A Tradicao Ceramica Itarare Taquara Cara

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Artigo

A tradição cerâmica Itararé-Taquara:


características, área de ocorrência e algumas
hipóteses sobre a expansão dos grupos Jê no
sudeste do Brasil

Astolfo Gomes de Mello Araujo1 Resumo


Neste artigo é feita uma breve discus-
são dos conceitos de “fase” e “tradição”
e suas implicações no entendimento das
áreas de distribuição de vestígios cerâ-
micos relacionados ao que se chama de
Tradição cerâmica Itararé-Taquara, pre-
sente no sudeste e sul do Brasil. São
apresentados novos dados relativos à
Tradição Itararé-Taquara, provenientes
do Estado de São Paulo. Com base nes-
ses dados, são propostas algumas hipó-
teses para se entender a origem e dis-
persão dos grupos humanos detentores
dessa tecnologia cerâmica.

Palavras-chave: Arqueologia, Itararé-


Taquara, Kaingang.

Abstract
In this paper we briefly discuss the con-
cepts of “phase” and “tradition”, and their
implications for the understanding of the
distribution of Itararé-Taquara ceramic
tradition in southern and southeastern
Brazil. We also present new data related
to that tradition, from São Paulo state.
Based on such data, we raise some hypo-
thesis about the origin and dispersion of
bearers of this ceramic technology.

1
Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo – EACH/USP

Revista de Arqueologia, 20: 09-38, 2007 9


Araújo, A. G. M.

Keywords: Ceramics, Itararé-Taquara PRONAPA, fases, tradições


Tradition, Kaingang.
e problemas
Antes de iniciar a discussão a respeito
Introdução desses conjuntos artefatuais agregados
Desde meados do século XX pesqui- sob o rótulo “Tradição Itararé-Taquara”,
sadores perceberam a ocorrência, em seria importante colocar de maneira bre-
amplas regiões do Brasil meridional e ve alguns dos problemas inerentes à
nordeste da Argentina, de um conjunto classificação dos vestígios arqueológicos
de vestígios arqueológicos englobando em “fases” e “tradições”2 .
vasilhames de cerâmica relativamente No Brasil, as definições do que é uma
pequenos, com paredes finas e colora- fase e uma tradição foram realizadas em
ção escura, associados muitas vezes a meados da década de 1960 e revistas
feições construídas em terra, como de- uma década depois (PRONAPA, 1976)3 ,
pressões, aterros, cordões de terra e sendo desde então utilizadas sem maio-
montículos. A denominação e suposto res questionamentos ou modificações.
significado desse conjunto de vestígios Tais conceitos podem ter sua origem tra-
arqueológicos foi mudando de acordo çada a partir do Midwestern Taxonomic
com as dados disponíveis, sendo cha- Method4 (McKern, 1939), a primeira ten-
mado de “Tradição Itararé”, “Tradição tativa realizada por arqueólogos norte-
Taquara” e correlatos, mas algumas americanos, nos anos 1930, para resol-
questões importantes continuam em ver o problema do conceito vago de “cul-
aberto. Apesar de muito já ter sido es- tura” (Lyman et al., 1997:160). Passan-
crito sobre estas manifestações de cul- do por várias remodelações e após al-
tura material pré-colonial (Mentz Ribei- gumas décadas de debate, Phillips &
ro, 2000; Miller Jr., 1978; Noelli Willey (1953; Willey & Phillips, 1958)
2000,a,b; Reis, 1997; Schmitz, 1988), propuseram um sistema semelhante, o
a tônica é sempre voltada para a Região qual foi parcialmente adotado pelo PRO-
Sul do Brasil (Paraná, Santa Catarina e NAPA (1976). Assim, temos:
Rio Grande do Sul), e muito pouco tem Fase: qualquer complexo de cerâmi-
sido discutido com relação ao Sudeste e ca, lítico, padrões de habitação, relacio-
Centro-Oeste do país. Pretende-se, neste nado no tempo e no espaço, em um ou
artigo, apresentar um panorama histó- mais sítios (PRONAPA, 1976:131).
rico do que iremos chamar “Tradição Ita- Tradição: grupo de elementos ou téc-
raré-Taquara”, ou seja, um panorama da nicas que se distribuem com persistên-
construção de um conceito. Serão tam- cia temporal (PRONAPA, 1976:145).
bém discutidas algumas questões a res- É importante notar porém que as de-
peito do significado desses conjuntos de finições de “fase” e “tradição” do PRO-
artefatos em termos etno-históricos, NAPA não correspondem exatamente ao
bem como sobre os modelos que visam proposto por Willey e Phillips (1958). As-
dar conta da expansão dos grupos hu- sim, seria mais preciso afirmar que os
manos responsáveis por tais vestígios, conceitos assinalados são uma contribui-
levando em conta dados novos proveni- ção do PRONAPA à vasta galeria de sig-
entes de porções mais setentrionais do nificados atribuídos a conceitos simila-
território brasileiro. res propostos nos EUA desde os anos

2
Um tratamento abrangente do problema foi apresentado por Dias (1994).
3
Na verdade, apesar de uma revisão de vários outros termos técnicos, os conceitos de fase e tradição
não foram modificados.
4
Também conhecido por McKern Taxonomic System, Midwestern System of Classification etc.

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A tradição cerâmica Itararé-Taquara: características, área de ocorrência e algumas hipóteses sobre a expansão dos
grupos Jê no sudeste do Brasil

1930 (p. ex., “modo”, “horizonte”, “estilo- ção extensiva e definição intensiva. De-
horizonte”, “estilo”, “componente”, “as- finição extensiva de um termo é feita por
pecto”, “focus” etc.) do que uma deri- meio de uma listagem de todos os obje-
vação imediata de Willey e Phillips. tos aos quais o termo é aplicável. Como
Concebidos inicialmente como ferra- resultado, tais definições se restringem
mentas para sistematizar os conheci- a definir o que já é sabido de antemão.
mentos provenientes de uma terra in- A definição intensiva, por sua vez, es-
cognita, os conceitos de fase e tradição pecifica um conjunto de atributos que
acabaram por cursar um caminho inte- um objeto, seja ele conhecido ou não,
ressante: a princípio eram destituídos de deve apresentar para ser considerado
referente a um dado termo. É uma lista-
qualquer significado “etnológico”, e nis-
gem explícita das qualidades que usa-
so eram bastante semelhantes ao Mi-
mos de maneira geralmente intuitiva
dwestern Taxonomic Method. Com o
para identificar algo como sendo uma ca-
tempo, tornaram-se um fim em si; as
deira, por exemplo. É claro que a lista-
pesquisas arqueológicas resultavam na
gem não irá incluir todos os atributos de
definição de fases, muitas delas basea-
todas as cadeiras, mas apenas os que
das em um ou dois sítios5 , e este pare-
são importantes em sua identificação. A
cia ser o objetivo básico. Posteriormen-
definição intensiva é realizada, portan-
te, talvez por uma influência tardia da
to, por meio de um conjunto de condi-
new archaeology e da necessidade de se
ções necessárias e suficientes para que
chegar a resultados “antropológicos”, os um artefato possa ser considerado per-
conceitos começaram a tomar vida tencente a uma dada classe. A primeira
própria, sendo comparados a “unidades diferença fundamental está aqui: se um
autônomas e semi-autônomas” ou artefato desconhecido tem de ser clas-
“tribos” (fases) e “entidades tribais ou sificado, é possível declarar se ele é ou
lingüísticas” ou “nações” (tradições) não uma cadeira por meio da confronta-
(Meggers e Evans, 1985:5; Schmitz, ção com a definição de cadeira. Assim, a
1991: 72). Este fenômeno, o da tentati- definição intensiva tem um valor predi-
va de transformação de unidades “éti- tivo e heurístico. Aqui está o maior po-
cas”, desenvolvidas pelo pesquisador der da descrição intensiva: permitir a
para ordenar seu material de estudo, em comunicação de informação nova, ao in-
unidades “êmicas”, pretensamente rela- vés de apenas dirigir nossa atenção para
cionadas à organização social ou mental o que já é sabido.
dos povos estudados, ocorreu também
A segunda distinção básica é entre
na Arqueologia e Antropologia norte- classe e grupo, e está baseada na dis-
americanas (Dunnell, 1986b:177; Harris, tinção entre idéias (conceitos) e fenô-
1968:571-575). menos (vestígios, “coisas”): classes são
Talvez o maior problema com os con- formadas por elementos que apresen-
ceitos “fase” e “tradição” seja o fato de tam um ou mais atributos que se encai-
os mesmos não configurarem classes, xam em uma dada definição, que é a
mas sim grupos. Neste ponto, é impor- própria definição da classe. Uma classe
tante analisar algumas diferenças que é portanto ideativa, pertence ao domí-
foram colocadas por Dunnell (1971) e nio das idéias, não é delimitada por tem-
que, se aplicadas, podem evitar uma in- po ou espaço, é uma construção teórica.
finidade de mal-entendidos. Primeira- Grupos, por sua vez, são “definidos” ex-
mente, a diferença entre “definição” e tensivamente, por meio de uma listagem
“descrição” deve ficar bem clara. Uma de casos, de instâncias que pertencem
definição pode ser de dois tipos, defini- ao grupo. Por serem compostos de fenô-

5
O que, apesar de parecer um contra-senso, é até possível, dada a definição de “fase”.

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Araújo, A. G. M.

menos, pertencem ao domínio fenome- Com base no que foi colocado aci-
nológico, são válidos apenas para um de- ma, torna-se mais fácil perceber onde
terminado tempo e espaço. Classes pre- está o “calcanhar de Aquiles” dos con-
cisam ser definidas, grupos precisam ser ceitos de fase e tradição. Seus objetivos
descritos. Quando um grupo é “defini- primordiais, a organização de dados com
do” o que geralmente ocorre é que uma vistas à comparação, integração e cons-
lista de objetos pertencentes ao grupo é trução de conhecimento, ficam severa-
fornecida, ou seja, é apresentada uma mente limitados pelo fato de estarmos
definição extensiva. Isto faz dos grupos, tratando de grupos, e não de classes.
unidades amorfas, cujo sentido original Isto posto, parece que a utilidade maior
se perde toda vez que um novo “caso” das “tradições” é simplesmente nomear
tem que ser adicionado: An object or coisas. Assim, ao falarmos em “Tradição
event cannot be assigned to a pre-exis- Itararé” ou “Tradição Tupiguarani” sabe-
ting group on the basis of its formal cha- mos que a maioria dos colegas compre-
racters without altering the ‘definition’ enderá, em termos gerais, do que esta-
of the group (Dunnell, 1971:88 – ênfa- mos falando.
se no original).
As vantagens de classes em relação Menghin e o “Eldoradense”
a grupos são patentes quando se pensa
em termos de construção de conheci- argentino
mento: uma vez definida, a classe não Em 1957 o arqueólogo argentino
muda a cada nova informação. Os mem- Osvaldo Menghin publicou os resultados
bros de uma classe são agregados a ela de suas viagens de estudo pela província
por meio da identidade. No caso dos gru- de Misiones, região próxima à fronteira
pos, seus membros são agregados por com o Brasil, delimitada pelos rios Igua-
meio do conceito de similaridade, que çu, Paraná e Uruguai, e descreveu uma
não é precisamente definido em termos cerâmica simples, lisa mas bem elabo-
teóricos. Um exemplo recente do racio- rada, de cor cinza, raramente averme-
cínio por trás do conceito de “fase” e “tra- lhada e sem decoração. As formas re-
dição” pode ser apresentado: presentariam pequenas taças e vasos de
As similaridades (…) servem para agrupar paredes mais altas que se estreitariam
os sítios em fases e estas em tradições. As em direção à boca (Menghin, 1957:30).
diferenças servem para indicar os limites Na mesma região, o autor visita túmu-
das fases de uma mesma tradição entre si, los y terraplenes circulares que nas pa-
assim como separam também as diversas lavras do autor:
Tradições. (…) Quando podemos observar
que as diferenças entre conjunto (sic) de Es un fenómeno tan extraordinario para la
fases são mais expressivas que as conti- zona – y algo nuevo para toda Sudamérica
nuidades entre elas, deduzimos que, na ver- – que la Facultad de Filosofía y Letras de la
dade, estamos frente a Tradições também Universidad de Buenos Aires despachó una
diferenciadas. (Dias Jr. 1992:166, ênfase comisión oficial para el estudio de estos mo-
adicionada) numentos (…) (Menghin, 1957:30; vide
Prancha 1).
Identidade permite demonstração,
enquanto similaridade se baseia apenas A referida comissão era chefiada pelo
em termos de plausibilidade (Dunnell, próprio Menghin e suas descrições dão
1971:91). Classes podem portanto ser conta de círculos de terra com diâme-
comparadas entre si, independente de tros variando entre 60 e 180m. O círcu-
sua posição espacial ou cronológica, sem lo maior apresenta um montículo no cen-
precisar se apoiar em termos de “indi- tro (que o autor chama de “túmulo”),
cações” ou “deduções”, como é o caso cujas dimensões são 20m de diâmetro e
dos grupos. 3m de altura. Nas proximidades destas

