Capítulo 1 Do E-Book-mesclado
Capítulo 1 Do E-Book-mesclado
Capítulo 1 Do E-Book-mesclado
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO
2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS
2.1 O QUE É UMA POPULAÇÃO?
2.2 PRIMEIROS ESCRITOS SOBRE A POPULAÇÃO E A CONSTITUIÇÃO DA CIÊNCIA
DEMOGRÁFICA
2.3 OS PRIMEIROS DEMÓGRAFOS
2.4 TEORIA DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA
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ÍNDICE
5. A MORTALIDADE
5.1 A MORTALIDADE
5.2 MEDIR A MORTALIDADE
5.2.1 A Taxa Bruta de Mortalidade
5.2.2 A mortalidade por idades e por grupos de idades
5.3 A MORTALIDADE INFANTIL
5.3.1 A Taxa de Mortalidade Infantil clássica
5.3.2 As componentes da Mortalidade Infantil
5.3.3 A mortalidade materna
5.4 A MORTALIDADE DIFERENCIAL. CAUSAS DE MORTALIDADE
5.5 TÁBUA DE MORTALIDADE. A ESPERANÇA DE VIDA
5.5.1 O Princípio da Translação: a construção das tábuas de mortalidade
6. AS MIGRAÇÕES
6.1 O QUE É MIGRAÇÃO?
6.2 DETERMINANTES DA MIGRAÇÃO
6.3 TEORIAS DE MIGRAÇÃO
6.4 MIGRAÇÃO INTERNACIONAL
6.5 IMPACTOS DA MIGRAÇÃO
6.5.1 Impacto no tamanho, composição da população e nas taxas de crescimento
6.5.2 Impacto na Força de Trabalho e na economia
6.5.3 Impacto na composição social
6.6 ANÁLISE DOS MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS
6.7 PROBLEMAS E POLÍTICAS DE MIGRAÇÃO
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ÍNDICE
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ÍNDICE
GLOSSÁRIO
ANEXOS
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PREFÁCIO
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INTRODUÇÃO
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INTRODUÇÃO
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1. UMA INTRODUÇÃO À DEMOGRAFIA
Objetivos
1. Identificar os aspetos fundamentais do objeto de estudo da Demografia;
A compreensão desses processos lança uma luz sobre importantes aspetos sociais,
económicos, políticos, e questões ambientais e os seus impactos, como o crescimento
populacional, a urbanização, mudança familiar, imigração e saúde humana e a longevidade.
Uma das coisas mais fascinantes que encontrará sobre a Demografia é que quase todos os
tópicos são relevantes para algo que já experimentou ou ainda irá experimentar nalgum
momento da sua vida. Consideremos as seguintes perguntas:
1. Quando e onde você nasceu? Quantos outros nasceram na sua geração? Que
condições a sua geração enfrentará que a distinguem de outras gerações?
2. Qual é o seu género e como é que essa identidade moldará o resto da sua vida?
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1. UMA INTRODUÇÃO À DEMOGRAFIA
3. Quantos anos você tinha (ou terá) quando teve relações pela primeira vez? Com
que frequência você tem relações e usa anticoncetivos?
5. Você vai ter filhos? Quantos? Você vai ter netos? Você estará vivo para ver os
seus bisnetos?
6. Que tipo de trabalho você terá? Com que frequência você mudará de emprego?
Com que idade vai reformar–se?
7. Quantas vezes mudará de residência na vida? Você vai mudar-se para o exterior
do país?
8. Por quanto tempo você terá saúde na sua vida? Quando você vai morrer? Como
você vai morrer?
(Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015, p. 2)
Cada uma delas é uma questão demográfica relevante (Lundquist, Anderton, Yaukey,
2015, p.1-3).
A Demografia é a ciência das populações, e a ciência social que estuda e examina (Poston
& Bouvier, 2017, p. 3-4):
1. o tamanho, a composição e a distribuição da população humana numa
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1. UMA INTRODUÇÃO À DEMOGRAFIA
Piché (2013) diz que a Demografia é uma ciência social e partilha com as outras ciências o
estudo de uma parte da vida em sociedade. O que a distingue das outras ciências sociais
é o facto de que o seu campo de investigação e de intervenção está bem delimitado. A
Demografia estuda essencialmente os mecanismos na base da renovação das populações.
Concebe-se, pois, a Demografia, como o estudo de um sistema de entradas e de saídas que
contribuem para o aumento (nascimentos, imigração) ou para a diminuição (mortalidade,
emigração) da população. Por exemplo, ao fim de um ano, a população de um país (ou
de outra região geográfica) terá aumentado graças aos novos nascimentos e aos novos
imigrantes, mas terá igualmente diminuído por causa das mortes e das partidas de
emigrantes.
A Demografia pode ser definida de forma mais ampla como o estudo científico do tamanho,
composição e distribuição das populações humanas e as suas mudanças resultantes da
fecundidade, mortalidade e migração. A Demografia preocupa-se com o quão grande
(ou pequeno) são as populações; como as populações são compostas de acordo com
a idade, sexo, raça, estado civil e outras características; e como as populações estão
distribuídas fisicamente no espaço (por exemplo, o quão urbano e rural são). A Demografia
está também interessada nas mudanças ao longo do tempo no tamanho, composição e
distribuição das populações humanas e como estes resultam dos processos de fecundidade,
mortalidade e migração (Poston & Bouvier, 2017, p. 3).
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1. UMA INTRODUÇÃO À DEMOGRAFIA
Segundo Henry,
Para Ross
Existe uma Demografia Quantitativa cujo objeto essencial é o estudo dos movimentos
que se produzem numa população, acompanhado dos resultados desses movimentos;
mas também existe uma Demografia Qualitativa que se ocupa das qualidades dos seres
humanos e que diz respeito aos aspetos qualitativos do fenómeno social das populações e
ainda à genética demográfica ou biologia das populações, à biometria (estatística aplicada
à investigação biológica).
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1. UMA INTRODUÇÃO À DEMOGRAFIA
“como na maior parte das ciências, a Demografia pode ser definida em sentido
restrito e em sentido lato; o sentido restrito é a Demografia Formal, que se
preocupa com questões como a dimensão, a distribuição, a estrutura e a
mudança das populações; em sentido amplo, inclui outras características tais
como as étnicas, as sociais e as económicas” (conforme citado em Nazareth,
2004, p 45).
Todos nós somos atores populacionais. Realizamos atos demográficos em nossas vidas
diárias através da criação de um filho, mudança para um novo lugar, escolha de um
estilo de vida saudável ou obtenção de educação. A Demografia estuda eventos da vida,
como nascimentos, mortes, casamentos, divórcios e migrações (Poston & Bouvier, 2017).
Todos nós somos agentes populacionais; devemos refletir sobre isso: os nossos pais
realizaram um ato demográfico quando fomos concebidos. Por sua vez, realizamos atos
demográficos semelhantes quando decidimos ter ou não ter filhos. Nalgum momento
durante a vida vamos mover-nos uma ou talvez várias vezes. Esses também são atos
demográficos. Finalmente, morreremos. A morte não será do mesmo tipo de ato como a
tomada de decisão dos seus pais quando foi concebido e porque não se decide durante
quanto tempo se vai viver e quando se vai morrer. No entanto, temos muito a dizer sobre
quantos anos teremos quando morrermos. Ou seja, temos muitas opções que podem,
ou não, estender as nossas vidas. Estas incluem comportamentos como parar ou nunca
começar a fumar, limitar a ingestão de álcool, manter uma dieta saudável e praticar
exercício. Outro comportamento muito importante que prolongará as nossas vidas é a
educação, especificamente obter um diploma universitário. Por exemplo, com a idade de
25 anos, espera-se que os indivíduos com diploma universitário vivam mais cinquenta e
sete anos em comparação com cinquenta e um anos para os que têm apenas o ensino
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1. UMA INTRODUÇÃO À DEMOGRAFIA
médio, ou seja, uma diferença de seis anos. Em resumo, nós somos todos atores da
população. Estamos muito envolvidos com a Demografia no nosso dia-a-dia, embora
nem sempre percebamos isso. A Demografia é o estudo de alguns dos eventos mais
importantes das nossas vidas.
Para além do nascimento e da morte, outros eventos muito importantes na vida de muitos
de nós incluem o casamento e, também para alguns de nós, o divórcio. Outro evento
realmente importante que quase cada um de nós fará pelo menos uma vez, senão muitas
vezes, nas nossas vidas é mudar de uma residência para outra, no mesmo país ou entre
vários países.
“O estudo da população oferece algo para todos: o dia a dia, sexo e morte,
política e guerra; o entrelaçamento de indivíduos em todos os seus níveis e
grupos e os confrontos da natureza e da civilização” (Poston & Bouvier, 2017,
p. 4-5).
Definir Demografia parece ser a primeira questão que se põe quando abordamos esta área.
Definimos Demografia no início deste capítulo como o estudo sistemático e científico das
populações humanas. A Demografia é o estudo de três processos básicos: fecundidade,
migrações e mortalidade. Estes são chamados de processos demográficos. Quando a
população muda em tamanho, composição ou distribuição, as mudanças dependem
unicamente de um ou mais desses três processos demográficos.
Em sentido geral, uma população pode ser encarada como um conjunto de indivíduos ou
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1. UMA INTRODUÇÃO À DEMOGRAFIA
de unidades que podem ser de natureza muito diversa. Numa perspetiva demográfica,
as populações humanas são consideradas com características específicas, num espaço
limitado e com um certo significado social.
No que diz respeito ao significado social, a população considerada deverá ter um certo
significado de coerência social.
Com base em inúmeras definições, observamos que a Demografia tem por objeto o estudo
científico da população. Mas o que é exatamente o estudo científico da população?
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1. UMA INTRODUÇÃO À DEMOGRAFIA
Em quarto lugar, a Demografia também se ocupa dos efeitos que cada uma das variáveis
micro demográficas tem nos aspetos globais e estruturais da população, bem como o
inverso (por exemplo, até que ponto um aumento da natalidade modifica estruturalmente
a população ou em que medida uma mudança estrutural da população se reflete na
modificação da evolução da natalidade).
A Demografia, enquanto ciência que tem por objeto de estudo a população humana,
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1. UMA INTRODUÇÃO À DEMOGRAFIA
Mortalidade
(óbitos) Dinâmica Evolução dos
Natural Volumes
Natalidade / fecundidade Populacionais
(nados-vivos)
Destas cinco variáveis demográficas, duas tratam do estado (volumes e estrutura etária)
e as outras três referem-se aos comportamentos que influem diretamente sobre as
alterações observadas no “estado” da população (mortalidade, natalidade/ fecundidade,
mobilidade populacional).
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1. UMA INTRODUÇÃO À DEMOGRAFIA
Landry publica em 1945, o seu Tratado de Demografia; A. Sauvy, em 1946, lança a revista
Population. Mas o que verdadeiramente se passou de novo foi o aparecimento do método
científico baseado na reconstituição das famílias, inventado quase simultaneamente por
P. Goubert e L. Henry (1958) (conforme citado em Nazareth, 2004, p. 51-52).
A Demografia histórica, mais do que qualquer outra ciência social, tornou-se particularmente
atenta à qualidade dos dados. A Demografia histórica deixou de ser uma ciência auxiliar,
para passar a uma ciência autónoma com métodos e técnicas próprias, diferentes das
outras ciências, inclusive da própria Demografia.
Assim, sem pretendermos ser exaustivos, podemos dizer que as grandes preocupações
da Demografia Social nos dias de hoje são as seguintes:
• As causas e as consequências do declínio da natalidade
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1. UMA INTRODUÇÃO À DEMOGRAFIA
• A Demografia escolar
Para além destes dois principais ramos da Demografia (histórica e social) existem outros
dois domínios importantes nos quais a Demografia tem um papel fundamental: as Políticas
demográficas e a Ecologia Humana.
O objetivo teórico das políticas demográficas consiste em atuar sobre os modelos (ou sobre
os efetivos) tendo em conta determinados objetivos económicos e sociais. A ideia de atuar
sobre o movimento demográfico a fim de que este se adapte a imperativos económicos
e sociais é uma preocupação de muitos países. Mas até que ponto esta preocupação se
traduziu na existência de autênticas políticas demográficas?
A Ecologia Humana parte do princípio que existem dois sistemas em interação constante:
o sistema-homem (que recebe e descodifica a informação) e o sistema ambiente que
elabora uma ação de resposta. A população, na perspetiva da Ecologia Humana, é um
conjunto de indivíduos num sistema interdependente de atividades. Cada atividade produz
um output e os ingredientes utilizados na produção desses outputs são os inputs de
outra atividade. Esta rede complexa que assim se estabelece é um processo específico
da Ecologia em geral e da Ecologia Humana em particular: o ecossistema.
A Demografia caminhou de uma unidade inicial, onde a sua problemática era formulada
em termos simples, para uma crescente diversidade e complexidade.
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1. UMA INTRODUÇÃO À DEMOGRAFIA
objetivo de descrever e analisar de uma forma rigorosa o estado das populações, ou seja,
os seus efetivos e a sua composição segundo vários critérios (idade, sexo, localização
geográfica); os diversos fenómenos que influem diretamente sobre essa composição e
evolução da população (natalidade, fecundidade, mortalidade, migrações); as relações
recíprocas que existem entre estado/evolução da população e os fenómenos demográficos.
Os termos Demografia pura e Demografia formal às vezes são usados para distinguir
interesses mais restritos na composição da população e dinâmica demográfica, lidando
inteiramente com variáveis demográficas. Um exemplo de análise demográfica formal seria
desenvolver um modelo teórico especificando a relação entre mudanças na fecundidade
(tratada como uma causa) e mudanças na composição etária (tratada como um efeito).
Uma abordagem mais ampla e menos focada para a Demografia está implícita nos estudos
populacionais, mas também abrange o estudo das relações entre dados demográficos e
variáveis não demográficas. As implicações de longo alcance das variáveis demográficas
noutras disciplinas geraram amplo interesse em campos de estudo como Demografia
social, Demografia económica, Demografia antropológica, Biodemografia e Demografia
histórica. Mais duas observações preliminares precisam de ser feitas. Um dos pontos fortes
da Demografia é que nos permite ver como o indivíduo e suas experiências se encaixam
no quadro demográfico mais amplo do mundo. A Demografia leva essas experiências
intensamente pessoais e as considera no nível agregado das pessoas, não ao nível
individual. O segundo ponto é que a Demografia é geralmente quantitativa e estatística,
embora alguns demógrafos também usem métodos qualitativos. A Demografia lida com
populações, e as características das populações são mais frequentemente medidas por
contando as pessoas na população total, ou em segmentos dela, e comparando aquelas
contagens. Assim, a Demografia pode facilmente apresentar descrições básicas da
população em tabelas e gráficos (Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015).
Demografia Histórica
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1. UMA INTRODUÇÃO À DEMOGRAFIA
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1. UMA INTRODUÇÃO À DEMOGRAFIA
Estimativa oficial;
6 Brasil 211 755 692 2020
IBGE Brasil
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1. UMA INTRODUÇÃO À DEMOGRAFIA
A equação (1.1)
A quantidade (Nt para t+1 − Ot para t+1) é a diferença entre o número de nascimentos
e o número de mortes que ocorreram durante o período t para t+1 e é conhecido
como aumento natural; se Nt tot + 1 < Ot tot + 1, então o número de mortes excede
o número de nascimentos durante o intervalo t para t+1, significando aumento natural
negativo, ou seja, diminuição natural. A quantidade (It para t+1 − Et para t+1) refere-se
à diferença entre o número de imigrantes (pessoas que entram num país) e o número de
emigrantes (pessoas que deixam um país) durante o período de tempo, e é conhecido
como migração internacional líquida (ou, no caso de migração interna menos migração
externa, migração interna líquida). Se It para t+1 < Et para t+1, então mais pessoas
saem (emigram de) do que entram na área (imigrar para), e a quantidade é conhecida
como migração internacional líquida negativa. Finalmente, se a quantidade It para t+1>
Et para t+1, então temos migração internacional líquida positiva.
Em muitos países em desenvolvimento, é frequente a migração internacional líquida
negativa porque It para t+1 < Et para t+1. Países como México, China, Índia e as Filipinas
são chamadas de países remetentes; têm mais pessoas que saem dos seus países do que
entram e, portanto, são caracterizados pela migração internacional líquida negativa. As
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1. UMA INTRODUÇÃO À DEMOGRAFIA
Filipinas enviam cerca de 1,5 milhão de pessoas para o exterior todos os anos, incluindo
300.000 que trabalham em navios em todo o mundo. Cerca de 10 por cento da população
do país vive no exterior (Martin, 2013). Dentro dos países, no entanto, geralmente há
muitas variações significativas na equação demográfica.
Destes exemplos podemos confirmar que os três processos demográficos têm um papel
determinante não só no tamanho, mas na composição de qualquer população humana.
Mudanças nas variáveis são o resultado do nosso comportamento enquanto atores
populacionais. Isto é o cerne da Demografia: compreender como estes diversos fatores
causam mudanças no comportamento demográfico e que as consequências destes
comportamentos estão todas interrelacionadas (Poston & Bouvier, 2017, p.5-8).
Atividade formativa
1. Uma definição aprofundada de Demografia, comporta cinco elementos
fundamentais. Quais são?
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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS
Objetivos
1. Conhecer o pensamento dos primeiros demógrafos;
Introdução
Nesta unidade, tentaremos explicar como foi evoluindo a Demografia relativamente aos
seus aspetos quantitativos da dinâmica populacional. Para além disso tentaremos perceber
como se foi constituindo lentamente a Demografia como ciência. Durante os séculos XVII
e XVIII a Demografia emerge como ciência.
Iremos ver também quem foram e o que disseram os homens que transformaram em
ciência a Demografia, qual é realmente o objeto de estudo da Demografia, quais são as
grandes teorias e os grandes problemas da Demografia contemporânea e porque é que a
Demografia é simultaneamente una e diversa e quais as grandes divisões da Demografia
atual.
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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS
Uma população caracteriza-se pelo seu tamanho (número de indivíduos) e a sua composição
e está em perpetua evolução, pelo facto das entradas (nascimentos e imigrações) e das
saídas (mortes, emigrações). É fácil perceber então que uma parte essencial do trabalho
dos demógrafos será tentar explicar o que motiva a evolução dos comportamentos
demográficos. Na base, fecundidade, mortalidade e migrações dependem de processos que
têm na origem uma mesma lógica: partindo de pré-condições biológicas características da
espécie humana, as propensões em procriar, migrar, morrer, são largamente influenciadas
por um conjunto extremamente complexo de determinantes, próximos ou longínquos,
de ordem ecológica, geográfica, económica, sociológica, política, cultural, filosófica e que
variam no tempo e consoante as sociedades.
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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS
A população relativa, por outro lado, corresponde ao número de habitantes por área.
Este tipo de população também é conhecido por densidade demográfica ou densidade
populacional. Para obter a população relativa é necessário dividir a população absoluta
de determinado local pela área, normalmente em km2.
