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Claro. Av. 24 A, 1515 – Bela Vista. CEP 13506-900, Rio Claro (SP). Email: gracodias@gmail.com;
4Departamento de Geologia Aplicada, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Campus de Rio
Claro. Av. 24 A, 1515 – Bela Vista. CEP 13506-900, Rio Claro (SP). Email: gildacf@rc.unesp.br.
Introdução
Área de Estudo
Características Pedológicas
Localização
Climatologia
Características Geológicas
Características Geomorfológicas
Características Pedológicas
Materiais e Métodos
Resultados e Discussão
Conclusão
Referências
RESUMO - O estudo de nascentes em microbacias hidrográficas é um importante instrumento de gestão na conservação e preservação
dos recursos hídricos visando à produção de água, tanto em quantidade quanto em qualidade. Diante desse desafio, o presente artigo
avalia o estado de conservação das nascentes da microbacia do Córrego Ibitinga, localizada no município de Rio Claro, SP. A
metodologia adotada abordou o estado de conservação com base em parâmetros macroscópicos de avaliação. Os parâmetros
selecionados permitiram avaliar de maneira integrada, os impactos físicos, biológicos e socioeconômicos que afetam as nascentes. Com
a aplicação do Índice de Impacto Ambiental em nascentes, os parâmetros foram mensurados e o tratamento estatístico dos dados
permitiu a classificação das nascentes em cinco níveis de conservação: ótimo, bom, razoável, ruim e péssimo. Os resultados
demostraram os parâmetros mais expressivos para os processos de degradação nas nascentes avaliadas e a frequência de ocorrência
dos impactos em relação aos níveis de conservação. As nascentes apresentaram inúmeros aspectos de degradação, sejam eles por ação
antropogênica direta ou indireta. Das 39 nascentes estudadas, 75% estão concentradas nas três piores classes. Os resultados permitiram
concluir que as nascentes avaliadas apresentaram alto nível de degradação, e que o estado de conservação das nascentes é inerente à
proximidade com estradas e ausência de proteção e de vegetação, sendo estes os impactos mais frequentes.
Palavras chave: Recursos hídricos; índice de impacto ambiental em nascentes; produção de água.
ABSTRACT - The study of springs in hydrographic basin is an important instrument to the management of the conservation and
preservation of water resource aiming water production. In face of this challenge, this article evaluates the state of conservation of
springs from the watershed of Córrego Ibitinga, located in Rio Claro (SP). The methodology adopted analyzed the state of conservation
based in the evaluation of macroscopic parameters. The parameters used allowed to evaluate, in an integrated mode, the physics,
biologics and socioeconomic impacts on springs. Using the Index of Environment Impact at springs, the parameters measured and the
statistic treatment of the data enabled the classification of the springs into five levels of conservation: great, good, reasonable, bad and
poor. The results revealed the most expressive parameters for the degradation process at the springs studied and frequency of occurrence
of impacts in relation to the levels of conservation. The springs indicated several aspects of degradation, due to direct or indirect
anthropogenic action. From the 39 springs studied, 75% were concentrated in the three worst levels. The results enabled the conclusion
which the springs showed high level of degradation, and that the state of conservation of springs is inherent to the proximity with roads
and the absence of local protection and of vegetation, being those the most frequent impacts.
Keywords: Water resources; Index of environment impact at springs; water production.
INTRODUÇÃO
Frente aos atuais desafios existentes para lidade, visando garantir o abastecimento de água
garantir a disponibilidade de água às presentes e para as populações presentes e futuras.
futuras gerações, o bom uso e a conservação dos A gestão desses recursos deve ser encarada
recursos hídricos devem ser planejados e como parte do seu processo de obtenção, visando
gerenciados dentro dos preceitos de sustentabi- preservar a disponibilidade e qualidade de água nos
São Paulo, UNESP, Geociências, v. 38, n. 1, p. 185 - 193, 2019 185
reservatórios de água superficiais e subterrâneos. 1981), e ainda pela metodologia proposta por
Considerando a microbacia hidrográfica como Meinzer (1927) que considera apenas a vazão
a menor unidade de gestão territorial, segundo a média anual das nascentes. Entretanto outras
Lei n. 9.433 de 8 de janeiro de 1997, que tem linhas de estudos têm sido desenvolvidas
entre os fundamentos da Política Nacional de buscando avaliar de maneira integrada os
Recursos Hídricos, a água como um bem de impactos físicos, biológicos e socioeconômicos
domínio público, dotado de valor econômico, no estado de conservação das nascentes, tendo
cujos usos prioritários são o abastecimento como foco principal as microbacias hidrográficas
humano e a dessedentação de animais e cuja (Pieroni et al., 2015; Christofoletti et al., 2015;
gestão deve tomar como unidade territorial a Machi & Cunha, 2007).
