Os Maias de Eça de Queirós
Os Maias de Eça de Queirós
Os Maias de Eça de Queirós
A obra-prima de Eça de Queirós, publicada em 1888, é uma das mais importantes de toda a literatura
narrativa portuguesa. Vale principalmente pela linguagem em que está escrita e pela fina ironia com que o autor
define os caracteres e apresenta as situações. É um romance realista (e naturalista) onde não faltam o
fatalismo, a análise social, as peripécias e a catástrofe próprias do enredo passional. Eça de Queirós com Os
Maias, propõe uma explicação sobre o Portugal oitocentista, que se encontrava em desagregação e a necessitar
de reforma. Entrelaçada com a história da família Maia, que proporciona o título, desenvolve, nesse sentido, uma
comédia de costumes da sociedade burguesa e lisboeta finissecular, como sugere o subtítulo Episódios da vida
Romântica. Em plena época da Regeneração, marcada pelo conservadorismo, pelo fracasso liberal, pela
decadência e por uma mentalidade romântica frustrada, Eça constrói a história de uma família, ao longo de
gerações, que se vai desintegrando e que termina com a tragédia da paixão incestuosa de Carlos e Maria Eduarda
e na morte do velho Afonso.
A obra ocupa-se da história de uma família (Maia) ao longo de três gerações, centrando-se depois na
última geração e dando relevo aos amores incestuosos de Carlos da Maia e Maria Eduarda. Mas a história é
também um pretexto para o autor fazer uma crítica à situação decadente do país (a nível político e cultural) e à
alta burguesia lisboeta oitocentista, por onde perpassa um humor (ora fino, ora satírico) que configura a derrota e
o desengano de todas as personagens.
Ao recorrer à crítica social e ao procurar agitar as ideias sociais, políticas e literárias, Os Maias
constituem um verdadeiro fresco caricatural da sociedade portuguesa do séc. XIX em forma de crónica de
costumes, com fortes características de romance folhetinesco.
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Os Maias - Resumo
A acção d' Os Maias passa-se em Lisboa, na segunda metade do séc. XIX. Conta-nos a história de três
gerações da família Maia. A acção inicia-se no Outono de 1875, altura em que Afonso da Maia, nobre e rico
proprietário, se instala no Ramalhete. O seu único filho – Pedro da Maia – de carácter fraco, resultante de uma
educação extremamente religiosa e proteccionista, casa-se, contra a vontade do pai, com a negreira Maria
Monforte, de quem tem dois filhos – um menino e uma menina. Mas a esposa acabaria por o abandonar para
fugir com um Napolitano, levando consigo a filha - Maria Eduarda - de quem nunca mais se soube o paradeiro.
O filho – Carlos da Maia – viria a ser entregue aos cuidados do avô, após o suicídio de Pedro da Maia.
Carlos passa a infância com o avô, formando-se depois, em Medicina em Coimbra. Carlos regressa a
Lisboa, ao Ramalhete, após a formatura, onde se vai rodear de alguns amigos, como o João da Ega, Alencar,
Dâmaso Salcede, Euzébiozinho, o maestro Cruges, entre outros. Seguindo os hábitos dos que o rodeavam, Carlos
envolve-se com a Condessa de Gouvarinho, que depois irá abandonar. Um dia fica deslumbrado ao conhecer
Maria Eduarda, que julgava ser mulher do brasileiro Castro Gomes. Carlos seguiu-a algum tempo sem êxito, mas
acaba por conseguir uma aproximação quando é chamado por Maria Eduarda para visitar, como médico a
governanta - Miss Sarah. Começam então os seus encontros com Maria Eduarda, visto que Castro Gomes estava
ausente. Carlos chega mesmo a comprar uma casa onde instala a amante. Castro Gomes descobre o sucedido,
através de uma carta enviada por Dâmaso Salcede, e procura Carlos, dizendo que Maria Eduarda não era sua
mulher, mas sim sua amante e que, portanto, podia ficar com ela.
Entretanto, chega de Paris um emigrante, Sr Guimarães, que diz ter conhecido a mãe de Maria Eduarda e
que a procura para lhe entregar um cofre desta que, segundo ela lhe disse continha documentos que
identificariam e garantiriam para a filha uma boa herança. Essa mulher era Maria Monforte – a mãe de Maria
Eduarda era, portanto, também a mãe de Carlos. Os amantes eram irmãos... Contudo, Carlos não aceita este facto
e mantém abertamente, a relação – incestuosa – com a irmã. Afonso da Maia, o velho avô, ao receber a notícia
morre de desgosto. Ao tomar conhecimento, Maria Eduarda, agora rica, parte para o estrangeiro, e Carlos, para
se distrair, vai correr o mundo.
O romance termina com o regresso de Carlos a Lisboa, passados 10 anos, e o seu reencontro com
Portugal e com Ega, que lhe diz: - "falhamos a vida, menino!".
