As Sete Festas Do Senhor
As Sete Festas Do Senhor
As Sete Festas Do Senhor
DO SENHOR
PRÓLOGO
As festas do Senhor, conforme descritas no capítulo 23 de Levítico,
eram “festas fixas” (ou “solenidades”), isto é, tempos acertados para o
povo aproximar-se de Deus e apresentar sacrifícios (v. 37).
Para o Senhor não eram festas do povo, mas “festas fixas” do Senhor,
realizadas para Ele e para a Sua glória. Quando a tradição e os ritos as
despojaram de seu verdadeiro significado (ao ponto de excluir delas o
próprio Senhor Jesus), tais festas foram simplesmente denominadas “fes-
tas dos judeus” (João 5.1; 7.2).
Estas festas, além do seu valor histórico por serem celebradas em
Israel, têm também um significado simbólico e um alcance profético. Fo-
calizaremos apenas este último para dedicar-nos a buscar a sua aplica-
ção à vida cristã.
Por outro lado, os caminhos do Senhor são os mesmos quer para o
Seu povo terreno, ou para o Seu povo celestial ou, particularmente, para
cada um dos Seus resgatados.
Alegra-nos lembrar que o cristão não celebra festas rituais (Colos-
senses 2.16; Gálatas 4.10), mas as de Levítico 23 podem considerar-se
como outras tantas experiências espirituais que o resgatado experimenta
talvez até mais de uma vez na vida cristã.
Para nos aprofundarmos no assunto, recomendamos ao leitor o estudo
dos comentários de C. H. Mackintosh sobre o Pentateuco.
INTRODUÇÃO
O sábado é mencionado no início das festas fixas (Levítico 23.2-3)
sem, contudo, fazer parte das sete festas (v. 4). “O primeiro pensamento
de Deus é o repouso (Gênesis 2.2-3), não a inatividade, mas a satisfação
profunda que experimentou ao ver concluída Sua obra. Deus deseja que
os Seus sejam participantes do repouso, mas, para gozá-lo, não deve
haver nem sequer um único pensamento que não se possa compartilhar
com Ele” (J. N. Darby).
O repouso, embora seja o primeiro pensamento de Deus, na reali-
dade é o resultado final, a meta, o fim de todos os Seus planos. É neces-
sário todo o ciclo espiritual das sete festas para que o Seu povo seja le-
vado ao Seu próprio repouso, não ao repouso da Criação, mas ao repouso
da Redenção, isto é, a toda a satisfação que Deus encontrou na Pessoa e
na Obra de Seu Filho amado, repouso da Igreja e do próprio resgatado no
céu, repouso de Israel na terra durante o Milênio e repouso da Criação,
que gozará da gloriosa liberdade dos filhos de Deus (Romanos 8.21).
O pecado tornou impossível ao homem gozar este repouso sem a sua
redenção; daí a necessidade da primeira festa, a Páscoa, fundamento das
outras. Deus achou Seu repouso absoluto na Obra de Cristo. Ele vê o
sangue do Cordeiro nas “ombreiras e na verga da porta” (Êxodo 12.7), isto
é, no batente.
Para nós, a base de todo o repouso é que Deus aprecia a Obra de
Cristo. Sem dúvida que, para sermos salvos, devemos apropriar-nos
desta Obra pela fé, assim como cada família israelita devia escolher um
cordeiro, guardá-lo, matá-lo, untar com seu sangue o batente da porta
de sua casa, confiando na promessa de Deus feita a Moisés de que, assim
fazendo, o primogênito estaria protegido. Esta é a responsabilidade do
homem, mas o fundamento de todo repouso está no fato de que Deus Se
satisfez com a Obra de Cristo na cruz.
O cordeiro pascal é também o alimento daqueles que já estão no
abrigo que oferece o seu sangue. Assim, a Páscoa se transformará para
Israel no memorial a ser celebrado anualmente em lembrança da mara-
vilhosa libertação realizada de uma vez para sempre. Assim é a Ceia do
Senhor para o cristão. A Páscoa antecipa a cruz; a Ceia a comemora.
