A Tradicao Ceramica Itarare Taquara Cara
A Tradicao Ceramica Itarare Taquara Cara
A Tradicao Ceramica Itarare Taquara Cara
Abstract
In this paper we briefly discuss the con-
cepts of “phase” and “tradition”, and their
implications for the understanding of the
distribution of Itararé-Taquara ceramic
tradition in southern and southeastern
Brazil. We also present new data related
to that tradition, from São Paulo state.
Based on such data, we raise some hypo-
thesis about the origin and dispersion of
bearers of this ceramic technology.
1
Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo – EACH/USP
2
Um tratamento abrangente do problema foi apresentado por Dias (1994).
3
Na verdade, apesar de uma revisão de vários outros termos técnicos, os conceitos de fase e tradição
não foram modificados.
4
Também conhecido por McKern Taxonomic System, Midwestern System of Classification etc.
1930 (p. ex., “modo”, “horizonte”, “estilo- ção extensiva e definição intensiva. De-
horizonte”, “estilo”, “componente”, “as- finição extensiva de um termo é feita por
pecto”, “focus” etc.) do que uma deri- meio de uma listagem de todos os obje-
vação imediata de Willey e Phillips. tos aos quais o termo é aplicável. Como
Concebidos inicialmente como ferra- resultado, tais definições se restringem
mentas para sistematizar os conheci- a definir o que já é sabido de antemão.
mentos provenientes de uma terra in- A definição intensiva, por sua vez, es-
cognita, os conceitos de fase e tradição pecifica um conjunto de atributos que
acabaram por cursar um caminho inte- um objeto, seja ele conhecido ou não,
ressante: a princípio eram destituídos de deve apresentar para ser considerado
referente a um dado termo. É uma lista-
qualquer significado “etnológico”, e nis-
gem explícita das qualidades que usa-
so eram bastante semelhantes ao Mi-
mos de maneira geralmente intuitiva
dwestern Taxonomic Method. Com o
para identificar algo como sendo uma ca-
tempo, tornaram-se um fim em si; as
deira, por exemplo. É claro que a lista-
pesquisas arqueológicas resultavam na
gem não irá incluir todos os atributos de
definição de fases, muitas delas basea-
todas as cadeiras, mas apenas os que
das em um ou dois sítios5 , e este pare-
são importantes em sua identificação. A
cia ser o objetivo básico. Posteriormen-
definição intensiva é realizada, portan-
te, talvez por uma influência tardia da
to, por meio de um conjunto de condi-
new archaeology e da necessidade de se
ções necessárias e suficientes para que
chegar a resultados “antropológicos”, os um artefato possa ser considerado per-
conceitos começaram a tomar vida tencente a uma dada classe. A primeira
própria, sendo comparados a “unidades diferença fundamental está aqui: se um
autônomas e semi-autônomas” ou artefato desconhecido tem de ser clas-
“tribos” (fases) e “entidades tribais ou sificado, é possível declarar se ele é ou
lingüísticas” ou “nações” (tradições) não uma cadeira por meio da confronta-
(Meggers e Evans, 1985:5; Schmitz, ção com a definição de cadeira. Assim, a
1991: 72). Este fenômeno, o da tentati- definição intensiva tem um valor predi-
va de transformação de unidades “éti- tivo e heurístico. Aqui está o maior po-
cas”, desenvolvidas pelo pesquisador der da descrição intensiva: permitir a
para ordenar seu material de estudo, em comunicação de informação nova, ao in-
unidades “êmicas”, pretensamente rela- vés de apenas dirigir nossa atenção para
cionadas à organização social ou mental o que já é sabido.
