Prova Memoria Fonologica
Prova Memoria Fonologica
Prova Memoria Fonologica
Resumo
Abstract
62 / INVESTIGAÇÃO CLÍNICA
do Children’s Test of Nonword Repetition (CNRep) e Digit Span, denominada Brazilian
Children’s Test of Pseudoword Repetition (BCPR), cujos resultados comprovaram a in-
fluência da idade e da escolaridade na repetição de não palavras.
No contexto clínico, diversos trabalhos vêm apontando a relação entre dificuldades
de linguagem e defasagem na memória fonológica (Gilmam et al., 1998; Martinez et
al., 2005; Archilbald e Gathercole, 2006; Hage e Ferreira, 2008). Estes estudos aponta-
ram que crianças com alterações nas habilidades lingüísticas apresentam dificuldades
severas na repetição de palavras sem significado, salientando que estas crianças po-
dem sofrer déficits na codificação fonológica ou memória fonológica que justificam as
alterações de linguagem encontradas.
Considerando os estudos citados sobre as relações entre linguagem e memória fono-
lógica, seja no âmbito da aquisição ou da alteração de linguagem, e ainda a carência
de instrumentos na língua portuguesa para a investigação desta relação, este trabalho
teve o objetivo de verificar o desempenho de crianças com desenvolvimento típico
de linguagem falantes do português em provas de memória de trabalho fonológica.
2. Material e Método
2.1. Casuística
Foram avaliadas 227 crianças, entre sete anos e oito anos e onze meses, de ambos
os gêneros, sendo 118 meninas e 109 meninos, pertencentes à 1ª série e 2ª série do
Ensino Fundamental de cidades do interior do estado de São Paulo. Destas, 27 crianças
foram excluídas da amostra pelo fato de ter sido detectado problemas de comuni-
cação oral ou escrita por meio da entrevista com os professores, aplicação de Prova
de Fonologia – nomeação (Wertzner, 2004) e subteste de leitura do TDE (Stein, 1994).
Dessa forma, só participaram do estudo crianças que não apresentaram histórico de
alterações de linguagem oral e audição, e ainda, desempenho escolar compatível com
1ª ou 2ª série.
Assim, fez parte da amostra 200 crianças, sendo 106 meninas e 94 meninos.
2.2. Metodologia
3. Resultados
A tabela 1 apresenta as medidas descritivas do desempenho de 117 crianças com
idade entre sete anos e sete anos e onze meses, na Prova de Não Palavras (com duas
sílabas, três sílabas, quatro sílabas, cinco sílabas e pontuação total), e na Prova de Dígi-
tos (ordem direta, ordem inversa e pontuação total), com valores de mediana, média,
valores mínimos, máximos, de quartil inferior, quartil superior e quartil de variação,
com seus respectivos desvio padrão.
64 / INVESTIGAÇÃO CLÍNICA
Tabela 1. Medidas descritivas do desempenho de crianças de sete a sete anos e onze meses de idade.
Legenda: NP - não palavras; 2S-duas sílabas; 3S-três sílabas; 4S-quatro sílabas; 5S-cinco sílabas; D - dígitos; OD - ordem direta; OI - ordem inversa.
Tabela 2. Medidas descritivas do desempenho de crianças de oito a oito anos e 11 meses de idade.
Legenda: NP- Não palavras; 2S-duas sílabas; 3S-três sílabas; 4S-quatro sílabas; 5S-cinco sílabas; D - dígitos; OD - ordem direta; OI - ordem inversa.
Legenda: NP – Não Palavras; 2S-duas sílabas; 3S-três sílabas; 4S-quatro sílabas; 5S-cinco sílabas; D - dígitos, OD - ordem direta; OI - ordem inversa;
G_1: 7-grupo 1; G_2: 8- grupo 2; p-significância estatística.
4. Discussão
Considerando a relação existente entre memória de trabalho fonológica e desenvol-
vimento de linguagem, assim como os estudos que apontam a relação entre déficit
de memória fonológica e alterações de linguagem, este estudo verificou o perfil de
66 / INVESTIGAÇÃO CLÍNICA
desempenho em provas de memória de trabalho fonológica de crianças normais entre
sete anos e oito anos e onze meses, em início de processo de alfabetização.
A opção por provas que envolvessem a repetição de dígitos e não palavras base-
aram-se nos trabalhos de Baddeley (1986, 2003), Aguado (1999) e Gonçalves (2002)
apontaram que as habilidades de memória de trabalho fonológica em geral são avalia-
das por meio de repetição destes índices, enfatizando que a repetição de não palavras
solicita mais confiavelmente esse tipo de memória, em função de o material verbal
não estar sujeito às influências lexicais. Bryan e Howard (1992) consideraram que para
a criança repetir não palavras é necessário uma conexão entre o seu sistema de análise
perceptiva e seu planejamento fonológico, sendo que a análise perceptiva fornece a
seqüência de fonemas que não pode ser gerado no léxico.
