Teologia Da Vida Consagrada
Teologia Da Vida Consagrada
Teologia Da Vida Consagrada
UNIDADE DIDÁCTICA 1
Exercício 1
Leia o n.º 14 da Vita Consecrata e explique qual é o fundamento da vida consagrada.
O fundamento da vida consagrada é o estilo de vida que Jesus Cristo estabeleceu com
alguns dos seus discípulos, a quem, após o convite, que foi aceite, de acolherem o Reino de
Deus, convidou também para deixarem tudo e O seguirem mais de perto, imitando a Sua
forma de vida, pela causa do Reino de Deus. “Eis que nós deixamos tudo e Te seguimos...” -
Mt 19, 27
A todos é feito o convite para acolher o Reino de Deus. Quando aceite, responde-se-
lhe com o recebimento do Baptismo. Porém, a alguns dos seus discípulos, é agora formulado
um novo convite a “colocarem a própria existência ao serviço desta causa, deixando tudo e
imitando mais de perto a Sua forma de vida”: responde-se-lhe com a consagração da vida, na
sua totalidade, levando às últimas consequências o compromisso aceite no Baptismo de seguir
a Cristo, que agora se faz radicalmente, ao ponto de viver como Ele viveu – em comunidade,
castidade, pobreza e obediência, totalmente entregue a Deus e aos homens.
Exercício 2
O n.º 13 da LG fala das diferentes vocações que são constitutivas do Povo de Deus.
Explique brevemente cada uma delas e como se relacionam entre si.
Exercício 3
Leia o n.º 44 da LG; explique a natureza da vida consagrada e diga a quem pertence
dentro da Igreja
Exercício 4
Define os seguintes conceitos:
- Vocação religiosa:
Dom concedido por Deus a alguns dos fiéis cristãos, pelo qual Deus se propõe ser o
seu tudo, cuja resposta é a sua consagração total e perpétua a Deus, que se realiza no
seguimento radical a Jesus Cristo, seguindo mais de perto o Seu modo de vida terrena – em
celibato, pobreza e obediência – e inserida na comunidade eclesial.
- Consagração baptismal e consagração religiosa:
Consagração baptismal é a configuração com Jesus Cristo, na Sua condição filial e
fraterna, pela qual se fica a pertencer a Cristo, incorporado na Sua Igreja e participante na sua
missão.
Consagração religiosa é a plenitude da consagração baptismal, em que é levado às
últimas consequências a configuração com Cristo, assumindo o Seu modo histórico de vida
inteiramente para Deus e para os homens.
- Seguimento de Jesus Cristo:
A consagração a Deus que o religioso vive, traduz-se em assumir existencialmente o
quadro humano de vida desprendida e humilde que Ele escolheu, que culminou no
despojamento da cruz, seguindo e imitando o Seu estilo de vida, numa entrega total e perpétua
à causa do Reino de Deus.
- Fidelidade criativa:
A vida religiosa nasce no interior da Igreja, é parte da Igreja e é para a Igreja: não
existe por si nem para si, mas sim em função da missão que Cristo confiou à Igreja.
A sua fidelidade a Cristo é, assim, indissociável da fidelidade à Igreja, e a Igreja conta
com ela e dela necessita como “tropa de choque” para as missões mais difíceis. Daí que a sua
fidelidade seja criativa, no sentido de ser capaz de introduzir as reformas e mudanças no seu
interior que a projectem e capacitem para a acção missionária da Igreja sobre o mundo,
segundo as directivas do Vaticano II.
- Identidade teologal da vida consagrada:
Consagrar é invadir e ser invadido pelo divino, criar uma relação íntima com Deus: a
vida consagrada decorre, assim, da acção divina, e consiste na entrega total a Deus que se
realiza mediante a configuração com Cristo, assumindo o Seu modo de vida terrena,
desprendido e humilde até ao despojamento total, em resposta a um prévio convite de Deus,
que gratuitamente concede o dom de viver ainda mais próximo de Cristo.
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UNIDADE DIDÁCTICA 2
Exercício 1
Reflecte sobre os n.º 17, 18, e 19 da Vita Consecrata e exprime brevemente as
relações da vida consagrada com cada Pessoa da SS Trindade.
