
tem.
“O fermento da malícia” é, principalmente, o mal que podemos dizer
dos outros, influência desastrosa numa igreja, pois se expande com ra-
pidez, contamina toda a massa e causa um mal incalculável. “O fermento
da malícia” é o mal ou a injustiça que fazemos a outros.
Nos evangelhos, o Senhor Jesus fala do “fermento dos fariseus” (Ma-
teus 16.6, que é o orgulho religioso, individual ou coletivo, como: “Ó Deus,
graças Te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injus-
tos e adúlteros, nem ainda como este publicano” (Lucas 118.11) e também
a hipocrisia.
“O fermento dos saduceus” é a incredulidade, a dúvida na Palavra de
Deus, o racionalismo, pois os saduceus não criam nem na ressurreição,
nem nos anjos, nem nos espíritos (Atos 23.8).
“O fermento de Herodes” (Marcos 8.15) consiste em querer agradar
ao mundo para prosperar e conseguir o favor dos eminentes.
Com um pouco de fermento destes tipos rapidamente toda a massa
leveda e mais rápido do que se imagina!
Por isso a Palavra nos exorta repetidas vezes a purificar-nos de toda
imundícia da carne e do espírito, a mortificar nossos membros que estão
sobre a terra, a renunciar a todas estas coisas: ira, dissensões, malícia,
maledicência, palavras torpes, etc.
Quando repararmos que a carne produziu estes frutos, devemos,
sem demora, julgar-nos a nós mesmos, olhando para Deus, confessar-
Lhe nossas faltas e, de acordo com Ele e contra nós mesmos, readquirir
a alegria da comunhão com Deus.
No entanto, não devemos estar sempre ocupados com o mal, nem
sequer para julgá-lo, porque o remédio eficaz é ocupar-nos com o que é
bom, buscar as coisas que são de cima e depositar nelas os nossos afetos.
A ociosidade é perigosa para o cristão; se dispomos de tempo livre,
procuremos evitar que o inimigo o aproveite para corromper nossos pen-
samentos; busquemos a presença do Senhor; estudemos Sua Palavra;
realizemos o serviço que Ele os indique.
A festa dos Pães Asmos, aplicada à nossa vida cristã é, de certo
modo, seu lado negativo, pois, contentar-nos com este lado negativo nos
leva ao legalismo: não pegue, não coma, não toque, não vá,... É precisa-
mente o que faremos na festa das Primícias.

A FESTA DAS PRIMÍCIAS


Levítico 23.9-14; 1 Coríntios 15.20

A Páscoa e a festa dos Pães Asmos podiam ser celebradas no deserto,


mas, para trazer ao Senhor o molho das primícias, era necessário já te-
rem entrado na terra que Ele lhes dava.
A Páscoa era sacrificada à tarde, ao pôr-do-sol, e comida à noite. Na
manhã seguinte, tudo estava terminado (Deuteronômio 16.6-7). O molho
das primícias devia ser apresentado ao Senhor no dia seguinte, no sá-
bado, no começo de uma nova semana.
O evangelho de Marcos, depois de repetir sete vezes que a noite se
aproximava (a qual foi dar (?) no túmulo), anuncia um novo dia, o pri-
meiro da semana, quando, bem de manhã cedo, mal saído o sol, os que
buscavam a Jesus morto souberam que tinha ressuscitado.

Cristo ressurreto
Este molho, o primeiro fruto da sega, é figura de Cristo ressurreto,
primícias dos que dormem (1 Coríntios 15.20). O molho era agitado pe-
rante o Senhor para apresentar todos os aspectos da ressurreição.
Realmente, que momento glorioso quando Cristo ressuscitado, ele-
vado ao céu, entrou na presença de Deus, tendo obtido uma eterna re-
denção. Ofereciam o molho para serem aceitos pelo Senhor. Cristo res-
suscitou para nossa justificação.
Segundo o mundo, o Nazareno era apenas um “certo morto, chamado
Jesus” (Atos 25.19), mas, a ressurreição de Cristo é uma verdade funda-
mental do Evangelho, é a consagração da derrota do inimigo, a demons-
tração pública da vitória obtida na cruz (Colossenses 2.15).
A oferta do molho era acompanhada por um holocausto com sua
oferta de flor de farinha e, pela primeira vez em Levítico, com uma libação
de vinho, símbolo da legria que acompanha a ressurreição.

A vida ressurreta do crente


Após a apresentação do molho, duas coisas eram possíveis: um ali-
mento novo (Levítico 13.14) e a colheita (Deuteronômio 16.9).
Antes de oferecer o molho não se permitia comer pão de trigo novo,
nem cereal tostado, nem em espiga.
No mesmo dia da Sua ressurreição, Jesus se chega aos dois discípu-
los que iam para Emaús e lhes explica as coisas da Escritura que Lhe
diziam respeito. Quantas maravilhas fizeram arder o coração de Cleofas
e de seu companheiro naquele dia! Eram as primeiras espigas da colheita:
seus olhos foram abertos e reconheceram um Cristo que tinha sofrido e
que O contemplariam subindo em glória.
O trigo velho da terra (Josué 5.11) nos fala de Cristo nos conselhos
eternos de Deus. O pão nos fala de Sua humanidade perfeita, alimento
para nossas almas (João 6). O grão tostado fala de Seus sofrimentos (Le-
vítico 2.14). O grão novo em espigas fala da Sua ressurreição.
A partir da oferta do molho, a sega prossegue durante sete semanas
(Deuteronômio 16.9). No entanto, quatro meses antes da sega, o Senhor
chama Seus discípulos para que considerem os campos já brancos para
a sega (João 4.35), mas era necessária Sua ressurreição para que, ao
longo dos séculos, fossem ajuntados no celeiro celestial os molhos pelos
quais Ele ia dar a Sua vida.
Que falta hoje para a sega senão o mesmo que faltava nos dias do
Senhor? Obreiros! Qual é a nossa parte nela? Sabemos discernir a que
região do campo o Senhor deseja nos enviar? Por que determinado irmão
que trabalha em lugares de difícil acesso não acha um irmão mais jovem
que possa levá-lo em seu carro? Por que faltam jovens irmãos e irmãs nas
Escolas Dominicais? Quantos enfermos gostariam de receber um resumo
escrito ou uma gravação do que é ministrado nas reuniões!
Em quantas reuniões seria apreciado um alimento simples proveni-
ente do coração e que dirigisse as almas para o Senhor! Deus permita
que os jovens irmãos a quem o Senhor co9ncede estes privilégios possam
sentir a necessidade de apresentar verdadeiramente a Jesus. O profetas
Isaías viu a Sua glória (ele devia ter uns 20 anos) e falou dEle.
Em Romanos 6.4-11 nos é mostrado que, sendo identificados com
Cristo em Sua morte, o seremos também em Sua ressurreição. De ma-
neira que podemos considerar-nos mortos ao pecado (lado negativo), mas
vivos para Deus em Cristo Jesus, a fim de andarmos em novidade de vida
(lado positivo). E como o conseguiremos? Não só sabendo-o (o que é fun-
damental), mas entregando-nos a nós mesmos a Deus como vivos de en-
tre os mortos. “Se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as
coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas
coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra” (Colossenses 3.1-2).
Este primeiro molho, tirado previamente dos campos de Israel para
ser oferecido a Deus, nos lembra também um princípio prático e funda-
mental da Palavra: as primícias são para Deus.
Há três maneiras de dar: se pode dar tudo (e crentes fieis têm res-
pondido a este chamado, dando a Deus seu tempo e seus bens materiais);
se pode dar o que sobra (e lamentavelmente é o que muitos fazem, como
aquele que queria primeiro sepultar o seu pai ou como aquele que dese-
java antes despedir-se dos de sua casa); mas se pode dar a Deus as pri-
mícias, isto é, fazermos para Ele primeiro. A esta atitude vinculam-se
muitas promessas: “Honra ao Senhor com os teus bens e com as primícias
de toda a tua renda” (Provérbios 3.9); “buscai, pois, em primeiro lugar, o
Seu reino e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”
(Mateus 6.33); “primeiro faze dele para mim um bolo pequeno e traze-mo
aqui fora; depois, farás para ti mesma e para teu filho. Porque assim diz o
Senhor: A farinha da tua panela não se acabará, e o azeite da tua botija
não faltará” (1 Reis 17.13-14).
Daremos ao Senhor as sobras de nosso tempo? Dar-Lhe-emos a me-
lhor parte do dia (a hora matutina) para oração e a leitura da Palavra? Se
dispomos de pouco tempo, oraremos primeiro ou somente se as ativida-
des do dia nos deixam algum tempo livre? E no dia do Senhor pensaremos
principalmente em atividades seculares ou nas primícias que Ele pede?
Vamos dar-Lhe o ocaso de nossa vida, o que o mundo não quer mais, ou
nos empenharemos em servi-lO desde a nossa juventude?
“Para em todas as coisas ter a primazia” (Colossenses 1.18).