O ano 2020 foi marcado pela pandemia do Covid -19. Considera-se, contudo, que essa
não terá um impacto demográfico significativo. Observa-se que as pessoas falecidas são
maioritariamente idosas, população que já não teria tido filhos, não interferindo neste
caso com o número de nascimentos nos próximos anos (Institut Montaigne, 2021).
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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS
Aristóteles (384-322 a.C.) é mais realista do que o seu mestre Platão, ao pensar sobretudo
num número estável de habitantes. Esta procura de estabilidade não implica um número
fixo de habitantes. Pelo contrário, ao aperceber-se que a natalidade e a mortalidade fazem
variar o volume populacional, propõe uma “justa dimensão” da população.
Na idade Média, Santo Agostinho (345-430) e São Gregório (540-604) defendem que o
casamento une marido e mulher para gerar filhos. Esta linha de pensamento é dominada
pelo pensamento cristão, numa perspetiva teológica e moral, enquanto que as duas
anteriores formas (pertencentes à Antiguidade) foram analisadas numa perspetiva política
e social.
Com o início dos tempos modernos, as ideias respeitantes à população separam-se das
questões morais e passam progressivamente a depender de preocupações políticas e
económicas. É nesta linha de ideias e de acontecimentos que se deve interpretar o culto
pelo ideal mercantilista da riqueza, associado à valorização do Estado. Neste contexto, as
doutrinas mercantilistas são consideradas, no seu conjunto, explicitamente populacionistas.
Este populacionismo permitiu acelerar o processo que irá conduzir ao aparecimento da
Demografia como ciência.
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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS
Na primeira corrente encontramos autores que procuram refletir sobre o melhor equilíbrio
entre a população e os recursos. Thomas More (1478-1535) ao estudar as causas da
miséria do seu país, pensa que esta deve-se a três fatores: o luxo da nobreza, a existência
de muitos domésticos improdutivos e a extensão da criação de carneiros. Se existem
autores preocupados com esta questão do equilíbrio população-recursos, no século XVII,
em Inglaterra, a Demografia dá os seus primeiros passos como ciência e pensadores
como William Petty, John Graunt, Edmund Halley começam a considerar que os problemas
populacionais devem ser analisados e medidos independentemente das relações que
possam ter com quaisquer outros problemas económicos, políticos e sociais.
A morte durante muito tempo foi estudada na Antiguidade e Idade média na perspetiva
da longevidade, isto é, da idade mais elevada que o homem podia esperar atingir. O
termo mortalidade designava até ao século XVII as destruições causadas pelas guerras e
epidemias. Com Petty e John Graunt que em 1661 publicam o primeiro livro de Demografia,
Natural and Political Observations Mentioned in a Following Index, and Made Upon the
Bills of Mortality na cidade de Londres, aparece a ideia moderna da mortalidade, a de uma
evolução regular dos riscos de morte com a idade. Os dois homens imaginam as primeiras
tábuas de mortalidade que indicam o número de mortes observados a cada idade num
grupo de pessoas seguidas desde o seu nascimento. O número de sobreviventes numa
determinada idade deduz-se por simples substração das mortes ocorridas entre essa idade
e a anterior (Enciclopédia Universalis, 2021).
A invenção das primeiras tábuas de mortalidade pelo inglês John Graunt constitui o
certificado de nascimento dessa nova ciência. Os conceitos estatísticos das tábuas de
mortalidade são ainda hoje elementos fundamentais dos métodos demográficos. Com
as tábuas de mortalidade de Graunt, a Demografia define-se como ciência que, a partir
da observação de dados, mede o risco dos fenómenos demográficos e que, a partir dos
resultados dessas medidas, aspira a conhecer não apenas o presente e o passado, mas
também a aventurar-se na prospeção do futuro. É esta ambição prospetiva que vai acionar
a formulação de teorias universais da população, de que são principais expressões: o
malthusianismo e a teoria da transição demográfica (Leston Bandeira, 1996c).
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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS
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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS
Mas o desenvolvimento da Demografia, como ciência, fez com que nas últimas décadas
se multiplicasse o número de investigadores e de obras publicadas. Mas o que é afinal
a Demografia? É o estudo das populações humanas, claramente delimitadas no tempo
e no espaço.
Malthus
“O século XVIII foi fértil em ideias e ideais (...) debates apaixonados, e nem
sempre muito bem fundamentados, relativos às questões da população, e
sobre o sub ou sobre povoamento do Mundo, da Europa ou de alguns países”,
Deve-se também, segundo ela, ao aparecimento de várias teorias e ideologias pelo facto
de não haver verdadeiros recenseamentos.
É neste contexto que surge “uma obra que marcará quer o pensamento demográfico,
quer a demografia, quer ainda as políticas de população até aos dias de hoje”. Trata-se da
obra de Thomas Robert Malthus, An essay on the principle of on population as it affects
the future improvement of society with remarks on the speculations of Mr. Godwin, Mr.
Condorcet and other writers – 1.ª edição 1798. Esta obra foi seguida, ainda em vida de
Malthus, por mais cinco edições até 1826, até mais tarde comentada, discutida, contestada
ou apoiada, em várias línguas, transformando o malthusianismo em uma doutrina.
Thomas Malthus, padre inglês que viveu no século XVIII (1766-1834), professor de
História Moderna e Economia Política em Inglaterra, grande observador de fenómenos
populacionais, estabeleceu o célebre paralelo entre a multiplicação do homem e a sua
subsistência.
Em 1798, Malthus publica o Ensaio sobre o Princípio da População. O livro faz escândalo
devido a uma das suas teses:
“a assistência aos pobres é inútil porque não serve senão para os multiplicar
sem os consolar”. (conforme citado em Nazareth, 2004, p. 26)
“um homem que nasce num mundo ocupado, se não lhe é possível obter dos
seus pais os meios de subsistência… e se a sociedade não tem necessidade
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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS
A sua teoria baseia-se no facto de uma população ter um aumento constante e esse
aumento ser mais rápido do que os meios de subsistência, sendo o equilíbrio entre o
tamanho da população e o nível de subsistência mantido através do controle do crescimento
da população.
De acordo com Malthus, as populações tendem a crescer mais rapidamente do que os meios
de subsistência; isto é, as populações tendem a crescer numa progressão geométrica (1,
2, 4, 8, 16 etc.). Por outro lado, não existe essa tendência para os meios de subsistência se
expandirem por progressão geométrica; em vez disso, eles se expandem por progressão
aritmética (1, 2, 3, 4, 5, 6, etc.).
A população é mantida dentro dos limites dos meios de subsistência principalmente por
meio de controles positivos, aqueles operando através das taxas de mortalidade. Quando
os meios de subsistência não são adequados para cuidar de uma população de um
determinado tamanho, a taxa de mortalidade aumentará até que a população encolha a
um nível suportável.
Da mesma forma, sempre que surgir um excedente nos meios de subsistência, isso tenderá
a diminuir temporariamente a taxa de mortalidade (e aumentar a taxa de crescimento
natural) até que a população tenha crescido até os limites dos novos meios de subsistência.
Este é o “dilema malthusiano”.
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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS
mais tarde), abstinência antes do casamento (limitações morais), casamentos tardios dos
pobres ou até apelo ao celibato “A miséria deriva do crescimento excessivamente rápido
da população” (conforme citado em Nazareth, 2004, p.33). Quanto ao terceiro eixo – os
remédios, Malthus não hesita em afirmar que o único obstáculo que não prejudica nem
a felicidade moral, nem a felicidade material é a obrigação moral.
“Restrição moral”, conforme defendida por Malthus, consiste em não se casar até
que se possa sustentar os filhos resultantes e em permanecer sexualmente casto fora
desse casamento. Além disso, se o casamento e a companhia sexual precisam de ser
conquistados, as pessoas trabalharão mais arduamente para ganhar esse prêmio,
aumentando assim os meios de subsistência agregados.
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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS
a Sauvy a elaboração da teoria do “ótimo da população”, ou seja, qual deve ser o número
de habitantes de um dado território para que o nível de vida de cada um seja o mais
elevado possível?
Nas últimas décadas, uma perspetiva neomalthusiana usou parte da teoria de Malthus como
uma justificativa para programas de planeamento familiar em todo o mundo. As perspetivas
neomarxistas e a teoria do desenvolvimento económico, entretanto, promoveram políticas
de desenvolvimento como tecnologia agrícola aprimorada, oportunidades e acesso ao
crédito para grupos sociais marginalizados e sistemas de distribuição social eficientes
dentro das regiões menos desenvolvidas. Não surpreendentemente, essas duas perspetivas
são complementares, refletindo o numerador (ou seja, o tamanho da população) e o
denominador (ou seja, meios de subsistência) para a densidade populacional. Ambos têm
claramente um papel nas preocupações com o crescimento populacional. A contribuição
de Malthus foi chamar a atenção para a importância do crescimento populacional nesta
equação.
Por outros lado, assiste-se a políticas de planeamento familiar que os países implementaram
para tratar das preocupações com o crescimento populacional. Essas políticas são exemplos
de neomalthusianismo, que defende abertamente o uso de controles preventivos para
escapar do dilema malthusiano. Isso inclui, principalmente, o controle da natalidade
(que Malthus chamou de “vício”), um produto da era vitoriana. Malthus, em vez disso,
defendeu “restrição moral” por meio da abstinência e do adiamento do casamento. Apesar
dessa diferença, os neomalthusianos e o movimento de planeamento familiar moderno
descendem diretamente de Malthus e contam com uma noção geral de seu “princípio de
população” como apontando para a necessidade de programas de planeamento familiar
(Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015, p.70).
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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS
Assim, se desde o fim dos anos 1950, os especialistas das Nações Unidas puderam prever
que o Planeta estaria povoado por 6 bilhões de homens no ano 2000, logo a teoria da
transição demográfica fornecia um corpo de hipóteses particularmente exato sobre a
evolução da dinâmica das populações de países em desenvolvimento, principal foco para
o futuro da população mundial da época (Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015).
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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS
Neste artigo publicado em 1929, Thompson classifica os países do mundo em três grandes
grupos segundo o seu crescimento demográfico:
– o grupo A: baixas taxas de mortalidade, taxas de natalidade em diminuição
rápida, declínio das taxas de crescimento natural; declínio do crescimento da
população; aproximação rápido do estado estacionário;
Numa obra publicada em 1934, La Révolution Démographique. Paris, Librairie Sirey, Landry
distingue também três regimes de população para dar conta da situação demográfica
presente e passada de certos países da Europa (Piché e Poirier, 1990):
– o regime primitivo no qual a fecundidade não sofre nenhuma restrição de ordem
económica. A população tende para um máximo que será alcançado quando a
mortalidade terá atingido o nível da natalidade;
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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS
Assim, a transição demográfica, a passagem de uma sociedade agrícola com uma alta
fecundidade para uma sociedade industrial com uma diminuição da fecundidade, efetua-
se pela passagem forçada para a industrialização.
© Universidade Aberta 39
2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS
A teoria de transição demográfica foi descrita pela primeira vez nos anos 40. Desde então
tem sido modificada, acrescentada e escrita de novo. A definição clássica desta teoria foi
descrita por Notestein (1945), Blacker (1947) e outros autores e define-se do seguinte
modo: existem uma série de estádios durante os quais a população se move de uma
situação onde tanto a mortalidade como a natalidade são altas, para uma posição onde
tanto a mortalidade como a natalidade são baixas. O crescimento de ambos os indicadores
antes e depois da transição demográfica é muito baixo. Durante a transição, o crescimento
da população é muito rápido devido essencialmente ao declínio da mortalidade ocorrer
antes do declínio da fecundidade.
Easterlin e Crimmins (1985) expandem esse pensamento para incluir os custos psicológicos
ou sociais de limitar a fecundidade. A teoria ideativa (Cleland e Wilson, 1987) atribui o
declínio da fecundidade à difusão de informações anticoncecionais e à mudança das
normas sobre procriação.
Mason (1997, conforme citado em Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015, p. 59), resume o
que os demógrafos estabeleceram sobre a transição demográfica:
1. O declínio da mortalidade é geralmente uma condição necessária, mas não
suficiente, para o declínio da fecundidade.
© Universidade Aberta 40
2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS
Maria Luís Rocha Pinto (2010, p. 55) resume as quatro fases em que todos os países já
passaram, estão a passar ou passarão:
a) uma fase do “quase equilíbrio” antigo, (ou de pré-transição) entre uma
mortalidade elevada e uma fecundidade igualmente elevada o que implica
um crescimento natural da população reduzido – característica de sociedades
agrícolas e rurais. À esta primeira fase, dá-se o nome de fase de pré-transição
ou pré-industrialização, caracterizada por um equilíbrio de baixo nível. Durou
milhares de anos quando o mundo era caracterizado por altas taxas de natalidade
e mortalidade e crescimento populacional estável. Na maioria dos países do
mundo, esta época está terminada. A fase pré-transicional foi seguida pela fase
de transição (Fase 2), caracterizada por uma taxa de fecundidade elevada e o
declínio da taxa de mortalidade.
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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS
Quase todos os países do mundo já passaram pela segunda fase (declínio da mortalidade) e
quase todos já chegaram à terceira fase (declínio da fecundidade). A transição demográfica
começou nos países mais avançados da Europa no século XVIII quando a mortalidade
começou a declinar numa forma consistente e continuada. Chegando ao século XX, o
declínio da mortalidade expande-se a todos os países europeus e aos outros continentes.
O aumento da população acelera. A tendência pesada da evolução da população mundial
aponta, atualmente para uma situação em que, a partir de meados deste século, se admite
© Universidade Aberta 42
2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS
Acrescenta, por fim, a transição migratória, caracterizada pelo fim do êxodo rural e a
importância crescente da migração internacional no crescimento demográfico.
Além de observar estas diversas transições, o importante, segundo Piché (2013) é mostrar
que estas transições estão todas ligadas, produzindo assim uma teoria global da mudança
social.
Maria Luís Rocha Pinto (2010) nota que para Landry existem apenas três fases ou “regimes
demográficos” que se sucedem no tempo:
a) “regime primitivo” em que a pressão das subsistências, isto é a economia,
apenas afeta a mortalidade, e em que o homem deixa à natureza a regulação
dos excedentes; esta espécie de regulação “natural” faz com que a população
tenda sempre para o máximo possível pelas subsistências disponíveis; este
efetivo da população tem a longo prazo um crescimento muito lento, alterado
regularmente por crises de sobre mortalidade (epidemias, guerras, fomes);
© Universidade Aberta 43
2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS
Atividade formativa
1. Descreva a Teoria da Transição Demográfica e as suas fases.
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3. AS FONTES DE INFORMAÇÃO DEMOGRÁFICA
E OS TESTES À QUALIDADE DOS DADOS
Objetivos
1. Conhecer as características fundamentais e o conteúdo dos principais sistemas
de informação existentes;
Introdução
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3. AS FONTES DE INFORMAÇÃO DEMOGRÁFICA E OS TESTES À QUALIDADE DOS DADOS
Segundo, existem dados normalmente recolhidos pelos registos dos diferentes sistemas.
Os dados produzidos são o registo dos acontecimentos durante um determinado intervalo
de tempo, em geral um ano. Os dados são essencialmente dinâmicos na sua natureza,
porque fornecem informação no decorrer do tempo.
Tendo em conta que alguns desses dados podem conduzir a enviesamentos, a recolha
de dados demográficos tem de ser hierarquizada e explicitada, pois estes influenciarão
os modos de análise restringindo as possibilidades de algumas análises.
Poucos são os dados que são recolhidos principalmente com fins demográficos. A maior
parte deles são produzidos para, ou como, produto de atividades administrativas levadas a
cabo ou controladas pelos governos ou agências internacionais e onde os demógrafos têm
pouco controle do modo preciso como eles são recolhidos, agregados ou apresentados.
Contudo estes dados são utilizados pois geralmente são os que estão disponíveis.
A origem dos dados para análise demográfica são os registos vitais, os censos, os controles
de migração, as campanhas de saúde pública, os programas de controlo da população,
os inquéritos especiais, entre outros.
© Universidade Aberta 46
3. AS FONTES DE INFORMAÇÃO DEMOGRÁFICA E OS TESTES À QUALIDADE DOS DADOS
As taxas são o instrumento de medida mais usado em análise demográfica. Por definição,
uma taxa mede a frequência de um fenómeno numa população durante um período de
tempo determinado. Qualquer que seja a duração do período, uma taxa tem sempre uma
dimensão anual.
Uma taxa é simplesmente qualquer número dividido por qualquer outro número.
Outro exemplo: a taxa de mulheres em relação aos homens será o número de mulheres
a dividir pelo número de homens numa dada população. Geralmente a fórmula é
© Universidade Aberta 47
3. AS FONTES DE INFORMAÇÃO DEMOGRÁFICA E OS TESTES À QUALIDADE DOS DADOS
a média da população total durante um ano que contribui para o total da exposição ao
fenómeno durante um ano.
Devemos ainda chamar à atenção que muitas medidas que são comumente designadas
de frações em Demografia são estritamente taxas, proporções ou outros índices. Ex:
“fração de literação” será a proporção da população que é literata enquanto a “taxa bruta
de nascimento” é realmente uma taxa porque inclui no seu denominador os idosos, as
crianças e homens, nenhum deles em risco de dar à luz uma criança.
Uma proporção será um tipo especial de taxa na qual o numerador está incluído no
denominador isto é: . Por exemplo a proporção da população do
sexo feminino será o número de mulheres dividido pelo total de homens e mulheres em
conjunto. A proporção pode variar entre 0,0 e 1,0. Esta medida é, em geral, expressa em
percentagem que se obtém multiplicando o valor obtido por cem.
3.2 OS RECENSEAMENTOS
Um recenseamento é um conjunto de operações baseadas em registos individuais, que
permitem conhecer todo (universalidade) o efetivo populacional de um território numa
data precisa (simultaneidade), com detalhes sobre a repartição dessa população por
unidades administrativas e segundo um número mais ou menos vasto de características
(sexo, idade, residência, profissão).
Determinados inquéritos muitas vezes orientados com um objetivo bem definido, também
são fonte de dados demográficos que são, mais ou menos, independentes do sistema
convencional.
área geográfica definida. Em segundo lugar, como não envolve amostragem, cada pessoa
é enumerada separadamente. Em terceiro lugar, ele não é um exercício voluntário e
tem que ter uma base legal para o tornar compulsório e ser incluída e providenciada a
informação pretendida. Finalmente, é obrigatório ser relacionado com um dado momento
no tempo e não num período.
Um censo é uma recolha de dados sobre a população levada a cabo de uma só vez num
dado país e envolve: formulação de um questionário, planeamento e organização de uma
equipa, processamento e análise dos dados e divulgação dos resultados.
Censos: Sobre Censos, o que são, para que servem, Censos em Portugal, Censos no
mundo, ver Censos 2021 em https://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpgid=censos21_sobre_
censos&xpid=CENSOS21&xlang=pt.
O quadro 1 (anexo 1) apresenta uma síntese das variáveis a observar nos Censos 2021
e as excluídas face aos Censos 2011.1 (ver o anexo 1 – Quadro 1. Síntese das variáveis
a observar nos Censos 2021 e excluídas face aos Censos 2011).