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A tradição cerâmica Itararé-Taquara: características, área de ocorrência e algumas hipóteses sobre a expansão dos
grupos Jê no sudeste do Brasil

estruturas de terra o autor encontrou o por demais tênues para que se possa
mesmo tipo de cerâmica, mas com al- pleitear uma distinção entre elas, no
guma decoração plástica na forma de im- sentido em que o termo é empregado.
pressão de cestaria e punções. Menghin Concomitantemente, Eurico Miller
denominou o complexo de cerâmica e (1967) definiu a Fase Taquara no nor-
estruturas de terra de “Eldoradense”, e deste do Rio Grande do Sul. Associada a
especulou que tais achados remontariam esta fase estão as chamadas “casas sub-
a um período Neolítico Antigo, anterior terrâneas”, que são depressões dolini-
à ocupação Guarani, atribuindo-os ten- formes provavelmente escavadas com o
tativamente a grupos Jê, embora achasse intuito de fornecer abrigo (embora nem
que a cerâmica era muito fina para ser todas pareçam ser artificiais, cf. Araujo,
atribuída a tais grupos (Menghin, 1957: 2001; Kamase, 2004), e uma cerâmica
34). cujos recipientes reconstituídos apresen-
Para definir a identidade étnica de tal tam formas entre cônicas e cilíndricas,
grupo, o autor afirmou que: de pequenas dimensões e com decora-
… eso presupone el conocimiento mucho
ção plástica, esta sendo “muito freqüen-
más profundo de la arqueología prehistó- te”, segundo Schmitz (1988:80). Dois
rica no solamente de Misiones, sino tam- anos depois a Tradição Taquara, nomea-
bién del Brasil, que hasta la fecha es casi da com base na fase de mesmo nome, é
tierra incógnita desde este punto de vista definida em uma publicação do PRONAPA
(Menghin, 1957: 34).
(Brochado et al., 1969). Já em 1971,
A situação de “terra incógnita” co- Miller propõe a integração das duas tra-
meçou a mudar somente uma década dições, Itararé e Taquara, que seriam en-
depois. caradas como subtradições, a exemplo
do que então ocorria com as subtradi-
ções Pintada, Corrugada e Escovada da
A ampliação do cenário no Tradição Tupiguarani:
Brasil … as tradições Taquara e Itararé sejam con-
sideradas tão somente como subtradições
Em 1967, Igor Chmyz publicou um de uma única tradição (Pré-Kaingang?),
artigo definindo uma fase cerâmica de- devido ao interrelacionamento e unidade
nominada Fase Itararé (Chmyz, 1967), cultural conferidos pela análise de conjun-
reconhecida no nordeste do Paraná, na to das fases correlacionadas dentro do Rio
divisa com São Paulo, na confluência dos Grande do Sul, Santa Catarina e Misiones
(Argentina)… (Miller, 1971:54).
rios Itararé e Paranapanema. No ano se-
guinte, com base em informações pro- Talvez a sugestão de Miller não te-
venientes de outros sítios no território nha sido acatada pela maior dificuldade
paranaense, o autor propôs a definição em se distinguir o que seria uma “sub-
da Tradição Itararé, inicialmente basea- tradição Itararé” em oposição a uma
da somente em cerâmica: vasilhames “subtradição Taquara”. O mesmo não
pequenos e finos com pouca variação nas ocorria com as óbvias diferenças entre
formas, geralmente sem decoração e pintado, corrugado e escovado que apa-
apresentando cores entre marrom escu- reciam em diferentes proporções dentro
ro, cinza e negro (Chmyz, 1968a). No da cerâmica Tupiguarani. Seja lá qual
mesmo artigo, o autor definiu a Tradi- tenha sido o motivo, o fato é que dis-
ção Casa de Pedra, também com base cussões a respeito de uma junção entre
em atributos da cerâmica, diferencian- as tradições Itararé, Casa de Pedra e
do as duas tradições com base princi- Taquara vieram à baila diversas vezes
palmente nas formas e tratamento de (p.ex.: Miller Jr., 1978; Schmitz, 1988;
superfície. Conforme será visto adiante, Schmitz et al., 1980), e tal junção não
as diferenças entre as duas tradições são vingou.

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Araújo, A. G. M.

Trabalhos posteriores mostraram uma los circulares e elípticos de vários tama-


ampla gama de sítios atribuídos a uma nhos ou lineares (cordões de terra), es-
ou outra “tradição”, ocorrendo em am- tes últimos alcançando às vezes deze-
bientes diferentes, desde o litoral meri- nas de metros. La Salvia (1968) descre-
dional até as margens do Rio Paraná. Fei- ve para a região de Vacaria (RS) montí-
ções como as chamadas “casas subter- culos elipsoidais com até 5m de eixo mai-
râneas”6 , detectadas inicialmente pelo or, e circulares com até 3m de diâmetro,
arqueólogo norte-americano Alan Bryan com alturas variando entre 0,40m e 1m.
em 1960 (cf. Schmitz, 1988:8) foram Os montículos foram construídos tanto
encontradas às centenas e geralmente de terra como de terra e pedras. Miller
associadas à cerâmica. Tratam-se de de- (1971) descreve montículos funerários
pressões doliniformes, com diâmetros de formato elíptico (o maior apresentan-
variando entre 2 e 20m, a maioria com do eixos de 70cm x 180cm) dentro de
formato circular, embora um número um abrigo, com pequenos blocos de pe-
considerável apresente formas elípticas dra a circundá-los, tendo encontrado
(Reis, 1997; Schmitz [ed.], 2002; Milder além de ossos humanos um vasto inven-
[ed.], 2005). O primeiro trabalho siste- tário incluindo artefatos de madeira,
mático em uma “casa subterrânea” foi trançados de fibra vegetal, etc. Mentz
realizado por Chmyz (1963), mas o au- Ribeiro & Ribeiro (1985:51) citam a exis-
tor não encontrou material cerâmico as- tência de estruturas de terra lineares no
sociado7. Posteriormente, as mesmas Município de Esmeralda, norte do RS, for-
foram trabalhadas por Schmitz e cola- mando círculos cujos diâmetros varia-
boradores em meados dos anos 1960 vam entre 21 e 70m, e em uma instân-
(Schmitz [coord.], 1967; Schmitz, cia os círculos eram unidos por uma fi-
1988), resultando no cadastramento de gura trapezoidal. Mentz Ribeiro (1991:
54 sítios contendo um total aproximado 127) também descreve montículos elíp-
de 200 depressões (Schmitz, 1988:13- ticos no vale do Rio Pardo (RS), o maior
14). Outras “casas subterrâneas” foram deles medindo 6m x 3,4 e 0,5m de altu-
localizadas por La Salvia (1968), Miller ra, outros três com metade destas di-
(1971) e Mentz Ribeiro (1991; Mentz mensões. No Paraná, Ambrosetti (1895)
Ribeiro & Ribeiro, 1985; Mentz Ribeiro cita a existência de montículos largos y
et al., 1994) no Rio Grande do Sul; Piazza angostos encontrados nas proximidades
(1969), Reis (1982) e Rohr (1969, 1971) da antiga Colônia Militar brasileira da foz
em Santa Catarina; Chmyz (1968b, do Iguaçu. O aspecto artificial dos mes-
1969a; Chmyz & Sauner 1971) no Para- mos levou o autor a empreender a esca-
ná; e também por Araujo (1995, 2001) vação de vários deles, sem porém en-
e Prous (1979) em São Paulo. Caggiano contrar vestígios de ossos humanos ou
(1984:12) também comenta e existên- cerâmica, concluindo que talvez fossem
cia de “casas pozo” associadas à Tradi- montículos naturais8 . Chmyz (1968b)
ção Eldoradense do NE argentino. descreve um possível “cemitério” no Mé-
Estruturas de terra também foram dio Iguaçu, onde vários montículos elíp-
encontradas, seja na forma de montícu- ticos situavam-se no interior de um cor-

6
O termo “casa subterrânea” é bastante infeliz, primeiramente por conferir a estas feições uma função
a priori, e em segundo lugar por não se tratarem de estruturas verdadeiramente subterrâneas. Alguns
autores ainda tentaram remediar a situação chamando-as de “casas semi-subterrâneas” (La Salvia,
1968:106).
7
Posteriormente, vários autores notaram que o material arqueológico se encontra com muito mais
freqüência fora das depressões (p. ex.: Schmitz et al. 2002; Caldarelli & Herberts 2005).
8
A não preservação de ossos, provavelmente devido à acidez dos solos, e a inexistência de cerâmica
são recorrentes em vários outros montículos escavados tanto no RS quanto em SP.

