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DEPARTAMENTO DE AGRONOMIA
ÁREA DE FITOSSANIDADE
FUNDAMENTOS
de
Fitopatologia
Recife - PE
2001
fundamentos
de
Fitopatologia
ÍNDICE
Pág.
• Apresentação
• Unidade 1 - Conceito e história da Fitopatologia .......................................... 1
• Unidade 2 - Conceito e importância das doenças de plantas ........................ 5
• Unidade 3 - Classificação de doenças de plantas ......................................... 12
• Unidade 4 - Etiologia e classificação de patógenos ....................................... 17
• Unidade 5 - Sintomatologia de doenças de plantas ...................................... 19
• Unidade 6 - Fungos como agentes de doenças de plantas ............................ 24
• Unidade 7 - Bactérias como agentes de doenças de plantas.......................... 43
• Unidade 8 - Vírus como agentes de doenças de plantas ............................... 52
• Unidade 9 - Nematóides como agentes de doenças de plantas ...................... 61
• Unidade 10 - Outros agentes de doenças de plantas ...................................... 68
• Unidade 11 - Variabilidade de agentes fitopatogênicos ................................... 75
• Unidade 12 - Ciclo das relações patógeno-hospedeiro .................................... 81
• Unidade 13 - Epidemiologia de doenças de plantas ........................................ 89
• Unidade 14 - Princípios gerais de controle de doenças de plantas .................. 102
• Unidade 15 - Controle genético de doenças de plantas ................................... 109
• Unidade 16 - Controle cultural de doenças de plantas ................................... 119
• Unidade 17 - Controle biológico de doenças de plantas .................................. 123
• Unidade 18 - Controle físico de doenças de plantas ....................................... 129
• Unidade 19 - Controle químico de doenças de plantas ................................... 133
APRESENTAÇÃO
Nesta apostila são abordados alguns tópicos relevantes de Fitopatologia, com ênfase
em seus princípios, o objetivo principal da disciplina Fitopatologia I, do Curso de
Graduação em Agronomia, da Universidade Federal Rural de Pernambuco. A meta básica
foi sistematizar as informações disponíveis e compatibilizá-las ao enfoque da disciplina,
procurando auxiliar no processo de ensino-aprendizagem, uma vez que planejamento e a
organização são fundamentais para uma boa aprendizagem.
Unidade 1
o trabalho de Prevost foi refutado pelos que conhecido sobre a transmissão mecânica
defendiam a teoria da geração espontânea. experimental de uma doença causada por vírus. O
Dentro desse espírito, um botânico alemão agente causal do mosaico do fumo era invisível ao
Unger, em 1833, apresentou sua teoria pela qual microscópio comum, filtrável, incapaz de ser
as doenças seriam o resultado de distúrbios cultivado em meio de cultura e a infectividade era
funcionais provenientes de desordens nutricionais destruída quando submetido a uma temperatura
que predispunham os tecidos da planta a de 70 0C por algumas horas.
produzirem fungos, como excrescências que neles Em 1898, Beijerinck foi o primeiro a
se desenvolviam por geração expontânea. Assim, mencionar a expressão "contagium vivum
seriam as doenças que produziam microrganismos fluidum". Ele verificou que uma pequena
e não estes os responsáveis pelas doenças. quantidade de seiva infectada com o mosaico do
fumo era suficiente para inocular varias plantas.
Ele demonstrou que a entidade infecciosa
2.3. Período Etiológico multiplicava-se na planta infectada e chamou de
um vírus em sua publicação. Somente em 1935,
Em 1853, De Bary iniciou este período quando Stanley, no Instituto Rockefeller, verificou que os
propôs serem as doenças de plantas de natureza cristais do vírus do mosaico do fumo não se
parasitária, baseado nos estudos sobre a requeima modificavam após 10 cristalizações sucessivas. As
da batata, provando cientificamente que o fungo moléculas eram grandes e 100 vezes mais
Phytophthora infestans era o agente causal. As infecciosas do que o suco de folhas de fumo
idéias de De Bary revolucionaram os conceitos da infectadas. A princípio ele pensou serem os cristais
época e as suas teorias foram aceitas por nomes constituídos de proteína pura. Hoje sabe-se que as
destacados como Berkeley, Tulasne, Kühn e partículas de vírus são constituídas de uma capa
outros. Nos anos subsequentes aos trabalhos de protéica contendo ácido ribonucleico (RNA) nas
De Bary, os fitopatologistas se dedicaram em plantas e alguns animais, e ácido
provar a natureza parasitária das doenças. desoxiribonucleico (DNA) em bacteriofagos e na
Em 1860, Pasteur destrói a teoria da geração maioria das viroses de animais. Embora fora deste
espontânea, iniciando o período áureo da período, mas apenas como ilustração, em 1971,
Microbiologia e provando a origem bacteriana de um novo grupo de patógenos foi determinado por
várias doenças em homens e animais. As técnicas Diener, os viróides, os quais são pequenas
de esterilização, isolamento e purificação de moléculas de RNA sem proteção protéica.
microrganismos utilizadas por Pasteur Ainda em 1868, dois franceses, Nocard e Roux
favoreceram, em muito, as pesquisas isolaram e cultivaram micoplasma, agente da
fitopatológicas. pleuropneumonia bovina, em meio de cultura. Em
Em 1870, o alemão Draenert constatou no 1967, Doi e Ishii, no Japão, observaram este tipo
Nordeste do Brasil a primeira bacteriose de planta, de organismo no floema de plantas infectadas com
conhecida como gomose da cana-de-açúcar. Por doenças transmitidas por cigarrinhas. Eles
falta de divulgação, visto somente ter sido também demonstraram que estes sintomas
noticiado no "Jornal da Bahia", a ciência atribuiu a regrediam quando tetraciclina era aplicada. Muitas
Burril, em 1877, o primeiro relato sobre bacteriose das doenças causadas por organismos tipo
de plantas. Este mostrou que o crestamento da micoplasmas eram antes tidas como causadas por
macieira e pereira era induzido por uma bactéria, vírus.
hoje denominada Erwinia amylovora. Com relação aos nematóides, Berkeley, em
Posteriormente, em 1890, Smith provou que varias 1855, descobriu que as galhas existentes nas
doenças de plantas eram causadas por bactérias, raízes de plantas de pepino eram causadas por
incluindo a murcha das solanáceas e estes organismos. Posteriormente, Goeldi, em
cucurbitáceas. 1887, criou o gênero Meloidogyne para conter uma
Em 1874, Koch estabelece seus postulados, há espécie que atacava café, denominada M. exígua.
anos enunciados por Herle. Através deles torna-se Este gênero foi revalidado em 1949 por Chitwood,
possível provar, experimentalmente, a para conter as espécies formadoras de galhas.
patogenicidade dos microrganismos. Koch Porem, Cobb, um zoólogo norte-americano, com
aperfeiçoou ainda as técnicas de isolamento de seus estudos sobre taxonomia, morfologia e
microrganismos e adotou os meios de cultura metodologia, é considerado o grande propulsor da
sólidos para cultivo de fungos e bactérias. Assim, a Fitonematologia. Hoje a Nematologia constitui uma
Fitopatologia aos poucos marca notáveis disciplina importante, abrangendo varias espécies
progressos, iniciando-se como ciência. A maioria pertencentes a diferentes gêneros. Atualmente,
das doenças importantes são descritas neste sabe-se da existência de complexos de doenças
período, como os oídios, míldios, ferrugens e formados pela presença de nematóides
carvões. fitoparasitas em combinação com fungos,
As doenças de vírus foram estudadas por bactérias, vírus e outros nematóides. Estas
muitos anos, antes de ser conhecida sua natureza. interações aumentam a severidade das doenças,
Mayer, em 1886, publicou um relato sobre uma tornando-as mais destrutivas.
doença do fumo que ele chamou de "mosaico". Ainda no período etiológico, foi formulado o
Mayer descobriu que quando macerava o tecido de primeiro fungicida eficiente no controle das
uma folha doente e injetava o suco na folha sadia, doenças de plantas, a calda bordalesa, por
a planta mostrava sintomas típicos da doença 10 Millardet, na França, em 1882.
dias após a inoculação. Este foi o primeiro registro
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 3
BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H. História da LUCAS, G.B.; CAMPBELL, C.L.; LUCAS, L.T. History of
fitopatologia. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; plant pathology. In: LUCAS, G.B.; CAMPBELL, C.L.;
AMORIM, L. (Eds.). Manual de fitopatologia: LUCAS, L.T. Introduction to plant diseases:
princípios e conceitos. 3. ed. São Paulo: Agronômica identification and management. 2 nd ed. New York:
Ceres, 1995. v.1, p.1-12. Van Nostrand Reinhold, 1992. p.15-19.
CUPERTINO, F.P. História da fitopatologia brasileira. PONTE, J.J. Fitopatologia, seus objetivos e evolução. In:
Revisão Anual de Patologia de Plantas, Passo PONTE, J.J. Fitopatologia: princípios e aplicações.
Fundo, v.1, p.1-31, 1993. 2. ed. São Paulo: Nobel, 1986. p.27-36.
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 5
Unidade 2
Stakman & Harrar (1957): “Doença de planta é Dentre as causas de natureza não infecciosa
uma desordem fisiológica ou anormalidade destacam-se as condições desfavoráveis do
estrutural deletéria à planta ou para alguma de ambiente (temperatura excessivamente baixa ou
suas partes ou produtos, ou que reduza seu valor alta, deficiência ou excesso de umidade, deficiência
econômico”. ou excesso de luz, deficiência de oxigênio, poluição
do ar), as deficiências e/ou desequilíbrios
Horsfall & Diamond (1959): “Doença não é uma nutricionais e o efeito de fatores químicos.
condição (...). Condição é um complexo de
sintomas (...). Doença não é o patógeno (...).
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Patógeno
Hospedeiro Ambiente
Figura 2. Representação clássica dos fatores que interagem para a ocorrência de doenças em plantas.
A interação dos três fatores é essencial para a maior ou menor, dependendo de outros fatores
ocorrência de doenças em plantas. Entretanto, a dentro de cada um dos três componentes dos
severidade das doenças infecciosas poderá ser vértices do triângulo.
