Abcde Do Trauma

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ABCDE DO TRAUMA

URGENCIA E EMERGENCIA
PROFº ILMA

Cada letra do mnemônico representa a ordem de prioridades que o profissional deve se


atentar:

 A – airway;
 B – breathing;
 C – circulation;
 D – disability;
 E – exposure.

Sendo assim, esse artigo tem como finalidade simplificar esse importante protocolo para
uma maior segurança no atendimento do paciente politraumatizado e para a tomada de
medidas importantes nesse contexto.
É importante ressaltar que antes de qualquer atendimento os profissionais devem estar
atentos à segurança do ambiente, além de estarem usando adequadamente os
equipamentos de proteção individual (EPIs).
A (manutenção de via aérea com controle de coluna cervical): A permeabilidade de via
aérea é a primeira medida de atendimento. Se o paciente está consciente e conversando
normalmente, conclui-se que a via aérea está pérvia.
Também é importante realizar a visualização da cavidade oral, buscando uma possível
fonte de obstrução (prótese, alimentos, dentes, etc), realizar a inspeção de fraturas faciais,
corrigir queda de língua por meio das manobras como chin lift e jaw thurst e realizar a
aspiração se necessário (sangramentos em via oral).
 
Figura 2: Manobras de levantamento da mandíbula e levantamento do queixo
Fonte: https://www.sanarmed.com/abcde-do-trauma
 
Deve-se sempre avaliar a necessidade de via aérea definitiva. As indicações são:

 Impossibilidade de manter via aérea pérvia


 Insuficiência respiratória
 Hipóxia e/ou hipercapnia
 Escala de Coma de Glasgow menor ou igual a 8
 Instabilidade hemodinâmica grave
 Parada cardiorrespiratória (PCR)
 Antecipação em pacientes queimados ou com desconforto respiratório que podem
entrar em fadiga de musculatura respiratória
 Antes da realização de procedimentos ou cirurgias

O padrão ouro de via aérea definitiva para o ATLS é a intubação orotraqueal (IOT), mas
caso a via aérea seja difícil, existem outras formas de acessá-la com agilidade, utilizando
os dispositivos supraglóticos (máscara laríngea, combitube e tubo laríngeo) ou por meio da
realização de cricotireoidostomia.
Já o controle da coluna cervical é realizado por meio de imobilização manual, uso de colar
cervical e “head block”. Todo paciente com traumatismo fechado acima de clavícula, com
alteração do nível de consciência ou vítima de trauma multissistêmico deve ser
considerado portador de lesão de coluna cervical até que se prove o contrário. Por fim,
todos os pacientes vítimas de trauma devem receber oxigênio suplementar por máscara
facial.
 
B (respiração e ventilação): A permeabilidade de via aérea avaliada no A não é sinônimo
de boa ventilação. É necessário avaliar a integridade dos pulmões, da parede torácica e do
diafragma por meio do exame físico do tórax: inspeção direta, palpação, ausculta e
percussão.
Com essa avaliação, é possível identificar e tratar de imediato situações graves que
ofereçam risco imediato à vida, como o pneumotórax hipertensivo, hemotórax maciço,
tamponamento cardíaco, tórax instável e lesões da árvore traqueobrônquica.
O tratamento depende do tipo de lesão encontrada. Alguns princípios básicos do
tratamento:

 Pneumotórax hipertensivo: toracocentese de alívio


 Pneumotórax aberto: oclusão por curativo de 3 pontas
 Hemotórax maciço: drenagem de tórax e estabilização hemodinâmica
 Tórax instável: analgesia e suporte ventilatório
 Tamponamento cardíaco:

 
C (circulação e controle de hemorragia): A perda sanguínea é a principal causa de
morte evitável por trauma. Todo paciente politraumatizado com hipotensão e taquicardia
deve ser considerado hipovolêmico até que se prove o contrário.
Algumas medidas auxiliares são imprescindíveis durante a avaliação primária. A
monitorização não invasiva deve ser realizada o mais rápido possível, a fim de avaliar com
maior rapidez seus sinais vitais. A avaliação hemodinâmica consiste nos seguintes
parâmetros clínicos: frequência cardíaca, pressão arterial, saturação, diurese, alteração da
cor da pele, pulso e nível de consciência.
Hemorragias externas devem ser identificadas e controladas durante o exame primário.
Nos casos de sangramentos das extremidades, pode-se tentar estancar a hemorragia,
utilizando um dos métodos abaixo:

 Compressão direta sobre a ferida, usando um pano limpo ou curativo. Manter


pressionado até que ocorra a coagulação.
 Compressão indireta (pontos de pressão) usando a pressão da mão para
comprimir uma artéria distante do ferimento. Este procedimento é executado
frequentemente na artéria braquial e femoral;