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A tradição cerâmica Itararé-Taquara: características, área de ocorrência e algumas hipóteses sobre a expansão dos
grupos Jê no sudeste do Brasil

dão de terra de formato aproximadamen- Afinal, quantas Tradições?


te retangular (Chmyz, 1968b:47). Tan-
Uma análise da bibliografia, princi-
to os montículos quanto a estrutura li-
palmente das sínteses a respeito das três
near apresentavam uma altura de 40cm,
tradições (Schmitz,1988; Schmitz e Be-
e valas resultantes da retirada de terra
cker,1991) mostra que existem muito
podiam ser observadas na parte de fora
mais semelhanças do que diferenças en-
do cordão de terra e ao lado de cada
tre os atributos utilizados em suas defi-
montículo. Em outro artigo, Chmyz e
nições. Se em um primeiro momento,
Sauner (1971:11) descrevem dois tipos
face à escassez de dados, a Tradição
de montículos para o Vale do Rio Piquiri:
Taquara parecia algo um tanto distinto
um de forma elíptica, com os eixos mai-
das tradições Itararé e Casa de Pedra -
ores variando de 1,20 a 3m de compri-
presença de casas subterrâneas e abun-
mento e alturas entre 0,40 a 0,50m, e
dância de decoração plástica na primeira
um outro tipo em forma de cone trunca-
versus ausência de casas subterrâneas
do, com uma valeta circundante, diâme-
e pouca decoração ou mesmo ausência
tros entre 4 e 13m, alturas entre 1,50 e
desta nas duas últimas - o mesmo não
2m. O primeiro tipo ocorria em conjun-
pode ser dito após a passagem de algu-
tos desordenados, enquanto o segundo
mas décadas; a Fase Guatambu da Tra-
era mais raro e os montículos ocorriam
dição Taquara, por exemplo, foi definida
isolados. Na margem esquerda do Para-
no norte do Rio Grande do Sul e apre-
napanema, próximo à divisa com São
senta casas subterrâneas, estruturas de
Paulo, Chmyz (1977) cita a existência
terra, montículos e cerâmica, esta em
de montículos elípticos medindo em
sua maior parte apenas polida, uma pe-
média 5m de comprimento por 2m de
quena porcentagem mostrando decora-
largura e 1m de altura. O local estava ção de qualquer espécie, com vasilha-
na faixa de depleção do reservatório de mes de formas simples (Miller, 1971;
Salto Grande e, portanto, parcialmente Schmitz, 1988). A Fase Taquara difere
submerso. O autor não encontrou cerâ- da Guatambu pela grande quantidade de
mica nos cortes que efetuou no local, e cerâmica decorada, mas os demais atri-
por isso associou-os a uma fase pré-ce- butos se seguem, incluindo galerias
râmica (Fase Timburi). As característi- subterrâneas. Os vasilhames cerâmicos
cas porém sugerem que sejam montí- são igualmente pequenos (Miller, 1967;
culos associados à Tradição Itararé-Ta- Schmitz, 1988).
quara.
Passando para o Estado do Paraná
Em São Paulo, Robrahn-González vemos que, por exemplo, tanto as fases
(1999:301) cita a existência de cemité- Açungui como Cantu, ambas filiadas à
rios no Médio Ribeira, locais com concen- Tradição Itararé, apresentam cerâmica
trações de montículos elípticos de terra e predominantemente simples, vasilhames
pedras, com dimensões variando de 1m pequenos e estruturas de terra associa-
de comprimento por 0,5m de largura e das, na forma de aterros ou estruturas
0,2m de altura até 4,5m de comprimen- lineares formando desenhos geométri-
to por 3m de largura e 0,6m de altura. cos (círculos, quadriláteros) bem como
Araujo (2001) também detecta sítios con- casas subterrâneas (Chmyz, 1968a;
tendo montículos no Alto Paranapanema. Chmyz [coord], 1981; Schmitz, 1988),
Por fim, o arqueólogo amador Kiju ou seja, ambas bastante semelhantes à
Sakai (1981:86-97) relata a escavação, Fase Guatambu da Tradição Taquara.
em 1940, de montículos tumulares no Com possíveis variações de antiplástico
Vale do Tietê, nas cidades de Lins, Pro- e forma de vasilhames, temos basica-
missão e Guararapes. mente as mesmas estruturas e atribu-

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Araújo, A. G. M.

tos tecnológicos recorrentes, que podem 1991) e chegando a Prous (1992), vá-
até ausentar-se em algumas fases, po- rios autores já propuseram algum tipo
rém se espalham de maneira contínua de unificação. Os problemas maiores pa-
por milhares de quilômetros quadrados, recem estar ligados à denominação desta
desde a porção central do Rio Grande do tradição abrangente. Becker & Schmitz
Sul até o sudoeste de São Paulo, pre- (1969) propuseram chamar a cerâmica
sentes nos mais diversos compartimen- de “Tipo Eldoradense”, pelas óbvias cor-
tos topográficos: litoral, serras e planal- relações entre o material brasileiro e o
to. A Tabela 1 apresenta as principais argentino. Alguns autores se referem
características de algumas fases. Não se normalmente à Tradição Taquara como
trata de uma tabulação completa, pois tendo uma área de dispersão que se es-
não estão assinaladas as ocorrências de tende do Rio Paranapanema, divisa dos
vestígios que não foram formalmente Estados de São Paulo com o Paraná (sic),
atribuídos pelos autores a uma ou outra até a encosta sul do Planalto no Rio Gran-
tradição, bem como as fases criadas com de do Sul… (Mentz Ribeiro et al., 1994:
base em um só sítio (como o exemplo 230). Obviamente, estes autores deci-
da Fase Vacaria, La Salvia, 1968). Deste diram englobar as três tradições sob o
modo, várias ocorrências de casas sub- termo Taquara, aparentemente sem
terrâneas e cerâmica do tipo Itararé, que maiores justificativas para a escolha do
foram encontradas no litoral de Santa nome. Outra tentativa foi feita no senti-
Catarina e Paraná (Forte Marechal Luz, do de chamar as três tradições de Tradi-
Enseada I, Ilha das Pedras, Ilha das ção Planáltica (p. ex., De Masi e Artusi,
Cobras, Praia das Laranjeiras, Base Aérea 1985); Rodríguez (1992) utiliza o termo
etc) e também no planalto destes Esta- Tradição Planáltica para englobar o con-
dos (Reis, 1982; Rohr, 1971) não estão junto, e mantém as divisões denominan-
citadas na Tabela 1. Acrescem-se a es- do as antigas tradições de subtradições
tas informações o fato de existirem es- Itararé, Casa de Pedra e Taquara.
truturas semelhantes, associadas ao Brochado (1984) congrega todas as
mesmo tipo de cerâmica, no sudoeste tradições ceramistas definidas na por-
do Estado de São Paulo (Araujo, 1995, ção oriental da América do Sul em ape-
2001; Prous, 1979) conforme será visto nas quatro; uma delas, a Tradição Pedra
à frente. do Caboclo, englobaria vários estilos9 ,
Assim, dado o raciocínio por trás da incluindo o Estilo Itararé e os Estilos Ta-
definição de tradição, e com base nos quara e Taquaruçu. O primeiro estilo con-
conhecimentos acumulados desde o fi- grega as tradições Itararé e Casa de Pe-
nal dos anos 1960, pode-se agrupar, sem dra; o segundo estilo divide a Tradição
maiores problemas, todas as três tradi- Taquara, alçando uma de suas fases à
ções - Itararé, Casa de Pedra e Taquara categoria de estilo. As três propostas
- sob um mesmo rótulo, as diferenças apresentam problemas; primeiro, não te-
regionais sendo perfeitamente descritas ria sentido nominar todo o complexo de
por meio do conceito fase, se for o caso. Taquara, por uma questão de precedên-
Esta conclusão não é, reconhecidamen- cia. Se é verdade que as fases Itararé e
te, nenhum “ovo de Colombo”; desde a Taquara, que deram nomes às tradições,
já citada proposição de Eurico Miller foram definidas no mesmo ano e na mes-
(1971), passando pelas tentativas de ma publicação (Chmyz, 1967; Miller,
Tom Miller (1978, também em Schmitz 1967), a primeira a ter sido publicada
et al.,1980:44-46), Mentz Ribeiro (1980, enquanto tradição foi a Itararé (Chmyz,
9
Não conseguimos encontrar uma definição de “estilo” em Brochado (1984), mas pelo texto fica
subentendido que é uma categoria hierarquicamente inferior a “tradição” e “subtradição”.

16 Revista de Arqueologia, 20: 09-38, 2007


A tradição cerâmica Itararé-Taquara: características, área de ocorrência e algumas hipóteses sobre a expansão dos
grupos Jê no sudeste do Brasil

1968a), seguida depois pela Taquara O contexto espaço-


(Brochado et al., 1969). Em verdade,
Chmyz já parecia enxergar a Tradição
temporal da Tradição
Itararé como manifestação ampla, se Itararé-Taquara.
estendendo por vasta área no Paraná e As evidências arqueológicas colocam
Santa Catarina (Chmyz, 1968a:123), te- a Tradição Itararé-Taquara como porta-
cendo inclusive comparações com a ce- dora de uma das primeiras ocorrências
râmica descrita por Menghin (1957). de cerâmica no Brasil meridional. Porém,
Assim, seria improcedente adotar o o estado da arte em termos espaço-tem-
nome Taquara em detrimento de Itara- porais da tradição ainda deixa a desejar,
ré. Em segundo lugar, denominar o com- principalmente pelas enormes lacunas
plexo de Tradição Planáltica é igualmen- verificadas no Estado de São Paulo. A
te improcedente; a cerâmica e até mes- Fig. 01 mostra a área de dispersão da
mo algumas casas subterrâneas se es- Tradição Itararé-Taquara, conforme re-
tendem até o litoral, principalmente em conhecida na bibliografia (Mentz Ribeiro,
2000; Miller Jr., 1978; Noelli, 2000a, b;
Santa Catarina e Paraná. Quanto à pro-
Reis, 1997; Schmitz, 1988). É importan-
posta de Brochado, o autor perpetua as
te salientar que o limite norte da distri-
supostas diferenças entre Itararé e Ta-
buição, na divisa entre Paraná e São
quara colocando-as como estilos diferen-
Paulo, deve ser considerado como infe-
tes, e ainda propõe uma divisão entre rido, uma vez que os autores não dispu-
Taquara e Taquaruçu. nham de dados suficientes.
A precedência de publicação deve Se nos estados sulinos o número de
guiar qualquer tipo de decisão em ma- datações e de sítios cadastrados permi-
téria de denominações científicas, dei- te ao menos um vislumbre das questões
xando de lado informações orais ou pes- a respeito de uma maior ou menor anti-
quisas não publicadas. güidade das ocorrências de cerâmica nas
Serão propostas três opções, elen- várias regiões, muito do potencial inter-
cadas por ordem de preferência: pretativo está cerceado pelas incertezas
decorrentes do vazio de informações ar-
A) Utilizar o termo Tradição Eldoraden-
queológicas representado por São Paulo.
se, ou Tipo Eldoradense (Becker e Assim, dado o que se conhece, os sítios
Schmitz, 1969) uma vez que a mes- mais antigos parecem estar localizados
ma foi reconhecida dez anos antes no extremo sul do país, no nordeste do
na Argentina, e a precedência do ter- Rio Grande do Sul, datando de 1810 +-
mo é inquestionável. 85 AP (cal AD 241) para a Fase Guatam-
B) Utilizar o termo Tradição Itararé, uma bu (Schmitz e Brochado, 1981:173)10 .
vez que a mesma foi definida antes Em artigo mais recente, Schmitz e
da Tradição Taquara no território bra- Becker (1991:90-91), seguindo uma li-
sileiro. nha já proposta por outros pesquisado-
C) Utilizar o nome composto Tradição res do Rio Grande do Sul, mas cuja ori-
Itararé-Taquara. gem se remeteria a Menghin (Noelli,
2000a), apostam em uma origem autóc-
Neste trabalho será utilizada a ter- tone para a Tradição Taquara. O raciocí-
ceira opção, fundada no fato do costu- nio se baseia em uma suposta continui-
me dos pesquisadores ao termo. dade das indústrias líticas, que indicaria
10
Schmitz (com. pessoal, 2007) não acredita que as idades mais antigas do Rio Grande do Sul (Tabela
2: SI-813, SI-2344 e SI-2345) devam ser aceitas, seja pelo contexto arqueológico ou pela ausência de
proveniência.

