Ficha - Nossa Gente
Ficha - Nossa Gente
Ficha - Nossa Gente
e Alberto Torres
<<Quanto ao português, diz elle, que nossa ironía nos habituou a ver
como um typo bisonho – figura de facto extravagante e bizzara, por
força do contraste que resulta do singular estabelecimento do homem
do campo europeu, analphabeto e rude, no commercio e nas
industrias urbanas – nenhuma raça deu jamais melhores provas de
energia, de intelligencia e de coragem nos mais arrojados
emprenhendimentos, poucas se lhe avantajaram na cultura e na
producção literaria, e muito raras possuem, ainda hoje, povo mais
sóbrio, mais trabalhador, mais honesto, de mais candida alma e
sensibilidade moral mais delicada. >> (REVISTA DO ENSINO, 1918, p.
100).
A influência radical do Manuel Bonfim possa ser sentido neste texto, como em
outra publicada em edição posterior do mesmo ano, ao comparar a conduta da
colônia brasileira com a norte-americana:
Ha, ainda hoje, uma tendencia parasitaria em nossa conducta e uma
certa imprevidencia decorrente da confiança que nos inspiram a
protecção dos governos e o amparo dos paes, parente, amigos e
simples conhecidos – parasitismo e imprevidencia que nos fazem
descurar de nossa preparação para a vida. Não assim com os
americanos do norte: entre elles cada homem prepara-se para ser
independente e viver sem o apoio dos governantes e sem o auxilio de
quem quer que seja […] (REVISTA DO ENSINO, 1918, p. 101).
A definição que Toledo oferece sobre o tipo mulato vale ser reproduzido na
integra:
O multato é um typo de transição, que não consitiue raça e que, por
todas as razões, procura approximar-se do branco. É de notavel
belleza physica, ama a ostentação, não tem aptidões commerciaes e
não é trabalhador agricola, que se diga bom. Intelligente, o mulato
revela invejavel capacidade artistica e scientifica; na política, muito se
tem notabilizado. Uma legião de patricios nossos, de que o paiz se
gloria, provariam este asserto: seria longo entretanto enumerál-os
(REVISTA DO ENSINO, 1918, p. 103).
Notando que a maioria dos imigrantes são da raça branca, que seriam raras
famílias sem um estrangeiro Toledo afirme que o país só tenha o que ganhar do
ponto de vista étnico. No entanto, do ponto de vista da alma nacional, o risco de uma
cosmopolitismo frouxo exista:
As cracterísticas de povo – língua tradições, costumes,
sentimento-patrio soffrem a acção solapante de outra língua, outras
tradições, outros costumes e do amor por outras patrias. Isto com o
tempo, não mudará completamente nossa feição? Não corremos o
perigo de ser assimilados em vez de assimilarmos? - Não,
respondemos resolutamente, uma vez que desejamos agir de
accôrdo com a razão e o bom senso (REVISTA DO ENSINO, 1918, p.
109).
Com o eventual desaparecimento dos negros e índios, e o fluxo dos
imigrantes brancos para o Brasil Toledo acredita que a unidade racial e, portanto, da
pátria estariam assegurada. Restaria garantir que as gerações novas descendente
de imigrantes se apegam a nação brasileira, e que maior integração do interior do
país ocorra.