Inicial - Débora de Jesus Conceição

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE UMA DAS VARAS CIVEIS

DA COMARCA DE SALVADOR/BA

DÉBORA DE JESUS CONCEIÇÃO, brasileira,


inscrita no CPF/MF sob nº 008.736.115-94 e RG nº 0949224626
SSP/BA, residente e domiciliado à 1ª Travessa da Vila Operária nº 04,
Curuzu – Liberdade – Salvador/BA CEP: 40365-805, por seus
advogados e procuradores ao final assinando, com escritório à Avenida
Luiz Viana Filho, nº: 6462, Wall Street Empresarial, Sala 1502,
Paralela, Salvador/BA, CEP: 41730-101, endereço eletrônico:
gabrielbomfimadvogados@outlook.com, vem perante Vossa Excelência
ajuizar a presente AÇÃO DE RESOLUÇÃO CONTRATUAL C/C
RESTITUIÇÃO DO VALOR PAGO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS E PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA em face de
BITTENCOURT SOLUCOES EM CREDITO LTDA (BITTENCOURT &
INVEST BRAZIL), inscrito no CNPJ nº 13.465.303/0001-21, com
endereço situado no CEO Salvador Shopping, no 7° andar, sala 716,
Salvador/BA, CEP: 41820-021 e TAGIDE ADMINISTRADORA DE
CONSORCIOS LTDA, inscrita no CNPJ nº 05.551.841/0001-00,
Rua Senador Manoel Barata 909, Andar 3, Campina, Belém/PA, CEP:
66010-147, pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos.
DOS FATOS E FUNDAMENTOS JURÍDICOS

A requerente possuía um valor investido que seria


utilizado para adquirir o imóvel para moradia junto com sua família.

Na busca pelo imóvel dos seus sonhos, a requerente


se deparou com anúncios da requerida BITTENCOURT & INVEST
BRAZIL e iniciou as tratativas junto a mesma.

A preposta da requerida enviou para requerente


links e fotos de imóveis maravilhosos, de fino acabamento e com
valores muito atrativos, cujos mesmos só poderiam ser visitados após
a requerente aderir a um consórcio junto a requerida TAGIDE
ADMINISTRADORA DE CONSORCIOS LTDA e obter a respectiva
liberação do crédito.
Neste passo, a requerente compareceu até o
escritório da requerida, sendo lá atendida pelo preposto de nome
Zaqueu, o qual afirmou que o imóvel só poderia ser vendido através
da adesão no referido consórcio e que a requerente seria contemplada
rapidamente por ter meios de ofertar um lance alto e que em seguida
conseguiria comprar a casa em questão.

Portanto, a primeira requerida condicionou a


aquisição do imóvel apresentado à adesão de um contrato de
consórcio.

Assim sendo, a requerente aderiu a proposta para


participação em Grupo de Consórcio nº 00900, Cota nº 0656.00,
conforme se vê nos documentos anexos.
A requerente então efetuou o pagamento da taxa de
adesão, bem como iniciou os pagamentos das parcelas.

O primeiro impasse foi o valor das parcelas, haja


vista que a requerida acordou que ficaria por volta de R$500,00
(quinhentos reais), porém, teve que arcar com o valor mensal de R$
850,51 (oitocentos e cinquenta reais e cinquenta e um centavos) até a
data da contemplação.

Para ser contemplada, a requerente efetuou o


pagamento do valor total de R$ 163.368,74 (cento e sessenta e três
mil, trezentos e sessenta e oito reais e setenta e quatro centavos).

Ainda, a requerente foi surpreendida com a


informação de que o suposto imóvel pelo qual entrou no consórcio foi
disponibilizado para outra pessoa, sendo que elas já haviam informado
que o anúncio de venda seria retirado, pois estava reservado para
requerente.
No dia 19 de julho de 2022 o preposto Zaqueu
enviou imóveis totalmente diferente dos ofertados inicialmente, de
modo que a requerente perguntou onde estavam os imóveis
maravilhosos.

Todavia, desde a referida data a requerente não


obteve mais nenhuma satisfação por parte desse funcionário.

No dia 20 de julho de 2022 a requerente


compareceu presencialmente ao escritório da requerida, sendo
atendida pela Sra. Cláudia, que se apresentou como proprietária da
empresa, tendo a mesma alegado que não sabe que o motivo pela qual
os funcionários agiram da forma como agiram, pois não é assim que
ela orienta que seus funcionários trabalhem.