1
https://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=censos_historia_portugal
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3. AS FONTES DE INFORMAÇÃO DEMOGRÁFICA E OS TESTES À QUALIDADE DOS DADOS
Na maioria dos países desenvolvidos o sistema de registo dos acontecimentos vitais fornece
a maior parte da informação dos nascimentos, casamentos, óbitos e por vezes os dados
de migração. Nos países em desenvolvimento, estes sistemas de recolha de informação
são na maior parte das vezes incompletos e por vezes nem existem, nem são explorados
com fins demográficos. Isto explica que os objetivos do registo desta informação são
essencialmente administrativos e legais e não demográficos2.
2
Ver estatísticas demográficas em https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_
publicacoes&PUBLICACOEStipo=ea&PUBLICACOEScoleccao=107661&selTab=tab0&xlang=pt e as
Estatisticas demográficas de 2019 em https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_
publicacoes&PUBLICACOESpub_boui=71882686&PUBLICACOESmodo=2
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3. AS FONTES DE INFORMAÇÃO DEMOGRÁFICA E OS TESTES À QUALIDADE DOS DADOS
Primeiro, existem informações dos censos tipo, o que talvez substitua um censo
completo ou simplesmente o existente, fazendo uma ampla distribuição de questões
numa amostra da população envolvida. Os inquéritos designados para investigar alguns
tópicos particulares, como o uso de contracetivos, emprego das mulheres, ou causas e
consequências da migração também caem nesta categoria de exemplos.
Segundo, existem inquéritos retrospetivos, assim designados pois fazem perguntas acerca
de acontecimentos que ocorreram no passado, nos países em desenvolvimento inicialmente
utilizados para reunir informação que os sistemas normalmente fornecem.
O nível das perguntas retrospetivas, grosseiramente usadas pelos demógrafos, são por
ordem de importância: número total de crianças que nasceram vivas, número de crianças
que vivem em casa, número de crianças que saíram e morreram (usado para conferir o
número e para fazer uma estimativa da mortalidade infantil), tempo decorrido desde o
último nascimento (usado principalmente para determinar os nascimentos no último ano),
se a mãe é viva, se o pai é vivo, se o primeiro marido é vivo.
Existem ainda uma larga gama de técnicas indiretas sofisticadas, que podem servir para
a recolha de dados sobre questões específicas que deverão ser formuladas e utilizadas
de acordo com o objetivo e o grau de precisão que se pretende obter.
Em conclusão, poderemos dizer que existem três grandes fontes para a recolha de dados
em Demografia (informação dos censos tipo, inquéritos por amostragem, técnicas indiretas
de perguntas por questões específicas) que não são alternativas umas das outras, embora
uma possa, eventualmente, ser usada na ausência ou deficiência da outra.
Um censo é mais ou menos essencial para fornecer uma base de dados sem a qual o sistema
de registo ou um inquérito por amostra é menos útil. Nos países em desenvolvimento,
os inquéritos por amostragem podem investigar determinados aspetos deficientes nos
censos e dar mais fiabilidade à informação disponibilizada pela má qualidade fornecida
por esses censos.
© Universidade Aberta 51
3. AS FONTES DE INFORMAÇÃO DEMOGRÁFICA E OS TESTES À QUALIDADE DOS DADOS
Eurostat
PORDATA
3
Ver exemplos de inquéritos em https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_
estudos&xlang=pt; https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&
PUBLICACOEStipo=ea&PUBLICACOEScoleccao=107773&selTab=tab0&xlang=pt;
https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_
boui=415655178&DESTAQUESmodo=2; http://www.ine.gov.mz/operacoes-estatisticas/
inqueritos/inquerito-demografico-e-de-saude (IDS de Moçambique).
4
https://ec.europa.eu/info/departments/eurostat-european-statistics_pt
5
(PORDATA: Site: www.pordata.pt).
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3. AS FONTES DE INFORMAÇÃO DEMOGRÁFICA E OS TESTES À QUALIDADE DOS DADOS
errónea. O primeiro, que normalmente atrai mais atenção, surge quando uma parcela da
população não é contada, por omissões na organização do censo ou por vontade própria,
por exemplo no caso de imigrantes clandestinos ou outros indivíduos com motivos para
evitar a enumeração. Normalmente, erros deste tipo podem ser detetados através de um
levantamento amostral, executado logo depois do censo, que serve para avaliar a sua
qualidade e definir fatores de correção.
Este indicador relaciona o número de nascimentos masculinos por cada 100 nascimentos
femininos, ou seja
É a relação dos nascidos vivos masculinos com os nascidos vivos femininos realizados
num determinado período. Permite ver se existem ou não erros ao nível dos registos dos
nascimentos (desequilíbrios ao nível dos registos dos sexos).
Como funciona este teste? Sabemos que nos países com boa qualidade de estatísticas
demográficas a relação de masculinidade dos nascimentos anda à volta de 105 (ou seja,
por cada 100 raparigas nascem 105 rapazes).
A existência de desvios acentuados, em relação a este valor, não pode ser senão a
consequência direta das flutuações aleatórias, mesmo no caso de estarmos em presença
de uma observação perfeita. Não podemos concluir logo que a qualidade dos dados é
má. Existem as flutuações que têm a ver com o número de ocorrência.
Para um total de 1000 nascimentos temos, em teoria, 512 nascimentos masculinos e 488
nascimentos femininos, ou seja, uma proporção de 0,512.
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3. AS FONTES DE INFORMAÇÃO DEMOGRÁFICA E OS TESTES À QUALIDADE DOS DADOS
Os métodos para testar dados incompletos e incorretos são inúmeros, sendo os mais
importantes, divididos em duas categorias:
Este teste serve para provar se existe ou não concentração em determinadas idades.
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3. AS FONTES DE INFORMAÇÃO DEMOGRÁFICA E OS TESTES À QUALIDADE DOS DADOS
• Obtêm-se assim diversos índices (no exemplo dado I6, I16, …) que são
representados graficamente; quando os índices obtidos têm um valor superior
a 100 existe atração; quando os índices obtidos têm um valor inferior a 100
existe repulsão.
A relação entre o efetivo real e o efetivo teórico fornece-nos um índice, que à medida
que se afasta da unidade (ou de 100 se multiplicarmos por este número) demonstra a
força do arredondamento.
– Denominador para a idade 36 = vou buscar 2 idades antes (34, 35) e 2 depois
(37, 38), vou adicionar todas e dividir por 5.
Resultados possíveis:
Existe o Índice de Whipple que também pode ser utilizado para testar a qualidade dos
recenseamentos. Os Demógrafos usam dados de anos de idade para determinar se há
irregularidades ou inconsistências nos dados (Nazareth., 2004).
Procura demonstrar se uma população tende a relatar certas idades (digamos, aquelas
que terminam em 0 ou 5) em detrimento de outras idades.
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3. AS FONTES DE INFORMAÇÃO DEMOGRÁFICA E OS TESTES À QUALIDADE DOS DADOS
Este índice pode variar entre 100 (ausência total de concentração) e 500 (caso limite em
que todas as pessoas se declaram em idades terminadas em 0 e 5).
As Nações Unidades elaboraram uma tabela de base empírica que permite interpretar a
validade dos resultados obtidos:
Este indicador, em vez de medir a atração por determinadas idades, mede a qualidade
global de um recenseamento. Trata-se de um instrumento muito cómodo de calcular e
que possibilita a realização de comparações interessantes no tempo e no espaço.
• Para cada sexo calcula-se um índice de regularidade das idades; este índice
constrói-se calculando, em primeiro lugar, as relações de regularidade dividindo
cada grupo de idades pela média aritmética dos dois grupos que o enquadram;
posteriormente fazem-se as diferenças a 100 e faz-se a média das diferenças
absolutas;
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3. AS FONTES DE INFORMAÇÃO DEMOGRÁFICA E OS TESTES À QUALIDADE DOS DADOS
< 20 Bom
20-40 Mau
> 40 Muito Mau
Atividade formativa
1. Veja os dados das estatísticas demográficas para 2000 (Nascimentos) e para
2001 (Nascimentos e óbitos) e do recenseamento de 20016 e quadros 2, 3 e 4
em anexo.
6
(ver em www.ine.pt)
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4. A NATALIDADE, FECUNDIDADE, NUPCIALIDADE E
DIVÓRCIO
Objetivos
58
© Universidade Aberta
Tal como acontece com a mortalidade, a característica principal da natalidade no século
XX e XXI é o seu declínio, declínio esse que é em geral posterior ao da mortalidade. Em
muitos países não desenvolvidos esse declínio ainda não ocorreu ou está ainda no início
do processo.
Nos países não desenvolvidos, esse declínio, quando já ocorreu, é relativamente recente.
A África, no conjunto do continente, tem os níveis mais elevados o que nos indica que
na maior parte dos países africanos o declínio da natalidade ainda não ocorreu. Ao
observarmos as diferenças entre as regiões, facilmente nos damos conta de que existe
uma grande diversidade de situações; nos restantes continentes, além de valores globais
bastante mais baixos, as diferenças deixam de ser tão acentuadas.
59
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"intermediárias" e que influenciam diretamente a fecundidade. Essas variáveis
particulares foram diferenciadas de todos os outros tipos de variáveis porque, mais por
necessidade, influenciam a fecundidade operando por meio das poucas variáveis
imediatas especificadas por Davis e Blake (1956). Kingsley Davis e Judith Blake listaram
os determinantes próximos da fecundidade na ordem da sequência de tempo envolvida
na produção de bebés em três estágios: (1) relação sexual, (2) conceção e (3) gestação
e parto. Foi determinado que os seguintes fatores explicam a grande maioria da variação
na fecundidade entre grupos: proporção das uniões; uso de anticoncecionais;
infertilidade pós-parto e aborto (Bongaarts, 1982). Davis e Blake (1956) chamaram esses
determinantes próximos de "variáveis intermediárias". Isso ocorre porque a explicação
da fecundidade até a introdução de sua lista tinha em grande parte explicado pelo fundo.
Eles enfatizaram que a única maneira de uma diferença (por exemplo, na riqueza,
religião, etc.) produzir uma diferença de fecundidade foi causando variação num ou mais
dos determinantes próximos na sua lista. Se especificarmos os determinantes próximos
da fecundidade de coorte muito alta ou muito baixa para um grupo de pessoas, estamos
numa posição melhor para direcionar uma política para influenciar essa fecundidade. Se
os pobres têm mais filhos porque têm menos acesso a equipamentos contracetivos
modernos, podemos fornecer esses anticoncecionais com mais facilidade do que
podemos melhorar o padrão de vida, embora este seja certamente um objetivo digno
por si só. Na verdade, a maioria das políticas modernas de redução da fecundidade nas
regiões menos desenvolvidas tem sido baseada em programas de planeamento familiar
com base nesta explicação causal (Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015, pp 245- 245;
Poston & Bouvier, 2017, pp 74-77).
A Taxa Bruta de Natalidade mede a frequência anual da natalidade por cada mil
habitantes. Este instrumento de medida refere-se à relação entre os nascimentos
ocorridos num determinado espaço geográfico e a respetiva população média1, durante
um determinando período, normalmente um ano civil (habitualmente expressa em
número de nados-vivos por 1000 (10^3) habitantes).
1
População calculada pela média aritmética dos efectivos em dois momentos de observação, habitualmente
em dois finais de anos consecutivos (INE-Metainformação).
60
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Taxa bruta de natalidade
Que países têm mais e menos bebés por 1.000 residentes?
Grupos/Países Taxa bruta de natalidade
61
© Universidade Aberta
TBN = Nascimentos /População Média *1000
Exemplo:
Total de Nados-vivos (1990): 116 383 População média total (1990): 9 862 540
Apesar de ser um indicador muito utilizado, sobretudo como medida comparativa, deverá
ter-se em conta que a taxa bruta de natalidade, tal como todas as taxas brutas, é
enviesada pelos efeitos de estrutura das populações (quanto às diferenciações existentes
por idade e sexo).
62
© Universidade Aberta
1977 79,0
1978 72,3
1979 68,5
1980 ┴ 66,9
1981 63,7
1982 62,7
1983 59,5
1984 58,5
1985 53,1
1986 51,4
1987 49,8
1988 49,2
1989 47,6
1990 46,5
1991 46,3
1992 45,5
1993 44,9
1994 42,8
1995 41,8
1996 42,8
1997 43,6
1998 43,7
1999 44,6
2000 45,9
2001 43,0
2002 43,6
2003 42,9
2004 41,8
2005 42,1
2006 40,7
2007 39,7
2008 40,8
2009 39,0
2010 40,0
2011 38,6
2012 36,3
2013 33,9
2014 34,3
2015 36,0
2016 37,1
2017 37,2
2018 37,9
2019 37,9
63
© Universidade Aberta
A taxa de fecundidade geral obtém-se através do quociente entre o número dos
nascimentos (nados-vivos) ocorridos numa população, durante um período em análise,
e a população média total feminina em idade fértil (dos 15 aos 49 anos) desse período.
Exemplo:
População média total feminina dos 15-49 anos (1990): 2 479 494
2 479 494
Exemplo:
É a partir das taxas de fecundidade por idades que se podem calcular os indicadores
relativos à intensidade e ao calendário da fecundidade.
64
© Universidade Aberta
4.1.3. O Índice Sintético de Fecundidade
O ISF define-se como o número médio de crianças vivas nascidas por mulher em idade
fértil, admitindo que as mulheres estariam submetidas às taxas de fecundidade
observadas no momento. É o valor resultante da soma das taxas de fecundidade por
idades, ano a ano ou grupos quinquenais, entre os 15 e os 49 anos, observadas num
determinado período (habitualmente um ano civil). No caso de grupos quinquenais,
multiplica-se o valor da soma por 5 (amplitude de cada grupo etário).
Exemplo:
1.º. Calcula-se as TFG em cada um dos grupos etários (nascimentos em cada um dos
grupos etários / população média feminina em cada um dos grupos etários), ou seja,
TFG (GE) = Nados-Vivos por idades das mães (GE)/População Média Feminina (GE)
3.º. Multiplica-se o somatório das T.F.G. por grupos etários por 5 que corresponde à
amplitude de cada grupo etário.(*)
(*) Nota: No caso de já se ter multiplicado por 1000 as TFG por GE, é necessário dividir o seu somatório
por 1000 para calcular o valor do ISF = (somatório tx de fecundidade por grupos etários *5) /1000
Para que a reposição populacional seja assegurada, convencionou-se que o ISF não pode
ser inferior a 2,1 filhos por mulher, pois as duas crianças substituem os pais e a fração
0,1 é necessária para compensar os indivíduos que morrem antes de atingir a idade
reprodutiva.
65
© Universidade Aberta
Conforme dados do Relatório sobre a Situação da População Mundial 2010, do Fundo de
População das Nações Unidas (Fnuap), o ISF é de 2,52 filhos por mulher. Esse resultado
confirma uma tendência mundial de redução no número de filhos, contudo, a ritmos
diferenciados segundo as grandes áreas geográficas. Com efeito, a Organização das
Nações Unidas (ONU), baseada em dados de 2009, divulgou os seguintes resultados:
Europa (1,52), Canadá e Estados Unidos da América (2,02), América Latina (2,17), Ásia
(2,3), Oceânia (2,42), África (4,45). No Brasil, o ISF é de 1,94 filho por mulher.
A queda do ISF é consequência de vários fatores, tais como projetos de educação sexual,
planeamento familiar, utilização de métodos contracetivos, maior participação da mulher
no mercado de trabalho, expansão da urbanização, entre outros. Fatores que evoluem
de forma diferenciada segundo as realidades culturais e socioeconómicas dos vários
países.
2
Deste modo, implica, sempre que possível, a confirmação complementar através do cálculo da denominada
Taxa Liquida de Reprodução.
66
© Universidade Aberta
Índice sintético de fecundidade e taxa bruta de reprodução
Quantos filhos existem, em média, por mulher em idade fértil?
Quantas filhas tem, em média, cada mulher em idade fértil?
Índice Taxa Bruta
Anos Sintético de de
Fecundidade Reprodução
1960 3,20 1,56
1970 3,00 1,46
1971 2,99 1,46
1972 2,85 1,39
1973 2,76 1,35
1974 2,69 1,31
1975 2,75 1,34
1976 2,81 1,37
1977 2,68 1,31
1978 2,45 1,20
1979 2,31 1,13
1980 2,25 1,10
1981 2,13 1,04
1982 2,08 1,02
1983 1,96 0,96
1984 1,91 0,93
1985 1,73 0,84
1986 1,67 0,81
1987 1,63 0,80
1988 1,62 0,79
1989 1,58 0,77
1990 1,57 0,77
1991 1,56 0,76
1992 1,54 0,75
1993 1,52 0,74
1994 1,45 0,71
1995 1,41 0,69
1996 1,45 0,71
1997 1,47 0,72
1998 1,48 0,72
1999 1,51 0,74
2000 1,55 0,76
2001 1,45 0,71
2002 1,47 0,72
2003 1,44 0,70
2004 1,41 0,69
2005 1,42 0,69
2006 1,38 0,67
2007 1,35 0,66
2008 1,40 0,68
2009 1,35 0,66
2010 1,39 0,68
2011 1,35 0,66
2012 1,28 0,62
2013 1,21 0,59
2014 1,23 0,60
67
© Universidade Aberta
2015 1,30 0,63
2016 1,36 0,66
2017 1,37 0,67
2018 1,41 0,69
2019 1,42 0,69
Fonte: PORDATA/ Indicadores de Fecundidade: Índice sintético de fecundidade e taxa bruta de reprodução
Fontes de Dados: INE - Indicadores Demográficos
Última actualização: 2020-06-16
Exemplo:
…. ….
A idade média das mães ao nascimento dos filhos remete na atualidade para a
problemática do adiamento do momento de procriar. Nos países mais desenvolvidos a
tendência atual é para que as mulheres adiem o momento de procriar para idades, em
média, acima dos 30 anos. Em Portugal, em 2020, a idade média das mulheres ao
nascimento de um filho situou-se nos 31,6 anos.
68
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Idade Média ao Nascimento de um filho, Portugal 2000-2020
Anos IMNF
2000 28,6
2001 28,8
2002 28,9
2003 29
2004 29,2
2005 29,3
2006 29,4
2007 29,5
2008 29,6
2009 29,7
2010 29,8
2011 30,1
2012 30,2
2013 30,4
2014 30,7
2015 30,9
2016 31,1
2017 31,2
2019 31,4
2018 31,4
2020 31,6
Para estar no nível de reposição, o ISF deve estar acima de 2,0, uma vez que, em pelo
menos, um filho nasce para cada filha, e algumas mães em potencial morrem antes de
terem os seus filhos, mesmo na coorte hipotética mais saudável. Como estimativa geral,
o ISF de reposição é considerado 2,1 nas regiões mais desenvolvidas e 2,3 nas regiões
menos desenvolvias, onde as taxas de mortalidade são mais altas. Países com o ISF
abaixo desses níveis são considerados abaixo da fecundidade de substituição. Os países
que se encontram com fecundidade abaixo do nível de reposição tendem a preocupar-
se com os problemas do lento crescimento populacional e declínio populacional. Existem
69
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atualmente onze países ou territórios que começaram a experimentar níveis de
fecundidade mais baixos sem precedentes, caindo abaixo de 1,3 filhos por mulher.