bacia hidrográfica, que constitui-se fundamental Deste modo, a identificação, a análise e a
para o planejamento, manejo e uso adequado do classificação das nascentes quanto ao seu estado
solo e da água (BRASIL, 1997). de conservação, tornam-se importantes
Essa discussão torna-se essencialmente instrumentos na composição de estudos voltados
importante em estudos direcionados a ao gerenciamento de microbacias, fornecendo
conservação e ou recuperação de nascentes e dados que subsidiem a tomada de decisão, a
cursos d´água. Conceitualmente, “nascente” é o definição de áreas prioritárias à conservação e
termo que define um sistema ambiental em que o preservação e ainda, a locação de recursos.
afloramento da água subterrânea ocorre Gomes et al. (2005); França Junior & Villa
naturalmente de modo temporário ou perene, (2013); Oliveira et al. (2013), utilizaram uma
integrando a rede de drenagem. Este processo é metodologia que considera os potenciais
responsável, em parte, pela a entrada de energia impactos ambientais a que estão sujeitas as
no sistema e dependente da interceptação do nascentes, porém numa abordagem
nível freático pela topografia local (Felippe, macroscópica de caráter qualitativo. Sobretudo
2009). A literatura pertinente exibe algumas perante a atribuição de pesos aos parâmetros
propostas para a classificação de nascentes na avaliados, torna-se possível mensurar os
tentativa de sistematizar as heterogeneidades principais fatores de degradação, sua frequência
intrínsecas entre elas. Em grande parte, essas e intensidade de ocorrência.
metodologias abordam critérios ambientais Este artigo tem como objetivo apresentar o
monovariados, que consideram apenas um dos resultado do primeiro estudo sistemático das
incomensuráveis aspectos inerentes às nascentes nascentes da microbacia do Córrego Ibitinga. A
(Felippe & Junior, 2014). partir da análise dos dados obtidos, foram feitas
As tipologias mais utilizadas, associadas a considerações sobre as características ambientais
estudos fluviais classificam as nascentes com e estado de conservação das nascentes avaliadas,
base nas variações sazonais em perenes ou dando ênfase aos processos de degradação e aos
temporárias (Valente, 2005; Christofoletti, impactos a estes associados.
ÁREA DE ESTUDO
Localização da área total, encontra-se coberta pela Floresta
A microbacia do Córrego Ibitinga está Estadual Edmundo Navarro de Andrade (FEENA),
localizada na porção centro-leste do estado de São uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável
Paulo, no município de Rio Claro como mostra a que possui um importante papel no
figura 1. Esta microbacia foi selecionada por ser desenvolvimento sócio ambiental e cultural do
uma importante tributária para o Ribeirão Claro, município e região, sendo conhecida
que é responsável por 40% do abastecimento de nacionalmente por ser a primeira área de cultivo de
água para a cidade de Rio Claro (DAEE, 2017), e a eucalipto (Eucalyptus sp.) do Brasil, datando do
jusante, um importante afluente do Rio ano de 1911 (BRASIL, 2000).
Corumbataí, responsável por 80% do Climatologia
abastecimento da cidade de Piracicaba (SEMAE, O clima da área de estudo enquadra-se na
2017). classificação Cwa de Köppen como mesotérmico,
A microbacia do Córrego Ibitinga é dividida em com temperatura média no mês mais frio entre 3 °C
alta, média e baixa microbacia, abrangendo uma e 18 °C, e tropical de altitude, com inverno seco e
área de 2.792 ha, dos quais 1.480 ha ou seja, 53% temperatura média do mês mais quente com 22 °C
186 São Paulo, UNESP, Geociências, v. 38, n. 1, p. 185 - 193, 2019
(CEAPLA, 2015). A precipitação média mensal precipitação média mensal de 197 mm (outubro a
para os meses mais secos (abril a setembro) de 46,6 março) e a temperatura média do mês mais quente
mm e temperatura média do mês mais frio inferior chega a 30ºC. O índice pluviométrico médio anual
a 11ºC. O verão é chuvoso, apresentando uma é de 1549 mm.
Figura 1 - Localização da área de estudo, no detalhe, a FEENA cobrindo parte da área da microbacia do Córrego Ibitinga,
ambas situadas na sub-bacia do Ribeirão Claro.
Características Geológicas restante da bacia (Pinheiro, 2012).
Com relação às características geológicas da Características Pedológicas
bacia do Córrego Ibitinga, estas estão vinculadas às As características geológicas e geomorfológicas
Formações Corumbataí, Serra Geral, Pirambóia e da área, bem como o clima local, condicionam a
Rio Claro (Cunha, 1997). Considerando à formação dos solos.
