10ºano Português
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Poesia Trovadoresca
As cantigas trovadorescas galego-portuguesas remontam à Idade Média num
momento marcado pelo nascimento das nacionalidades ibéricas e pela Reconquista
Cristã.
Cantigas de amigo
➢ Confidência amorosa:
• diálogos com a Mãe, as irmãs, as amigas ou ainda a Natureza sobre os seus
sentimentos do momento relativamente ao amado presente ou ausente;
monólogos de verbalização do sentimento amoroso, feliz ou frustrado.
• a Natureza ao ar livre (campo, monte, fonte, rio, mar), lugares de romaria, a casa
(ambiente doméstico);
• a donzela, as amigas, as irmãs, a mãe, o «amigo» (amado ou pretendente);
• vivências quotidianas relacionadas com a experiência do amor - a iniciação ao
amor, encontro amoroso, ausência do amado.
Linguagem, estilo e estrutura:
As cantigas de amigo são constituídas por estrofes breves, nas quais predominam
repetições, genericamente designadas paralelismo. Nas cantigas de amigo, encontram-
se geralmente repetições:
Cantigas de amor
Nas cantigas de amor o tema central é o amor e o sujeito poético é um homem
que expressa os seus sentimentos por uma “senhor”, oriunda de um estatuto social
superior. Nestas cantigas cultiva-se o amor cortês em que a mulher amada é louvada,
hiperbolicamente, com linguagem formal e respeito. O poeta afirma que sofre por amor
(a “senhor” não lhe corresponde, está ausente) e, por isso, tem coita de amor.
Temas:
➢ Coita de amor: sofrimento amoroso (amor não correspondido), por motivos
vários - a «senhor» não lhe corresponde, está ausente;
➢ Amor cortês: o objeto/alvo das cantigas de amor é sempre a mulher da nobreza
ou da corte, cujo estatuto social lhe confere um certo endeusamento; para a
cantar, o trovador segue as regras da «mesura» ou do cortejar da dama, com
linguagem formal e respeito evidentes.
Ambientes: Nobres, palacianos ou cortesãos.
Linguagem e estilo:
➢ Crítica de costumes:
• toda a sociedade medieval é alvo de críticas: mulheres e homens do povo;
nobres, religiosos e religiosas; o próprio rei, assim como todos aqueles que o
trovador entender criticar sarcasticamente pela denúncia de escândalos e
perversidades.
Ambientes: ambientes sociais diversos, por onde circulam as personagens criticadas
pelo trovador.
Linguagem e estilo: críticas por meio de sátiras e sarcasmos; recurso a calão; trocadilhos
e seleção de vocábulos que surtem efeitos cómicos.
• Inês Pereira: jovem casadoira, culta (sabe ler e escrever), filha de uma mulher de
baixa condição social, arrogante, presunçosa;
• Mãe de Inês Pereira: experiente, boa conselheira;
• Lianor Vaz: amiga da família; alcoviteira;
• Pero Marques: homem rico e de idade, ingénuo;
• Latão e Vidal: judeus casamenteiros, interesseiros e oportunistas;
• Escudeiro Brás da Mata: fidalgo pobre, vive das aparências, ambicioso e
maldoso;
• Moço de Escudeiro: servo miserável, que ficará à sua sorte depois da morte de
seu senhor;
• Ermitão: castelhano enamorado de Inês, com ela vai ter relações adúltera.
Relação entre as personagens:
• Inês - Mãe: apesar de obedecer à Mãe, Inês protesta e reclama da sua condição
de solteira inútil; não segue os seus conselhos e recusa casar com Pero Marques,
numa fase inicial. A Mãe assume sempre uma atitude crítica, mas paciente, com
ela.
• Inês - Escudeiro: movida pelo desejo cego de se casar com um membro da
nobreza, Inês aceita o Escudeiro como marido, o que lhe vai ser nefasto, devido
à sua tirania e falta de escrúpulos. Esta escolha errada vai ser solucionada com a
morte de Brás da Mata.
• Inês - Pero Marques: recusado no início por ser inculto e brejeiro, Inês vai aceitar
Pero como seu marido e, a partir daí, vai conseguir ser feliz, enganando-o e
pondo-o ao serviço dos seus prazeres. Ignorante, o bom Pero Marques vai
concretizar todos os seus desejos.
Resumo:
• Inês canta e reclama por estar a bordar, tarefa que a Mãe a incumbiu de fazer em
casa, e mostra o seu descontentamento pelo facto de ser solteira e estar fechada em
casa.
• Regresso da Mãe, que bem sabe do queixume da filha, mas a acusa de ser preguiçosa.
• Lianor diz ao que vem nesta sua visita: trazer um pretendente a Inês. Pero Marques,
uma vez que está na hora de ela casar.
• Inês mostra-se muito arrogante e exigente, dizendo «não hei de casar /senam com
homem avisado» {...). «Primeiro eu hei de saber/se ê parvo se é sabido.»
• Sob a forma de carta, Pero Marques anuncia as suas intenções de casar com ela, antes
que outro o faça.
• Inês aceita conhecê-lo e ele vem a sua casa.
• Pero descreve a sua condição favorável ao casamento: é herdeiro morgado, tendo, por
isso, casa, terrenos e gado.
• A Mãe e Lianor consideram-no um futuro bom marido.
• Inês recusa oficialmente o pedido de casamento «Homem, nam aporfieis / que nam
quero nem me praz.»
• Regressa a Mãe e Inês repete: «Mãe, eu me não casarei /senão com homem discreto
(...). E saiba tanger viola». Inês informa que, no dia anterior, falou com uns Judeus
casamenteiros que lhe farão uma visita.
• Chegam os dois Judeus Latão eVidal com uma proposta de pretendente: um escudeiro.