70
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4.2. NUPCIALIDADE E DIVÓRCIO: MEDIDAS ELEMENTARES DE
ANÁLISE
A nupcialidade não é uma variável micro demográfica autêntica na medida em que o seu
aumento ou a sua diminuição não afetam diretamente a dinâmica populacional. Esta
variável intervém na dinâmica populacional indiretamente através da fecundidade, se
bem que, neste princípio de milénio, é cada vez mais forte a tendência para a separação
entre os comportamentos da nupcialidade e da fecundidade.
O processo mais simples que existe para medirmos o nível da nupcialidade consiste em
dividir o total de casamentos observados pela população média.
Exemplo:
71
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Outras taxas de nupcialidade:
Até ao século XVII, os casamentos eram usados principalmente para ganhar legitimidade
ancestral e estabelecer laços militares e comerciais. A poliginia foi proibida por volta do
século XVII, e o número de famílias extensas diminuiu. No final do século XVIII na
Europa Ocidental, a “união por amor” tornou-se normativa, com o marido cuidando da
família e a esposa concentrando-se na vida familiar (família tipo “Ozzie e Harriet”).
Houve pouca mudança, entre 1995 e 2010, nas percentagens de mulheres com idades
entre 15 e os 44 anos que não estão numa união (28%), mas houve mudanças drásticas
nas percentagens de casamentos e coabitações. Na coabitação, de um terço das
mulheres, em 1995, passou-se para metade das mulheres em 2006-2010, nos Estados
Unidos. Quanto ao casamento, passou de 39% em 1995 para 23% em 2006-2010. Da
metade das mulheres que coabitam, 40% fizeram a transição para casar, 32%
permaneceram coabitantes e 27% romperam o relacionamento. De acordo com Wendy
Manning (2013), apenas 11% das mulheres com idades entre os 19 e os 44 anos
relataram coabitar, em 1965-74, antes de seu primeiro casamento, percentagem que
subiu para 46% em 1985-89, para 59% em 1995-99 e para 66% em 2005- 2009. A
coabitação é o “novo normal” nos dias de hoje, as taxas são diferentes dependendo dos
níveis de educação. Continuando com o exemplo dos Estados Unidos, em 2009-10, 74%
das mulheres, com habilitações abaixo do ensino secundário, declararam coabitar ou já
ter coabitado, o mesmo também declararam 57% das mulheres com um a três anos de
faculdade, e 50% das mulheres com 4 ou mais anos de faculdade.
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Em relação ao número de bebés nascidos fora do casamento, em 2013, nos Estados
Unidos, quase 41% de todos os bebés nasceram de mães solteiras. Enquanto, no final
da década de 1950, apenas 5% dos nados-vivos eram filhos de mães solteiras, passando
para 14% e 30% em meados da década de 70 e da década de 1980, respetivamente.
Quanto às idades das mães solteiras, em 2013, nas mulheres com menos de 15 anos,
praticamente todos os nascimentos foram de solteiras; nas mulheres dos 15 aos 19 anos,
a percentagem é de 89% de nascimentos referidos a solteiras; nas mulheres entre 20 e
24 anos, são mais de 65% dos nascimentos; nas mulheres dos 25 aos 29 anos são
quase 36% e no grupo dos 30 aos 34 anos são mais de 32%. Quanto mais velha for a
mulher, maior a probabilidade de ela se casar e menos probabilidade de não estar casada
ao dar à luz (Poston & Bouvier, 2017, p. 95-110).
4.2.3. Sexualidade
Existem diversas parcerias familiares: duas pessoas vivendo juntas como um homem e
uma mulher casados, um homem e uma mulher que coabitam, um homem casado ou
coabitando com um homem, uma mulher casada ou coabitando com uma mulher (Poston
& Bouvier, 2017, p. 110-112).
Hoje, a maioria das mulheres e homens casados e solteiros, sexualmente ativos nos
Estados Unidos e em outros países desenvolvidos estão a limitar o tamanho das suas
famílias e / ou a controlar o tempo e o espaçamento de seus nascimentos por meio
do controlo da natalidade. Poucas pessoas nos países em desenvolvimento usam
73
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métodos de prevenção dos nascimentos. Há uma variedade de métodos disponíveis para
mulheres e homens para prevenir partos, e os mais populares em todo o mundo são
a contraceção, a esterilização e o aborto. A eficácia desses métodos difere uns dos outros
e cada um tem as suas vantagens e desvantagens (Poston & Bouvier, 2017, p. 123).
74
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De acordo com dados de vários países recolhidos entre 2002 e 2012, 63% das mulheres
casadas em todo o mundo estavam a usar métodos de planeamento familiar: 72% das
mulheres nos países desenvolvidos e 62% nos países em desenvolvimento.
75
© Universidade Aberta
ATIVIDADE FORMATIVA
TBN (País A- desenvolvido) = 778 526/61 283 600 *1000= 12,70 por mil
TBN (País B- não desenvolvido) = 54 043/1 428 082 *1000= 37,84 por mil
Segundo estes dois resultados, poderíamos dizer que a diferença de nível entre os dois
países seria de 198 %.
2. TFG (País A - desenvolvido) = 778 526/14 309 800 *1000 = 54,41 por mil
TFG (País B - não desenvolvido) = 54 043/319 084 *1000 = 169,37 por mil
Segundo estes dois resultados, poderíamos dizer que a diferença de nível entre os dois
países seria de 211% em vez de 198%. Compare as diferenças de nível entre os dois
países e entre os dois tipos de taxas.
4. Com base nos dados do quadro seguinte relativos à população a meio do ano de
1991 e aos nados vivos de 1991, calcule:
Idade das População
Nascimentos
mães Feminina
15-19 12888 102
20-24 19392 1099
25-29 22465 2695
30-34 22367 2047
35-39 16802 654
40-44 10904 61
45-49 5954 3
Total 110772 6662
76
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5. Observe os dados respeitantes à População Francesa em 1960:
Idade das População
Nascimentos
mães Feminina
15-19 1 700 913 37 366
20-24 1 339 837 225 183
25-29 1 492 444 268 780
30-34 1 633 472 175 269
35-39 1 636 435 87 394
40-44 1 421 557 26 719
45-49 1 132 994 1 344
Total 10 357 652 822 055
77
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5. A MORTALIDADE
5. A MORTALIDADE
Objetivos
5.1 MORTALIDADE
A morte não ocorre na mesma forma para todas as pessoas; algumas morrem mais cedo
do que outras. O impacto da mortalidade varia significativamente de acordo com as
características sociais e demográficas dos indivíduos.
A principal característica da mortalidade durante o século XX foi o seu declínio. Mas esse
declínio não se fez observar em todos os países ao mesmo tempo, e nos países em que
isso aconteceu não declinou com a mesma velocidade nos diversos tipos de grupos que
integram as estruturas sociodemográficas.
A identificação destes fatores permitiu uma imediata explicitação das principais causas
do declínio da mortalidade:
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77
5. A MORTALIDADE
Estes fatores contribuíram para que a mortalidade declinasse de tal forma que a
esperança de vida mais do que duplicou. Mas esse declínio não foi igual em todo o
mundo. Daí a diversidade de situações que encontramos.
A razão dessa divergência deriva do facto de nos países desenvolvidos todos os fatores
enunciados anteriormente terem concorrido para o declínio da mortalidade, ao passo
que na maior parte dos países não desenvolvidos o declínio observado tem sido devido
a fatores médicos e sanitários. (Nazareth, 2004, p. 189)
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78
5. A MORTALIDADE
Na prática consiste em dividir o total de óbitos num determinado período (um ano) pela
população existente nesse mesmo período.
Esta medida é conhecida como Taxa Bruta de Mortalidade e podemos representá-la por:
TBM.
Uma vez que a população total muda a cada instante no decorrer de um ano, surge a
dúvida sobre qual a população a considerar no denominador. Como a TBM é uma medida
de risco, teríamos que ter no denominador todas as pessoas submetidas a esse risco.
Se tomamos a população no início do ano, nela não estão incluídas as crianças que vão
nascer durante o ano. Por outro lado, aquelas pessoas que estão vivas no início do ano
e que vão falecer antes do fim do ano não poderão entrar com o mesmo peso do que
aquelas que vão sobreviver.
Se tomamos a população no final do ano, nela não estarão incluídas, por um lado,
aquelas pessoas que faleceram durante o ano e, por outro, estarão incluídas
integralmente as crianças que nasceram em diferentes momentos no decorrer do ano e
que não estiveram submetidas ao risco de morte durante todo o ano.
Ainda que o mais usual seja calcular a TBM referente ao ano calendário, ela também
pode ser obtida para qualquer conjunto de 12 meses consecutivos.
A Taxa Bruta de Mortalidade relaciona, assim, o número de óbitos durante um dado ano
com a população média desse ano.
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79
5. A MORTALIDADE
de uma estimativa do número de pessoas que, durante um ano inteiro, correram o risco
de falecer (Rollet, 2007, p.60).
Usualmente esta taxa é representada pelo número de óbitos por mil habitantes, para
maior facilidade de interpretação.
Exemplo:
Em Portugal tivemos em 1990, 103 115 óbitos e a população média registada era de
9 883 400 habitantes. A taxa bruta de mortalidade em 1990 obtém-se do seguinte modo:
9 883 400
Então dizemos que a Taxa Bruta de Mortalidade de Portugal em 1990 era de 10,43 óbitos
por mil habitantes.
Por tratar-se, então, de um instrumento grosseiro que não tem em conta a estrutura
etária da população, devemos ter em conta algumas precauções: fazer coincidir a
população média com a população de um recenseamento.
Os dois fatores intervenientes nas taxas brutas são o modelo e as estruturas. A taxa
bruta é a soma de produtos das estruturas relativas de cada idade pelas taxas nessas
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80
5. A MORTALIDADE
mesmas idades. Como ao conjunto das taxas por idade se chama o modelo do fenómeno,
a taxa bruta pode ser redefinida como uma resultante da interação entre o modelo e a
estrutura (Nazareth, 2004, 190-191).
O que diferencia estas taxas é o facto de que, enquanto as taxas brutas consideram
como população média de referência toda a população, as taxas específicas medem a
frequência dos fenómenos demográficos numa parte dessa população, definida pela
pertença ao mesmo grupo etário ou idade (Leston Bandeira, 2004).
Temos, deste modo a Taxa Específica de Mortalidade (TEM), que se refere ao risco de
morte em cada idade ou em cada grupo etário. Corresponde ao quociente entre o total
de óbitos, num determinado ano, em cada idade ou grupo etário e a população
correspondente a esse grupo no meio do ano em análise (Pressat, 1980).
81
5. A MORTALIDADE
Do exposto, fica claro que duas populações com as mesmas Taxas Especificas de
Mortalidade podem gerar Taxas Brutas de Mortalidade distintas, por terem distribuições
etárias proporcionais diferentes.
O conceito de taxas específicas que usamos em relação à idade pode ser estendido para
outras variáveis que influenciam o risco de morrer. Assim, podemos definir taxas
específicas por sexo, por estado civil, causas de morte, por grupos socioeconómicos etc.
Do mesmo modo, calculam-se também as taxas por idade e por sexos separadamente.
A forma de cálculo deste tipo de taxas é a mesma que a da taxa bruta de mortalidade:
relacionam-se os óbitos de cada sexo ocorridos num dado ano na idade considerada,
com a população média desse mesmo sexo com essa idade durante esse ano (Leston
Bandeira, 2004).
Determina-se, geralmente, sem distinção de sexos pelo facto de que a diferença que
existe entre mortalidade masculina e feminina não é significativa, nessas idades.
A mortalidade infantil remete, assim, para o número de mortes de crianças com menos
de 1 ano, num dado ano X e numa dada população N, por cada 1.000 nascimentos nessa
população Y e nesse mesmo ano X.
Ela corresponde ao risco que um nascido vivo tem de vir a falecer antes de completar
um ano de idade. Está implícito neste conceito a ideia de probabilidade. Como as crianças
nascidas durante um ano, digamos A, só completarão um ano de idade no ano seguinte,
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82
5. A MORTALIDADE
Seria necessário esperar dois anos para se poder calcular a Taxa de Mortalidade Infantil
(TMI) dos nascidos vivos num determinado ano e dada a dificuldade prática de separar-
se, em cada ano do calendário, do total de óbitos infantis aqueles referentes a crianças
nascidas no próprio ano e a crianças nascidas no ano anterior.
Este erro será normalmente pequeno, a não ser que haja entre dois anos consecutivos
grande diferença no número de nascimentos e/ou grande mudança na mortalidade de
crianças abaixo de um ano. Pode-se considerar, então, como uma boa medida de
mortalidade infantil e tomá-la como uma probabilidade. Deste modo, a mortalidade
infantil é usualmente medida pela taxa de mortalidade infantil (clássica) calculada a
partir de uma observação de acontecimentos produzidos durante um ano civil (Leston
Bandeira, 2004, p. 195).
nados-vivos ano x
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83
5. A MORTALIDADE
Taxa de Mortalidade Infantil Clássica: 7726/172 324 X 1000 = 44, 83 por mil
A Taxa de Mortalidade infantil Portugal em 1973 era de 44,84 óbitos de crianças com
menos de 1 ano por cada mil nascimentos.
Por este facto, a mortalidade infantil deve ser abordada e analisada tomando por
referência duas fronteiras temporais muito precisas: no início, a formação do feto; no
fim, o primeiro aniversário. Entre estas duas fronteiras, o risco de mortalidade vai
mudando de natureza e de intensidade.
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84
5. A MORTALIDADE
A mortinatalidade
Um nado morto, usualmente designado como aborto ou morte fetal, é um feto que não
nasceu vivo; assim, não é registado como morte porque não nasceu.
Um feto pode morrer antes do início do trabalho de parto, ou seja, no útero, devido a
complicações na gravidez ou por várias doenças maternas. Ou um feto pode estar vivo
no início do trabalho de parto, mas morrer durante o processo e, assim, nascer morto.
Para o calculo da mortalidade neonatal precoce são considerados apenas os óbitos dos
7 primeiros dias de vida.
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85
5. A MORTALIDADE
Mortalidade Perinatal
A mortalidade perinatal designa os efeitos do risco sofrido durante o período crucial que
vai do momento em que se perfaz a formação no útero ao nascimento e se conclui a
primeira semana de vida.
Para o cálculo da taxa de mortalidade pós neonatal são considerados os óbitos ocorridos
após o 28º dia.
Taxa de Mortalidade Infantil Neonatal: 3647/172 324 X 1000 = 21,16 por mil
Taxa de Mortalidade Infantil Neonatal precoce: 2502/172 324 x 1000 = 14,52 por mil
Taxa de Mortalidade Infantil Pós Neonatal: 4079/172 324 X 1000 = 23, 67 por mil
Apesar do numerador da TMI corresponder aos óbitos de crianças com idade abaixo de
um ano, a distribuição dos óbitos dentro deste intervalo não é uniforme e ocorre de
maneira desigual.
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5. A MORTALIDADE
Naquelas populações onde a TMI é alta, os óbitos são menos concentrados nas primeiras
semanas de vida, porque muitos dos óbitos infantis são devidos a fatores ligados ao
meio em que a criança vive, tais como condição de saneamento, nutrição etc. A
mortalidade pós neonatal mais sensível ao meio ambiente, aos comportamentos e às
doenças infeciosas, está intimamente associada às condições de vida (Rollet, 2007, p.
61).
As causas exógenas por sua vez, estão associadas a causas exteriores (doenças
infeciosas, subalimentação, cuidados hospitalares insuficientes e acidentes diversos).
São deste modo resultado de condições sanitárias ou contextos sociais desfavoráveis à
sobrevivência da criança.
Para podermos separar os óbitos infantis por causas endógenas ou exógenas teremos
de ter acesso a estatísticas de óbitos por causas de morte.
No entanto, existe um método que permite obter essa separação sem termos a
informação dos óbitos por dias e idades. Trata-se, pois, de aumentar em 25% os óbitos
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5. A MORTALIDADE
nados-vivos ano x
nados-vivos ano x
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5. A MORTALIDADE
Para obter os óbitos exógenos somamos aos óbitos com 28-365 dias (4079) os óbitos
exógenos com menos de 28 dias, isto é, 4079 x 0,228 (22,8%) = 930
Logo:
Taxa de Mortalidade Infantil Endógena: 2717/172 324 X 1000 = 15,77 por mil
Taxa de Mortalidade Infantil Exógena: 5009/172 324 x 1000 = 29,07 por mil
A OMS define uma morte materna como a morte de uma mulher durante a gravidez ou
no prazo de 42 dias após a interrupção da gravidez, independentemente da duração ou
local da gravidez, de qualquer causa relacionada ou agravada pela gravidez ou seu
tratamento, mas não de causas acidentais ou incidentais (Poston & Bouvier, 2017).
Os dois fatores mais importantes que levam à morte materna são a idade e a paridade
(o número de vezes que uma mulher deu à luz; também se refere à ordem de
nascimento, por exemplo, um segundo filho, que seria um filho de segunda paridade).
Os riscos de morte por maternidade (durante a gravidez) são maiores para mulheres
muito jovens e mulheres mais velhas do que para mulheres na casa dos vinte e trinta
anos.
Mulheres com alta paridade e mulheres com intervalos curtos entre partos também estão
em alto risco devido a doenças crónicas e desnutrição, pobreza, gravidez indesejada,
cuidados pré-natais e obstétricos inadequados e falta de acesso a um hospital (Poston
& Bouvier, 2017).
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5. A MORTALIDADE
O método das proporções corresponde à divisão dos óbitos registados em cada mês pelo
total de óbitos anuais, multiplicando o resultado obtido por 100 de modo a termos o
resultado em percentagem.
Contudo, dado que cada mês tem uma diferente amplitude, este método acaba por
originar distorções na análise dos dados obtidos. Assim, recorre-se ao método das taxas
mensais.
Com o método das taxas mensais convertem-se as taxas aos efetivos anuais dado que
se multiplica o número médio de óbitos mensais pelo número de dias do ano divididos
pela população média. Isto é:
Este método assenta na mesma lógica que o anterior no qual se dividem os óbitos
mensais pelo número de dias do mês. Porém, os resultados obtidos são depois
substituídos por números proporcionais de modo a que o seu total seja igual a 1200.
“…a morte é provocada por uma ou uma combinação de uma grande variedade de
causas, ou doenças, e a compreensão da mortalidade requer uma compreensão das
tendências em cada uma das principais causas de morte” (Bogue, 1969, conforme
citado em Poston & Bouvier, 2017).
90
5. A MORTALIDADE
Nem todas as pessoas morrem pelas mesmas causas principais, e isso se deve em
grande parte aos níveis socioeconómicos dos países.
A mortalidade varia com a idade, mas as causas de morte também variam com a idade.
Fomes
A fome foi considerada uma causa de morte. As populações dos tempos pré-industriais
tinham muito menos controle sobre seu suprimento de alimentos do que temos hoje.