Geomorfologia, a área de estudo localiza-se na Concernente a isso, a área de estudo compõe-se
Depressão Periférica Paulista, na Zona do Médio em duas unidades principais referentes à
Tietê (Almeida, 1974). abrangência de solos. O setor Norte, composto de
Características Geomorfológicas solos com textura média a arenosa, e
Partindo do contexto geomorfológico, a bacia analiticamente distróficos e o setor Sul, composto
do Córrego Ibitinga possui altitudes entre 585 a de solos com textura argilosa a muito argilosa e
755 m com vertentes dominantemente convexas, analiticamente eutróficos (INSTITUTO
vertentes côncavas e, em porção menos FLORESTAL, 2005).
representativa, as vertentes retilíneas. A bacia Considerando a totalidade da bacia, a área de
apresenta, majoritariamente, declividades entre 6 estudo é marcada pela predominância dos
a 12%, principalmente na alta bacia; já nos Argissolos, onde a declividade do relevo é mais
setores de concavidade, as declividades acentuada, esta, se apresenta como o principal fator
predominam entre 12 a 20%. As declividades de diferenciação e formação dos solos menos
mais elevadas, entre 20 a 40% e acima de 40%, desenvolvidos (Neossolos Lítólicos).
estão concentradas nos setores da alta bacia e, em Ocorrem também Gleissolos nas faixas
menor proporção, nas áreas de concavidade do marginais do Córrego Ibitinga, no setor leste e na
Os pontos então foram marcados com o nascentes em cinco classes, que representam o
auxílio de um aparelho GPS, e plotados com estado de conservação mediante os diferentes
auxílio de ferramentas SIG. O georreferen- cenários avaliados, sendo a classe A o melhor
ciamento das nascentes e elaboração do mapa cenário e E o pior estado de conservação
temático foi feito com base em fotografias (Tabela 2).
aéreas de alta resolução cedidas pela Emplasa, O mapa final apresenta a distribuição espacial
com resolução espacial de 1 m e cartas das nascentes identificadas, bem como a sua
topográficas digitalizadas, disponibilizadas classificação obtida na aplicação do IIAN
pelo IBGE na escala de 1:50.000. A partir Tabela 2 - Classificação das nascentes quanto ao estado
dessas informações, com o auxílio de de conservação.
ferramentas SIG, foram extraídas a rede de CLASSE Nível de Conservação Pontuação Final
drenagem e a delimitação da microbacia
A Ótimo Abaixo de 13
hidrográfica. Posteriormente os dados foram
B Bom Entre 13 e 15
plotados e integrados à classificação gerada
pelo índice aplicado. C Razoável Entre 16 e 18
Para geração do IIAN foi aplicada a soma D Ruim Entre 19 e 21
dos pesos de cada parâmetro avaliado em E Péssimo Entre 21 e 24
campo. Esta soma permitiu classificar as Fonte: Adaptado de Gomes et al. (2005).
Classe E
Classe D
Classe C
Classe B
Classe A
0 4 8 12 16 20
Número de Nascentes
Figura 2 - Número de nascentes em cada classe do IIAN. A (ótimo), B (bom), C (razoável), D (ruim), E (péssimo).
8%
18% 18%
10%
23% 15% 51% 54%
56%
80%
95%
Figura 4 - Resultados percentuais dos parâmetros avaliados em relação aos pesos atribuídos.
França Junior & Villa (2013), em estudo discutidos e ainda, como apresentado na figura 3,
realizado em cabeceiras de drenagem na área 67% das nascentes não contém proteção
urbana do município de Umuarama, noroeste do adequada, seja pela proximidade com estradas ou
Estado do Paraná, relatam que 38% das nascentes degradação da vegetação ou ainda pela falta de
por eles analisadas localizam-se a menos de 50 isolamento por cerca ou outras estruturas de
metros das residências e vias de acesso mais origem antrópica.
próximas e que a cobertura vegetal nessas Conforme mencionam França Junior & Villa
nascentes apresentou alta degradação. (2013) em seu estudo, 25% das nascentes não
No trabalho realizado por Oliveira et al. apresentavam proteção adequada, e embora as
(2013) para o parâmetro vegetação, nenhuma das demais nascentes apresentem-se protegidas por
nascentes avaliadas apresentou boas condições cercas, o acesso ainda é facilitado.
de conservação, deixando clara a vulnerabilidade A avaliação do parâmetro coloração da água
das nascentes ao parâmetro avaliado. também apresentou alterações, 18% das
Gomes et al. (2005) verificaram que 68,75% nascentes apresentaram coloração escura da
das nascentes por eles avaliadas apresentaram água.
valores negativos de preservação da vegetação. Considerando que as nascentes se encontram
Segundo os autores, em geral foi observada a afastadas da área urbana, diferente das áreas
degradação da vegetação pela ocupação das áreas estudadas pelos demais autores, não foi atribuído
de APP, elevada dominância de espécies à coloração escura da água o lançamento de
invasoras e em alguns casos, no entorno dos efluentes e sim a elevada turbidez provavelmente
pontos de exfiltração, pela presença somente de associada aos processos erosivos verificados em
pastagem. vários pontos, tanto no entorno das nascentes
Considerando os demais parâmetros hora quanto em seus canais de drenagem. Segundo a