2. TIPOLOGIA DE DANOS
As doenças de plantas são importantes para o Por exemplo, as manchas, sarnas, pústulas e
homem devido a causarem danos às plantas e seus outras infecções em frutos, hortaliças e plantas
produtos, bem como por influenciarem direta ou ornamentais, podem ter muito pouco efeito sobre a
indiretamente na rentabilidade do empreendimento quantidade produzida, entretanto, a qualidade
agrícola. inferior do produto poder reduzir drasticamente
seu valor de mercado, podendo chegar à perda
• Doenças de plantas podem limitar os tipos ou total.
variedades de plantas que podem desenvolver
em determinada área geográfica, ao destruir as • Doenças de plantas podem tornar as plantas
plantas de certas espécies ou variedades que são venenosas ao homem e animais. Algumas
muito suscetíveis a uma doença em particular. As doenças, como o esporão do centeio e do trigo
doenças de plantas podem também determinar o causado pelo fungo Claviceps purpurea, podem
tipo de indústria agrícola e o nível de desemprego tornar os produtos vegetais inadequados para
de uma determinada zona ao influir sobre o tipo e consumo humano ou animal pela contaminação
quantidade de produtos disponíveis para seu com estruturas de frutificação venenosas. Muitos
processamento e embalagem. Por outro lado, as grãos e algumas outras sementes são
doenças de plantas são responsáveis pela criação freqüentemente contaminados ou infectados com
de novas indústrias que produzem agrotóxicos, um ou mais fungos que produzem compostos
máquinas e desenvolvem métodos para o controle altamente tóxicos conhecidos como micotoxinas. O
de doenças. consumo desses produtos pelo homem ou animais
pode levar ao desenvolvimento de sérias doenças
• Doenças de plantas reduzem a quantidade e a de órgãos internos e do sistema nervoso.
qualidade dos produtos vegetais, cujas perdas
variam com a espécie de planta ou os produtos • Doenças de plantas podem causar perdas
obtidos desta, o agente patogênico, o local, o meio econômicas. Os agricultores podem incorrer em
ambiente, as medidas de controle adotadas e a perdas financeiras devido a doenças de plantas
combinação desses fatores. A quantidade de quando necessitam produzir variedades ou
perdas varia de percentagens mínimas até 100%. espécies vegetais resistentes às doenças que são
As plantas e/ou seus produtos podem ser menos produtivas, com maior custo ou
reduzidos quantitativamente devido a doenças no comercialmente menos aceitáveis que outras
campo, como acontece com a maioria das doenças variedades, bem como quando necessitam efetuar
de plantas, ou por doenças durante a pulverizações ou adotarem outras medidas de
armazenagem, como é o caso de podridões de controle das doenças, originando gastos com
frutos, hortaliças e sementes. Algumas vezes, a agrotóxicos, máquinas, espaço para armazenagem
destruição por doenças de algumas plantas ou dos produtos e trabalho. Quando os produtos são
frutos é compensada pelo grande desenvolvimento abundantes e os preços estão baixos, a limitação
ou rendimento de plantas remanescentes ou frutos de tempo durante o qual esses produtos podem ser
como resultado da reduzida competição. mantidos frescos e sadios leva à necessidade da
Freqüentemente, a diminuição da qualidade dos venda em curto espaço de tempo. A separação de
produtos vegetais resultam em perdas notáveis. produtos vegetais sadios e doentes, evitando a
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↓ ↓ ↓
Ausência Medidas Danos Danos
Indiretos Diretos
↓
↓ ↓
Danos Danos Secundários
Primários
Dano potencial se refere ao dano que pode produtos vegetais devidos às doenças. Esses danos
ocorrer na ausência de medidas de controle, podem ser na quantidade ou na qualidade do
enquanto dano real se refere ao dano que já produto, fatores que tem importância variável
ocorreu ou que ainda está ocorrendo e divide-se dependendo do tipo de produto e do poder de
em dois grupos: dano indireto e dano direto. Danos compra dos consumidores. Devem ser incluídos
indiretos compreendem os efeitos econômicos e também os prejuízos representados pelos custos do
sociais das doenças de plantas que estão além do controle das doenças e pela necessidade, em
impacto agronômico imediato, podendo ocasionar algumas situações, do plantio de culturas ou
danos ao nível do produtor, da comunidade rural, variedades menos rentáveis. Danos secundários
do consumidor, do Estado e do ambiente. Danos são os danos na capacidade futura de produção
diretos são os que incidem na quantidade ou causadas pelas doenças, sendo comuns quando o
qualidade do produto ou, ainda, na capacidade patógeno é veiculado pelo solo ou disseminado por
futura de produção, dividindo-se em dois grupos: órgãos de propagação vegetativa de seu
danos primários e danos secundários. Danos hospedeiro.
primários são os danos de pré e pós-colheita de
Tabela 1. Perdas estimadas de produção agrícola devido a doenças de plantas em países desenvolvidos e
em desenvolvimento, safra 1993 [adaptado de Agrios (1997)].
* np = não produzido.
estados produtores de Iowa e Illinois e, 15 dias ocorrência conhecida nos estados do Nordeste
depois, em todos os estados do nordeste brasileiro desde 1937, chegando em São Paulo
americano, resultando na destruição de 15% da somente em 1958. A variedade IAC-12, altamente
produção americana e numa grande elevação dos produtiva, mostrou-se muito suscetível à doença,
preços a nível mundial. sendo necessária a substituição dos plantios por
variedades estrangeiras introduzidas, uma vez que
não havia resistência nas variedades nacionais. As
4.2. No Brasil variedades resistentes RM não apresentavam as
qualidades agronômicas da IAC e, portanto,
4.2.1. Mosaico da cana-de-açúcar programas de melhoramento foram necessários
para obter variedades RM com qualidade
semelhante a IAC-12, tais como IAC-RM3 e IAC-
O vírus do mosaico da cana-de-açúcar foi
RM4.
introduzido no Brasil na década de 20,
provavelmente através de toletes contaminados
trazidos da Argentina. Naquela época, a totalidade
de nossas plantações era composta de variedades 4.2.4. Mal do Panamá
de Saccharum officinarum, altamente suscetível ao
mosaico. A disseminação do vírus foi rápida e a Em diversas regiões do mundo foram
redução do porte dos canaviais marcante. O marcantes os prejuízos causados pelo fungo
colapso pode ser avaliado pela redução da Fusarium oxysporum f.sp. cubense, agente do Mal
produção, pois em 1922 foram produzidos 1.250 do Panamá em bananeiras. Os danos foram
mil sacos de açúcar e 6 milhões de litros de álcool, vultosos na América Central, onde a banana
enquanto em 1925 a produção foi reduzida para representava o esteio da economia agrícola. No
220 mil sacos de açúcar e 2 milhões de litros de Brasil, a doença foi constatada pela primeira vez
álcool. Essa epidemia somente foi controlada com em Piracicaba - SP, em 1920. Com a ocorrência da
a substituição das antigas variedades pelas doença, a banana-maçã, extremamente suscetível,
variedades POJ, híbridas de S. officinarum x S. praticamente desapareceu do Estado, sendo
barberi, resistentes à doença. substituída pelas variedades nanica e nanicão
(grupo Cavendish), resistentes à doença. Tendo em
vista a grande aceitação da banana-maçã no
4.2.2. Complexo de doenças dos citros mercado consumidor, os agricultores sofreram
prejuízos indiretos elevados com a substituição.
Em 1940, cerca de 80% das plantas cítricas do
Estado de São Paulo eram variedades comerciais,
principalmente laranjas doces (Citrus sinensis) 4.2.5. Ferrugem do cafeeiro
enxertadas sobre laranjas azedas (Citrus
aurantium), pois esta era resistente à gomose dos Devido à severidade com que a ferrugem do
citros, causada pelo fungo Phytophthora spp. cafeeiro, causada pelo fungo Hemileia vastatrix,
Nessa época ocorreu uma virose chamada tristeza atacou os cafezais em outras regiões como Ceilão,
dos citros, cujo vírus e transmitido por pulgões e Índia e África, temia-se a sua ocorrência no Brasil.
se dissemina rapidamente. Em 1946, a doença Assim, ao ser constatada pela primeira vez a nível
havia causado a morte de aproximadamente 6 nacional em Itabuna - BA, em 1970, foram
milhões de plantas cítricas. Devido à ocorrência da recomendadas medidas de erradicação de todos os
tristeza, a laranja azeda foi substituída por outros cafezais afetados. Como tais medidas não foram
porta-enxertos, como o limão cravo, com executadas como planejado, muitos trabalhos de
resistência razoável à gomose e tolerância à controle químico foram conduzidos objetivando
tristeza. No entanto, em torno de 1955, ocorreu encontrar um fungicida eficiente no controle do
uma nova doença em plantas enxertadas em limão patógeno. Dentre os químicos estudados, os
cravo, denominada exocorte, causada por um cúpricos revelaram-se mais eficientes no controle
organismo chamado viróide. Esta doença destruiu da doença, evitando o colapso da cafeicultura no
muitos plantios, mas como a transmissão era feita Brasil. Ao lado desses estudos, o Instituto
apenas por enxertia, o emprego de borbulhas Agronômico de Campinas - IAC e a Universidade
oriundas de plantas sadias a controlou Federal de Viçosa continuam desenvolvendo
efetivamente. Em 1957, foram descobertos focos de trabalhos para obtenção de variedades resistentes
cancro cítrico, causado pela bactéria Xanthomonas às raças do patógeno atualmente existentes no
campestris pv. citri. A erradicação de plantas Brasil.
doentes foi a opção de controle adotada, o que
resultou, somente no oeste do Estado de São
Paulo, na destruição de 2 milhões de árvores entre 4.2.6. Mal das folhas da seringueira
1957 e 1979, sem o alcance do sucesso esperado.
Até o início do século XX, Brasil e Peru eram os
únicos produtores de borracha natural a nível
4.2.3. Murcha do algodoeiro mundial. A produção era obtida diretamente da
floresta amazônica, local de origem da seringueira,
A murcha do algodoeiro, causada pelo fungo a partir de árvores que cresciam naturalmente na
Fusarium oxysporum f.sp. vasinfectum, era de selva. Até 1912, o Brasil detinha a posição de
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 11
maior produtor e exportador, enquanto em 1957 rendimento econômico das plantas cultivadas e,
éramos importadores de borracha, situação consequentemente, concorrer, em maior ou menor
mantida até hoje, quando cerca de 75% de nossas grau, para prejudicar o bem estar da coletividade
necessidades vêm do exterior, principalmente do humana.
sudeste asiático (Malásia, Tailândia e Indonésia). A
aventura da borracha no sudeste asiático começou
em 1876, quando o botânico inglês Wickham 5. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
coletou sementes de Hevea no Pará e enviou-as
para Londres. Mudas originárias destas sementes AGRIOS, G.N. Introduction. In: AGRIOS, G.N. Plant
foram remetidas para o Ceilão (atual Sri Lanka), de pathology. 4th ed. San Diego: Academic Press, 1997.
onde se espalharam pelos países vizinhos. p.3-41.