dos povos estudados, ocorreu também
A segunda distinção básica é entre
na Arqueologia e Antropologia norte- classe e grupo, e está baseada na dis-
americanas (Dunnell, 1986b:177; Harris, tinção entre idéias (conceitos) e fenô-
1968:571-575). menos (vestígios, “coisas”): classes são
Talvez o maior problema com os con- formadas por elementos que apresen-
ceitos “fase” e “tradição” seja o fato de tam um ou mais atributos que se encai-
os mesmos não configurarem classes, xam em uma dada definição, que é a
mas sim grupos. Neste ponto, é impor- própria definição da classe. Uma classe
tante analisar algumas diferenças que é portanto ideativa, pertence ao domí-
foram colocadas por Dunnell (1971) e nio das idéias, não é delimitada por tem-
que, se aplicadas, podem evitar uma in- po ou espaço, é uma construção teórica.
finidade de mal-entendidos. Primeira- Grupos, por sua vez, são “definidos” ex-
mente, a diferença entre “definição” e tensivamente, por meio de uma listagem
“descrição” deve ficar bem clara. Uma de casos, de instâncias que pertencem
definição pode ser de dois tipos, defini- ao grupo. Por serem compostos de fenô-
5
O que, apesar de parecer um contra-senso, é até possível, dada a definição de “fase”.
menos, pertencem ao domínio fenome- Com base no que foi colocado aci-
nológico, são válidos apenas para um de- ma, torna-se mais fácil perceber onde
terminado tempo e espaço. Classes pre- está o “calcanhar de Aquiles” dos con-
cisam ser definidas, grupos precisam ser ceitos de fase e tradição. Seus objetivos
descritos. Quando um grupo é “defini- primordiais, a organização de dados com
do” o que geralmente ocorre é que uma vistas à comparação, integração e cons-
lista de objetos pertencentes ao grupo é trução de conhecimento, ficam severa-
fornecida, ou seja, é apresentada uma mente limitados pelo fato de estarmos
definição extensiva. Isto faz dos grupos, tratando de grupos, e não de classes.
unidades amorfas, cujo sentido original Isto posto, parece que a utilidade maior
se perde toda vez que um novo “caso” das “tradições” é simplesmente nomear
tem que ser adicionado: An object or coisas. Assim, ao falarmos em “Tradição
event cannot be assigned to a pre-exis- Itararé” ou “Tradição Tupiguarani” sabe-
ting group on the basis of its formal cha- mos que a maioria dos colegas compre-
racters without altering the ‘definition’ enderá, em termos gerais, do que esta-
of the group (Dunnell, 1971:88 – ênfa- mos falando.
se no original).
As vantagens de classes em relação Menghin e o “Eldoradense”
a grupos são patentes quando se pensa
em termos de construção de conheci- argentino
mento: uma vez definida, a classe não Em 1957 o arqueólogo argentino
muda a cada nova informação. Os mem- Osvaldo Menghin publicou os resultados
bros de uma classe são agregados a ela de suas viagens de estudo pela província
por meio da identidade. No caso dos gru- de Misiones, região próxima à fronteira
pos, seus membros são agregados por com o Brasil, delimitada pelos rios Igua-
meio do conceito de similaridade, que çu, Paraná e Uruguai, e descreveu uma
não é precisamente definido em termos cerâmica simples, lisa mas bem elabo-
teóricos. Um exemplo recente do racio- rada, de cor cinza, raramente averme-
cínio por trás do conceito de “fase” e “tra- lhada e sem decoração. As formas re-
dição” pode ser apresentado: presentariam pequenas taças e vasos de
As similaridades (…) servem para agrupar paredes mais altas que se estreitariam
os sítios em fases e estas em tradições. As em direção à boca (Menghin, 1957:30).
diferenças servem para indicar os limites Na mesma região, o autor visita túmu-
das fases de uma mesma tradição entre si, los y terraplenes circulares que nas pa-
assim como separam também as diversas lavras do autor:
Tradições. (…) Quando podemos observar
que as diferenças entre conjunto (sic) de Es un fenómeno tan extraordinario para la
fases são mais expressivas que as conti- zona – y algo nuevo para toda Sudamérica
nuidades entre elas, deduzimos que, na ver- – que la Facultad de Filosofía y Letras de la
dade, estamos frente a Tradições também Universidad de Buenos Aires despachó una
diferenciadas. (Dias Jr. 1992:166, ênfase comisión oficial para el estudio de estos mo-
adicionada) numentos (…) (Menghin, 1957:30; vide
Prancha 1).
