O Coordenador Pedagogico Como Formador

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O coordenador pedagógico como formador1


Paula Zurawski

Um dos mais importantes papéis do profissional é formar os professores de acordo com


o projeto pedagógico da escola usando os princípios didáticos que pautam a instituição

Introdução

É sempre estimulante falar sobre o coordenador pedagógico, ou CP, como nos


referiremos ao profissional neste artigo. O coordenador atua como elo entre a escola e
a família, entre os professores e seus diferentes projetos. É fundamental para construir
ambientes e práticas educativas ricas e geradoras de aprendizagens para todos que
convivem na escola.

O trabalho do coordenador é fazer com que a equipe de professores seja colaborativa,


as crianças aprendam e as famílias participem do projeto educativo da escola. Ser
coordenador na escola contemporânea é, portanto, um desafio. Porém muitos têm
conseguido atingir esses objetivos em escolas de todo o país - o que lhes traz muita
satisfação. Para auxiliar os professores, o coordenador compreende as competências e
saberes específicos de cada faixa etária.

Quem atua na Educação infantil, por exemplo, entende que a organização dos
ambientes, Educação e cuidado são indissociáveis nesse estágio. Assim, orienta os
professores a respeitar as formas de conviver e aprender das crianças pequenas.

Nos primeiros anos do Ensino Fundamental, o coordenador precisa se atualizar e


conhecer as teorias e práticas de alfabetização. Dessa maneira, capacita sua equipe para
construir nas crianças comportamentos leitores e escritores. Nos anos seguintes do
Ensino Fundamental, o coordenador continua organizando situações para discutir os
processos de ensino e de aprendizagem, as didáticas de cada disciplina, a
interdisciplinaridade e a avaliação dos alunos. O CP leva a equipe docente a refletir e
chegar a acordos sobre esses pontos. Em todos os anos, o coordenador tira dúvidas das
famílias e media sua relação com a escola; faz contato com a comunidade; organiza
eventos significativos para o calendário e auxilia o diretor nos diferentes aspectos de
gestão.

Neste breve artigo, frisaremos a importância do papel formador do coordenador


pedagógico. Abordaremos os seguintes aspectos-chave: a função do CP dentro de uma
perspectiva didática de gestão; a relação entre o projeto de formação da equipe docente
e o projeto pedagógico da escola; e, por fim, a importância de planejar o uso das
reuniões formativas. Nesse último tópico, abordaremos as boas pautas de trabalho e
estratégias formativas que realmente levem à qualificação do trabalho e,
consequentemente, do cotidiano dos alunos.

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Publicado na revista Nova Escola, abril de 2014.

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Congruência entre a formação de professores e o ensino aos alunos

Tenho trabalhado com a ideia de que a forma como o cotidiano escolar é gerenciado
sempre ensina algo, não apenas às crianças, mas a todos os que convivem na instituição
de ensino. A maneira como os gestores fazem escolhas, tomam decisões e organizam as
situações educativas sempre indica para a comunidade escolar maneiras de escolher,
aprender e ensinar, conviver, dialogar, resolver problemas e conflitos.

Um dos princípios mais importantes para a formação de professores é o isomorfismo


entre a formação do professor e a maneira como as situações de ensino e aprendizagem
dos alunos são organizadas na instituição. Um dos pedagogos a defender essa
necessidade é Carlos García no livro Formação de Professores - Para uma mudança
educativa. "Cada nível educativo tem possibilidades e necessidades didáticas diferentes",
afirma o autor. "No entanto, na formação de professores é muito importante a
congruência entre o conhecimento didático do conteúdo e o conhecimento pedagógico
transmitido, e a forma como esse conhecimento é transmitido", completa.

O que se vê, portanto, é uma homologia de processos entre as situações formativas dos
professores e dos alunos. Se desejamos e pressupomos que as crianças sejam
protagonistas e ativas na construção do conhecimento, precisamos assumir que o
professor também o será. Necessitamos de práticas formativas reflexivas e não
meramente transmissivas. Por exemplo: é importante planejar situações de formação
em que os sujeitos professores não sejam colocados apenas para ler ou ouvir sobre uma
teoria, mas também para operar, dialogar com ela e questioná-la, iluminando sua
prática. A simples leitura de textos não dá conta de resolver situações desafiadoras. Está
longe de contemplar os processos de transformação real de práticas ou atitudes
docentes - nem sempre curtos.

