Caso Favela Nova Brasília Vs Brasil (Seminário)
Caso Favela Nova Brasília Vs Brasil (Seminário)
Caso Favela Nova Brasília Vs Brasil (Seminário)
BRASIL (28/09)
Primeiramente, importante destacar que o Caso Favela Nova Brasília foi o sétimo caso
brasileiro analisado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, na qual a sentença se
deu em 16 de fevereiro de 2017;
A incursão policial realizada em 1994, resultou na morte de 13 homens, sendo que os corpos
das vítimas tinham entre 2 e 15 ferimentos provocados por bala, sendo que, uma das vítimas
havia levado um tiro em cada olho. Já da incursão de 1995, que também resultou na morte de
13 homens, foi demonstrado que os corpos tinham entre 1 e 10 ferimentos por bala.
O processo relacionado à chacina de 1994 foi inicialmente arquivado por prescrição em 2009.
Após decisão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), de 2011, foi
reaberto, sendo oferecida denúncia em 2013. O processo relacionado à chacina de 1995 foi
igualmente arquivado em 2009. Após a decisão da CIDH, chegou a ser reaberto, mas foi
novamente arquivado em 2015. Até a sentença da Corte, nenhum processo sobre os casos de
violência sexual havia sido aberto.
Entre 2005 e 2008, a Corte Interamericana e as partes do processo realizaram audiência como
tentativa de buscar uma solução amistosa, o que não ocorreu. Foi somente em 3 de dezembro
de 2008, após 5 pedidos da Comissão Interamericana, que o Estado brasileiro apresentou
cópia dos autos do inquérito policial.
Após diversas omissões por parte do Estado, que ocorreram e que continuaram ocorrendo
após 10 de dezembro de 1998 diante da aceitação da competência da Corte pelo Estado, a
Comissão considerou que o país não havia avançado de maneira concreta no cumprimento
das recomendações e resolveu remeter o caso à Corte Interamericana em 19 de maio de 2015,
diante da necessidade de justiça.
O caso Favela Nova Brasília contou com a realização de uma audiência pública nos dias 12 e
13 de outubro de 2016. Durante a audiência, o Estado reconheceu que “as condutas
perpetradas por agentes públicos durante incursões policiais na Favela Nova Brasília em 18
de outubro de 1994 e 8 de maio de 1995, representaram violações aos artigos 4.1 e 5.1 da
Convenção Americana. O Brasil também reconheceu “toda a dor e sofrimento que as vítimas
possuem em decorrência destes fatos”.
37 familiares das vítimas mortas em 1994, 37 familiares das vítimas mortas em 1995, e
L.R.J., C.S.S. e J.F.C, vítimas de violência sexual em 1994.
Humans Rights Watch/Americas, Centro pela Justiça e o Direito Internacional (Cejil) e ISER
(Instituto de Estudos da Religião).
Primeiramente, importa observar que os argumentos foram feitos tanto pela comissão
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), assim como pelas partes devidamente
representadas pelas instituições Humans Rights Watch/Americas, Centro pela Justiça e o
Direito Internacional (Cejil) e ISER (Instituto de Estudos da Religião). Neste sentido, ao
observar os argumentos das partes, torna-se indispensável observar as alegações de ambas
supracitadas para ter um reconhecimento completo do que se tratava a denúncia.
Importa esclarecer também que a base de defesa do Estado (Brasil) pautou-se em defesas
processuais, ou seja, em questões de exceções preliminares buscando a ilegitimidade,
inadmissibilidade, incompetências ratione temporis, ratione materiae, falta do esgotamento
dos recursos internos e inobservância de prazo razoável para submeter à Corte a pretensão
de investigação criminal.
Desse modo, a apresentação das alegações das vítimas será dividida em duas partes por
fins didáticos: (i) as exceções preliminares e (ii) o mérito.
Ambos declararam que a alegação do Estado não constitui uma exceção preliminar.