Animados com o sucesso inglês no sudeste
BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H. Importância das
asiático, os americanos da poderosa Ford Motor
doenças de plantas. In: BERGAMIN FILHO, A.;
Company decidiram estabelecer plantações de KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de
seringueira no Brasil, próximo a Santarém, às fitopatologia: princípios e conceitos. 3. ed. São
margens do rio Tapajós. Em 1928, 4.000 ha já Paulo: Agronômica Ceres, 1995. v.1, p.13-33.
haviam sido plantados, em grande parte com
material botânico proveniente da Ásia. Entretanto, CARVALHO, P.C.T. Importância das doenças de plantas.
o ataque do fungo Microcyclus ulei foi tão intenso In: GALLI, F. (Coord.). Manual de fitopatologia:
que os seringais foram abandonados em 1934. Um princípios e conceitos. 2. ed. São Paulo: Agronômica
Ceres, 1978. v.1, p.15-25.
novo projeto foi inciado pela Ford no mesmo ano,
alguns quilômetros rio acima. Em 1942, 6.478 ha KENAGA, C.B. Introduction to phytopathology. In:
haviam sido plantas com clones asiáticos de alta KENAGA, C.B. Principles of phytopathology. 2nd
produtividade. No ano seguinte, M. ulei atacou ed. Lafayette: Balt, 1974. p.1-3.
novamente, devastando as plantações e levando ao
abandono do projeto dois anos depois. Os motivos KENAGA, C.B. Plant disease concept, definitions,
para o fracasso na exploração da seringueira em symptoms and classification. In: KENAGA, C.B.
plantios efetuados na região amazônica são Principles of phytopathology. 2nd ed. Lafayette:
Balt, 1974. p.12-31.
inúmeros, entretanto, o principal motivo para o
sucesso no sudeste asiático é a não ocorrência do KRUGNER, T.L. A natureza da doença. In: BERGAMIN
mal das folhas naquela região. FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual
de fitopatologia: princípios e conceitos. 3. ed. São
Paulo: Agronômica Ceres, 1995. v.1, p.34-45.
4.2.7. Vassoura-de-bruxa do cacaueiro
LUCAS, J.A. The diseased plant. In: LUCAS, J.A. Plant
pathology and plant pathogens. 3rd ed. London:
O cacaueiro e a vassoura-de-bruxa, causada
Blackwell Science, 1998. p.5-19.
pelo fungo Crinipellis perniciosa , são originários da
Região Amazônica, de onde a doença se LUCAS, G.B.; CAMPBELL, C.L.; LUCAS, L.T. Agriculture,
disseminou para todos os países produtores da plant diseases, and human affairs. In: LUCAS, G.B.;
América Latina. Até 1989, a doença não ocorria na CAMPBELL, C.L.; LUCAS, L.T. Introduction to
Bahia, principal região produtora de cacau do plant diseases: identification and management. 2 nd
Brasil, com aproximadamente 700.000 ha ed. New York: Van Nostrand Reinhold, 1992. p.1-8.
contínuos cultivados. Em 1989, ano de
MAFFIA, L.A.; MIZUBUTI, E.S.G. Fitopatologia x
constatação da doença, o volume de exportação foi
sociedade. Ação Ambiental, Viçosa, n.5, p.9-12,
de 104 mil toneladas e, em 1996, foi de apenas 31 1999.
mil toneladas. A vassoura-de-bruxa continua
severa na Bahia e, além das conseqüências OERKE, E-C.; DEHNE, H-W.; SCHÖNBECK, F.; WEBER,
econômicas, ocasionou sérios problemas sociais, A. Crop production and crop protection:
como êxodo rural e desemprego, e ecológicos, como estimated losses in major food and cash crops.
a destruição de parte da Mata Atlântica Amsterdan: Elsevier, 1994. 775p.
Unidade 3
Esta classificação é conveniente pois, apesar de interfere no mesmo processo fisiológico vital, ou
diferentes patógenos atuarem sobre um mesmo seja, a fotossíntese. Em adição, doenças
processo vital, o modo de ação dos mesmos em pertencentes a um mesmo grupo apresentam
relação ao hospedeiro envolve procedimentos características semelhantes quanto às diversas
semelhantes (Tabela 1). Assim, diversos fungos e fases do ciclo de relações patógeno-hospedeiro, não
diversas bactérias podem causar lesões em folhas; raro apresentando idênticas medidas para seu
a doença provocada por estes patógenos, porém, controle.
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 13
Tabela 1. Grupos de doenças segundo a classificação de McNew, baseada no processo fisiológico interferido pelo patógeno.
1 Armazenamento de nutrientes Doenças pós-colheita, podridões moles Parasitas facultativos ou acidentais - Evitar ferimentos
ou secas em sementes, frutos, etc. - Rhizopus spp. - Armazenamento adequado
- Penicillium spp. - Uso de fungicidas
- Erwinia spp.
2 Formação de tecidos jovens “Damping-off” ou tombamento de Parasitas facultativos - Tratamento do solo
plântulas - Pythium spp. - Tratamento de sementes
- Rhizoctonia solani - Uso de sementes sadias
- Phytophthora spp. - Práticas culturais
3 Absorção de água e nutrientes Podridões de raízes e do colo Parasitas facultativos - Tratamento do solo
- Fusarium solani - Rotação de cultura
- Sclerotium rolfsii - Cultivares resistentes
- Thielaviopsis basicola
4 Transporte de água e nutrientes Murchas vasculares com sintomas Parasitas facultativos - Tratamento do solo
externos e internos - Fusarium oxysporum - Rotação de cultura
- Verticillium albo-atrum - Cultivares resistentes
- Ralstonia solanacearum - Controle de nematóides
5 Fotossíntese a) Manchas e crestamentos Parasitas facultativos - Cultivares resistentes
- Alternaria spp. - Controle químico
- Cercospora spp. - Medidas de sanitização
- Colletotrichum gloeosporioides
- Xanthomonas spp.
b) Míldios Parasitas obrigados - Controle químico
- Plasmopara viticola - Cultivares resistentes
- Bremia lactucae - Medidas de sanitização
- Pseudoperonospora cubensis - Rotação de cultura
c) Oídios Parasitas obrigados - Controle químico
- Oidium spp. - Cultivares resistentes
- Medidas de sanitização
- Rotação de cultura
d) Ferrugens Parasitas obrigados - Controle químico
- Puccinia spp. - Cultivares resistentes
- Uromyces spp. - Medidas de sanitização
- Hemileia vastatrix - Rotação de cultura
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 14
Figura 1. Grupos de doenças de plantas e sua relação com especificidade, agressividade e evolução do
parasitismo do agente patogênico [segundo Bedendo (1995)].
2. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BEDENDO, I.P. Doenças vasculares. In: BERGAMIN
BALMER, E.; GALLI, F. Classificação das doenças FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual
segundo a interferência em processos fisiológicos da de fitopatologia: princípios e conceitos. 3. ed. São
planta. In: GALLI, F. (Ed.). Manual de fitopatologia: Paulo: Agronômica Ceres, 1995. v.1, p.838-847.
Principios e conceitos. 2. ed. São Paulo: Agronômica
Ceres, 1978. v.1, p.261-288. BEDENDO, I.P. Manchas foliares. In: BERGAMIN FILHO,
A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de
BEDENDO, I.P. Classificação de doenças. In: BERGAMIN fitopatologia: princípios e conceitos. 3. ed. São
FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual Paulo: Agronômica Ceres, 1995. v.1, p.849-858.
de fitopatologia: princípios e conceitos. 3. ed. São
Paulo: Agronômica Ceres, 1995. v.1, p.805-809. BEDENDO, I.P. Míldios. In: BERGAMIN FILHO, A.;
KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de
BEDENDO, I.P. Podridões de órgãos de reserva. In: fitopatologia: princípios e conceitos. 3. ed. São
BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. Paulo: Agronômica Ceres, 1995. v.1, p.859-865.
(Eds.). Manual de fitopatologia: princípios e
conceitos. 3. ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 1995. BEDENDO, I.P. Oídios. In: BERGAMIN FILHO, A.;
v.1, p.810-819. KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de
fitopatologia: princípios e conceitos. 3. ed. São
BEDENDO, I.P. Damping off. In: BERGAMIN FILHO, A.; Paulo: Agronômica Ceres, 1995. v.1, p.866-871.
KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de
fitopatologia: princípios e conceitos. 3. ed. São BEDENDO, I.P. Ferrugens. In: BERGAMIN FILHO, A.;
Paulo: Agronômica Ceres, 1995. v.1, p.820-828. KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de
fitopatologia: princípios e conceitos. 3. ed. São
BEDENDO, I.P. Podridões de raiz e colo. In: BERGAMIN Paulo: Agronômica Ceres, 1995. v.1, p.872-880.
FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manua de
fitopatologia: princípios e conceitos. 3. ed. São BEDENDO, I.P. Carvões. In: BERGAMIN FILHO, A.;
Paulo: Agronômica Ceres, 1995. v.1, p.829-837. KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 16
fitopatologia: princípios e conceitos. 3. ed. São conceitos. 3. ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 1995.
Paulo: Agronômica Ceres, 1995. v.1, p.881-888. v.1, p.889-898.
BEDENDO, I.P. Galhas de etiologia fúngica e bacteriana. BEDENDO, I.P. Viroses. In: BERGAMIN FILHO, A.;
In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de
(Eds.). Manual de fitopatologia: princípios e fitopatologia: princípios e conceitos. 3. ed. São
Paulo: Agronômica Ceres, 1995. v.1, p.899-906.