PENTECOSTES
Levítico 23.15-22; Números 28.26-31; Deuteronômio
16.9-12

No grupo das sete festas, Pentecostes ocupa o centro, o desfecho das


três primeiras. Num certo sentido, se o Espírito de Deus não considerasse
a restauração futura de Israel, tipificada pelas três últimas, as f estas
teriam podido terminar por aqui.
Também na vida do crente, a restauração é muitas vezes necessária.
Pentecostes ou a festa das Semanas era celebrada 50 dias após a
festa das Primícias. Pode-se pensar que o molho das primícias era
apresentado no dia seguinte do sábado posterior à Páscoa. Assim, o Pen-
tecostes acontecia na primeira metade do terceiro mês lunar.
Este intervalo de 50 dias está repleto de ensinamentos para nós. En-
tre a Sua ressurreição, ascensão e a descida do Espírito Santo, o Senhor
preparou Seus discípulos para este grande acontecimento. Isto não quer
dizer que, para o crente que recebeu plenamente o Evangelho, transcorra
algum tempo entre o momento em que crê no Senhor Jesus e aquele em
que recebe o Espírito Santo (Efésios 1.13), mas, na experiência espiritual,
o ensino do Senhor aos discípulos conserva também todo o seu valor para
nós.
Eles tinham que conhecer a um Cristo ressuscitado, o que lhes
trouxe alguma dificuldade. Ele os alimentou em Emaús e à beira do Mar
da Galileia. Duas vezes, no primeiro dia da semana, apresentou-Se-lhes
como o centro de sua reunião. Ele os constituiu testemunhas Suas – o
epílogo de cada evangelho e o princípio do livro de Atos (sob formas dife-
rentes) repetem a mesma designação.
Finalmente, foi elevado à glória, os pensamentos dos discípulos O
buscam no alto, seus afetos já não se orientam mais para a terra, mas
para onde Cristo está assentado à destra de Deus. No cenáculo perseve-
rarão na oração em comum acordo.
Tal é a posição cristã que se relaciona não com um Cristo morto, e
nem sequer com um Cristo ressuscitado, mas com um Cristo glorificado
e que vai voltar.
No dia de Pentecostes, devia ser apresentada ao Senhor uma oferta
vegetal nova; não uma oferta que representasse a Cristo, mas dois pães
cozidos com fermento, figura da Igreja aqui na terra, formada de judeus
e de gentios. O fermento, embora sem princípio ativo, subsiste nos pães.
Em compensação, era oferecido um sacrifício pelo pecado, sacrifício
que não acompanhava, e com toda a razão, o molho das primícias movido
perante o Senhor. O Espírito Santo não tira o nosso pecado, mas Ele é o
poder que nos liberta da lei do pecado: “Andai no Espírito e jamais satis-
fareis à concupiscência da carne”. A carne produz suas obras (Gálatas
5.1, 19), mas o Espírito produz o fruto.
Em Deuteronômio 16.9-12 nos são apresentados, em figura, os efei-
tos da presença do Espírito Santo. O primeiro deles é trazer ao Senhor
uma oferta voluntária dada conforme a bênção recebida. Quão longe es-
tamos da lei!
Deus não é um déspota que obriga Seus súditos a prostrar-se pe-
rante Ele. Deus é um Pai que busca adoradores que Lhe tragam, por in-
termédio de Jesus, de coração, voluntariamente, e por todas as bênçãos
recebidas (e não para consegui-las), o fruto dos lábios que confessam o
Seu Nome.
A seguir, vem o gozo: “Alegrar-te-ás perante o Senhor, teu Deus”, gozo
compartilhado por toda a família, pelos servos, pelo levita, pelo estran-
geiro, pelo órfão e pela viúva, em sua aflição. E como frisa o Espírito Santo
esta comunhão dos santos em Atos dos Apóstolos e como frequentemente
menciona o gozo do crente!
Finalmente, vem a lembrança: “Lembrar-te-ás que fostes servo no
Egito” (Deuteronômio 16.12). Não nos devemos esquecer de onde fomos
tirados (Efésios 2.11) e também devemos estar conscientes de que já não
somos mais escravos, mas filhos (Gálatas 4.7). O Espírito Santo produ-
zirá a obediência mediante a submissão à Palavra: “Guardarás estes es-
tatutos e os cumprirás”.
O que mais chama a atenção em Levítico 23 são os detalhes relacio-
nados com os sacrifícios oferecidos com relação à oferta nova dos dois
pães. Nenhuma festa deste capítulo apresenta um sacrifício com tantos
detalhes. Aqui encontramos novamente o holocausto, a oferta de flor de
farinha e o sacrifício pelo pecado, isto é, todos os diferentes aspectos da
Obra de Cristo desenvolvidos nos primeiros capítulos de Levítico.
Em nenhuma dispensação houve e nem haverá a possibilidade de
apreciar a Obra de Cristo a favor dos resgatados como a que é dada agora
à Igreja sob a ação do Espírito Santo (João 4.23).
O culto cristão é o mais elevado que os homens possam render a
Deus na terra. E como é conveniente que este culto Lhe seja dado real-
mente sob a influência do Espírito e não segundo nossos próprios pensa-
mentos ou sob o impulso de sentimentos humanos ou simplesmente se-
gundo a tradição!Para que o Espírito Santo seja realmente a boca da con-
gregação no culto, Ele não deve ser impedido e nem devem existir impe-
dimentos em nossa consciência. Uma ampla e ativa participação dos que
vierem trazer suas cestas no santuário (Deuteronômio 26.1-11) depen-
derá da liberdade do Espírito, mas também sob a Sua contínua depen-
dência.
Pentecostes está vinculada com a sega, a tal ponto que em Êxodo
23.16 é chamada a “Festa da Sega” dos primeiros frutos. E que começo
magnífico teve a sega para o Senhor no dia em que veio o Espírito Santo,
quando três mil almas foram convertidas! E esta colheita não terminará
com o Arrebatamento da Igreja: “Quando segardes a messe da vossa
terra, não rebuscareis os cantos do vosso campo, nem colhereis as espigas
caídas da vossa sega; para o pobre e para o estrangeiro as deixareis” (Le-
vítico 23.22). Outros ainda serão salvos; o restante de Israel e a multidão
inumerável da Grande Tribulação, enfim, todos aqueles que de coração
reconhecerão ao Rei e participarão da bênção milenar.
Consideremos algumas das operações do Espírito Santo na dispen-
sação atual. Ele fará lembrar de todas as coisas que o Senhor Jesus disse
aos Seus discípulos e que são os evangelhos (João 14.26). Dará testemu-
nho do Senhor Jesus, testemunho que, por sua vez, os discípulos darão
e que são os Atos dos Apóstolos (João 15.27). Durante Sua vida na terra,
o Senhor Jesus não pôde revelar tudo aos Seus, pois não o poderiam
suportar (João 16.12), mas, quando o Espírito viesse, Ele os conduziria
a toda a verdade e que são as epístolas, as quais, em vez de apresentar
contradições com os evangelhos (apesar de alguns isto afirmarem), os
completam. Ainda anunciará as coisas que hão de vir, isto é, o Apocalipse
e as partes proféticas das epístolas.
E, acima de tudo, “Ele Me glorificará, porque há de receber do que é
Meu e vo-lo há de anunciar” (João 16.14), disse o Senhor. Assim, pois, o
Evangelho nos revela a Cristo em todas as Escrituras e faz com que Ele
seja cada vez mais precioso ao nosso coração.
A ação do Espírito tira o temor, dá liberdade perante Deus. Sua von-
tade é vida e paz (Romanos 8.6-15). É Espírito de adoção, graças a Quem
gozamos de nossa posição de filhos de Deus. E intercede por nós. Ele
habita no crente, cujo corpo é templo do Espírito Santo. Ele habita na
Igreja e, por Ele, ela é constituída Corpo de Cristo (1 Coríntios 12.13). “O
Espírito e a noiva dizem: Vem!” (Apocalipse 22.17). Ele estará conosco
eternamente, disse o Senhor em João 14.16. Até mesmo no céu, o Espí-
rito ainda glorificará Àquele que será o Centro de todos os corações.
Enquanto esperamos este dia glorioso, somos exortados a andar no
Espírito (Gálatas 5.16, 25), a ser guiados pelo Espírito (Romanos 8.14), a
viver no Espírito (Gálatas 5.25), a orar no Espírito (Judas 20), a adorar
no Espírito (Filipenses 3.3; João 4.24).
Precisamos estar atentos para não entristecermos este Hóspede di-
vino (Efésios 4.30) e para não O apagarmos (1 Tessalonicenses 5.19).
Como Ele é unção derramada sobre o mais jovem crente, ensina-lhe (1
João 2.27). Como garantia de nossa herança celestial, no-la assegura e
antecipa (Efésios 1.14). Como selo, imprime no resgatado as marcas de
seu Amo (Efésios 1.13).
Recebemo-lO pela fé (Gálatas 3.2) e não como resultado de nosso
andar. Por outro lado, somos exortados a sermos cheios do Espírito (Efé-
sios 5.18) e, para isto, é necessário que nosso interior seja esvaziado de
tudo o que atrapalha e que, conscientes do amor de Deus, Lhe apresen-
tem os nossos corpos em sacrifício vivo e agradável (Romanos 12.1; 6.13),
permitindo assim que o Senhor tome possessão, pelo Seu Espírito, do que
Lhe pertence por o ter adquirido por um tão elevado preço.

