Helder Amaral - Dissertação - Revisto - Final
Helder Amaral - Dissertação - Revisto - Final
Helder Amaral - Dissertação - Revisto - Final
Lisboa
2018
Helder Amaral Arquitetura Moderna no Lobito: importância e perspetivas de preservação
Lisboa
2018
Dedicatória
Agradecimentos
Este trabalho representa a conclusão de uma etapa importante no meu percurso académico,
a qual não teria sido possível sem o apoio e ajuda dos meus familiares e amigos. Por isso,
aproveito deixar aqui o meu Muito Obrigado.
Agradeço especialmente:
Aos meus pais, Henrique Pedro e Vanaquissa Jonico, pelo apoio incondicional, compreensão
e por acreditarem sempre em mim;
À minha querida tia Chinha, com quem partilhei morada e esteve sempre comigo durante a
minha formação, sem esquecer a Dona Lena e Dona Nené por me receberem de braços
abertos quando cheguei à Lisboa.
Aos meus colegas de curso que estiverem sempre comigo, Arlindo Carlos, Ivanildo Lino,
Marco Branquinho e Sidney Antunes, pelo contributo dado das mais diversas formas.
Resumo
O presente trabalho tem por objetivo debater os valores e as formas de preservação dos
edifícios modernistas da cidade do Lobito, de forma a contribuir para a preservação e
divulgação do património arquitetónico moderno presente nessa cidade, com destaque para
as obras do arquiteto Francisco Castro Rodrigues. Para esse efeito, é feito um enquadramento
sobre importância da arquitetura moderna no mundo e são abordados os esforços que as
organizações internacionais, como a UNESCO, e não governamentais, como o DOCOMOMO,
têm realizado para um melhor reconhecimento e compreensão deste património.
Abstract
The aim of this work is to discuss the values and forms of preservation of the modernist
buildings of the city of Lobito, in order to contribute to the preservation and dissemination and
preservation of the modern architectural heritage present in this city, with Highlight for the
works of the architect Francisco Castro Rodrigues. For this purpose, a general framework is
made of the importance of modern architecture in the world and the efforts that international
organizations such as UNESCO, and non-governmental organizations such as the
DOCOMOMO, have carried out for a better knowledge and Understanding of this heritage.
In Angola, although there are public institutions and appropriate legislation that act in the
awareness of the preservation and disclosure of the national architectural heritage, it is still
observed, in view of its historical proximity, a great lack of interest on the part of many
responsible actors and of the population, in the protection and appreciation of buildings built in
the mid-twentieth century. Still, despite an important breakthrough in the field of inventory and
identification on modernist architecture in Angola, there is still a better promotion of information
that arouses attention from the general public to its values. The preservation of this heritage is
justified in order not to deprive future generations of knowledge of this period in the history of
Angolan architecture, which, as demonstrated in this work, is deeply linked to the history of
world architecture, notably Europe and Brazil.
The architectural heritage inherent in the modern movement in Angola is of Portuguese origin,
but it has the peculiarity of showing a generation of architects who find their freedom, who did
not have in Portugal, to experience new concepts and Constructive techniques. The new
impetus for the development of the country are currently causing potential dangers of
demolition of the modernist buildings in the center of the city of Lobito, despite its historical
and artistic relevance. To reverse this framework, it is urgent to affirm the patrimonial value of
these buildings and to associate them with the history of Angola, defining, complementary
mechanisms that propitiate the safeguard and promotion of the architectural heritage of the
twentieth century.
This work aims at last to contribute to the best knowledge and dissemination of the modern
architectural heritage of the city of Lobito.
Abreviaturas e símbolos
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (United
Nations Educational, Scientific and Cultural Organization)
Índice
DEDICATÓRIA....................................................................................................................... 3
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................... 4
RESUMO.............................................................................................................................. 5
ABSTRACT ........................................................................................................................... 6
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 12
CONCLUSÃO...................................................................................................................... 98
Índice de Figuras
Figura 27. Castro Rodrigues apresentando o Plano da Cidade do Lobito, s.d; Fonte: (Milheiro,
2009). .................................................................................................................................. 63
Figura 28. Capa do catálogo da exposição sobre “Arquitetura Moderna Brasileira”, 1961; Fonte:
(Milheiro, 2008). ................................................................................................................... 64
Figura 29. Aerogare do Lobito, 1956; Fonte: (Fonte, 2007).................................................. 65
Figura 30. Igreja do Sumbe, 1966; Fonte: (Bonito, 2011). .................................................... 66
Figura 31. – Igreja do Sumbe. Aspeto do interior, 1966; Fonte: (Bonito, 2011). ................... 66
Figura 32. Localização dos edifícios em estudo, Lobito; Fonte [adaptado a partir de]: (Microsoft,
2017). .................................................................................................................................. 69
Figura 33. Bloco habitacional universal. Anteprojeto do edifício, piso rés do chão, 1957. Fonte:
Arquivos da Administração Municipal do Lobito. .................................................................. 70
Figura 34. Bloco habitacional universal. Estudo da fachada apresentado no anteprojeto. Fonte:
Arquivos da Administração Municipal do Lobito. .................................................................. 70
Figura 35. Bloco habitacional universal. Estudo de volumes do edifício. Fonte: Arquivos da
Administração Municipal do Lobito....................................................................................... 71
Figura 36. Bloco habitacional universal. Planta do piso 0, onde estão localizados os espaços
de comércio e serviços. Fonte: Arquivos da Administração Municipal do Lobito. ................. 71
Figura 37. Bloco habitacional universal, vista a partir da Praça Patrice Lumumba; Fonte: Autor.
............................................................................................................................................ 72
Figura 38. Bloco habitacional Universal. Fonte: (Oliveira, 2008). ......................................... 73
Figura 39. Bloco habitacional universal. Planta do piso 1, destinado a escritórios. Fonte:
Arquivos da Administração Municipal do Lobito. .................................................................. 73
Figura 40. Bloco habitacional universal. Planta dos pisos 2, 3. Fonte: Arquivos da
Administração Municipal do Lobito....................................................................................... 74
Figura 41. Bloco habitacional universal. Planta dos pisos 4, 5, 6. Fonte: Arquivos da
Administração Municipal do Lobito....................................................................................... 74
Figura 42. Cine-esplanada Flamingo. Estrutura que funcionava como cobertura de
sombreamento; Fonte: (Oliveira, 2008). ............................................................................... 76
Figura 43. Cine-esplanada Flamingo. Planta Geral, onde se percebem todos equipamentos
de apoio existentes e as paredes ondulantes que limitam o espaço. Fonte: Arquivos da
Administração Municipal do Lobito....................................................................................... 77
Figura 44. Cine-esplanada Flamingo. Corte, onde é perceptível a cabine de projeção
levantada do solo. Fonte: Arquivos da Administração Municipal do Lobito. ......................... 77
Figura 45. Cine-esplanada Flamingo. Vista aérea. .............................................................. 78
Figura 46. Cine-esplanada Flamingo. Pormenor da estrutura do betão e da cabine de projeção;
Fonte: Autor. ........................................................................................................................ 79
Importa referir as seguintes obras que tiveram grande importância para a realização deste
trabalho: Arquitectura Moderna em África: Angola e Moçambique (2014) da autora Ana
Tostões; Geração Africana: Arquitectura e Cidades em Angola e Moçambique 1925-1975,
(2009) do autor José Manuel Fernandes; Nos Trópicos sem Le Corbusier (2012) da autora
Ana Vaz Milheiro; Moderno Tropical Arquitectura em Angola e Moçambique, 1948-1975 (2009),
da autora Ana Magalhães; Arquitecturas de Luanda (2010) dos autores Isabel Martins, Maria
Este trabalho divide-se em quatro capítulos que por sua vez são compostos por subcapítulos:
o primeiro é dedicado ao enquadramento do tema em debate; o segundo aborda o
Modernismo na cidade do Lobito; o terceiro é dedicado aos casos de estudo, e o último
apresenta pistas para o Futuro, que podem ser traduzidas como linhas de trabalho.
Capítulo 1 Enquadramento
O Modernismo ou Movimento Moderno, foi a corrente artística da última década do século XIX
e princípios do século do XX, que surgiu na Europa com o propósito de proporcionar nas artes
uma nova identidade, desligando-se dos estilos do passado, e os temas clássicos, da
arquitetura, da pintura e da escultura, de forma a ser aplicada em vários campos da produção
económica e tecnológica, em busca de uma funcionalidade e com aspiração de se formar
numa linguagem internacional ou europeia e ser praticada com criatividade e liberdade.
1 É uma escola de design, artes plásticas e arquitetura de vanguarda que funcionou entre 1919 e 1933 na
Alemanha, foi uma das maiores e mais importantes expressões de que é chamado Modernismo no design do
mundo. Um dos seus principais objetivos era unir artes, artesanato e tecnologia. A máquina era valorizada, e a
produção industrial e o desenho básico, fundamental em escolas de arquitetura por todo mundo.
2 Arquiteto francês, foi uma das figuras de maior destaque da arquitetura moderna, dedicou grande parte de sua
vida não só na arquitetura e o urbanismo, mas também na escultura e pintura. Os seus contributos no mundo
arquitetónico proporcionaram grandes inovações que permitiram-lhe ganhar mérito e admiração da comunidade
internacional.