A Páscoa estava intimamente ligada à Festa dos Pães Asmos, a qual
durava sete dias. Na própria Páscoa já se encontram os pães sem fer-
mento; somente o Senhor Jesus não teve nenhum pecado. Ao abrigo do
Seu sangue, o redimido se nutre dEle, o Cordeiro de Deus oferecido em
sacrifício, mas também Homem perfeito que glorificou plenamente a Deus
ao estar absolutamente separado de todo o mal.
Além disto, unido a Cristo, o crente é exortado a viver durante toda
a sua vida separado do mal, tão perfeitamente quanto Cristo manifestou
esta separação. De fato, a festa da Páscoa e a dos Pães Asmos eram cele-
bradas como se fossem uma só (Lucas 22.1). Não se pode dizer: “Cri no
Senhor Jesus e estou salvo” e, a seguir, viver como as pessoas do mundo.
A terceira festa, chamadas das Primícias, consistia em oferecer a
Deus “um molho das primícias” da colheita e só poderia celebrar-se “na
terra”, isto é, em Canaã (v. 10). O Egito é figura do mundo, do qual o povo
de Deus é tirado. O deserto é o que este mundo tem sido para o crente:
lugar de combate e de provações, mas também de numerosas experiên-
cias espirituais da graça divina.
Para entrar no país, isto é, na plenitude das bênçãos que temos em
Cristo, é necessário atravessar o Jordão ou, em outras palavras, termos
experimentado a morte e ressurreição com Cristo (Colossenses 3.1-3).
Ao chegar a colheita, devia-se separar o primeiro molho e oferecê-lo
ao Senhor no dia após o primeiro sábado da semana da Páscoa (v. 12).
Trata-se de uma viva figura de Cristo ressurreto de entre os mortos, “pri-
mícias dos que dormem” (1 Coríntios 15.20), como também figura daque-
les que, unidos a um Cristo ressurreto, somos chamados a andar em
novidade de vida. É o lado positivo da vida cristã.
Cinquenta anos mais tarde, realizava-se a Festa do Pentecostes (ou
Festa das Semanas), na qual era apresentada uma nova oferenda ao Se-
nhor, no dia seguinte ao sétimo sábado. Este primeiro dia de uma nova
semana prefigura a descida do Espírito Santo (Atos 2.1-4), poder para o
andar do crente.
Um longo período ocorria sem festa até o sétimo mês. E isto não
acontece também na vida cristã? Uma pessoa tem sido levada ao Senhor
Jesus; em certa medida está vivendo separada do mundo e está usu-
fruindo uma nova vida guiada pelo Espírito Santo. Agora, lentamente,
estas bênçãos tão apreciadas vão perdendo seu atrativo. Esta pessoa se
descuidou um pouco ou, talvez, insensivelmente, adormeceu. É necessá-
rio que Deus a desperte.
No primeiro dia do sétimo mês, o som das trombetas anunciava ou-
tra solenidade: a festa das Trombetas. Por uma poderosa ação da Sua
Palavra, por uma provação ou por outro meio qualquer, Deus quer levar
aquela alma a uma comunhão mais íntima com Ele.
Entretanto, se a graça divina restabelece e restaura, isto não pode
acontecer sem um exercício de consciência do qual nos fala o Dia da Ex-
piação (v. 27). É imprescindível que esta pessoa, tanto quanto possível,
seja levada a uma apreciação muito mais profunda do que é o pecado aos
olhos de Deus, dos sofrimentos de Cristo para expiá-lo e do valor do Seu
sangue. A alma então se encomenda a Deus, descansando no sacrifício
realizado há tanto tempo, mas de valor sempre atual.
Poucos dias após a aflição da festa do Dia da Expiação, chegava a
alegria da festa dos Tabernáculos. É figura do gozo da comunhão do
crente com Cristo e do gozo e bênção de Israel sob o cetro do Messias.
Mas também, no oitavo dia desta festa, vemos a antecipação do céu e o
gozo eterno de todos os redimidos.