Identidade permite demonstração,
enquanto similaridade se baseia apenas A referida comissão era chefiada pelo
em termos de plausibilidade (Dunnell, próprio Menghin e suas descrições dão
1971:91). Classes podem portanto ser conta de círculos de terra com diâme-
comparadas entre si, independente de tros variando entre 60 e 180m. O círcu-
sua posição espacial ou cronológica, sem lo maior apresenta um montículo no cen-
precisar se apoiar em termos de “indi- tro (que o autor chama de “túmulo”),
cações” ou “deduções”, como é o caso cujas dimensões são 20m de diâmetro e
dos grupos. 3m de altura. Nas proximidades destas
estruturas de terra o autor encontrou o por demais tênues para que se possa
mesmo tipo de cerâmica, mas com al- pleitear uma distinção entre elas, no
guma decoração plástica na forma de im- sentido em que o termo é empregado.
pressão de cestaria e punções. Menghin Concomitantemente, Eurico Miller
denominou o complexo de cerâmica e (1967) definiu a Fase Taquara no nor-
estruturas de terra de “Eldoradense”, e deste do Rio Grande do Sul. Associada a
especulou que tais achados remontariam esta fase estão as chamadas “casas sub-
a um período Neolítico Antigo, anterior terrâneas”, que são depressões dolini-
à ocupação Guarani, atribuindo-os ten- formes provavelmente escavadas com o
tativamente a grupos Jê, embora achasse intuito de fornecer abrigo (embora nem
que a cerâmica era muito fina para ser todas pareçam ser artificiais, cf. Araujo,
atribuída a tais grupos (Menghin, 1957: 2001; Kamase, 2004), e uma cerâmica
34). cujos recipientes reconstituídos apresen-
Para definir a identidade étnica de tal tam formas entre cônicas e cilíndricas,
grupo, o autor afirmou que: de pequenas dimensões e com decora-
… eso presupone el conocimiento mucho
ção plástica, esta sendo “muito freqüen-
más profundo de la arqueología prehistó- te”, segundo Schmitz (1988:80). Dois
rica no solamente de Misiones, sino tam- anos depois a Tradição Taquara, nomea-
bién del Brasil, que hasta la fecha es casi da com base na fase de mesmo nome, é
tierra incógnita desde este punto de vista definida em uma publicação do PRONAPA
(Menghin, 1957: 34).
(Brochado et al., 1969). Já em 1971,
A situação de “terra incógnita” co- Miller propõe a integração das duas tra-
meçou a mudar somente uma década dições, Itararé e Taquara, que seriam en-
depois. caradas como subtradições, a exemplo
do que então ocorria com as subtradi-
ções Pintada, Corrugada e Escovada da
A ampliação do cenário no Tradição Tupiguarani:
Brasil … as tradições Taquara e Itararé sejam con-
sideradas tão somente como subtradições
Em 1967, Igor Chmyz publicou um de uma única tradição (Pré-Kaingang?),
artigo definindo uma fase cerâmica de- devido ao interrelacionamento e unidade
nominada Fase Itararé (Chmyz, 1967), cultural conferidos pela análise de conjun-
reconhecida no nordeste do Paraná, na to das fases correlacionadas dentro do Rio
divisa com São Paulo, na confluência dos Grande do Sul, Santa Catarina e Misiones
(Argentina)… (Miller, 1971:54).