Revista de Arqueologia, 20: 09-38, 2007 17


Araújo, A. G. M.

continuidade entre grupos pré-cerâmi- letores e ceramistas, há que se pensar


cos e os grupos fabricantes da cerâmica em dois fatores:
Taquara, e na maior antigüidade encon- a) Sítios líticos podem resultar de ativi-
trada para a tradição no RS11. Essa maior dades específicas levadas a cabo por
antigüidade, ao nosso ver, resulta de grupos ceramistas, isto é, podem ser
uma simples relação entre tamanho de apenas vestígios de atividades que
amostra e diversidade (neste caso, di- não envolveram o uso de vasilhames
versidade de valores para as datas): cerâmicos (Araujo, 2001; De Mais,
existem pelo menos 38 datas relacio- 2005a).
nadas à Tradição Itararé-Taquara para o b) Indústrias líticas simples ou expedi-
Rio Grande do Sul, contra apenas 9 da- entes são basicamente universais.
tas para Santa Catarina e 11 para o Pa- Assim, torna-se bastante arriscado
raná. O Estado de São Paulo, de acordo definir que uma continuidade em ter-
com as informações disponíveis, conta mos de técnica / função representa
com apenas 6 idades radiocarbônicas e uma continuidade em termos de
6 idades por TL (vide tabelas 2 e 3). transmissão cultural (estilística, sen-
su Dunnell, 1978).
A suposta continuidade de indústri-
as líticas foi sugerida, por exemplo, por Algum tipo de continuidade deve ter
Mentz Ribeiro & Ribeiro (1985) e Mentz ocorrido em muitas instâncias, uma vez
Ribeiro (2000), que colocam a Tradição que o contato interétnico nem sempre
Taquara como conseqüente à Tradição se dá de forma belicosa. É provável que
Humaitá na área de estudo (norte RS). tenha havido bastante troca de informa-
Em outro artigo, Mentz Ribeiro escreve: ções e de genes entre os grupos porta-
dores da tecnologia lítica e os recém
A fase Pinhal [Tradição Humaitá] fixou-se,
basicamente, no planalto… Ocuparam as chegados ceramistas. É possível até que
proximidades de açudes ou sangas… Em o futuro nos reserve surpresas interes-
torno de 1000 anos AP tornaram-se horti- santes do ponto de vista biológico, a re-
cultores, surgindo a cerâmica da Fase Er- velar que nossa definição de Kaingang
veiras, Tradição Taquara (Mentz Ribeiro, seja, na verdade, um amálgama de po-
1991:18, grifo nosso).
pulações que se misturaram em maior
Posteriormente, Mentz Ribeiro (2000: ou menor grau à medida em que a po-
39) continuaria defendendo essa hipó- pulação parental migrava rumo sul. O
tese, apenas recuando a data da adoção que está em discussão, no momento, não
da cerâmica para 1800 AP. são identidades étnicas ou genéticas,
Na publicação já citada (Mentz mas sim a dispersão de um complexo
Ribeiro, 1991:125) o autor obteve uma tecnológico novo que de algum modo
data para a Tradição Humaitá (a mesma conferia vantagens a seus portadores; e
Fase Pinhal) de 380 ± 80 AP (cal AD esta tecnologia não parece ter sido de-
1493, 1601, 1612), e recusou-a como senvolvida na porção sul do país, por mo-
muito recente. O problema, a nosso ver, tivos que serão expostos.
reside na própria definição da Tradição Na verdade, alguns indícios levam a
Humaitá. Indústrias sem pontas de pro- crer que as datações mais antigas para
jétil são freqüentemente (até mesmo a Tradição Itararé-Taquara não ocorrem
automaticamente) associadas à Tradição no extremo sul do país; o argumento
Humaitá. Ao se postular a continuidade mais consistente talvez se deva ao fato
entre indústrias líticas de caçadores-co- de que a cerâmica típica da tradição já
11
Recentemente, De Masi (2005b) apresentou datas de até 5000 anos AP (2860 a.C.) para um sítio
Itararé-Taquara em Santa Catarina. Até que outros dados confirmem isso, consideramos essa idade
como um “outlier”.

18 Revista de Arqueologia, 20: 09-38, 2007


A tradição cerâmica Itararé-Taquara: características, área de ocorrência e algumas hipóteses sobre a expansão dos
grupos Jê no sudeste do Brasil

surge nos estados sulinos de forma ex- tro-Oeste do Brasil, e Una, encontrada
tremamente bem elaborada (Prous, na porção centro-leste do país, chegando
1992:329; Schmitz, 1969:167). Os va- à Serra do Mar e litoral do Rio de Janeiro
silhames da Tradição Itararé-Taquara, e Espírito Santo (Brochado,1984:6,100-
apesar de apresentarem tamanhos em 101). Prous (1992: 333-345) sugere
geral reduzidos, sugerem um grande uma subdivisão da cerâmica Una em
domínio técnico, que resulta numa efici- duas variedades, A e B. A primeira, mais
ente economia de matéria-prima e em antiga, com datas de até 3800 AP, foi
vasilhames bastante leves. A superfície identificada inicialmente entre o norte
escura, característica da cerâmica, seja de Minas Gerais e o sul de Goiás, esten-
ela conseguida por queima controlada dendo-se para o centro mineiro. A segun-
(Dias Jr. apud Schmitz et al., 1980:44) da, localizada em Minas Gerais, Espírito
ou pela técnica de esfumaramento (Miller Santo e principalmente Rio de Janeiro,
Jr., 1978:28), que resulta em superfícies ocupariam uma posição periférica em,
escuras, é um processo complexo. O relação à variedade A. Os sítios de Mi-
mesmo vale para a brunidura, tão co- nas Gerais se encontram sobretudo no
mum em algumas regiões. Segundo sudoeste do estado, próximos à divisa
Miller Jr. (1978; também em Schmitz et com São Paulo, e além da cerâmica fina
al., 1980:42), a brunidura é um proces- e escura, foram detectadas nessa região
so extremamente penoso de conseguir, algumas casas subterrâneas (Dias Jr. &
envolvendo o polimento do vasilhame Carvalho, 1978).
com um seixo liso durante várias horas Seja como for, a origem da Tradição
distribuídas ao longo de alguns dias. Itararé-Taquara parece ter se dado em
Falamos, provavelmente, sobre uma ce- algum local a norte do Estado São Paulo.
râmica que não se desenvolveu no nor- Teríamos, portanto, de imaginar esses
deste do Rio Grande do Sul. grupos passando pelos Estados de São
Outro fator a ser levado em conta é Paulo, Paraná e Santa Catarina antes de
que, dadas as evidências etno-históri- chegarem ao nordeste do Rio Grande do
cas (que serão exploradas com mais de- Sul; ou, noutro cenário, que tal migra-
talhes no próximo item) os fabricantes ção tenha tomado a forma de um gran-
da cerâmica Itararé-Taquara, habitantes de semicírculo, passando pelo Paraguai
das casas subterrâneas e construtores e norte da Argentina, fato que não é cor-
de estruturas de terra, poderiam perten- roborado até o momento pelo registro
cer a grupos do tronco Jê. As evidências arqueológico12 . A inexistência de datas
lingüísticas apontam para uma origem mais antigas pode se dever ao número
dessas populações no Planalto Central progressivamente menor de datas obti-
(Urban, 1992). Brochado (1984) afirma das em Santa Catarina, Paraná e São
que a cerâmica Itararé-Taquara, que o Paulo, e ainda assim, dados novos têm
autor inclui na chamada Tradição Pedra colocado alguns sítios Itararé-Taquara do
do Caboclo, teria se originado na boca sul de São Paulo e do norte do Paraná
do Amazonas e se expandido em dire- dentro de uma faixa cronológica mais re-
ção à costa do Nordeste, entre 1000 e cuada (vide Tabelas 2 e 3). No caso de
700 a.C., difundindo-se progressivamen- São Paulo, acresce-se a isto a grande
te e se espalhando para sul acompanhan- lacuna de dados existente na região da
do os falantes do Kaingang. Outros ra- Serra de Paranapiacaba e planalto adja-
mos da Tradição Pedra do Caboclo teriam cente, que foi provavelmente um dos
dado origem às cerâmicas denominadas principais corredores de migração dos
Uru e Aratu, encontradas na região Cen- portadores da cerâmica Itararé-Taquara,

12
Porém, vide Chmyz (1963) a respeito da ocorrência de casas subterrâneas no NW da Argentina.

Revista de Arqueologia, 20: 09-38, 2007 19


Araújo, A. G. M.

servindo de ligação entre Minas Gerais, ré-Taquara associada no Alto Taquari


Rio de Janeiro e o Paraná. As semelhan- (Fig. 03, n.9), afluente pela margem es-
ças da cerâmica Itararé-Taquara com a querda do Paranapanema (área que foi
cerâmica associada à Tradição Una (Dias depois estudada por Araujo [1995,
Jr., 1969; Brochado, 1984) sugerem uma 2001]).
possível continuidade que só é interrom- Miller Jr. (1972) detectou pelo me-
pida pela falta de dados (Fig. 02). É cla- nos quatro sítios arqueológicos relacio-
ro que existe também a possibilidade de nados à Tradição Itararé-Taquara, dois
que estes grupos Jê tenham migrado deles na região central do estado (Char-
rumo sul antes do advento da cerâmica, queada e Rio Claro - Fig. 03, n. 7 e 8), e
mas a questão da tecnologia cerâmica outros dois no noroeste paulista (Para-
já bem elaborada - abordada acima - puã e Lucélia - Fig. 03, n. 4 e 5), estando
enfraquece esta hipótese. Além disso, entre os sítios mais setentrionais conhe-
relatos históricos dos séculos XVI e XVII cidos até o momento.
sugerem a presença de grupos indíge- Levantamentos arqueológicos reali-
nas “não-Tupi” vivendo na Serra de Pa- zados ao longo da margem direita (pau-
ranapiacaba, conforme será visto adian- lista) do Médio e Baixo Paranapanema,
te. No próximo item iremos apresentar seja com objetivos acadêmicos ou rela-
algumas evidências recentes, proveni- cionados às obras de barragem do rio
entes do Estado de São Paulo, que estão para aproveitamento hidrelétrico, não
começando a contribuir para diminuir a têm obtido sucesso em detectar vestígi-
referida lacuna de conhecimentos. os relacionados à Tradição Itararé-Taqua-
ra (Faccio, 1998; Kunzli, 1987; Morais,
1979, 1984, 1999). Ainda assim, algu-
Preenchendo a lacuna: a mas evidências tênues sugerem essa
tradição Itararé-Taquara no presença, mesmo que tenha passado
despercebida pelos diversos pesquisado-
Estado de São Paulo. res: Faccio (1998), em levantamento
Apesar das poucas informações ar- realizado na área da UHE Capivara, no
queológicas disponíveis, o maior número Baixo Paranapanema, apresenta fotogra-
de ocorrências da Tradição Itararé-Taqua- fias de um virote e um almofariz de pe-
ra no Estado de São Paulo parece se dar dra, artefatos comumente associados à
no Alto Paranapanema13 . As primeiras Tradição Itararé-Taquara, além de uma
informações a respeito foram publicadas lâmina polida semilunar, geralmente
por Chmyz et al. (1968; Chmyz, 1977), associada a grupos Jê (Aratu); outra lâ-
em um levantamento efetuado no baixo mina semilunar foi achada, por um la-
rio Itararé, próximo à confluência com o vrador local, durante o levantamento da
Paranapanema. Todos os sítios estavam margem direita (paulista) da área a ser
situados na margem esquerda (para- inundada pela UHE Canoas, no médio
naense) do referido rio. Já prospecções Paranapanema. Chiari (1999), em seu
realizadas pelo mesmo autor no Baixo levantamento do acervo arqueológico
Paranapanema só resultaram na desco- existente nas várias instituições públi-
berta de sítios sem cerâmica ou com ce- cas e particulares na bacia do Parana-
râmica Tupiguarani (Chmyz, 1974). panema paulista, cita a existência de
No lado paulista temos o trabalho de uma lâmina de machado semilunar pro-
Prous (1979), que detectou a existência cedente do Município de Florínea; de uma
de casas subterrâneas e cerâmica Itara- mão de pilão polida, bastante similar às

13
Cremos que isso se deva exclusivamente ao maior investimento em pesquisas, e não necessaria-
mente a uma maior densidade de sítios.

