Teologia Da Vida Consagrada

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Transcrição, em letra de forma, dos “manuscritos” da PAD

Custódio Matos Costa


Aluno n.º 21

TEOLOGIA DA VIDA CONSAGRADA

UNIDADE DIDÁCTICA 1

Exercício 1
Leia o n.º 14 da Vita Consecrata e explique qual é o fundamento da vida consagrada.

O fundamento da vida consagrada é o estilo de vida que Jesus Cristo estabeleceu com
alguns dos seus discípulos, a quem, após o convite, que foi aceite, de acolherem o Reino de
Deus, convidou também para deixarem tudo e O seguirem mais de perto, imitando a Sua
forma de vida, pela causa do Reino de Deus. “Eis que nós deixamos tudo e Te seguimos...” -
Mt 19, 27
A todos é feito o convite para acolher o Reino de Deus. Quando aceite, responde-se-
lhe com o recebimento do Baptismo. Porém, a alguns dos seus discípulos, é agora formulado
um novo convite a “colocarem a própria existência ao serviço desta causa, deixando tudo e
imitando mais de perto a Sua forma de vida”: responde-se-lhe com a consagração da vida, na
sua totalidade, levando às últimas consequências o compromisso aceite no Baptismo de seguir
a Cristo, que agora se faz radicalmente, ao ponto de viver como Ele viveu – em comunidade,
castidade, pobreza e obediência, totalmente entregue a Deus e aos homens.

Exercício 2
O n.º 13 da LG fala das diferentes vocações que são constitutivas do Povo de Deus.
Explique brevemente cada uma delas e como se relacionam entre si.

São três as vocações constitutivas da Igreja (Povo de Deus):


- Pastoral: tem por objectivo o exercício do ministério sagrado, na sua tríplice função
de ensinar, santificar e governar, e é efectuado pelos Bispos, Presbíteros e Diáconos, sob a
superintendência suprema do Papa.
- religiosa: tem por objectivo estimular os irmãos com o seu exemplo, manifestar, com
a sua consagração, os bens celestes já presentes neste mundo, testemunhar a vida nova e
eterna e preanunciar a ressurreição futura e a glória do reino celeste (LG 44).
- laical: tem por objectivo procurar o Reino de Deus tratando das realidades temporais
e ordenando-as segundo Deus, consagrando a Deus o próprio mundo.
A evangelização é tarefa de toda a Igreja, mas para a levar a cabo é necessária a
realização de diversas funções evangelizadoras. Para cada uma delas o Espírito chama
(vocação), entre os seus fiéis, os membros que bem entende, a quem concede os dons
específicos ao desempenho da respectiva função, para bem de todos (de toda a Igreja), por
forma que todos estão ao serviço da (missão da) Igreja, que é prolongar e tornar efectiva – no
tempo e no espaço – a missão que Cristo iniciou na Sua vida terrena: implantar o Reino de
Deus.
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Exercício 3
Leia o n.º 44 da LG; explique a natureza da vida consagrada e diga a quem pertence
dentro da Igreja

A vida consagrada é um estado de vida que consiste numa consagração total e


definitiva a Deus, que se manifesta no seguimento a Cristo e se realiza na comunidade da
Igreja.
Consagrado já pelo Baptismo, a vida consagrada supõe uma nova chamada do fiel
cristão, uma nova graça, uma nova consagração, pois é uma nova configuração a Cristo no
seu modo histórico de vida humana inteiramente para Deus e para os homens, manifestada no
celibato, pobreza e obediência, inserida no mistério da Igreja, de que se torna um dos seus
elementos configurantes.
A vida consagrada é um facto carismático, não criado pela autoridade eclesiástica mas
surgido na Igreja por obra e graça do Espírito Santo. Pertence, por isso, à estrutura interior da
Igreja, à sua vida e santidade, que a recebe, reconhece, acolhe, sustem e envolve. Sem a vida
consagrada a Igreja não seria a Igreja que Cristo instituiu.