Título e subtítulo
O título – Os Maias – liga-se à história trágica que serve de pretexto para o desenvolvimento da comédia
de costumes que o subtítulo - Episódios da Vida Romântica – sugere. O trajecto da família Maia entrelaça-se
com a história do séc. XIX, servindo o conjunto das três gerações sucessivas – Afonso, Pedro e Carlos – para
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retratar a evolução de uma sociedade que continua a não encontrar um rumo certo de modernidade. A visão
crítica , que o subtítulo sugere, incide sobre este mundo social e político da Lisboa finissecular, com os seus
costumes e vícios, que não foi capaz de superar a crise de personalidade e de autenticidade cultural do
Romantismo, apesar de personagens como Ega ou Carlos se mostrarem defensoras dos princípios do Realismo e
do Naturalismo.
Crítica Social
A crónica de costumes da vida lisboeta da Segunda metade do séc. XIX desenvolve-se num certo tempo,
projecta-se num determinado espaço e é ilustrada por meio de inúmeras personagens intervenientes em
diferentes episódios.
Lisboa é o espaço privilegiado do romance, onde decorre praticamente toda a vida de Carlos ao longo da
acção. O carácter central de Lisboa deve-se ao facto de esta cidade, concentrar, dirigir e simbolizar toda a vida
do país. Lisboa é mais do que um espaço físico, é um espaço social. É neste ambiente monótono, amolecido e de
clima rico, que Eça vai fazer a crítica social, em que domina a ironia, corporizada em certos tipos sociais,
representantes de ideias, mentalidades, costumes, políticas, concepções do mundo, etc. São vários os episódios
utilizados pelo autor para mostrar a vida da alta sociedade lisboeta. Destacamos os mais importantes: o Jantar do
Hotel Central; a Corrida de Cavalos; o Jantar dos Gouvarinho; a Imprensa; a Educação; o Sarau do Teatro da
Trindade; e o Episódio Final: Passeio de Carlos e João da Ega.
Eça de Queirós afirma que “Os Maias saíram uma coisa extensa e sobrecarregada”, mas recomenda “as
cem primeiras páginas” e alguns episódios, como “certa ida a Sintra; as corridas; o desafio; a cena no jornal A
Tarde; e sobretudo, o sarau literário”.
A pertinência desta selecção do autor permite observar que a crónica de costumes interessava-lhe mais do
que a intriga romanesca, embora não a despreze. Permite-nos também reconhecer que a estrutura da obra
obedeceu prioritariamente à vontade de fazer uma desenvolvida crónica da vida social lisboeta do seu tempo,
embora integrando-a na história de uma família, que culmina com o processo de amores incestuosos entre Carlos
e Maria Eduarda e a sequente morte trágica de Afonso da Maia.
introdução, que faculta a apresentação de Afonso da Maia, como factor de unidade, e permite situar
no tempo e no espaço o início da acção;
um desenvolvimento, onde depois de, em traços breves, dar conta do passado de Afonso, de Pedro e
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de Carlos, desdobra os principais acontecimentos,
o desenlace surge com a viagem de Carlos, após a morte do Avô, e o seu regresso a Lisboa.
O plano da intriga apresenta uma acção secundária, que envolve Pedro e Maria Monforte, e uma
acção principal, centrada na relação de Carlos e Maria Eduarda.
O subtítulo Episódios da Vida Romântica permite-nos o contacto com múltiplas cenas e casos
típicos da vida e da sociedade romântica da época da Regeneração. Ao longo desta obra são vários
os cenários onde se movem determinadas personagens que foram esvaziadas de traços
individualizantes para melhor representarem os bons e os maus hábitos, as qualidades e os defeitos, as
mentalidades retrógradas ou progressistas de certo grupo social, profissional ou cultural.
Destes ambientes devemos destacar, pelo pormenor da descrição, pela ironia fina ou sátira
directa:
o O jantar no Hotel Central;
o As corridas de cavalos
A Mensagem
A mensagem que o autor pretende deixar com esta obra, tem uma intenção iminentemente crítica. É
através do paralelo entre duas personagens - Pedro e Carlos da Maia, que Eça concretiza a sua intenção. Note-se
que ambos, apesar de terem tido educações totalmente diferentes, falharam na vida. Pedro falha com um
casamento desastroso, que o leva ao suicídio; Carlos falha com uma ligação incestuosa, da qual sai para se deixar
afundar numa vida estéril e apagada, sem qualquer projecto seriamente útil, em Paris.
Por outro lado, estas duas personagens, representam também épocas históricas e políticas diferentes.
Pedro, a época do Romantismo, e seu filho, a Geração de 70 e das Conferências do Casino, geração
potencialmente destinada ao sucesso. Mas não foi isso que sucedeu e é este facto que o escritor pretende
evidenciar com o episódio final - o fracasso da Geração dos Vencidos da Vida.