A FESTA DAS TROMBETAS


Levítico 23.23-25

A Páscoa era celebrada no décimo quarto dia do primeiro mês. O


molho das primícias provavelmente era oferecido no dia seguinte ao pri-
meiro sábado depois da Páscoa. O Pentecostes realizava-se 50 dias mais
tarde, e ocorria na primeira metade do terceiro mês.
A seguir, havia uma longa interrupção até que, no sétimo mês, três
festas sucediam-se rapidamente.
Profeticamente, temos visto a Igreja nos dois pães do Pentecostes,
mas em Levítico 23.22 a sega ainda não está terminada. Simbolicamente,
a Igreja tem sido arrebatada, mas ficou uma bênção para o pobre (isto é,
o remanescente de Israel) e para o estrangeiro (isto é, as nações que pas-
sarão pela Grande Tribulação).
No sétimo mês, Deus restaura (figuradamente) Suas relações com
Israel, suscitando um despertar já anunciado em Isaías 18 e que deve
levá-lo à humilhação descrita em Zacarias 12, para poder introduzir o
povo às bênçãos milenares, simbolizadas pelos sete dias da festa dos Ta-
bernáculos. Assim que, profeticamente, o sétimo mês é o fim do ano de
Deus, a culminação de Seu plano.
Esta festa também tem uma aplicação para nós. O crente, após ter
sido levado ao Senhor Jesus e ter posto sua confiança no sangue que
purifica de todo o pecado, aprendeu a caminhar separado do mal, em
novidade de vida, e goza, pela fé, das bênçãos dadas pelo Espírito. O
tempo passou, os anos transcorreram, os espinhos da parábola talvez
estejam crescendo e impedindo que o bom grão se desenvolva como de-
veria. Apodera-se do crente um certo cansaço espiritual, adotam-se há-
bitos inconvenientes e, após a preguiça, vem o sono. É preciso que Deus
o desperte. Pode ser que não tenha havido decadência espiritual, mas
Deus quer suscitar progressos espirituais na vida do cristão.
Seja o que for, por meios que Deus conhece, Ele nos desperta através
de um toque de trombeta de Sua Palavra para colocar-nos bem na luz. A
comemoração das Trombetas é a única festa que acontece no primeiro
dia da lua nova (Salmo 81.3). Então inicia-se um novo ciclo, um novo
enfoque da luz de Cristo: “Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre
os mortos, e Cristo te iluminará” (Efésios 5.14); “digo isto a vós outros que
conheceis o tempo: já é hora de vos despertardes do sono... Vai alta a noite,
e vem chegando o dia” (Romanos 13.11-12).
O homem que dorme está em perigo de ser confundido com os mor-
tos, mas nem por estar dormindo tem menos vida e só precisa ser des-
pertado. Qual será então a atitude divina? Nada de reprovações (ainda
que seriam perfeitamente justificadas), mas “Cristo te iluminará”.
O despertar pode ser individual ou coletivo, quando no caso da Igreja
em que o clamor à meia-noite despertou as dez virgens ou, mais tarde,
quando Israel se preparará para receber o Messias.
Geralmente, como se vê nos reinados de Ezequias e de Josias, ou
nos tempos de Zorobabel, de Esdras e de Neemias, o despertar começa
individualmente.
Não se trata de criticar os outros ou o testemunho da congregação,
mas de arrependimento pessoal e de tomar sobre si a humilhação que
requer a situação em que se vive (Neemias 1.7; Daniel 9.15). E Joel ainda
acrescenta: “Agora mesmo, diz o Senhor: Convertei-vos a Mim de todo o
vosso coração, e isto com jejuns, com choro e com pranto” (Joel 2.12).
Se observáramos uma queda espiritual em nossas reuniões, um re-
trocesso na piedade, consideremos primeiro nossas próprias faltas e o
estado de nossa própria casa. O que está acontecendo com a leitura da
Palavra na família e com a leitura matutina individual? Enquanto, ao
nosso redor, Deus trabalha manifestamente despertando almas, perma-
necemos nós sonolentos?
Graças a Deus, existem felizes exceções, pessoas e reuniões às quais
o Senhor outorga a graça de manifestar o fruto da vida divina de uma
maneira toda particular. No entanto, não é menos verdade que, sem um
espírito de humildade, não haverá nenhum despertar real em nós, nem
em nossa família e nem em nosso testemunho coletivo.
Um verdadeiro despertar nos leva inicialmente à aflição, assim como
a comemoração ao som das trombetas era seguida pelo Dia da Expiação.