3Arquiteto americano e também escritor de ascendência galesa iniciou a sua carreira, trabalhando com Louis
Sullivan (1856 – 1924), um dos pioneiros em arranha-céus da Escola de Chicago. Responsável por muitos projetos,
Wright influenciou os rumos da arquitetura moderna com suas ideias e obras.
4 Estilo Internacional ou International Style é um estilo arquitetónico da arquitetura moderna enquadrado dentro do
funcionalismo arquitetónico, que propunha uma forma de projetar universal desprovido de características regionais.
5 Foi uma escola da arquitetura moderna influenciada pelas ideias de Frank Lloyd Wright, que se desenvolveu ao
redor do mundo. Wright dizia que uma arquitetura orgânica significava uma sociedade orgânica e que o ideal era
um edifício integral com o contexto.
Estas fontes tão diversas encontraram nos CIAM’s (Congresso Internacional de Arquitetura
Moderna)6, meios de convergência, procurando uma homogeneidade na formulação de um
ideário através da definição de pontos comuns. Com a criação da noção de que os princípios
da arquitetura moderna seguiam uma linha única e coesa, tornou-se mais fácil a sua
divulgação e reprodução pelo mundo, homogeneizando assim, um conjunto de vertentes
essencialmente europeias, que foram seguidas por vários arquitetos, das mais variadas
escolas e tendências. A primeira e mais clara característica foi a rejeição, por parte dos
modernos, das ideias formais do passado e aversão à ideia de estilo, e colocando a arquitetura
na vanguarda dos processos de desenvolvimento económico e social da cidade, ligando-a à
criação de novos espaços e de uma nova imagem para a sociedade moderna. (Pereira, 2011)
É possível identificar três principais linhas evolutivas nas quais se pode encontrar a criação
da Arquitetura Moderna. O que une essas três linhas é o facto de que elas terminam naquilo
que se designa por Movimento Moderno na Arquitetura, considerado o ponto alto de uma
trajetória histórica que convergiu na arquitetura realizada na maior parte do século XX.
(Coelho & Odebrecht, 2007)
A primeira dessas origens é a que leva em consideração que o ideário arquitetónico moderno
está absolutamente ligado ao projeto da modernidade e, em particular, à visão do mundo
6Era uma Organização importante através da qual se comunicavam internacionalmente ideais sobre arquitetura
moderna que serviam para manter uma rede internacional de arquitetos progressistas. Foi iniciada em 1928, cada
congresso abordava questões especificas, nomeadamente as preocupações sociais da arquitetura e o urbanismo,
publicando documentos que registam os assuntos debatidos.
7Foi um arquiteto alemão naturalizado americano, considerado um dos principais nomes da arquitetura do século
XX, foi professor da Bauhaus e um dos precursores do Estilo Internacional, onde deixou a marca de uma arquitetura
que prima pelo racionalismo, pela utilização de uma geometria clara e pela sofisticação.
8Considerado Pai dos Arranha-Céus, foi um importante arquiteto modernista. Incorporou o ornamento em novos
edifícios em altura, para enfatizar a verticalidade de suas obras.
iluminista. Essa linha localiza o momento de início na arquitetura realizada com as inovações
tecnológicas obtidas com a Revolução Industrial e com diversas propostas urbanísticas e
sociais realizadas por teóricos como os socialistas utópicos e os partidários das cidades-
jardins. Segundo esta interpretação, o problema estético é secundário: o moderno tem muito
mais a ver com uma causa social que com uma causa estética. (Coelho & Odebrecht, 2007)
A segunda linha leva em consideração as alterações que se deram nos diversos momentos
do século XIX relativamente à definição e teorização da arte e do seu papel na sociedade.
Esta interpretação dá especial destaque ao movimento Arts & Crafts9 e ao Art Noveau10 de
uma forma geral, consideradas visões de um mundo que, ainda que presas às formas e
conceitos do passado, de alguma forma propunham novos caminhos para a estética do futuro.
(Coelho & Odebrecht, 2007)
A terceira linha, normalmente a mais comum entendida como sendo a base do modernismo,
é a que afirma que a arquitetura moderna surge justamente com a criação do movimento
moderno, sendo as interpretações anteriores apenas consequências desta forma de
pensamento. A Arquitetura Moderna surge, portanto, com as profundas transformações
estéticas propostas pelas vanguardas artísticas das décadas de 1910 e 1920, em especial o
Cubismo11, o Abstracionismo12, com destaque para os estudos realizados pela Bauhaus e
pela vanguarda russa e o Construtivismo13. (Coelho & Odebrecht, 2007)
A Arquitetura Moderna internacional teve grandes nomes de referência, entre eles destacam-
se: Mies van der Rohe, Frank Lloyd Wright e Le Corbusier.
Mies Van der Rohe procurou sempre uma abordagem racional que pudesse guiar o processo
do projeto arquitetónico. Na sua conceção dos espaços arquitetónicos envolvia uma profunda
purificação da forma, voltada sempre às necessidades impostas pelo lugar, segundo o seu
9Movimento estético surgido em Inglaterra, na segunda metade do século XIX, defendia o artesanato criativo como
alternativa à mecanização e à produção em massa e pregava o fim da distinção entre o artesão e o artista. Buscava
uma arquitetura autêntica com valores morais puros.
10É um estilo internacional de arquitetura e de artes decorativas, que foi muito apreciado de 1890 até os anos de
1920. Foi mais popular na Europa, mas a sua influência foi global. Foi o primeiro movimento a regenerar o
historicismo em arquitetura, e teve uma grande importância para a emancipação intelectual e estilística rumo à
arquitetura moderna. Inspirava-se nas novas formas da natureza, e propunha inovações na forma por meio da
leveza e delicadeza e com grande expressividade dos elementos.
11Movimento artístico que surgiu no século XX, nas artes plásticas, que se caracteriza pela utilização das formas
geométricas, como cubos, triângulos e retângulos, para retratar a natureza.
12Foi um movimento artístico vanguardista em que a representação da realidade é feita de maneira desconstruída,
com o uso de cores, linhas e formas abstratas.
13Foi um movimento estético-político iniciado na Rússia a partir de 1919, como parte do contexto dos movimentos
de vanguarda no país, de forte influência na arquitetura e na arte ocidental. Ele negava uma arte pura e procurava
abolir a ideia de que a arte é um elemento especial da criação humana, separada do cotidiano.
princípio less is more (menos é mais). Foi professor da Bauhaus e foi um dos formadores do
estilo que ficou conhecido por International Style, onde deixou a marca de uma arquitetura
que prima pela clareza e aparente simplicidade. Os edifícios da sua autoria fazem uso de
materiais representativos da era industrial, como o aço, e o vidro, que estão presentes na
maioria das obras moderna. As grandes obras de referência de sua autoria são a Farnsworth
House [Fig. 2] e o Pavilhão Alemão da Feira Mundial de Barcelona [Fig. 3]. (Coelho &
Odebrecht, 2007) & (Pereira, 2011)
Frank Lloyd Wright, considerado um importante arquiteto do século XX, foi figura chave da
arquitetura orgânica, um desdobramento da Arquitetura Moderna que se opunha ao Estilo
Internacional Europeu. Wright distinguia-se por ter sempre a preocupação em criar harmonia
entre a natureza, a paisagem local e a luz natural com os seus projetos, recorria às formas
orgânicas e materiais locais, atuando de forma a produzir arquitetura que utilizasse novos
estudos e técnicas de construção, como adopção de grandes balanços. Também influenciou
os rumos da Arquitetura Moderna com suas ideias e obras. Seus principais trabalhos foram a
casa da Cascata [Fig. 4], e a sede do Museu Solomon R. Guggenheim [Fig. 5], em Nova
Iorque. (Coelho & Odebrecht, 2007) & (Pereira, 2011)
Entre as suas contribuições à formulação de uma linguagem arquitetónica para o século XX,
encontram-se os Cinco Pontos para uma nova arquitetura, tais como: a elevação do edifício
em pilotis – ao tornar as construções suspensas, cria-se uma nova relação entre o interior e
o exterior, ou seja, entre o observador e o morador; a fachada livre – sem paredes estruturais
visíveis; a planta livre – que resulta de um espaço fluído, é o resultado da utilização de um
sistema estrutural independente que permite a livre organização funcional e plástica,
possibilitando ambientes de diferentes dimensões e formas; o terraço-jardim – com o avanço
técnico do betão armado, seria possível aproveitar o ultimo piso do edifício como espaço de
lazer; e por fim a janela em comprimento – permite a visualização sem obstáculos da
envolvente, de acordo com a melhor orientação solar. Esses pontos marcaram profundamente
a produção arquitetónica moderna no mundo inteiro. Suas principais obras são a Villa Savoye
[Fig.6], na qual, conseguiu resumir os Cinco Pontos para uma nova arquitetura, e as Unidade
de Habitação de Marselha [Fig. 7], onde estabeleceu a prática da construção modular,
possibilitando ao arquiteto estudar as proporções humanas aplicadas ao projeto de
edificações. (Coelho & Odebrecht, 2007)
Figura 7. Unidade Habitacional de Marselha, Fonte: (Sbriglio, Le Corbusier: L' Unité d'habitation de Marseilles,
2004).