Assim, estas personagens representam os males de Portugal e o fracasso sucessivo das diferentes
correntes estético-literárias. Fracasso este que parece dever-se, não às correntes em si, mas às características do
povo português - a predilecção pela forma em detrimento do conteúdo, o diletantismo que impede a fixação num
trabalho sério e interessante, a atitude "romântica" perante a vida, que consiste em desculpar sistematicamente,
os próprios erros e falhas, e dizer "Tudo culpa da sociedade".
Simbolismo
Afonso da Maia é uma figura simbólica - o seu nome é simbólico, tal como o de Carlos - o nome do
último Stuart, escolhido pela mãe. Carlos irá ser o último Maia - note-se a ironia em forma de presságio.
No Ramalhete, esta designação e o emblema (o ramo de girassóis) mostram a importância "da terra e da
província" no passado da família Maia. A "gravidade clerical do edifício" demonstra a influência que o clero
teve no passado da família e em Portugal.
Por oposição, as obras de restauro, levadas a cabo por Carlos, introduziram o luxo e a decoração
cosmopolita, simbolizam uma nova oportunidade, uma reforma da casa (ou do país) para uma nova etapa - é o
reflexo do ideal reformista da Geração de Carlos. Carlos é um símbolo da Geração de 70, tal como o é Ega. Tal
como o país, também eles caíram no "vencidismo".
No último capítulo, a imagem deixada pelo Ramalhete, abandonado e tristonho, cheio de recordações de
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um passado de tragédia e frustrações, está muito relacionado com o modo como Eça via o país, em plena crise do
regime.
O quintal do Ramalhete, também sofre uma evolução. No primeiro capítulo a cascata está seca porque o
tempo da acção d' Os Maias ainda não começou. No último capítulo, o fio de água da cascata é símbolo da
eterna melancolia do tempo que passa, dos sentimentos que leva e traz, mostra-nos também que o tempo está
mesmo a esgotar-se e o final da história d' Os Maias está próximo. Este choro simboliza também a dor pela
morte de Afonso da Maia. A estátua de Vénus que, enegrece com a fuga de Maria Monforte. Agora, (no último
capítulo) coberta de ferrugem simboliza o desaparecimento de Maria Eduarda, os seus membros agora
transformados dão-lhe uma forma monstruosa fazendo lembrar Maria Eduarda e monstruosidade do incesto. Esta
estátua marca então, o início e o fim da acção principal. Ela é também símbolo das mulheres fatais d' Os Maias -
Maria Eduarda e Maria Monforte.
No quarto de Maria Eduarda, na Toca, o quadro com a cabeça degolada é um símbolo e presságio de
desgraça. Os seus aposentos simbolizam o carácter trágico, a profanação das leis humanas e cristãs.
Também o armário do salão nobre da Toca, tem uma simbologia trágica. Os guerreiros simbolizam a
heroicidade, os evangelistas, a religião e os trofeus agrícolas o trabalho: qualidades que existiram um dia na
família (e no Portugal da epopeia). Os dois faunos simbolizam o desastre do incesto decorrido entre Carlos e
Maria Eduarda. No final um partiu o seu pé de cabra e o outro a flauta bucólica, pormenor que parece simbolizar
o desafio sacrílego dos faunos a tudo quanto era grandioso e sublime na tradição dos antepassados.
Não é difícil lermos o percurso da família Maia, nas alterações sofridas pelo Ramalhete. No início o
Ramalhete não tem vida, em seguida habitado, torna-se símbolo da esperança e da vida, é como que um
renascimento; finalmente, a tragédia abate-se sobre a família e eis a cascata chorando, deitando as últimas gotas
de água, a estátua coberta de ferrugem; tudo tem um carácter lúgubre. Note-se que as paredes do Ramalhete
foram sempre sinal de desgraça para a família Maia. O cedro e o cipreste, são árvores que pela sua longevidade,
significam a vida e a morte, foram testemunhas das várias gerações da família. Mas também, simbolizam a
amizade inseparável de Carlos e João da Ega.
A morte instala-se nesta família. No Ramalhete todo o mobiliário degradado e disposto em confusão,
todos os aposentos melancólicos e frios, tudo deixa transparecer a realidade de destruição e morte. E se os Maias
representam Portugal, a morte instalou-se no país.
A Toca é o nome dado à habitação de certos animais, o que, desde logo, parece simbolizar o carácter
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animalesco do relacionamento de Carlos e Maria Eduarda. Na primeira vez que lá vão, Carlos introduz a chave
no portão com todo o prazer, o que sugere o poder e o prazer das relações incestuosas; da segunda vez ambos a
experimentam - a chave torna-se, portanto, o símbolo da mútua aceitação e entrega. Os aposentos de Maria
Eduarda simbolizam o carácter trágico, a profanação das leis humanas e cristãs.