O DIA DA EXPIAÇÃO
Levítico 23.26-32; 16.1-34

Considerar muito mais profundamente quanto custou a Cristo tirar


nosso pecado de diante de Deus é o prelúdio de toda restauração. Reco-
nhecer a ruína (Levítico 16.1) individual ou coletiva conduz a uma apre-
ciação muito maior da Obra de Cristo e da sua eficácia perante Deus.
Sem examinarmos todos os detalhes do capítulo 16 de Levítico, o
coração do Pentateuco, consideraremos três pontos:
• O pecado
• Os sofrimentos de Cristo
• O propiciatório.

O pecado
As ervas amargas da Páscoa simbolizam a contrição da alma que
sente a amargura de ter causado, com seus pecados, o sofrimento de
Cristo. Em relação com a Ceia do Senhor, somos exortados a julgar-nos
a nós mesmos. Mas o Dia da Expiação trata de um exercício espiritual
ainda mais profundo.
Para Israel, este exercício está profetizado e detalhado em Zacarias
12.10-14 e em Isaías 53.
Para o cristão, é a contemplação dos sofrimentos de Cristo, com a
certeza de que tudo está cumprido, o que o leva a uma apreciação mais
profunda da seriedade do pecado. Ao contemplarmos a cruz, percebemos
a gravidade que o mal teve perante os olhos de Deus, o que faz com que
nos coloquemos nas Suas mãos, por ter aceito a oferta.
Repetidas vezes em Levítico capítulos 16 e 23, o Senhor ordena: “Afli-
gireis a vossa alma”. O Salmo 51 mostra o que esta aflição foi para Davi.
Não ocorrem em nossa vida ocasiões em que, pela ação poderosa da Pa-
lavra aplicada pelo Espírito à consciência, experimentamos o horror que
é o pecado, de uma maneira muito mais profunda do que até aquele mo-
mento?
Se foi necessário que o próprio Filho de Deus, Aquele que não co-
nheceu pecado, fosse feito pecado por nós para que fôssemos feitos jus-
tiça de Deus nEle, quão grave era este nosso pecado e quão incompatível
com a natureza divina!

Os sofrimentos de Cristo
Levítico capítulo 16 nos apresenta dois tipos de sacrifícios: os que
Aarão oferecia por si mesmo e pelos seus, isto é, um novilho pelo pecado
e um carneiro como holocausto, e os que oferecia pelo povo, isto é, dois
bodes pelo pecado e um novilho como holocausto.Podemos ver, pela
oferta de Aarão e pela sua casa, a Obra de Cristo a favor da Sua Igreja,
enquanyo que o sacrifício9 oferecido pelo povo sugere a Obra da cruz a
favor de Israel. Seja como for, não pretendemos distinguir estes diversos
aspectos, mas queremos considerar o que este capítulo nos apresenta
acerca dos sofrimentos de Cristo.
Dos dois bodes oferecidos pelo povo, o bode emissário (em hebraico,
Azazel) era apresentado vivo ao Senhor e o outro era imolado. Sobre a
cabeça do primeiro, o sacerdote devia confessar todas as iniquidades dos
filhos de Israel, todas as suas rebeliões, todos os seus pecados. A seguir,
era enviado ao deserto, carregando os pecados para esta terra inabitada,
onde morreria sob a condenação.
O bode vivo é uma figura extraordinária de Cristo, quando carregou
sobre Si nossos pecados sob o juízo de Deus, sendo Ele castigado em
lugar dos culpados: “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas,
cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre Ele a
iniquidade de nós todos” (Isaías 53.6); “carregando Ele mesmo em Seu
corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados” (1 Pedro 2.24).
Para que esta Obra se torne uma realidade para cada um de nós, é
preciso a confissão de nossos pecados e a aceitação de Cristo ter morrido
por eles.
O segundo bode, oferta pelo pecado, devia ser imolado e seu sangue
levado para trás do véu. Este ato devia ser realizado estando o sacerdote
sozinho (v. 17), pois ninguém podia compartilhar com Cristo a Obra pro-
piciatória da cruz. Ele não teve consoladores e, quando clamou ao céu,
não teve resposta.
O incenso (figura das perfeições de Cristo) devia ser posto no incen-
sário sobre o fogo do altar; a nuvem de incenso enchia o santuário. O fogo
do juízo, isto é, todos os sofrimentos da cruz naquele momento de angús-
tia inefável só manifestou mais intensamente Suas perfeições. Tudo o que
emanava do Seu coração quando esteve sob o juízo de Deus (afetos, sen-
timentos, submissão, confiança, tal como vemos nos salmos em particu-
lar) elevava-se ao céu qual perfume de cheiro agradável. (Vejam-se os
Salmos 22, 40, 69,...).
O sangue e o incenso só podiam ser oferecidos no santuário, mas o
corpo da vítima era queimado fora do acampamento. O juízo de Deus caiu
completamente sobre Cristo quando Ele sofreu fora da porta, abando-
nado por Deus, privado de todo relacionamento com Seu povo. Israel não
tinha direito de comer de tal sacrifício, mas nós o podemos fazer (Hebreus
13.10-11), pois que não temos mais consciência de pecado. Temos é co-
munhão com tal Obra.