• Entra o Escudeiro com o seu Moço, Fernando. Apresenta-se como homem rico e futuro
bom marido, embora seja um fidalgo pobre e sem escrúpulos.
• A Mãe, desconfiada, aconselha Inês a não casar com o Escudeiro.
• Casamento de Inês com o Escudeiro Brás da Mota e festa de casamento.
• Depois de casados e sozinhos, o Escudeiro revela toda a sua maldade e tirania.
• Escudeiro vai para a guerra e recomenda ao Moço que coma os frutos da terra
roubados nos campos e que mantenha Inês fechada em casa.
• Inês, apercebendo-se de que a sua ambição desmedida se convertera em erro, assume
corrigi-lo se tiver oportunidade.
• Morte do Escudeiro quando fugia da batalha.
• Fingindo-se esposa triste com a morte de seu marido, Inês é visitada por Lianor, que a
aconselha a casar com Pero Marques.
• Regressa Pero Marques, a quem Lianor diz: «Não mais cerimónias agora: / abraçai Inês
Pereira / por mulher e por parceira.».
• Depois do casamento, Inês pede a Pero para sair, ao que este responde, bonacheirão
e transparente, que pode sair quando quiser com quem quiser.
• Nesse momento, passa um Ermitão a pedir esmola em castelhano, que Inês reconhece,
pois cortejou-a anos antes e apaixonou-se por ela. Marcam encontro na ermida onde
ele vivia.
• Inês pede, cheia de compaixão, a Pero que vá com ela visitar o pobre Ermitão, tão
sozinho e cheio de privações.
• Durante o caminho, em que Pero já leva Inês às costas, já atravessou um ribeiro, Inês
vê umas «talhas» e pede que Pero as carregue, uma de cada lado, enquanto ela canta e
ele só tem de responder «assi se fazem as cousas»: «Marido cuco me levades/ e mais
duas lousas» e segue-se a resposta de Pero: «Pois assi se fazem as cousas». Inês vai às
costas de um marido feliz para ir ter com o seu amante Ermitão: cumpriu-se o ditado
popular que a Mãe, um dia, lhe dissera «Mata o cavalo de sela / e bom é o asno que me
leva», que em português corrente se traduz em «Mais vale asno que me carregue que
cavalo que me derrube.»
A representação do quotidiano:
Uma das características da farsa, enquanto género, é representar flagrantes da
vida quotidiana. Daí que na Farsa de Inês Pereira seja possível identificar vários episódios
que espelham os hábitos, os costumes, as crenças, os modos de vida das pessoas
daquela época, em especial aqueles que diziam respeito:
➢ Medida nova:
• Métrica: verso decassilábico;
• Variedade estrófica: soneto, canção, écloga, ode, elegia.
Temas:
Representação da amada
Na lírica camoniana, existem dois tipos de mulher que variam de acordo com a medida
utilizada na composição poética em questão:
• Na medida velha, a mulher tem a mesma condição social que o sujeito poético,
priveligiando-se, no entanto, a de origem popular. Existe a possibilidade de
relacionamento físico, sendo que, a figura femenina é bela e encantadora,
havendo a descrição da sua indumentária, objetos e sentimentos.
• Na medida nova, a mulher é de outra condição social, sendo, desta forma, uma
mulher palaciana. Destaca-se a mulher petrarquista (pele branca, olhos claros,
cabelos louros, indumentária elegante; superior em relação ao sujeito poético,
seu submisso; relacionamento platónico, sem contacto físico), havendo, desta
forma, um amor platónico por parte do "eu" lírico.
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor
O amor é uma temática frequente na lírica de Camões, apresentando duas faces
contraditórias: a carnal, associada ao amor físico que a mulher desperta no sujeito lírico;
a espiritual que se deve ao facto de a mulher de Petrarca ser intocável e,
consequentemente, deve ser idolatrada, mas não desejada fisicamente. O poeta, por
vezes, sente que a realização total do amor só é possível através da conjugação do amor
espiritual e do amor físico/carnal.
A representação da natureza
A Natureza aparece associada à poesia amorosa como expressão de estados de alma ou
por contraste entre o estado de espírito do sujeito poético; apresenta-se como objeto
de contemplação, cenário para a reflexão do eu poético; é geralmente uma paisagem
diurna, natural, harmoniosa e agradável – descrição do tipo locus amoenus -, um espaço
propício ao amor.
A reflexão sobre a vida pessoal
A poesia lírica de Camões constitui uma reflexão sobre a sua vida pessoal. De facto, o
poeta evoca um itinerário pessoal, em que o sujeito lírico expressa a sua vivência íntima,
referindo a experiência infeliz do amor, a amargura do desconcerto, a revolta, a
vingança, a culpa, a recordação do bem passado, a tentação da morte e a instabilidade.
Por outras palavras, vemos espelhados nos textos as aventuras e desventuras, os
infortúnios, o azar e a dependência de um destino implacável, que dão vida à história
pessoal do poeta.
O desconcerto do mundo
Este tema surge da consciência do poeta em relação ao mundo injusto, corrupto e
maquiavélico que o rodeia e que nunca lhe é favorável. Por isso mesmo, os poemas que
versam sobre este tema revelam uma agudeza mental que tem como consequência a
angústia, a desolação/frustração e o sofrimento de Camões.
O tema da mudança
O tema da mudança aparece associado à temática do desconcerto e à temática do
destino. O poeta reflete sobre a mudança na Natureza e a mudança no ser humano. A
mudança é cíclica na Natureza (reversível) e é linear (irreversível) no homem. A
existência humana muda, mas é imprevísivel e marcada pela adversidade, com
consequências negativas. O poeta reflete ainda sobre a mudança da própria mudança,
de que o soneto Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades é exemplo.