Exercício 4
Define os seguintes conceitos:

- Vocação religiosa:
Dom concedido por Deus a alguns dos fiéis cristãos, pelo qual Deus se propõe ser o
seu tudo, cuja resposta é a sua consagração total e perpétua a Deus, que se realiza no
seguimento radical a Jesus Cristo, seguindo mais de perto o Seu modo de vida terrena – em
celibato, pobreza e obediência – e inserida na comunidade eclesial.
- Consagração baptismal e consagração religiosa:
Consagração baptismal é a configuração com Jesus Cristo, na Sua condição filial e
fraterna, pela qual se fica a pertencer a Cristo, incorporado na Sua Igreja e participante na sua
missão.
Consagração religiosa é a plenitude da consagração baptismal, em que é levado às
últimas consequências a configuração com Cristo, assumindo o Seu modo histórico de vida
inteiramente para Deus e para os homens.
- Seguimento de Jesus Cristo:
A consagração a Deus que o religioso vive, traduz-se em assumir existencialmente o
quadro humano de vida desprendida e humilde que Ele escolheu, que culminou no
despojamento da cruz, seguindo e imitando o Seu estilo de vida, numa entrega total e perpétua
à causa do Reino de Deus.
- Fidelidade criativa:
A vida religiosa nasce no interior da Igreja, é parte da Igreja e é para a Igreja: não
existe por si nem para si, mas sim em função da missão que Cristo confiou à Igreja.
A sua fidelidade a Cristo é, assim, indissociável da fidelidade à Igreja, e a Igreja conta
com ela e dela necessita como “tropa de choque” para as missões mais difíceis. Daí que a sua
fidelidade seja criativa, no sentido de ser capaz de introduzir as reformas e mudanças no seu
interior que a projectem e capacitem para a acção missionária da Igreja sobre o mundo,
segundo as directivas do Vaticano II.
- Identidade teologal da vida consagrada:
Consagrar é invadir e ser invadido pelo divino, criar uma relação íntima com Deus: a
vida consagrada decorre, assim, da acção divina, e consiste na entrega total a Deus que se
realiza mediante a configuração com Cristo, assumindo o Seu modo de vida terrena,
desprendido e humilde até ao despojamento total, em resposta a um prévio convite de Deus,
que gratuitamente concede o dom de viver ainda mais próximo de Cristo.
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UNIDADE DIDÁCTICA 2

Exercício 1
Reflecte sobre os n.º 17, 18, e 19 da Vita Consecrata e exprime brevemente as
relações da vida consagrada com cada Pessoa da SS Trindade.

A vocação à vida consagrada é uma iniciativa do Pai, que chama aqueles que escolhe a
um seguimento pleno e exclusivo, para o Seu serviço – desígnio de salvação – propondo-lhes
a escuta do Filho, a Quem apresenta como modelo de seguimento: despojado da Sua condição
divina, totalmente entregue ao Pai a Quem obedeceu e se entregou com total confiança. O
desejo da resposta a este chamamento é suscitado pelo Espírito Santo, que guia o crescimento
desse anseio, faz amadurecer a resposta e sustenta a sua realização.

Exercício 2
Depois de ler os números 20, 21, e 22 da Vita Consecrata e o tema 1 desta unidade
didáctica: explica qual a origem e o fim dos conselhos evangélicos.

Os conselhos evangélicos têm origem divina: são um dom divino que a Igreja recebeu
do Senhor, e estão fundamentados nas palavras e na vida de Jesus Cristo, que os viveu como
dimensão constitutiva do Seu projecto de vida.
Foram e significaram, na vida de Cristo, a demonstração do Seu amor total à causa do
Reino de Deus, ou seja, foram a forma de viver inteiramente para Deus e para os homens,
pelos quais tornou presente já neste mundo os bens definitivos.
Na vida dos que O seguem radicalmente – os consagrados na profissão religiosa – os
conselhos evangélicos são fundamentalmente o mesmo que foram para Cristo: expressão de
total amor a Deus e aos homens.
Pela prática dos conselhos evangélicos, os consagrados revelam a elevação do Reino
de Deus sobre tudo o que é terreno e as maravilhas que a graça do Senhor realiza no homem.
“São a afirmação clara da primazia absoluta de Deus e da absoluta transcendência do Reino,
presença neste mundo dos bens definitivos, prefiguração e experiência da vida eterna e da
ressurreição gloriosa”.
Pela castidade, manifestam o dom da própria vida e o valor da misteriosa fecundidade
espiritual; pela pobreza, confessam que Deus é a única riqueza do homem; pela obediência,
manifestam a graça libertadora da dependência filial e não servil; e pela via fraterna, em
comunidade, revelam a família que Deus quer formar com a humanidade redimida.