Ademais, prometeu que daria uma solução em 48


horas ou encontraria imóveis parecidos com o imóvel que motivou a
entrada da requerente no consórcio ou que intermediaria o
cancelamento do meu consórcio junto à Tagide para que devolvesse
todos os valores investidos.

Porém, desde a data supra a referida proprietária da


empresa requerida recusa as ligações da requerente.

Atualmente a requerente está com um saldo


devedor de R$ 36.592,54 (trinta e seis mil, quinhentos e noventa e
dois reais e cinquenta e quatro centavos), sendo certo que as parcelas
mensais estão no valor de R$ 206,96 (duzentos e seis reais e noventa
e seis centavos), referente a taxa de serviços e seguro prestamista.
A requerente, por diversas vezes, tentou contato
com a requerida. Porém, em todos os canais de atendimento o
tratamento foi o mesmo, sem nenhum esclarecimento e em total
desrespeito a requerente.

Deve-se, assim, reconhecer a abusividade da


empresa requerida, pois não cumpriu com o dever de transparência,
informação e boa-fé, ao contrário, agiu com dolo.

Sendo assim, ajuíza a presente ação, a fim de


rescindir o contrato de consórcio, bem como se ver ressarcida pelos
prejuízos materiais e morais que sofrera.

DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

DA INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR –


RESCISÃO CONTRATUAL

Diante do conceito de “consumidor” e de


“fornecedor” disciplinado pela Lei n. 8.078/90, evidentemente que o
requerente e as empresas requeridas se enquadram nas definições da
referida lei.

Como já dito, a requerente é cliente ou usuária das


requeridas, se consubstanciando em verdadeira relação de consumo
entre as partes, ao utilizar os serviços prestados pelas mesmas.
A requerida enquadra-se no conceito de
fornecedora, pelo que devem ser aplicadas à hipótese dos autos, as
regras inseridas no Código de Defesa do Consumidor, conforme
estabelece o art. 3º, caput, e §2º, do CDC: Art. 3º: “Fornecedor é
toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividades de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de
serviços”. §2º: “Serviço é qualquer atividade fornecida no
mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de
natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as
decorrentes das relações de caráter trabalhistas.”

O Código de Defesa do Consumidor considera ser


prática abusiva por parte do fornecedor, prevalecer-se da fraqueza ou
ignorância do consumidor para impingir-lhes seus produtos e serviços.

Assim é a redação do artigo 39, inciso IV: “Art. 39


– É vedado ao fornecedor de produtos de produtos ou serviços,
dentre outras práticas abusivas: IV – prevalecer-se da
fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua
idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-
lhe seus produtos ou serviços”.

Assim, a prática da empresa requerida e de seus


representantes, torna-se mais odiosa por vilipendiar o sonho do
requerente e sua família em adquirir um imóvel.
NO ENTANTO, DIVERSAS SÃO AS DECISÕES
JUDICIAIS QUE, VERSAM SOBRE ESSA MODALIDADE DE
NEGOCIAÇÃO “FALSA PROMESSA”, ANULAM O CONTRATO DE
CONSÓRCIO, PROMOVENDO A IMEDIATA DEVOLUÇÃO DE
QUANTIAS PAGAS, SEM COBRANÇA DAS MULTAS
CONTRATUAIS, TAXAS DE ADMINISTRAÇÃO E SEGURO.

Vejamos diversos arestos do E. Tribunal de Justiça de


São Paulo sobre rescisão contratual e restituição de valores de
consórcios:

“CONSÓRCIO – Ação de rescisão contratual


c.c. devolução de quantias pagas – Alegada
aquisição de seis cotas de consórcio de imóvel
em virtude de falsa promessa de
contemplação, no prazo de 60 dias, após a
assinatura dos contratos – Prova documental
inequívoca das alegações da autora de que
houve a falsa promessa de contemplação em
curto prazo – Legítimas expectativas da
consumidora frustradas com as falsas
promessas das rés relativamente a elementos
essenciais do contrato de consórcio - Defeito
de informação que macula o elemento volitivo
do contrato – Anulação do consórcio e
determinação para devolução simples e
imediata dos valores pagos, sem qualquer
retenção por parte da administradora de
consórcios – Procedência decretada nesta
instância ad quem – Recurso provido”. (TJSP,
APEL. Nº: 1013206-94.2019.8.26.0003, Relator
Correia Lima, D.J 27/06/2020)”.