A vocação à vida consagrada é uma iniciativa do Pai, que chama aqueles que escolhe a
um seguimento pleno e exclusivo, para o Seu serviço – desígnio de salvação – propondo-lhes
a escuta do Filho, a Quem apresenta como modelo de seguimento: despojado da Sua condição
divina, totalmente entregue ao Pai a Quem obedeceu e se entregou com total confiança. O
desejo da resposta a este chamamento é suscitado pelo Espírito Santo, que guia o crescimento
desse anseio, faz amadurecer a resposta e sustenta a sua realização.
Exercício 2
Depois de ler os números 20, 21, e 22 da Vita Consecrata e o tema 1 desta unidade
didáctica: explica qual a origem e o fim dos conselhos evangélicos.
Os conselhos evangélicos têm origem divina: são um dom divino que a Igreja recebeu
do Senhor, e estão fundamentados nas palavras e na vida de Jesus Cristo, que os viveu como
dimensão constitutiva do Seu projecto de vida.
Foram e significaram, na vida de Cristo, a demonstração do Seu amor total à causa do
Reino de Deus, ou seja, foram a forma de viver inteiramente para Deus e para os homens,
pelos quais tornou presente já neste mundo os bens definitivos.
Na vida dos que O seguem radicalmente – os consagrados na profissão religiosa – os
conselhos evangélicos são fundamentalmente o mesmo que foram para Cristo: expressão de
total amor a Deus e aos homens.
Pela prática dos conselhos evangélicos, os consagrados revelam a elevação do Reino
de Deus sobre tudo o que é terreno e as maravilhas que a graça do Senhor realiza no homem.
“São a afirmação clara da primazia absoluta de Deus e da absoluta transcendência do Reino,
presença neste mundo dos bens definitivos, prefiguração e experiência da vida eterna e da
ressurreição gloriosa”.
Pela castidade, manifestam o dom da própria vida e o valor da misteriosa fecundidade
espiritual; pela pobreza, confessam que Deus é a única riqueza do homem; pela obediência,
manifestam a graça libertadora da dependência filial e não servil; e pela via fraterna, em
comunidade, revelam a família que Deus quer formar com a humanidade redimida.
Exercício 3
Explica cada um dos conselhos evangélicos a partir de um texto do NT.
no céu” – Mt 22, 30. A doação total a todos exclui, implicitamente, a doação exclusiva a uma
pessoa, própria do casamento.
2 – Pobreza: Mt 19, 21-25. “...vende tudo, dá aos pobres, depois segue-Me; o jovem
saiu pesaroso, pois era muito rico; ...um rico dificilmente entrará no Reino dos céus”.
Confiança absoluta no Pai, que até sobre os lírios do campo e as aves do céu
providenciará – Lc 12, 22-31; viver para os outros, partilhando com eles do que se possui;
liberdade e desprendimento para seguir, sem empecilhos, o chamamento do Mestre, o que os
bens materiais dificultam, pois “onde está o tesouro, aí estará também o coração” – Lc 12, 34.
3. Obediência: Jo 5, 30: não procuro a minha vontade, mas a daquele que me enviou;
Heb 10, 9: eis que eu vim para fazer a tua vontade.
O único critério de vida é a vontade do Pai, que se acolhe com docilidade filial e total
submissão, na absoluta confiança do Seu plano salvífico.
Exercício 4
Compara o livro de texto com os n.ºs 12, 13, e 14 do decreto Perfectae Caritatis do
Concílio Vaticano II e define o conteúdo de cada um dos três votos religiosos.
Exercício 5
Explique brevemente:
* Que é necessário para que o estado religioso, além de ser teológico, seja canónico?
O estado religioso, como estado de vida, é ontológico na Igreja, ou seja, pertence à sua
estrutura interior, não foi a Igreja que o criou, pois que ele nasce de Cristo: é teológico.
A Igreja, porém, ao reconhecer oficial e publicamente, através da hierarquia e de toda
a comunidade, a dimensão constitutiva deste estado teológico, converte-o em estado canónico,
e então, no âmbito da sua autoridade, a Igreja “interpreta os conselhos evangélicos, regula
com leis a sua prática e determina as formas estáveis de os viver...” - can. 576.
UNIDADE DIDÁCTICA 3
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Exercício 1
Realize um esquema do sentido da comunidade religiosa como filiação e fraternidade.
Com o Baptismo em Cristo tornámo-nos filhos de Deus – filiação – e tal implica que
sejamos todos irmãos – fraternidade – sendo a Igreja o sinal desta comunhão de Deus com os
homens, e dos homens entre si.