Ambos alegaram que não constitui uma exceção preliminar e sim uma questão de mérito. A
comissão ressaltou ainda que fora identificadas as 26 vítimas, além das 3 de violência
sexual. Por sua vez, as partes alegaram que a norma da Corte é de que a vítima deve estar
razoavelmente identificada e que as que não foram possíveis identificar decorrem por se
tratar de casos de violência em massa de um grupo.
A Comissão salientou que o Estado toma como ponto de partida que os processos em
âmbito interno não violaram os direitos humanos, quando é precisamente isso o que se
debaterá no mérito do assunto. Os representantes acrescentaram que, de acordo com o
entendimento da Corte, para que a exceção de quarta instância seja procedente, é
necessário que os solicitantes peçam que a Corte revise a sentença de um tribunal interno,
em virtude de sua incorreta apreciação da prova, dos fatos ou do direito interno.
A Comissão explicitou que a Convenção Americana não prevê que se esgotem mecanismos
adicionais para que as vítimas possam obter uma reparação relacionada com fatos a
respeito dos quais os recursos internos já tenham sido esgotados. Os representantes
concordaram com a Comissão e declararam que a Corte deve realizar um controle de
legalidade da atuação da Comissão somente quando exista um erro grave que viole o direito
de defesa das partes, ou quando o direito de defesa de uma das partes tenha sido violado.”
· A investigação foi prejudicada por seu registro como “ato de resistência” (166)
· A Comissão não se referiu à violação desse direito. Por outro lado, Os representantes
alegaram que L.R.J., C.S.S. e J.F.C. se viram obrigadas a deixar suas residências na
Favela Nova Brasília, em virtude das circunstâncias violentas que cercaram os fatos
relatados e da continuidade da ação policial dos perpetradores desses atos.
PARA OS SLIDES:
Alegações das Vítimas (primeiro slide)
Algumas Considerações:
● As alegações foram realizadas pela Comissão Interamericana de
Direitos Humanos e pelos representantes das vítimas
● Há exceções preliminares e alegações de mérito
● Representantes = vítimas
Alegações de Mérito (segundo slide)
Direitos às garantias judiciais e à proteção judicial
Direito à integridade pessoal
Direito à circulação e residência
Reparações
Conforme o artigo 63.1 da Convenção Americana, quando decidir que houve violação de um
direito ou liberdade, a Corte determinará que sejam reparadas as consequências da medida ou
situação que tenha configurado violação dos direitos, e o pagamento de indenização justa à
parte lesada, caso seja procedente. A corte diz que toda violação de uma obrigação que
resultou em dano implica o dever de repará-la adequadamente, e essa reparação requer,
sempre que possível, a plena restituição, ou seja, que volte ao seu estado anterior, mas
geralmente isso não é viável nos casos de violação de direitos humanos, então o Tribunal
determina medidas para garantir os direitos violados e reparar as consequências das infrações,
e essas reparações devem ter um nexo causal com os fatos do caso, as violações
reconhecidas, os danos provados e as medidas solicitadas, o que deve ser observado pela
Corte. Considerando tudo isso, o Tribunal analisou pontos como as pretensões dos
representantes das vítimas e as alegações do estado para dispor das medidas reparatórias.
O tribunal considera como parte lesada as vítimas da violação de direitos humanos, e que são
beneficiárias das reparações ordenadas pela Corte.