20 Revista de Arqueologia, 20: 09-38, 2007


A tradição cerâmica Itararé-Taquara: características, área de ocorrência e algumas hipóteses sobre a expansão dos
grupos Jê no sudeste do Brasil

existentes nos sítios Itararé-Taquara do Taquara (Fig. 03, n. 9), incluindo sítios
Alto Paranapanema (Araujo, 2001), cerâmicos a céu aberto, em abrigo, mon-
guardada em Avaré (mas de procedên- tículos e casas subterrâneas. A implan-
cia desconhecida); de uma outra lâmina tação dos sítios na paisagem foi anali-
polida semilunar existente em Ourinhos; sada segundo critérios topomorfológicos,
no Município de Chavantes a autora re- e percebeu-se que a localização prefe-
gistrou um virote fragmentado e um so- rencial dos sítios em locais altos é notó-
cador cônico de pedra polida, ambos ria; tanto esta pesquisa como informa-
bastante similares aos encontrados no ções obtidas por outros pesquisadores
Alto Paranapanema e no Médio Ribeira (p. ex., Mabilde, 1988:144; Sganzerla
(Araujo, 2001; Robrahn, 1988), também et al., 1996:19,21; Tommasino, 1998:
associados à Tradição Itararé-Taquara. 44) confirmam uma certa predileção por
Mesmo as escavações realizadas por lugares altos, embora obviamente exis-
Pallestrini na década de 70 sugerem ao tam sítios localizados em fundos de vale.
menos contato entre Kaingang e popu- Alguns dos sítios apresentaram grandes
lações de filiação Guarani no Médio Pa- dimensões (Sítio Morus, com 190m de
ranapanema: no sítio Alves foram en- comprimento; Sítio Boa Vista, com 140
contradas duas urnas tipicamente Tupi- x 100m; Sítio Monjolada 2, com 120 x
guarani contendo vasilhames menores 50m; Sítio Gomes, com 110 x 100m), e
em seu interior que se assemelham a presença de um sítio (Morro do Gato)
muito em forma e tecnologia aos vasi- composto por pelo menos 25 montícu-
lhames comumente encontrados em sí- los de provável função funerária, se es-
tios Itararé (vide Pallestrini, 1974: pran- tendendo ao longo de 580m lineares, en-
chas 4, 5, 7 e 8; fotos 5 e 6). fraquece a hipótese de que os grupos
Robrahn (1988; Robrahn-Gonzalez, habitantes da área eram pouco nume-
1999) realizou um levantamento arque- rosos ou semi-nômades. Nessa área fo-
ológico no Médio Ribeira de Iguape (Fig. ram identificados também alguns sítios
03, n. 10) e detectou mais de uma cen- associados à Tradição Tupiguarani, mas
tena de sítios Itararé-Taquara, com da- uma nítida linha de fronteira foi perce-
tas entre 600 e 270 AP. Os sítios apre- bida: ao sul da cidade de Itapeva, em
sentam, via de regra, pequenas dimen- direção à Serra do Mar, quando o relevo
sões, com média de 550m², e inseridos se torna mais acidentado, não existem
em todas as posições topográficas. sítios Tupiguarani, apenas sítios Itara-
Chmyz et al. (1999) fizeram um le- ré-Taquara. As idades obtidas para os
vantamento relacionado à implantação sítios estão apresentadas na Tabela 3.
de uma hidrelétrica na divisa de São Como pode ser percebido, dois dos síti-
Paulo com o Paraná, também no Médio os datados (Sítio Müzel e Sítio Gasbol 8)
Ribeira (Fig. 03, n. 11), e o padrão en- apresentam idades bastante recuadas,
contrado foi semelhante: sítios relativa- entre AD 300 a AD 600, enfraquecendo
mente pequenos, o maior medindo 60m a hipótese da origem sulina para a Tra-
x 38,5m, todos em áreas baixas. dição Itararé-Taquara.
Mais recentemente, um trabalho de Indubitavelmente, é somente a par-
levantamento arqueológico na bacia do tir do início do século XXI, por meio dos
Alto Taquari, afluente do Paranapanema, trabalhos de arqueologia de contrato,
nas proximidades da cidade de Itapeva, que amplas áreas do Estado de São Paulo
a 60km da divisa com o Paraná e distan- até então completamente desconhecidas
te apenas 40km serra acima dos sítios começam a ser minimamente explora-
do Médio Ribeira (Araujo, 2001), resul- das do ponto de vista arqueológico. As-
tou na detecção de 39 sítios arqueológi- sim, a implantação de linhas de trans-
cos relacionados à Tradição Itararé- missão e autovias permitiram a realiza-

Revista de Arqueologia, 20: 09-38, 2007 21


Araújo, A. G. M.

ção de verdadeiros transectos arqueoló- gang históricos da província de Misio-


gicos, percorrendo o Estado em várias nes. Posteriormente, pesquisadores bra-
direções (Caldarelli, 2002). Alguns des- sileiros reforçaram esta correspondên-
ses trabalhos resultaram na detecção de cia ao comparar os dados arqueológicos
sítios relacionados à Tradição Itararé- com o que se sabia a partir de fontes
Taquara em áreas nas quais já se espe- etno-históricas. Talvez os primeiros a
rava que isso ocorresse, dadas as infor- terem feito a associação tenham sido La
mações históricas e etnográficas, mas Salvia (1968: 106), que compara os
que nunca haviam sido confirmadas do montículos arqueológicos aos descritos
ponto de vista arqueológico, como é o por Métraux (1946) e a cerâmica ao El-
caso do Sítio São Manuel 1 (Fig. 03, n.6), doradense da Argentina, e Chmyz
no Município de Pratânia, próximo a Bo- (1968a:119, 1969b:126), que compara
tucatu (Robrahn-Gonzalez e Zanettini, a cerâmica Casa de Pedra a fontes etno-
2002). Em outros casos, alguns sítios Ita- gráficas, notando suas semelhanças às
raré-Taquara foram detectados em locais peças Kaingang. Em artigos posteriores
que até certo ponto se revelaram sur- a relação é tornada explícita. Por exem-
preendentes, dada a ausência de rela- plo, La Salvia e colaboradores publicam
tos históricos mais diretos, mas que se um trabalho cujo título é: Cerâmica Cain-
encontravam dentro das previsões for- gang – Fase Vacaria (La Salvia et al.,
necidas por um modelo apresentado an- 1969).
teriormente (Araujo, 2001:328-330), Miller Jr. (1978) fortaleceu bastante
como é o caso do Sítio Jaraguá 1 (Fig. a hipótese a respeito de uma identidade
03, n.13), encontrado durante as obras entre a cerâmica arqueológica e a cerâ-
do Trecho Oeste do Rodoanel, em São mica Kaingang histórica, comparando
Paulo, na região montanhosa ao norte fragmentos provenientes de sítios arque-
da planície do Tietê, próxima ao pico de ológicos, fragmentos de locais historica-
mesmo nome (Robrahn-Gonzalez, no mente conhecidos como de ocupação
prelo) e do Sítio Topo do Guararema (Cal- Kaingang e vasilhames feitos por duas
darelli, no prelo - Fig. 03, n.12) locali- informantes Kaingang moradoras dos P.I.
zado em Guararema, no alto Vale do Pa- Icatu e Vanuire (SP).
raíba, o que ao nosso ver consiste em
Pode-se dizer que as evidências ar-
uma primeira evidência da forte presen-
queológicas coletadas ao longo dos últi-
ça Jê do Sul nas porções mais setentrio-
mos 35 anos corroboram esta correla-
nais da Serra do Mar.
ção entre grupos Kaingang, a cerâmica
do tipo Itararé-Taquara, e algumas ou-
Correlações arqueológicas e tras manifestações da cultura material,
como as estruturas de terra. Ao passar-
históricas. mos para o período histórico, porém, al-
Com base em informações arqueoló- gumas ressalvas devem ser feitas:
gicas, históricas, etno-históricas e lin- quando se diz Kaingang aqui está-se
güísticas, a Tradição Itararé-Taquara foi querendo dizer um grupo que é generi-
associada a grupos distintos dos Guara- camente considerado como pertencente
ni, provavelmente falantes de idiomas ao tronco lingüístico Macro-Jê. Outros au-
Jê, que ocupavam boa parte do Brasil tores (p. ex., Noelli, 2000a,b) preferem
meridional e nordeste da Argentina. Con- utilizar o termo “Jês do Sul” para desig-
forme visto anteriormente, Menghin nar os grupos indígenas conhecidos his-
(1957) foi o primeiro a postular tais re- toricamente como Kaingang e Xokleng.
lações, embora não chegasse a reconhe- Do ponto de vista etnológico, há um de-
cer a cerâmica Eldoradense lisa e sim- bate mais ou menos antigo sobre qual
ples como sendo relacionada aos Kain- seria a identidade dos grupos denomi-