Os Maias estão também, povoados de símbolos cromáticos: a cor vermelha tem um carácter duplo, Maria
Monforte e Maria Eduarda são portadoras de um vermelho feminino, despertam a sensibilidade à sua volta;
espalham a morte. O vermelho é, portanto, o símbolo da paixão excessiva e destruidora. Já o vermelho da vila
Balzac é muito intenso, indicando a dimensão essencialmente carnal e efémera dos encontros de amor de Ega e
Raquel Cohen. O tom dourado está também presente, indicando a paixão ardente; anunciando a velhice (o
Outono), a proximidade da morte. Morte prefigurada pela cor negra, símbolo de uma paixão possessiva e
destruidora.
Mãe e filha conjugam em si estas três cores: elas são, portanto, vida e morte, o divino e o humano, a
aparência e a realidade, a força que se torna fraqueza. Constatamos que a simbologia d' Os Maias possui uma
função claramente pressagiosa da tragédia.
Personagens
As personagens intervenientes na acção d' Os Maias são cerca de 60. Cingimo-nos portanto, às
personagens principais e a algumas personagens tipo que consideramos importantes para o desenrolar da acção.
Sendo as personagens centrais Afonso da Maia; Pedro da Maia; Carlos da Maia; Maria Eduarda e Maria
Monforte. E as personagens tipo João da Ega; Alencar; Conde de Gouvarinho; Condessa de Gouvarinho; Craft;
Cruges; Dâmaso Salcede; Eusebiozinho e Sr Guimarães. Passamos agora, às suas caracterizações:
Personagens centrais:
Afonso da Maia
Caracterização Física
Afonso era baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes. A sua cara larga, o nariz aquilino e a pele corada. O
cabelo era branco, muito curto e a barba branca e comprida. Como dizia Carlos: "lembrava um varão esforçado
das idas heróicas, um D. Duarte Meneses ou um Afonso de Albuquerque".
Caracterização Psicológica
Provavelmente o personagem mais simpático do romance e aquele que o autor mais valorizou. Não se lhe
conhecem defeitos. É um homem de carácter culto e requintado nos gostos. Enquanto jovem adere aos ideais do
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Liberalismo e é obrigado, pelo seu pai, a sair de casa; instala-se em Inglaterra mas, falecido o pai, regressa a
Lisboa para casar com Maria Eduarda Runa.
Mais tarde, dedica a sua vida ao neto Carlos. Já velho passa o tempo em conversas com os amigos, lendo com o
seu gato – Reverendo Bonifácio – aos pés, opinando sobre a necessidade de renovação do país. É generoso para
com os amigos e os necessitados. Ama a natureza e o que é pobre e fraco. Tem altos e firmes princípios morais.
Morre de uma apoplexia, quando descobre os amores incestuosos dos seus netos.
Pedro da Maia
Caracterização Física
Era pequenino, face oval de "um trigueiro cálido", olhos belos – "assemelhavam-no a um belo árabe". Valentia
física.
Caracterização Psicológica
Pedro da Maia apresentava um temperamento nervoso, fraco e de grande instabilidade emocional. Tinha
assiduamente crises de "melancolia negra que o traziam dias e dias, murcho, amarelo, com as olheiras fundas e já
velho". Eça de Queirós dá grande importância à vinculação desta personagem ao ramo familiar dos Runa e à sua
semelhança psicológica com estes. Pedro é vítima do meio baixo lisboeta e de uma educação retrograda. O seu
único sentimento vivo e intenso fora a paixão pela mãe. Apesar da robustez física, é de uma enorme cobardia
moral (como demonstra a reacção do suicídio face à fuga da mulher). Falha no casamento e falha como homem.
Carlos da Maia
Caracterização Física
Carlos era um belo e magnífico rapaz. Era alto, bem constituído, de ombros largos, olhos negros, pele branca,
cabelos negros e ondulados. Tinha barba fina, castanha escura, pequena e aguçada no queixo. O bigode era
arqueado aos cantos da boca. Como diz Eça, ele tinha uma fisionomia de "belo cavaleiro da Renascença".
Caracterização Psicológica
Carlos era culto, bem educado, de gostos requintados. Ao contrário do seu pai, é fruto de uma educação à
Inglesa. É corajoso e frontal. Amigo do seu amigo e generoso. Destaca-se na sua personalidade o
cosmopolitismo, a sensualidade, o gosto pelo luxo, e diletantismo (incapacidade de se fixar num projecto sério e
de o concretizar). Todavia, apesar da educação, Carlos fracassou. Não foi devido a esta mas falhou, em parte, por
causa do meio onde se instalou – uma sociedade parasita, ociosa, fútil e sem estímulos. Mas também devido a
aspectos hereditários – a fraqueza e a cobardia do pai, o egoísmo, o futilidade e o espírito boémio da mãe. Eça
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quis personificar em Carlos a idade da sua juventude, a que fez a Questão Coimbrã e as Conferências do Casino
e que acabou no grupo dos Vencidos da Vida, de que Carlos é um bom exemplo.
