Ciclo Das Relações Patógeno-Hospedeiro
Ciclo Das Relações Patógeno-Hospedeiro
Ciclo Das Relações Patógeno-Hospedeiro
SOBREVIVÊNCIA
A sobrevivência do inóculo é considerada a primeira fase do ciclo das relações,
pois o início do ciclo primário depende da fonte de inóculo. Essa fase é de extrema
importância porque assegura a perpetuação do patógeno frente a condições
desfavoráveis ao seu desenvolvimento, garantindo que o patógeno suporte longos
períodos de tempo na ausência dos tecidos do hospedeiro, por meio de estratégias de
sobrevivência, como a formação de estruturas especializadas de resistência,
atividades saprofíticas e sobrevivência em plantas hospedeiras e em vetores.
No caso de estruturas especializadas de resistência, a sobrevivência é do tipo
passiva e apenas fungos, oomicetos e nematoides as desenvolvem. Geralmente são
as estruturas reprodutivas do patógeno (como teliósporos, ascocarpos, oósporos,
escleródios e clamidósporos), à exceção dos nematoides, aos quais a sobrevivência é
garantida mediante a adaptação de fases do ciclo de vida, como a dormência de ovos
de Meloidogyne spp., e encistamento do corpo com ovos, de fêmeas dos gêneros
Heterodera e Globodera.
Já a sobrevivência por meio de atividades saprofíticas indica que o
metabolismo do patógeno continua ativo, ou seja, a sobrevivência é ativa, ocorrendo
mediante a colonização de restos culturais ou mesmo a solução do solo. Nessa
categoria estão os patógenos que causam podridões de órgãos de reserva
(Pectobacterium sp.), podridão de raízes (Rhizoctonia sp.), murchas vasculares
(Fusarium sp., Ralstonia sp.) e manchas foliares (Alternaria sp., Pseudomonas sp.).
Contudo, a sua capacidade e efetividade de sobrevivência em restos culturais está
diretamente ligada ao ambiente a que os patógenos são expostos, bem como à sua
capacidade competitiva, na ausência do hospedeiro principal.
A sobrevivência em plantas hospedeiras está relacionada a parasitas
obrigatórios, ou seja, aqueles que necessitam do hospedeiro vivo para completar seu
ciclo de vida. É o caso de fungos causadores de ferrugens e oídios, de oomicetos
causadores de míldios, algumas bactérias como Candidatus liberibacter
(Huanglongbing dos citros), vírus e viroides e fitoplasmas e espiroplasmas.
Por fim, a sobrevivência por meio de vetores está associada principalmente a
vírus e viroides. Os vetores transportam os patógenos durante o ciclo da cultura
hospedeira, contribuindo para sua disseminação, ou os armazenam em seu
organismo, contribuindo para a sobrevivência.
DISSEMINAÇÃO
A disseminação do inóculo consiste do movimento do patógeno de um lugar
para o outro e pelo incremento da doença no campo. Essa etapa envolve três
processos básicos, que ocorrem na seguinte ordem: liberação, dispersão e
deposição do inóculo.
A liberação é a remoção do microrganismo patogênico do local onde ele foi
produzido, podendo ser ativa (quando o próprio patógeno fornece a energia
necessária para se desprender do local em que foi produzido) ou passiva (quando
envolve uma ação mecânica externa, como impactos e vibrações bruscas entre folhas
e outras partes da planta, vento, chuva ou orvalho).
A dispersão, por sua vez, é o transporte do patógeno do local onde foi
produzido, até a sua deposição na superfície suscetível da planta, podendo atravessar
curtas ou longas distâncias por meio do transporte pelo ar, água, homem, insetos
vetores, etc.
Por fim, a deposição significa que o patógeno fez seu primeiro contato com os
tecidos do hospedeiro e pode ocorrer por sedimentação, impacto, turbulência e
deposição pela chuva.
