Atividade Com Gabarito Interp
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PAÍS DO FUTURO
Primeiro foi um gigante adormecido (“em berço esplêndido”), que um dia iria
acordar e botar pra quebrar. Depois tornou-se o país do futuro, um futuro de riqueza,
justiça social e bem-aventurança.
Eram tempos, aqueles, de postergar tudo o que não podia ser realizado no
presente. A dureza do regime militar deixava poucas brechas para que se ousasse fazer
alguma coisa que não fosse aquilo já previsto, planejado, ordenado pelos generais no
poder.
Só restava então aguardar o futuro, que nunca chegava (mais uma vez vale
lembrar: foram 21 anos de regime autoritário).
O pior é que, mesmo depois de redemocratizado o país, a coisa continuou e
continua meio encalacrada, com muitos sonhos tendo de ser adiados a cada dia, a cada
nova dificuldade. Com a globalização, temos que encarar (e temer) até as crises que
ocorrem do outro lado do mundo. Todavia há que se aguardar o futuro com otimismo, e
alguma razão para isso existe.
Dados de uma pesquisa elaborada pela Secretaria de Planejamento do governo de
São Paulo revelam que o Brasil chegará ao próximo século, que está logo ali na esquina,
com o maior contingente de jovens de sua história.
Conforme os dados da pesquisa, somente na faixa dos 20 aos 24 anos serão quase
16 milhões de indivíduos no ano 2000.
Com esses dados, o usual seria prever o agravamento da situação do mercado de
trabalho, já tão difícil para essa faixa de idade, e de problemas como a criminalidade em
geral e o tráfico e o uso de drogas em particular.
Mas por que não inverter a mão e acreditar, ainda que forçando um pouco a barra,
que essa massa de novas cabeças pensantes simboliza a chegada do tal futuro? Quem
sabe sairá do acúmulo de energia renovada dessa geração a solução de problemas que
apenas se perpetuaram no fracasso das anteriores?
Nada mal começar um milênio novinho em folha com o viço, a ousadia e o otimismo
dos que têm 20 anos.
2) A ideia de futuro vem representada no texto por uma sequência de conceitos. A
opção que indica essa sequência é:
a) expectativa – gigantismo – idealização – otimismo
b) otimismo – expectativa – idealização – gigantismo
c) gigantismo – otimismo – idealização – expectativa
d) expectativa – idealização – otimismo – gigantismo
e) gigantismo – idealização – expectativa – otimismo
4) Postergar significa:
a) polemizar
b) preterir
c) manifestar
d) difundir
e) incentivar
8) De todas as ideias expressas abaixo, aquela que NÃO está contida direta ou
indiretamente no texto é:
a) Os imigrantes são bem-vindos no Brasil de hoje.
b) A atual situação dos imigrantes na Europa faz prever conflitos futuros.
c) Os estrangeiros acabam sendo perseguidos, em alguns países, apesar de seus bons
serviços.
d) A expansão econômica da Europa provocou a saída de emigrantes.
e) Os imigrantes são fator de colaboração para o progresso das nações.
O PARTO E O TAPETE
Naquele tempo eu ainda não gostava de cachorros, pagando por isso um preço
que até hoje me maltrata. Mas, como ia dizendo, Big não era minha, mas estava para
ter ninhada, e meu cunhado viajara.
De repente, Big procurou um canto e entrou naquilo que os entendidos chamam
de “trabalho de parto”. Alertado pela cozinheira, que entendia mais do assunto,
telefonei para o veterinário que era amigo do cunhado. Não o encontrei.
Tive de apelar para uma emergência, expliquei a situação, 15 minutos depois
veio um veterinário. Examinou Big, achou tudo bem, pediu um tapete.
Providenciei um, que estava desativado, tivera alguma nobreza, agora estava
puído e desbotado. O veterinário deitou Big em cima, pediu uma cadeira e um café.
Duas horas se passaram, Big teve nove filhotes e o veterinário me cobrou 90 mil
cruzeiros, eram cruzeiros naquela época, e dez mil por filhote.
Valiam mais – tive de admitir.
No dia seguinte, com a volta do cunhado, chamou-se o veterinário oficial. Quis
informações sobre o colega que me atendera.
Contei que ele se limitara a pedir um tapete e pusera Big em cima. Depois pedira
um café e uma cadeira, cobrando-me 90 mil cruzeiros pelo trabalho.
O veterinário limitou-se a comentar: “Ótimo! Você teve sorte, chamou um bom
profissional!”. Como? A ciência que cuida do parto dos animais se limita a colocar um
tapete em baixo?
“Exatamente. Se tivesse me encontrado, eu faria o mesmo e cobraria mais caro,
moro longe”.
Nem sei por que estou contando isso. Acho que tem alguma coisa a ver com a
sucessão presidencial. Muitas especulações, um parto complicado, que requer
veterinário e curiosos. Todos darão palpites, todos se esbofarão para colocar o tapete
providencial que receberá o candidato ungido, que nascerá por circunstâncias que
ninguém domina.
E todos cobrarão caro.
(Carlos Heitor Cony, Folha de S. Paulo, 19-12-01)