Em 1928, Le Corbusier contribuiu para a criação dos CIAM, que ocorreu no Chateu de La
Sarraz, na Suíça. O grupo original era constituído por 28 arquitetos europeus, aos quais se
foram juntando vários outros ao longo dos anos. Os CIAM realizaram-se onze vezes, com o
objetivo de estabelecer as premissas do Movimento Moderno, para divulgar a arquitetura
como uma ferramenta económica e política capaz de melhorar as condições dos edifícios e
do planeamento urbano por todo o mundo. Destaca-se o IVº Congresso, em 1933, onde foram
Estes materiais permitiram o desenvolvimento de novas formas de edificação, que por sua
vez respondiam também às novas necessidades de um mundo em modernização. Na mesma
ordem de ideias se pode referir que as diferenças climáticas foram progressivamente
atenuadas porque, quer os equipamentos, quer os materiais, foram desenvolvidos no sentido
de moderar o efeito das condições externas no interior dos edifícios. (Tostões, 2004)
O betão armado, como integrante de um novo sistema construtivo, começa assim a ser
utilizado pelos arquitetos, sendo-lhe reconhecido um valor cultural, assumindo um papel de
grande importância no modelo de linguagem plástica, que os modernistas perseguiam. A
utilização deste material, pela sua capacidade de ser um elemento modelador da forma,
permitia a construção de coberturas em terraço, grandes e variados vãos com extensos
envidraçados, e consequentemente volumes cúbicos e puros. (Pereira, 2011)
14A Carta de Atenas, instrumento doutrinário de planeamento urbano, foi redigida em 1933, e apenas publicada
em 1942. O documento divide-se em 5 temas principais: habitação, lazer, trabalho, circulação e património histórico
das cidades, que condicionam o desenho urbano e regem o planeamento das cidades. Estabelecendo quatro
funções chaves do urbanismo: habitar, trabalhar, recrear-se e circular.
15O Team X formou-se no quadro do CIAM, durante o Congresso de Dubrovnik, 1956. Era constituído por uma
nova geração de arquitetos que pretendia o rejuvenescimento dos CIAM no contexto do pós-guerra, propondo a
extinção dos CIAM em 1959.
Um dos grandes méritos da nova técnica de construção foi a eliminação da função da parede.
Estas deixaram de ser o elemento de apoio, fazendo com que o novo espaço de construção
transferisse toda a carga da estrutura para o elemento de aço ou betão. Assim, o papel das
paredes torna-se restrito ao de simples planos verticais de divisão. (Pereira, 2011)
Contudo, pode dizer-se que a arquitetura moderna surgiu como um resultado do progresso
da engenharia que, com a utilização dos novos materiais e técnicas, permitiu novas
possibilidades na construção, colocando em causa as velhas fórmulas arquitetónicas usadas
até aí. A construção passou, então, a centrar-se na simplicidade das formas, substituindo os
complexos ornamentos que haviam formado o paradigma arquitetónico durante grande parte
do século XIX.
Não há dúvida de que, nesta sociedade globalizada, parece um pouco estranho falar sobre a
importância desse legado e ainda mais problemático pensar em preservar essas obras
arquitetónicas respeitando as intenções dos seus autores e as suas características físicas.
Estamos diante de uma revolução cultural gerada pelo paradoxo do Movimento Moderno, que
abriu a porta a esse assunto tão discutido, tanto em termos teóricos como práticos, em torno
das principais questões de conservação e restauro, remodelação e transformação da
arquitetura do Movimento Moderno. (Casciato, 2008)
O desafio que a conservação gera é o confronto entre o estatuto de património (como bens
para transmitir às gerações futuras) numa sociedade que modificou a sua própria escala de
valores (por exemplo, a condição pós-colonial) como o contexto físico, económico e funcional.
Para conservar os meios, devemos reconhecer essas mudanças estruturais, ao invés de
tentar manter todo o património moderno em seu estado original. Assim, o objetivo passa por
se criar uma base de critérios levando em consideração todas as características significativas
da arquitetura moderna, respeitando as intenções do arquiteto, a sua relação com o tempo,
os materiais e o compromisso com a memória coletiva, enquanto permanece compatível com
o projeto de conservação ou restauro. (Casciato, 2008)
Os bens do património mundial estão cada vez mais ameaçados de destruição, não só pelas
causas naturais de decadência, mas também pela mudança das condições sociais e
económicas. Esta realidade foi uma das principais razões do início, em 2001, do Programa
sobre o Património Moderno, uma iniciativa conjunta do Centro do Património Mundial da
UNESCO, do ICOMOS e do DOCOMOMO. A fraca proteção legal e a indiferença do público
em geral tornam esse património particularmente desprotegido. (Bandarin, 2005)
A DOCOMOMO, foi criada na Holanda, em 1988, para se tornar uma pequena rede de
especialistas, principalmente europeus, sobre a conservação da arquitetura do Movimento
Moderno. Os estatutos da fundação desta organização logo consideraram que, para que o
passado recente fosse salvaguardado, deveriam ser reunidos os inventários nacionais ou
internacionais que documentassem quais os edifícios mais importantes a serem preservados
como elementos valiosos para as futuras gerações.
Preservar o Património Moderno significa lidar com edifícios e ambientes construídos que são
desprotegidos. Por um lado, parece ser difícil de assimilar os conceitos modernistas de
flexibilidade, funcionalidade e transitoriedade, por outro lado, o principal dilema é sobre como
preservar uma estrutura feita de detalhes experimentais, novos materiais e soluções de curto
prazo. Essas dificuldades têm sido realmente desafiadoras para práticas e teorias de restauro
convencionais, com base em suas próprias práticas de conservação. (Canziani, 2008)
Não há dúvida de que grande parte da arquitetura modernista pertence ao domínio da história,
às vezes mesmo antes de ser sido reconhecido por lei. Mas a questão que se coloca, é a
principal razão de um edifício moderno fazer parte do nosso Patrimônio Cultural. O sentimento
de pertença de um objeto ao Património Cultural requer um ato de reconhecimento
(consciente): o objeto participa na construção de nossa memória/história e, portanto, faz parte
da nossa identidade. Esse reconhecimento implica que aceitemos um reconhecimento
contemporâneo que dá ao objeto um novo presente. De edifícios únicos a paisagens,
passando por bairros e cidades, esses aspectos culturais intangíveis de um património
material assumem valores simbólicos específicos que contribuem para a memória coletiva.
Esse valor transcende qualquer intenção original. (Canziani, 2008)
16Criada em 1964, é uma Carta Internacional Sobre A Conservação e Restauro de Monumentos e Sítios, tem
como objetivo promover novos princípios para a preservação de edifícios históricos, criando o entendimento de
que um monumento histórico não é apenas importante individualmente, mas influencia todo seu contexto.
manter um estado de equilíbrio entre o projeto original e a nova intervenção. Ainda era uma
estratégia defensiva, onde a principal tarefa do restauro era realizar ações destinadas a parar
ou melhor limitar e diminuir o processo de degradação. O conceito contemporâneo de
Conservação, bem como o de Conservação Planeada, abrange as noções de compatibilidade
e sustentabilidade, identidade dinâmica e co-evolução entre o edifício e as necessidades dos
usuários. (Canziani, 2008)
Em 2014, a sede do DOCOMOMO International foi transferida para Lisboa, com o apoio
logístico do Instituto Superior Técnico e financeiro da Câmara Municipal de Lisboa, reforçando
a capitalidade da cidade de Lisboa, chamando a atenção internacional para a inovação da
arquitetura portuguesa contemporânea, colocando Portugal no centro das redes
internacionais mais ativas e assim afirmando o prestígio internacional de ter uma organização
com representação em mais de 70 países dos 5 continentes.
Figura 8. Cartaz do evento de lançamento do Docomomo International Portugal; Fonte: (International, 2015)
Longe da produção europeia, as colônias africanas criaram uma nova arquitetura que dá
forma a uma marca, a da Arquitectura Tropical 17 . Durante este período, pioneiros do
Movimento Moderno em África demonstraram como o projeto moderno podia ser interpretado,
17 O termo “arquitetura tropical”, é frequentemente associado a Maxwell Fry (?) e Jane Drew (?), graças à difusão
internacional da publicação Tropical Architecture in Humid Zones (1956) seguido de Tropical Architecture in Dry
and Humid Zones (1964). Distantes da produção europeia Fry e Drew conceberam uma nova arquitetura e deram
corpo a uma nova marca, a da arquitetura tropical: “Architecture in the Humid Zones é uma colaboração com a
natureza para estabelecer uma nova ordem em que os seres humanos possam viver me harmonia com o seu meio
envolvente”. Além disso, desempenharam um papel muito importante no desenvolvimento da questão de projetar
com clima.