Maria Eduarda
Caracterização Física
Maria Eduarda era uma bela mulher: alta, loira, bem feita, sensual mas delicada, "com um passo soberano de
deusa", é "flor de uma civilização superior, faz relevo nesta multidão de mulheres miudinhas e morenas". Era
bastante simples na maneira de vestir, "divinamente bela, quase sempre de escuro, com um curto decote onde
resplandecia o incomparável esplendor do seu colo"
Caracterização psicológica
Podemos verificar que, ao contrário das outras personagens femininas Maria Eduarda nunca é criticada, Eça
manteve sempre esta personagem à distância, a fim de possibilitar o desenrolar de um desfecho dramático (esta
personagem cumpre um papel de vítima passiva). Maria Eduarda é então delineada em poucos traços, o seu
passado é quase desconhecido o que contribui para o aumento e encanto que a envolve. A sua caracterização é
feita através do contraste entre si e as outras personagens femininas, mas e ao mesmo tempo, chega-nos através
do ponto de vista de Carlos da Maia, para quem tudo o que viesse de Maria Eduarda era perfeito, "Maria
Eduarda! Era a primeira vez que Carlos ouvia o nome dela; e pareceu-lhe perfeito, condizendo bem com a sua
beleza serena." Uma vez descoberta toda a verdade da sua origem, curiosamente, o seu comportamento mantém-
se afastado da crítica de costumes (o seu papel na intriga amorosa está cumprido), e esta personagem afasta-se
discretamente de "cena".
Maria Monforte
Caracterização Física
É extremamente bela e sensual. Tinha os cabelos loiros, "a testa curta e clássica, o colo ebúrneo".
Caracterização Psicológica
É vítima da literatura romântica e daqui deriva o seu carácter pobre, excêntrico e excessivo. Costumavam
chamar-lhe negreira porque o seu pai levara, noutros tempos, cargas de negros para o Brasil, Havana e Nova
Orleães. Apaixonou-se por Pedro e casou com ele. Desse casamento nasceram dois filhos. Mais tarde foge com o
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napolitano, Tancredo, levando consigo a filha, Maria Eduarda, e abandonando o marido - Pedro da Maia - e o
filho - Carlos Eduardo. Leviana e imoral, é, em parte, a culpada de todas as desgraças da família Maia. Fê-lo por
amor, não por maldade. Morto Tancredo, num duelo, leva uma vida dissipada e morre quase na miséria. Deixa
um cofre a um conhecido português - o democrata Sr. Guimarães - com documentos que poderiam identificar a
filha a quem nunca revelou as origens.
Personagens Tipo:
João da Ega
Caracterização Física
Ega usava "um vidro entalado no olho", tinha "nariz adunco, pescoço esganiçado, punhos tísicos, pernas de
cegonha". Era o autêntico retrato de Eça.
Caracterização Psicológica
João da Ega é a projecção literária de Eça de Queirós. É uma personagem contraditória. Por um lado, romântico
e sentimental, por outro, progressista e crítico, sarcástico do Portugal Constitucional. Era o Mefistófeles de
Celorico. Amigo íntimo de Carlos desde os tempos de Coimbra, onde se formara em Direito (muito lentamente).
A mãe era uma rica viúva e beata que vivia ao pé de Celorico de Bastos, com a filha. Boémio, excêntrico,
exagerado, caricatural, anarquista sem Deus e sem moral. É leal com os amigos. Sofre também de diletantismo,
concebe grandes projectos literários que nunca chega a executar. Terminado o curso, vem viver para Lisboa e
torna-se amigo inseparável de Carlos. Como Carlos, também ele teve a sua grande paixão - Raquel Cohen. Ega,
um falhado, corrompido pela sociedade, encarna a figura defensora dos valores da escola realista por oposição à
romântica. Na prática, revela-se em eterno romântico. Nos últimos capítulos ocupa um papel de grande relevo no
desenrolar da intriga. É a ele que o Sr. Guimarães entrega o cofre. É juntamente com ele, que Carlos revela a
verdade a Afonso. É ele que diz a verdade a Maria Eduarda e a acompanha quando esta parte para Paris
definitivamente.
Conde de Gouvarinho
Caracterização Física
Era ministro e par do Reino. Tinha um bigode encerado e uma pêra curta.
Caracterização Psicológica
Era voltado para o passado. Tem lapsos de memória e revela uma enorme falta de cultura. Não compreende a
ironia sarcástica de Ega. Representa a incompetência do poder político (principalmente dos altos cargos). Fala de
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um modo depreciativo das mulheres. Revelar-se-á, mais tarde, um bruto com a sua mulher.