Exercício 3
Explica cada um dos conselhos evangélicos a partir de um texto do NT.

O mais completo “texto” sobre os conselhos evangélicos é a própria vida de Cristo, o


Verbo, a plenitude da Palavra, que viveu a virgindade, pobreza e obediência como dimensões
constitutivas do Seu projecto de vida e de existência: amor total e imediato, divino e humano,
ao Pai e aos homens; confiança absoluta no Pai e total disponibilidade para a missão que se
propunha; e submissão filial à vontade do Pai.
Não obstante, passagens há no NT que expressamente nos falam deles:
1- Virgindade (Celibato, castidade consagrada a Deus): Mt 19, 10-12. Só aqueles a
quem foi concedido tal dom, “se fizeram eunucos por causa do Reino dos Céus”, ou seja,
amam a Deus e aos homens todos, com o mesmo amor de Cristo, criando já neste mundo a
fraternidade universal própria da outra, que não se fundamenta nos sentidos e relações
humanas, “onde nem eles se casam nem elas se dão em casamento, mas são todos como anjos
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no céu” – Mt 22, 30. A doação total a todos exclui, implicitamente, a doação exclusiva a uma
pessoa, própria do casamento.
2 – Pobreza: Mt 19, 21-25. “...vende tudo, dá aos pobres, depois segue-Me; o jovem
saiu pesaroso, pois era muito rico; ...um rico dificilmente entrará no Reino dos céus”.
Confiança absoluta no Pai, que até sobre os lírios do campo e as aves do céu
providenciará – Lc 12, 22-31; viver para os outros, partilhando com eles do que se possui;
liberdade e desprendimento para seguir, sem empecilhos, o chamamento do Mestre, o que os
bens materiais dificultam, pois “onde está o tesouro, aí estará também o coração” – Lc 12, 34.
3. Obediência: Jo 5, 30: não procuro a minha vontade, mas a daquele que me enviou;
Heb 10, 9: eis que eu vim para fazer a tua vontade.
O único critério de vida é a vontade do Pai, que se acolhe com docilidade filial e total
submissão, na absoluta confiança do Seu plano salvífico.

Exercício 4
Compara o livro de texto com os n.ºs 12, 13, e 14 do decreto Perfectae Caritatis do
Concílio Vaticano II e define o conteúdo de cada um dos três votos religiosos.

1 – Castidade: Como qualquer cristão, rectius, como qualquer pessoa, estão os


religiosos obrigados ao cumprimento da castidade decorrente dos 6.º e 9.º mandamentos da
Lei, mas agora tal obrigação alcança uma particular firmeza e significado em razão do voto de
castidade emitido na profissão religiosa.
O específico do voto de castidade dos religiosos reporta-se à renúncia ao matrimónio
e/ou constituição de qualquer tipo de relação familiar decorrente da maternidade/paternidade
biológica ou social, na medida em que este estado de vida, pela exigência ontológica de mútua
doação total dos cônjuges, e obrigação natural do cuidado dos filhos, é incompatível com a
total entrega a Deus realizada na total entrega a todos os homens. O voto de castidade, mais
que uma renúncia, é a libertação do coração para, simultaneamente, poder viver inteiramente
para Deus e para os homens.
2 – Pobreza: A verdadeira riqueza é o tesouro no céu.
O instinto da propriedade, o fascínio do dinheiro e dos bens materiais, com a ilusão de
que neles está a felicidade, põe em causa aquele tesouro. Pelo voto de pobreza, o religioso
renuncia à propriedade dos bens, e ao que daí decorre – administração em nome próprio, livre
disposição, etc. – e ao apego às coisas materiais e conforto exagerado, ao modo dos ricos
deste mundo, vivendo modestamente do seu trabalho, e partilhando o pouco de que dispõe
com quem menos ainda tem.
3 – Obediência: A liberdade será, por ventura, o maior e mais profundo anseio do
homem. Ser livre, não ter que se submeter a outrem, está de tal modo implantado no homem,
que foi por aí que entrou o pecado na humanidade – Gen 3, 1-5.
Com o voto de obediência, o religioso despoja-se da sua vontade, colocando-se
inteiramente na mão de Deus, representado pelos seus superiores, e seja qual for o seu
projecto, por mais válido que lhe pareça, só terá validade após aprovação dos superiores
legítimos.