Houve declínios graves na população em grande parte da Europa durante os anos de
fome de 1315–1317. Na década de 1690, um sexto da população em algumas províncias
suecas morreu após graves quebras de safra. A fome da batata irlandesa de 1846-1851,
conhecida na Irlanda como a Grande Fome, matou cerca de um milhão de pessoas,
embora algumas estimativas apontem para um número tão alto quanto 1,5 milhão.
A última grande fome na Europa foi a fome finlandesa de 1868. Além disso, cerca de 19
milhões de pessoas provavelmente morreram na Índia entre 1891 e 1910 como resultado
da fome.
Uma das fomes mais destrutivas no registo demográfico ocorreu na China entre 1958 e
1961. Estima-se que entre 30 e 40 milhões de chineses morreram como resultado direto
da fome, com 12 milhões das mortes de pessoas menores de dez anos.
1 https://www.who.int/classifications/classification-of-diseases
https://icd.who.int/browse11/l-m/en
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91
5. A MORTALIDADE
Epidemias
Uma das piores epidemias da Europa, a Peste Negra, que resultou na morte de cerca de
um terço da população do continente. O número estimado de mortes causadas pela
Peste Negra varia de um mínimo de 25 milhões até um máximo de 60 a 75 milhões. Este
é um valor surpreendente, dado que toda a Europa no século 14 provavelmente contava
com cerca de 80 a 90 milhões de habitantes.
Uma epidemia recente foi a epidemia de gripe espanhola. Ela espalhou-se pela Europa
em 1918 e depois para o resto do mundo. Os Epidemiologistas estimam que a epidemia
resultou na morte de cerca de 50 milhões de pessoas. A gripe espanhola pode muito
bem ter infetado quase 1 bilhão de pessoas, ou quase metade da população do mundo
naquela época (Poston & Bouvier, 2017).
O vírus da imunodeficiência humana (HIV), que causa a AIDS, foi isolado em 1983 no
Instituto Pasteur em Paris.
No final da década de 1980 e início da década de 1990, o HIV / AIDS foi identificado em
todas as regiões do mundo.
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5. A MORTALIDADE
Guerras
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5. A MORTALIDADE
Assim, a Taxa Bruta de Mortalidade por Causa é o mais imediato instrumento de medida
de que dispomos.
Obtém-se por meio do quociente entre o número de óbitos pela causa C e a população
total média (Leston Bandeira, 2004, p. 229).
As taxas obtidas desta forma permitem efetuar comparações, pois sintetizam o peso
relativo de uma dada doença na estrutura de uma população. No entanto, os resultados
obtidos com as mesmas não permitem saber quais os tempos de maior ou menor
incidência do risco na vida dos indivíduos. Deste modo, será conveniente recorrer-se ao
cálculo de taxas de mortalidade segundo a causa e a idade. Podem calcular-se estas
taxas para todas as causas permitindo conhecer o peso relativo de cada grupo de causas
de mortalidade nas diferentes idades (Leston Bandeira, 2004, p. 233-234).
Como vimos anteriormente, a Taxa Bruta de Mortalidade não é uma boa medida para se
comparar duas populações com estruturas etárias diferentes. Uma alternativa seria
analisar o conjunto das Taxas Específicas de Mortalidade.
Um dos indicadores que têm a característica de ser uma medida resumo e que não sofre
a influência da estrutura etária da população é a esperança de vida.
A esperança de vida numa determinada idade pode ser interpretada como o número
médio de anos que um indivíduo viverá a partir daquela idade, considerando o nível e a
estrutura de mortalidade por idade observados naquela população.
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94
5. A MORTALIDADE
A esperança de vida à nascença, (ou média de vida) representa, assim, o número médio
de anos vividos por uma geração (Rollet, 2007).
Em suma, nessa população com uma esperança de vida ao nascer de 70 anos por uma
criança que nasce viverá em média 70 anos.
No início dos anos 1950, a esperança de vida no mundo era de apenas 46 anos, mas
chegou a 69 anos em 2010. A ONU projetou que em 2050, a esperança de vida para o
mundo chegará a 76 anos e a 82 anos em 2100.
Dado que representa o número médio de anos vividos por uma geração, calcula-se
adicionando o número de anos vividos pelo conjunto da geração (ou gerações) durante
um ou mais anos, dividindo o resultado obtido pelos respetivos efetivos iniciais (Leston
Bandeira, 2004).
“Devemos partir do principio que as pessoas falecidas entre dois aniversários são
distribuídas linearmente no tempo: assim, entre 0 e 1 ano, o número de anos vividos
em média é de 0,5 ano, entre 1 e 2 anos, de 1,5 ano, etc.” (Rollet, 2007, p. 67).
A descrição dos fenómenos demográficos, numa tábua, incide sobre um grupo cuja
identidade é determinada por um mesmo acontecimento (acontecimento – origem).
Para medir a probabilidade que um dado acontecimento ocorra numa geração entre duas
idades, utiliza-se o quociente. Este instrumento de medida constitui a medida chave na
construção de uma tábua.
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5. A MORTALIDADE
O quociente de mortalidade, que ao contrário das taxas, não tem uma dimensão anual
mede o risco de alguém de idade X, pertencente à geração G, morrer antes de atingir o
aniversário X+a.
Toma-se como efetivo inicial da tábua um múltiplo de 10 (1 000, 10 000 ou 100 000),
denominado por Raiz da Tábua (S0). Conhecidos ou já calculados os quocientes,
multiplica-se esse efetivo inicial pelo quociente de mortalidade entre 0 e 1 ano (1q0),
obtendo-se deste modo o número de óbitos da tábua {O (0,1)}, ocorridos entre dois
aniversários. Subtraindo estes óbitos ao efetivo inicial, obtém-se o número de
sobreviventes no primeiro aniversário (S1).
Efetuam-se estas operações de forma sucessivas pelas várias classes de idades até à
extinção da série dos sobreviventes.
Por outro lado, podemos falar de uma tábua bruta quando a mesma mede o risco de
mortalidade na ausência de migrações, ou de uma tábua líquida se na mesma forem
tidos em consideração os efeitos das migrações (Leston Bandeira, 2004).
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96
5. A MORTALIDADE
Na verdade, “na maioria dos casos, interessa-nos muito mais observar as condições
de mortalidade existentes num determinado momento do que seguir uma geração
durante umas largas dezenas de anos. Por outras palavras, mesmo que os dados
estejam disponíveis, é sempre aconselhável construir uma tábua de mortalidade do
momento ou em transversal” (Nazareth, 2004, p. 204).
1. A primeira coluna é a das idades: as idades são apresentadas não sob a forma de
grupos etários, mas nos terminais das idades exatas (0, 1, 5, 10, 20, 25…);
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5. A MORTALIDADE
2. Na segunda coluna temos a função nqx (ou aqx); são os quocientes de mortalidade,
isto é, a probabilidade de morte, entre a idade exata x e a idade exata x + n, onde n é
a amplitude dos grupos de idade.
3. Na terceira coluna temos Ix (ou Sx): os sobreviventes em cada idade exata x. Para
tornar possível as comparações temporais e espaciais, aplica-se a um mesmo efetivo
(normalmente a raíz da tábua l0 =100.000) a lei da mortalidade definida pelos nqx ou
de sobrevivência definida pelos npx. Sendo que npx = 1 – nqx.
4. Na quarta coluna temos ndx (ou O (x, x+a)): é a distribuição dos óbitos (tendo em
conta o efetivo inicial de 100.000) por idades ou grupos de idades, entre um grupo etário
e outro, por idades exatas: ndx = Ix-Ix+n
5. Na quinta coluna temos nLx: é o número de anos vividos pelos sobreviventes lx entre
as idades exatas x e x + n, ou seja, entre duas idades ou sobreviventes em anos
completos. Obtém-se multiplicando os efetivos médios entre idades exatas pelo número
de anos.
6. Na coluna seis temos Tx: é uma função anos de vida intermédia. Começa-se pelo fim
da tábua, soma-se de baixo para cima. É o total de anos vividos pela coorte (fictícia)
depois da idade x. Como nLx é o número de anos vividos entre as idades exatas x e x +
n, para obter o total de anos vividos basta somar os nLx.
Ex=Tx / Ix ou E0 = T0 / I0
É necessária a informação sobre óbitos por grupos etários, efetivos por sexos separados.
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5. A MORTALIDADE
nqx=2n * nTx
2+n*nTx
Exemplos:
nascimentos 90/91
4q1= 2*4*0.00092
2+4*0.00092
2+5*0.00048 2.0024
No caso do último grupo de idades, nqx é igual à unidade, uma vez que todas as pessoas
terão necessariamente que desaparecer.
3º lx
lx+n=1x*nPx
l0=100000
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5. A MORTALIDADE
4º ndx
É a distribuição dos óbitos (tendo em conta o efetivo inicial de 100000) por idades ou
grupos de idades, entre um grupo etário e outro, por idades exatas: ndx=lx-lx+n
5º nLx
Exemplo:
1L0=K’’ l0 + K’ l1
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5. A MORTALIDADE
6º Tx
É uma função anos de vida intermédia. Começa-se pelo fim da tábua, soma-se de baixo
para cima.
É o total de anos vividos pela coorte (fictícia) depois da idade x. Como nLx é o número
de anos vividos entre as idades exatas x e x+n, para obter o total de anos vividos basta
somar os nLx.
Assim temos:
Tx = ∑ nLxO último Tx (ou Tk), que é igual a Lk+, obtém-se através da seguinte
expressão:
expressão:
lk
Tk = mk onde mk+ é a taxa de mortalidade do último grupo de idades.
7º ex
É a esperança de vida na idade x, ou seja, o número médio de anos que resta viver às
pessoas que atingiram a idade x. Quando x=0, temos a esperança de vida à nascença,
ou seja, o número total de anos vividos desde o nascimento, dividido pelo efetivo inicial
l0 lx
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5. A MORTALIDADE
ATIVIDADES FORMATIVAS
TBM (1990) = 103 115/9 883 400 *1000 = 10,43 por mil
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5. A MORTALIDADE
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6.AS MIGRAÇÕES
6.AS MIGRAÇÕES
Objetivos
Introdução
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6.AS MIGRAÇÕES
Nota-se que esta definição de migração não usa o critério de distância nem o de duração,
pelo menos não diretamente. Uma mudança de residência ao atravessar a rua pode ser
uma migração se cruzar as fronteiras administrativas, enquanto uma viagem de férias
ao redor do mundo pode não ser. Um cidadão de um país pode viver por anos em outro
sem alterar a sua cidadania, enquanto um refugiado pode adotar imediatamente a sua
nova casa como país de residência. Os demógrafos podem usar a distância de
movimento e a duração da estadia - ou mesmo a duração pretendida - como um
indicador para a mudança de residência, mas a “reinserção” continua a ser o critério
subjacente.
Que tipo de movimento fica então de fora dessa definição demográfica de migração?
Uma exclusão seria a mudança de pessoas que não têm residência geograficamente
durável, antes ou depois da mudança, como populações nómades ou sem-teto. Outra
exclusão seria os movimentos de curto prazo de tipo periódico, por exemplo,
deslocamento para o trabalho ou viagens anuais de férias. Outra exclusão categórica
seria uma mudança de residência dentro de uma unidade geopolítica, como mudar de
uma casa atual para outra na mesma área administrativa.
Por causa dessa ambiguidade, os demógrafos têm o cuidado de especificar a qual escala
de migração se referem. Por exemplo, eles distinguem universalmente entre migração
internacional e interna.
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6.AS MIGRAÇÕES
A migração residencial de pessoas que se mudam para uma área de destino é chamada
de migração interna; a migração de pessoas que saem de uma área de origem é
conhecida como emigração. É possível que um migrante volte para sua área de origem
durante o curso de sua vida, e esse retorno residencial é conhecido como migração de
retorno.
Chamamos um grupo de migrantes com uma área comum de origem e uma área comum
de destino durante um intervalo de migração especificado um fluxo de migração.
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6.AS MIGRAÇÕES
Observamos duas áreas, A e B, cada uma com uma população residencial especificada
no início de um ano. Durante aquele ano, um conjunto de pessoas cruza da área A para
a área B e outro conjunto atravessa da área B para a área A. Suponhamos que essas
passagens de fronteira signifiquem mudanças de residência - que são migrações.
Esta situação de migração pode ser vista de uma perspetiva ampla ou estreita. Em
termos gerais, podemos pensar nas áreas A e B como partes de um todo maior, como
ao estudar a migração entre regiões de um país. Mais estreitamente, podemos identificar
com apenas uma das áreas e ver a migração apenas em termos de seu impacto naquela
área, como a maioria das nações vê a sua migração internacional.
O foco de interesse está nos fluxos de migração. Um fluxo de migração consiste nas
pessoas que migram de uma área especificada para outra num determinado período de
tempo. As setas na Figura 7 mostram dois fluxos. Os números dentro das setas indicam
de quantas pessoas se trata e o tamanho da seta representa o tamanho do volume.
Cada volume possui uma área de origem e uma área de destino. Os demógrafos às vezes
preocupam-se com a força coletiva das duas correntes e às vezes com o equilíbrio entre
as duas correntes; isto é, eles podem enfocar a migração bruta (ou o volume da
migração), a soma dos dois fluxos (150, na figura) ou a migração líquida, as diferenças
entre os dois fluxos (50, na figura).
As taxas de migração podem ser calculadas para cada um desses aspetos da migração,
mas o seu significado tende a ser menos claro do que as taxas de mortalidade ou de
natalidade. As taxas de emigração (ou emigração) fazem algum sentido. A população
residente total numa área tem alguma semelhança com o número de pessoas que
poderiam mudar-se. Assim, taxas brutas, ou mesmo específicas por idade, podem ser
usadas para medir a emigração relevante para uma população residente em risco de
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6.AS MIGRAÇÕES
sair. Mas a taxa de imigração (ou migração interna) entre os residentes atuais faz menos
sentido. A população residente não corre risco de imigração, e seu tamanho absoluto
tem pouco a ver com o número de pessoas que poderiam mudar-se para a área. Quando
as taxas de imigração (migração interna) são calculadas, geralmente é para indicar a
taxa na qual a imigração impacta a população residente na área de destino. Da mesma
forma, a taxa de migração líquida frequentemente é usada para indicar o impacto líquido
da imigração e da emigração na população da área de destino.
Por que razão as pessoas migram? O estudo teórico da migração começou com
observações de que (1) nem todas as pessoas têm a mesma probabilidade de se mover
- na verdade, a grande maioria no mundo não migra internacionalmente e (2) sabendo
quais pessoas têm maior probabilidade de se mover pode ajudar a entender as forças
subjacentes à migração. A identificação dos grupos com maior probabilidade de migrar
fornece generalizações empíricas sobre a migração que podem então contribuir para as
explicações teóricas da migração (Pressat, 1985).
5. A menos que controles severos sejam impostos, tanto o volume quanto a taxa de
migração tendem a aumentar com o tempo.
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6.AS MIGRAÇÕES
Lee continuou a observar que a migração não é apenas seletiva, mas o grau de
seletividade varia (1966, pp. 56-57).
Lee (1966) também observou que a migração é especialmente provável nas transições
entre as fases da vida: casar, entrar no mercado de trabalho, quando os filhos saem de
casa, divorciar-se, aposentar-se, ficar viúvo... Como vimos, uma expressão disso é a
seletividade quase universal por idade da migração à medida que jovens adultos
ingressam na força de trabalho. A migração também seleciona por sexo, mas a natureza
dessa seleção varia, dependendo de questões como a definição dos papéis de género.
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6.AS MIGRAÇÕES
A teoria da migração tem sido uma das áreas demográficas mais frutíferas e de rápido
desenvolvimento nas últimas décadas. Vários autores reviram e avaliaram as teorias
predominantes de migração (por exemplo, Brettell e Hollifield, 2007; Castles, 2007;
Nações Unidas, 1998a, 1998b; Stahl, 1995; Massey et al., 2005, 1994). Uma revisão das
principais teorias de migração atuais é apresentada abaixo.
Economia neoclássica (micro teoria). Relacionada com a teoria macro, essa visão é
formulada ao nível do migrante individual. De acordo com essa teoria, os indivíduos
fazem escolhas racionais sobre a migração com base em cálculos de custo-benefício.
Esses cálculos não se limitam a ganhos e perdas imediatos, mas também incluem
expetativas futuras. Em teoria, e excluindo as restrições à migração, um migrante
mudar-se-á para onde o valor esperado de retornos futuros é maior.
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6.AS MIGRAÇÕES
que as remessas oferecem, mesmo quando as diferenças salariais são pequenas, e não
resultariam em migração de acordo com as teorias neoclássicas. Da mesma forma, o
sentido de privação relativa de uma família influencia as decisões de migração de
maneiras não explicadas apenas pelos salários. Se, por exemplo, o desenvolvimento
económico aumenta as expetativas de estilo de vida numa comunidade, os indivíduos
podem ter maior motivação para buscar ganhos através da migração, mesmo que os
seus salários também tenham melhorado durante o desenvolvimento.
Teoria do mercado de trabalho dual. Esta teoria explica a migração como resultado
das necessidades da força de trabalho e das políticas de migração das sociedades
industriais modernas. Países desenvolvidos, pós-industrializados, muitas vezes
desenvolvem mercados de trabalho duais, com um setor de alta qualificação, alto salário
e capital intensivo, proporcionando oportunidades de emprego atraentes e baixa
qualificação, baixo salário e mão de obra. Os países mais desenvolvidos acham cada vez
mais difícil preencher empregos de baixos estatutos com a sua mão de obra nativa de
alta aspiração. As tendências demográficas nos países desenvolvidos agravam a
escassez de mão de obra menos qualificada. O declínio da fecundidade reduziu a
proporção de jovens trabalhadores não qualificados dispostos a aceitar temporariamente
empregos de baixo estatuto. Casamentos posteriores, taxas crescentes de divórcio e
acesso ao ensino superior estimularam as mulheres a ingressar na força de trabalho
altamente qualificada, tornando-as menos dispostas a aceitar empregos de baixo
estatuto. Aumentos aceitáveis nos salários não melhorarão suficientemente a situação
relativa dos empregos de baixa qualificação e podem simplesmente aumentar ainda mais
a escala salarial e as aspirações. Portanto, para atender às necessidades de mão de obra
de baixa qualificação, as economias desenvolvidas recrutam mão de obra migrante do
exterior, o que não requer aumento de salários. Na verdade, os salários são mais
frequentemente controlados por meio de mecanismos institucionais e políticas de
migração.
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6.AS MIGRAÇÕES
tempo, fortes laços materiais e culturais são formados com os países centrais durante a
penetração capitalista (e o domínio colonial anterior). A migração internacional de
populações desestruturadas flui então na direção oposta da entrada do capital, em
direção à cultura, aspirações e oportunidades recém-familiares nas economias centrais.
Considerações económicas podem influenciar as decisões dos migrantes, mas não são a
principal causa da migração. O impulso para a migração nos países em desenvolvimento
é o deslocamento da população decorrente da entrada de capital.