Como no Brasil, o material construtivo de eleição nas colónias era o betão armado. As
soluções construtivas criadas para responder às exigências climáticas também puderam ser
copiadas, como os brise-soleil, para proporcionar sombreamento e ventilação. A união das
artes é outro aspeto em comum, podendo encontrar-se vários projetos africanos com obras
de artistas plásticos, como painéis de azulejos e esculturas. Por último, também em Angola e
Moçambique se pretendia ocupar o interior do território, como havia acontecido com Brasília.
Como se pode comprovar com a proposta, em 1948 – 49, do arquiteto Vasco Vieira da Costa
para o Plano para uma Cidade Satélite de Luanda, que seguia de perto os princípios da Carta
de Atenas e aprontava para o desenvolvimento de Luanda em direção ao interior. (Caldas,
2011)
Em 2014, foi criada a DOCOMOMO Angola. A cerimónia de apresentação [Fig. 10] realizou-
se em Luanda. Os objetivos dessa organização incluem a realização de pesquisas extensivas
que resultem numa compilação de um dossier onde serão divulgados todos edifícios
modernos de maior significância em Angola. A metodologia usada implica o levantamento de
várias tipologias, quer de equipamentos quer de habitação, seguida da identificação dos
arquitetos protagonistas, bem como a criação de estratégias para o seu inventário e
catalogação. A pesquisa basear-se-á nos cinco campos de estudos de análise arquitectónica,
urbanística e patrimonial previamente definidos. Este processo conta com a colaboração de
instituições como o INPC (Instituto Nacional do Património Cultural) e Instituições de Ensino
Superior.
18 Arquiteto português, naturalizado angolano, formou-se na Escola de Belas Artes do Porto (EBAP), como bolseiro
do Governo de Angola, foi um dos grandes precursores do Movimento Moderno em Angola, foi um dos grandes
pioneiros do urbanismo moderno em Portugal com o projeto para a cidade-satélite de Luanda, devido a ter
estagiado no escritório de Le Corbusier.
19 Era considerado o edifício que marcou o início da modernidade no país e um exemplo perfeito da interpretação
africana do modernismo europeu, feito com muita inteligência .
20Arquiteto português formado na Escola de Belas Artes de Lisboa (ESBAL), formou-se em 1955, no seu trabalho
defendeu o conceito de ventilação natural para África, após a conclusão partiu para Angola onde desenvolveu
projetos de escalas variadas, desde planos de urbanização a moradias.
21 Nascido em Luanda em 1929, frequentou o curso de arquitetura Na Escola de Belas Artes de Lisboa (ESBAL),
e formou-se em 1955, trabalhou no atelier de Le Corbusier. Regressou a Luanda em 1959 concorrendo à Câmara
Municipal como arquiteto urbanista. Grande defensor da arquitetura moderna, juntamente com outros profissionais
elaborou o Plano Diretor de Luanda.
Para reverter a crescente destruição do legado moderno angolano, é urgente afirmar o valor
patrimonial dos edifícios. Ao mesmo tempo, também é necessário definir um método de
intervenção que oriente a renovação do património arquitetónico do século XX em Angola.
Por essa razão, é obrigatório desenvolver uma ampla compreensão das técnicas modernas
de construção, materiais e sistemas passivos de controle ambiental. (Quintã, 2013)
Nas primeiras décadas de século XX, esta cultura estava vinculada a redes e vias de difusão
que, apesar de terem sido geradas no contexto das metrópoles do final do século XIX,
permitiram-lhe atingir um primeiro momento de esplendor nos anos que separam as duas
guerras europeias. O surgimento de uma ordem internacional, através da qual as intenções
colonialistas de construir uma verdadeira cultura apoiada nos meios de comunicação e
reprodução de informação e imagens, além da formação de grupos e instituições
internacionais, fizeram com que a arquitetura do Movimento Moderno se inserisse nesse
contexto. (Costa, 1997)
As obras e projetos realizados durante as décadas de 1920 e 1930 devem ser, inevitavelmente,
interpretados a partir do seu contexto cultural. Desta forma, observamos a arquitetura do
Movimento Moderno como algo inseparável da sua intenção de se auto-apresentar e difundir,
o que a distingue radicalmente da arquitetura de qualquer outro período. (Costa, 1997)
sob essa denominação foi, é e será objeto de estudo. Um estudo que já é histórico. O
DOCOMOMO foi constituído com o objetivo de promover o desenvolvimento desse estudo,
documentar essa arquitetura e aplicar-lhe os critérios de natureza patrimonial dirigidos à sua
conservação. (Escolano, 1997)
Nos vinte e cinco anos após a 2ª Guerra Mundial, Angola tornou-se num território fértil para o
início de novos projetos urbanísticos e arquitetónicos, de acordo com os princípios do
Movimento Moderno. Nos primeiros trabalhos desenvolvidos pelos arquitetos que se
deslocaram para o país no final da década 1940, percebe-se uma séria preocupação com as
condições adversas do clima quente e húmido característico do país.
em Portugal, serviu de grande motivação para aliciar quem se propusesse aí viver novas
experiências. (Fonte, 2007)
A década de 1950 foi reveladora e expressiva na procura de novas soluções, quer ao nível
dos grandes edifícios de equipamento colectivo quer ao das novas tipologias de habitação,
individual ou colectiva, valorizando-se sempre a relação entre o sítio e o seu clima, elemento
fundamental dos princípios modernos. O vocabulário moderno foi apreendido e interpretado,
mas também copiado fora da classe dos arquitetos, por desenhadores, engenheiros e até por
construtores civis. A clareza do discurso formal da arquitetura moderna alastrou-se
rapidamente aos vários atores do processo de construção. (Fonte, 2007)
A relação entre arquitetura e revolução tornou-se clara para muitos. Neste quadro, a afirmação
da arquitetura moderna foi encarada como um compromisso político, encarado como um meio
para resolver não só o problema da habitação, mas também para alargar a ação do desenho
urbano e ao planeamento do território. Este período constituiu um desafio extraordinário para
a geração africana, que não só teve a oportunidade de trabalhar de acordo com um sistema
baseado num discurso progressista, como também abraçou a conceção de obras de grande
escala. Motivados pela vastidão da paisagem africana, puderam acreditar que estavam
envolvidos na construção de um novo lugar, um novo mundo capaz de responder à ambição
de uma transformação progressista. (Tostões, 2014)
Figura 14. Guia e Bandeiras Oficias da Exposição, 1940; Fonte: (Leite, 2012).
22Estado Novo foi o regime político autoritário e autocrata de Estado que vigorou em Portugal durante 41 anos
sem interrupção, desde a aprovação da Constituição de 1933 até o seu derrube pela Revolução de 25 de Abril de
1974.
23A Exposição do Estado Português, que se realizou de 23 de Junho a 2 de Dezembro de 1940, foi um evento
realizado em Lisboa durante o regime do Estado Novo, com o propósito de comemorar simultaneamente as
datas da Fundação do Estado Português (1140) e da Restauração da Independência (1640), constitui-se na
maior de seu género realizada no país até à data.
As dificuldades sentidas nessa época, na transição dos anos de 1940-50, por esses
profissionais, foram inúmeras. A implantação das novas teorias urbanísticas segundo a Carta
de Atenas esbarrava com a enraizada prática oficial dos planos de urbanização, ainda
seguindo os modelos das “cidades-jardim” divulgados nos anos 1920-30. Contra este estado
de coisas, a luta da nova geração, na busca pelo ingresso no mercado de trabalho privado e
nas instituições públicas foi enorme, mas quase sempre processada com grande esforço e
uma enorme crença nos ideais do progresso social e tecnológico, com o propósito de expandir
os limites da sua arquitetura. (Fernandes, 2009)
Figura 17. Cine Esplanada Impala, Namibe, 1960; Fonte: (MariaNJardim, 2011).
Se a iniciativa privada funcionou como catalisador do projeto moderno, por outro lado, no caso
da encomenda dos organismos locais, da igreja ou das autarquias (na altura), por exemplo, o
carácter mais tradicional e historicista das instituições públicas dá lugar a uma crescente
abertura na aplicação do vocabulário moderno. Na linhagem da nova monumentalidade
defendida pelos arquitetos modernos do pós-guerra, a obra pública procura assim uma nova
relação com a cidade e ganha um sentido mais simbólico e humano. (Magalhães, 2016)
Figura 19. Igreja da Sagrada Família, Luanda, 1974; Fonte: (Patrício, 2013).