“(...)CONSÓRCIO RESCISÃO CONTRATUAL E


RESTITUIÇÃO DE VALORES. Pedido de
restituição que não está amparado em
desistência ou exclusão de consorciado.
Propaganda enganosa veiculada por preposto
da apelante. Promessa de venda de carta de
crédito contemplada. Relação de consumo.
Alegações verossímeis. Violação ao direito de
informação evidenciada. DANO MORAL
perturbação ao estado de espírito do apelado
que se mostrou ocorrida situações que
extrapolam o mero aborrecimento e
ingressam no campo do dano moral.(...)”
(TJSP, 12ª Câmara de Direito Privado, Ap 0132055-
57.2010.8.26.0100, Rel. Des. Castro Figliolia,
unânime, j. 04.09.13, destacou-se)

“Consórcio. Ação de reparação de danos.


Promessa de venda de cota consorcial já
contemplada. Responsabilidade objetiva do
empregador pelos atos ilícitos praticados pelo
preposto. Sob a falsa promessa de venda de
cota consorcial já contemplada, o autor foi
vítima do preposto da ré, que responde
objetivamente pelos danos por ele suportados.
(...)” (TJSP, 12ª Câmara de Direito Privado, Ap
0225365-57.2009.8.26.0002,Rel. Des. Sandra
Galhardo Esteves, unânime, j. 04.07.14)

Deve-se, assim, reconhecer a abusividade da


empresa requerida, pois não cumpriu com o dever de transparência,
informação e boa-fé, ao contrário, agiu com dolo ao afirmar a
requerente iria poder adquirir o imóvel apresentado pela mesma.

Desta feita, é perfeitamente aplicável, ao caso em


comento, o Código de Defesa do Consumidor em seu inciso III, artigo
6º, que consagra o “Princípio da Transparência” nas relações de
consumo, sendo assim, o consumidor tem o direito de ser informado
sobre todos os aspectos de serviço ou produto exposto ao consumo,
traduzindo assim no princípio da informação.

Assim requer a anulação do contrato consórcio de


consórcio grupo nº 00900, Cota nº 0656.00, tendo em vista a
abusividade e falta de transparência da empresa requerida.

DOS DANOS MATERIAIS - DA DEVOLUÇÃO DOS VALORES PAGOS

Conforme já aduzido, diante da necessidade na


aquisição de imóvel para moradia junto com sua família, a requerente
iniciou as tratativas com a primeira requerida, que condicionou a
aquisição do imóvel apresentado a adesão de um contrato de
consórcio.
Todavia, a requerente foi surpreendida com a
obstaculização na contemplação do crédito para compra do imóvel
apresentado pela requerida, bem como com a alteração dos termos
acordados, haja vista que foi informada que o imóvel escolhido foi
vendido.

O Código de Defesa do Consumidor considera ser


prática abusiva por parte do fornecedor, prevalecer-se da fraqueza ou
ignorância do consumidor para impingir-lhes seus produtos e serviços.

Atualmente a requerente está com um saldo


devedor de R$ 36.592,54 (trinta e seis mil, quinhentos e noventa e
dois reais e cinquenta e quatro centavos), sendo certo que as parcelas
mensais estão no valor de R$ 206,96 (duzentos e seis reais e noventa
e seis centavos), referente a taxa de serviços e seguro prestamista.

Dessa forma, a requerente faz jus ao ressarcimento


do dano material sofrido, o que se requer, desde já, o reembolso da
taxa de adesão, no importe de R$ 11.300,80 (onze mil e trezentos
reais e oitenta centavos), bem como os valores pagos até o momento
após a contemplação, ou seja, R$ 413,92 (quatrocentos e treze reais
e noventa e dois centavos), além das parcelas vincendas que se
vencerem no curso do processo, valores estes que deverão ser
atualizados e com incidência de juros moratórios desde a data do seu
desembolso.
DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

Por outro lado, a requerente deverá receber


reparação moral pelo evento danoso ocorrido.

A legislação é clara em enfatizar a necessidade de


transparência dos atores de consumo, e impõe as partes o dever de
lealdade recíproca a ser concretizada antes, durante e depois da
relação contratual.