Como, então, devem ser as práticas formativas dos professores? O pesquisador da


Universidade de Lisboa Rui Canário detalha o assunto no artigo Gestão da Escola: Como
Elaborar um Plano de Formação? Escreve o autor: "Dar um sentido estratégico à
formação significa, fundamentalmente, três coisas que implicam o abandono de uma
perspectiva de curto prazo: a primeira consiste em passar da lógica do ‘programa de
ações’ para a lógica do ‘dispositivo permanente de formação’ cuja chave é a diversidade
e, portanto, a capacidade de superar o programa de formação, integrando-o. O
funcionamento dos órgãos coletivos dos professores, ou a existência de um centro de
recursos surgem como elementos fundamentais do dispositivo; a segunda corresponde
a pensar a formação não em termos de conhecimentos a transmitir, mas sim por
referência a problemas a resolver; a terceira materializa-se numa perspectiva de duração
longa, traduzida por modalidades de planeamento plurianual".

O princípio do isomorfismo ou da homologia de processos também se aplica aos


instrumentos metodológicos. Assim, os planos de formação e as pautas de encontros
formativos, propostas pelos coordenadores, devem ter relação com o planejamento de
atividades e projetos desenvolvidos pelo professor. Todas essas situações de ensino e
aprendizagem devem ser pautadas por princípios e valores usados no ensino dos alunos:

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a escuta, a consideração de hipóteses, a construção ativa de conhecimento e o trabalho


em grupos.
Projeto de formação dos professores caminha junto do projeto pedagógico
da escola

Ainda é um desafio para muitos coordenadores pedagógicos criar situações formativas


para os professores - entendendo a formação como um processo contínuo – e
materializar seu plano de formação para aquela equipe. Os coordenadores precisam
entender que seu papel é muito mais do que auxiliar os professores a resolverem
problemas pontuais. O CP é o profissional que dá sustentação ao projeto pedagógico
da escola por meio da formação de docentes.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil definem o conceito de


projeto pedagógico. "É o plano orientador das ações da instituição e define as metas
que se pretende para a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças que nela são
educadas e cuidadas", afirma o item cinco do documento. O parecer também afirma
que é na execução do projeto pedagógico que as instituições ordenam seu currículo,
entendido como as práticas educacionais organizadas em torno do conhecimento e em
meio às relações sociais que acontecem nos espaços institucionais, e que afetam a
construção das identidades das crianças.

O coordenador coopera com o projeto pedagógico organizando uma rotina formativa


capaz de explicitar problemas e desafios, promover o compartilhamento de práticas e
a resolução de problemas. Qualificar as experiências de aprendizagem e de convivência
dos alunos é a meta que deve nortear essa rotina formativa. E sempre que nos
perguntarmos o que desejamos que as crianças aprendam, ou que aspectos da prática
com elas queremos qualificar, será possível estabelecer um paralelo sobre o que os
professores deverão aprender para alcançar a qualificação. É essa a ideia do
encadeamento formativo, presente no material de formação A Elaboração de Pautas de
Encontros Formativos, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.

Um exemplo da cadeia formativa acontece quando o coordenador pedagógico e os


professores de uma escola percebem que a avaliação não oferece dados sobre a sua
aprendizagem real. É preciso refletir sobre as causas do problema, entender o que
poderia ser melhorado e assim transformar as formas de avaliação utilizadas. Daí
decorrem as perguntas: o que os professores precisarão saber, sobre o que deverão
refletir e o que deverão estudar para introduzir formas mais efetivas de avaliação?
Voltamos, então, ao coordenador pedagógico: o que ele deverá saber, estudar e
contemplar para promover essa mudança?
A qualidade das experiências dos alunos, suas interações e aprendizagens devem ser
sempre o ponto de partida para escolher o foco dos projetos de formação de uma
equipe. Por isso, a decisão sobre a rotina não deve ser tomada apenas com base em
um desejo pessoal do coordenador, ou mesmo na vontade - mesmo que muitas vezes
legítima - da equipe de professores de estudar alguma temática
específica.