Teoria dos sistemas de migração. Esta teoria é um pouco diferente das outras
teorias porque se concentra na auto perpetuação dos fluxos de migração. Uma vez que
o fluxo de migração tem começado, podem surgir efeitos sistemáticos que apoiem a
migração contínua. Qualquer que seja a causa original da migração, ela pode tornar-se
menos importante à medida que esses sistemas de migração se tornam mais fortes.
A teoria das redes, por exemplo, enfatiza que as redes sociais são uma forma de capital
social. Quando um número suficiente de migrantes com uma identidade social comum
chega a uma área, eles podem constituir uma rede que pode oferecer ajuda aos recém-
chegados - desde o conforto material até a simples redução dos custos psíquicos da
migração para um lugar estranho. Os membros da rede também mantêm laços com a
sua comunidade de origem e podem oferecer informações ou assistência a possíveis
migrantes. De ambas as maneiras, as redes contribuem para um fluxo de imigração
autossustentável.
Todas essas teorias da migração não são contraditórias, pois são potencialmente
complementares.
Cada uma das principais teorias da migração pode ser usada para explicar a migração
interna e também internacional. À medida que as migrações interna e internacional se
tornam mais indissociáveis devido ao aumento da globalização, é útil teorizar os dois
tipos de movimentos como parte do mesmo fenómeno (King e Skeldon, 2010). O estudo
da migração interna, no entanto, tem preocupações únicas que deram origem a uma
série de teorias específicas de médio alcance (por exemplo, Nações Unidas, 1994; Frey,
1998; Fokkema et al., 1993; Todaro, 1997, conforme citado em Lundquist, Anderton,
Yaukey, 2015).
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6.AS MIGRAÇÕES
Com fluxos contínuos e variáveis, escolhemos como ponto de partida para introduzir a
migração moderna o ano de 1965, embora a mudança dos padrões de migração pré-
modernos para os modernos na verdade tenha abrangido o período do final da Segunda
Guerra Mundial até então. Durante estas duas décadas, os padrões de migração
sofreram uma mudança fundamental de migrações amplamente influenciadas pela
expansão da população europeia e história política, para migrações cada vez mais
influenciadas pela globalização, a demografia dos países pós-transição soviética e
movimentos de refugiados de conflitos e guerra civil. A Figura 8 mapeia os principais
fluxos de migração do período moderno.
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6.AS MIGRAÇÕES
Migração voluntária
Embora as causas sejam bem diferentes, uma reversão semelhante nos padrões de
migração ocorreu na Federação Russa e na Comunidade de Estados Independentes.
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6.AS MIGRAÇÕES
Migração forçada
Uma segunda grande mudança no período de migração moderna é uma mudança nos
níveis e padrões da migração forçada. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, o
tamanho da migração forçada aumentou. A população global de refugiados, por
exemplo, aumentou de menos de 2 milhões em 1965 para mais de 15 milhões de pessoas
em 2013 (Nações Unidas, 2013b; ACNUR, 2005).
São indivíduos que devem deixar as suas casas para a sua própria segurança ou
sobrevivência, muitas vezes devido a guerras ou desastres naturais. Ao incluir o número
de pessoas que também foram deslocadas internamente, o número de refugiados sobe
para cerca de 43 milhões em todo o mundo (Nações Unidas, 2013b).
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6.AS MIGRAÇÕES
Migrações forçadas durante e após a Segunda Guerra Mundial (por exemplo, milhões de
judeus provindos da Alemanha como refugiados políticos durante a ascensão de Hitler
ao poder nos anos 1930) prenunciaram a importância crescente dos movimentos de
refugiados no período moderno. O fim da Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria que
se seguiu resultaram em imensas migrações forçadas. Cerca de 20 milhões de pessoas
na Europa Central e Oriental estiveram envolvidas em vários tipos de voos, trocas,
expulsões e transferências. A maioria dessas pessoas mudou-se para a Europa; alguns
acabaram na América do Norte ou em outros países fronteiriços. Na Ásia, 3 milhões de
japoneses que se mudaram para partes distantes do império foram devolvidos por
decreto à pátria.
Os países asiáticos acolhem quase metade dos refugiados do mundo, muitos dos quais
são afegãos deslocados pela guerra EUA-Afeganistão. Os países africanos também
recebem uma proporção substancial, mais de 30%, dos refugiados.
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6.AS MIGRAÇÕES
As setas apontam para países onde a procura é mais prevalente. Regiões mais ricas,
como América do Norte, Europa Ocidental e Oriente Médio alimentam grande parte da
procura por migração traficada, enquanto a maioria das vítimas vem de regiões mais
pobres, como Leste e Sul da Ásia, Europa Oriental e África subsaariana. Na Europa, os
Africanos são as vítimas mais comumente “traficadas”, enquanto na América são os
asiáticos. As vítimas de tráfico no Oriente Médio são de uma grande variedade de origens
regionais. Estima-se que 20,9 milhões de pessoas sejam vítimas de tráfico de pessoas
em todo o mundo, 27% das quais são crianças (UNODC, 2012).
Por se tratar de uma atividade clandestina e não definida como crime em todos os países,
a prevalência e a gravidade do tráfico de pessoas são subestimadas. Mas o fenómeno
ganha cada vez mais atenção internacional, com 134 países oficialmente criminalizando
a prática. O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime promove a
conscientização sobre a atividade do tráfico e recolhe dados sistemáticos para ajudar os
países a, em primeiro lugar, reconhecer o fenómeno e, em segundo lugar, processar os
traficantes e repatriar as vítimas.
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6.AS MIGRAÇÕES
Migração irregular
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6.AS MIGRAÇÕES
Podemos ver que as regiões menos desenvolvidas perderam migrantes e que as regiões
mais desenvolvidas ganharam os mesmos migrantes. A Ásia teve a maior migração
líquida negativa, com a maioria das outras perdas líquidas de migração provenientes da
África, América Latina e Caribe. A Europa e a América do Norte (EUA e Canadá) foram
as regiões com maior ganho líquido de migrantes.
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6.AS MIGRAÇÕES
Menos óbvio, o grau de impacto na taxa de crescimento das duas populações não seria
o mesmo. Esse impacto depende do tamanho da população migrante líquida em relação
ao tamanho da população residente. A migração líquida de uma pequena para uma
grande população, por exemplo, causaria uma diminuição maior na taxa de crescimento
da pequena população de origem do que um aumento na taxa de crescimento da maior
população de destino.
Uma pequena cidade, por exemplo, pode ter a sua população devastada enviando a
maioria de seus ex-habitantes para uma cidade grande e mais desenvolvida, enquanto
os habitantes dessa cidade dificilmente sentirão o acréscimo. Inversamente, uma
determinada cidade de destino pode sentir-se oprimida pelo seu crescimento se tornar
o destino exclusivo de um fluxo de migrantes (o que é frequentemente o caso).
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6.AS MIGRAÇÕES
destino. Níveis mais altos de fecundidade migrante também operam indiretamente para
aumentar as taxas de crescimento nos países de destino.
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6.AS MIGRAÇÕES
Os fluxos de remessas não são um simples caso de troca económica de países mais
desenvolvidos para países menos desenvolvidos. Como a maioria dos imigrantes
internacionais se muda para países vizinhos nas suas regiões, e não para os países mais
desenvolvidos, a maioria das remessas são de países menos desenvolvidos ligeiramente
mais ricos para outros países menos desenvolvidos. Os países que dependem fortemente
dessas remessas tornam-se vulneráveis a mudanças nas condições de emprego e / ou
políticas de imigração no país de destino. Além disso, a privação relativa e a desigualdade
social na comunidade de origem podem ser ampliadas pelo acesso desigual às remessas.
Em suma, os efeitos da migração sobre a força de trabalho são mistos. Em geral, as
economias dos países mais desenvolvidos de destino beneficiam da imigração líquida,
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6.AS MIGRAÇÕES
Existem duas perspetivas básicas sobre a migração internacional: uma positiva e aberta
e outra negativa e fechada.
Aqueles que mostram efeitos negativos da imigração sobre os salários relatam um efeito
muito pequeno, da ordem de –0,3% a –0,8 %. Algumas análises mostram que a
presença de imigrantes tende a aumentar os salários locais, especialmente os dos mais
qualificados.
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6.AS MIGRAÇÕES
Milhões de migrantes que vivem fora de seus países de nascimento enviam bilhões de
dólares para as suas casas a cada ano. O valor total das remessas em todo o mundo
aumentou de pouco menos de US $ 200 bilhões em 2000 para US $ 511 bilhões em
2013. Essas remessas são indispensáveis para a sobrevivência económica de muitos
países em desenvolvimento. Ajudam a levantar o capital de investimento, desenvolver
negócios e reduzir a pobreza (Poston & Bouvier, 2017).
É difícil rever os debates populares passados e presentes dos países mais desenvolvidos
sobre as políticas de imigração sem suspeitar que eles são fortemente motivados pela
xenofobia. Esse medo de estrangeiros etnicamente distintos resultou em muitos grupos
de migrantes sendo vistos como “problemas” pelas populações nos países de destino, e
racionalizados com estereótipos étnicos negativos nos debates políticos. Na verdade,
quase todos os grupos de imigrantes com qualquer diferença identificável da população
anfitriã foram discriminados nas políticas de migração, diferindo principalmente em grau.
As políticas de imigração e os debates nacionais têm, por sua vez, perpetuado e
solidificado atitudes discriminatórias em relação aos imigrantes. Os migrantes são
caracterizados em várias ocasiões, por exemplo, como um perigo para a saúde pública,
uma ameaça à segurança do emprego, um esgotamento dos sistemas de previdência
social, como criminosos e terroristas e uma ameaça aos grupos ou culturas dominantes
do país de acolhimento. Esses sentimentos em relação aos migrantes têm maior
probabilidade de afetar a política de migração.
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6.AS MIGRAÇÕES
casos, o mesmo motivo foi usado para deter migrantes sem evidências plausíveis de
uma ameaça à saúde pública.
Também é importante reconhecer que a qualquer momento a visão dos migrantes como
um “problema social” pode ser genuína para alguns e uma desculpa para a discriminação
de outros. Por exemplo, o temor de que a importação de mão de obra estrangeira resulte
em queda de salários para ocupações de baixa qualificação no país anfitrião é uma
crença comum entre muitos - uma preocupação genuína para alguns e uma desculpa
para discriminar outros.
Comecemos por ver quais são as fontes de dados. Na verdade, mesmo a fonte mais
confiável de dados de imigração sofre de muitos desafios.
As Fontes de dados
Registros Administrativos
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6.AS MIGRAÇÕES
Na ausência de dados sobre partidas, não se pode estimar o tamanho da imigração com
precisão dentro de um país, mas à medida que mais países divulgam registros
administrativos para agências de dados internacionais, a comparação dos registros do
país de origem e do país de destino pode tornar-se possível (Santo Tomas et al., 2009).
Por exemplo, o Escritório Internacional do Trabalho (OIT) coleta dados sobre a admissão
de trabalhadores migrantes, e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Económico (OCDE) tem compilado dados sobre autorizações de residência emitidas nos
estados membros. O Escritório do Alto Comissariado para Refugiados (ACNUR) também
coleta informações sobre refugiados com base nos registros administrativos dos países
de asilo (Zlotnik et al., 2010).
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6.AS MIGRAÇÕES
fácil para nações cujas portas de entrada e saída são limitadas, como ilhas. No outro
extremo, alguns países têm longas fronteiras terrestres que normalmente não são
totalmente patrulhadas, como as fronteiras norte e sul dos Estados Unidos. E,
finalmente, as fronteiras das unidades políticas dentro da nação geralmente são
relativamente sem importância, de modo que as nações raramente monitoram a
travessia de fronteiras internas como fazem com as externas.
A medição indireta da migração a partir dos dados do censo, até agora, tem sido os
dados mais comparáveis sobre a migração internacional (Zlotnik et al., 2010). Como
esses métodos identificam os migrantes, mas não o momento exato da migração, eles
são mais úteis para medir o tamanho do volume de migrantes internacionais de uma
população do que para medir o fluxo de migração.
Há vantagens em fazer perguntas sobre o local de residência anterior (em vez do local
de nascimento): o período mais curto entre os dados da residência anterior e a data do
censo significa que menos mudanças intervenientes não serão registadas. Além disso, o
tempo daqueles que são registados é delimitado de forma mais restrita e as migrações
recentes são frequentemente de maior interesse. A desvantagem é que os dados se
referem a um período de calendário muito limitado.
Como os inquéritos por amostragem são menos caros do que os censos, podem ser
usados para investigar mais profundamente as migrações do seu menor número de
entrevistados. Por outro lado, têm a fragilidade de não fornecer informações sobre todas
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6.AS MIGRAÇÕES
as áreas locais, apenas aquelas que estão incluídas na amostra. O equilíbrio ideal parece
ser incluir tantas perguntas quantas puderem ser oferecidas em censos decenais ou
grandes amostras nacionais, e então complementá-las com pesquisas periódicas e mais
intensivas. Inquéritos de migração retrospetivos intensivos tentam registar toda a
sequência de mudanças ao longo da vida dos respondentes, as áreas de origem e
destino, o momento da migração e eventos relacionados com o curso de vida que podem
revelar os determinantes ou consequências das migrações. Alternativamente, inquéritos
repetidos, que seguem uma coorte ao longo do tempo (por exemplo, as Pesquisas
Longitudinais Nacionais), podem rastrear a história da migração de indivíduos conforme
ela se desenrola.
Imigração Indocumentada
As fontes de dados discutidas até agora não são completamente satisfatórias para medir
até mesmo a migração documentada, então pode-se imaginar como é difícil estimar a
migração não documentada, onde o migrante geralmente tem a intenção de permanecer
incontável.
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6.AS MIGRAÇÕES
P1-PO = (N-O) + M
Ou seja: A migração líquida entre censos (M) é igual ao crescimento total entre os censos
(P2 - P1) menos o aumento natural entre os censos (N - O). Uma vez que a maioria dos
países está relativamente confiante nos seus totais de censo e desenvolveu métodos
para fazer pelo menos estimativas aproximadas de seu total de mortes e nascimentos,
este método é geralmente considerado o mais confiável para medir a migração líquida
(Bogue, 1993).
Além de ser limitado à migração líquida, o método de estatísticas vitais também pode
ser impreciso. Os censos erram e as estimativas de fecundidade e mortalidade podem
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6.AS MIGRAÇÕES
ser aproximadas. Além disso, uma vez que a componente de migração na equação é
geralmente pequena em comparação com aqueles de crescimento e aumento natural,
mesmo um pequeno erro absoluto nesses outros componentes pode resultar numa
grande estimativa errônea da migração líquida (Bogue, 1993).
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6.AS MIGRAÇÕES
Podemos observar que as regiões menos desenvolvidas perderam migrantes (ou seja,
tiveram uma migração líquida negativa) em direção às regiões mais desenvolvidas. A
Ásia teve a maior migração líquida negativa, em números absolutos; a África teve a
menor. A Europa e a América do Norte foram as regiões com o maior ganho líquido de
migrantes, com menos deslocações para a Oceânia.
Se a população só evoluísse com os que nascem e os que morrem, a evolução seria mais
lenta.
P0
P0
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6.AS MIGRAÇÕES
Multiplicamos “a” por 100, e lê-se “ Por ano a população se apenas tivesse sido fruto
nessa década desta situação, teria aumentado ou diminuído x.”
P0
O problema do estudo dos movimentos migratórios são os dados estatísticos que são
muito incompletos. A informação que existe ao nível das migrações internas é muito
pobre e há falta de registos oficiais. Por vezes recorre-se a métodos indiretos (por
exemplo através dos recenseamentos eleitorais). Ao nível interno, existem muitas
assimetrias num mesmo espaço, e dicotomias entre os meios (rural/urbano). As pessoas
não se deslocam ao acaso: procuram trabalho num espaço específico.
Ao nível das migrações externas, por exemplo na década de 80, 50 % dos emigrantes
eram clandestinos. Há falta de um maior controle legal e muita gente escapa a esse
controle. Por vezes existe um choque de povos e culturas. Na década de 90 o governo
português restringiu a imigração.
130
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6.AS MIGRAÇÕES
A equação de concordância
Px + n= Px+ N- O + I –E
Px+n- Px=N-O+I-E
Exemplo:
Px = 276 895
Px+n =205 197
Px+n- Px=71698
N 60/70= 41 053
O 60/70= 25 760
N 60/70 – O 60/70 = + 15 293
Saldos Migratórios = - 86 991
Emigrantes Oficiais = 9 009
Imigrantes Oficiais = 18
I-E Oficiais = - 8 991
PX+n = Px + (N-O) + (I-E), onde (N-O) é o saldo natural e (I-E) o saldo migratório.
205197=276895+15293+ (-8991)
(205197-276895)-15293= -8991
-71698-15293= -8991
-86991+8991= -78000
O resultado desta equação remete para o caso de um país de emigração onde poderá
ter havido alguns milhares de emigrantes que saíram clandestinamente. Estamos
perante uma situação de mau registo dos emigrantes.
131
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6.AS MIGRAÇÕES
As consequências da migração são sentidas tanto por migrantes individuais quanto pelas
coletividades sociais (por exemplo, estados-nação) de onde saem e ingressam. Ao nível
individual, a maioria das teorias de migração sugere que, em última análise,
esperaríamos um efeito positivo para os imigrantes e empregadores que os contratam.
Essa, supostamente, era a expetativa dos migrantes individuais, pelo menos na migração
livre. No entanto, os problemas populacionais e as políticas geralmente são definidos
num nível coletivo.
Embora a imigração internacional seja geralmente vista como algo positivo tanto para
as nações emissoras quanto para as recetoras, um número crescente de países vê pelo
menos algumas consequências da imigração e da emigração como problemas
significativos (Nações Unidas, 2013a). Isso é notável numa tendência crescente dos
países de intervir politicamente nos fluxos de imigração e emigração; ou seja, uma
disposição em declínio de deixar a migração sem controle.
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6.AS MIGRAÇÕES
No lado esquerdo da figura estão as percentagens de países que adotaram políticas para
aumentar a imigração e no lado direito estão as percentagens com políticas para reduzir
os níveis de imigração no seu país. Em 1976, quando as Nações Unidas começaram a
monitorar as políticas dos governos sobre o nível de imigração, os países desenvolvidos
estavam mais aptos a ter políticas para desencorajar a imigração, enquanto os países
em desenvolvimento tinham políticas em vigor para encorajar a imigração. Em 2011,
esse padrão mudou.
Hoje, uma proporção maior de regiões mais desenvolvidas (MDRs) do que de regiões
menos desenvolvidas (LDRs) tem políticas de imigração destinadas a aumentar a
imigração, não diminuí-la. Por outro lado, mais LDRs têm políticas para diminuir a
imigração. A reversão dessa tendência ao longo do período reflete diferenças nas taxas
de crescimento de MDRs e LDRs. Os MDRs reconhecem cada vez mais a imigração como
uma forma de compensar as taxas de crescimento lento, enquanto os LDRs podem ver
menos valor na imigração, desde que as suas próprias taxas de crescimento
permaneçam altas.