Note Excelência, que tal princípio não foi


aplicado ao caso em epigrafe, agindo a empresa requerida em
total desacordo com a legislação vigente, utilizando-se de
expediente enganoso, iludindo a requerente com a falsa
promessa de um imóvel com excelente estrutura, o qual estava
reservado para ela, de modo a convencê-la a celebrar contrato
de consórcio para adquirir o seu tão sonhado imóvel.

Destaca-se que não se trata de exclusão de


consorciado, nem desistência do consórcio por culpa da requerente,
mas sim de resolução do contrato por defeito de informação da
empresa requerida e seus representantes.

Os danos morais, na definição de Wilson Melo da


Silva “são lesões sofridas pelo sujeito físico ou pessoa natural
de direito em seu patrimônio ideal, entendendo-se por
patrimônio material, o conjunto de tudo aquilo que não seja
suscetível de valor econômico‟, aqueles são chamados „danos
da alma‟, na feliz expressão do Apóstolo João, ou, como
doutrina Yussef Said Cahali “o sofrimento experimentado por
alguém, no corpo ou no espírito, ocasionado por outrem, direta
ou indiretamente”, sendo de Sílvio Rodrigues, a lição de ser o mesmo
“a dor, a mágoa, a tristeza infligida injustamente a outrem”
(Direito Civil, v. I, p. 145), e de Pontes de Miranda, magistral como
sempre, a lição de que “sempre que há dano, isto é, desvantagem
no corpo, na psique, na vida, na saúde, na honra, no nome, no
crédito, no bem-estar ou no patrimônio, nasce o direito a
indenização” (Tratado de Direito Privado, t. XXXI, p. 181) – grifo
nosso.

A nossa carta magna é taxativa ao afirmar em seu


art.5º, inciso X a seguinte redação: “São invioláveis a intimidade,
a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente
de sua violação.”

Não se trata de mero dissabor, aborrecimento,


mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada e que, no dizer de Sérgio
Cavalieri Filho, "fazem parte da normalidade do nosso dia-a-dia,
no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente
familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto
de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo." (in
Responsabilidade Civil", pág. 105).

O dano moral aqui noticiado decorre do próprio fato.

Conforme dito, a requerente possui a


necessidade na rápida aquisição de imóvel para moradia junto
com sua família, haja vista que atualmente está morando de
favor na casa de parentes.

O dano moral é evidente, posto que a


requerente foi enganada pela requerida e pelos seus
representantes, que lhe prometeram a realização da tão
sonhada aquisição do imóvel, tornando-se vítima de pessoas
más intencionadas.

O desejo de realizar um sonho (aquisição de


imóvel) e sair da casa dos parentes é de um enorme
contingente de famílias brasileiras, sendo por demais
frustrante sofrer com tamanho descaso, como já dito
irreparável, mas confortável com a indenização, que deverá ser
fixada em valores que não sejam tão aviltantes
(enriquecimento sem causa) e nem tampouco irrisório servindo
de estímulo para que os apelados reincidam em seus atos.

A indenização deve ser sempre estabelecida em


importância que, dentro de um critério de prudência e razoabilidade,
considere sua natureza punitiva e compensatória. A primeira, como
uma sanção imposta ao ofensor, por meio da diminuição de seu
patrimônio. A segunda, para que o ressarcimento traga uma satisfação
que atenue o dano havido.

Assim já decidiu o STJ: “Na fixação do valor da


condenação por dano moral, deve o julgador atender a certos
critérios, tais como o nível cultural do causador do dano;
condição sócio-econômica do ofensor e do ofendido;
intensidade do dolo ou grau de culpa (se for o caso) do autor
da ofensa; efeitos do dano no psiquismo do ofendido e as
repercussões do fato na comunidade em que vive a vítima.
Ademais, a reparação deve ter fim também pedagógico, de
modo a desestimular a prática de outros ilícitos similares, sem
que sirva, entretanto, a condenação de contributo a
enriquecimento injustificável.” (STJ – 3ª. Turma – Resp nº
355392-RJ, j. 26/03/2002).

Dessa forma, levando-se em conta as circunstâncias


do caso concreto, deve ser arbitrada indenização no valor de R$
30.000,00 (trinta mil reais), quantia suficiente, pois condizente com os
princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

DA TUTELA DE URGÊNCIA

Deverá ser concedida a tutela de urgência incidental,


nos termos do artigo 300 do NCPC.