Viver em comunhão com Deus – eixo vertical da filiação – e em comunhão com os
homens – eixo horizontal da fraternidade – é uma realidade fundamental do ser cristão.
Uma das formas de viver essa realidade é a comunidade religiosa, que nasce de uma
chamada de Deus, e como forma de viver o seguimento a Cristo, Ele que formou a primeira
comunidade religiosa, com os doze, e de que as comunidades apostólicas se transformaram
em paradigma: participavam na oração comum, tinham um só coração e uma só alma, e
punham em comum os seus bens. Esta é a forma concreta de viver a vocação de seguir
radicalmente o Mestre.
Deus é o princípio e o fim de toda a comunhão, e Cristo o seu mediador pelo Espírito
Santo, que guia a comunidade para a plena comunhão e unidade, pelo que, tendo nEle origem
a comunidade religiosa, esta é uma realidade teologal e trinitária, onde se realiza a experiência
de Deus: adoração, procura e expressão de fé.
Só a fé explica aquele tipo de vida comunitária: pessoas diferentes, sem laços de
sangue, vivem em celibato, nada possuindo em propriedade, servindo uns aos outros,
obedecendo à vontade de Deus.
Desta relação (comunhão) com Deus – filiação – surge, como a outra face da medalha,
a relação (comunhão) com os membros da comunidade – fraternidade – que os religiosos são
chamados a viver, convertidos, desse modo, em sinal preclaro da Igreja, ela própria sinal da
fraternidade entre os homens, preanunciando a glória celeste.
Sendo, a comunidade, imitação do mistério de Deus Trinitário, as relações entre os
seus membros haverão de ser o reflexo das relações de amor entre as pessoas da Trindade:
doação e entrega mútua que, de muitos, faz a unidade da comunidade.
Só Cristo cria a fraternidade. Se os membros da comunidade são irmãos, são-no em
Cristo e através de Cristo. Assim, o outro, não é um qualquer, mas sim um irmão redimido
por Cristo.
A comunidade religiosa é, aqui e agora, uma réplica da primitiva comunidade
apostólica de Jerusalém que, pela proximidade no tempo e no espaço, do que foi a vida
terrena de Jesus Cristo, é o paradigma do Reino de Deus já neste mundo: relações fraternas
em que, mais forte que os laços do sangue, são os laços espirituais da família reunida em
nome de Deus; em que os bens materiais são lugar de encontro com Deus e os irmãos, através
da partilha conforme as necessidades de cada um; em que a liberdade de cada um e o
exercício da autoridade são instrumentos do serviço aos irmãos.
Esta vivência fraternal, fundamentada nos conselhos evangélicos, é testemunho
profético dos valores fundamentais do Evangelho: pela castidade consagrada, o amor total de
Deus ao homem; pela pobreza, a verdadeira riqueza do homem que é Deus; pela obediência, a
verdadeira liberdade que só se alcança com a submissão à vontade de Deus.
Exercício 2
Explique que diferenças existem entre “vida fraterna em comunidade” e “vida
comum”.
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A comunidade tem objectivos, conforme o seu carisma próprio, lança mão de meios
para os alcançar, e elabora os seus projectos.
Todos os membros da comunidade são co-responsáveis na elaboração dos projectos
comunitários, e todos haverão de assumir e participar co-responsavelmente na sua realização.
Porém, elemento ontologicamente constitutivo de qualquer comunidade é a ordem e
disciplina – o governo – sob pena de a comunidade deixar de o ser para se transformar num
aglomerado amorfo de pessoas. Isso importa a existência de alguém que exerça a autoridade,
para bem da própria comunidade e da Igreja.
Esse é o Superior a quem cabe, no “exercício do poder recebido de Deus, mediante o
ministério da Igreja” – can. 618 – dinamizar a comunidade na obtenção dos seus objectivos,
guiar espiritualmente e acompanhar os seus membros, ouvindo-os de bom grado e
promovendo a sua obediência voluntária, prover convenientemente às suas necessidades
pessoais, tratar e visitar com solicitude os doentes, corrigir os inquietos, consolar os
pusilâmines, e para com todos ser paciente – can. 619.
Exercício 4
Explique brevemente a importância do silêncio na vida espiritual dos consagrados e
descreva as formas de silêncio que há. Qual te parece mais necessária?
O silêncio é o caminho que conduz ao encontro de si próprio, que conduz “ao deserto
onde se fala ao coração” Ose 2,16.