Em todas estas festas deviam se oferecer sacrifícios, particularmente
holocaustos, como vemos em Números capítulos 28 e 29, durante a maior
parte dos dias solenes. Nenhum progresso espiritual real pode ser conse-
guido sem o sentimento de que Cristo ofereceu-Se a Deus, de que cum-
priu a vontade do Pai, de que Se propôs glorificá-lO em tudo
Sem dúvida, o que foi feito a nosso favor, mas é preciso irmos mais
longe para compreendermos o que é devido a Deus por aqueles que somos
beneficiários das bênçãos representadas por estas festas: “Da Minha
oferta, do Meu manjar para as Minhas ofertas queimadas, do aroma agra-
dável, tereis cuidado, para Mas trazer a seu tempo determinado” (Núme-
ros 28.2).
Finalmente, Deuteronômio capítulo 16 menciona as três grandes fes-
tas: a da Páscoa e dos Pães Asmos, a de Pentecostes (ou das Semanas) e
a dos Tabernáculos. Este capítulo, escrito para o tempo quando Israel
estivesse “na terra”, enfatiza a reunião do povo no lugar que o Senhor
escolhesse.
A Páscoa indica a aflição; o Pentecostes, o gozo compartilhado com
os gentios (os dois pães); e os Tabernáculos indica o gozo completo: “De
todo te alegrarás” (v. 15).
O israelita, da mesma maneira como hoje o cristão, não se apresen-
tava perante Deus para obter uma bênção ou para fazer-se merecedor de
algum mérito, mas para agradecer pela bênção recebida.
Durante a longa história de Israel, estas festas foram esquecidas,
descuidadas ou mal observadas, mas o Espírito de Deus Se compraz em
citar e frisar as ocasiões em que a Páscoa ou a festa dos Tabernáculos
foram celebradas segundo as prescrições divinas como gozo de uma nova
comunhão com o Senhor.
E muitas vezes não acontece também assim em nossa vida? E se há
momentos em que Deus nos quer falar ou restaurar a nossa alma para
fazer-nos progredir espiritualmente, saibamos escutar, humilhar-nos pe-
rante Ele e contemplar a Cristo e Sua Obra.
“Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso, a fim de que nin-
guém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência” (Hebreus 4.11),
repouso que nos tem sido conseguido por tão elevado preço!
A PÁSCOA
Êxodo 12.1-13; Números 9.1-5;
Levítico 23.5; Deuteronômio 6.1-8
O lado de Deus
O pecado impede o repouso ao homem desde a queda. É como disse
o Senhor Jesus: “Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também” (João
5.17).
Não há repouso sem a redenção, sem a Páscoa, figura da Obra per-
feita realizada na cruz.
Deus tinha perante Si um Cordeiro, Cordeiro predeterminado
mesmo antes da fundação do mundo, mas no tempo certo manifestado.
É por isso que Êxodo capítulo 12 não fala de muitos cordeiros, embora
cada família devesse sacrificar um. Para Deus há um único Cordeiro: Seu
Filho amado.
O cordeiro devia ficar em quarentena durante quatro dias para ma-
nifestar que não tinha defeito. “Foi Ele tentado em todas as coisas, à
nossa semelhança, mas sem pecado” (Hebreus 4.15). E o Cordeiro de
Deus só manifestou perfeição durante a Sua vida aqui. Os quatro evan-
gelhos o testificam.
Mesmo um cordeiro perfeito, estimado por aqueles que viviam com
ele, não os podia salvar. “É o sangue que fará expiação, em virtude da
vida” (Levítico 17.11). (Veja-se a explicação da palavra “expiação” no final
do livro.). Este cordeiro estimado devia ser morto e um ramo de hissopo
devia ser embebido com seu sangue e usado para untar o batente da
porta da casa. E com quem ansiedade o primogênito da família deve ter
acompanhado todos os movimentos do pai para estar certo de que tudo
estava sendo feito conforme a ordenança divina, pois que, somente assim,
ele escaparia da morte!
Mas não cabe a nós apreciar o valor do sangue; é Deus que o faz. Ele
disse: “O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando
Eu vir o sangue, passarei por vós” (Êxodo 12.13). Deus não permitiria que
o destruidor entrasse naquela casa para matar o primogênito. E que san-
gue o Senhor via ali? Não o do cordeiro imolado naquela tarde naquele
lar israelita (sangue que não podia tirar o pecado), mas o sangue de Seu
Filho amado, sangue que seria vertido na cruz do Calvário.