Os requisitos para concessão da tutela de urgência


incidental estão previstos no artigo 300 do NCPC, quais sejam, a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil
do processo.

Neste sentido ensinam Nelson Nery Junior e Rosa


Maria Andrade Nery (in Código de processo civil comentado e legislação
extravagante processual civil em vigor, 4º edição, São Paulo: Revista
dos Tribunais, p. 911): “A tutela específica pode ser adiantada,
por força do CPC 461 §3° desde que seja relevante o
fundamento da demanda (fumus boni juris) e haja justificado
receio de ineficácia do provimento final (periculum in mora). É
interessante notar que para o adiantamento da tutela de
mérito, na ação condenatória de obrigação de fazer ou não
fazer, a lei exige menos do que para mesma providência na ação
de conhecimento tout court (CPC 273). É suficiente a mera
probabilidade, isto é, a relevância do fundamento da demanda,
para concessão da tutela antecipatória da obrigação de fazer ou
não fazer, ao passo que o CPC 273 exige, para demais
antecipações de mérito: a) a prova inequívoca; b) o
convencimento do juiz acerca da verossimilhança da alegação;
c) ou o periculum in mora (CPC 273 I) ou o abuso do direito de
defesa do réu (CPC 273 II).”

A probabilidade do direito resta devidamente


comprovada, pois a legislação é clara em enfatizar a necessidade de
transparência dos atores de consumo, e impõe as partes o dever de
lealdade recíproca a ser concretizada antes, durante e depois da
relação contratual.

No caso sub judice, a empresa requerida agiu em


total desacordo com a legislação vigente, utilizando-se de expediente
enganoso, iludindo o requerente com a falsa promessa de que o imóvel
apresentado por eles estaria reservado para ela após a adesão do
consórcio, de modo convencê-la a celebrar contrato.

Os elementos probatórios apontam que as


requeridas atuam para captar e convencer as vítimas que assinando o
contrato, receberiam o imóvel apresentado pelas mesmas num prazo
máximo de trinta, sessenta, noventa dias ou seis meses.

É possível concluir que a requerente tem interesse


em rescindir o contrato firmado entre as partes, razão pela qual não é
possível obrigá-la a manter o pagamento das parcelas contratuais
incendas.

Outrossim, resta claro o perigo de dano ou o risco


ao resultado útil do processo, pois na ausência da concessão da medida
liminar, o requerente terá de arcar com as parcelas do contrato (taxas
e seguros), bem como será incluída perante os órgãos de proteção ao
crédito em caso de não pagamento.

Ora, a continuidade do pagamento somente


colocará em risco a lídima e efetiva rescisão do contrato pretendida na
ação, elevando desnecessariamente o montante repassado à
requerida, não obstante a provável ilicitude da contratação, o que
ensejou o desinteresse da requerente no prosseguimento do referido
negócio jurídico.

É certo, d'outro lado, que a medida postulada não e


mostra irreversível, nem sujeita a causar prejuízo irreparável, vez que
repercute apenas na esfera patrimonial, onde possível a reparação.

Casos análogos foram assim conhecidos:


“AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE RESCISÃO
CONTRATUAL C/C INDENIZAÇÃO - CONSÓRCIO - CONTRATO
FRAUDULENTO - TUTELA DE URGÊNCIA - SUSPENSÃO DA
EXIGIBILIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO RESCINDENDO -
PROBABILIDADE DO DIREITO INVOCADO E "PERICULUM IN
MORA" - VERIFICAÇÃO - DEFERIMENTO. I- Segundo o art. 300,
"caput", do CPC, são requisitos gerais para a concessão de
tutela provisória de urgência a probabilidade do direito e o
perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo; III- Se
os elementos até então constantes dos autos evidenciam a
probabilidade do direito invocado e o "periculum in mora",
mostrando-se provável que o negócio controvertido tenha se
dado mediante fraude, deve ser deferida a tutela provisória de
urgência atinente à suspensão da exigibilidade do consórcio
rescindendo”. (TJMG - Agravo de Instrumento-
Cv 1.0000.19.153849-5/001, Relator(a): Des.(a) João Cancio , 18ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 10/12/2019, publicação da súmula em
10/12/2019)

“AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO ORDINÁRIA - CONTRATO


DE CONSÓRCIO - TUTELA ANTECIPADA - SUSPENSÃO DOS
DESCONTOS DAS PARCELAS VINCENDAS - POSSIBILIDADE -
PRESENÇA DOS REQUISITOS LEGAIS DO FUMUS BONI IURIS E
PERICULUM IN MORA - RECURSO PROVIDO. Estando a relação
sub judice, tem-se a presença da plausibilidade do direito do
agravante e o perigo de dano de difícil e incerta reparação
advindo da continuidade da cobrança das parcelas do consórcio
sem a contraprestação do fornecedor. Presentes os requisitos
legais do fumus boni iuris e do periculum in mora, é devida a
suspensão da cobrança das parcelas do contrato de consórcio.
Recurso conhecido e provido”. (TJMG - Agravo de Instrumento-Cv
1.0105.15.022548-7/001, Relator(a): Des.(a) Newton Teixeira
Carvalho , 13ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 06/04/2017, publicação
da súmula em 20/04/2017)

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE


RESCISÃO CONTRATUAL C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO E
INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. PEDIDO DE
TUTELA DE URGÊNCIA – REQUISITOS EVIDENCIADOS –
MANIFESTO INTERESSE NA RESCISÃO DO CONTRATO DE
CONSÓRCIO – SUSPENSÃO DO PAGAMENTO DAS PARCELAS
CONTRATUAIS – POSSIBILIDADE. RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO. A concessão de tutela provisória de urgência está
condicionada à probabilidade do direito e ao perigo de dano ou
o risco ao resultado útil do processo (art. 300, do CPC). (Agravo
de Instrumento - Nº 1405299-31.2021.8.12.0000 - Des. Odemilson
Roberto Castro Fassa - Data do julgamento: 31/05/2021)

Portanto, requer a V. Excelência, que determine


liminarmente a suspensão das parcelas relativas ao contrato de
consórcio do grupo nº 00900, Cota nº 0656.00, bem como abstenção
de inclusão do nome da requerente perante os cadastros de
inadimplentes.

DO PEDIDO

Diante do exposto requer:

A) A concessão da TUTELA DE URGÊNCIA para


determinar a SUSPENSÃO das parcelas relativas ao contrato de
consórcio de grupo nº 00900, Cota nº 0656.00, bem como ABSTENÇÃO
de inclusão do nome da requerente perante os cadastros de
inadimplentes;

B) Confirmação da tutela de urgência com a


resolução do contrato de consórcio grupo nº 00900, Cota nº 0656.00,
no valor de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais);

C) Condenação da requerida a restituir o valor da


taxa de adesão, no importe de R$ 11.300,80 (onze mil e trezentos
reais e oitenta centavos), bem como os valores pagos até o
momento após a contemplação, ou seja, R$ 413,92 (quatrocentos
e treze reais e noventa e dois centavos), além das parcelas
vincendas que se vencerem no curso do processo, valores estes que
deverão ser atualizados e com incidência de juros moratórios desde a
data do seu desembolso.

D) Condenação da requerida ao pagamento de


danos morais no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais);

E) A citação da empresa requerida, para que,


querendo, conteste a ação, sob pena de ser-lhe imputada a pena de
revelia;

F) Protesta ainda provar o alegado por todos os


meios de prova em direito admitidos, mormente aquelas de ordem
documental e testemunhal;
G) A requerida deve arcar com o pagamento das
custas e despesas processuais, bem como honorários advocatícios, a
ser arbitrado por Vossa Excelência;

H) Reconhecimento da relação de consumo e


inversão do ônus da prova, nos termos do artigo 6º VIII do Código de
Defesa do Consumidor;

I) A concessão do benefício da gratuidade


financeira, haja vista a impossibilidade de arcar com as custas e
despesas processuais sem prejuízo do seu sustento, bem como da
sua família.

J) A requerente não se opõe a realização de


audiência de conciliação ou mediação, nos termos do artigo 319 inciso
VII do NCPC.

Dá-se à presente o valor de 41.714,72 (quarenta e


um mil, setecentos e quatorze reais e setenta e dois centavos).

Nestes termos,
Pede deferimento.
Salvador, 28 de julho de 2022.

GABRIEL DA CUNHA BOMFIM


OAB/BA 33.864

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