Exercício 5
Explique brevemente:

* Que diferenças há entre conselho e voto:


Conselho (evangélico) é a proposta que Cristo faz a alguns dos Seus discípulos para O
seguirem radicalmente, imitando-O no Seu estilo de vida terrena – totalmente entregue ao Pai,
em Quem confiou e a Quem obedeceu absolutamente, por amor aos homens. Esse estilo de
vida terrena é, em Cristo, ontológico, faz parte da Sua vida e missão.
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Essa decisão radical de seguir a Cristo, manifesta-se na opção de viver,


permanentemente, como Ele, em celibato, pobreza e obediência, por amor a Deus e aos
homens, ou seja, na opção de um estado de vida fundado nessa Sua proposta. Porém essa
opção, sendo pessoal e íntima, não é secreta, pelo contrário, manifesta-se no exterior, com a
profissão religiosa – voto – pelo qual o religioso ratifica solene, pública e definitivamente,
perante a Igreja que assim o recebe, o seu compromisso de seguir radicalmente a Cristo.

* Que é necessário para que o estado religioso, além de ser teológico, seja canónico?
O estado religioso, como estado de vida, é ontológico na Igreja, ou seja, pertence à sua
estrutura interior, não foi a Igreja que o criou, pois que ele nasce de Cristo: é teológico.
A Igreja, porém, ao reconhecer oficial e publicamente, através da hierarquia e de toda
a comunidade, a dimensão constitutiva deste estado teológico, converte-o em estado canónico,
e então, no âmbito da sua autoridade, a Igreja “interpreta os conselhos evangélicos, regula
com leis a sua prática e determina as formas estáveis de os viver...” - can. 576.

* Quando é perpétua a profissão? A que obriga?


A consagração religiosa é doação total: a pessoa toda, por todo o tempo. A
perpetuidade é a totalidade no tempo. Se não é perpétua, não é total. Não há doação total a
prazo, com termo à vista.
Tratando-se porém de assumir num momento da vida um compromisso para toda a
vida, o religioso haverá de ter capacidade, no momento em que o emite, de assumir todas as
obrigações que dele derivam, para ser válido e significante o voto perpétuo.
Essa capacidade só existe se houver total liberdade, id est, exclusão de qualquer tipo
de coacção – sem violência, medo grave ou dolo, can. 656, 4.º – e plena motivação teológica,
ou seja, exclusão de quaisquer motivações puramente humanas.
Para garantir esses requisitos de validade, o candidato a professo passa por um período
de formação e provação: noviciado entre um e dois anos – can. 648 §1 e §3 – a que se segue
profissão temporal dos votos, por um período mínimo de três e máximo de seis anos – can.
655 – com prorrogação até um máximo de nove anos – can. 657, §2 – e maioridade de vinte e
um anos – can. 658, 1.º.
Preenchidos estes requisitos, é válida a profissão perpétua, emitidos que sejam
publicamente os votos, verbal e explicitamente, e recebidos pela Igreja representada pelo
Superior legítimo – can. 657. 5.º - : o professo tem capacidade de, e quer, livre e com alegria,
renunciar a tudo que o possa impedir de assumir o estado de vida resultante do
chamamento/resposta a seguir radicalmente a Cristo, vivendo o Seu estilo de vida terrena, em
celibato, pobreza e obediência, propter regnum coelorum.

UNIDADE DIDÁCTICA 3
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Exercício 1
Realize um esquema do sentido da comunidade religiosa como filiação e fraternidade.

