100% acharam este documento útil (1 voto)
34 visualizações3 páginas

Nomedeus

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1/ 3

O NOME DE DEUS

Nos cerca de mil anos de criação literária do Primeiro Testamento o nome de


Deus sofreu variações e passou por etapas, de acordo com a reflexão dos fiéis sobre a
divindade.
a) Javé
O capítulo 3 do livro do Êxodo explica o significado do nome próprio do Deus
dos hebreus, Javé ou Yahweh.
Hebreu é praticamente sinônimo de escravo rebelde, o seu Deus ou o Deus dos
antepassados é, no contexto do Êxodo, o Deus dos escravos, dos pobres, em contraste
com os deuses do Egito ou de outras nações poderosas. O costume era considerar o deus
dos fortes como mais poderoso do que o deus dos fracos. É mais ou menos como, às
vezes, dizemos de alguém que sempre sai vencendo: “ele tem um santo forte”.
O Nome próprio de Deus está nas 4 letras Y H W H (y equivalendo a j) 4
consoantes, portanto, pois o alfabeto hebraico não tem vogais. As quatro consoantes são
chamadas de “tetragrama sagrado”. O seu significado, encontrado em Ex 3, é o do Deus
que acontece, que está presente, que vê a opressão do povo, ouve o seu clamor e desce
para libertá-lo. Javé é um deus histórico e libertador. Pode-se perceber com clareza esse
significado, por exemplo, em Is 45,14-17, em Jr 16,19-21 e 33,2 e, de certa forma, em
todas as mais de seis mil e oitocentas vezes que o Nome ocorre na Bíblia.
Como é o nome próprio de Deus, o nome mais significativo e tradicional, com o
passar do tempo, por respeito, ele deixou de ser pronunciado. ‘Nenhum ser humano tem
o direito de pronunciar o nome próprio de nosso Deus’ refletiam, ‘ninguém pode ter
tanta intimidade com ele’. O respeito pelo Nome cresceu tanto, a ponto de se tornar
proibido pronunciá-lo.
Como a língua hebraica não tem vogais, os Massoretas, grupos de sábios judeus
que conservavam a tradição da leitura sem vogais, criaram o sistema de sinais que
fazem as vezes das vogais, a fim de facilitar a leitura do texto bíblico.
Os antigos copiavam o texto dos livros sagrados com todo o rigor e não
deixaram de copiar as quatro letras do Nome sagrado, mesmo sabendo que elas não
deveriam ser lidas. Como faziam para avisar o leitor que deveria ler adonay, que quer
dizer Senhor, e não o Nome impronunciável? Colocavam nas quatro letras Y H W H, os
sinais vocálicos da palavra ´adonay, que deveria, então, ser pronunciada no lugar do
Nome. Apenas trocaram a por e, o que resultou na escrita YeHoWaH (Jeová) que, então,
deveria ser lida “adonay”.
Quando os massoretas criaram esses sinais já fazia tempo que não se
pronunciava o nome sagrado de Deus. Assim, não há certeza absoluta se a pronúncia do
nome próprio do Deus dos Hebreus seria realmente Javé ou Yahwéh. Só não há dúvida
de que a primeira sílaba é Ya, que aparece em aleluia (louvai Ya) e em muitos nomes
próprios como Jeremias, Isaias, Ezequias.

b) Deuses
Mais de duas mil vezes, sob diferentes formas, ocorre na Bíblia hebraica a
palavra Elohim, plural majestático de Eloah. Apesar de ser plural, na grandíssima
maioria das vezes, a palavra é empregada para falar do Deus único, o Deus do povo de
Israel. Poucas vezes, está se referindo aos deuses de outras nações ou a divindades em
geral.
O mesmo ocorre com a palavra El, que pode ser uma abreviação de Eloah, ou
esta é um prolongamento daquela. Tem o mesmo significado, substantivo comum para
divindade, e ocorre frequentemente em nomes próprios como Betel, Miguel, Rafael,
Ariel e tantos outros. Quando se refere ao Deus dos hebreus, geralmente está ligado a
predicados como El Saday, Deus poderoso (?), El Caná, Deus ciumento, El Ha,elohim,
Deus dos deuses, El Elyon, Deus Altíssimo etc.