A justiça de Deus devia ferir os egípcios que desfaziam de Sua Palavra e
das Suas obras, mas esta mesma justiça devia salvar toda casa onde o
sangue do cordeiro tivesse sido posto. Deus não teria sido justo se tivesse
castigado um lar onde uma vítima tinha sido imolada. Deus não é apenas
amor para perdoar, mas Ele é também justo e Aquele que justifica o que
tem fé em Jesus (Romanos 3.26).
E Pedro acrescenta: “Fostes resgatados... pelo precioso sangue, como
de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (1 Pedro 1.18-
19). Sangue precioso, sim, para nós, mas mais precioso para Deus, o
único que pode estimar devidamente o valor de tal sacrifício no qual
achou Seu pleno repouso.
O lado do resgatado
Embora seja certo que Deus fez tudo e que deu o Cordeiro para ser-
mos alvos, todo homem deve apropriar-se pessoalmente da Obra de
Cristo: “Cada um tomará para si um cordeiro”.
Tomar o cordeiro, guardá-lo, imolá-lo, pôr seu sangue no batente da
porta da casa, tudo isto era responsabilidade da família.
A segurança do primogênito dependia do sangue visto no exterior.
Seus sentimentos em nada influíam. A certeza de escapar do juízo de-
pendia da fé na palavra do Senhor transmitida por Moisés.
Atualmente, muitas pessoas estão seguras quando aceitam a morte
do Senhor Jesus a seu favor, mas continuam temerosas em quanto não
depositam toda a sua fé na Palavra de Deus, que declara taxativamente:
“Quem crê no Filho tem a vida eterna” (João 3.36), “Quem ouve a Minha
palavra e crê nAquele que Me enviou tem a vida eterna, não entra em
juízo, mas passou da morte para a vida” (João 5.24).
A segurança da salvação provem da fé na Palavra de Deus. A segu-
rança eterna da nossa alma está baseada na Obra que Cristo realizou na
cruz.
“Consagra-Me todo primogênito... Meu é”, declara o Senhor (Êxodo
13.2). “Cristo... morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais
para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2
Coríntios 5.15).
Para o resgatado, uma vida nova começou na cruz. Ele é feliz por ser
salvo, lavado, purificado e justificado, mas não deve esquecer que não se
pertence mais a si mesmo, mas Àquele que o resgatou com um preço tão
elevado.
Cristo ressurreto
Este molho, o primeiro fruto da sega, é figura de Cristo ressurreto,
primícias dos que dormem (1 Coríntios 15.20). O molho era agitado pe-
rante o Senhor para apresentar todos os aspectos da ressurreição.
Realmente, que momento glorioso quando Cristo ressuscitado, ele-
vado ao céu, entrou na presença de Deus, tendo obtido uma eterna re-
denção. Ofereciam o molho para serem aceitos pelo Senhor. Cristo res-
suscitou para nossa justificação.
Segundo o mundo, o Nazareno era apenas um “certo morto, chamado
Jesus” (Atos 25.19), mas, a ressurreição de Cristo é uma verdade funda-
mental do Evangelho, é a consagração da derrota do inimigo, a demons-
tração pública da vitória obtida na cruz (Colossenses 2.15).
A oferta do molho era acompanhada por um holocausto com sua
oferta de flor de farinha e, pela primeira vez em Levítico, com uma libação
de vinho, símbolo da legria que acompanha a ressurreição.
PENTECOSTES
Levítico 23.15-22; Números 28.26-31; Deuteronômio
16.9-12
O DIA DA EXPIAÇÃO
Levítico 23.26-32; 16.1-34
O pecado
As ervas amargas da Páscoa simbolizam a contrição da alma que
sente a amargura de ter causado, com seus pecados, o sofrimento de
Cristo. Em relação com a Ceia do Senhor, somos exortados a julgar-nos
a nós mesmos. Mas o Dia da Expiação trata de um exercício espiritual
ainda mais profundo.
Para Israel, este exercício está profetizado e detalhado em Zacarias
12.10-14 e em Isaías 53.