Formas de disseminação: vento, impacto da gota de água, água de irrigação,
insetos, sementes contaminadas, animais, botas, ferramentas de poda (tesouras,
canivete, etc), implementos agrícolas.
INFECÇÃO
A infecção é o início da patogênese, inicia com os fenômenos da pré-
penetração e finaliza com o estabelecimento das relações parasitárias estáveis entre
patógeno e hospedeiro. Contudo, antes da penetração ocorre a ativação de
mecanismos de pré-penetração, como o movimento direcionado do patógeno em
relação ao hospedeiro (tatismo) e o seu crescimento e desenvolvimento sobre o
hospedeiro. Após a pré-penetração, os patógenos penetram os hospedeiros por três
vias diferentes:
Penetração direta pela superfície do hospedeiro: nesse caso, os patógenos
precisam vencer e ultrapassar as barreiras naturais impostas pelas plantas, como
cutícula e epiderme na parte aérea e periderme em raízes e ramos lenhosos.
Penetração por aberturas naturais: como estômatos, hidatódios, nectários,
estigmas e lenticelas. As aberturas naturais são a principal porta de entrada de fungos
causadores de ferrugens e bactérias em plantas hospedeiras.
Penetração por aberturas naturais: como estômatos, hidatódios, nectários,
estigmas e lenticelas. As aberturas naturais são a principal porta de entrada de fungos
causadores de ferrugens e bactérias em plantas hospedeiras.
Penetração por ferimentos: é a principal porta de entrada para todos os tipos
de patógenos de plantas. Os ferimentos podem ocorrer através da picada de prova de
insetos vetores, abrasão de folhas, ventos fortes, práticas culturais e emissão de
raízes secundárias.
Iniciada a infecção, o estabelecimento das relações parasitárias estáveis marca
o final do processo infecioso, tendo início, então, o parasitismo, por meio da retirada
de nutrientes da planta pelo patógeno. Esse ponto marca a transição entre infecção e
colonização, e o sucesso da infecção resulta no surgimento de sintomas.
COLONIZAÇÃO
A colonização é o momento em que o patógeno inicia a retirada de nutrientes
do hospedeiro e usa várias estratégias para crescer, ocupar novos espaços na planta
e se reproduzir. É durante a penetração e a colonização que os patógenos têm que
vencer as barreiras naturais da planta. Para isso, produzem toxinas e enzimas
extracelulares, como pectinases ou enzimas pectinolíticas, para degradar substâncias
pécticas da lamela média, celulases que degradam celulose, hemicelulases que
degradam hemicelulose e ligninases que degradam a lignina, todas presentes nas
paredes primárias e secundárias dos vegetais. Durante a colonização, também são
estabelecidas as relações nutricionais entre o patógeno e o hospedeiro, em que os
patógenos são classificados em:
a) Biotróficos: alimentam-se dos tecidos vivos da planta. Ex: vírus, viroides,
fitoplasmas, algumas bactérias, ferrugem, óidios, míldios e carvões.
b) Hemibiotróficos: infectam o hospedeiro como biotróficos, mas colonizam
como necrotróficos. Ex: espécies de Colletotrichum.
c) Necrotróficos: alimentam-se de tecidos mortos da planta. Ex: Penicillium,
Aspergillus, Rhizopus.
REPRODUÇÃO
Por fim, a reprodução é a fase em que ocorre a produção de inóculo pelo
patógeno, podendo ser tanto no interior quanto no exterior do hospedeiro. Alguns
patógenos se reproduzem apenas no interior do hospedeiro (vírus e viróides), porém a
maioria dos patógenos fúngicos e bacterianos se reproduz na superfície do hospedeiro
ou logo abaixo dela, favorecendo a sua posterior disseminação. Além disso, variáveis
ambientais como umidade relativa, período de molhamento foliar, temperatura, luz
(comprimento de onda, presença ou ausência de luz) e estado nutricional do
hospedeiro podem exercer influência na reprodução, dependendo da espécie
fitopatogênica. A formação de estruturas reprodutivas necessita de condições
específicas.