O  torniquete só está indicado em casos específicos, como a amputação traumática do


braço ou da perna, sangramentos abundantes e que não respondem às técnicas
anteriores, e se o centro médico estiver a mais de 30 minutos de distância.
Em relação às hemorragias internas, não visíveis temos a fratura de pelve que tem a
possibilidade de causar instabilidade hemodinâmica rápida e de difícil controle em
pacientes vítimas de trauma. Sendo assim, realiza-se a manobra de abertura da pelve
para avaliar a presença de “lesão em livro aberto”, indicativo de fratura. Nesse caso, deve-
se estabilizar prontamente a pelve do paciente, podendo ser realizada com a amarração
de um lençol na sala de emergência até que ocorra o posterior tratamento definitivo.
Pacientes chocados e instáveis com suspeita de sangramento intraperitoneal devem ser
submetidos à avaliação por USG-FAST ou lavado peritoneal diagnóstico. No caso do
paciente estar instável e com sinais óbvios de hemorragia por sangramento abdominal,
encaminha-se imediatamente para a laparotomia exploradora.
Quando indicada, a reposição volêmica deve ser rápida e precoce. Para isso, preconiza-se
a inserção de dois cateteres calibrosos em veias periféricas para expansão volêmica e
coleta de sangue a fim de realizar alguns exames laboratoriais importantes nesse primeiro
momento, como a tipagem sanguínea, gasometria arterial e BHCG para mulheres em
idade fértil.
É importante classificar o grau de perda sanguínea com base nos aspectos clínicos do
paciente para definir a necessidade ou não de transfusão de sangue associada ao uso de
cristalóides. Para isso, utiliza-se a escala de classificação do choque hipovolêmico.
 
Figura 3: Classificação do choque hipovolêmico
Fonte: https://www.sanarmed.com/choque
 
A reposição volêmica com cristaloide deve ser realizada preferencialmente com Ringer
Lactato aquecido a 39ºC, iniciando com 1L nos adultos e 20 mL/kg nas crianças.
A transfusão maciça é realizada quando a perda volêmica é muito acentuada. Atualmente,
no tratamento dos grandes traumas, é recomendada, além da transfusão de concentrado
de hemácias, a reposição de plaquetas e fatores de coagulação que são perdidos ou
consumidos, levando a um aumento potencial do sangramento. Os guidelines do ATLS
recomendam iniciar a transfusão de sangue em uma relação concentrado de hemácias,
plaquetas, plasma fresco congelado na proporção de 1:1:1.
A sondagem vesical é um método auxiliar que deve ser solicitado com a finalidade de
avaliar a diurese e a resposta à expansão volêmica, salvo em casos de suspeita de lesão
uretral.
 
D (avaliação neurológica): Consiste no exame neurológico rápido, priorizando a
investigação do nível de consciência pela escala de coma de Glasgow e reatividade
pupilar.
 
Figura 4: Escala de Coma de Glasgow
Fonte:  https://www.portalenf.com/2019/02/a-atualizacao-da-escala-coma-de-glasgow-gcs/
 
O paciente é considerado comatoso quando o escore de coma de Glasgow é menor ou
igual a 8, sendo uma indicação formal para intubação orotraqueal, como já foi discutivo. Na
impossibilidade de avaliação, nenhuma pontuação deve ser aplicada.
Nesse momento, também é importante inspecionar lesões indicativas de TCE, como o
sinal de Guaxinim, sinal de Battle e o sinal do duplo anel.
 
Figura 5: Sinal de guaxinim, Battle e do duplo anel
Fonte: http://www.concursoefisioterapia.com/2017/08/sinal-de-guaxinim-ou-blefaro-
hematoma.html
 
E (exposição com controle do ambiente): O paciente deve ser despido para avaliar
dorso, períneo e extremidades. Além disso, é preconizada a tomada de medidas para a
prevenção de hipotermia, como a utilização de cobertores, mantas térmicas e fluidos
aquecidos.
Após toda a avaliação sistematizada, métodos diagnósticos auxiliares, como os exames de
imagem, devem ser solicitados. É imprescindível a solicitação de, no mínimo, radiografias
de coluna cervical, tórax e pelve. Tomografia e demais exames apenas são realizados
quando houver indicação e após a estabilização do paciente.
Na avaliação secundária, o médico precisa estar atento à história e ao passado médico
do paciente. Para facilitar a memorização, existe o mnemônico AMPLA. Cada letra
representa um critério a ser quetsionado na anamnese.

 A: Alergias
 M: Medicamentos em uso
 P: Passado médico e gravidez
 L: Líquidos e sólidos ingeridos
 A: Ambiente do trauma

Posteriormente, realiza-se um exame físico mais detalhado, com busca ativa de lesões em
região de cabeça, face, pescoço, tórax, abdome, períneo, reto, vagina e sistema
musculoesquelético. Nesse momento, pode-se realizar exame de toque retal e vaginal.
A reavaliação desses pacientes deve ser constante, com a finalidade de assegurar que
novos achados não sejam negligenciados e de detectar precocemente possíveis
alterações nos achados registrados anteriormente.
É importante ressaltar que as investigações não podem ser postergadas e a transferência
do paciente deve ser considerada todas as vezes que as necessidades deste excederem a
capacidade da instituição que o recebeu.
 
REFERÊNCIAS
– Figura 1: https://www.trauma.nl/sites/www.trauma.nl/files/proefschriften/
ProefschriftJoostPeters2017_1_0.pdf
– Figura 2: https://www.sanarmed.com/abcde-do-trauma
– Figura 3: https://www.sanarmed.com/choque
– Figura 4: https://www.portalenf.com/2019/02/a-atualizacao-da-escala-coma-de-glasgow-
gcs/
– Figura 5: http://www.concursoefisioterapia.com/2017/08/sinal-de-guaxinim-ou-blefaro-
hematoma.html
– Advanced Life Trauma Support (ATLS) 10ª edição,
2018: https://viaaerearcp.files.wordpress.com/2018/02/atls-2018.pdf

Site: http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/7679/protocolo_de_transfusao_m
acica.htm
– Site: https://pebmed.com.br/atls-10-confira-novidades-sobre-choque-e-reposicao-
volemica/
– Site: https://www.einstein.br/doencas-sintomas/hemorragias

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