rios Itararé e Paranapanema. No ano se-
guinte, com base em informações pro- Talvez a sugestão de Miller não te-
venientes de outros sítios no território nha sido acatada pela maior dificuldade
paranaense, o autor propôs a definição em se distinguir o que seria uma “sub-
da Tradição Itararé, inicialmente basea- tradição Itararé” em oposição a uma
da somente em cerâmica: vasilhames “subtradição Taquara”. O mesmo não
pequenos e finos com pouca variação nas ocorria com as óbvias diferenças entre
formas, geralmente sem decoração e pintado, corrugado e escovado que apa-
apresentando cores entre marrom escu- reciam em diferentes proporções dentro
ro, cinza e negro (Chmyz, 1968a). No da cerâmica Tupiguarani. Seja lá qual
mesmo artigo, o autor definiu a Tradi- tenha sido o motivo, o fato é que dis-
ção Casa de Pedra, também com base cussões a respeito de uma junção entre
em atributos da cerâmica, diferencian- as tradições Itararé, Casa de Pedra e
do as duas tradições com base princi- Taquara vieram à baila diversas vezes
palmente nas formas e tratamento de (p.ex.: Miller Jr., 1978; Schmitz, 1988;
superfície. Conforme será visto adiante, Schmitz et al., 1980), e tal junção não
as diferenças entre as duas tradições são vingou.
6
O termo “casa subterrânea” é bastante infeliz, primeiramente por conferir a estas feições uma função
a priori, e em segundo lugar por não se tratarem de estruturas verdadeiramente subterrâneas. Alguns
autores ainda tentaram remediar a situação chamando-as de “casas semi-subterrâneas” (La Salvia,
1968:106).
7
Posteriormente, vários autores notaram que o material arqueológico se encontra com muito mais
freqüência fora das depressões (p. ex.: Schmitz et al. 2002; Caldarelli & Herberts 2005).
8
A não preservação de ossos, provavelmente devido à acidez dos solos, e a inexistência de cerâmica
são recorrentes em vários outros montículos escavados tanto no RS quanto em SP.
tos tecnológicos recorrentes, que podem 1991) e chegando a Prous (1992), vá-
até ausentar-se em algumas fases, po- rios autores já propuseram algum tipo
rém se espalham de maneira contínua de unificação. Os problemas maiores pa-
por milhares de quilômetros quadrados, recem estar ligados à denominação desta
desde a porção central do Rio Grande do tradição abrangente. Becker & Schmitz
Sul até o sudoeste de São Paulo, pre- (1969) propuseram chamar a cerâmica
sentes nos mais diversos compartimen- de “Tipo Eldoradense”, pelas óbvias cor-
tos topográficos: litoral, serras e planal- relações entre o material brasileiro e o
to. A Tabela 1 apresenta as principais argentino. Alguns autores se referem
características de algumas fases. Não se normalmente à Tradição Taquara como
trata de uma tabulação completa, pois tendo uma área de dispersão que se es-
não estão assinaladas as ocorrências de tende do Rio Paranapanema, divisa dos
vestígios que não foram formalmente Estados de São Paulo com o Paraná (sic),
atribuídos pelos autores a uma ou outra até a encosta sul do Planalto no Rio Gran-
tradição, bem como as fases criadas com de do Sul… (Mentz Ribeiro et al., 1994:
base em um só sítio (como o exemplo 230). Obviamente, estes autores deci-
da Fase Vacaria, La Salvia, 1968). Deste diram englobar as três tradições sob o
modo, várias ocorrências de casas sub- termo Taquara, aparentemente sem
terrâneas e cerâmica do tipo Itararé, que maiores justificativas para a escolha do
foram encontradas no litoral de Santa nome. Outra tentativa foi feita no senti-
Catarina e Paraná (Forte Marechal Luz, do de chamar as três tradições de Tradi-
Enseada I, Ilha das Pedras, Ilha das ção Planáltica (p. ex., De Masi e Artusi,
Cobras, Praia das Laranjeiras, Base Aérea 1985); Rodríguez (1992) utiliza o termo
etc) e também no planalto destes Esta- Tradição Planáltica para englobar o con-
dos (Reis, 1982; Rohr, 1971) não estão junto, e mantém as divisões denominan-
citadas na Tabela 1. Acrescem-se a es- do as antigas tradições de subtradições
tas informações o fato de existirem es- Itararé, Casa de Pedra e Taquara.