Para o cristão, é a contemplação dos sofrimentos de Cristo, com a
certeza de que tudo está cumprido, o que o leva a uma apreciação mais
profunda da seriedade do pecado. Ao contemplarmos a cruz, percebemos
a gravidade que o mal teve perante os olhos de Deus, o que faz com que
nos coloquemos nas Suas mãos, por ter aceito a oferta.
Repetidas vezes em Levítico capítulos 16 e 23, o Senhor ordena: “Afli-
gireis a vossa alma”. O Salmo 51 mostra o que esta aflição foi para Davi.
Não ocorrem em nossa vida ocasiões em que, pela ação poderosa da Pa-
lavra aplicada pelo Espírito à consciência, experimentamos o horror que
é o pecado, de uma maneira muito mais profunda do que até aquele mo-
mento?
Se foi necessário que o próprio Filho de Deus, Aquele que não co-
nheceu pecado, fosse feito pecado por nós para que fôssemos feitos jus-
tiça de Deus nEle, quão grave era este nosso pecado e quão incompatível
com a natureza divina!
Os sofrimentos de Cristo
Levítico capítulo 16 nos apresenta dois tipos de sacrifícios: os que
Aarão oferecia por si mesmo e pelos seus, isto é, um novilho pelo pecado
e um carneiro como holocausto, e os que oferecia pelo povo, isto é, dois
bodes pelo pecado e um novilho como holocausto.Podemos ver, pela
oferta de Aarão e pela sua casa, a Obra de Cristo a favor da Sua Igreja,
enquanyo que o sacrifício9 oferecido pelo povo sugere a Obra da cruz a
favor de Israel. Seja como for, não pretendemos distinguir estes diversos
aspectos, mas queremos considerar o que este capítulo nos apresenta
acerca dos sofrimentos de Cristo.
Dos dois bodes oferecidos pelo povo, o bode emissário (em hebraico,
Azazel) era apresentado vivo ao Senhor e o outro era imolado. Sobre a
cabeça do primeiro, o sacerdote devia confessar todas as iniquidades dos
filhos de Israel, todas as suas rebeliões, todos os seus pecados. A seguir,
era enviado ao deserto, carregando os pecados para esta terra inabitada,
onde morreria sob a condenação.
O bode vivo é uma figura extraordinária de Cristo, quando carregou
sobre Si nossos pecados sob o juízo de Deus, sendo Ele castigado em
lugar dos culpados: “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas,
cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre Ele a
iniquidade de nós todos” (Isaías 53.6); “carregando Ele mesmo em Seu
corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados” (1 Pedro 2.24).
Para que esta Obra se torne uma realidade para cada um de nós, é
preciso a confissão de nossos pecados e a aceitação de Cristo ter morrido
por eles.
O segundo bode, oferta pelo pecado, devia ser imolado e seu sangue
levado para trás do véu. Este ato devia ser realizado estando o sacerdote
sozinho (v. 17), pois ninguém podia compartilhar com Cristo a Obra pro-
piciatória da cruz. Ele não teve consoladores e, quando clamou ao céu,
não teve resposta.
O incenso (figura das perfeições de Cristo) devia ser posto no incen-
sário sobre o fogo do altar; a nuvem de incenso enchia o santuário. O fogo
do juízo, isto é, todos os sofrimentos da cruz naquele momento de angús-
tia inefável só manifestou mais intensamente Suas perfeições. Tudo o que
emanava do Seu coração quando esteve sob o juízo de Deus (afetos, sen-
timentos, submissão, confiança, tal como vemos nos salmos em particu-
lar) elevava-se ao céu qual perfume de cheiro agradável. (Vejam-se os
Salmos 22, 40, 69,...).
O sangue e o incenso só podiam ser oferecidos no santuário, mas o
corpo da vítima era queimado fora do acampamento. O juízo de Deus caiu
completamente sobre Cristo quando Ele sofreu fora da porta, abando-
nado por Deus, privado de todo relacionamento com Seu povo. Israel não
tinha direito de comer de tal sacrifício, mas nós o podemos fazer (Hebreus
13.10-11), pois que não temos mais consciência de pecado. Temos é co-
munhão com tal Obra.