Com o Baptismo em Cristo tornámo-nos filhos de Deus – filiação – e tal implica que
sejamos todos irmãos – fraternidade – sendo a Igreja o sinal desta comunhão de Deus com os
homens, e dos homens entre si.
Viver em comunhão com Deus – eixo vertical da filiação – e em comunhão com os
homens – eixo horizontal da fraternidade – é uma realidade fundamental do ser cristão.
Uma das formas de viver essa realidade é a comunidade religiosa, que nasce de uma
chamada de Deus, e como forma de viver o seguimento a Cristo, Ele que formou a primeira
comunidade religiosa, com os doze, e de que as comunidades apostólicas se transformaram
em paradigma: participavam na oração comum, tinham um só coração e uma só alma, e
punham em comum os seus bens. Esta é a forma concreta de viver a vocação de seguir
radicalmente o Mestre.
Deus é o princípio e o fim de toda a comunhão, e Cristo o seu mediador pelo Espírito
Santo, que guia a comunidade para a plena comunhão e unidade, pelo que, tendo nEle origem
a comunidade religiosa, esta é uma realidade teologal e trinitária, onde se realiza a experiência
de Deus: adoração, procura e expressão de fé.
Só a fé explica aquele tipo de vida comunitária: pessoas diferentes, sem laços de
sangue, vivem em celibato, nada possuindo em propriedade, servindo uns aos outros,
obedecendo à vontade de Deus.
Desta relação (comunhão) com Deus – filiação – surge, como a outra face da medalha,
a relação (comunhão) com os membros da comunidade – fraternidade – que os religiosos são
chamados a viver, convertidos, desse modo, em sinal preclaro da Igreja, ela própria sinal da
fraternidade entre os homens, preanunciando a glória celeste.
Sendo, a comunidade, imitação do mistério de Deus Trinitário, as relações entre os
seus membros haverão de ser o reflexo das relações de amor entre as pessoas da Trindade:
doação e entrega mútua que, de muitos, faz a unidade da comunidade.
Só Cristo cria a fraternidade. Se os membros da comunidade são irmãos, são-no em
Cristo e através de Cristo. Assim, o outro, não é um qualquer, mas sim um irmão redimido
por Cristo.
A comunidade religiosa é, aqui e agora, uma réplica da primitiva comunidade
apostólica de Jerusalém que, pela proximidade no tempo e no espaço, do que foi a vida
terrena de Jesus Cristo, é o paradigma do Reino de Deus já neste mundo: relações fraternas
em que, mais forte que os laços do sangue, são os laços espirituais da família reunida em
nome de Deus; em que os bens materiais são lugar de encontro com Deus e os irmãos, através
da partilha conforme as necessidades de cada um; em que a liberdade de cada um e o
exercício da autoridade são instrumentos do serviço aos irmãos.
Esta vivência fraternal, fundamentada nos conselhos evangélicos, é testemunho
profético dos valores fundamentais do Evangelho: pela castidade consagrada, o amor total de
Deus ao homem; pela pobreza, a verdadeira riqueza do homem que é Deus; pela obediência, a
verdadeira liberdade que só se alcança com a submissão à vontade de Deus.

Exercício 2
Explique que diferenças existem entre “vida fraterna em comunidade” e “vida
comum”.
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A vocação cristã, dirigida a todos, é uma chamada a viver em comum, a viver em


fraternidade, em comunidade. É uma dimensão ontológica do ser-se cristão. Esta vida comum
tem diversas manifestações externas de realizar-se, segundo a vocação que Deus faz a cada
um. Uma das formas de viver em comum, é a família, que tem a sua génese no casamento,
que é uma vocação de Deus.
Outra forma de viver em comum, é a “vida fraterna em comunidade”, que “nasce”
também de uma vocação de Deus, vida esta que tem de específico viver em comunhão, sim,
mas imitando a forma histórica que Jesus viveu com os Doze, ou seja, o modo de viver
radicalmente o seguimento de Jesus, nas estruturas de pobreza, castidade e obediência,
procurando pôr em prática o ideal da primeira comunidade de Jesus com os Doze, e que as
comunidades apostólicas protagonizaram: um só coração e uma só alma, ninguém
considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum – Act 4, 32 –
cujo centro e “motor” era a assiduidade ao ensino dos apóstolos, à comunhão fraterna, à
eucaristia e à oração – Act 2, 42 – e que encontra expressão nas diversas formas canónicas de
viver o estado de vida consagrada.
Exercício 3
Descreva a função do Superior e a da comunidade na animação comunitária.