O propiciatório
Na Páscoa, o sangue que estava nas portas era o fundamento da
salvação. Deus via o sangue e podia salvar o povo. No Dia da Expiação, o
sangue levado ao santuário permitia ao Senhor manter o relacionamento
com Seu povo. Mas o sangue de animais jamais podia tirar os pecados
(Hebreus 10.1-4).
Na realidade, a palavra expiação no Antigo Testamento tem o sentido
de cobrir os pecados e não de tirá-los: “Por ter Deus, na Sua tolerância,
deixado impunes os pecados anteriormente cometidos” (Romanos 3.25).
Mas, vindo Cristo, com Seu próprio sangue entrou uma vez para sempre
nos lugares santos da presença de Deus, tendo obtido uma eterna reden-
ção.
Da tampa de ouro da arca (o propiciatório) elevavam-se os queru-
bins, executores do juízo de Deus. Seus rostos estavam voltados para o
propiciatório. O que viam ali? O sangue derramado da vítima. O propici-
atório, em vez o trono do juízo de Deus, se convertia no lugar de Seu
encontro com o crente (}Êxodo 25.22). Cristo é a propiciação pelos nossos
pecados (1 João 2.2) e, ao mesmo tempo, é o propiciatório (Romanos
3.25).
A propiciação pelo pecado já foi realizada; Deus é glorificado e é justo
ao justificar àquele que tem fé em Cristo. Deus queria salvar (Ele não é
um Deus vingador apaziguado pelo sangue), mas não podia salvar justa-
mente sem que o castigo tivesse sido sofrido por uma vítima.
Os capítulos 9 e 10 de Hebreus enfatizam o valor do sangue de
Cristo: não é o sangue de bodes, mas é Seu próprio sangue; não são ho-
locaustos e sacrifícios pelo pecado, mas a oferta do corpo de Cristo; não
são os mesmos sacrifícios constantemente repetidos, os quais nunca po-
dem tirar o pecado, mas uma Vítima perfeita que Se ofereceu a Si mesma:
“Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pe-
cados, assentou-se à destra de Deus” (Hebreus 10.12).
E quais são os resultados? “Com uma única oferta aperfeiçoou para
sempre quantos estão sendo santificados” (v. 14). Deus não Se lembrará
mais de suas iniquidades e pecados; eles têm agora plena liberdade para
entrar nos lugares celestiais em paz, purificados de uma consciência má
e com o corpo lavado com água pura. Eles aproximam-se de Deus não
por obrigação, mas porque desejam encontrar-se no santuário com
Aquele a quem amam, seu Sumo Sacerdote, ali onde Ele está.
O Dia da Expiação não concluía com o sacrifício pelo pecado, mas
seguia-lhe um holocausto (Levítico 16.24). Embora Cristo tenha feito
tudo por nós, para apagar nossas faltas e levar-nos a Deus, Seu motivo
supremo foi a glória de Deus e o cumprimento de Sua vontade.
Como o pecado tem sido tirado, as culpas confessadas, o perdão ob-
tido e o holocausto oferecido, o caminho está aberto para o gozo da festa
dos Tabernáculos.

A FESTA DOS TABERNÁCULOS


Levítico 23.33-43; Números 29;
Deuteronômio 16.13-15; 1 Reis 8.2;
Neemias 8.13-18; João 7.2, 10, 37-39

Da mesma maneira que a festa dos Pães Asmos, também a dos Ta-
bernáculos durava sete dias. É figura do Milênio e das bênçãos terrenas
de Israel, mas a aplicaremos à vida do cristão, cujo andar com o Senhor
está marcado pela separação do mal – da qual nos fala a festa dos Pães
Asmos – e pelo gozo da comunhão com Ele, simbolizado pela festa dos
Tabernáculos.
Esta sétima e última festa começava no décimo quinto dia do sétimo
mês, pouco depois da comemoração da festa das Trombetas e do grande
Dia da Expiação.
Os trabalhos da colheita e da vindima tinham sido concluídos, e ti-
nha chegado o tempo de repouso. O repouso final, representado especi-
almente pelo oitavo dia e a reunião solene, esperamos nós na casa do Pai.
Enquanto isto, pelo Espírito Santo, Hóspede do crente e garantia de sua
herança, temos um gozo antecipado daquele maravilhoso momento.
Assentados em Cristo nos lugares celestiais (Efésios 2.6), antecipa-
mos o arrebatamento da Igreja e a glória.

Qual era a ordenança da festa para os israelitas?


No primeiro dia, eles deviam ajuntar galhos de formosas árvores, de
palmas e de árvores frondosas e construir cabanas nas quais viveriam
durante sete dias desfrutando o descanso e o gozo, mas também recor-
dando a travessia do deserto, quando, durante quarenta anos, os pais
tinham erguido suas tendas sob o ardor do sol.
Nesta festa, o israelita piedoso juntava a lembrança do povo pere-
grino com aquela de um Deus fiel que o tinha acompanhado em graça
com sua própria tenda, o verdadeiro tabernáculo, até a chegada ao país
da promessa.
Na Páscoa misturava-se sempre o gozo da libertação com a lem-
brança da escravidão no Egito. Uma vez celebrada a festa, os israelitas
voltavam às suas tendas como se não tivessem comunhão entre si para
comerem ali pães asmos durante uma semana.
No Pentecostes, o nome do Senhor era o centro do gozo de Seu povo
que O rodeava, era o gozo da comunhão, experimentado por nós mediante
a presença do Espírito Santo. Mas, nesta festa dos Tabernáculos, durante
o ciclo completo dos sete dias, o gozo era puro, a felicidade era sem mis-
tura; mais, ainda, o gozo era um mandamento: “Alegrar-te-ás na tua
festa... de todo te alegrarás” (Deuteronômio 16.14-15).
Nesta festa de gozo, cada um tinha a sua parte: “Alegrar-te-ás, na
tua festa, tu, e o teu filho, e a tua filha, e o teu servo, e a tua serva, e o
levita, e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva que estão dentro das tuas cida-
des” (Deuteronômio 16.14). Ninguém é esquecido; as diversas circuns-
tâncias da vida cotidiana são deixadas para trás; não é mais a hora de
serviço, nem de solidão, nem de lágrimas. Em cada um, tudo deve ex-
pressar o gozo e só Ele deve reinar na festa.
Os Tabernáculos, festa da lembrança e da alegria, era também festa
de descanso no cumprimento das promessas: “O Senhor, teu Deus, há de
abençoar-te em toda a tua colheita e em toda obra das tuas mãos, pelo que
de todo te alegrarás” (Deuteronômio 16.15). Por isso esta solenidade só
podia ser realizada depois de terem chegado a Canaã.
Os trabalhos do ano tinham terminado: “Quando houveres recolhido
da tua eira e do teu lagar” (Deuteronômio 16.13). e não somente do teu
campo e da tua vinha; tinha terminado a debulha e do lagar tinha sido
recolhido o vinho. Podia-se então gozar plenamente os frutos de um tra-
balho terminado. Mas como manter este gozo durante sete dias? Deviam
apresentar cada dia um sacrifício: novilhos, carneiros, cordeiros e um
bode pelo pecado (Números 29).
Embora, em figura, a perfeição tivesse sido quase atingida (treze e
não catorze novilhos oferecidos com gozo e voluntariamente ao Senhor),
havia também uma diminuição diária desta oferta voluntária durante os
sete dias: treze, depois doze, depois onze, ...
Os dois carneiros – testemunho da consagração a Deus – se repetiam
invariavelmente na oferta de cada dia da festa, o mesmo que os catorze
cordeiros de um ano, sem defeito, o que era uma expressão da perfeição
invariável da Obra redentora. Mas cada dia se oferecia igualmente o sa-
crifício pelo pecado, pois ainda não temos chegado à perfeição do Estado
Eterno.