truturas semelhantes, associadas ao Brochado (1984) congrega todas as
mesmo tipo de cerâmica, no sudoeste tradições ceramistas definidas na por-
do Estado de São Paulo (Araujo, 1995, ção oriental da América do Sul em ape-
2001; Prous, 1979) conforme será visto nas quatro; uma delas, a Tradição Pedra
à frente. do Caboclo, englobaria vários estilos9 ,
Assim, dado o raciocínio por trás da incluindo o Estilo Itararé e os Estilos Ta-
definição de tradição, e com base nos quara e Taquaruçu. O primeiro estilo con-
conhecimentos acumulados desde o fi- grega as tradições Itararé e Casa de Pe-
nal dos anos 1960, pode-se agrupar, sem dra; o segundo estilo divide a Tradição
maiores problemas, todas as três tradi- Taquara, alçando uma de suas fases à
ções - Itararé, Casa de Pedra e Taquara categoria de estilo. As três propostas
- sob um mesmo rótulo, as diferenças apresentam problemas; primeiro, não te-
regionais sendo perfeitamente descritas ria sentido nominar todo o complexo de
por meio do conceito fase, se for o caso. Taquara, por uma questão de precedên-
Esta conclusão não é, reconhecidamen- cia. Se é verdade que as fases Itararé e
te, nenhum “ovo de Colombo”; desde a Taquara, que deram nomes às tradições,
já citada proposição de Eurico Miller foram definidas no mesmo ano e na mes-
(1971), passando pelas tentativas de ma publicação (Chmyz, 1967; Miller,
Tom Miller (1978, também em Schmitz 1967), a primeira a ter sido publicada
et al.,1980:44-46), Mentz Ribeiro (1980, enquanto tradição foi a Itararé (Chmyz,
9
Não conseguimos encontrar uma definição de “estilo” em Brochado (1984), mas pelo texto fica
subentendido que é uma categoria hierarquicamente inferior a “tradição” e “subtradição”.
surge nos estados sulinos de forma ex- tro-Oeste do Brasil, e Una, encontrada
tremamente bem elaborada (Prous, na porção centro-leste do país, chegando
1992:329; Schmitz, 1969:167). Os va- à Serra do Mar e litoral do Rio de Janeiro
silhames da Tradição Itararé-Taquara, e Espírito Santo (Brochado,1984:6,100-
apesar de apresentarem tamanhos em 101). Prous (1992: 333-345) sugere
geral reduzidos, sugerem um grande uma subdivisão da cerâmica Una em
domínio técnico, que resulta numa efici- duas variedades, A e B. A primeira, mais
ente economia de matéria-prima e em antiga, com datas de até 3800 AP, foi
vasilhames bastante leves. A superfície identificada inicialmente entre o norte
escura, característica da cerâmica, seja de Minas Gerais e o sul de Goiás, esten-
ela conseguida por queima controlada dendo-se para o centro mineiro. A segun-
(Dias Jr. apud Schmitz et al., 1980:44) da, localizada em Minas Gerais, Espírito
ou pela técnica de esfumaramento (Miller Santo e principalmente Rio de Janeiro,
Jr., 1978:28), que resulta em superfícies ocupariam uma posição periférica em,
escuras, é um processo complexo. O relação à variedade A. Os sítios de Mi-
mesmo vale para a brunidura, tão co- nas Gerais se encontram sobretudo no
mum em algumas regiões. Segundo sudoeste do estado, próximos à divisa
Miller Jr. (1978; também em Schmitz et com São Paulo, e além da cerâmica fina
al., 1980:42), a brunidura é um proces- e escura, foram detectadas nessa região
so extremamente penoso de conseguir, algumas casas subterrâneas (Dias Jr. &
envolvendo o polimento do vasilhame Carvalho, 1978).