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 17
Unidade 4
1. CONCEITOS
Se todas as etapas acima forem cumpridas, o
Etiologia é uma palavra de origem grega, aetia organismo isolado pode ser considerado como o
= causa + logos = estudo. Em Fitopatologia, agente patogênico, responsável pelos sintomas
corresponde à parte que estuda as causas das observados.
doenças de plantas e tem como objetivo o Os testes de patogenicidade são realizados,
estabelecimento de medidas corretas de controle. geralmente, em casa-de-vegetação para plantas,
Patógeno é qualquer organismo capaz de causar e em laboratório para partes de plantas como
doença infecciosa em plantas, ou seja, fungos, estacas, frutos, tubérculos e legumes.
bactérias, vírus, viróides, nematóides e
protozoários. Patogenicidade é a capacidade que
um patógeno possui, de associando-se ao 3. CLASSIFICAÇÃO DOS PATÓGENOS
hospedeiro, causar doença.
Parasitismo é um fenômeno extremamente
complexo, sendo delineado em vários níveis.
2. TESTE DE PATOGENICIDADE Baseado nesses aspectos, existem várias
classificações para patógenos de plantas,
Quando um organismo é encontrado associado entretanto, simplificadamente eles podem ser
a uma planta doente, se for conhecido ou agrupados em:
registrado anteriormente, é identificado com a
ajuda de literatura. Entretanto, se for um • Parasitas obrigados: são aqueles que vivem
organismo desconhecido, pelo menos para tal as custas do tecido vivo do hospedeiro. Não são
planta, para confirmá-lo ou descartá-lo como cultivados em meio de cultura. Ex: fungos
agente causal da doença, é necessária a realização causadores de míldios, oídios, ferrugens e
do teste de patogenicidade. carvões; vírus, viróides, nematóides e algumas
bactérias.
O estabelecimento da relação causal entre uma
doença e um microrganismo só pode ser • Saprófitas facultativos: são aqueles que
confirmado após o cumprimento de uma série de vivem a maioria do tempo ou a maior parte de
etapas, conhecida por Postulados de Koch, seu ciclo de vida como parasitas, mas em certas
desenvolvidos por Robert Koch (1881) para circunstâncias, podem sobreviver
patógenos humanos e adaptados posteriormente saprofiticamente sobre matéria orgânica morta.
para Fitopatologia, constituindo o teste de Podem ser cultivados em meio de cultura. Ex:
patogenicidade. fungos causadores de manchas foliares, como
Alternaria spp., Colletotrichum spp. e
1. Associação constante patógeno- Cercospora spp.
hospedeiro: um determinado microrganismo
deve estar presente em todas as plantas de uma • Parasitas facultativos: são aqueles que
mesma espécie que apresentam o mesmo normalmente se desenvolvem como saprófitas,
sintoma. Em outras palavras, deve-se poder mas que são capazes de passar parte, ou todo o
associar sempre um determinado sintoma a um seu ciclo de desenvolvimento como parasitas.
patógeno particular. São facilmente cultivados em meio de cultura.
Ex: fungos como Rhizoctonia solani e Sclerotium
2. Isolamento do patógeno: o organismo rolfsii .
associado aos sintomas deve ser isolado da
planta doente e multiplicado artificialmente. • Parasitas acidentais: são aqueles organismos
saprófitas que em determinadas condições (Ex.:
3. Inoculação do patógeno e reprodução dos planta com estresse) podem exercer o
sintomas: a cultura pura do patógeno, obtida parasitismo. Ex: Pseudomonas fluorescens
anteriormente, deve ser inoculada em plantas causando podridão em alface.
sadias da mesma espécie que apresentou os
sintomas inicias da doença e provocar a mesma Em geral, os parasitas obrigados e facultativos
sintomatologia observada anteriormente. diferem entre si pela forma como atacam as
plantas hospedeiras e obtém seus nutrientes a
4. Reisolamento do patógeno: o mesmo partir destas. Nos parasitas obrigados, a
organismo deve ser isolado das plantas colonização é, geralmente, intercelular; enquanto
submetidas à inoculação artificial.
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 18
Unidade 5
infectadas pelo vírus do vira-cabeça, no estádio bem como do hábito ou forma de vida da planta
inicial da doença. afetada (Fig. 1).
• Calo cicatricial: caracteriza-se pela hiperplasia
de células da planta em torno de uma lesão.
Constitui a reação da planta na tentativa de 3. SINAIS
cicatrizar o ferimento.
Sinais são estruturas ou produtos do patógeno,
• Enação: desenvolvimento de protuberâncias, geralmente associados à lesão. Além de estruturas
similares a folhas rudimentares, sobre as nervuras patogênicas (células bacterianas, micélio, esporos e
da folha, decorrente da infecção por alguns vírus. corpos de frutificação fúngicos, ovos de
nematóides, etc.), exsudações ou cheiros
• Encarquilhamento: também conhecido como provenientes das lesões podem ser considerados
"encrespamento", representa uma deformação de como sinais. Em geral, os sinais ocorrem num
órgãos da planta, resultado do crestamento estádio mais avançado do processo infeccioso da
(hiperplasia ou hipertrofia) exagerado de células, planta. Como exemplos, podem ser lembradas as
localizado em apenas uma parte do tecido. Ex.: frutificações de alguns fungos, como esclerócios de
folhas de pessegueiro com crespeira, causada por Sclerotium rolfsii em feijoeiro, picnídios de
Taphrina deformans. Lasiodiplodia theobromae em frutos de manga,
peritécios de Giberella em trigo, apotécios de
• Epinastia: curvatura da folha ou do ramo para Sclerotinia em soja, micélio branco de Oidium em
baixo, devido à rápida expansão da superfície caupi, massa de uredosporos ou teliosporos
superior desses órgãos. produzidas em pústulas por fungos causadores de
ferrugens em diversas plantas. Em algumas
• Fasciação: estado achatado, muito ramificado e doenças, como os carvões, os sinais confundem-se
unido de órgãos da planta. com os sintomas. Exsudações viscosas compostas
de células bacterianas liberados de órgãos
• Galha: desenvolvimento anormal de tecidos de atacados constituem importantes sinais para a
plantas resultante da hipertrofia e/ou hiperplasia diagnose, como ocorre com talos de tomateiro
de suas células. Ex.: galhas nas raízes de vários infectados por Ralstonia solanacearum quando
hospedeiros causadas por Meloidogyne spp. e submetidos a condições de alta umidade. Como
galha em rosáceas, causada por Agrobacterium exemplo de odor que constitui sinal de doença
tumefaciens (Fig. 1). pode-se citar o mau cheiro emanado do colmo de
cana-de-açúcar atacado por Pseudomonas
• Intumescência: também conhecido como rubrilineans.
tumefação, consiste em pequena inchação ou
erupção epidérmica resultante da hipertrofia
pronunciada das células epidermais ou 4. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
subepidermais, devido ao acúmulo excessivo de
água, goma sob a epiderme ou outras causas. Ex.: AGRIOS, G.N. Introduction. In: AGRIOS, G.N. Plant
em batata com canela preta, causada por Erwinia pathology. 4th ed. San Diego: Academic Press, 1997.
p.3-41.
spp., ocorre o intumescimento das gemas axiais
com a formação de tubérculos aéreos no caule. KENAGA, C.B. Plant disease concept, definitions,
symptoms and classification. In: KENAGA, C.B.
• Superbrotamento: ramificação excessiva do Principles of phytopathology. 2nd ed. Lafayette:
caule, ramos ou brotações florais. Algumas vezes, Balt, 1974. p.12-31.
os órgãos afetados adquirem formato semelhante
ao de uma vassoura, sendo então denominado LUCAS, J.A. The diseased plant. In: LUCAS, J.A. Plant
pathology and plant pathogens. 3. ed. London:
"vassoura-de-bruxa". Ex.: plantas de cacaueiro
Blackwell Science, 1998. p.5-19.
com vassoura-de-bruxa, causada por Crinipellis
perniciosa. ROBERTS, D.A.; BOOTHROYD, C.W. Morphological
symptoms of disease in plants. In: ROBERTS, D.A.;
• Verrugose (sarna): crescimento excessivo de BOOTHROYD, C.W. Fundamentals of plant
tecidos epidérmicos e corticais, geralmente pathology. 2nd ed. New York: W.H. Freeman, 1984.
modificados pela ruptura e suberificação das p.28-42.
paredes celulares. Caracteriza-se por lesões
SALGADO, C.L.; AMORIM, L. Sintomatologia. In:
salientes e ásperas em frutos, tubérculos e folhas. BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L.
Ex.: verrugose em frutos cítricos, causada por (Eds.). Manual de fitopatologia: princípios e
Elsinoe spp.) conceitos. 3. ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 1995.
v.1, p.212-223.
• Virescência: formação de clorofila nos tecidos
ou órgãos normalmente aclorofilados. Ex.: PONTE, J.J. Sintomatologia. In: PONTE, J.J.
tubérculos de batata armazenados com presença Fitopatologia: princípios e aplicações. 2. ed. São
Paulo: Nobel, 1986. p.49-60.
de luz.
Figura 1. Representação esquemática das funções básicas da planta e sintomas causados por alguns tipos
de doenças [adaptado de Agrios (1997)].
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 24
Unidade 6
1. INTRODUÇÃO
Dependendo da classe a que pertence o fungo, líquido protoplasmático. A hifa sem septo é
a hifa pode ser contínua ou apresentar paredes chamada asseptada, contínua ou cenocítica,
transversais que a dividem, denominadas septos, porque os núcleos distribuem-se num protoplasma
sendo portanto chamada de hifa septada. Esta comum (Fig. 2).
possui um poro em cada septo para passagem do
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 25
Os fungos, por serem aclorofilados, não podem • Esclerócios: estruturas macroscópicas formados
utilizar energia solar para sintetizar seu próprio pelo enovelamento de hifas com endurecimento do
alimento. A substância de onde os fungos retiram córtex.
os nutrientes de que necessitam chama-se
• Clamidosporos: estruturas microscópicas,
substrato, o qual pode ser o húmus do solo, restos
formadas pela diferenciação de células da hifa,
de cultura, plantas vivas, etc. As hifas ramificam-
com a formação de uma parede espessa.
se em todas as direções no substrato, formando o
micélio.