O oitavo dia, o grande dia da festa


Uma vez completados os sete dias, parecia que a festa tinha termi-
nado e que devia iniciar-se a vida rotineira. Mas eis que no dia depois do
sábado do sétimo dia devia ser convocada uma assembléia solene e de-
viam ser oferecidos novos sacrifícios: era o dia da grande festa.
O povo não podia compreender o profundo significado deste dia, o
primeiro de uma nova semana, mas que privilégio é para nós podermos
discernir o seu sentido: é o dia da ressurreição, novo dia de uma semana
que jamais acabará: “E começaram a regozijar-se” (Lucas 15.24); festa de
alegria à mesa do Pai, dia da grande reunião que se prolongará pelo Es-
tado Eterno, e que será “o tabernáculo de Deus com os homens” (Apoca-
lipse 21.4).

A festa dos Tabernáculos através dos tempos


Ao chegar a Canaã, Israel logo se esqueceu que tinha sido estran-
geiro no Egito e peregrino no deserto. Na realidade, vemos que a festa dos
Tabernáculos só foi celebrada três vezes segundo as ordens divinas.
Primeiramente, durante o reinado de Salomão, por ocasião da dedi-
cação do templo, quando os utensílios do lugar sagrado e a arca são fi-
nalmente reunidos na casa de Deus, tomada pela nuvem: “Levanta-Te,
pois, Senhor Deus, e entra para o Teu repouso, Tu e a arca do Teu poder”
(2 Crônicas 6.41). É o fim do tabernáculo itinerante. Mas Salomão e o seu
reinado de paz são apenas uma amostra efêmera do futuro reinado do
verdadeiro Filho de Davi.
Na época de Esdras, uma vez construído o altar e restabelecido o
culto, a festa foi novamente celebrada (Esdras 3.4) e os holocaustos ofe-
recidos.
Com Neemias, a festa dos Tabernáculos é novamente observada por
um pequeno remanescente que voltou à terra de Israel. E qual foi o motivo
desta celebração? Foi a leitura atenta do Livro da lei (Neemias 8.3-14).
Trata-se de uma lição muito importante para nós! O Livro não foi
lido de qualquer maneira, mas lentamente, distintamente, interpretando
o que se lia aos ouvidos do povo, que se deixou instruir para, a seguir,
traduzi-lo em fatos: Era o dia da “Bíblia aberta”.
Já nos dias de Ezequias tinha sido este Livro, o que tinha levado o
povo a celebrar a Páscoa como nunca tinha sido “desde os dias de Salo-
mão” (2 Crônicas 30.26). A leitura do Livro também nos dias de Josias
tinha levado o povo a celebrar de novo a Páscoa como nenhuma outra
“desde os dias do profeta Samuel” (2 Crônicas 35.18).
Nos dias de Neemias estava-se precisamente no sétimo mês quando
se descobre no Livro da lei que aquele era o momento de celebrar-se a
festa dos Tabernáculos. Rapidamente, cada um correu para a montanha
em busca de folhagens necessárias e, uns no terraço, outros no pátio,
outros nos átrios da casa de Deus, outros na praça da porta das águas,
ou na de Efraim, todos levantaram tabernáculos nos quais habitaram
durante uma semana e, que comprovação estranha!, “nunca fizeram as-
sim os filhos de Israel, desde os dias de Josué, filho de Num, até àquele
dia; e houve mui grande alegria” (Neemias 8.17).
Mas eis que não há novilhos para os holocaustos, nem sacrifícios
para oferecer. Reconhecem sua debilidade e não podem apresentar-se
perante o Senhor como deveriam. Mas permanecem ali, perante Ele e “dia
após dia, leu Esdras no Livro da lei de Deus, desde o primeiro dia até o
último...no oitavo dia, houve uma assembléia solene, segundo o prescrito”
(v. 18).
Em Neemias, a festa dos Tabernáculos era como uma antecipação
da futura ressurreição nacional. Nos evangelhos (Mateus 21, Marcos 11,
João 12) a festa é como um esboço, como um começo, quando ramos de
árvores são lançados aos pés do Senhor como Filho de Davi e Rei de Is-
rael. Mas a verdadeira festa dos Tabernáculos não podia ser celebrada
antes de que Jesus tivesse dado a Sua vida.
Chegará o momento (Zacarias 14) em que a verdadeira festa, a festa
definitiva, seja celebrada no país de Canaã, quando os salvos de entre as
nações subirão para tomar parte nestas santas e gloriosas solenidades.
Então Israel descansará à sombra de sua vinha e de sua figueira e toda
a terra se regozijará sob o Reinado do Príncipe da Paz.

O oitavo dia, antecipação do céu


Enquanto espera esses gloriosos dias anunciados pelos profetas a
Israel, a Igreja, povo celestial, já possui pela fé uma antecipação desse
gozo futuro.
Em João, capítulo 7, o Senhor tinha ido secretamente à festa dos
Tabernáculos, então chamada de festa dos judeus, mas não Sua. Este
não podia ser para Ele tempo de repouso e de glória. No deserto, a arca
tinha acompanhado o povo em sua peregrinação, associando-se às vicis-
situdes ou indo “adiante deles caminho de três dias, para lhes deparar
lugar de descanso” (Números 10.33).
Os irmãos de Jesus tinham querido que Ele subisse com eles para a
festa. Mas Ele tinha vindo em graça, como a Palavra feita carne, para
habitar – levantar tabernáculo – em nosso meio. Para Ele, divino Cordeiro
da Páscoa que subia para ser sacrificado, era este o começo do “caminho
de três dias” rumo aonde ia preparar para os Seus um “lugar de des-
canso”.
No oitavo dia, o grande dia da festa, Jesus se apresenta publica-
mente, o que é uma figura do que vai acontecer com Sua morte e ressur-
reição. E então se dirige não somente aos judeus, mas a todo aquele que
tiver sede: “Se alguém tem sede, venha a Mim e beba” (v. 37).
No deserto, o povo tinha podido apagar sua sede graças a uma rocha
ferida, cuja água, nunca esgotada, tinha conservado suas vidas: “E a pe-
dra era Cristo” (1 Coríntios 10.4). Mas agora, como a samaritana, todos
os que têm sede podem aproximar-se e, credo nEle, receber a água da
vida da parte dAquele que é o único que pode dá-la.
Em João, capítulo 4, é uma água que salta para a vida eterna e que
é motivo de louvar a Jesus, Aquele que a deu. Aqui, a água flui como rios
de água viva do seio do crente que apaga sua sede com ela. A vida assim
recebida dEle, penetra até ao mais profundo da alma e seus efeitos ben-
ditos se derramam para outros.
Só o Espírito Santo pode produzir estes frutos benditos quando o
resgatado fixa seus olhos em um Cristo ressuscitado e glorificado: “Por-
que há de receber do que É Meu e vo-lo há de anunciar” (João 16.14). Como
garantia da herança, o Espírito procura dar ao crente uma antecipação
do céu enquanto espera a plena manifestação de Sua glória.
Como o criado de Abraão, que era o que “governava tudo o que pos-
suía” Abraão, o Espírito mantém o coração do resgatado com Aquele a
quem o Pai disse: “É o Meu Senhor” (Gênesis 24.2, 36, 65).