A comunidade tem objectivos, conforme o seu carisma próprio, lança mão de meios
para os alcançar, e elabora os seus projectos.
Todos os membros da comunidade são co-responsáveis na elaboração dos projectos
comunitários, e todos haverão de assumir e participar co-responsavelmente na sua realização.
Porém, elemento ontologicamente constitutivo de qualquer comunidade é a ordem e
disciplina – o governo – sob pena de a comunidade deixar de o ser para se transformar num
aglomerado amorfo de pessoas. Isso importa a existência de alguém que exerça a autoridade,
para bem da própria comunidade e da Igreja.
Esse é o Superior a quem cabe, no “exercício do poder recebido de Deus, mediante o
ministério da Igreja” – can. 618 – dinamizar a comunidade na obtenção dos seus objectivos,
guiar espiritualmente e acompanhar os seus membros, ouvindo-os de bom grado e
promovendo a sua obediência voluntária, prover convenientemente às suas necessidades
pessoais, tratar e visitar com solicitude os doentes, corrigir os inquietos, consolar os
pusilâmines, e para com todos ser paciente – can. 619.

Exercício 4
Explique brevemente a importância do silêncio na vida espiritual dos consagrados e
descreva as formas de silêncio que há. Qual te parece mais necessária?

O silêncio é o caminho que conduz ao encontro de si próprio, que conduz “ao deserto
onde se fala ao coração” Ose 2,16.
Implica sair de, e ir para; deixar para trás, e esquecer o que se deixou. É um caminho
de emigrante, para um novo destino.
O silêncio é, enfim, um estado de alma, uma expressão de vida, onde se capta o som
da interioridade, no qual se faz ouvir a voz de Deus.
Este é o silêncio interior, aquele que efectivamente permite o encontro consigo
próprio, condição para o encontro com Deus, a única razão de ser do silêncio.
Como “meio instrumental” para alcançar este silêncio interior, existe o silêncio
exterior, o silêncio ambiental, e daí a retirada do bulício do mundo, a clausura com maior ou
menor rigor, em função do carisma de cada instituto, propiciador do clima de silêncio que
permita a oração, a celebração litúrgica a Lectio Divina, o trabalho e a relação fraterna.
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Como instrumental do silêncio interior, o silêncio exterior não passará disso mesmo,
exterioridade, se o membro da comunidade não efectuar, ele próprio, a caminhada para o seu
interior.

Exercício 5
Descreva como se entende a clausura na vida monástica e contemplativa.

A clausura é o “instrumento” da construção do silêncio e do ambiente propício a criar


a clausura interior, ou seja, o controle dos sentidos, da imaginação e do coração, essenciais ao
recolhimento, à vida de oração e união com Deus.
A vida monástica nasceu do desejo da procura da perfeição evangélica livre dos
perigos do mundo, pelo que a separação do mundo é como que inerente à vida monástica e
contemplativa. A primeira legislação universal sobre clausura de monjas é do Sec XIII – até
aí havia tão somente recomendações – e reportou-se praticamente ao sector feminino da vida
contemplativa, até ao CIC de 1983 que, no can. 667, regula as várias modalidades de clausura,
tanto para religiosos como religiosas.

Como valora e mantém a clausura o n.º 16 da Perfectae Caritatis?


O n.º 16 da PCh prevê dois tipos de clausura:
- clausura papal, rigorosa, segundo as normas da Sé Apostólica, para os mosteiros de
monjas de vida integralmente contemplativa, no entanto devidamente adaptada ao tempo e
lugar, com supressão dos costumes obsoletos.
- clausura constitucional – clausura segundo as próprias constituições – para as
demais religiosas. Por razões de pastoral externa, são estas dispensadas da clausura papal,
bastando-se com a clausura adaptada ao seu caracter próprio, prevista nas constituições do
Instituto.

Exercício 6
* Explique o que é Lectio Divina.

Lectio Divina é a leitura atenta, reverente e assídua da Palavra de Deus contida na


Bíblia, durante a qual o crente escuta a voz de Deus que se dirige a ele pessoalmente, a colhe,
interioriza e assimila progressivamente, entrando em diálogo com Deus que, como amigo, se
dá a conhecer, pelo diálogo, e se faz convidar para “entrar em sua casa e cear com ele”.

* Realize um esquema dos momentos da Lectio Divina.