Todas essas estruturas permanecem em
As hifas ou micélio, quanto ao número de
repouso quando as condições são desfavoráveis,
núcleos, podem ser uninucleadas, binucleadas e
entrando em atividade em condições favoráveis.
multinucleadas. A extremidade da hifa é a região
de crescimento. O protoplasma na extremidade da
hifa sintetiza um grande número de enzimas e
ácidos orgânicos que são difundidos no substrato. 2.2. Fase Reprodutiva
As enzimas e ácidos quebram a celulose, amido,
açúcares, proteínas, gorduras e outros Os esporos são as estruturas reprodutivas dos
constituintes do substrato, que são utilizados fungos, constituindo a unidade propagativa da
como alimentos e energia para o crescimento do espécie, cuja função é semelhante a de uma
fungo. semente, mas difere desta pois não contém um
O crescimento do micélio de um fungo embrião pré-formado.
parasita pode ser externo ou interno em relação Os esporos são produzidos em ramificações
ao tecido hospedeiro. O micélio externo ocorre especializadas ou tecidos do talo ou hifa chamados
como um denso emaranhado na superfície de esporóforos. Estes, por sua vez, recebem
folhas, caules ou frutos, que não penetra na denominações de acordo com a classe do
epiderme dos órgãos e nutre-se através de organismo. Como exemplo temos: conidióforo nos
exsudatos (açúcares) da planta. O micélio interno Deuteromicetos e esporangióforo nos Oomicetos.
pode ser subepidérmico, quando desenvolve entre O corpo de frutificação de um fungo, como
a cutícula e as células epidermais; intercelular, peritécios, apotécios e picnídios, dão proteção e
quando penetra no hospedeiro e localiza-se nos apoio às células esporógenas, as quais podem ser
espaços intercelulares, sem penetrar nas células, agregadas em camadas dentro da cavidade do
sendo os nutrientes absorvidos através de órgãos corpo de frutificação ou em camadas na epiderme
especiais chamados haustórios (estruturas do hospedeiro (Ex.: acérvulos). Nos Ascomicetos
constituídas de células da hifa) ou diretamente por as células esporógenas compreendem as ascas,
difusão através da parede celular; ou intracelular, enquanto nos Basidiomicetos as basídias.
quando penetra dentro da célula hospedeira, Os esporos são comumente unicelulares, mas
absorvendo os nutrientes diretamente. Existem em muitas espécies podem ser divididos por
espécies que tem capacidade de penetrar septos, formando células. Os esporos podem ser
diretamente pela superfície intacta do hospedeiro. móveis (zoosporos) ou imóveis, de paredes
Estas espécies apresentam órgãos especiais, espessas ou finas, hialinas ou coloridas, com
chamados apressórios, que se fixam na superfície parede celular lisa ou ornamentada, as vezes com
do hospedeiro e no ponto de contato ocorre a apêndice filiforme simples ou ramificado. Em
dissolução do tecido formando um pequeno orifício muitas espécies de fungos, a coloração e o número
(microscópico) (Fig. 3). de septos dos esporos variam com a idade.
No processo de desenvolvimento os fungos Alguns tipos de esporos e estruturas de
formam estruturas vegetativas que funcionam frutificação dos principais grupos de fungos
como estruturas de resistência, tais como: fitopatogênicos estão representados na Fig. 3.
Os esporos podem ser assexuais e sexuais. A sexuais são resultantes da união de núcleos
fase associada com os esporos assexuais e micélio compatíveis, seguido de meiose e mitose.
estéril é conhecida como estágio ou fase Os órgãos sexuais do fungo são chamados de
imperfeita do fungo, enquanto aquela associada gametângios. O gametângio feminino é
com a produção de zigoto e chamada estágio ou denominado oogônio ou ascogônio, enquanto o
fase perfeita. gametângio masculino é denominado anterídio
Os esporos assexuais são representados por (Fig. 4). As células sexuais ou núcleos que se
zoosporos, conidiosporos, uredosporos e outros, fundem na reprodução sexual são chamados
formados pelas transformações do sistema gametas.
vegetativo sem haver fusão de núcleos. Os esporos
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 27
Figura 4. Exemplo de estruturas envolvidas na reprodução sexual de fungos [segundo Krugner & Bacchi
(1995)].
Figura 5. Representação esquemática dos ciclos de vida dos principais grupos de fungos fitopatogênicos
[adaptado de Agrios (1997)].
Divisões Classes
Gymnomicota Myxomicetos
- Fungos sem parede celular)
- Formam plasmódios multinucleados
Mastigomicota Chytridiomicetos
- Esporos assexuais móveis por flagelos (zoosporos) Plasmodiophoromicetos
Oomicetos
Amastigomicota Zygomicetos
- Esporos assexuais imóveis Ascomicetos
Basidiomicetos
Deuteromicetos
DIVISÃO: GYMNOMICOTA
Classe: MYXOMICETOS
Características:
• Estrutura vegetatica sem parede celular, pleomórfiuca, clamada plasmódio
• Formam esporângios
• Formam células móveis ou ciliadas a partir de mixamebas
• Habitam solos húmidos, humosos, etc.
DIVISÃO: MASTIGOMICOTA
Classe: CHYTRIDIOMICETOS
Características:
• Micélio ausente ou rudimentar
• Formam esporângios dentro dos tecidos do hospedeiro
• Formam esporos assexuais móveis, uniflagelados, denominados zoosporos
• São holocárpicos (todo o protoplasto se transforma na unidade reprodutiva - esporângio)
Ordem: Chytridiales
Classe: PLASMODIOPHOROMICETOS
Características:
• Micélio ausente ou rudimentar
• Formam esporângios dentro dos tecidos do hospedeiro
• Zoosporos biflagelados
• Holocárpicos
Ordem: Plasmodiophorales
Classe: OOMICETOS
Características:
• Micélio bem desenvolvido e cenocítico
• Eucárpicos
• Formam esporângios
• Zoosporos biflagelados
• Esporos sexuais imóveis, denominados oosporos, que são esporos de resistência capazes de sobreviver
no solo e em restos de cultura, em condições adversas
Ordem: Peronosporales
DIVISÃO: AMASTIGOMICOTA
Classe: ZYGOMICETOS
Características:
• Micélio bem desenvolvido e cenocítico
• Eucárpicos
• Formam esporângios
• Esporos assexuados imóveis, denominados aplanosporos ou esporangiosporos
• Esporos sexuais denominados zigosporos, que são esporos de resistência
Ordem: Mucorales
Classe: ASCOMICETOS
Características:
• Micélio bem desenvolvido e septado, exceto leveduras unicelulares
• Esporos chamados ascosporos, formados no interior de ascas, que podem estar livres na superfície
do hospedeiro ou dentro de ascocarpos que podem ser: cleistotécios, peritécios, apotécios ou
ascostromas
Ordem: Taphrinales
Ordem: Microascales
Ordem: Erysiphales
Ordem: Clavicipitales
Ordem: Xylarialles
Ordem: Diaporthales
Ordem: Hypocreales
Ordem: Helotiales
Ordem: Myriangiales
Ordem: Dothideales
Ordem: Pleosporales
Figura 9. Principais espécies da classe Ascomicetos, destacando a morfologia dos corpos de frutificação,
ascas e ascosporos [adaptado de Agrios (1997)].
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 37
Classe: BASIDIOMICETOS
Características:
• Micélio septado e bem desenvolvido
• Formam basídias com basidiosporos.
• Esporos do tipo: basidiosporos, eciosporos, uredosporos e teliosporos
• Muitos requerem dois hospedeiros para completar o ciclo
Ordem: Uredinales
Ordem: Ustilaginales
Ordem: Agaricales
Ordem: Tulasnellales
Figura 11. Sintomas comuns causados por Basidiomicetos [adaptado de Agrios (1997)].
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 39
Classe: DEUTEROMICETOS
Características:
• Micélio septado e bem desenvolvido
• Só possuem reprodução assexual, a fase sexual dos mesmos encontra-se em outras classes como
Ascomicetos e Basidiomicetos
• Os esporos são produzidos em conidióforos, sendo denominados conidiosporos ou conídios
Figura 12. Tipos de conidióforos e corpos de frutificação assexual produzidos por Deuteromicetos
[adaptado de Agrios (1997)].
Características:
• Não produzem esporos
• Apresentam apenas micélio e estruturas de sobrevivência, como por exemplo esclerócios
Figura 13. Agrupamento e morfologia dos principais gêneros de Deuteromicetos fitopatogênicos [adaptado
de Agrios (1997)].
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 43
Figura 14. Principais sintomas causados por alguns Ascomicetos e Basiodiomicetos [adaptado de Agrios
(1997)].
Unidade 7
3.3. Motilidade
3.1. Dimensões
As bactérias podem ser móveis ou imóveis. Seu
As células bacterianas medem de 1 a 3,5 µm de movimento pode ser ondulatório, rotatório e
principalmente através dos flagelos. Estes são
comprimento por 0,5 a 0,7 µm de diâmetro.
filamentos contrácteis, apenas visíveis ao
microscópio ótico com o uso de técnicas especiais
de coloração. Quanto ao número e disposição dos
3.2. Formas flagelos, as bactérias podem ser classificadas em:
átricas, quando não possuem flagelos;
As bactérias fitopatogênicas têm comumente a
monótricas, quando possuem apenas um flagelo
forma de bastonetes ou bacilos, embora possam em posição polar ou lateral; lofótricas, quando
apresentar também outras formas. Bactérias possuem um tufo de flagelos; perítricas, quando
filamentosas ou miceliais possuem micélio possuem flagelos distribuídos por toda sua
superfície (Fig. 1).
meio de cultura de rotina, como o ágar-nutritivo. fastidiosa e Clavibacter xyli subsp. xyli. Algumas
Outras, chamadas procariotas fastidiosos, exigem bactérias fitopatogênicas ainda não foram
meios de cultura especiais com vários nutrientes cultivadas, como as bactérias limitadas ao floema.
extras, dentre as quais destacam-se Xylella
Figura 3. Curva de crescimento bacteriano “in vitro”, sob condições ótimas, mostrando as fases de
adaptação (AB), exponencial ou logarítmica (BC), estacionária (CD) e de morte (DE) [segundo
Romeiro (1995)].
Figura 4. Penetração, multiplicação e sintomas causados por fitobactérias [adaptado de Király et al.
(1974)].
Figura 7. Alguns gêneros de bactérias fitopatogênicas e tipos de sintomas que produzem [adaptado de
Agrios (1997)].