com um seixo liso durante várias horas Seja como for, a origem da Tradição
distribuídas ao longo de alguns dias. Itararé-Taquara parece ter se dado em
Falamos, provavelmente, sobre uma ce- algum local a norte do Estado São Paulo.
râmica que não se desenvolveu no nor- Teríamos, portanto, de imaginar esses
deste do Rio Grande do Sul. grupos passando pelos Estados de São
Outro fator a ser levado em conta é Paulo, Paraná e Santa Catarina antes de
que, dadas as evidências etno-históri- chegarem ao nordeste do Rio Grande do
cas (que serão exploradas com mais de- Sul; ou, noutro cenário, que tal migra-
talhes no próximo item) os fabricantes ção tenha tomado a forma de um gran-
da cerâmica Itararé-Taquara, habitantes de semicírculo, passando pelo Paraguai
das casas subterrâneas e construtores e norte da Argentina, fato que não é cor-
de estruturas de terra, poderiam perten- roborado até o momento pelo registro
cer a grupos do tronco Jê. As evidências arqueológico12 . A inexistência de datas
lingüísticas apontam para uma origem mais antigas pode se dever ao número
dessas populações no Planalto Central progressivamente menor de datas obti-
(Urban, 1992). Brochado (1984) afirma das em Santa Catarina, Paraná e São
que a cerâmica Itararé-Taquara, que o Paulo, e ainda assim, dados novos têm
autor inclui na chamada Tradição Pedra colocado alguns sítios Itararé-Taquara do
do Caboclo, teria se originado na boca sul de São Paulo e do norte do Paraná
do Amazonas e se expandido em dire- dentro de uma faixa cronológica mais re-
ção à costa do Nordeste, entre 1000 e cuada (vide Tabelas 2 e 3). No caso de
700 a.C., difundindo-se progressivamen- São Paulo, acresce-se a isto a grande
te e se espalhando para sul acompanhan- lacuna de dados existente na região da
do os falantes do Kaingang. Outros ra- Serra de Paranapiacaba e planalto adja-
mos da Tradição Pedra do Caboclo teriam cente, que foi provavelmente um dos
dado origem às cerâmicas denominadas principais corredores de migração dos
Uru e Aratu, encontradas na região Cen- portadores da cerâmica Itararé-Taquara,
12
Porém, vide Chmyz (1963) a respeito da ocorrência de casas subterrâneas no NW da Argentina.
13
Cremos que isso se deva exclusivamente ao maior investimento em pesquisas, e não necessaria-
mente a uma maior densidade de sítios.
existentes nos sítios Itararé-Taquara do Taquara (Fig. 03, n. 9), incluindo sítios
Alto Paranapanema (Araujo, 2001), cerâmicos a céu aberto, em abrigo, mon-
guardada em Avaré (mas de procedên- tículos e casas subterrâneas. A implan-
cia desconhecida); de uma outra lâmina tação dos sítios na paisagem foi anali-
polida semilunar existente em Ourinhos; sada segundo critérios topomorfológicos,
no Município de Chavantes a autora re- e percebeu-se que a localização prefe-
gistrou um virote fragmentado e um so- rencial dos sítios em locais altos é notó-
cador cônico de pedra polida, ambos ria; tanto esta pesquisa como informa-
bastante similares aos encontrados no ções obtidas por outros pesquisadores
Alto Paranapanema e no Médio Ribeira (p. ex., Mabilde, 1988:144; Sganzerla
(Araujo, 2001; Robrahn, 1988), também et al., 1996:19,21; Tommasino, 1998:
associados à Tradição Itararé-Taquara. 44) confirmam uma certa predileção por
Mesmo as escavações realizadas por lugares altos, embora obviamente exis-
Pallestrini na década de 70 sugerem ao tam sítios localizados em fundos de vale.