O Tribunal colocou a obrigação de investigar como uma das medidas reparatórias, assim
como a determinação, julgamento e até punição dos responsáveis. A Comissão pediu para
que fosse realizada uma investigação imparcial, efetiva e em prazo razoável à respeito das
violações de direitos humanos ocorridas no caso, assim como o padrão de uso excessivo de
força letal usado pela policia, com objetivo de descobrir a verdade e punir os responsáveis. O
Estado não se pronunciou sobre essa medida. Os representantes solicitaram uma investigação
competente e independente a respeito dos indivíduos que participaram, mediata ou
imediatamente, da execução de 26 vítimas e estupro de 3 mulheres; pediram, também, a
investigação e punição dos agentes públicos que agiram de maneira omissa ou negligente e
contribuiu para a impunidade dos responsáveis. A Corte recordou que as investigações feitas
pelo Estado violaram os direitos às garantias judiciais e à proteção judicial das vítimas, pois
não houve devida diligência, o desenvolvimento dos processos não ocorreu em um prazo
razoável e não houve avanço nas investigações dos fatos referentes às incursões de 1994 e
1995, e decidiu que o Estado, por intermédio do Procurador-Geral da República e do
Ministério Público Federal, deve avaliar se os fatos referentes às duas incursões devem ser
objetos de pedido de Incidente de Deslocamento de Competência, ou seja, transferir a
competência da Justiça Estadual para a Justiça Federal, além de assegurar o acesso e a
capacidade de agir dos familiares em todas as etapas das investigações e não recorrer a algum
obstáculo processual para tentar se eximir dessa obrigação, já que se trata de prováveis
execuções extrajudiciais e atos de tortura. Em relação à violência sexual, a investigação e o
processo penal deverão incluir uma perspectiva de gênero e investigar especificamente a
violência sexual, com profissionais capacitados em casos similares e em atenção a vítimas de
discriminação e violência de gênero. E é necessário assegurar as pessoas encarregadas do
processo penal e investigação, além de outros envolvidos, tenham garantias de segurança.
O Tribunal considerou que o Estado deve realizar o ato público e divulgado para
reconhecimento de responsabilidade em relação aos fatos do caso e sua investigação, fazendo
referência às violações de direitos humanos declaradas na Sentença, devendo assegurar a
participação das vítimas declaradas na Sentença, caso elas desejem, e consultando as vítimas
e seus representantes previamente. Os altos funcionários estatais do governo federal e do
Estado do RJ deverão estar presentes ou participar do ato, e cabe ao Estado definir a quem
atribuir a tarefa. Prazo de 1 ano a partir da notificação da Sentença. Nesse ato, as duas placas
em memória das vítimas da Sentença deverão ser inauguradas na praça principal da Favela
Nova Brasília, uma para os fatos de 1994 e outra para os de 1995, e o conteúdo deve ser
acordado entre o Estado e os representantes em 6 meses, e, caso não cheguem a um acordo, a
Corte irá definir o texto.
Das medidas reparatórias para garantir a não repetição, a Comissão solicitou a adoção de
políticas públicas erradicar a impunidade da violência policial e profissionalizar as forças
policiais; a instituição de sistemas de controle e prestação de contas para efetivar o dever de
investigar os casos em que utilizam a força letal e/ou a violência sexual comuma perspectiva
de gênero e étnico-racial; o fortalecimento da capacidade dos órgãos para enfrentar o padrão
de impunidade dos casos de execuções extrajudiciais por parte da polícia e o treinamento
adequado dos policiais sobre como tratar eficientemente os setores vulneráveis da sociedade.
Os representantes solicitaram a obrigatoriedade da divulgação de relatórios anuais sobre o
número de mortes de policiais e civis durante operações policiais, a criação de Comissões
para julgar crimes decorrentes de violência policial, criação de uma Comissão Especial de
Redução da Letalidade Policial, e a capacitação de profissionais de saúde para atender
pessoas vítimas de violência sexual.
O Estado informou que relatórios sobre o número de mortes de policiais e civis durante
operações policiais estão previstos no Plano Plurianual 2012-2015 e falou sobre a existência
do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas
(SINESP), que acompanha a questão da letalidade policial; também salientou que é
desnecessária a criação de outro mecanismo de controle e monitoramento, já que o Ministério
Público é responsável na supervisão das investigações policiais e do controle externo da
atividade policial. O Estado também afirmou dispor de normas que desenvolvem soluções a
fim de garantir a redução da letalidade policial e apresentou diversas normas e projetos no
âmbito do Ministério da Saúde que estão voltadas a fortalecer o atendimento das mulheres em
situação de risco.
• Criação de um espaço com cursos de capacitação profissional e uma escola na Favela Nova
Brasília (Corte acha que não tem relação com o caso)
• Garantia de autonomia dos peritos em relação às polícias, por meio de uma criação de uma
carreira independente (Corte não achou necessário)