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 51
Tabela 2. Principais gêneros de bactérias fitopatogênicas, aspectos morfológicos, espécies e doenças causadas.
Unidade 8
• Vírus baciliformes
5. TIPOS MORFOLÓGICOS DE VÍRUS E Apresentam-se em forma de bastonete, com
ESTRUTURA DAS PARTÍCULAS VIRAIS partículas de dimensões bastantes variadas.
Gêneros: Alfamovirus e Badnavirus
Utilizando microscopia eletrônica é possível
determinar as características morfológicas dos
vírus. Os vírions variam em tamanho, de 17 nm de b) Vírus com envelope
diâmetro do vírus satélite do vírus da necrose do
fumo a 2000 nm de comprimento do vírus da Apresentam envelope envolvendo o
tristeza dos citros (1 nm = 1/1.000 µm). Assim, nucleocapsídeo.
excetuando-se os viróides, que são minúsculas
moléculas de RNA, representam os menores e mais • Esferoidais: medem de 80 a 120 nm.
simples agentes infecciosos em plantas. Gênero: Tospovirus
O arranjo dos componentes proteína e ácido
nucléico constitui a arquitetura do vírus. Podem-se
distinguir, essencialmente, os tipos morfológicos • Baciliformes: medem de 45 a 100 nm x 100 a
abaixo para os vírus de plantas sem envelope e 430 nm.
com envelope (Fig 1). Gêneros: Cytorhabdovirus e Nucleorhabdovirus
Figura 1. Forma relativa, tamanho e estrutura de alguns vírus de plantas representativos. A) vírus na
forma de bastonete flexuoso; B) vírus na forma de bastonete rígido; B-1) vírus na forma de
bastonete flexuoso, mostrando subunidades de proteínas [PS] e ácido nucléico [NA]; B-2) seção
transversal do vírus na forma de bastonete flexuoso, mostrando o canal central [HC]; C) vírus na
forma baciliforme com envelope; C-1) seção transversal vírus na forma baciliforme com envelope;
D) vírus na forma poliédrica; D-1) icosaedro, representando a simetria de 20 lados que são
arranjadas as subunidades de proteína do vírus poliédrico; E) vírus na forma poliédrica com
duas partículas iguais seminadas [adaptado de Agrios (1997)].
Figura 2. Diagrama esquemático de famílias e gêneros de vírus que infectam plantas [adaptado de Agrios
(1997)].
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 57
Tabela 1. Exemplos de vírus de plantas com a respectiva nomenclatura em português e inglês, gênero a
que pertence e doença causada.
Vírus do mosaico estriado da Barley stripe mosaic virus Hordeivirus Mosaico estriado da cevada
cevada
Vírus do mosaico ou mancha Papaya ringspot virus Potyvirus Mancha anelar ou mosaico
anelar do mamoeiro do mamoeiro
Vírus da Tristeza dos citros Citrus tristeza virus Closterovirus Tristeza dos citros
Vírus do mosaico dourado do Bean golden mosaic virus Begomovirus Mosaico dourado do
feijoeiro feijoeiro
trifosfato) celular, os vírus requerem o uso de vírus não passa simplesmente de uma célula para
ribossomos da célula, do RNA de transferência, outra, mas replica-se numa célula para em seguida
de enzimas e de certos processos biossintéticos entrar na célula vizinha. A passagem ocorre
para sua replicação. através dos plasmodesmas, sendo auxiliada pela
ação de proteína de movimento codificada pelo
• Montagem e maturação: o local específico para vírus, que ligam as células do parênquima. A
a montagem e maturação do vírus dentro da passagem do vírus através dos plasmodesmas
célula é característico de cada gênero de vírus normalmente é feita na forma de partícula íntegra,
(núcleo ou citoplasma). O período de tempo entre apesar de já ter sido observado a migração
o desnudamento até a montagem de um novo somente do ácido nucléico no caso de alguns vírus
vírion maduro é denominado período de eclipse, alongados.
pois se a célula hospedeira for rompida neste O tecido vascular, geralmente o floema, atua
período, nenhum vírus infeccioso será na distribuição das partículas virais para locais
encontrado. distantes do seu ponto de penetração na planta. A
velocidade de transporte neste caso é 10 a 100
• Liberação: o mecanismo de liberação varia com vezes superior ao movimento célula a célula. A
o tipo de vírus. Em alguns casos a lise celular grande maioria dos vírus é transportada via
(morte da célula) resulta na liberação das floema, na forma de partículas completas,
partículas virais. Em outros, a maturação e a atingindo, a partir do ponto de penetração,
liberação são relativamente lentas e os vírions primeiramente as raízes, em seguida as folhas
são liberados sem a destruição da célula jovens e, posteriormente, a planta toda,
hospedeira. A produção de partículas virais pela caracterizando uma infecção sistêmica.
célula varia de acordo com o vírus, o tipo de Quanto à distribuição, alguns vírus que
célula e as condições de crescimento. A produção provocam lesões locais ficam praticamente
média de vírions de plantas é de vários milhares confinadas às áreas do tecido compreendidas por
a cerca de l milhão por célula. estas lesões. Ao contrário, os chamados vírus
sistêmicos são distribuídos por toda a planta (Fig.
4). Apesar da ocorrência sistêmica dos vírus, a sua
8. MOVIMENTO E DISTRIBUIÇÃO DO concentração varia nos diferentes órgãos e tecido
VÍRUS NA PLANTA da planta. Embora os vírus sistêmicos também
possam atingir os tecidos meristemáticos, em
O vírus, uma vez introduzido na planta, pode alguns casos parece existir uma região próxima às
ser distribuído através de um movimento lento extremidades de raízes e brotos que permanece
célula a célula e de forma mais rápida via sistema isenta de vírus. Esta evidência têm permitido a
vascular, geralmente através do floema (Fig. 3). produção de clones livres de vírus através da
O movimento célula a célula tem lugar nas cultura de tecido obtido desta região.
células do parênquima, sendo simultâneo à
replicação do vírus. As indicações são de que o
Figura 3. Inoculação mecânica e estádios iniciais na distribuição sistêmica do vírus na planta [adaptado
de Agrios (1997)].
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 59
É de pouca importância no campo, mas muito São os que permanecem no interior dos insetos
importante para a experimentação. No campo, vetores por longos períodos de tempo, podendo ser:
apenas quando a densidade de plantio é muito
alta, o vento pode causar danos mecânicos à - Circulativos: as partículas de vírus são
folhagem ocasionando a transmissão de vírus ingeridas pelo insetos vetores e levadas pela
devido ao contato entre plantas. Se considerarmos hemolinfa para as glândulas salivares de
o uso de implementos agrícolas em campos com onde passam para plantas sadias. Este vírus
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 60
não perde sua infectividade mesmo com a 10.6. Transmissão por sementes
ecdise dos insetos.
Cerca de 20% dos vírus de plantas conhecidos
- Propagativos: são os que se multiplicam no são transmitidos por sementes. De acordo com a
interior dos insetos vetores (ex. cigarrinhas). localização dos vírus nas sementes , o processo de
Normalmente é necessário um período de transmissão pode ser do tipo embrionário (no
incubação de 1 a 2 semanas desde a interior do embrião) e não embrionário (na
aquisição até a primeira transmissão. superfície de sementes de frutos carnosos ou
mesmo debaixo do tegumento, no seu interior ou
Os vetores mais importantes são os afídeosões dentro do próprio endosperma, temos como único
e, embora haja especificidade, uma espécie de exemplo deste grupo, o TMV).
afídeo possa transmitir apenas 1 ou até 50 vírus
diferentes. Os vírus transmitidos por afídeosões
são normalmente não persistentes ou circulativos e 10.7. Transmissão por órgãos de
raramente propagativos. propagação vegetativa
princípios e conceitos. 3. ed. São Paulo: Agronômica MATHEWS, R.E.F. Plant virology. 3 rd ed. San Diego:
Ceres, 1995. v.1, p.132-160. Academic Press, 1991. 654p.
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Universidade Federal de Viçosa, 1995. 54p. John Willey & Sons, 1985. 232p.
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 62
Unidade 9
1. CONCEITO
2. CARACTERÍSTICAS
Nematóides são animais do Sub-Reino
Metazoa e Filo Nemata. Possuem simetria 2.1. Formas
bilateral e são pseudocelomados, isto é, a
cavidade geral do organismo onde se alojam São geralmente fusiformes ou vermiformes,
todos os órgãos não é revestida por um tecido ou seja, cilíndricos com as extremidades afiladas.
especializado. A palavra nematóide vem do grego Mas também podem ser piriformes, napiformes,
e significa "em forma de fio". Nematóide é o nome reniformes ou limoniformes (Fig. 1).
utilizado para os helmintos parasitas de plantas.
Figura 1. Diagrama ilustrando as diferenças morfológicas entre alguns gêneros de fitonematóides [segundo
Agrios(1997)].
maioria protéicas. Sua função é manter o equilíbrio •Ectoparasitas: São aqueles que não penetram
osmótico e proteger o nematóide. Pode ser lisa, no sistema radicular, apenas introduzem o
estriada ou com falsos metâmeros(anelada). As estilete através do qual se alimentam das
divisões da cutícula não implicam na divisão células do tecido meristemático. Ex.: Xiphinema
interna do nematóide cujo corpo é indiviso (Fig. 2). no café e batata, Scutellonema no inhame,
Criconemoides no milho, amendoim e fumo.
2.5. Alimentação
2.6. Movimento
Os nematóides podem ser micófagos,
bacteriófagos, algófagos, protozoófagos, carnívoros Locomovem-se através de movimentos
ou predadores e, parasitas de plantas superiores. serpentiformes entre as partículas de solo, sempre
Estes são os mais importantes na Fitopatologia e num filme de água. Movimentam-se melhor em
dividem-se em: solos arenosos do que solos argilosos ou argilo-
arenosos.
•Endoparasitas sedentários: São os que
penetram no sistema radicular e não retornam
ao solo, pois uma vez no interior das raízes, 2.7. Aparelhos e Sistemas dos Nematóides
desenvolvem-se desproporcionalmente em
largura e não podem se locomover. Ex.: Os nematóides não possuem aparelho
Meloidogyne e Heterodera, em várias culturas. circulatório ou respiratório. Sua respiração é feita
através da própria cutícula, por onde o oxigênio
•Endoparasitas migradores: São os que penetra no pseudoceloma e através do movimento
penetram nas raízes, locomovem-se, do próprio corpo nematóide é levado a todas as
alimentam-se, e quando a raiz entra em partes de seu corpo. Como subprodutos temos CO 2
decomposição, voltam ao solo para colonizar e H2O, que são expelidos através do sistema
outra raiz. Ex.: Rhadopholus similis na excretor. Os nematóides possuem aparelhos
bananeira e Pratylenchus no milho. digestivo e reprodutivo, sistemas nervoso e
excretor, e orgãos sensoriais (Fig. 2).