22 Revista de Arqueologia, 20: 09-38, 2007


A tradição cerâmica Itararé-Taquara: características, área de ocorrência e algumas hipóteses sobre a expansão dos
grupos Jê no sudeste do Brasil

nados Aweikoma ou Xokleng, ou ainda da em tempos pré-contato (Demarquet,


Botocudos, encontrados em período his- 1983; Keller, 1974[1867]). O grupo te-
tórico em Santa Catarina e que falavam ria migrado, na primeira metade do sé-
um dialeto Kaingang (Guérios 1945), culo XIX, do centro-leste do Paraná para
mas que apresentam algumas peculiari- o alto Itajaí (SC) por causa de guerras
dades. Dados lingüísticos apontam uma internas (Urban, 1978 apud Namem,
divisão inicial entre Kaingang e Xok- 1994:161). A cerâmica, estruturas de
leng14 , e posteriormente divisões mais terra e demais vestígios arqueológicos
recentes entre os vários dialetos Kain- encontrados atualmente no território
gang (Urban, 1992; Wisemann, s/d apud catarinense não parecem muito distin-
Tommasino, 1995). Alguns autores de- tos do que ocorre na área de dispersão
fendem que os Xokleng seriam basica- da Tradição Itararé-Taquara de um modo
mente um grupo Kaingang (p. ex., Leão, geral. A despeito de algumas propostas
1922; Métraux, 1946; Henry, 1964), não e tentativas de se diferenciar o que é
havendo porque chamá-los com um Kaingang do que é Xokleng em termos
nome diferente. Outros (p. ex., Nimuen- arqueológicos (p. ex.: Chmyz, 1981: 95;
dajú e Guérios, 1948; Hicks, 1966) crê- Noelli, 2000b; Silva, 2000), não cremos
em que apesar da proximidade lingüís- até o momento que isso seja possível.
tica, as diferenças culturais são sufici- Conquanto a distinção entre proto-Kain-
entes para que os grupos sejam desig- gang e proto-Xokleng possa ser feita no
nados de maneiras distintas. Ocorre que futuro, o atual estado de conhecimentos
tais diferenças culturais estão baseadas parece não permiti-lo. Conforme colo-
em termos de parentesco, estrutura so- cado por Silva (2000: 70),
cial, adornos corporais e mesmo fabrico
as cerâmicas Kaingang e Xokleng observa-
de instrumentos musicais (Hicks, 1966; das em período histórico (...) são bastante
Métraux, 1947), além de algumas dife- semelhantes, principalmente no que se re-
renças de tratamento dos mortos - cre- fere ao processo de manufatura e, mais
mação para os Xokleng (Lavina, especificamente, à construção do vasilha-
1994:70; Schaden, 1958: 112), inuma- me.
ção para os Kaingang (Mabilde,
1988:154, Maniser, 1928:767) mas am-
bos construíam montículos sobre a se- A provável area de
pultura. A questão das diferenças tor- expansão Jê do Sul no Sul
na-se ainda mais complexa se levarmos
em conta que os dados generalizados e Sudeste do Brasil
para todos os Xokleng advêm de apenas A área ocupada pelos Jê do Sul nos
uma comunidade residente na reserva estados sulinos já é razoavelmente co-
de Duque de Caxias (atualmente P.I. nhecida, se estendendo pela porção nor-
Ibirama), em Santa Catarina (Hicks, te do Rio Grande do Sul, tomando com-
1966), e não podemos saber até que pletamente os estados de Santa Catari-
ponto as demais facções atualmente ex- na e Paraná (Noelli, 2000a:241). Nos
tintas eram ou não muito diferentes dos vizinhos Argentina e Paraguai também
Kaingang. De qualquer modo, do ponto se tem notícias de sítios arqueológicos,
de vista arqueológico, há muito pouco relatos históricos e etnográficos sugerin-
para justificar tal diferenciação; a área do uma continuidade desta área de ex-
ocupada historicamente pelos Xokleng pansão Jê (vide Von Ihering, 1904; Men-
parece não corresponder à área ocupa- ghin, 1957; Rizzo, 1968). Resta, porém,

14
Urban (1992:90) coloca que a divisão entre Kaingang e Xokleng teria ocorrido em torno de 3.000
anos atrás, mas estas estimativas devem ser vistas com reservas, uma vez que se baseiam em gloto-
cronologia.

Revista de Arqueologia, 20: 09-38, 2007 23


Araújo, A. G. M.

definir qual a extensão do território da te como Kaingang15, somente pesquisas


Região Sudeste ocupado em tempos pas- arqueológicas futuras poderão desven-
sados pelos Jê do sul, sejam eles Kain- dar, mas os poucos dados existentes
gang ou grupos relacionados, ou por seus (Robrahn-Gonzalez, no prelo) sugerem
ancestrais responsáveis pela cerâmica uma grande afinidade em termos de cul-
atribuível à Tradição Itararé-Taquara. tura material, ambiente explorado e re-
Algumas observações a respeito da pro- cursos alimentares. De qualquer modo,
vável área de dispersão deste complexo não se pode deixar de levar em conside-
cultural serão feitas a seguir. ração que grupos não-Tupi, muito pro-
Em primeiro lugar cabe lembrar que, vavelmente grupos Jê, estavam convi-
conforme colocado anteriormente, a ori- vendo nas proximidades dos Tupiniquins.
gem dos Jê do Sul deve estar no Centro- As informações de Hans Staden (1974)
Oeste do Brasil. Se a correlação entre os e Gabriel Soares de Souza (1971) ilus-
materiais arqueológicos e os dados etno- tram bem esta afirmação. Autores pos-
históricos for cabível, podemos procurar teriores tenderam a achar fantasiosa a
dados, ora em uma fonte ora em outra, possibilidade de grupos distintos ocupa-
para preencher as lamentáveis lacunas rem áreas tão próximas. Ayrosa (1967)
de conhecimento arqueológico ainda exemplifica bem esta posição, ao des-
existentes no Estado de São Paulo. Miller denhar a suposição de Teodoro Sampaio
Jr. (1972) detectou vários sítios arqueo- de que os Guaianá (não-Tupi) teriam sido
lógicos da Tradição Itararé-Taquara no vencidos pelos Tupiniquim (os morado-
Estado de São Paulo, ou seja, poder-se- res de Piratininga) e se refugiado nas
ia dizer com alguma confiança que gru- montanhas:
pos relacionados ou até mesmo ances- Nem o mais bisonho dos estudantes da et-
trais dos Kaingang estiveram ocupando nologia brasileira seria capaz de escrever
uma região pelo menos 240km além da semelhante absurdo. Onde se viu um gru-
divisa com o Paraná. Esta estimativa, po étnico qualquer dominar, como Senhor
porém, é bastante modesta, conforme e possuidor, litoral e sertões das imensas
Capitanias do século XVI. Jamais seria isso
será visto adiante. possível em face da organização social dos
A denominação de Guaianás ou ameríndios, das suas tendências nômades
Guaianases tanto a grupos Tupi como a e, principalmente, em face da baixíssima
grupos Jê foi fonte de muita confusão a densidade de população, relativa à exten-
síssima área geográfica… (Ayrosa, 1967:56)
respeito dos habitantes indígenas do pla-
nalto paulista (Monteiro, 1992), e por A visão de Ayrosa, calcada em um
extensão à própria história dos grupos senso comum proveniente de dados et-
Kaingang. Com base na toponímia, nos nográficos relacionados a populações in-
relatos jesuíticos e de outros cronistas, dígenas completamente desestrutura-
além de algumas informações de cunho das, não poderia estar mais distante da
arqueológico, fica patente que os indí- realidade. Conforme alguns dados arque-
genas que dominavam os Campos de Pi- ológicos recentes, tanto para o sudoeste
ratininga eram pertencentes a um grupo de São Paulo (Araujo, 2001), como para
Tupi, os chamados Tupiniquins (Monteiro, a região da Capital paulista (Robrahn-
1994). Na mesma região existiam vá- Gonzalez, no prelo) e para o Vale do Pa-
rios outros grupos indígenas não-Tupi, raíba (Caldarelli, no prelo) sugerem, a
genericamente denominados Tapuias, proximidade entre sítios Tupiguarani,
dentre eles os Guaianá e Maromomi (Pre- Aratu e Itararé-Taquara contemporâne-
zia, 2000). Se estes eram ou não relacio- os corrobora a hipótese de grupos hu-
nados ao que conhecemos historicamen- manos radicalmente distintos ocupando
15
Segundo Prezia (2000), cronistas como Fernão Cardim e os jesuítas que vieram depois afirmaram
que os Maromomis se sustentavam com pinhões, traço comum aos Kaingang.

24 Revista de Arqueologia, 20: 09-38, 2007


A tradição cerâmica Itararé-Taquara: características, área de ocorrência e algumas hipóteses sobre a expansão dos
grupos Jê no sudeste do Brasil

(e dominando) áreas contíguas. Ao mes- mesmo nome), Maramomis e outros se-


mo tempo, as dimensões e a quantida- rem distintos dos Tupiniquim que habi-
de de cerâmica presentes tanto nos sítios tavam as áreas baixas (Monteiro, 1994;
Tupiguarani quanto nos sítios Itararé-Ta- Petrone, 1995; Schaden, 1954). A pre-
quara do Alto Taquari (Araujo, 2001) sença dos Guarulhos na Serra da Manti-
como na Vale do Paraíba (Caldarelli, no queira é fortemente sugerida pelos rela-
prelo) enfraquecem a hipótese de que tos de que um missionário, em 1625,
os grupos portadores da cerâmica Itara- havia descido do sertão grande quanti-
ré-Taquara fossem grupos nômades ou dade de Guarulhos, assentados na pa-
de baixíssima densidade populacional. O ragem chamada Atubaia (Atibaia), de
que sugerimos aqui é que a situação en- maneira que os seguissem, os demais
contrada na região planáltica de Itape- que ainda estavam no sertão (Capistrano
va, no sudoeste do Estado, é muito se- de Abreu, 1963). Outro possível exem-
melhante à encontrada nas demais por- plo de grupo Jê do Sul nas proximidades
ções da região planáltica de São Paulo, de São Paulo é o caso dos Pés-largos,
ou seja, que tanto em um lugar como habitantes da região serrana de Mogi das
em outro havia grupos Tupiguarani ocu- Cruzes que desbarataram uma bandeira
pando as áreas mais abertas, com rele- de 50 homens em 1593 (Grinberg,
vo mais suave, ladeados de grupos de 1961).
origem Jê, igualmente numerosos, ocu- Se esses grupos não-Tupi são relacio-
pando as áreas mais acidentadas, sobre nados ou não aos Kaingang do período
as serras. Esta situação provavelmente histórico, ou se ao menos sua cultura
é válida para toda a extensão da Serra material é atribuível a algo semelhante
do Mar, passando pelas regiões de Ca- à Tradição Itararé-Taquara, somente es-
pão Bonito, São Miguel Arcanjo, Pieda- tudos futuros poderão dizer. O fato é que
de, Ibiúna, Cotia, até chegar em São mais recentemente, além dos sítios men-
Paulo, e provavelmente se estendendo cionados nos municípios de São Paulo e
para o nordeste, conforme os dados pro- Guararema, serra acima, foram também
venientes de Guararema (Caldarelli, no detectados sítios arqueológicos de pro-
prelo). No caso da região de São Paulo, vável filiação Itararé-Taquara no Muni-
onde temos ainda o encontro da Serra cípio de Ilha Bela, litoral norte do Esta-
da Mantiqueira com a Serra do Mar, além do de São Paulo, tanto associados a sam-
das serras menores como o Japi e a Can- baquis como em abrigos rochosos e a
tareira envolvendo as planícies aluviais céu aberto (Cali, 2000), configurando
do Tietê/Pinheiros, esta dicotomia entre uma situação muito semelhante à exis-
Tupi/Jê e terrenos planos/serras deve ter tente nos litorais de Santa Catarina e
se dado ainda mais fortemente. Dada a Paraná, e sugerindo que a área de ex-
ausência quase total de informações ar- pansão Jê do sul é muito mais extensa e
queológicas referentes à região da Gran- setentrional do que o julgado.
de São Paulo16, isto é sugerido mais pe- A presença de material arqueológico
las fontes históricas, desde Soares de nesta porção do litoral paulista se coa-
Souza, ao citar os guaianases que vi- duna com os relatos de Knivet acerca da
viam em covas debaixo do chão, pas- presença de Wayanasses (Guaianases)
sando pelas várias referências ao fato na Ilha Grande e Parati, indígenas estes
de os índios Guarús, Guaromimis (que que, ao contrário dos Tupinambá, não
deram origem ao Aldeamento dos Gua- comiam carne humana e usavam cabe-
rulhos e posteriormente à cidade de los pelos ombros com uma coroa corta-

16
Além do já mencionado Sítio Jaraguá 1, de filiação Itararé-Taquara, os parcos achados arqueológicos
efetuados no Município de São Paulo são referentes sobretudo a urnas funerárias Tupiguarani, todas
encontradas nas áreas baixas, além de um sítio lítico não datado (Sítio Morumbi).