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6.AS MIGRAÇÕES
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6.AS MIGRAÇÕES
ATIVIDADE FORMATIVA
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7. A DINÂMICA POPULACIONAL POR SEXO E IDADES
Descrever a evolução dos volumes populacionais de uma população, com base no cálculo
de medidas de variação desses volumes: taxas de variação, taxas de crescimento anual
médio e tempo de duplicação em anos;
Descrever a evolução da estrutura etária portuguesa;
Determinar a composição da população, segundo a idade e o sexo;
Perceber a metodologia de construção das pirâmides de idade. Saber identifica las;
Saber calcular as Relações de masculinidade e o seu contributo na analise demográfica;
Saber determinar e interpretar grupos funcionais e Índices Resumo.
Saber definir e analisar o envelhecimento demográfico
Este valor, porém, considerado em relação ao total da área estudada, pode não traduzir
a verdadeira distribuição da população, pois esta encontra-se mais aglomerada em
certas zonas e mais dispersa noutras. Esta situação é traduzida pelo coeficiente de
localização.
A população pode ainda distribuir-se por aglomerados rurais e urbanos. A primeira reside
isolada no campo ou em pequenos núcleos. A segunda vive nas cidades ou em
povoações de certa importância populacional.
Uma outra questão importante que surge seria: como é que as mudanças num ou mais
destes componentes da população poderiam afetar os outros componentes?
Suponhamos também que, a partir de uma população inicial num passado longínquo,
não tenha havido entrada e saída de pessoas da área. Trata-se de uma população
fechada, isto é, sem movimentos migratórios. A trajetória entre aquela população inicial
e a população atual é totalmente explicada pelas mortes e nascimentos ocorridos no
período.
Estamos, assim, perante uma população fechada quando a sua estrutura é mantida ou
alterada apenas pelos nascimentos e óbitos, isto é, não afetada por migrações
exteriores. Neste caso as modificações são de três tipos: aumento através dos
nascimentos, diminuição através dos óbitos, e envelhecimento de todos os
sobreviventes.
Nas populações fechadas existem três tipos de modificações anuais: aumento, por meio
da natalidade, diminuição através da mortalidade e envelhecimento de um ano de todos
os sobreviventes. (Leston Bandeira, 2004)
A estas modificações, acrescem, no caso de uma População Aberta (quando está sujeita
a fenómenos migratórios): as entradas de indivíduos de diferentes idades e as saídas de
indivíduos de diferentes idades.
Finalmente, uma população estacionária diz respeito a uma população estável em que a
taxa de natalidade é igual à taxa de mortalidade, sem mudanças no tamanho da
população, logo com uma taxa de crescimento nulo. (Nazareth, 2004)
O número de pessoas que estão presentes num determinado espaço territorial define-
se como volume populacional. Uma população não tem sempre o mesmo número de
habitantes, evoluí a um determinado ritmo (que pode ser diferente consoante os
períodos):
Suponhamos uma população que num momento 0 é P0, num momento 1 é P1, num
momento 2 é P2… num momento n é Pn e que cresce a uma taxa a.
Pn = P0 e an (e = 2,718282)
Pn = P0(1+a) n
Pn/P0 = (1+a) n
Nota: O Log pode ser facilmente calculado na máquina de calcular, bastando acionar a
função Log.
O resultado “a” lê-se “Em média por ano cresceu x”. Se multiplicarmos a por 100, a*100,
lê-se “Por ano, por cada 100 indivíduos aumentou (ou diminuiu ou manteve-se) x, em
média anual entre P0 e P1”.
População em Portugal
- 15/12/1960: 8 889
- 15/12/1970: 8 663
a = - 0,25 %
Taxa de variação:
Em Portugal, no período de 1960/70, por ano e por cada 100 pessoas, a população
diminui 0,25.
Se uma população mantivesse as suas taxas atuais de natalidade e mortalidade ano após
ano, quanto tempo levaria para duplicar de tamanho? Os demógrafos às vezes usam a
Regra de 69,3 (logaritmo natural de 2 X 100) para perceber se a taxa de crescimento de
uma população é rápida ou lenta.
Exemplo:
Este é um cenário improvável do mundo real, uma vez que as taxas de natalidade e
mortalidade raramente são constantes, mas permite avaliar a importância de uma
determinada taxa percentual de mudança populacional.
Em terceiro, ao nível individual, idade e sexo são as duas primeiras características que
reconhecemos numa pessoa, principalmente com base nas aparências externas.
A Demografia lida, deste modo, não apenas com o tamanho e crescimento da população,
mas também com a composição da população. As dimensões mais importantes da
composição, indiscutivelmente, são a idade e o sexo. A idade, em particular, está a
passar por um grande fluxo, à medida que as populações do mundo envelhecem. O
envelhecimento da população será o principal foco demográfico do século XXI.
Em 2050, pela primeira vez na história da humanidade, haverá mais idosos do que
crianças no mundo. Isso deve se principalmente às reduções de fecundidade, mas
também reflete o fato de que a expectativa de vida aumentou.
Viver vidas mais longas é talvez a maior história de sucesso da história moderna, graças
às inovações na saúde pública, medicina e desenvolvimento económico. Ao mesmo
tempo, o envelhecimento da população pode trazer sérios desafios para a sociedade. A
dependência da velhice pode levar a uma produtividade económica reduzida e
sobrecarregar os sistemas de saúde e previdência. Mas se esses desafios forem
antecipados, eles podem ser compensados com as políticas sociais e económicas. Não
esquecendo contudo que a transição do envelhecimento precoce de uma população
dependente de jovens para uma população em idade ativa traz grandes oportunidades,
fenómeno conhecido como “dividendo demográfico”. (Poston & Bouvier, 2017)
As sociedades constroem papéis e atribuem status com base na idade e sexo mais do
que em quaisquer outras características. Consequentemente, as nações incluem
questões sobre a idade e sexo nos questionários do censo. Tão importante é a
composição idade-sexo, que muitos demógrafos lhe dão um rótulo especial: a estrutura
populacional.
Em relação à mortalidade, isto é, a frequência com que ocorre a morte numa população,
as mulheres têm taxas mais baixas de mortalidade do que os homens em qualquer idade
da vida. Além disso, a mortalidade por causas específicas está geralmente também
relacionada com a idade. Justamente, no que concerne a relação entre a idade e o risco
de morte, a idade pode ser considerada a variável demográfica mais importante na
análise de mortalidade.
A migração de longa distância tende a ser maior entre os homens enquanto que as de
curta distância são predominantes no caso das mulheres, especialmente no caso nos
países em desenvolvimento. No entanto, com a maior equidade de género, a migração
feminina tende a aproximar-se à masculina. De fato, quase metade dos migrantes
internacionais agora são mulheres. A migração interna também é seletiva, com o maior
número de migrantes encontrados entre os jovens adultos.
A Idade e sexo não são as únicas variáveis importantes na Demografia e outras variáveis
estão também intimamente relacionadas com o processo demográfico. O casamento e
o estado civil são importantes quando se estuda a fecundidade. A educação é uma
variável especialmente importante a considerar. Regra geral, quanto maior a educação,
menor é a fecundidade e menor é a mortalidade. De facto, todas estas variáveis são
tanto a causa quanto o efeito da mudança populacional.
A definição de idade é direta. É uma característica atribuída, embora mutável. Nos censos
da população, geralmente é definida em termos da idade de uma pessoa no seu último
aniversário.
Na maioria dos censos, pede-se ao entrevistado que forneça a sua idade atual, bem
como a data em que nasceu, permitindo assim que se corrija qualquer discrepância na
idade relatada do entrevistado. Este método ajuda a minimizar o efeito acumulado de
idade.
O Sexo também é uma característica atribuída e, para a maioria das pessoas, imutável.
Justamente, para a grande maioria das pessoas, o sexo é fixo desde o nascimento.
Relativamente à distinção entre sexo e género, na maior parte das vezes, embora nem
sempre, o sexo é uma variável atribuída cuja designação é baseada na biologia. O
género, por outro lado, é mais frequentemente usado ao discutir diferenças não
biológicas entre homens e mulheres, por exemplo, diferenças de status socioeconómico.
Os demógrafos tendem a usar o termo sexo ao discutir diferenças biológicas e não
biológicas devido, talvez, ao foco principal da demografia na fecundidade e mortalidade.
Isso não significa que os demógrafos não estejam interessados nas diferenças não
biológicas entre os sexos. Mas eles usam o termo sexo para uma discussão mais ampla.
As diferenças entre homens e mulheres na migração, casamento e divórcio e participação
na força de trabalho, para citar apenas alguns, são diferenças não biológicas de interesse
significativo para os demógrafos. (Poston & Bouvier, 2017)
Uma pirâmide populacional nada mais é do que dois histogramas comuns (gráficos de
barras), representando as populações masculina e feminina, geralmente agrupados em
categorias etárias de 1 ou 5 anos, posicionados lado a lado.
Trata-se, assim, de um duplo histograma, formado por uma ordenada comum (vertical)
- que representa as idades (aniversários) – e duas abcissas, que representam os efetivos,
respetivamente do sexo masculino (à esquerda) e do sexo feminino (à direita).
Em suma, a construção das pirâmides de idades tem como base os grupos de idades
consideradas e os sexos correspondendo aos retângulos dos histogramas.
Convencionou-se que os efetivos do sexo masculino figuram à esquerda do eixo e os
efetivos do sexo feminino à direita do eixo do gráfico.
Esta pirâmide tem uma base muito larga (elevadas proporções de jovens), que diminui
rapidamente conforme se avança para idades mais avançadas, pelo que apresenta um
topo com efetivos reduzidos (diminutas proporções de pessoas idosas). Justamente,
trata se de uma pirâmide de países com elevados níveis de natalidade e mortalidade. A
A pirâmide em Urna remete para populações onde se assiste a uma progressiva quebra
da fecundidade e da mortalidade. Neste tipo de pirâmide, a base destaca se como a
parte mais reduzida do gráfico (baixas proporções de jovens) e apresenta um topo
empolado (elevadas proporções de pessoas idosas). Nestes casos, a pirâmide toma o
formato de uma urna e é típica dos países desenvolvidos que se encontram na última
fase da transição demográfica.
Este gráfico assume a forma de um Às de Espadas ou maçã, pois a parte mais larga da
pirâmide corresponde às idades intermédias. Face à diminuição da fecundidade, a
natalidade acaba por cair para valores muito baixos e a base da pirâmide diminui – a
representatividade dos idosos na população torna-se superior à dos jovens. Nestes
casos, os níveis de natalidade já estão muito baixos e, por isso, a base da pirâmide é
alimentada com menos indivíduos, o que provoca o seu estreitamento – trata-se do
envelhecimento na base da pirâmide.
Por outro lado, a mortalidade também é baixa o que causa o alongamento das classes
correspondentes aos idosos – trata-se do envelhecimento no topo da pirâmide.
<1 ano, de ano a ano até aos 4 anos inclusive, por grupos de cinco anos, (desde os 5
anos aos 84 anos), de 85 e mais anos.
Sempre que a distribuição por idades é feita em grupos etários de diferentes amplitudes,
torna-se necessário reduzir os efetivos a uma unidade comum.
Exemplo:
Idades Efetivos masculinos Efetivos femininos
0 X Y
1-4 X+1 Y +1
5-9 X+2 Y+2
10 - 14 X+3 Y+3
Assim, temos:
..
..
75 – 79 10 14 0,7 0,9
80 + 15 25 1,0 1,7
No caso do último grupo de idade (aberto), se os seus valores forem superiores aos do
grupo fechado anterior dividem-se esses valores por 2 até se obterem valores
dificilmente representáveis.
85 - 89 0,3 0,4
3.º. Verifica-se qual a percentagem (%) máxima obtida (por hipótese 6%)
4.º O eixo das abcissas (horizontal) é constituído por dois sub-eixos: à esquerda (sexo
masculino), à direita (sexo feminino), (cada sub-eixo vai variar de 0% a 6%) e fixa-se
uma medida a atribuir a cada variação de 1% (por exemplo 1 cm).
5.º. Traça-se a base, deixando um espaço para o corredor central (onde se irão colocar
os Grupos de Idade).
6.º A altura da pirâmide deve ser encontrada após a aplicação do seguinte princípio:
altura = 2/3 da base. (altura = 2/3 *12 cm ou seja = 8 cm)
7.º. Determina-se a escala a atribuir a cada grupo de idades dividindo-se a altura total
pelo número de grupos de idade considerados.
8.º. Por fim, traça-se o eixo vertical e representa-se, para cada GI (sexos separados),
as % correspondentes, sendo o comprimento de cada retângulo proporcional a essas
percentagens.
Deve-se sempre complementar uma pirâmide de idades com o cálculo das relações de
masculinidade por grupos de idade.
De facto, as pirâmides de idades não são simétricas. Em primeiro lugar nascem mais
rapazes que raparigas o que faz com que a base de uma pirâmide seja sempre maior do
lado masculino do que do lado feminino.
Em segundo lugar, a mortalidade que é o fator decisivo na redução dos efetivos é sempre
mais precoce no sexo masculino. Assim, conforme avançamos na idade, a superioridade
dos efetivos masculinos vai diminuindo, geralmente entre os 20-30 anos de idade a
importância dos sexos é igual, e nos últimos grupos de idades o sexo feminino apresenta
sempre maior volume populacional do que o sexo masculino.
“Este modelo natural, que é formado apenas pela evolução e pelos níveis de mortalidade
e de natalidade, pode, no entanto, ser perturbado por outros fatores, tais como: as
migrações, por serem movimentos que normalmente incidem mais em determinados
grupos etários”. (Nazareth, 2004, p. 113).
Em cada população ou em cada classe etária, torna se por estes motivos necessário
analisar a representação quantitativa dos efetivos masculinos e dos efetivos femininos.
Rm = Pm / Pf x 100
Exemplo:
Segundo o recenseamento de 1991, residiam em Portugal 9 862 540 pessoas, das quais
4 754 632 do sexo masculino e 5 107 908 do sexo feminino. Na classe etária dos 10 aos
15 anos tínhamos 398 442 rapazes e 383 142 raparigas. Nesse ano nasceram 116 383
crianças, dos quais 59 953 eram do sexo masculino e 56 430, do sexo feminino. Logo:
Significa que no conjunto da população portuguesa, em 1991, por cada 100 pessoas do
sexo feminino havia 93, 08 do sexo masculino e que por cada 100 raparigas dos 10 aos
15 anos havia 104,0 rapazes. Nesse ano, houve 106,24 nascimentos masculinos por cada
100 nascimentos femininos.
A população passa a estar dividida em três grandes grupos etários, sexos separados ou
reunidos:
Os grupos funcionais expressam, assim, essencialmente o peso relativo dos três grandes
grupos sócio demográficos presentes em qualquer população.
Geralmente, parte se do principio de que no grupo de menos de 15 anos, existe um
escasso potencial produtivo, e grande consumo de bens.
Na análise da estrutura etária das populações devem calcular-se certas relações entre
efetivos, não só para observar a sua evolução ao longo dos anos, mas também para
avaliar certas implicações sócio económicas.
Temos assim:
O conjunto destes indicadores permite fazer a seguinte leitura: Por cada 100 pessoas
temos x jovens, y potencialmente ativos, e z idosos.
Leitura dos indicadores: Por cada 100 idosos existem x jovens (Índice de Juventude) e
por cada 100 jovens existem x idosos (Índice de Envelhecimento).
• Índice de Dependência de Jovens : (pop. 0-14 anos/ população 15-64 anos) x 100
Leitura dos indicadores: Por cada 100 potencialmente ativos temos x jovens e y idosos.
Pensou se durante muito tempo que o envelhecimento demográfico teve a sua origem
na baixa da natalidade e da mortalidade. Atualmente, pensa-se ainda que o aumento da
esperança de vida e a baixa da mortalidade determinaram o envelhecimento
demográfico. Não obstante, verificou-se que nas populações onde esse fenómeno
predomina, o mesmo fora provocado essencialmente pela quebra da natalidade e não
pela baixa da mortalidade. Constata-se, assim, que o envelhecimento acontece nas
populações onde tendencialmente a natalidade é baixa. (Leston Bandeira, 2004)
Mas a verdade é que a população mundial está a envelhecer e todos os países do mundo
estão a assistir a um crescimento no número e na proporção de pessoas idosas da sua
população.
Estima-se que o número de idosos, com 60 anos ou mais, duplique até 2050 e mais do
que triplique até 2100, passando de 962 milhões em 2017 para 2,1 mil milhões em 2050
e 3,1 mil milhões em 2100.
Em todo o mundo, a população com 60 anos ou mais está a crescer mais rapidamente
do que todos os grupos etários mais jovens. A população com mais de 60 anos está a
crescer a uma taxa de cerca de 3% por ano.
Em 2017 estimava-se que, em todo o mundo, 962 milhões de pessoas tinham 60 anos
ou mais – representando 13% da população global.
Globalmente, o número de pessoas com 80 anos ou mais deverá triplicar até 2050
passando de 137 milhões, em 2017, para 425 milhões em 2050. As pessoas mais velhas
são cada vez mais vistas como contribuintes para o desenvolvimento, cujas
competências devem estar interligadas com políticas e programas transversais.
No entanto, nas próximas décadas, muitos países irão enfrentar pressões fiscais e
políticas na esfera dos sistemas públicos de saúde, providência e proteção social para a
população com a faixa etária mais avançada (Organização das Nações Unidas, 2021)
ATIVIDADES FORMATIVAS
80 + 86544 256859
Introdução
Com uma população mundial triplicando de 2 bilhões para 6 bilhões ao longo do século
20, e alcançando 7,2 bilhões apenas 14 anos depois, não há tendência demográfica mais
óbvia do que o crescimento populacional. A população está projetada para continuar
crescendo no futuro, embora mais lentamente, nivelando-se perto de 10,9 bilhões de
pessoas no século 22 (Nações Unidas, 2013).