É precisamente ao longo da década de 1950 que se vai sentir em Angola e Moçambique uma
profunda diferença por comparação com as duas décadas anteriores. Os anos da guerra de
1939-45 e do pós-guerra foram de uma forte continuidade do urbanismo e da arquitetura,
segundo modelos tradicionalistas. Já nos inícios dos anos 50, uma nova fase, emergente e
dinâmica, surge com toda a evidência. Por um lado, dá-se gradualmente a transposição
cultural do conflito moderno-tradicional, no âmbito do urbanismo/arquitetura, da Europa para
África, por via da nova geração de arquitetos portugueses e luso-africanos, que procurava na
ida profissional para África um modo de afirmação de vida, com os seus ideais, propostas e
criatividade; por outro, é a própria iniciativa privada, geradora de uma renovada dinâmica
económica e social, que também aparece e procura afirmar os seus novos espaços, estruturas
e símbolos. (Fernandes, 2009)
Verificam-se assim duas situações distintas entre os arquitetos que optaram por ir à Angola
para aí exercerem suas atividades profissionais: os que escolheram este território para lá se
radicarem, integrando os Serviços de Obras Públicas, Monumentos Nacionais, Câmaras, ou
profissionais liberais que, sendo filhos de colonos, e que, por sua vez, já lá tinham nascido,
vinham fazer o curso a Portugal, acabando depois por regressar à sua terra, o que aconteceu
mais tarde, já nos anos 50, por exemplo Antonieta Jacinto e Fernão Lopes Simões de
Carvalho, que nasceram em Angola, vieram estudar a Lisboa, e regressaram a Angola para
lá trabalhar. (Fonte, 2007)
A integração dos arquitetos, na sua maioria jovens, que decidiram ir para Angola foi como
funcionários públicos nos órgãos do Governo ou nos municípios, quer em câmaras quer
mesmo na delegação das obras públicas, ou como profissionais liberais. No final, muitos deles
procurariam estar ligados à produção privada, mas em vários casos mantiveram a ligação
pública, desempenhando as duas atividades. Foi o caso de Francisco da Silva Dias, António
Campino, António Veloso, José Pinto da Cunha, João Luís Garcia de Castilho, João José
Tinoco (1924 – 1983) e Carlota Quintanilha, Francisco Castro Rodrigues (1920 – 2015) e
outros. (Fonte, 2007) & (Fernandes, 2009)
Pela mão dos arquitetos, alterou-se e reajustou-se o perfil e a imagem do território nacional,
quer ao serviço do Estado, quer da Administração Local ou até de particulares. Eles foram os
responsáveis por uma nova terra, com um novo carácter. Todos os agentes da transformação
do território foram relevantes, marcaram o registo de atuação e tiveram o seu papel neste
processo, mas aos arquitetos foi dado o papel da mudança da imagem e da forma como se
fazia a apropriação dos sítios. (Fonte, 2007)
Nos finais de 1944, foi criado em Lisboa, dependente do Ministério das Colónias 24 , um
organismo exclusivamente dedicado à execução de projetos de arquitetura e urbanismo, para
os territórios coloniais, o chamado Gabinete de Urbanização Colonial (GUC), mais tarde
denominado Gabinete do Ultramar. Sediado em Lisboa, este organismo, independentemente
das várias alterações da sua designação e do aparecimento, sobretudo em Angola e
Moçambique, durante a década de 1960 de outras estruturas com sede local ligadas ao
fomento de projetos arquitetónicos e ao planeamento urbano manteve-se em funcionamento
até a conquista da independência destes países e foi responsável por grande parte dos planos
de urbanização que tiveram um papel importante no processo de ocupação planificada e das
infraestruturas construídas entre 1944 e 1974. (Milheiro & Dias, 2009) & (Fonte, 2007)
24O Ministério das Colónias (1911-1951) foi departamento ministerial do Governo de Portugal que tinha como
responsabilidade a condução das políticas civis especificamente dirigidas aos territórios sob domínio colonial
português, incluindo a adaptação a esses territórios das políticas que no então território metropolitano da República
Portuguesa eram de outros ministérios.
para os principais centros, viria a desdobrar-se, dentro dos Serviços de Obras Públicas e na
Secção de Urbanização de cada província, mas na dependência técnica do gabinete central
para a tomada de decisões. Em 1950, cria-se uma delegação deste gabinete em Angola,
surgida da necessidade de proximidade entre o projeto e o sítio, para que daí resultasse um
conhecimento efetivo das situações. Este serviço funcionou em Luanda, sob a
responsabilidade do arquiteto Fernando Batalha (1908 – 2012). No Gabinete fez-se a maioria
dos planos de Urbanização para algumas das cidades do ultramar, bem como um grande
conjunto de projetos de obras públicas, nomeadamente escolas, hospitais, edifícios públicos,
religiosos e alguns edifícios de habitação elaborados a partir de 1948. (Fonte, 2007)
Embora se possa afirmar que o que moveu os arquitetos portugueses que viviam e
trabalharam nas colónias africanas foi o grande ideal do Movimento Moderno, a verdade é
que estas ideias foram temperadas pela experiência da construção da arquitetura moderna
no Brasil e de um modo geral de toda produção latino-americana. De facto, os necessários
dispositivos climatéricos estão já presentes em muitos diferentes tipos de estruturas
arquitetónicas, de edifícios de serviços a blocos de habitação social, desde que estes
arquitetos modernos chegaram a Angola. (Tostões, 2014)
Figura 20. Rádio Nacional de Angola, Luanda, 1967; Fonte: (Prado & Martí, s.d.).
A arquitetura produzida nesta fase, em Angola, teve uma nítida influência da prática
profissional de Lisboa e Porto. A situação cultural da metrópole ao longo das décadas de 1930
a 1970 vai-se refletir profundamente nas linguagens, gostos e estilos da arquitetura praticada
em Angola. Mesmo longe, de Portugal e especialmente da Europa, na distância e no modo
de vida, no urbanismo e arquitetura, essa distância não se refletia. Com efeito, encontra-se aí
a identificação de modelos europeus, nomeadamente o da cidade-jardim e um urbanismo
formal, ajustado à realidade angolana, onde as cidades e aglomerados eram pequenos
núcleos de génese espontânea. (Fernandes, 2009) & (Fonte, 2007)
De seguida é analisada a vida daquele que viria a ser considerado o “arquiteto do Lobito”.
Francisco Castro Rodrigues, figura de grande importância, quer por ser o autor do plano de
urbanização, quer por ter projetado vários tipos de edifícios, nomeadamente prédios
habitacionais, igrejas, equipamentos escolares e instalações industriais. A sua arquitetura foi
influenciada pela prática da arquitetura moderna brasileira e pelas ideias de Le Corbusier.
2.1 Importância
Lobito e Benguela são duas cidades vizinhas, unidas pela história comum do Caminho-de-
Ferro de Benguela (CFB), situadas cerca de 800 quilómetros a sul de Luanda, unidas por uma
longa estrada que corre junto à costa atlântica e liga Luanda ao Sul do país, em direção à
Namíbia. Benguela foi fundada em 1617, por decreto de Filipe II, tornando-se capital do Reino
de Benguela e, mais tarde, província. É uma cidade costeira e portuária, tendo a sua
localização sido por três princípios: respeitar as condições geográficas, económicas e políticas,
para a transformar num ponto estratégico para a conquista do Sul (Magalhães, 2009) & (Fonte,
2007).
Figura 21. Mapa atual da cidade do Lobito (orientado a Norte); Fonte: (Google, 2017).
Lobito é uma cidade onde se verificaram vários tipos de crescimento, na sua qualidade de
cidade costeira e da relação com o porto, e de cidade ligada ao caminho de ferro, com
reconhecido desenvolvimento económico, decorrente da sua situação geográfica. Acima de
tudo, por ser uma cidade moderna, registando-se o seu maior desenvolvimento a partir da
década de 1950, especialmente a partir da ida daquele que viria a ser considerado o arquiteto
do Lobito, Francisco Castro Rodrigues, que nela trabalhou até á década de 1980, já depois
da independência. (Fonte, 2007)
Figura 22. Anteprojeto do Porto Comercial e Cidade do Lobito, 1914; Fonte: (Fonte, 2007).
O nome do arquiteto Castro Rodrigues estará sempre associado ao Lobito, uma vez que partiu
para lá em 1953, para integrar a equipa de urbanismo da Câmara Municipal, e criar o Gabinete
do Plano. À sua chegada, confrontado com o sítio (uma cidade formada por um conjunto de
bairros afastados e não interligados, criando um “arquipélago”) e, acima de tudo, com o
desajuste do plano ao sítio (considerando os aspectos geográficos do local – em que a cidade
se organiza entre a Restinga, a Baía e o Morro, o que a torna particular), Castro Rodrigues
percebeu que a nova realidade com que se deparava exigia novas reflexões. (Fonte, 2007)
Figura 23. Planta da Cidade do Lobito e Arredores (desenho que serviu de base para a elaboração do Plano Diretor
da Cidade do Lobito), 1925; Fonte: (Fonte, 2007).
Figura 24. Vista aérea da cidade do Lobito, 1973; Fonte: (Vista aérea do Porto do Lobito , 2011).
Assim, recebeu a aprovação do GUC para alterar e ajustar o plano, na medida do possível.
As adaptações e ajustamentos foram muitos culminando com a introdução na ideia base de
trazer a cidade para Norte, para lá da barreira topográfica, o que constituiu, só por si, um
desafio ao entendimento sobre os limites da cidade e sua divisão social. (Fonte, 2007)
A urbanização da cidade, ao longo dos anos 1950 e 1970, revelou o facto de que o Lobito
constitui possivelmente a criação mais bela do urbanismo do século XX português em Angola.
De facto, no decorrer do processo urbanístico e arquitetónico da cidade, houve uma forte ação
municipal qualificadora, importante pela sua continuidade no tempo e pelos resultados
práticos obtidos. No plano arquitetónico, a qualidade das obras realizadas na cidade refletiu
e complementou a intervenção urbanística, com construções desde as infraestruturas ao
mobiliário, equipamentos e habitação.