Revista de Arqueologia, 20: 09-38, 2007 25


Araújo, A. G. M.

da no alto da cabeça, como os frades b) tais técnicas compreendem um com-


franciscanos (Knivet, 1947:134). plexo de atributos funcionais e esti-
lísticos cuja co-ocorrência não pode-
ria se dar ao acaso;
Arqueologia, Etnologia e c) que além da cerâmica são compar-
História: questões de tilhadas feições construtivas (casas
nomenclatura subterrâneas - vide Dias Jr. &
Carvalho, 1978) e outros artefatos
Temos tratado aqui de conjuntos de
(virotes - vide Souza, 2005);
artefatos cerâmicos e de grupos indí-
genas cujas designações várias, sejam d) e que, portanto, esses grupos eram
autodenominações ou nomes dados por relacionados de alguma maneira, seja
outros grupos, podem mais confundir do geneticamente, seja culturalmente,
que efetivamente esclarecer as questões ou ambos.
básicas da expansão de gupos Jê no su-
Então podemos nominar, rotular (e
deste e sul do Brasil. Em termos arque-
isso é importante; trata-se apenas de um
ológicos, seria hora de se começar a pen-
rótulo) tal cerâmica de Itararé-Taquara,
sar em termos, denominações e quais
dadas as diferenças marcantes que essa
as reais questões perseguidas pelos ar-
cerâmica apresenta quando confronta-
queólogos, que tanto podem ser muito
da com a cerâmica Tupiguarani ou com
semelhantes às propostas por antropó-
a cerâmica Aratu, até que um aprofun-
logos, etnólogos e historiadores, como
damento dos conhecimentos fortaleça ou
muito diferentes.
refute essa possibilidade. Pode-se ima-
A primeira questão: seria lícito su- ginar que a cerâmica de Guararema e
por que a cerâmica escura, fina e sem do Jaraguá apresente uma série de ca-
decoração encontrada no Sítio Jaraguá racterísticas distintas da cerâmica do
1, na cidade de São Paulo, ou no Sítio Paraná ou do sudoeste de São Paulo, mas
Alto do Guararema sejam atribuíveis à enquanto não se tem mais dados a res-
Tradição Itararé-Taquara? Duas respos- peito, a princípio não haveria maiores
tas são possíveis: se encararmos a Tra- problemas porque Itararé e Taquara são,
dição Itararé-Taquara como sinônimo de felizmente, topônimos, apenas nomes de
Kaingang e/ou Xokleng, creio que a res- duas cidades e, portanto, neutros o su-
posta é não. Mais provável é que esses ficiente para não se incorrar em nenhu-
sítios sejam associados aos Guarulho, ou ma vinculação duvidosa entre a cerâmi-
Maromomi, ou Guaianá, ou Guaramomi, ca e algum grupo específico17. Conquanto
ou Pés-Largos, ou seja lá o nome que os a relação entre cerâmica arqueológica e
cronistas deram. Nessa linha de pensa- grupos indígenas seja teoricamente mais
mento, Caldarelli (no prelo) optou por simples nos estados sulinos, onde o ex-
chamar a cerâmica de Guararema de termínio se deu mais tardiamente (em
Guaianá, já que dificilmente seriam
que pese o insucesso de se separar o
Kaingang os indígenas ali estabelecidos.
que é Kaingang do que é Xokleng), na
Por outro lado, se pensarmos que a região oriental da Serra do Mar isso se
cerâmica Itararé-Taquara: torna virtualmente impossível.
a) sinaliza o compartilhamento de uma Uma segunda questão importante re-
série de técnicas de manufatura por lacionada à nomenclatura ou rotulagem
parte de grupos humanos; dessas cerâmicas se refere ao fato de

17
Quando falamos em evitar associação a um grupo específico, não queremos dizer que se deva
descartar todo o cabedal de conhecimentos já existente e que associa, de maneira muito plausível,
essa cerâmica a grupos do tronco lingüístico Macro-Jê.

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A tradição cerâmica Itararé-Taquara: características, área de ocorrência e algumas hipóteses sobre a expansão dos
grupos Jê no sudeste do Brasil

que os grupos humanos responsáveis neiro, passando pela Serra do Mar,


pela manufatura das mesmas foram se seguindo pela região planáltica até a
deslocando no espaço ao longo do tem- região de Itapeva, no sudoeste do
po e obviamente nunca haverá uma estado.
ruptura verdadeira entre a cerâmica Una b) Em termos da região da Serra do Mar
e a cerâmica Itararé-Taquara. Em uma voltada para o litoral, provavelmen-
faixa entre Minas Gerais, Rio de Janeiro te os sítios irão ocorrer ao longo de
e São Paulo, não será possível designar todo o trecho, unindo a região ser-
a cerâmica como Una ou Itararé-Taqua- rana de Mogi das Cruzes ao já co-
ra. Que ninguém perca o sono com isso, nhecido Médio Vale do Ribeira. O
porque nunca é demais reforçar o fato mesmo provavelmente ocorrerá no li-
de que classificações são, dentro de um toral, com sítios Itararé-Taquara ocor-
procedimento científico, apenas manei- rendo ao longo de toda a costa pau-
ras de ordenar o mundo, cuja maior ou lista até que se chegue às áreas já
menor colagem com a realidade está conhecidas no litoral paranaense. A
sempre em cheque, sempre sujeitas a ocupação da vertente oriental da
teste. Além do mais, conforme colocado Serra do Mar e do litoral parece ter
no início deste artigo, tais tradições não
sido um processo mais recente, mo-
são classes, e sim grupos, passíveis de
vido por uma pressão populacional
descrição, mas não de definição. Se fi-
nas áreas planálticas, por volta de
nalmente perceber-se que a cerâmica
1000 AP (Chmyz, 1976; Neves,
Itararé-Taquara é uma derivação da Una,
1984). No caso específico do sudo-
pode-se pensar até mesmo em adotar o
este do Estado de São Paulo, tal pres-
termo Tradição Pedra do Caboclo de Bro-
são pode ter se dado diretamente a
chado (1984), englobando essa varie-
dade tão distinta da Tupiguarani e Aratu. partir do Planalto Atlântico, e não por
meio do Vale do Ribeira, como foi
sugerido por alguns autores (Ro-
Conclusões brahn-Gonzalez, 1999), haja vista
que sítios maiores e datações mais
Serão apresentados os principais
antigas ocorrem no Alto Paranapa-
pontos que poderiam nortear futuras
nema, sugerindo que o Médio Ribei-
pesquisas e debates:
ra, apenas 40km serra abaixo, cons-
a) É provável que os ancestrais dos in- tituísse uma área periférica, de ocu-
dígenas historicamente conhecidos pação tardia.
como Kaingang e Xokleng se deslo-
caram a partir do Brasil Central / nor- c) Se imaginarmos que a porção norte-
te de Minas Gerais (portadores da noroeste do estado já estivesse sob
chamada cerâmica Una) por dentro domínio dos Kaiapó Meridionais, ou-
do território paulista, provavelmen- tro povo Jê extremamente belicoso
te passando antes pelo sul de Minas mas com cultura material bastante
Gerais, e que uma das possíveis ro- distinta dos Jê do Sul (cerâmica Ara-
tas de expansão tenha sido ao longo tu), é razoável esperar encontrar os
da Serra da Mantiqueira e da Serra sítios Itararé-Taquara com datações
do Mar (Fig. 04). Se a relativa ho- mais antigas na faixa leste-sudeste
mogeneidade de cultura material do Estado de São Paulo. Esta conjec-
apresentada nos estados sulinos se tura se opõe à hipótese originalmen-
repetir, podemos esperar encontrar te levantada por Schmitz (1988) e
sítios atribuíveis à Tradição Itararé- sustentada quase uma década depois
Taquara em toda a porção sul-sudeste por De Blasis (1996) e Robrahn-Gon-
do Estado de São Paulo, deste a fron- zalez (1999), com base no fato de
teira com Minas Gerais e Rio de Ja- que as datas mais antigas para a Tra-

Revista de Arqueologia, 20: 09-38, 2007 27


Araújo, A. G. M.

dição Itararé-Taquara terem sido ob- Seja qual for o cenário, uma expan-
tidas no Rio Grande do Sul. Confor- são Kaingang rumo norte, adentrando o
me colocado anteriormente, este fato sudoeste do Estado de São Paulo na pri-
deve estar simplesmente refletindo meira metade do século XIX, é fato bem
um viés amostral, dado o grande documentado (Barbosa, 1988; Mota,
número de datações e de sítios pes- 2005; Sposito, 2005).
quisados no Rio Grande do Sul, em Por fim, cabe salientar que as hipó-
contraste com São Paulo.
teses sugeridas aqui são admitidamen-
d) Quanto à presença Kaingang no oes- te preliminares, com modelos de expan-
te paulista, na região compreendida são simplificados, não levando em con-
entre os rios Tietê e Paranapanema, ta a possibilidade de que a penetração
pode-se pensar em dois cenários: um dos grupos Jê do Sul pode ter sido con-
de presença relativamente recente, temporânea à expansão dos grupos Tupi,
caso houvesse o citado impedimento e nem os palimpsestos de ocupações re-
existente no norte, território dos Bil- lacionadas a grupos humanos distintos
reiros (Kaiapó Meridionais), e tam- avançando e retrocedendo em algumas
bém a leste, oeste ou sul, áreas re-
regiões. Seja como for, já é hora de se
conhecidamente dominadas por gru-
encarar a necessidade de um maior in-
pos Tupi. Somente o esvaziamento
vestimento em projetos de longa dura-
populacional dos vales do Paranapa-
ção, teoricamente orientados e bem em-
nema e Tietê por conta do apresa-
basados em termos de método, permi-
mento indígena feito pelos paulistas
tindo a obtenção de dados arqueológi-
no século XVII (Borelli, 1984; Pre-
cos confiáveis para o Estado de São Pau-
zia, 2000), teria permitido aos gru-
pos Kaingang o livre acesso ao oeste lo, região chave para a compreensão das
paulista a partir do Paraná (Fig. 05), rotas de dispersão dos povos Jê do Sul,
num movimento de refluxo. Há al- e ao mesmo tempo onde a destruição
guns relatos dos Kaingang paulistas de sítios é mais acelerada pelo cresci-
sugerindo que seus antepassados ti- mento econômico.
vessem vindo do sul há cerca de 160
anos (Lacerda Franco, 1905 apud Agradecimentos
Freitas, 1910; Quadros, 1892 apud
Agradeço a Tom O. Miller e Pedro I.
Baldus, 1953).
Schmitz pelos comentários extremamen-
Há, porem, a possibilidade de uma te pertinentes. Solange Caldarelli e Eri-
expansão Kaingang anterior ao estabe- ka Robrahn-Gonzalez que gentilmente
lecimento dos outros grupos ceramistas, cederam artigos e material inédito. As
vinda do sul de Minas Gerais, atraves- datações por TL e os trabalhos de cam-
sando o Estado de São Paulo e alcan- po foram gerados durante meu Douto-
çando o Paraná. Desta maneira, os Kai- rado, financiado pelo Projeto Paranapa-
apó Meridionais teriam se estabelecido
nema, sob a coordenação de José Luiz
na área que serviu de corredor de ex-
de Morais, do MAE/USP. As opiniões aqui
pansão, e os grupos Tupi do Paranapa-
apresentadas são de minha inteira res-
nema teriam cortado o contato entre os
ponsabilidade, bem como eventuais in-
Kaingang do oeste paulista e os do Pa-
correções.
raná.