A prova de não palavras utilizou-se dos princípios da prova de pseudopalavras criada
por G. Aguado (Aguado et al., 2006) e foi construída considerando os padrões silábicos
e os fonemas da língua portuguesa falada no Brasil.
As tabelas 1 e 2 demonstram os resultados obtidos, considerando as duas faixas de
idade analisadas. Não houve diferença estatisticamente significante entre o desempe-
nho das crianças entre sete e oito anos. O estudo de Santos e Bueno (2003) encontrou
resultados que comprovaram a influência da idade na repetição de não palavras, to-
davia, o trabalho daquelas autoras, apesar de poucos sujeitos por faixa etária, abran-
geu uma faixa mais extensa, entre quatro e dez anos, o que provavelmente justifica os
resultados influenciados pela idade. Vale ressaltar que o estudo aqui apresentado é a
primeira parte do levantamento do perfil de desempenho de crianças em provas que
investigam a memória de trabalho fonológica, assim é provável que com a ampliação
da faixa etária na seqüência deste trabalho se encontre diferença estaticamente signi-
ficante entre as idades.
As tabelas 3 e 4 apresentam a comparação entre o número de sílabas das não pala-
vras (2 sílabas, 3 sílabas, 4 sílabas e 5 sílabas). Não houve diferença estatisticamente
significante na repetição de não palavras de 2 sílabas para 3 sílabas, porém, para as de-
mais sílabas (de 3 para 4 sílabas e de 4 pra 5 sílabas) essa diferença ocorreu. Tais acha-
dos comprovam a influência da extensão das não palavras na reflexão da rechamada
subvocal, já que o desempenho da criança diminuiu conforme a não palavra ia au-
mentando o número de sílabas. Os mesmos achados foram encontrados por Santos e
Bueno (2003). De acordo com as autoras as não palavras são retidas por um determina-
do tempo e se não forem recuperadas rapidamente pelo processo subvocal, acabam
sendo perdidas, dessa forma, quanto maior o número de sílabas, maior a dificuldade
em armazenar o material verbal na memória.
7. Referências Bibliográficas
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68 / INVESTIGAÇÃO CLÍNICA
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Identificação:_ __________________________________________________________
Nome: _______________________________________________________________
DN:_ _______________ idade:__________ Escolaridade /escola: ______________________
Queixa:_______________________________________________________________
Avaliador: ___________________________________ Data: ______________________
70 / INVESTIGAÇÃO CLÍNICA
Para pessoas a partir de 5 anos:
Pseudopalavra resposta P Pseudopalavra resposta P
01. toli 11. rossola
02. erba 12. porquijo
03. guchi 13. deitiva
04. deico 14. querrefo
05. binha 15. senuno
06. ruris 16. cholapes
07. chefu 17. gromelha
08. prido 18. vunhébe
09. zuga 19. churéga
10. ratros 20. jutrisbe
Total parcial (2) Total parcial (3)
PROVA DE DÍGITOS:
Forma de pontuação. Atribuir:
2 pontos (P) quando repetir corretamente na 1ª vez
1 ponto (P) quando repetir corretamente na 2ª vez
0 ponto (P) quando não conseguir nas duas primeiras tentativas
OBS: a prova deve ser encerrada quando se atribuir 0 ponto em 2 seqüências de dígitos que não foram repetidas nas
duas tentantivas. Só permitido repetir a seqüência de dígitos uma vez.
Observações:
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Instruções:
“Eu vou falar algumas palavras que não significam nada, mas não se preocupe com isso. Você deve prestar atenção
porque terá que repeti-las como eu falei. Eu vou falar uma vez e você repete. Pode ser um pouco estranho, mas não
demora. Então, atenção, vamos lá!”
Observações:
Para considerar a repetição adequada, ela deve ser emitida de maneira idêntica ao do avaliador. Pode ser considerado
correto, entretanto, quando houver a troca da vogal “e” por “i” em final de palavra, ou ainda, uma vogal fechada “e, o”
por aberta “é, ó”.
Se a criança apresentar alteração fonológica, os processos devem ser anotados na ficha de resposta. Nestas circuns-
tâncias, a substituição ou omissão de um fonema na repetição poderá ser aceita como produção adequada.
72 / INVESTIGAÇÃO CLÍNICA