Estava então definida a imagem da cidade moderna do Lobito, com praças amplas e
arborizadas grandes e largas avenidas de destaque, com hotéis, restaurantes e esplanadas,
bem como edifícios de funções administrativas. Também era possível encontrar estátuas de
figuras da história portuguesa.
Figura 25. Imagem moderna da cidade do Lobito, onde são visíveis edifícios administrativos, restaurantes,
avenidas e praças amplas, década de 1960; Fonte: (Oldpaperandmore, 2017).
Francisco Castro Rodrigues, no Lobito, a par de Pinto da Cunha, Silva Dias, Antonieta Jacinto
e Viera da Costa em Luanda, foi um verdadeiro percursor de um modelo de arquitetura e
urbanismo tropical moderno adaptado ao sítio e ao clima. Embora o modernismo por si só,
dentro da sua linguagem, aponte uma série de medidas que melhor se adaptam aos climas
tropicais, estes arquitetos ensaiaram-no aplicando-o aos condicionalismos da realidade
angolana. (Fonte, 2007)
A sua carreira profissional pode ser dividida em três fases: em Lisboa, entre 1946 e 1953, no
Lobito, entre 1953 e 1974 (assumindo os cargos de chefe de repartição, e depois de director
dos Serviços de Urbanização e Arquitectura na Câmara Municipal do Lobito), e por último, a
fase pós-independência, ainda no Lobito, trabalhando como funcionário público na construção
do Novo país, até 1988, quando regressa a Portugal. Este longo período africano é
interrompido apenas entre 1975 e 1976, quando Castro Rodrigues foge da Unita 25 para
Portugal, trabalhando nos gabinetes técnicos de apoio às autarquias locais, em Moura e Beja.
(Milheiro, 2009)
A sua fase em Lisboa corresponde também a um tempo de forte ativismo político, quer
enquanto membro da facção juvenil do MUD (Movimento de Unidade Democrática) quer como
militante do PCP (Partido Comunista Português), do qual se afasta precocemente em 1949.
Por ser um forte ativista político é preso no Aljube em 1947, o que o impossibilita de ocupar
um cargo público em Portugal. Esta atividade continua em Angola mantendo os seus ideais
políticos, onde será delegado de Humberto Delgado às eleições presidenciais de 1958.
(Milheiro, 2009)
Nesse período, Castro Rodrigues recebe as primeiras encomendas para território Africano.
Por indicação de Paulo Cunha e Costa Martins (1922 – 1996), faz parte de uma Missão à
Guiné, de que recorda projetos como a transformação de armazéns no palácio do Governador,
um museu, intervenções na Sé, residências para funcionários e um quartel para caçadores
locais em Gabu. Em parceria com João Simões (1908 – 1993) e Huertas Lobo (1914 – 1987),
desenvolve vários projetos ligados à realidade colonial, entre os quais; roça de café em São
Tomé e Príncipe; bloco de habitação na Praia (Cabo Verde); centro de saúde ampliável a
hospital de 50 camas para a Guiné (projeto tipo construído em Cabinda, Angola) bem como
ainda o conjunto residencial Casa Sol [Fig. 26], para o Lobito, em 1952. Produz alguns
números da revista Arquitectura, através das ICAT (Iniciativas Culturais Arte e Técnica),
participa ativamente no Iº Congresso Nacional de Arquitetos, em 1948, ainda como aprendiz,
escrevendo as teses “Do ensino ao exercício da profissão” e “O alojamento colectivo”,
expondo os seus ideais modernos, em colaboração com João Simões e Huertas Lobo.
(Milheiro, 2009)
Antes de partir para Angola, faz parte da comissão organizadora das exposições do IIIº
Congresso da UIA (União Internacional de Arquitetos), que se realiza em 1953, em Lisboa,
juntamente com Keil do Amaral e Frederico George. A exposição dedicada à arquitetura
moderna brasileira, assim como a obra de Le Corbusier, deixa-lhe grande impressão e tornam-
se referências habituais nas suas obras. Entre 1948 e 1949, o arquiteto publica, na revista
Arquitetura, a sua tradução da Carta de Atenas, redigida por Le Corbusier, em colaboração
com a mulher Maria de Lourdes. (Milheiro, 2009)
Depois de ter colaborado nos planos de urbanização para o Lobito e Nampula, através do
GUC, a partir de Lisboa, é convidado pelo presidente da Câmara Municipal do Lobito, a
trabalhar em Angola, pois este tinha o desejo de transformar a cidade numa “nova
Casablanca”. Após 11 meses de impasse por razões políticas, recebe autorização, chegando
à cidade do Lobito já em 1953. Dividindo-se entre produção pública e privada, inicia aqui a
sua fase mais criativa e influente. (Milheiro, 2009)
Figura 27. Castro Rodrigues apresentando o Plano da Cidade do Lobito, s.d; Fonte: (Milheiro, 2009).
No Lobito, onde quase não havia arquitetos, tem a oportunidade de aí implantar uma
arquitetura racional recorrendo às técnicas construtivas modernas que se encontravam em
franca expansão nos principais territórios coloniais, e cuja qualidade de execução não se
revelará inferior à Lisboa. Desenvolve projetos de diversos equipamentos e urbanização
(revendo e corrigindo o Plano de Urbanização anteriormente desenvolvido). Será depois
director dos Serviços de Urbanização e Arquitectura e membro da Comissão Cultural,
Divulgação e Turismo da Câmara Municipal do Lobito. Enquanto membro dessa comissão e
também como dirigente do Núcleo de Estudos Angolano-Brasileiros, organiza diversas
exposições, algumas itinerantes, das quais se destaca «A Arquitetura Moderna Brasileira»,
inaugurada em 1961, na Associação Comercial. (Fonte, 2007)
Figura 28. Capa do catálogo da exposição sobre “Arquitetura Moderna Brasileira”, 1961; Fonte: (Milheiro, 2008).
Mas é na prática urbanística que melhor define este percurso e onde se contam os planos
urbanísticos do Lobito, Vila da Catumbela e Sumbe, ou planos parciais de Cabinda e Silva
Porto ou das cidades para a Companhia Mineira do Lobito Jamba e Tchamutete. Depois da
independência desenha o plano para a Cidade do Pioneiro. Esta produção mostra como a sua
influência se estende à região, trabalhando para Benguela, Sumbe (Bloco Marques Seixas,
Palácio da Justiça, Paços do Concelho, Liceu) ou Ganda (Casa Dr. Figueiredo, Posto Clínico).
(Milheiro, 2009)
Figura 31. – Igreja do Sumbe. Aspeto do interior, 1966; Fonte: (Bonito, 2011).
A Igreja do Sumbe, construída em 1966, é um dos edifícios mais representativos deste período,
e uma síntese dos ideais modernos, aplicando claramente os princípios de integração das três
artes, cumprindo um programa espacial progressista e recorrendo a soluções construtivas
sofisticadas. Atualmente, o edifício é considerado uma Catedral, onde se consegue encontrar
influências tanto da obra de Frank Lloyd Wright como da Arquitectura Moderna Brasileira,
como acontece noutras obras do autor. (Milheiro, 2009) & (Bonito, 2011)
Infelizmente veio a falecer no ano de 2015, aos 94 anos, em Lisboa. Com certeza, Francisco
Castro Rodrigues deixou um importante legado arquitetónico moderno para o Lobito, quer
graças ao seu contributo na elaboração do Plano Diretor Urbanístico para cidade, quer pelas
obras de arquitetura que contribuíram para o engrandecimento da cidade e a elevou ao
estatuto de sala de visitas de Angola. Hoje as suas obras encontram-se em mau estado de
conservação, por falta de interesse por parte dos seus proprietários e também das entidades
governamentais que deveriam criar mecanismos para o cuidado e conservação desse
património arquitetónico que se tem perdido no tempo.
Após uma análise à escala da cidade, seguida de uma breve abordagem sobre o arquiteto
Castro Rodrigues, achou-se relevante reservar-se um capítulo dedicado a análise de 4 obras
de referência da cidade do Lobito, com peças gráficas originais de cada projeto e fotografias
que elucidam o estado atual de conservação das mesmas.
Escolheram-se dois casos de habitação coletiva, um liceu e uma cine-esplanada, por serem
bons exemplos da aplicação dos ideias modernos, tanto a nível da sua organização funcional
interna como no relacionamento com o seu contexto urbano. No entanto, os edifícios de
habitação coletiva, apesar de desempenharem funções semelhantes, são muito distintos. Dos
quatro casos de estudo, três projetos são da autoria de Castro Rodrigues, enquanto o Nimas
500, é da autoria do Arq. Rui Fernando Mendo (nascido em Luanda, em 1932). Como referido
no capítulo no anterior, a modernização da cidade do Lobito deve-se em grande parte ao Arq.
Francisco Castro Rodrigues.
Figura 32. Localização dos edifícios em estudo, Lobito; Fonte [adaptado a partir de]: (Microsoft, 2017).