1. – leitura: momento do silêncio de adoração e de escuta obediente. O Espírito Santo


inspirou o hagiógrafo, mas o destinatário é quem lê. Ele continua a falar a quem lê a
Escritura. Escutar o Espírito para saber o que Ele diz através daquele texto.
2. – meditação: após a escuta, segue-se a meditação sobre o que se ouviu (leu): que diz
o texto para mim, na situação concreta em que me encontro?
3. – oração: perante o que Deus me diz, qual a minha resposta, que digo eu agora a
Deus? Deus não se limita a falar, como quem dá um recado desinteressado, mas quer entrar
em diálogo, faz-se convidado para “entrar na minha casa e cear comigo”. A oração é o
momento em que acontece o diálogo com a minha resposta à interpelação de Deus.
4. – contemplação: pelo diálogo, passo a conhecer o interlocutor. Perante “Beleza tão
antiga e tão nova” (S.to Agostinho, Confissões), só o silêncio de quem contempla embevecido
a pessoa amada é capaz de responder ao dom concedido, para passar a ver a amar a realidade
com os olhos e o coração de Quem Se dá a conhecer.
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*Defina cada uma das formas da oração contemplativa.

1. Oração litúrgica – oração realizada em nome da Igreja, enquanto membros do


Corpo Místico. Cristo está sempre presente na Sua Igreja, sendo a liturgia “o exercício da
função sacerdotal de Jesus Cristo, na qual se significa e opera a santificação dos homens, e se
exerce íntegro o culto público a Deus, pelo Corpo Místico de Jesus Cristo, Cabeça e
membros” – can. 834 §1.
2. Oração contemplativa pessoal – meditação – tem como fundamento a Lectio
Divina, pois que o seu objecto é o mistério da fé. É da Sagrada Escritura que o crente recebe a
luz que dá sentido à vida.
3. Contemplação mística – consciência da presença viva e activa de Deus na alma,
consciência da gratuitidade do amor de Deus, que provoca sentimentos de admiração e
reconhecimento: “Tarde Te amei, formosura tão antiga e tão nova, tarde Te amei! E eis que
Tu estavas dentro de mim, e não fora. Tu estavas comigo,...tocaste-me e em tua paz me
abrasei”. S.to Agostinho, Confissões.
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UNIDADE DIDÁCTICA 4

Exercício 1
Compare estes modelos históricos da vida consagrada:
*O monacato
*As ordens mendicantes
*As congregações de vida apostólica
*Os institutos seculares

- Monacato: é o primeiro modelo de vida consagrada organizado. Surge no Oriente,


nos finais do Sec. III, com o egípcio S.to António, o “pai dos monges”, e encontrou em S.
Pacómio o seu primeiro legislador, que estruturou o cenobitismo (koinos+bios), ou vida em
comunidade: igualdade entre os monges, predomínio de leigos, independência dos cenóbios,
clausura e vida de contemplação e trabalho manual. Os monges procuravam o silêncio e o
isolamento, afastados do mundo, e conheceu grande desenvolvimento como reacção ao perigo
da secularização após a paz constantiniana. No Ocidente, floresceu graças a S. Bento e a sua
Regra, em que sintetizou a espiritualidade monástica precedente, à luz da qual se estruturou a
nova sociedade europeia dos Sec. VII ao XII.
- Ordens mendicantes– a reforma Gregoriana do Sec. XI “produziu” um novo tipo de
vida religiosa: exigência de conversão, prática da fraternidade (frades), pobreza evangélica
(vivem da mendicidade ), evangelização itinerante, ministério da Palavra, oração assídua em
comunhão também com o povo. O seu testemunho é no mundo directamente entre os homens.
Expressão máxima destas Ordens, os Franciscanos e os Dominicanos.
- Congregações de Vida Apostólica – Sec. XVI, sociedades religiosas voltadas para a
vida activa, para a missão apostólica. Procuram respostas novas para as novas exigências
sócio-religiosas: pregações, catequese aos hereges, educação da juventude, ensino popular,
abertura de escolas tendencialmente gratuitas, assistência sanitária, missões e uso dos meios
de comunicação social com finalidade apostólica. Partilham com as ordens religiosas a
finalidade genérica do estado religioso, mas não são monges nem frades. Emitem os três
votos, vivem em comunidade, mas não se regem por Regras mas sim por Constituições.
Expressão máxima desta nova forma de vida religiosa, os Jesuítas, ou Companhia de Jesus.
- Institutos seculares – uma nova resposta da Igreja às novas questões do mundo do
Sec. XX, cujo carisma “inspirou” uma das linhas mestras do Vaticano II: a presença de Igreja
no mundo, plasmada na GS. É seu carisma a procura da perfeição cristã no mundo e a vida
apostólica a partir das estruturas do mundo, ou seja, ser ao mesmo tempo, leigos e
consagrados a Deus no mundo, sendo seus elementos essenciais a consagração, a secularidade
e o compromisso apostólico. Tiveram o seu reconhecimento eclesial com a constituição
Provida mater ecclesia de 2 de Fevereiro de 1947, de Pio XII.