O propiciatório
Na Páscoa, o sangue que estava nas portas era o fundamento da
salvação. Deus via o sangue e podia salvar o povo. No Dia da Expiação, o
sangue levado ao santuário permitia ao Senhor manter o relacionamento
com Seu povo. Mas o sangue de animais jamais podia tirar os pecados
(Hebreus 10.1-4).
Na realidade, a palavra expiação no Antigo Testamento tem o sentido
de cobrir os pecados e não de tirá-los: “Por ter Deus, na Sua tolerância,
deixado impunes os pecados anteriormente cometidos” (Romanos 3.25).
Mas, vindo Cristo, com Seu próprio sangue entrou uma vez para sempre
nos lugares santos da presença de Deus, tendo obtido uma eterna reden-
ção.
Da tampa de ouro da arca (o propiciatório) elevavam-se os queru-
bins, executores do juízo de Deus. Seus rostos estavam voltados para o
propiciatório. O que viam ali? O sangue derramado da vítima. O propici-
atório, em vez o trono do juízo de Deus, se convertia no lugar de Seu
encontro com o crente (}Êxodo 25.22). Cristo é a propiciação pelos nossos
pecados (1 João 2.2) e, ao mesmo tempo, é o propiciatório (Romanos
3.25).
A propiciação pelo pecado já foi realizada; Deus é glorificado e é justo
ao justificar àquele que tem fé em Cristo. Deus queria salvar (Ele não é
um Deus vingador apaziguado pelo sangue), mas não podia salvar justa-
mente sem que o castigo tivesse sido sofrido por uma vítima.
Os capítulos 9 e 10 de Hebreus enfatizam o valor do sangue de
Cristo: não é o sangue de bodes, mas é Seu próprio sangue; não são ho-
locaustos e sacrifícios pelo pecado, mas a oferta do corpo de Cristo; não
são os mesmos sacrifícios constantemente repetidos, os quais nunca po-
dem tirar o pecado, mas uma Vítima perfeita que Se ofereceu a Si mesma:
“Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pe-
cados, assentou-se à destra de Deus” (Hebreus 10.12).
E quais são os resultados? “Com uma única oferta aperfeiçoou para
sempre quantos estão sendo santificados” (v. 14). Deus não Se lembrará
mais de suas iniquidades e pecados; eles têm agora plena liberdade para
entrar nos lugares celestiais em paz, purificados de uma consciência má
e com o corpo lavado com água pura. Eles aproximam-se de Deus não
por obrigação, mas porque desejam encontrar-se no santuário com
Aquele a quem amam, seu Sumo Sacerdote, ali onde Ele está.
O Dia da Expiação não concluía com o sacrifício pelo pecado, mas
seguia-lhe um holocausto (Levítico 16.24). Embora Cristo tenha feito
tudo por nós, para apagar nossas faltas e levar-nos a Deus, Seu motivo
supremo foi a glória de Deus e o cumprimento de Sua vontade.
Como o pecado tem sido tirado, as culpas confessadas, o perdão ob-
tido e o holocausto oferecido, o caminho está aberto para o gozo da festa
dos Tabernáculos.
Da mesma maneira que a festa dos Pães Asmos, também a dos Ta-
bernáculos durava sete dias. É figura do Milênio e das bênçãos terrenas
de Israel, mas a aplicaremos à vida do cristão, cujo andar com o Senhor
está marcado pela separação do mal – da qual nos fala a festa dos Pães
Asmos – e pelo gozo da comunhão com Ele, simbolizado pela festa dos
Tabernáculos.
Esta sétima e última festa começava no décimo quinto dia do sétimo
mês, pouco depois da comemoração da festa das Trombetas e do grande
Dia da Expiação.
Os trabalhos da colheita e da vindima tinham sido concluídos, e ti-
nha chegado o tempo de repouso. O repouso final, representado especi-
almente pelo oitavo dia e a reunião solene, esperamos nós na casa do Pai.
Enquanto isto, pelo Espírito Santo, Hóspede do crente e garantia de sua
herança, temos um gozo antecipado daquele maravilhoso momento.