Implica sair de, e ir para; deixar para trás, e esquecer o que se deixou. É um caminho
de emigrante, para um novo destino.
O silêncio é, enfim, um estado de alma, uma expressão de vida, onde se capta o som
da interioridade, no qual se faz ouvir a voz de Deus.
Este é o silêncio interior, aquele que efectivamente permite o encontro consigo
próprio, condição para o encontro com Deus, a única razão de ser do silêncio.
Como “meio instrumental” para alcançar este silêncio interior, existe o silêncio
exterior, o silêncio ambiental, e daí a retirada do bulício do mundo, a clausura com maior ou
menor rigor, em função do carisma de cada instituto, propiciador do clima de silêncio que
permita a oração, a celebração litúrgica a Lectio Divina, o trabalho e a relação fraterna.
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Como instrumental do silêncio interior, o silêncio exterior não passará disso mesmo,
exterioridade, se o membro da comunidade não efectuar, ele próprio, a caminhada para o seu
interior.
Exercício 5
Descreva como se entende a clausura na vida monástica e contemplativa.
Exercício 6
* Explique o que é Lectio Divina.
UNIDADE DIDÁCTICA 4
Exercício 1
Compare estes modelos históricos da vida consagrada:
*O monacato
*As ordens mendicantes
*As congregações de vida apostólica
*Os institutos seculares
Exercício 2
Descreve o que são as estruturas de governo
Há ainda órgãos colegiais com função legislativa, conhecidos por Capítulos – Capítulo
Geral, com a autoridade suprema no Instituto, a quem compete, entre outras funções, eleger o
Superior Geral – can. 631 – cabendo ao direito próprio de cada instituto determinar as
matérias da competência de outros capítulos – can. 632.
O que me é dado constatar, como leigo, é que a generalidade dos (nossos) cristãos não
tem noção alguma do significado teologal da Vida Consagrada. Se algum apreço têm por ela,
é tão somente numa perspectiva utilitária, na medida em que “as freiras” ensinam catequese às
crianças, e cuidam dos “velhinhos”.
Por isso entendo que, numa perspectiva eclesial, há mais premência que esta Cadeira
seja estudada mais por leigos, 1 que por religiosos – estes já conhecerão, ex officio, o seu
conteúdo – principalmente pelos que detêm alguma responsabilidade pastoral na Igreja:
catequistas, professores de Educação Moral, etc
A nova evangelização da Europa, rectius, do mundo ocidental, passa pelo
revigoramento da Vida Consagrada, na medida em que ela, por si só, é já um testemunho dos
valores evangélicos e uma denúncia dos pseudo-valores da sociedade moderna
Aos “três inimigos da alma” – mundo, demónio e carne – (o poder, a riqueza e o
prazer), Cristo contrapõe a obediência, pobreza e castidade.
Numa cultura hedonista que reduz a sexualidade a objecto de consumo e prazer,
degradando o acto que, no plano do Criador, é símbolo e realização de doação e gerador de
vida, a castidade consagrada testemunha a força criadora do amor de Deus e a misteriosa
fecundidade espiritual da total doação a Deus e aos homens.
Numa cultura materialista, egoísta e idólatra do dinheiro, exploradora dos mais débeis,
a pobreza evangélica, anunciando Deus como a verdadeira riqueza do homem, responde com
o empenhamento activo na solidariedade com pobres.
Numa cultura que sacraliza a liberdade e absolutiza o poder e o domínio sobre os
outros, que associa obediência e submissão à perda da dignidade humana, a obediência
evangélica desvenda o mistério da liberdade humana que só se alcança com a submissão à
vontade de Deus, e revela o verdadeiro sentido do governo como serviço aos irmãos.
Estes são os testemunhos necessários para reevangelizar o ocidente, e o mundo carece
mais de testemunhos do que de pregações.
Mas, enquanto a comunidade eclesial, onde nascem e se desenvolvem as vocações à
Vida Consagrada, desconhecer, na generalidade, o sentido e significado teologal desta
vocação constitutiva da Igreja, não haverá resposta bastante ao chamamento do Espírito.
Daí, a necessidade de formação dos leigos com responsabilidades pastorais. O estudo
desta Cadeira seria uma bela oportunidade de o conseguir.
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Da referência à necessidade de este tema ser estudado por leigos, não haverá que concluir-se que não careça de
o ser também por uma boa percentagem de Padres seculares.