O edifício em estudo foi projetado pelo Arq. Francisco Castro Rodrigues em 1961, sob
encomenda da firma Sorel, a primeira proprietária do lote de intervenção. O objetivo era a
concretização de um grande edifício de uso misto, destinado a habitação, comércio e serviços,
entre o bairro da Caponte e a entrada do Bairro Comercial (vulgo 28), sobre os mangais da
cidade.
A Sorel, pretendia instalar no piso térreo um grande espaço comercial para a exposição e
venda dos seus produtos, no primeiro piso espaços de escritórios individuais ou coletivos e
nos pisos superiores a habitação, com fogos de pequena dimensão. No final de 1958, já com
anteprojeto aprovado pela câmara Municipal do Lobito, os lotes foram adquiridos pela
Companhia de Seguros “A Universal”, que prosseguiu com o processo, mantendo o programa
inicial. Mas atualmente o edifício pertence a uma outra companhia de seguros que é a ENSA
– Seguros.
Figura 33. Bloco habitacional universal. Anteprojeto do edifício, piso rés do chão, 1957. Fonte: Arquivos da
Administração Municipal do Lobito.
Figura 34. Bloco habitacional universal. Estudo da fachada apresentado no anteprojeto. Fonte: Arquivos da
Administração Municipal do Lobito.
Figura 35. Bloco habitacional universal. Estudo de volumes do edifício. Fonte: Arquivos da Administração Municipal
do Lobito.
O edifício tem uma configuração em L e faz a transição entre dois eixos viários longitudinais
do Bairro Comercial e uma praça de entrada no limite do bairro da Caponte. Desde o
anteprojeto que o arquiteto torna clara a intenção de atribuir ao edifício um carácter
monumental, justificado pela sua localização, com a intenção de dignificar a entrada na baixa
comercial da cidade e a importância da empresa proprietária. (Tostões, 2014)
Figura 36. Bloco habitacional universal. Planta do piso 0, onde estão localizados os espaços de comércio e serviços.
Fonte: Arquivos da Administração Municipal do Lobito.
Figura 37. Bloco habitacional universal, vista a partir da Praça Patrice Lumumba; Fonte: Autor.
No corpo lateral sobre a Rua 15 de Agosto, a cobertura é rematada por uma grande lavandaria
coletiva, parcialmente coberta. Todo o edifício é servido por uma galeria coberta, no alçado
posterior, quebrada por dois núcleos de escadas simétricos entre si e uma escada de serviço
exterior. Os núcleos de escadas permitem também articular os dois corpos em L, promovendo
uma ventilação transversal.
Figura 39. Bloco habitacional universal. Planta do piso 1, destinado a escritórios. Fonte: Arquivos da Administração
Municipal do Lobito.
revela a sua compartimentação interior. Segundo o seu autor, no projeto as cozinhas teriam
quebra-luzes para assegurar “proteção exterior (Sol) e interior (roupas estendidas)”, além de
serem essenciais para a composição do conjunto, mas a obra ficaria incompleta. No entanto,
na fachada posterior, a aplicação de grelhas rendilhadas em favo permite os sombreamento
e ventilação de troços da galeria, quebrando a homogeneidade da composição. (Tostões,
2014)
Figura 40. Bloco habitacional universal. Planta dos pisos 2, 3. Fonte: Arquivos da Administração Municipal do
Lobito.
Figura 41. Bloco habitacional universal. Planta dos pisos 4, 5, 6. Fonte: Arquivos da Administração Municipal do
Lobito.
Uma grande referência de projeto para este edifício de habitação, comércio e serviços, seria
claramente a Unidade Habitacional de Marselha de Le Corbusier, tanto na escala monumental
com que se relaciona com a cidade, como no tratamento compositivo da obra. O ensaio do
léxico corbusiano e das premissas do Movimento Moderno na sua versão tropical é assumido
pelo seu autor. É com à vontade que desenvolve os temas da modernidade: a exploração de
novos modos de habitar, patentes na organização interna de fogos, a agregação dos fogos
em torno de uma extensa galeria aberta, a proposta de espaços coletivos, como a lavandaria
ou espaços de convívio na cobertura; a combinação dos programas do habitar, do lazer e do
trabalho. Mas também a expressão plástica exalta os conteúdos formais modernos: a retícula
tridimensional, marcando a composição das fachadas, o uso prolífero da cor, diferenciando
os elementos estruturais, as grelhas em betão de diversos padrões e plasticidade das palas,
sombreando espaços e percursos. E a galeria, articulada do conforto ambiental com a ideia
de uma “promenade architectural26”. (Tostões, 2014)
26 Conceito de Le Corbusier, que defende que o hall de entrada não deve ser estático, comum ou de pouca
criatividade. Diz que devem sempre seguir uma ideia (factor surpresa) que torna dinâmico o espaço de transição
Figura 42. Cine-esplanada Flamingo. Estrutura que funcionava como cobertura de sombreamento; Fonte: (Oliveira,
2008).
Articula-se com uma pala de menor dimensão, que marca a entrada e se eleva sobre o
edifício-muro que encerra o recinto do exterior. Alguns equipamentos de apoio, como bares e
instalações sanitárias, estão abrigados sob uma pérgula dinâmica. Estes espaços cobertos
Figura 43. Cine-esplanada Flamingo. Planta Geral, onde se percebem todos equipamentos de apoio existentes e
as paredes ondulantes que limitam o espaço. Fonte: Arquivos da Administração Municipal do Lobito.
Figura 44. Cine-esplanada Flamingo. Corte, onde é perceptível a cabine de projeção levantada do solo. Fonte:
Arquivos da Administração Municipal do Lobito.
Figura 46. Cine-esplanada Flamingo. Pormenor da estrutura do betão e da cabine de projeção; Fonte: Autor.
Figura 47. Cine-esplanada Flamingo. Alçado; Fonte: Arquivos da Administração Municipal do Lobito.
Esta plasticidade, bem como as texturas e jogos cromáticos usados, demostram claramente
a influência que a arquitetura moderna brasileira teve nesta obra. A exploração das
potencialidades do betão armado permitiu esta grande inovação estrutural e liberdade formal,
recorrendo a um repertório de formas que se libertam aos poucos dos sólidos puros e de
ângulos recto da obra inicial de Le Corbusier. Este projeto corresponde assim um
aperfeiçoamento técnico e formal, quer das condicionantes climáticas e geográficas, quer das
tecnologias em betão armado. (Tostões, 2014)
Tal como a maioria dos projetos de equipamentos culturais ligados ao lazer, a Cine-esplanada
Flamingo foi uma encomenda de iniciativa privada. Ao contrário dos grandes equipamentos
públicos tantas vezes sujeitos aos condicionamentos restritivos de uma política cultural
imposta pelo Estado Novo, esta diferença permitiu também um menor constrangimento na
conceção das estruturas arquitetónicas, aplicando livremente os códigos modernos. Assim, a
encomenda foi feita pelo presidente do Cineclube do Lobito, o engenheiro António Vieira da
Silva, que se associou à distribuidora Doperfilme para construir e gerir o Cinema. (Tostões,
2014)
O Cine-Flamingo num estado geral encontra-se muito degradado, com exceção o bar que se
mantém ainda em funcionamento. Da enorme pala de sombreamento apenas resta a
imponente estrutura. Nos espaços cobertos funciona uma escola primária e na cabine de
projeção improvisou-se a habitação de uma família. Os cinemas ao ar livre são uma tipologia
frequente e exemplar do património moderno em Angola. O Cine-esplanada Flamingo é uma
obra icónica da arquitetura moderna luso-africana que é fundamental valorizar e recuperar.
Figura 48. Liceu do Lobito. Implantação, dos 4 edifícios construídos do Liceu do Lobito; Fonte: (Milheiro, 2012).
O plano inicial previa uma infra-estrutura escolar, de construção faseada, composta por um
conjunto de catorze edifícios (blocos de sala de aula, anfiteatro para música e canto coral,
reitoria e administração, dois ginásios, biblioteca, habitação para o reitor e salão de festas).
Apenas foram desenvolvidos e construídos os edifícios correspondentes à primeira fase do
projeto: dois dos blocos de salas de aula, o edifício administrativo e um dos ginásios. (Tostões,
2014)
Esta tipologia é aplicada no projeto elaborado em 1939 por José Costa e Silva (arquiteto da
JCETS 27 ) no grandioso Liceu Salazar (atual Liceu Josina Machel), em Maputo. O liceu
distribui-se por vários corpos autónomos, destinados a salas de aula, gabinetes ou
equipamentos complementares, ligados por galerias porticadas abertas que prolongam as
galerias de circulação de cada edifício, garantido, assim, um carácter uniforme ao conjunto.
Estes grandes espaços de circulação protegem da “ação directa do sol e das chuvas e
asseguram uma ventilação contínua dos espaços colectivos”. (Tostões, 2014)
27Junta das Construções para o Ensino Técnico e Secundário, no início do Estado Novo, as edificações escolares
projetadas no território africano, eram realizadas por arquitetos que faziam parte desta junta.
Como já foi dito no início, o conjunto edificado corresponde à primeira parte do plano do liceu
que é constituído por quatro edifícios, implantados na mesma direção, segundo o eixo
noroeste-sudoeste, para beneficiar dos ventos dominantes. O primeiro edifício é
administrativo, situado a entrada do recinto, é um volume paralelepipédico com dois pisos e
ligeiramente sobrelevado do solo.