Condessa de Gouvarinho
Caracterização Física
Cabelos crespos e ruivos, nariz petulante, olhos escuros e brilhantes, bem feita, pele clara, fina e doce; é casada
com o conde de Gouvarinho e é filha de um comerciante inglês do Porto.
Caracterização Psicológica
É imoral e sem escrúpulos. Traí o marido, com Carlos, sem qualquer tipo de remorsos. Questões de dinheiro e a
mediocridade do conde fazem com que o casal se desentenda. Envolve-se com Carlos e revela-se apaixonada e
impetuosa. Carlos deixa-a, acaba por perceber que ela é uma mulher sem qualquer interesse, demasiado fútil.
Dâmaso Salcede
Caracterização Física
Era baixo, gordo, "frisado como um noivo de província". Era sobrinho de Guimarães. A ele e ao tio se devem,
respectivamente, o início e o fim dos amores de Carlos com Maria Eduarda.
Caracterização Psicológica
Dâmaso é uma súmula de defeitos. Filho de um agiota, é presumido, cobarde e sem dignidade. É dele a carta
anónima enviada a Castro Gomes, que revela o envolvimento de Maria Eduarda com Carlos. É dele também, a
notícia contra Carlos n' A Corneta do Diabo. Mesquinho e convencido, provinciano e tacanho, tem uma única
preocupação na vida o "chic a valer". Representa o novo riquismo e os vícios da Lisboa da segunda metade do
séc. XIX. O seu carácter é tão baixo, que se retracta, a si próprio, como um bêbado, só para evitar bater-se em
duelo com Carlos.
Sr. Guimarães
Caracterização Física
Usava largas barbas e um grande chapéu de abas à moda de 1830.
Caracterização Psicológica
Conheceu a mãe de Maria Eduarda, que lhe confiou um cofre contendo documentos que identificavam a filha.
Guimarães é, portanto, o mensageiro da trágica verdade que destruirá a felicidade de Carlos e de Maria Eduarda.
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Alencar
Caracterização Física
Tomás de Alencar era "muito alto, com uma face encaveirada, olhos encovados, e sob o nariz aquilino, longos,
espessos, românticos bigodes grisalhos".
Caracterização Psicológica
Era calvo, em toda a sua pessoa "havia alguma coisa de antiquado, de artificial e de lúgubre". Simboliza o
romantismo piegas. O paladino da moral. Era também o companheiro e amigo de Pedro da Maia. Eça serve-se
desta personagens para construir discussões de escola, entre naturalistas e românticos, numa versão caricatural
da Questão Coimbrã. Não tem defeitos e possui um coração grande e generoso. É o poeta do ultra-romantismo.
Cruges
Caracterização Física
"De grenha crespa que lhe ondulava até à gola do jaquetão", "olhinhos piscos" e nariz espetado.
Caracterização Psicológica
Maestro e pianista patético, era amigo de Carlos e íntimo do Ramalhete. Era demasiado chegado à sua velha
mãe. Segundo Eça, "um diabo adoidado, maestro, pianista com uma pontinha de génio". É desmotivado devido
ao meio lisboeta - "Se eu fizesse uma boa ópera, quem é que ma representava".
Craft
É uma personagem com pouca importância para o desenrolar da acção, mas que representa a formação britânica,
o protótipo do que deve ser um homem. Defende a arte pela arte, a arte como idealização do que há de melhor na
natureza. É culto e forte, de hábitos rígidos, "sentindo finamente, pensando com rectidão". Inglês rico e boémio,
coleccionador de "bric-a-brac".
Eusebiozinho
Eusebiozinho representa a educação retrógrada portuguesa. Também conhecido por Silveirinha, era o
primogénito de uma das Silveiras - senhoras ricas e beatas. Amigo de infância de Carlos com quem brincava em
Santa Olávia, levando pancada continuamente, e com quem contrastava na educação. Cresceu tísico, molengão,
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tristonho e corrupto. Casou-se, mas enviuvou cedo. Procurava, para se distrair, bordéis ou aventureiras de
ocasião pagas à hora.
Os Maias - Acção
N' Os Maias podemos distinguir dois níveis de acção: a crónica de costumes - acção aberta; e a intriga -
acção fechada, que se divide em intriga principal e intriga secundária. São, aliás, estes dois níveis de acção, que
justificam a existência de título e subtítulo nesta obra. O título - Os Maias - corresponde à intriga, enquanto que
o subtítulo - Episódios da Vida Romântica - corresponde à crónica de costumes.