Exercício 2
Descreve o que são as estruturas de governo

Da estrutura dos Institutos de Vida Religiosa fazem parte diversas circunscrições em


que se dividem as partes integrantes da Instituição, e entre estas, a comunidade local que
“deve habitar uma casa legitimamente constituída” – can. 608 – e a província, que é um
conjunto de várias casas que constitui uma parte imediata do mesmo instituto – can. 621.
As estruturas do governo são os órgãos que exercem o poder executivo em cada uma
destas estruturas. Em cada uma haverá um superior com conselho próprio – can. 627 §1 – e
um ecónomo que administre os bens sob a direcção do Superior respectivo – can. 636 §1.
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Há ainda órgãos colegiais com função legislativa, conhecidos por Capítulos – Capítulo
Geral, com a autoridade suprema no Instituto, a quem compete, entre outras funções, eleger o
Superior Geral – can. 631 – cabendo ao direito próprio de cada instituto determinar as
matérias da competência de outros capítulos – can. 632.

Comentários e sugestões do aluno:

O que me é dado constatar, como leigo, é que a generalidade dos (nossos) cristãos não
tem noção alguma do significado teologal da Vida Consagrada. Se algum apreço têm por ela,
é tão somente numa perspectiva utilitária, na medida em que “as freiras” ensinam catequese às
crianças, e cuidam dos “velhinhos”.
Por isso entendo que, numa perspectiva eclesial, há mais premência que esta Cadeira
seja estudada mais por leigos, 1 que por religiosos – estes já conhecerão, ex officio, o seu
conteúdo – principalmente pelos que detêm alguma responsabilidade pastoral na Igreja:
catequistas, professores de Educação Moral, etc
A nova evangelização da Europa, rectius, do mundo ocidental, passa pelo
revigoramento da Vida Consagrada, na medida em que ela, por si só, é já um testemunho dos
valores evangélicos e uma denúncia dos pseudo-valores da sociedade moderna
Aos “três inimigos da alma” – mundo, demónio e carne – (o poder, a riqueza e o
prazer), Cristo contrapõe a obediência, pobreza e castidade.
Numa cultura hedonista que reduz a sexualidade a objecto de consumo e prazer,
degradando o acto que, no plano do Criador, é símbolo e realização de doação e gerador de
vida, a castidade consagrada testemunha a força criadora do amor de Deus e a misteriosa
fecundidade espiritual da total doação a Deus e aos homens.
Numa cultura materialista, egoísta e idólatra do dinheiro, exploradora dos mais débeis,
a pobreza evangélica, anunciando Deus como a verdadeira riqueza do homem, responde com
o empenhamento activo na solidariedade com pobres.
Numa cultura que sacraliza a liberdade e absolutiza o poder e o domínio sobre os
outros, que associa obediência e submissão à perda da dignidade humana, a obediência
evangélica desvenda o mistério da liberdade humana que só se alcança com a submissão à
vontade de Deus, e revela o verdadeiro sentido do governo como serviço aos irmãos.
Estes são os testemunhos necessários para reevangelizar o ocidente, e o mundo carece
mais de testemunhos do que de pregações.
Mas, enquanto a comunidade eclesial, onde nascem e se desenvolvem as vocações à
Vida Consagrada, desconhecer, na generalidade, o sentido e significado teologal desta
vocação constitutiva da Igreja, não haverá resposta bastante ao chamamento do Espírito.
Daí, a necessidade de formação dos leigos com responsabilidades pastorais. O estudo
desta Cadeira seria uma bela oportunidade de o conseguir.

Aveiro, 13 de Abril de 2002


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(Custódio Matos Costa)

1
Da referência à necessidade de este tema ser estudado por leigos, não haverá que concluir-se que não careça de
o ser também por uma boa percentagem de Padres seculares.

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