menos contato entre Kaingang e popu- Alguns dos sítios apresentaram grandes
lações de filiação Guarani no Médio Pa- dimensões (Sítio Morus, com 190m de
ranapanema: no sítio Alves foram en- comprimento; Sítio Boa Vista, com 140
contradas duas urnas tipicamente Tupi- x 100m; Sítio Monjolada 2, com 120 x
guarani contendo vasilhames menores 50m; Sítio Gomes, com 110 x 100m), e
em seu interior que se assemelham a presença de um sítio (Morro do Gato)
muito em forma e tecnologia aos vasi- composto por pelo menos 25 montícu-
lhames comumente encontrados em sí- los de provável função funerária, se es-
tios Itararé (vide Pallestrini, 1974: pran- tendendo ao longo de 580m lineares, en-
chas 4, 5, 7 e 8; fotos 5 e 6). fraquece a hipótese de que os grupos
Robrahn (1988; Robrahn-Gonzalez, habitantes da área eram pouco nume-
1999) realizou um levantamento arque- rosos ou semi-nômades. Nessa área fo-
ológico no Médio Ribeira de Iguape (Fig. ram identificados também alguns sítios
03, n. 10) e detectou mais de uma cen- associados à Tradição Tupiguarani, mas
tena de sítios Itararé-Taquara, com da- uma nítida linha de fronteira foi perce-
tas entre 600 e 270 AP. Os sítios apre- bida: ao sul da cidade de Itapeva, em
sentam, via de regra, pequenas dimen- direção à Serra do Mar, quando o relevo
sões, com média de 550m², e inseridos se torna mais acidentado, não existem
em todas as posições topográficas. sítios Tupiguarani, apenas sítios Itara-
Chmyz et al. (1999) fizeram um le- ré-Taquara. As idades obtidas para os
vantamento relacionado à implantação sítios estão apresentadas na Tabela 3.
de uma hidrelétrica na divisa de São Como pode ser percebido, dois dos síti-
Paulo com o Paraná, também no Médio os datados (Sítio Müzel e Sítio Gasbol 8)
Ribeira (Fig. 03, n. 11), e o padrão en- apresentam idades bastante recuadas,
contrado foi semelhante: sítios relativa- entre AD 300 a AD 600, enfraquecendo
mente pequenos, o maior medindo 60m a hipótese da origem sulina para a Tra-
x 38,5m, todos em áreas baixas. dição Itararé-Taquara.
Mais recentemente, um trabalho de Indubitavelmente, é somente a par-
levantamento arqueológico na bacia do tir do início do século XXI, por meio dos
Alto Taquari, afluente do Paranapanema, trabalhos de arqueologia de contrato,
nas proximidades da cidade de Itapeva, que amplas áreas do Estado de São Paulo
a 60km da divisa com o Paraná e distan- até então completamente desconhecidas
te apenas 40km serra acima dos sítios começam a ser minimamente explora-
do Médio Ribeira (Araujo, 2001), resul- das do ponto de vista arqueológico. As-
tou na detecção de 39 sítios arqueológi- sim, a implantação de linhas de trans-
cos relacionados à Tradição Itararé- missão e autovias permitiram a realiza-
14
Urban (1992:90) coloca que a divisão entre Kaingang e Xokleng teria ocorrido em torno de 3.000
anos atrás, mas estas estimativas devem ser vistas com reservas, uma vez que se baseiam em gloto-
cronologia.
16
Além do já mencionado Sítio Jaraguá 1, de filiação Itararé-Taquara, os parcos achados arqueológicos
efetuados no Município de São Paulo são referentes sobretudo a urnas funerárias Tupiguarani, todas
encontradas nas áreas baixas, além de um sítio lítico não datado (Sítio Morumbi).