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Como transformar reuniões formativas em encontros mais eficientes

Sendo assim, como o coordenador pedagógico pode envolver a equipe no processo de


decisão do foco de seu trabalho? E como pode organizar as situações de formação para
que elas realmente contribuam para qualificar os processos de aprendizagem professor-
criança? Em primeiro lugar, é preciso manter encontros formativos regulares, durante
os quais a equipe docente construa os hábitos de investigar, discutir e problematizar suas
práticas pedagógicas. É preciso transformar em oportunidades ricas de trabalho as
reuniões pedagógicas, encontros de formação ou quaisquer outros momentos
destinados ao encontro da equipe docente. O coordenador deve usar estratégias
formativas como a devolutiva a registros, a tematização de práticas e a dupla
conceitualização.

Não será difícil receber ajuda dos professores para decidir os focos da formação quando
eles perceberem que os espaços formativos são privilegiados e têm como principal
objetivo qualificar as práticas e as relações com crianças. Mas não basta ouvir o que os
docentes desejam privilegiar em seu estudo. É preciso observar se o foco é pertinente,
tem relação com o projeto pedagógico e permite melhorar as aprendizagens dos alunos.
Para decidir os temas, o coordenador pode primeiro compartilhar com o grupo o seu
diagnóstico prévio das necessidades formativas da equipe. Também pode explicar as
conquistas da escola no trabalho com a linguagem ou a disciplina escolhida como foco
do plano de formação. E, por fim, pode apresentar quais desafios surgem a partir dos
documentos curriculares oficiais ou da própria escola.

O próximo passo é planejar cuidadosamente o trabalho das reuniões de formação. Para


preparar as pautas, o coordenador deve pensar com antecedência em algumas questões.
Quantos encontros serão necessários? Quem participará deles? Como garantir que as
vozes de todos sejam ouvidas? Que estratégias usar para vencer a resistência de alguns
professores para compartilhar práticas que a equipe necessita rever e discutir? Como se
vê, recorremos, mais uma vez, ao princípio da homologia de processos. Da mesma
maneira que o professor precisa planejar boas atividades para seus alunos, o
coordenador necessita planejar com antecedência a discussão e o aprendizado dos
docentes.

Uma pauta bem planejada dá ao coordenador pedagógico clareza sobre seus


objetivos para cada encontro e a estratégia formativa usada. Além disso, revela o
cuidado e a atenção do formador com seu grupo de professores. Por isso, uma boa
pauta reitera a importância e o sentido dos espaços formativos e explicita para os
professores que a proposta do encontro é fruto de um cuidadoso planejamento.
Quando revela seus objetivos de trabalho, o formador convida cada professor a se
responsabilizar pelas atividades da qual participa.

Em resumo, essas são as características de uma boa pauta:


- Explicita claramente os objetivos e conteúdos do encontro;
- Define estratégias de formação com base nos objetivos. Dessa maneira, há
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coerência. As estratégias contemplam os conteúdos levantados e possibilitam que


o grupo atinja todos os objetivos;
- Enuncia de forma precisa e inteligível os problemas a serem trabalhados;
- Dimensiona e explicita bem o horário de cada encontro. Isso possibilita que o
grupo torne-se corresponsável por gerir o tempo.

Com essa reflexão, espero ter ajudado a equipe escolar a compreender o papel do
coordenador pedagógico na escola contemporânea. Também espero ter fortalecido essa
figura, iluminando sua importância na construção de um ambiente educativo mais
coerente, democrático e gerador de aprendizagens para todos.

Quer saber mais?


BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação infantil (Parecer CNE/CEB
nº 20/09 e Resolução CNE/CEB nº 05/09).

CANÁRIO, R. Gestão da Escola: Como Elaborar um Plano de Formação? In: Cadernos


de Organização e Gestão Curricular. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional, 1998.

FERREIRA, M.V. e ZURAWSKI, M.P. Formação de Professores e Currículo Integrado.


In: Especial Revista Educação Infantil nº 2. São Paulo: Segmento, outubro 2011.

GARCIA, C.M. Formação de Professores – Para uma Mudança Educativa. Portugal:


Porto Editora, 1999.

SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Encontro 3: A Elaboração de


Pautas de Encontros Formativos.

Programa A Rede em rede: a formação continuada na Educação Infantil / Secretaria


Municipal de Educação. Material de Formação Local – Fase 3. 2008.

SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica.


Percursos de aprendizagens: material de apoio ao Coordenador Pedagógico – A Rede
em rede: a formação continuada na Educação Infantil / Secretaria Municipal
de Educação – São Paulo: SME / DOT, 2012.
Disponível em: http://gestaoescolar.org.br/conteudo/150/o-coordenador-pedagogico-
como-formador

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