Figura 51. Liceu do Lobito. Vista aérea do recinto, onde é possível perceber o alinhamento dos blocos das salas
de aulas.
Os edifícios das salas de aula são dois longos corpos de três pisos paralelos e ligeiramente
desalinhados entre si (Figura 51), servidos por longos corredores exteriores que se
desenvolvem no sentido longitudinal. Os volumes estão parcialmente erguidos do solo através
de pilares, formando áreas de recreio em sombra plenamente arejadas. As salas de aula
alinhadas na fachada sudoeste e dispostas perpendicularmente à galeria, desenvolvem-se
nos pisos superiores. São ventiladas por grelhas rendilhada em betão, reforçadas ainda por
caixilharias em persiana de vidro tipo beta que permitem controlar ao longo do dia a circulação
de ar. (Tostões, 2014)
O primeiro bloco, no topo noroeste do lote, corresponde ao núcleo de salas de aula do 1º ciclo,
forma no piso térreo um grande recreio coberto. O segundo corpo, mais longo, onde se
encontram as salas de aula do 2º e 3º ciclo, é completado por anfiteatros no piso térreo que
prolongam a fachada em grelha até ao solo. Na fachada a nordeste encontram-se os núcleos
de escadas, também abertos, que quebram a regularidade da galeria. Aqui, o revestimento a
tijoleira é dominante e garante-se assim uma maior opacidade dos volumes. Mas são as
grelhas, na fachada sudoeste que revestem o edifício, que lhe conferem um carácter de
transparência e leveza. (Tostões, 2014)
Figura 52. Liceu do Lobito. Primeiro bloco, correspondente ao núcleo de salas de aulas do 1º ciclo; Fonte: Autor.
Figura 53. Liceu do Lobito. Segundo bloco, correspondente as salas de aulas do 2º e 3º ciclo; Fonte: Autor
O ginásio situa-se um pouco mais afastado a nordeste. Trata-se de uma grande estrutura
porticada em betão, aberta, mas delimitada por um edifício-muro onde se localizam os
balneários. A estrutura é rematada por uma cobertura múltipla em fibrocimento marcada por
enormes caleiras. Todo o embasamento é revestido a tijoleira, material dominante em todo o
conjunto edificado. (Tostões, 2014)
As galerias, a leveza dos volumes levantados do solo e o tratamento das fachadas revestidas
a grelha, equacionam não só uma resposta eficaz às questões climáticas, como garantem a
funcionalidade do edifício no quadro do léxico moderno. A influência da arquitetura brasileira
que Castro Rodrigues tanto admirava é evidente nesta obra. O desenho rendilhado e
geométrico das grelhas remetem para o “cóbogo”, a quebra-luz explorada exaustivamente
pelos arquitetos brasileiros, desde a década de 1940, tanto na capacidade construtiva como
na sua expressão formal, ensaiadas como elemento-padrão. As variações cromáticas e a
plasticidade dos materiais, bem como o domínio estrutural de grandes espaços, são outras
das características que esta obra importa entusiasticamente do moderno brasileiro. (Tostões,
2014)
Figura 55. Liceu do Lobito. Pormenor do rendilhado na fachada do segundo bloco; Fonte: Autor.
O programa do liceu era evolutivo e por isso o lote do terreno escolhido era de grandes
dimensões. Desse programa, cujo projeto não foi possível consultar por não se encontrar nos
arquivos da administração no Lobito, apenas se constituíram dois blocos destinados às aulas,
o edifício administrativo e o ginásio.
Atualmente, o liceu encontra-se encerrado por razões de obras de reabilitação desde 2014.
O recinto perdeu consideravelmente uma parcela do terreno, por ter sido ocupada por
habitações. Este projeto, representa uma obra exemplar do património moderno construído
em Angola, não apenas pela resposta notável às condicionantes climáticas do Lobito,
incluindo a ventilação e a proteção solar, mas fundamentalmente como herança das
premissas do Movimento Moderno.
Figura 57. Nimas 500. Implantação; Fonte: Arquivos da Administração Municipal do Lobito
O edifício desenvolve-se em 8 pisos no total, sendo os três primeiros pisos destinados a casa
de espetáculo e os restantes ao bloco de habitação. A casa de espetáculos tinha uma lotação
de 548 espectadores, distribuindo-se em vários níveis.
Figura 58. Nimas 500. Planta do piso 0 casa de espetáculo; Fonte: Arquivos da Administração Municipal do Lobito
Figura 59. Nimas 500. Planta do piso 1; Fonte: Arquivos da Administração Municipal do Lobito
Figura 60. Nimas 500. Planta do piso 3 pertencente ao bloco de habitação; Fonte: Arquivos da Administração
Municipal do Lobito
Figura 61. Nimas 500. Corte da casa de espetáculo; Fonte: Arquivos da Administração Municipal do Lobito
O bloco de habitações é servido por duas entradas independentes, que não se relacionam
com a circulação da casa de espetáculo, sendo uma principal pela colunata e avenida e outra
secundária, pelo parque posterior. A sua ocupação começa no 2º piso com um pequeno
quarto, com w.c de serviço, destinado a servir aos funcionários do cinema. O 3º piso é
composto por apartamentos da tipologia T1, e os pisos 4º, 5º e 6º por apartamentos T2, e no
final o 7º piso é destinado a zona de serviço coletivo, funcionando como área a estendais para
os inquilinos.
Figura 62. Nimas 500. Planta do piso 2 casa de espetáculo; Fonte: Arquivos da Administração Municipal do Lobito
Figura 63. Nimas 500. Planta dos pisos 4, 5 e 6; Fonte: Arquivos da Administração Municipal do Lobito
Figura 64. Nimas 500. Planta do piso 7; Fonte: Arquivos da Administração Municipal do Lobito
4.1 Inventariação
Para que o património arquitetónico seja salvaguardado é necessário que se crie uma base
de dados de carácter científico que documente esse acervo e sirva de suporte ao
reconhecimento, identificação, estudo e apropriação desses objetos, pela comunidade e
organizações governamentais e não governamentais para a sua gestão, salvaguarda e
valorização.
O primeiro conselho passa pela Identificação do Património, que visa promover o seu
conhecimento e estudo, estabelecer inventários sistemáticos, com o objetivo de passar a
reunir documentação sistemática sobre a produção arquitetónica do século XX, quer sobre a
forma de inventários nacionais cobrindo todas as épocas, quer através da elaboração de
inventários específicos da arquitetura do século XX. Estes inventários devem ser:
• concebidos, apresentados e publicados de tal forma que o seu conteúdo seja acessível
ao público em geral, quer no que respeita ao vocabulário e ilustrações utilizadas, quer
relativamente às facilidades de divulgação.
• oportunidade para reconhecer o valor das criações relevantes no conjunto dos estilos,
tipos e métodos de construção do século XX;
• a necessidade de conceder estatuto de proteção, não apenas às obras dos criadores
mais reputados de um período ou estilo arquitetónico, mas também, aos testemunhos
menos conhecidos, mas representativos da arquitetura e da história de um
determinado período;
• a importância de incluir, entre os factores de selecção, quer os aspectos estéticos,
quer a contribuição das obras no âmbito da história das técnicas construtivas e o
desenvolvimento dos aspectos políticos, culturais, económicos e sociais;
• o indispensável alargamento da protecção ao conjunto das componentes do meio
envolvente construído, englobando, não apenas as construções independentes, mas
também as estruturas produzidas em série, nomeadamente, loteamentos, grandes
conjuntos edificados e cidades novas, bem como os espaços e arranjos em áreas
públicas;
• a necessidade de estender a protecção às decorações exteriores e interiores bem
como aos equipamentos e mobiliário concebidos em simultâneo com a arquitectura e
conferindo significado à criação arquitectónica.
Em matéria de conservação física, dado ao desgaste natural dos materiais que conduzem à
degradação dos edifícios ao longo do tempo, importa, para conservação desse património que
se tomem medidas de manutenção e restauro. É necessário que se promovam estudos,
teóricos e práticos sobre os métodos de construção, manutenção e restauro das estruturas e
dos diferentes materiais utilizados na arquitetura do século XX e nas respetivas artes
decorativas integradas.
Conclusão
Preservar o património arquitetónico é uma tarefa difícil, que exige responsabilidade de todos,
nomeadamente das entidades governamentais, dos profissionais da área de arquitetura e da
construção sociedade civil. Às entidades competentes devem dar o exemplo, criando as
condições para a preservação dos elementos arquitetónicos relevantes, reconhecidos como
bens de interesse cultural, representativos de um período da memória coletiva da sociedade
angolana.
Atualmente as razões que tornaram o Lobito numa cidade de referência perdem-se a cada
dia que passa. A degradação dos edifícios modernistas emblemáticos, públicos ou privados,
são a prova mais evidente da oportunidade deste estudo para evitar a destruição progressiva
de identidade da cidade, que a tornava um dos grandes exemplos do modernismo africano.
Preservar edifícios de uma época passada, não significa que se pretende somente resgatar
memórias do passado, mas sim resgatar a nossa própria história e identidade.
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