17
Quando falamos em evitar associação a um grupo específico, não queremos dizer que se deva
descartar todo o cabedal de conhecimentos já existente e que associa, de maneira muito plausível,
essa cerâmica a grupos do tronco lingüístico Macro-Jê.
dição Itararé-Taquara terem sido ob- Seja qual for o cenário, uma expan-
tidas no Rio Grande do Sul. Confor- são Kaingang rumo norte, adentrando o
me colocado anteriormente, este fato sudoeste do Estado de São Paulo na pri-
deve estar simplesmente refletindo meira metade do século XIX, é fato bem
um viés amostral, dado o grande documentado (Barbosa, 1988; Mota,
número de datações e de sítios pes- 2005; Sposito, 2005).
quisados no Rio Grande do Sul, em Por fim, cabe salientar que as hipó-
contraste com São Paulo.
teses sugeridas aqui são admitidamen-
d) Quanto à presença Kaingang no oes- te preliminares, com modelos de expan-
te paulista, na região compreendida são simplificados, não levando em con-
entre os rios Tietê e Paranapanema, ta a possibilidade de que a penetração
pode-se pensar em dois cenários: um dos grupos Jê do Sul pode ter sido con-
de presença relativamente recente, temporânea à expansão dos grupos Tupi,
caso houvesse o citado impedimento e nem os palimpsestos de ocupações re-
existente no norte, território dos Bil- lacionadas a grupos humanos distintos
reiros (Kaiapó Meridionais), e tam- avançando e retrocedendo em algumas
bém a leste, oeste ou sul, áreas re-
regiões. Seja como for, já é hora de se
conhecidamente dominadas por gru-
encarar a necessidade de um maior in-
pos Tupi. Somente o esvaziamento
vestimento em projetos de longa dura-
populacional dos vales do Paranapa-
ção, teoricamente orientados e bem em-
nema e Tietê por conta do apresa-
basados em termos de método, permi-
mento indígena feito pelos paulistas
tindo a obtenção de dados arqueológi-
no século XVII (Borelli, 1984; Pre-
cos confiáveis para o Estado de São Pau-
zia, 2000), teria permitido aos gru-
pos Kaingang o livre acesso ao oeste lo, região chave para a compreensão das
paulista a partir do Paraná (Fig. 05), rotas de dispersão dos povos Jê do Sul,
num movimento de refluxo. Há al- e ao mesmo tempo onde a destruição
guns relatos dos Kaingang paulistas de sítios é mais acelerada pelo cresci-
sugerindo que seus antepassados ti- mento econômico.
vessem vindo do sul há cerca de 160
anos (Lacerda Franco, 1905 apud Agradecimentos
Freitas, 1910; Quadros, 1892 apud
Agradeço a Tom O. Miller e Pedro I.
Baldus, 1953).
Schmitz pelos comentários extremamen-
Há, porem, a possibilidade de uma te pertinentes. Solange Caldarelli e Eri-
expansão Kaingang anterior ao estabe- ka Robrahn-Gonzalez que gentilmente
lecimento dos outros grupos ceramistas, cederam artigos e material inédito. As
vinda do sul de Minas Gerais, atraves- datações por TL e os trabalhos de cam-
sando o Estado de São Paulo e alcan- po foram gerados durante meu Douto-
çando o Paraná. Desta maneira, os Kai- rado, financiado pelo Projeto Paranapa-
apó Meridionais teriam se estabelecido
nema, sob a coordenação de José Luiz
na área que serviu de corredor de ex-
de Morais, do MAE/USP. As opiniões aqui
pansão, e os grupos Tupi do Paranapa-
apresentadas são de minha inteira res-
nema teriam cortado o contato entre os
ponsabilidade, bem como eventuais in-
Kaingang do oeste paulista e os do Pa-
correções.
raná.
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Fig. 03 - Sítios arqueológicos atribuíveis à Tradição Itararé-Taquara existentes no Estado de São Paulo.
Fig. 04 - Possíveis rotas de expansão de grupos Jê no rumo sul, passando por SP. As setas escuras se
baseiam em evidências mais fortes. As setas claras assinalam rumos sugeridos, mas que dependem de
mais dados. Neste cenário, o norte do estado já estaria sendo ocupado pelos Kaiapó Meridionais