Figura 3. Diagramas mostrando os principais tipos de esôfago em nematóides: (A) Tilencóide: o conduto da
glândula abre-se no canal do esôfago na altura do procorpo, próximo ao estilete, típico da
superfamília Tylencoidea; (B) Afelencóide : o conteúdo da glândula dorsal une-se ao canal do
esôfago no metacorpo ou bulbo mediano, típico da superfamília Aphelanchoidea; (C)
Dorilaimóide: possui duas partes: uma anterior de menor diâmetro e outra basal, alargada,
cilíndrica e musculosa, típico da superfamília Dorylaimoidea [segundo Tihohod (1993)].
Figura 4. Diagrama ilustrando o ciclo de vida típico de um nematóide fitoparasita [segundo Tihohod
(1993)].
c) Métodos Físicos
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 68
Unidade 10
Figura 1. Sintomas causados por fitoplasmas e espiroplasmas. D = planta doente, S = planta sadia
[adaptado de Agrios (1997)].
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 72
Figura 2. Sintomas causados viróides. D = planta doente, S = planta sadia [adaptado de Agrios (1997)].
Figura 3. Formas de Phytomonas encontradas em plantas: alongada com flagelo (a), alongada sem flagelo
(b), arredondada (c) e retorcida (d) [adaptado de Bedendo (1995a)].
6. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Revisão Anual de Patologia de Plantas, Passo
AGRIOS, G.N. Plant diseases caused by prokariotes:
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DAVIS, R.E. Fitoplasmas: fitopatógenos procarióticos sem
p.407-470.
parede celular, habitantes de floema e transmitidos
por artrópodes. Revisão Anual de Patologia de
AGRIOS, G.N. Plant diseases caused by viruses. In:
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AGRIOS, G.N. Plant pathology. 4th ed. San Diego:
Academic Press, 1997. p.479-563.
FONSECA, E.N.F. Viróides: minúsculos RNAs parasitas
de plantas vasculares dotados de características
BEDENDO, I.P. Protozoários. In: BERGAMIN FILHO, A.;
biológicas e estruturais únicas. Revisão Anual de
KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de
Patologia de Plantas, Passo Fundo, v.5, p.387-425,
fitopatologia: princípios e conceitos. 3. ed. São
1997.
Paulo: Agronômica Ceres, 1995a. v.1, p.161-167.
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BEDENDO, I.P. Micoplasmas e espiroplasmas. In:
organismos do tipo micoplasma. Revisão Anual de
BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L.
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(Eds.). Manual de fitopatologia: princípios e
1994.
conceitos. 3. ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 1995.
v.1, p.202-210.
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 76
Unidade 11
Figura 3. Anastomose (A), heterocariose (B) e cariogamia (C) presentes no ciclo parassexual em fungos
[segundo Camargo (1995)].
2.2.2. Mecanismos de Variabilidade em muito baixa e por isso tem sido pouco usado no
Bactérias estudo de genética bacteriana (Fig. 4).
2.2.3. Recombinação Genômica em Vírus ocupam a mesma posição no genoma. Pode ser por
simples ou dupla permuta (Fig. 5).
A mutação é o principal mecanismo gerador de
variabilidade genética em vírus, uma vez que estes • Recombinação Aberrante
não possuem mecanismos de reparo do DNA.
Entretanto, a recombinação genômica é outro Duas partículas virais semelhantes permutam
mecanismo que contribui grandemente para a segmentos não-homólogos do genoma, resultando
variabilidade genética, em que se destacam três em duplicações e deleções em ambos os genomas
tipos: recombinação legítima, recombinação virais. Ocorre em vírus compostos de RNA, além da
aberrante e recombinação ilegítima. recombinação legítima.
Duas partículas virais semelhantes (não Partículas virais diferentes trocam segmentos
necessariamente idênticas) trocam segmentos genômicos entre sí.
homólogos de DNA, ou seja, segmentos que
Figura 5. Modelo de recombinação, por simples (a) ou dupla (b) permuta, entre estirpes mutantes do Vírus
do mosaico da couve-flor (CaMV) [segundo Camargo (1995)].
Tabela 2. Estádios de variação em fitopatógenos e plantas e características pelas quais são distinguidos.
Variedades
diferenciadoras ou Raça Raça ↓ ↓ ↓
sintomas
↓ ↓
População
localizada no Isolado Isolado Isolado Indivíduo Clone
campo
Ex.: Quantas raças de um patógeno podem ser diferenciadas pelo uso de 2 (duas) variedades
diferenciadoras?
R = 22 = 4
Variedades Raças
1 2 3 4
A R S R S
B R S S R
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 81
Unidade 12
1.3. Dormência: é a fase onde as condições não A série de fases ou eventos sucessivos que
são favoráveis a atividade do patógeno, conduzem à ocorrência da doença, ou fazem parte
achando-se este com metabolismo reduzido. do seu desenvolvimento, constitui um ciclo,
Em tais oportunidades os microrganismos denominado ciclo das relações patógeno-
poderão sobreviver na forma de estruturas hospedeiro, no qual cada uma das diferentes fases
apropriadas, denominadas estruturas de apresenta características próprias e tem função
resistência, que são órgãos consistentes e definida (Fig. 1).
ricos em reservas, tais como esclerócios,
peritécios, clamidosporos e esporos de
↑ ↓
REPRODUÇÃO GERMINAÇÃO
↑ ↓
SOBREVIVÊNCIA
por Ceratoma arcuata), homem, animais, aberturas na parede celular das células da planta.
ferramentas (Ex.: disseminação de Xanthomonas Ex.: Meloidogyne incognita em raízes de tomateiro.
albilineans em cana-de-açúcar através de facões
de corte contaminados) e implementos agrícolas,
etc. 2.5.2. Penetração por aberturas naturais
2.4. GERMINAÇÃO
2.5.3. Penetração por ferimentos
Uma vez depositado junto à superfície do
hospedeiro, o inóculo deve sofrer uma série de São as mais importantes vias de penetração
transformações que possibilitem a penetração do dos agentes fitopatogênicos. São necessárias à
patógeno nos tecidos do hospedeiro. A germinação penetração dos parasitas facultativos e ajudam a
é verificada nos fungos pela emissão do tubo penetração daqueles que normalmente penetram
germinativo. Nas bactérias verifica-se a no tecido vegetal por outras vias. Estes ferimentos
multiplicação das células. Nos nematóides verifica- podem ser causados por chuvas fortes, granizos,
se a eclosão das larvas. geadas, ventos, práticas culturais, insetos,
A germinação do inóculo é uma das fases mais nematóides, etc. (Ex.: penetração de Erwinia
delicadas para a sobrevivência do patógeno e, carotovora em frutos através de ferimentos;
portanto, para a continuidade do ciclo. A penetração de Penicillium sclerotigenum em túberas
germinação depende de fatores ambientais tais de inhame através de ferimentos de colheita e
como: temperatura, umidade, luminosidade e pH. transporte; penetração de Fusarium oxysporum
A germinação também depende de fatores f.sp. lycopersici em tomateiro através de ferimentos
genéticos. Os esporos de Colletotrichum nas raízes).
gloeosporioides são envolvidos numa massa
gelatinosa, rica em biotina, a qual impede a sua
germinação, até o momento em que seja diluída 2.6. COLONIZAÇÃO
pela água. Outros fungos como Puccinia graminis
necessitam de um período de pós-maturação mais É a fase que ocorre quando o patógeno passa a
ou menos prolongado, sem o qual não germinam. se desenvolver e nutrir dentro do hospedeiro. As
modalidades de colonização são as mais variadas
possíveis, dependendo, em especial, do patógeno
2.5. PENETRAÇÃO envolvido (Fig. 3).
aparecimento dos sintomas da doença, nem seu desenvolvimento posterior e inclusive pode
sempre ocasiona sua morte. No caso de parasitas causar sua morte.
obrigados, a morte das células do hospedeiro limita
Figura 3. Estruturas produzidas por um fungo causador de doença foliar durante as fases de penetração e
colonização do hospedeiro [segundo Amorim (1995d)].
Figura 4. Tipos de colonização: (a) Localizada; (b) Sistêmica, em que as linhas pontilhadas representam a
infecção vascular [segundo Gonzáles (1985)].
São substâncias produzidas pelo patógeno ou São representados pelas pressões mecânicas
advindas de conseqüências da interação patógeno- das estruturas do patógeno sobre as estruturas do
hospedeiro, capazes de causar alterações mórbidas hospedeiro. Ex:. estiletes dos nematóides
na planta, quer de natureza fisiológica, metabólica
ou estrutural. As toxinas podem atuar na planta
hospedeira de várias maneiras: ação sobre 2.6.3. Mecanismos de defesa do hospedeiro
enzimas; ação sobre o metabolismo de ácidos
nucleícos; ação sobre a fotossíntese; ação sobre o Os mecanismos de defesa do hospedeiro podem
metabolismo de proteínas; ação sobre o ser divididos em estruturais e bioquímicos, pré-
crescimento; ação sobre o fluxo de água; ação existentes e induzidos.
sobre a permeabilidade de membranas, induzindo
a morte de células e tecidos. Como exemplos tem-
se: ácido oxálico produzido por Sclerotium rolfsii, a) Estruturais
causa a morte de células superficiais do
hospedeiro antes da penetração; piricularina • Pré-existentes
produzida por Piricularia oryzae; licomarasmina e
ácido fusárico produzidos por Fusarium São características que existem no hospedeiro
oxysporum, ocasionando alterações na independente da presença do patógeno. Ex:
permeabilidade celular e desordem do protoplasma espessura da parede celular, espessura da
do hospedeiro. cutícula, presença de pêlos e presença de cera.