CONCLUSÃO
Números 28 e 29

Cada uma destas festas que vimos (da Páscoa, dos Pães Asmos, das
Primícias, das Trombetas, do Dia da Expiação e dos Tabernáculos) estava
acompanhada de seus respectivos sacrifícios, como o mostram estes dois
capítulos de Números. Aplicada esta verdade a nossas vidas, cada uma
das etapas importantes da vida espiritual do cristão está vinculada ao
sacrifício do Senhor Jesus.
Será que isto significa que somente nas grandes ocasiões da vida
temos que pensar no Senhor Jesus? O começo do capítulo 28 dá a res-
posta: “Da Minha oferta, do Meu manjar para as Minhas ofertas queima-
das, do aroma agradável, tereis cuidado, para Mas trazer a seu tempo de-
terminado... Esta é a oferta queimada que oferecereis ao Senhor, dia após
dia; dois cordeiros de um ano, sem defeito, em contínuo holocausto; um
cordeiro oferecerás pela manhã, e o outro, ao crepúsculo da tarde” (vv. 2-
4).
É o holocausto contínuo, acompanhado com uma oferta de flor de
farinha e sua libação. Assim, o tempo para a oferenda ao Senhor não se
limitava às grandes ocasiões: cada dia o cheiro agradável devia subir pe-
rante Ele.
Se cada manhã e cada tarde sentíssemos mais o desejo de agradecer
a Deus pelo Dom do Senhor Jesus, isso não contribuiria muito mais para
manter-nos despertos e conservar o gozo de Sua comunhão? Cada ma-
nhã, pensemos nAquele que Se ofereceu e, cada tarde, bendigamos a
Deus porque Ele veio, porque Ele Se entregou por nós.
Todas as manhãs e todas as tardes o cordeiro era oferecido em ho-
locausto, mas no dia de sábado “dois cordeiros de um ano, sem defeito”
com sua oferta de flor de farinha e sua libação. Era o holocausto do sá-
bado, além do holocausto contínuo. Um dia por semana – o primeiro dia
da semana para nós, o domingo – deve brotar um sentimento mais pro-
fundo, mais particular para com o Senhor Jesus, além do holocausto di-
ário, dois cordeiros mais.
Finalmente, “nos princípios dos vossos meses, oferecereis, em holo-
causto ao Senhor, dois novilhos e um carneiro, sete cordeiros de um ano,
sem defeito” (v. 11). Eis aqui o holocausto mensal para cada mês do ano.
Estes meses do ano corriam paralelamente à celebração das festas. Cor-
respondiam às luas e, em cada ciclo lunar, deviam oferecer um novo sa-
crifício.
Em certo sentido, a vida de um cristão deveria ser uma linha ascen-
dente, contínua. Mas, por causa de nossas fraquezas e insuficiências,
ela, como a lua, tem também suas fases: “minguantes” e “crescentes”,
sombras e luzes, queda e restauração,... Cada vez Deus nos fala e em
cada experiência nos é necessário pensar no sacrifício oferecido na cruz.
A lembrança da Obra completada no Calvário não é somente para os
dias importantes de nossa vida; deve estar constantemente perante os
olhos de nosso coração cada dia, cada semana, cada mês.
Os capítulos 28 e 29 de Números frisam o valor do holocausto, isto
é, no que o Senhor Jesus é para Deus. É verdade que temos de lembrar
do que Ele é para nós, do que Ele nos proporcionou, mas convém que nos
elevemos em nossos pensamentos e que, a miúdo, falemos ao Pai dAquele
em Quem Ele achou todo o contentamento. É o que Lhe devemos aqueles
que gozamos da herança e temos parte no que cada uma das festas nos
apresenta.
Assim, de dia em dia, de semana em semana, de mês em mês e de
ano em ano, marcharemos rumo aquele “oitavo dia”, o dia da Eternidade,
quando:

Para exaltar-Te, ó Rei ungido,


Do céu e da terra em coro unido,
Subirá no santuário um hino,
Sempre mais, sempre mais.

Tua face será a luz suprema


E de Tua graça a alma cheia,
Pra sempre Tua toda inteira
Te será, Te será.

De Ti a entrega expiatória,
De Teu amor, de Tua vitória,
A Igreja Te dirá a história
Mais além, mais além.

E ela, Tua pérola incomparável,


Prova de Tua graça admirável,
Pra sempre Tua graça adorável
Cantará, cantará.

Explicação da palavra “expiação”


Nas versões portuguesas do Antigo Testamento, a palavra “expiação”
é usada para traduzir os termos hebreus que significam “coberta”, “co-
bertas” ou “cobrir”.
Na versão francesa de Darby, a palavra utilizada em vez de “expia-
ção” é “propiciação”. Esta última palavra a encontramos em português
em três passagens do Novo Testamento: Romanos 3.25, 1João 2.2 e 4.10.
O propiciatório era a coberta da arca (Êxodo 25.17-22). Portanto,
“expiação” não é uma tradução literal da palavra hebraica e deve ser com-
preendia como “ação de cobrir”.
As ofertas levíticas não podiam apagar e nem tirar os pecados (He-
breus 10.4). Elas os “cobriam” enquanto se esperava a Obra expiatória
de Cristo na cruz. Para o crente do Antigo Testamento, um pecado expi-
ado era um pecado coberto. “Bem-aventurado aquele cuja iniqüidade é
perdoada, cujo pecado é coberto” (Salmo 32.1) Romanos 3.25 diz: “Por ter
Deus, na Sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente co-
metidos”. Em Sua paciência, Deus podia “cobrir” ou “deixar impunes” os
pecados por um certo tempo; no entanto, por causa de Sua justiça, não
podia tirá-los, como podemos ler em Hebreus 10.4: “Porque é impossível
que o sangue de touros e de bodes remova pecados”. Unicamente o sangue
de Cristo pode tirar os pecados: “Ele Se manifestou para tirar os pecados,
e nEle não existe pecado” (1 João 3.5).
Assim, até que a justiça de Deus fosse vindicada pela morte da Santa
Vítima na cruz, Deus só podia “expiar”, no sentido de “cobrir”, os pecados
do homem. Unicamente a Obra da cruz permite a Deus manifestar “Sua
justiça no tempo presente, para Ele mesmo ser justo e justificador daquele
que tem fé em Jesus” (Romanos 3.26).
Jesus, o Filho de Deus, Vítima inocente e santa, apresentou-Se para
cumprir no Gólgota a Obra mediante a qual foi expiado o pecado, liqui-
dada inteiramente a questão do bem e do mal e glorificar plenamente o
Deus salvador e santo. A cruz é a prova da expiação.
Assim, a Obra da cruz tem esta virtude expiatória, purificando para
sempre de todo pecado aos que se apropriem do valor desta Obra. Os
sacrifícios de expiação da lei mosaica eram apenas “sombras” (Hebreus
10.1) da realidade do sacrifício de Cristo na cruz.
É proveitoso recordar disso enquanto se leem os muitos versículos
do Antigo Testamento em que se menciona a palavra “expiação”.