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A tradição cerâmica Itararé-Taquara: características, área de ocorrência e algumas hipóteses sobre a expansão dos
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Araújo, A. G. M.

Fig. 01 - Área de distribuição da cerâmica Itararé-Ta-


quara, tradicionalmente reconhecida na bibliografia ar-
queológica. O limite norte da distribuição é inferido.

Fig. 02 - Prováveis rotas de expansão de grupos Jê


no rumo sul, conforme a dsitribuição de cerâmicas
Una e Itararé-Taquara.

34 Revista de Arqueologia, 20: 09-38, 2007


A tradição cerâmica Itararé-Taquara: características, área de ocorrência e algumas hipóteses sobre a expansão dos
grupos Jê no sudeste do Brasil

Fig. 03 - Sítios arqueológicos atribuíveis à Tradição Itararé-Taquara existentes no Estado de São Paulo.

Fig. 04 - Possíveis rotas de expansão de grupos Jê no rumo sul, passando por SP. As setas escuras se
baseiam em evidências mais fortes. As setas claras assinalam rumos sugeridos, mas que dependem de
mais dados. Neste cenário, o norte do estado já estaria sendo ocupado pelos Kaiapó Meridionais

Revista de Arqueologia, 20: 09-38, 2007 35


Araújo, A. G. M.

Fig. 05 - Modelo de expansão Jê do Sul (setas cinza) anterior ao estabeleci-


mento de outros grupos, portadores de cerâmica Aratu e Tupiguarani. As linhas
pontilhadas apresentam os limites aproximados ou inferidos da ocorrência dos
diversos tipos de cerâmica. As setas negras indicamum possível refluxo da
expansão de grupos Jê do Sul, que teria ocorrido após o século XVII.

Tabela 1 – Aspectos das diferentes fases dentro das Tradições Itararé,


Casa de Pedra e Taquara
Estado/ Atributos da Casas Subterrâneas Estruturas de terra
Tradição/Fase Cerâmica
PR/SP/ Itararé/ Fina, maior parte Ausentes. Ausentes.
Itararé simples, vasos
pequenos.
PR/Itararé/ Fina, simples, raro Presentes. Montículos, estruturas
Açungui engobo vermelho lineares.
PR/Itararé/ Fina, maior parte Presentes. Montículos elípticos.
Catanduva simples, vasos
pequenos.
PR/Itararé/ Fina, maior parte Presentes. Ausentes.
Candói simples, vasos peqs.
PR/Itararé/ Xagu Fina, até 36 % Ausentes. Ausentes.
decorada, vasos peq.
PR/Itararé/ Fina, maior parte Presentes. Montículos circulares,
Cantu simples, vasos peqs. estruturas lineares.
PR/Itararé/ Fina, maior parte Ausentes. Ausentes.
Pacitá " simples, vasos peqs.
PR/ Casa de Fina, simples, bem Ausentes. Ausentes.
Pedra / Casa de alisada, vasos peqs.
Pedra
SC/Taquara/ Fina, maior parte Ausentes. Ausentes.
Itapiranga simples, vasos peqs.
RS / Taquara / Fina, maior parte Presentes. Montículos circulares e
Guatambu simples, vasos peqs. elípticos, estruturas
lineares.
RS/Taquara/ Fina, maior parte Presentes. Montículos, galerias
Taquara decorada, vasos peqs. subterrâneas.
RS/Taquara/ Fina, maior parte Presentes. Montículos elípticos,
Erveiras decorada, vasos peq. galerias subterrâneas.
RS/Taquara/ Fina, maior parte Presentes. Montículos circulares,
Guabiju simples, vasos peqs. estruturas lineares.
RS/Taquara Fina, maior parte Ausentes (?). Ausentes (?).
/Taquaruçu " simples, vasos peqs.
RS/Taquara/ Fina, tanto simples Ausentes (?). Ausentes (?).
Giruá " como decorada, vasos
peqs..
RS/SC/Taquara/ Fina, maior parte Ausentes (?). Ausentes (?).
Xaxim " simples, vasos peqs.
♦ Fase definida com base em 4 sítios. ♠ Fase definida com base em 2 sítios.
♣ Fase definida com base em 4 sítios. ⊗ Fase definida com base em 3 sítios.

36 Revista de Arqueologia, 20: 09-38, 2007


A tradição cerâmica Itararé-Taquara: características, área de ocorrência e algumas hipóteses sobre a expansão dos
grupos Jê no sudeste do Brasil

Tabela 2 – Cronologia das Tradições Itararé, Casa de Pedra e Taquara

Idade Desv. Idade Correção Desv.


Fase /Sítio (Estado) No. publicada Padrão C14 Hem. Sul Padrão Cal aC/AD
amostra (AD) (AP) (AP)
(" ) (" )
AD 241
Guatambu (RS) SI-813 140 85 1810 1786 85
RS-S-359 SI-2344 1740 1716 65 AD 264, 273, 339
RS-S-328 SI-2345 1655 1631 65 AD 421
Guatambu (RS) SI-810 865 75 1085 1061 75 AD 990
Guatambu (RS) SI-812 1000 80 950 926 80 AD 1044, 1089, 1121
Guatambu (RS) SI-2343 1250 60 700 676 60 AD 1296
Taquara (RS) SI-607 430 90 1520 1496 90 AD 564,572,577
Taquara (RS) SI-805 435 105 1515 1491 105 AD 598
Taquara (RS) SI-603 470 70 1480 1456 70 AD 617
Taquara (RS) SI-806 565 95 1385 1361 95 AD 661
Taquara (RS) SI-414 570 110 1380 1356 110 AD 662
Taquara (RS) SI-605 620 100 1330 1306 100 AD 687
Taquara (RS) SI-601 650 70 1300 1276 70 AD 694, 697, 717
Taquara (RS) SI-409 760 100 1190 1166 100 AD 888
Taquara (RS) SI-602 810 40 1140 1116 40 AD 900, 919, 959
Taquara (RS) SI-808 980 95 970 946 95 AD 1038, 1143, 1149
Taquara (RS) SI-606 1110 60 840 816 60 AD 1222
Taquara (RS) SI-604 1320 70 630 606 70 AD 1325, 1348, 1391
Taquara (RS) SI-1201 1320 205 630 606 205 AD 1325, 1348, 1391
Taquara (RS) SI-608 1330 90 620 596 90 AD 1328, 1345, 1394
Erveiras (RS) SI-4066 1035 145 915 891 145 AD 1161
Guabiju (RS) SI- 6563 1300 55 650 626 55 AD 1305, 1366, 1386
Guabiju (RS) SI-6561 1315 45 635 611 45 AD 1322, 1350, 1390
Guabiju (RS) SI-6558 1485 40 465 441 40 AD 1442
Guabiju (RS) SI-6562 1530 55 420 396 55 AD 1472
Guabiju (RS) SI-6556 1560 50 390 366 50 AD 1488
Guabiju (RS) SI-6559 1595 50 355 331 50 AD 1522, 1576, 1626
Taquaruçu (RS) SI-598 1120 60 830 806 60 AD 1225, 1226, 1243
Taquaruçu (RS) SI-599 1790 70 160 136 70 AD 1686, 1731, 1809
Giruá (RS) SI-600 1550 100 400 376 100 AD 1483
SC-CL-? (SC) SI-811 1920 1896 50 AD 88, 100, 125
Xaxim(SC) SI-825 975 95 975 951 95 AD 1037, 1144, 1148
Xaxim (SC) SI-597 1620 90 330 306 90 AD 1533, 1541, 1636
Forte Mal. Luz (SC) MI-1202 1070 100 880 856 100 AD 1194, 1197, 1210
Base Aérea (SC) SI-243 1150 70 800 776 70 AD 1264
SC-IÇ-01 (SC) Beta 72196 1580 1556 60 AD 535
SC-IÇ-01 (SC) Beta 72197 1470 1446 60 AD 621, 631, 636
Praia da Tapera ( SC) SI-245 810 180 1140 1116 180 AD 900, 919, 959
Praia da Tapera (SC) SI-246 920 180 1030 1006 180 AD 1020
PR-UV-12 (PR) SI-892 810 786 90 AD 1261
Casa de Pedra (PR) SI-141 1150 50 800 776 50 AD 1264
PR-UV-11 (PR) SI-1010 680 656 70 AD 1300, 1374, 1377
Catanduva (PR) SI-691 1345 120 605 581 120 AD 1331, 1340, 1398
Catanduva (PR) SI-692 1695 100 255 231 100 AD 1659
Candói (PR) SI-2197 475 65 1475 1451 65 AD 619, 634, 635
Cantu (PR) SI-2193 1105 100 845 821 100 AD 1221
Cantu (PR) SI-2194 1215 95 735 711 95 AD 1286
Cantu (PR) SI-2192 1480 95 470 446 95 AD 1441
Proj. Passaúna (PR) Beta 22644 1102 70 848 824 70 AD 1220
Proj. Passaúna (PR) Beta 22646 1492 50 458 434 50 AD 1444
Sítio BS-19 (SP) GIF-10040 1355 50 595 571 50 AD 1334, 1337, 1400
Torre de Pedra (SP) GIF-10041 1680 60 270 246 60 AD 1654
Areia Branca 5 (SP) Beta 24751 - - 880 856 60 AD 1194, 1197, 1210
Areia Branca 5 (SP) LVD 297 - - 830 70 AD 1100 – AD 1240
(TL)
Areia Branca 6 (SP) Beta 24752 - - 1430 1406 60 AD 648
Areia Branca 6 (SP) Beta 35824 - - 1530 1506 40 AD 545 – AD 560

Datas retiradas de De Blasis (1996; com. pessoal, 1999); Chmyz (1980);


Mentz Ribeiro (1985); Noelli (2000a); Schmitz (1988); Schmitz & Brochado
(1981); Sganzerla et al.(1996) e calibradas de acordo com Stuiver & Reimer
(1998a,b).

Revista de Arqueologia, 20: 09-38, 2007 37


Kipnis, R.; Caldarelli, S. B.; Oliveira, W. C.

Tabela 3: Datações obtidas para o Alto Taquari (Araujo, 2001).

38 Revista de Arqueologia, 20: 09-38, 2007

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