Na intriga principal são retratados os amores incestuosos de Carlos e Maria Eduarda que terminam com a
desagregação da família - morte de Afonso e separação de Carlos e Maria Eduarda. Carlos é o protagonista da
intriga principal. Teve uma educação à inglesa e tirou o curso de medicina em Coimbra. A educação de Maria
Eduarda foi completamente diferente, donde se conclui que a sua paixão não foi condicionada pela educação,
nem pela hereditariedade, nem pelo meio. A sua ligação amorosa foi comandada à distância por uma entidade
que se denomina destino.
A acção principal d' Os Maias, desenvolve-se segundo os moldes da tragédia clássica - peripécia,
reconhecimento e catástrofe. A peripécia verificou-se com o encontro casual de Maria Eduarda com Guimarães;
com as revelações casuais do Guimarães a Ega sobre a identidade de Maria Eduarda; e com as revelações a
Carlos e Afonso da Maia também, sobre a identidade de Maria Eduarda. O reconhecimento, acarretado pelas
revelações do Guimarães, torna a relação entre Carlos e Maria Eduarda uma relação incestuosa, provocando a
catástrofe consumada pela morte do avô; a separação definitiva dos dois amantes; e as reflexões de Carlos e Ega.
Os Maias - O Espaço
N' Os Maias podemos encontrar três tipos de espaço: o espaço físico, o espaço social e o espaço psicológico.
Espaço Físico
Exteriores
É em Lisboa que se dão os acontecimentos que levam Afonso da Maia ao exílio; é em Lisboa que sucedem os
acontecimentos essenciais da vida de Pedro da Maia; e é também lá que decorre a vida de Carlos que justifica o
romance - a sua relação incestuosa com a irmã.
O estrangeiro surge-nos como um recurso para resolver problemas. Afonso exila-se em Inglaterra para fugir à
intolerância Miguelista; Pedro e Maria vivem em Itália e em Paris devido à recusa deste casamento pelo pai de
Pedro. Maria Eduarda segue para Paris quando descobre a sua relação incestuosa com Carlos. O próprio resolve
a sua vida falhada com a fixação definitiva em Paris.
Deve referir-se como importante espaço exterior Sintra, palco de vários encontros, quer relativos à crónica de
costumes, quer à relação amorosa dos protagonistas.
Interiores
Vários são os espaços interiores referidos n' Os Maias, portanto, destacamos os mais importantes.
No Ramalhete podemos encontrar: o salão de convívio e de lazer, o escritório de Afonso, que tem o aspecto de
uma "severa câmara de prelado", o quarto de Carlos, "como um ar de quarto de bailarina", e os jardins. A acção
desenrola-se também na vila Balzac, que reflecte a sensualidade de João da Ega. É referido também na obra, o
luxuoso consultório de Carlos que revela o seu diletantismo e a predisposição para a sensualidade.
A Toca é também um espaço interior carregado de simbolismo, que revela amores ilícitos. São ainda referidos
outros espaços interiores de menor importância como o apartamento de Maria Eduarda, o Teatro da Trindade, a
casa dos Condes de Gouvarinho, o Grémio, o Hotel Central os hotéis de Sintra, a redacção d' A Tarde e d' A
Corneta do Diabo, etc.
Espaço Social
O espaço social comporta os ambientes (jantares, chás, soirés, bailes, espectáculos), onde actuam as personagens
que o narrador julgou melhor representarem a sociedade por ele criticada - as classes dirigentes, a alta
aristocracia e a burguesia.
Destacamos o jantar do Hotel Central, os jantares em casa dos Gouvarinho, Santa Olávia, a Toca, as corridas do
Hipódromo, as reuniões na redacção d' A Tarde, o Sarau Literário no Teatro da Trindade - ambientes fechados de
preferência, por razões de elitismo.
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O espaço social cumpre um papel puramente crítico.
Espaço Psicológico
O espaço psicológico é constituído pela consciência das personagens e manifesta-se em momentos de maior
densidade dramática. É sobretudo Carlos, que desvenda os labirintos da sua consciência. Ocupando também Ega,
um lugar de relevo. Destacamos, como espaço psicológico, o sonho de Carlos no qual evoca a figura de Maria
Eduarda; nova evocação dela em Sintra; reflexões de Carlos sobre o parentesco que o liga a Maria Eduarda;
visão do Ramalhete e do avô, após o incesto; contemplação de Afonso morto, no jardim. Quanto a Ega, reflexões
e inquietações após a descoberta da identidade de Maria Eduarda. O espaço psicológico permite definir estas
personagens como personagens modeladas.
Tempo
Este romance não apresenta um seguimento temporal linear, mas, pelo contrário, uma estrutura complexa na qual
se integram vários "tipos" de tempos: tempo histórico, tempo do discurso e tempo psicológico.
Tempo Histórico
Entende-se por tempo histórico aquele que se desdobra em dias, meses e anos vividos pelas personagens,
reflectindo até acontecimentos cronológicos históricos do país.