Assentados em Cristo nos lugares celestiais (Efésios 2.6), antecipa-
mos o arrebatamento da Igreja e a glória.
CONCLUSÃO
Números 28 e 29
Cada uma destas festas que vimos (da Páscoa, dos Pães Asmos, das
Primícias, das Trombetas, do Dia da Expiação e dos Tabernáculos) estava
acompanhada de seus respectivos sacrifícios, como o mostram estes dois
capítulos de Números. Aplicada esta verdade a nossas vidas, cada uma
das etapas importantes da vida espiritual do cristão está vinculada ao
sacrifício do Senhor Jesus.
Será que isto significa que somente nas grandes ocasiões da vida
temos que pensar no Senhor Jesus? O começo do capítulo 28 dá a res-
posta: “Da Minha oferta, do Meu manjar para as Minhas ofertas queima-
das, do aroma agradável, tereis cuidado, para Mas trazer a seu tempo de-
terminado... Esta é a oferta queimada que oferecereis ao Senhor, dia após
dia; dois cordeiros de um ano, sem defeito, em contínuo holocausto; um
cordeiro oferecerás pela manhã, e o outro, ao crepúsculo da tarde” (vv. 2-
4).
É o holocausto contínuo, acompanhado com uma oferta de flor de
farinha e sua libação. Assim, o tempo para a oferenda ao Senhor não se
limitava às grandes ocasiões: cada dia o cheiro agradável devia subir pe-
rante Ele.
Se cada manhã e cada tarde sentíssemos mais o desejo de agradecer
a Deus pelo Dom do Senhor Jesus, isso não contribuiria muito mais para
manter-nos despertos e conservar o gozo de Sua comunhão? Cada ma-
nhã, pensemos nAquele que Se ofereceu e, cada tarde, bendigamos a
Deus porque Ele veio, porque Ele Se entregou por nós.
Todas as manhãs e todas as tardes o cordeiro era oferecido em ho-
locausto, mas no dia de sábado “dois cordeiros de um ano, sem defeito”
com sua oferta de flor de farinha e sua libação. Era o holocausto do sá-
bado, além do holocausto contínuo. Um dia por semana – o primeiro dia
da semana para nós, o domingo – deve brotar um sentimento mais pro-
fundo, mais particular para com o Senhor Jesus, além do holocausto di-
ário, dois cordeiros mais.
Finalmente, “nos princípios dos vossos meses, oferecereis, em holo-
causto ao Senhor, dois novilhos e um carneiro, sete cordeiros de um ano,
sem defeito” (v. 11). Eis aqui o holocausto mensal para cada mês do ano.
Estes meses do ano corriam paralelamente à celebração das festas. Cor-
respondiam às luas e, em cada ciclo lunar, deviam oferecer um novo sa-
crifício.
Em certo sentido, a vida de um cristão deveria ser uma linha ascen-
dente, contínua. Mas, por causa de nossas fraquezas e insuficiências,
ela, como a lua, tem também suas fases: “minguantes” e “crescentes”,
sombras e luzes, queda e restauração,... Cada vez Deus nos fala e em
cada experiência nos é necessário pensar no sacrifício oferecido na cruz.
A lembrança da Obra completada no Calvário não é somente para os
dias importantes de nossa vida; deve estar constantemente perante os
olhos de nosso coração cada dia, cada semana, cada mês.
Os capítulos 28 e 29 de Números frisam o valor do holocausto, isto
é, no que o Senhor Jesus é para Deus. É verdade que temos de lembrar
do que Ele é para nós, do que Ele nos proporcionou, mas convém que nos
elevemos em nossos pensamentos e que, a miúdo, falemos ao Pai dAquele
em Quem Ele achou todo o contentamento. É o que Lhe devemos aqueles
que gozamos da herança e temos parte no que cada uma das festas nos
apresenta.
Assim, de dia em dia, de semana em semana, de mês em mês e de
ano em ano, marcharemos rumo aquele “oitavo dia”, o dia da Eternidade,
quando:
De Ti a entrega expiatória,
De Teu amor, de Tua vitória,
A Igreja Te dirá a história
Mais além, mais além.
O PÃO DA TERRA
Números 15.19
G. André
.oOo.