As crises de mortalidade têm duas fases: a fase da peste e a fase das epidemias sociais
que se estende até ao início da época contemporânea. A mortalidade era um fator
regulador e um fator destruidor das populações desta época. Alguns historiadores da
população têm uma visão mecanicista das sociedades humanas nesta época ao
pensarem que o verdadeiro elemento regulador é a morte. Esta visão mecanicista não
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© Universidade Aberta
8. MUDANÇA DA POPULAÇÃO MUNDIAL AO LONGO DO TEMPO
Houve longos períodos de crescimento estacionário, até por volta da época de Cristo,
quando a população mundial era de aproximadamente 250 milhões. A população não
duplicou novamente até cerca do ano 1600. A taxa média anual de crescimento foi de
apenas 0,04 por cento nesse período. Essas condições estacionárias continuaram até
aproximadamente 1650, quando a população mundial foi estimada em cerca de 650
milhões. Durante muitos milhares de anos, a população mundial foi mantida em tamanho
pequeno pelos vários testes malthusianos. A população cresceu de cerca de 650 milhões
em 1650 para 1 bilhão em 1850. Em seguida, levou menos de 80 anos para duplicar
novamente em 1927. Com a Revolução Industrial, as pessoas começaram a deslocar-se
do campo para as cidades para trabalhar em fábricas e moinhos, e o nível de urbanização
aumentou. Muito do crescimento deveu-se a taxas de mortalidade mais baixas, enquanto
as taxas de natalidade permaneceram altas. A melhoria do padrão de vida resultante da
industrialização ajuda a explicar o declínio das taxas de mortalidade. O rápido
crescimento populacional foi limitado principalmente à Europa Ocidental. Noutros
lugares, as taxas de natalidade e mortalidade permaneceram altas. O declínio da
mortalidade nas nações desenvolvidas foi seguido por um declínio na fecundidade. Na
década de 1930, as taxas de crescimento populacional estavam em declínio. Ao contrário
do declínio populacional anterior, desta vez o crescimento foi muito lento devido à baixa
fecundidade e baixa mortalidade. As taxas de mortalidade permaneceram muito altas
nas regiões menos desenvolvidas até depois da Segunda Guerra Mundial, quando houve
Após milénios de crescimento lento, a população mundial evoluiu para uma taxa sem
precedentes, começando nos anos 1600 e atingindo o pico no final dos anos 1960. Os
padrões de consumo da população - mais do que o crescimento populacional - podem
desafiar a capacidade de suporte do planeta, embora a fecundidade tenha começado a
diminuir em todo o mundo. As preocupações com os padrões de consumo excessivo da
população incluem as emissões de carbono que levam à mudança climática, o
esgotamento dos recursos pesqueiros e de água doce e assim por diante. A explosão
populacional moderna não foi igualmente intensa em todo o mundo. Tudo começou onde
hoje são os países mais desenvolvidos. Eles experimentaram, com a sua modernização,
uma sequência de declínios nas taxas de mortalidade e natalidade descrita como a
transição demográfica. Alguns desses países, mesmo agora, têm uma fecundidade
abaixo do índice de reposição (Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015, p. 84).
A grande mutação não resultou de um modelo simplista que apenas considera os efeitos
diretos e indiretos das condições de saúde (modelo simplificado), mas de um modelo
mais complexo que integra diversas componentes (Modelo de Dupâquier, conforme
citado em Nazareth, 2004, p. 90-93):
ARRANQUE INDUSTRIAL
EXPLOSÃO
Fonte: adaptado de Nazareth, 2004, p. 93, figura 5
Demorou mais de 50 000 anos para que a população mundial atingisse um bilhão. Desde
1960, bilhões de habitantes foram adicionados a cada dez ou vinte anos. A população
mundial era de três bilhões em 1960; atingiu seis bilhões na virada do século e, segundo
projeções da Organização das Nações Unidas (ONU), ultrapassará nove bilhões até 2037.
Essa taxa de crescimento populacional desacelerou, após atingir mais de 2% por ano no
final da década de 1960, está agora em torno de 1%, e deverá cair para a metade até
2050.
Embora o rendimento mundial por habitante tenha mais do que duplicado, a expetativa
de vida aumentada em 16 anos, e que a educação das crianças na educação primária
se tivesse tornado praticamente universal entre 1960 e 2000, o rápido crescimento
populacional apresenta inúmeros desafios assustadores, tanto públicos quanto privados,
incluindo: atender às crescentes necessidades de alimentos, roupas, habitação,
educação e infraestrutura; integrar efetivos consideráveis em empregos produtivos; e
proteger o meio ambiente com mais rigor. Receios antigos de uma explosão demográfica
mundial deram lugar a outros receios de um rápido crescimento populacional,
especialmente em alguns países e regiões. A desaceleração geral da taxa do crescimento
demográfico global oculta diferenças consideráveis na distribuição da população do
planeta dependendo do estado de desenvolvimento e da região geográfica. Os países
classificados pela ONU como menos desenvolvidos contavam com 68% dos habitantes
do planeta em 1950; hoje representam 84%. Esta proporção continuará a aumentar
pois, aos 2 bilhões de habitantes que deverão juntar-se à população mundial nos
próximos 30 anos, praticamente todos nascerão em países menos desenvolvidos. Este é
um grande desafio, uma vez que as regiões menos desenvolvidas tendem a ser mais
frágeis – a nível político, social, económico e ambiental – do que as regiões mais
desenvolvidas. Com 1,44 bilhão de habitantes, a China é atualmente o país com maior
população do mundo, seguido pela Índia, com 1,38 bilhão de habitantes. Mas no final
da década, prevê-se que a India vá liderar, com projeções de 1,5 bilhão de habitantes,
contra 1,46 bilhão na China. Entre 2020 e 2050, prevê-se que a Nigéria (que deverá
ultrapassar os Estados Unidos, tornando-se o terceiro país com mais população do
planeta) e o Paquistão (que já se encontra entre os dez países com maior população)
vão conhecer um salto excecional. A Ásia continuará a ter uma população dominante,
mas descrente relativamente à população global (60% hoje e 54% em 2050) (Bloom,
2020).
Durante a maior parte dos séculos, os humanos estiveram na Terra, a população cresceu
muito lentamente. Eventualmente, a população mundial deve parar de crescer porque
habitamos um espaço finito. Podemos atingir essa meta por meio de altas taxas de
mortalidade que equilibram as altas taxas de natalidade, ou pode ser alcançado por uma
combinação de baixas taxas de natalidade e baixas taxas de mortalidade (Poston &
Bouvier, 2017).
Os Países com mais população são a China e a Índia. 61% da população mundial vive
na Ásia (4,7 bilhões de indivíduos), 17% na África (1,3 bilhão de habitantes), 10% na
Europa (750 milhões de pessoas), 8% na América Latina e Caraíbas (650 milhões) e os
restantes 4% encontram-se na América do Norte (370 milhões) e na Oceânia (43
milhões). A China e a Índia representam os países mais povoados no mundo, com
respetivamente 1,44 bilhões de habitantes para o primeiro e 1,39 bilhões para o
segundo, ou seja, 19 e 18% da população mundial. Em 2027, a Índia deverá ultrapassar
a China nesta classificação, já que a população do país deverá diminuir em 31,4 milhões
(cerca de 2,2%) entre 2019 e 2050, de acordo com as previsões. São as Perspetivas da
População Mundial das Nações Unidas (United Nations, 2019).
Projeções para o ano 2100 - A população mundial deverá atingir 8,5 bilhões de pessoas
em 2030, e crescer para 9,7 bilhões em 2050 e 11,2 bilhões em 2100, de acordo com
as estatísticas e previsões populacionais das Nações Unidas. Essas projeções baseiam-
se em variações médias, que pressupõem uma queda na taxa de fecundidade e um
aumento na expetativa de vida em muitos países.
Os dados sobre a população mundial são publicados com alguma regularidade através
das diversas organizações, nomeadamente: Nações Unidas1, Banco Mundial2, PRB
(Popluation Reference Bureau)3, União Europeia (Eurostat)4, Conselho da Europa,
Serviços Nacionais de Estatística, “Our World in Data5, entre outros. Os dados são
traduzidos por onze indicadores: a superfície, população no meio do ano civil, taxa de
natalidade, taxa de mortalidade, projeção, taxa de mortalidade infantil, índice sintético
de fecundidade, proporção de indivíduos com menos de 15 anos e mais de 65 anos,
esperança de vida dos homens e das mulheres, produto nacional bruto por habitante e
o produto interno bruto por habitante6.
1
https://www.un.org/development/desa/pd/
2
https://data.worldbank.org/
3
https://www.prb.org/
4
https://ec.europa.eu/eurostat/
5
https://ourworldindata.org/
6 Ver https://www.unfpa.org/data/world-population-dashboard
A primeira grande diferença reside no facto de, globalmente, a humanidade nos aparecer
no século XX dividida em dois blocos: o dos países em desenvolvimento onde se
concentra 80 % da população mundial, com um crescimento anual médio que chega
quase aos 2 %, uma mortalidade infantil elevada, elevadas percentagens de jovens,
baixas percentagens de idosos, e um PNB per capita que raramente ultrapassa os 1000
dólares.
É provável que a população mundial em 2100 chegue a cerca de 10 bilhões e pode ser
maior. A população dos Estados Unidos agora é de 321 milhões e provavelmente chegará
a cerca de 460 milhões em 2100.
Primeiro, olhe para os recursos, especificamente petróleo e água. Muitos países estão a
limitar o uso do petróleo e a encontrar fontes alternativas de energia. A água é um
recurso muito menos confiável do que o petróleo. Não há substitutos para a maioria de
seus usos. À medida que a população cresce, há um aumento da pressão para esgotar
os reservatórios de água, que são essenciais para grande parte da vida.
Considere tudo o que evoluiu nas últimas gerações, não apenas no que diz respeito aos
computadores e à Internet, mas também no que diz respeito à medicina, ao projeto do
genoma e à pesquisa com células-tronco. Na verdade, aconteceram mais coisas na
última geração (nos últimos trinta a trinta e cinco anos) do que nas gerações anteriores.
Nesta era iminente de globalização, fazemos a pergunta: "Será que todos vamos nos dar
bem?" A resposta depende de como nos adaptamos uns aos outros no equilíbrio do
século XXI (Poston & Bouvier, 2017).
Por fim, o Covid-19 e a demografia. Qual será o impacto desta crise de saúde na
população mundial? Segundo Bruno Tertrais, cientista político francês, especializado em
análise geopolítica e estratégica, vice-diretor da Foundation for Strategic Resarch (FSR),
membro sénior do Instituto Montaigne e consultor científico do Alto-Comissariado
Científico para o Planeamento, afirma que como somos muitos na Terra e porque a
reação internacional foi bastante rápida, a pandemia deve ter um impacto muito limitado,
em termos de mortalidade total previsível, na espécie humana. Durante os dias da gripe
espanhola, uma pandemia muito grande ainda poderia causar uma redução na
população. Este não é mais o caso hoje. Num artigo no Jornal Le Monde, Martine Valo
(4/04/2021) diz que a pandemia Covid-19 criou um “baby flop” global. A crise da saúde
resultou numa queda na taxa de natalidade em 2020, sem paralelo desde a Segunda
Guerra Mundial, especial nos países desenvolvidos (Institut Montaigne, 2021).
ATIVIDADES FORMATIVAS
Objetivos
Os habitantes não estão distribuídos igualmente por todo o planeta. Algumas partes do
mundo são densamente povoadas, enquanto outras não. O “World Population Clock"
estimou que o tamanho da população do mundo em outubro de 2015 era de quase 7,3
mil milhões de pessoas. Mas esses mil milhões de habitantes não estão igualmente
distribuídos em todo o planeta. A distribuição da população reflete níveis de fecundidade,
mortalidade e migrações.
Seja olhando para o planeta Terra, África ou Estados Unidos, é claro que a população
está longe de estar distribuída igualmente. A maioria sabe que a população da China é
de mais de 1,3 mil milhões e que a população dos Estados Unidos é de cerca de 321
milhões. No entanto, muitos podem não estar cientes de que a China e os Estados Unidos
são muito próximos em tamanho geográfico. Em alguns países, é mais provável que as
pessoas sejam rurais do que urbanas. Geralmente, no entanto, há um movimento
de urbanização em todo o mundo:
Em 2050, a Índia provavelmente terá ultrapassado a China como a nação mais populosa
do mundo, e isso será principalmente o resultado da menor fecundidade dos chineses e
do fato de que a atual taxa de aumento natural da Índia é três vezes maior que a da
China, ou seja, 1,5 por cento contra 0,5 por cento. Os Estados Unidos e a China são
semelhantes em tamanho, mas não em população.
urbanas, que são mais diversificadas e não agrícolas. Os sociólogos há muito apontam
que os estilos de vida tendem a ser diferentes em áreas rurais e urbanas. Émile Durkheim
chamou-os de mecânicos e orgânicos. Normalmente, existem diferenças demográficas
acentuadas entre as áreas rurais e urbanas. A fecundidade é geralmente mais alta nas
áreas rurais do que nas urbanas. O nível de escolaridade geralmente é menor nas áreas
rurais. Nas nações industrializadas, muitas das diferenças entre o rural e o urbano foram
reduzidas devido à difusão dos media modernos e à rápida comunicação. Mas as
diferenças ainda são muito aparentes nas nações menos desenvolvidas do mundo. Ao
longo da maior parte da história, os humanos foram moradores rurais. Depois da
Revolução Agrícola, muitos ainda viviam em fazendas, mas não precisavam mais vagar
em busca de alimento e abrigo. A verdadeira urbanização ocorreu após a Revolução
Industrial na Europa Ocidental e das suas colónias (Poston e Bouvier, 2017, p 370).
Urbanização
pessoas que vivem nas áreas urbanas. A partir de 1900, a rápida urbanização começou
em muitas partes do mundo. As Nações Unidas definem aglomeração urbana como uma
área urbana de pelo menos 1 milhão de habitantes, incluindo todos os habitantes do
território circundante que vivam em níveis urbanos de densidade residencial (Poston &
Bouvier, 2017, p. 370-373).
A gentrificação, ou seja, a migração da classe média e dos povos ricos para as áreas
antes mais pobres das cidades, ocorre em algumas cidades centrais mais antigas, por
exemplo, São Francisco. Os termos explosão populacional e implosão
populacional parecem contraditórios. No entanto, ambos estão ocorrendo atualmente
em todo o mundo. Os demógrafos Avery Guest e Susan Brown deram um exemplo desse
duplo fenómeno numa frase muito interessante sobre a distribuição da população nos
Estados Unidos. Observaram que “a área metropolitana de Las Vegas triplicou entre
1980 e 2000, enquanto 46 dos 53 condados do estado de Dakota do Norte perderam
população”. Podemos apenas especular se essa será a direção da distribuição da
população no século XXI, não apenas em Nevada e Dakota do Norte, mas em todo o
mundo (Poston e Bouvier, 2017, pp 384-385).
Uma população também pode ser classificada de acordo com seu nível de
desenvolvimento económico. Duas medidas comuns são 1) rendimento per capita, e 2)
consumo de energia per capita. Cada medida produz resultados semelhantes com
respeito à distribuição da população: menos de 20% da população mundial reside nas
regiões mais desenvolvidas economicamente. Espera-se que essa proporção diminua no
futuro. Em 2050, pode estar abaixo de 15% porque as taxas de crescimento populacional
são muito maiores nas nações em desenvolvimento do que nas desenvolvidas. A
migração maciça das regiões em desenvolvimento para as regiões desenvolvidas é
improvável devido às barreiras políticas erguidas por estas últimas para impedir tais
movimentos internacionais. No entanto, apesar das muitas e variadas limitações, estima-
se que um grande número de pessoas, cerca de 30 a 35 milhões, esteja a mudar de um
país para outro sem documentos oficiais (Poston e Bouvier, 2017, p. 374).
A tarefa de formular uma política populacional é complicada porque pode haver alguma
discordância quanto à magnitude do problema (se é que há um problema) de
crescimento ou declínio populacional.
Questões de discordância:
Deve haver uma declaração explícita de um governo de que existe uma política?
O ponto forte da CIPD do Cairo foi a defesa dos direitos humanos e dos direitos
reprodutivos. No capítulo II do Programa de Ação estão explicitados os 15 princípios
gerais da Conferência. O princípio 1 reafirma os compromissos da Declaração Universal
dos Direitos Humanos de 1948. O princípio 2 diz que o ser humano é o elemento central
do desenvolvimento sustentável e tem o direito a uma vida sã e produtiva em harmonia
com a natureza, sendo que toda pessoa tem o direito a um nível de vida adequado para
si e sua família. A CIPD definiu os direitos reprodutivos como sendo a liberdade de
escolha das pessoas para definir como, quando e quantos filhos querem ter (incluindo o
direito à fecundidade zero, evitando a maternidade forçada). A Conferência do Cairo
defendeu o direito à conceção e à contraceção, ficando a cargo dos cidadãos e cidadãs
decidir, livremente, sobre as opções de escolha.
No século XX, o movimento pró-natalista atingiu seu ápice na Alemanha, Itália e Japão
durante os anos entre a Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra Mundial. Países
como França e Roménia adotaram políticas pró-natalistas em vários momentos após a
Primeira Guerra Mundial. Essas políticas representaram uma reação à baixa fecundidade
que acompanhou a modernização. Às vezes, os países têm políticas que têm efeitos pró-
natalistas e anti natalistas (Exemplo: França). Singapura é outro exemplo de país que
reverte as suas políticas de crescimento populacional. A determinação de diminuir o
crescimento por meio de fecundidade reduzida foi muito bem-sucedida. Esses esforços
incluíram medidas indiretas, como melhores instalações para saúde e educação. Da
mesma forma, a Coreia do Sul e Taiwan adotaram programas de incentivo para
aumentar o número de crianças por família. Até hoje, entretanto, há pouca evidência de
sucesso no aumento da fecundidade e o Índice Sintético de Fecundidade (ISF)
permanece muito abaixo do nível de reposição. Em 2013, o ISF da Coreia do Sul era 1,2
e o de Taiwan 1,1. A China, sem dúvida, tem uma das políticas populacionais mais
rigorosas da história da humanidade. Na verdade, uma das razões pelas quais a China é
um país tão interessante e intrigante para os demógrafos estudarem são precisamente
as suas políticas de fecundidade. Outra razão, conforme observado pelo demógrafo
Nathan Keyfitz, é que na China os líderes políticos são capazes de controlar o número
anual de nascimentos com considerável precisão.
Ao longo da maior parte da história humana, as pessoas foram livres para se movimentar
em busca de uma vida melhor. Essa liberdade de movimento internacional foi
significativamente restringida desde o final do século XIX, em algumas regiões do
mundo. Muitos países introduziram leis que infringem a liberdade de circulação da
migração internacional. Ao mesmo tempo, alguns governos tomaram medidas para
incentivar o movimento para algumas áreas e para fora de outras. Alguns países
encorajam a imigração (migração de outro país para um país) a fim de aumentar o
tamanho de sua população.
O terceiro tipo de regime de imigração são os países do sul e do leste europeu “que têm
mais probabilidade de receber do que de enviar imigrantes”. Os quatro países mais
proeminentes nesta categoria são Grécia, Espanha, Portugal e Itália.
A migração, talvez, pudesse ser usada como um meio de repor a população perdida com
a fecundidade. As projeções populacionais preparadas para a Coreia do Sul para as
próximas décadas indicam que os números absolutos e relativos das populações mais
velhas aumentarão tremendamente. Uma solução seria a migração internacional, uma
estratégia que permitiria à Coreia do Sul trazer membros apoiantes para a sua população
direta e imediatamente.
Em síntese, muitos governos aprovaram leis e regulamentos que lidam com seus níveis
de fecundidade, mortalidade e migração, especialmente a migração. Mas as políticas,
quaisquer que sejam as suas intenções e razões para a sua génese, nunca terão sucesso
a menos que levem em consideração o meio social, cultural e económico em que ocorre
o comportamento demográfico, e a menos que considerem os efeitos indiretos e diretos
(Poston e Bouvier, 2017, pp 404-406).
ATIVIDADES FORMATIVAS
1. Quais são as três condições que devem estar presentes para o desenvolvimento das
cidades?
3. Descreva cada uma das três Conferências da População Mundial realizadas em 1974,
1984 e 1994. Qual era o foco pretendido de cada conferência e o que cada conferência
alcançou?