O PÃO DA TERRA
Números 15.19

No deserto, os israelitas se alimentavam do maná. Cada manhã ti-


nham que levantar-se bem cedo a fim de recolher a quantidade de que
necessitassem para o consumo do dia. Isto é repetido seis vezes em Êxodo
16. Era impossível fazer provisão para mais de um dia, pois que o maná
criava vermes.
Em João, capítulo 6, quando a multidão increpava a Jesus dizendo-
Lhe: “Nossos pais comeram o maná no deserto”, Ele lhes respondeu: “Eu
sou o pão da vida; o que vem a Mim jamais terá fome; e o que crê em Mim
jamais terá sede” (vv.353-36).
Cada manhã temos o gozo de achar nas Escrituras a figura de um
Cristo descido à terra, Homem entre os homens, enviado pelo Pai para
dar-nos vida eterna. Não só os evangelhos falam-nos dEle, mas também
o Antigo Testamento: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e
Lhe chamará Emanuel” (Isaías 7.14); “eis aqui o Meu servo, a quem suste-
nho, o Meu escolhido, em Quem a Minha alma se compraz” (Isaías 42.1);
entre outras citações.
Tendo Israel chegado a Canaã, a cena muda: “Comeram do fruto da
terra, no dia seguinte à Páscoa... No dia imediato, depois que comeram do
produto da terra, cessou o maná” (Josué 5.11-12). O povo acabava de
atravessar o Jordão, onde doze pedras foram levantadas como monu-
mento comemorativo daquele feito notável, símbolo de nossa identifica-
ção com Cristo em Sua morte.
Outras doze pedras tiradas do fundo do rio foram erigidas em Gilgal
e são uma figura de nossa união com Cristo em Sua ressurreição. Intro-
duzidos desta maneira na Terra Prometida, os israelitas gozam de um
novo relacionamento com Deus. Agora é necessário que combatam para
conquistar o que Deus lhes tem dado: “Todo lugar que pisar a planta de
vosso pé, vo-lo tenho dado” (Josué 1.3).
Na experiência cristã, isto corresponde ao ensino aos Colossenses e,
principalmente, aos Efésios: “Se fostes ressuscitados juntamente com
Cristo, buscai as coisas lá do,alto, onde Cristo vive, assentado à direita de
Deus” (Colossenses 3.1); “e juntamente com Ele, nos ressuscitou, e nos fez
assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (Efésios 2.6). Está relaci-
onado também com a luta que temos de suster, segundo Efésios 6.10-18.
A partir daquele momento, o maná deixa de ser alimento, pois Cristo des-
ceu do céu e temos “o fruto da terra, os pães asmos e cereais tostados”.
“O fruto da terra” nos fala de Cristo nos conselhos de Deus. “Pai...
Me amaste antes da fundação do mundo” (João 17.24); “Eis aqui estou...
para fazer. Ó Deus, a Tua vontade” (Hebreus 10.7).
“Os pães asmos e os cereais tostados” eram o produto da colheita
“do país”. A alma se alimenta de Cristo, vítima sem defeito e sem mancha,
que padeceu, morreu e ressuscitou. Já não se pode achar na cruz (“Por-
que buscais o vivente entre os mortos?”), mas Ele é visto na glória. É o
molho das primícias (Levítico 23), a avezinha que voa para o céu (Levítico
14), é o pão da terra (Números 15). Para nós, é o Senhor que, no dia da
Sua ressurreição, aparece aos discípulos que estão reunidos; é Jesus que
agora vemos coroado de glória e de honra; é o Cordeiro no meio do trono.
A vida cristã se desenvolve tanto no “deserto” como na “terra”. Res-
gatados por meio da morte de Cristo (Páscoa no Egito), libertados do po-
der do inimigo (Mar Vermelho), atravessamos este mundo semelhante a
um deserto, mas, ao mesmo tempo, experimentamos os cuidados do Se-
nhor e nossa alma se renova interiormente cada dia por meio da Palavra
que lemos e na qual meditamos, e na qual devemos buscar principal-
mente a Pessoa de nosso Senhor Jesus (o maná).
Se, pela fé, sabemos que temos morrido e ressuscitado com Cristo,
vivemos também “na terra”, de maneira que temos de conquistar e apro-
priar-nos pessoalmente de todas as bênçãos espirituais que Deus nos dá
por intermédio de Cristo, para o que é preciso que cada dia nos alimen-
temos do Senhor Jesus ressuscitado e glorificado e que busquemos “as
coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus” (Colos-
senses 3.1).
A Palavra de Deus ainda vai mais longe: “Quando chegardes à terra
em que vos farei chegar, ao comerdes do pão da terra, apresentareis oferta
ao Senhor... das primícias da vossa farinha grossa apresentareis oferta
nas vossa gerações” (Números 15.18-21). No deserto conservava-se den-
tro da arca uma urna que continha maná, figura de Cristo em Seu caráter
de pão da vida descendo do céu. No entanto, na Terra Prometida era ne-
cessário oferecer ao Senhor “primícias da vossa farinha”.
A alma, alimentada do Cristo glorificado poderá apresentar-se pe-
rante Deus e oferecer-Lhe “o fruto de lábios que confessam o Seu Nome”
(Hebreus 13.15). Os sacrifícios de louvor não só expressam reconheci-
mento por ter-nos salvo, mas apresentam ao Pai o que Seu Filho é para
Ele (Salmo 50.14, 23). Durante a sega, o primeiro molho era oferecido a
Deus (Levítico 23.10). Uma vez terminada a colheita, quando o grão já
tinha sido batido, moído e o trigo preparado, novamente as primícias
eram oferecidas ao Senhor.
Deus permita que possamos ser alimentados assim de Cristo, tanto
em Sua vida quanto em Sua morte, em Sua ressurreição e em Sua as-
censão à glória, a fim de que nossos corações, repletos dEle, possam ren-
der ao Pai o culto que Ele espera de Seus adoradores!

G. André

.oOo.

Você também pode gostar