N' Os Maias, o tempo histórico é dominado pelo encadeamento de três gerações de uma família, cujo
último membro - Carlos, se destaca relativamente aos outros. A fronteira cronológica situa-se entre 1820 e 1887,
aproximadamente. Assim, o tempo concreto da intriga compreende cerca de 70 anos.
Tempo do Discurso
Por tempo do discurso entende-se aquele que se detecta no próprio texto organizado pelo narrador,
ordenado ou alterado logicamente, alargado ou resumido.
Na obra, o discurso inicia-se no Outono de 1875, data em que Carlos, concluída a sua viagem de um ano
pela Europa, após a formatura, veio com o avô instalar-se definitivamente em Lisboa. Pelo processo de analepse,
o narrador vai, até parte do capítulo IV, referir-se aos antepassados do protagonista (juventude e exílio de
Afonso da Maia, educação, casamento e suicídio de Pedro da Maia, e à educação de Carlos da Maia e sua
formatura em Coimbra) para recuperar o presente da história que havia referido nas primeiras linhas do livro.
Esta primeira parte pode considerar-se uma novela introdutória que dura quase 60 anos. Esta analepse ocupa
apenas 90 páginas, apresentadas por meio de resumos e elipses. Assim, como vemos, o tempo histórico é muito
mais longo do que o tempo do discurso. Do Outono de 1875 a Janeiro de 1877 - data em que Carlos abandona o
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Ramalhete - existe uma tentativa para que o tempo histórico (pouco mais de um ano da vida de Carlos) seja
idêntico ao tempo do discurso - cerca de 600 páginas - para tal Eça serve-se muitas vezes da cena dialogada. O
último capítulo é uma elipse (salto no tempo) onde, passados 10 anos, Ega se encontra com Carlos em Lisboa.
Tempo Psicológico
O tempo psicológico é o tempo que a personagem assume interiormente; é o tempo filtrado pelas suas
vivências subjectivas, muitas vezes carregado de densidade dramática. É o tempo que se alarga ou se encurta
conforme o estado de espírito em que se encontra.
No romance, embora não muito frequente, é possível evidenciar alguns momentos de tempo psicológico
nalgumas personagens: Pedro da Maia, na noite em que se deu o desaparecimento de Maria Monforte e o
comunica a seu pai; Carlos, quando recorda o primeiro beijo que lhe deu a Condessa de Gouvarinho, ou, na
companhia de João da Ega, contempla, já no final de livro, após a sua chegada de Paris, o velho Ramalhete
abandonado e ambos recordam o passado com nostalgia. Uma visão pessimista do Mundo e das coisas. É o caso
de "agora o seu dia estava findo: mas, passadas as longas horas, terminada a longa noite, ele penetrava outra vez
naquela sala de repes vermelhos...".
Estética
Os Maias distinguem-se no quadro da literatura nacional não só, pela originalidade do tema mas também,
pela destreza e mestria com que o autor conta o romance. De facto, tanto a crítica social, como a intriga amorosa
são valorizadas pelo rigor e beleza dos vocábulos utilizados. Por exemplo, o impressionismo, bem patente,
caracteriza-se pela frequência de construções impessoais, uma vez que o efeito é percepcionado
independentemente da causa, ficando, portanto, o sujeito para segundo plano; percepções de tipo diferente
traduzindo ironia; frequência da hipálage (transposição de um atributo de gente para a acção). Relativamente aos
substantivos e adjectivos, a obra de Eça contem muitos mais adjectivos do que substantivos. É frequente o
contraste substantivo concreto qualificado com um adjectivo abstracto ou vice-versa. Os adjectivos têm uma
função musical e rítmica completando a linha melódica da frase. O advérbio toma, em Eça, funções de atributo e
a sua acção alcança o sujeito ou o objecto. Assim, Eça ampliou o número de advérbios de modo que a linguagem
proporcionava, derivando-os dos adjectivos. O verbo oferece a alternância dos seus sentidos - próprio ou
figurado, e o escritor tem de escolher um ou outro. Estes podem invocar conceitos subjectivos múltiplos sem
deixarem, por isso, de descrever aspectos das coisas.
Eça utiliza o estilo indirecto livre. Este tipo de discurso permitia-lhe: libertar a frase dos verbos muito
utilizados e da correspondente conjugação integrante (ex.: disse que); permitia-lhe, também, aproximar a prosa
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literária da linguagem falada; conseguia impersonalizar a prosa narrativa dissimulando-se por detrás das suas
personagens.
N' Os Maias, existem em maior ou menor grau todos os níveis de linguagem. Da linguagem familiar à
linguagem infantil, popular e também neologismos (exemplo: Gouvarinhar). Esta obra é muito rica em figuras de
estilo, o que lhe concede um cunho particularmente queirosiano. Aliterações, adjectivações, comparações,
personificações, enchem Os Maias do início ao final da obra.