c) Senhor
Adonay, que literalmente significa “meus senhores”, encontra-se também
inúmeras vezes na Bíblia Hebraica, quase sempre para se referir a Deus. Traduz-se
comumente por Senhor.
Essa palavra é pronunciada regularmente onde se encontra o tetragrama sagrado
Y H W H . Assim é que a antiqüíssima tradução grega chamada dos Setenta sábios
sempre traduz o Tetragrama por Kyrios (‘senhor’ em grego) e a maioria de nossas
traduções, por respeito aos judeus e à mais antiga tradição, traz Senhor ou SENHOR, em
versalete, quando no original hebraico está Y H W H .
É importante saber isso, porque sempre que lê SENHOR em sua Bíblia você não
deve pensar em Deus como o Poderoso, o dono do mundo, mas, muito mais, no Deus
que acontece na história, o Deus amigo do povo sofredor, o Deus que ouve o clamor, vê
a aflição e desce para libertar seu povo escravo (Êxodo, capítulo 3).

d) Os Céus
Céus (ver o item Plural) é outra palavra que substituiu o nome de Deus desde o
Livro dos Macabeus (1Mc 3,18), se não já antes. Por profundo respeito evitava-se falar
‘Deus’ e mesmo ‘o Senhor’ e, então, se pensava ‘Aquele dos céus’ ou simplesmente ‘os
Céus’. No tempo do Novo Testamento era essa a maneira mais respeitosa com que um
judeu se referia a Deus. Assim é que o Evangelho segundo Mateus, Evangelho dos
cristãos judeus, fala em ‘Reino dos Céus’ onde os outros trazem ‘Reino de Deus’.
Quando esse Evangelho diz que Jesus dá a Pedro as chaves do Reino dos Céus,
(Mt 16,19) afirma que é para que ele possa ligar e desligar, fechar e abrir, aqui na terra,
“o que ligares na terra...”, e não no céu..
Quando diz que do pobre e do perseguido é o Reino dos Céus (Mt 5,3 e 10), não
está dizendo que só os pobres e perseguidos alcançam a vida eterna. Diz que é coisa
própria deles construir a comunidade que encarna o Reinado de Deus aqui na terra.
Quando diz que é difícil um rico entrar no Reino dos Céus, não está afirmando
que os ricos não se salvam, diz que é muito difícil a um rico participar efetivamente da
comunidade-Reino de Deus.
Nas parábolas e comparações de Mt 13 o “Reino dos Céus” é semelhante a um
plantio no qual se perdem dois terços das sementes, é uma plantação onde crescem
juntos o joio e o trigo, é uma rede que pega peixes bons e ruins. Nada disso pode ser o
céu com que sonhamos.
Mesmo em outros lugares dos Evangelhos, a palavra Céu ou Céus está apenas
substituindo o nome de Deus. É o caso da pergunta que Jesus fez aos chefes judeus em
Mt 21,25: “O batismo de João é dos homens ou do céu?” ou seja, ‘dos homens ou de
Deus’. O filho arrependido diz ao pai “Pequei contra o céu e contra ti” em vez de dizer
‘contra Deus e contra ti’ (Lc 15,18).

e) O oculto
Há também na Bíblia, especialmente no Novo Testamento, uma maneira ainda
mais respeitosa de se referir a Deus, é não dizer quem é o sujeito da ação, quem faz
aquilo.
Ainda no Primeiro Testamente temos em Sf 3,16: “Naquele dia se dirá a
Jerusalém”, quem dirá? – Deus!
No Segundo Testamento, nos Evangelhos, temos “sereis julgados”, por quem? –
por Deus. “tua vida será tirada”, por quem? – por Deus. “muito lhe será pedido” por
quem? “recebe cem vezes mais” de quem? “para aqueles para quem está preparado” por
quem? “muito será concedido” por quem?
No Apocalipse é muito freqüente “Aquele que”, “foi-lhe permitido” e frases
semelhantes, que supõem Deus como o agente ou o personagem oculto. São maneiras
de, por respeito, evitar-se falar o nome de Deus. Temos de ter isso sempre em mente, a
fim de descobrir a presença de Deus em muitas passagens que não citam o seu nome.

Você também pode gostar