• Enzimas • Induzidos
São substâncias produzidas pelos patógenos São estruturas que surgem no hospedeiro após
capazes de atuar tanto sobre a parede celular o contato com o patógeno. Alguns exemplos de
quanto sobre os constituintes do citoplasma da mecanismos estruturais induzidos incluem:
célula hospedeira. As enzimas têm como finalidade
romper as barreiras e defesas do hospedeiro, bem - Camada de abcisão: ocorre pela dissolução
como colocar em disponibilidade nutrientes, a da lamela média nas células vizinhas àquelas
partir de substâncias constituintes dos tecidos infectadas, resultando no isolamento do patógeno e
vegetais infectados. Vários tipos de enzimas são freqüentemente queda do tecido infectado (Fig. 5).
produzidas por fitopatógenos; enzimas cuticulares
(degradam a cutícula da parede celular); enzimas - Camada de cortiça: ocorre abaixo do ponto
pécticas (degradam a pectina da lamela média da de infecção, inibindo a invasão e dificultando a
parede celular), enzimas celulolíticas e absorção de nutrientes pelo patógeno (Fig. 5).
hemicelulolíticas (atuam sobre a celulose e
hemicelulose da parede primária), enzimas - Tiloses: ocorrem em doenças vasculares, pelo
lignolíticas (atuam sobre a lignina da parede extravasamento do protoplasma das células
celular), enzimas proteolíticas (atuam sobre as adjacentes no interior dos vasos do xilema,
proteínas). causando sua obstrução e impedindo o avanço do
Como exemplos tem-se: produção de enzimas patógeno (Fig. 5).
pectinolíticas por Erwinia carotovora, resultando
em podridão mole do tecido vegetal; produção de
enzimas cuticulares por Venturia inaequalis, b) Bioquímicos
facilitando a penetração do hospedeiro.
• Pré-existentes
• Hormônios
São substâncias presentes no hospedeiro
São produzidos por alguns patógenos, independente da presença do patógeno como os
interferindo no crescimento e desenvolvimento compostos fenólicos ácido protocatecóico e catecol
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 87
É a fase do ciclo das relações patógeno- Esta fase caracteriza-se por garantir a
hospedeiro onde ocorre a exteriorização da doença sobrevivência do agente patogênico em condições
e esta torna-se perceptível para nós. adversas, tais como ausência do hospedeiro e/ou
condições climáticas desfavoráveis. Patógenos de
culturas anuais, onde as plantas morrem ao final
2.8. REPRODUÇÃO DO PATÓGENO do ciclo, e mesmo de culturas perenes decíduas,
onde as folhas e frutos caem no inverno, são
É a formação de novos propágulos do patógeno obrigados a suportar prolongados períodos de
para iniciação de novos ciclos. E extremamente tempo na ausência de tecido suscetível. Para tanto,
variável dependendo do patógeno envolvido. A estes agentes desenvolvem uma grande variedade
reprodução do patógeno é, concomitantemente, o de estratégias de sobrevivência.
fim de um ciclo das relações patógeno-hospedeiro e A sobrevivência do inóculo pode ser garantida
o início do seguinte, quando se trata de doença através de:
policíclica.
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 88
• Atividades saprofíticas
O ciclo das relações patógeno-hospedeiro é
Ex.: colonização de restos culturais e utilização uma generalização que se aplica às doenças de
de nutrientes da solução do solo. origem biótica. Particularidades de cada
patossistema, no entanto, exigem pequenas
• Plantas hospedeiras variações no modelo original, que pode ser
adaptado para cada caso específico. O exemplo do
Ex.: plantas doentes, crescimento epifítico em ciclo de uma doença encontra-se representado na
plantas sadias e sementes. Figura 6, onde são evidenciandas as principais
fases do ciclo das relações patógeno-hospedeiro.
LEITE, B.; PASCHOLATI, S.F. Hospedeiro: alterações PASCHOLATI, S.F.; LEITE, B. Hospedeiro: mecanismos
fisiológicas induzidas por fitopatógenos. In: de resistência. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.;
BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. AMORIM, L. (Eds.). Manual de fitopatologia:
(Eds.). Manual de fitopatologia: princípios e princípios e conceitos. 3. ed. São Paulo: Ceres, 1995.
v.1, p.417-453.
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 90
Unidade 13
Figura 1. Diagrama esquemático das interrelações dos fatores envolvidos em epidemias de doenças de
plantas [adaptado de Agrios (1997)].
excelente alternativa, pois apresenta bons níveis de (causada por Alternaria solani), um período de
resistência às duas doenças. suscetibilidade juvenil durante o estádio de
crescimento da planta é seguido por um período de
relativa resistência no início do estádio adulto e
• Grau de uniformidade genética das depois suscetibilidade após a maturação.
plantas hospedeiras
Figura 3. Escala diagramática para quantificação da mancha parda da mandioca, causada por
Cercosporidium henningsii, indicando níveis de 1, 2, 4, 8, 16 e 32% de severidade da doença
[segundo Michereff et al. (1999)].
Exemplo: Em experimento sobre o progresso de determinada doença foliar, a severidade da foi estimada
com o auxílio de uma escala diagramática de 0 a 6, onde: 0 = sem sintomas; 1 = menos que 1%
de área foliar lesionada; 2 = 1 a 5%; 3 = 6 a 15%; 4 = 16 a 33%; 5 = 34 a 50%; 6 = 51 a 100%.
Considerando que foram avaliadas 12 (doze) folhas por planta, quais os índices de infecção (INF),
conforme Mckinney, das 5 (cinco) plantas abaixo?
Planta 1: INF = [(0x1) + (1x3) + (2x3) + (3x2) + (4x1) + (5x2) + (6x0)] x 100 / (12 x 6) = 40,28
Planta 2: INF = [(0x1) + (1x2) + (2x1) + (3x1) + (4x4) + (5x2) + (6x1)] x 100 / (12 x 6) = 54,17
Planta 3: INF = [(0x5) + (1x0) + (2x2) + (3x0) + (4x1) + (5x2) + (6x2)] x 100 / (12 x 6) = 41,67
Planta 4: INF = [(0x4) + (1x1) + (2x2) + (3x3) + (4x0) + (5x1) + (6x1)] x 100 / (12 x 6) = 34,72
Planta 5: INF = [(0x5) + (1x1) + (2x3) + (3x1) + (4x0) + (5x1) + (6x1)] x 100 / (12 x 6) = 29,17
25 100
A B
20 80
Severidade (%)
Incidência (%)
15 60
10 40
5 20
0 0
105 119 133 147 161 175 189 203 217 16 32 58 70 82
Dias após o plantio Dias após o plantio
Figura 4. Curvas de progresso de doenças: (a) queima das folhas do inhame, causada por Curvularia
eragrostidis, em Aliança [segundo Michereff (1998)]; (b) murcha bacteriana do tomateiro,
causada por Ralstonia solanacearum, em Camocim de São Félix (segundo Silveira et al.(1998)].
Tabela 2. Demonstração de rendimentos por juros simples e compostos, considerando um capital (y0) de
R$ 100,00 e uma taxa de rendimento (dy) mensal de 10% (r = 0,1).
Tipo de Aplicação
Juros Simples Juros Compostos
Tempo - meses Y = yo + yo . r. t Y = yo . exp r.t
(t) Capital dy Capital dy
(R$) (R$/mês) (R$) (R$/mês)
1 110 10 110 10
2 120 10 122 12
3 130 10 135 13
... ... ... ... ...
58 680 10 33.029 3.142
59 690 10 36.503 3.474
60 700 10 40.343 3.840
100 100
Linear Exponencial
80 80
Severidade (%)
Severidade (%)
60 60
40 40
20 20
0 0
5 10 15 20 25 30 5 10 15 20 25 30
Dias após o plantio Dias após o plantio
100 100
Monomolecular Logístico
80
Severidade (%) 80
Severidade (%)
60 60
40 40
20 20
0 0
5 10 15 20 25 30 5 10 15 20 25 30
Dias após o plantio Dias após o plantio
AMORIM, L. Avaliação de doenças. In: BERGAMIN MICHEREFF, S.J.; PEDROSA, R.A.; NORONHA, M.A.;
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Unidade 14
↑ ↓
REPRODUÇÃO GERMINAÇÃO
terapia proteção
↑ ↓
SOBREVIVÊNCIA
erradicação
Figura 1. Fases do ciclo das relações patógeno-hospedeiro onde atuam os princípios de controle de
doenças de Whetzel..
exclusão
erradicação
Patógeno
DOENÇA
Hospedeiro Ambiente
terapia evasão
proteção regulação
imunização
Figura 2. Indicação da atuação dos princípios gerais de controle nos componentes do triângulo da doença.
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 105
Figura 3. Princípios de controle de doenças de plantas e modo de atuação de cada princípio [adaptado de
Roberts & Boothroyd (1984)].
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 106
Tabela 1. Relação entre métodos e princípios de controle e seus efeitos predominantes sobre os
componentes epidemiológicos [inóculo inicial (y0), taxa de infecção (r) e tempo de exposição do
hospedeiro ao patógeno (t)].
produto deve ter alta toxidez inerente contra o doença. No caso de resistência genética vertical e
patógeno e grande estabilidade, mesmo nas de fungicidas altamente específicos, vulneráveis ao
condições mais adversas de clima, sem, contudo, surgimento de mutantes resistentes do patógeno, o
provocar danos à planta ou desencadear efeito pode ser predominantemente somente sobre
desequilíbrio biológico. O método, a época, a dose e y0. No caso de variedades tolerantes, o efeito
o número de aplicações, bem como os produtos epidemiológico não se faz sentir pronunciadamente
adequados, são aspectos que devem ser sobre nenhum dos dois componentes.
considerados nos programas de proteção. O efeito
epidemiológico envolvido é a redução da taxa r de
desenvolvimento da doença. 10. MÉTODOS DE CONTROLE BASEADOS
NA TERAPIA
9. MEDIDAS DE CONTROLE BASEADAS NA Uma vez a planta já doente, o último princípio
IMUNIZAÇÃO de que se pode lançar mão é a terapia ou cura, isto
é, recuperação da saúde mediante a eliminação do
Na ausência de barreiras protetoras de controle patógeno infectante ou proporcionando condições
utilizadas pelo homem, ou vencidas estas, o favoráveis para a reação do hospedeiro. A terapia é,
patógeno enfrenta, por parte da planta hospedeira, ainda, apesar da descoberta dos quimioterápicos,
resistência maior ou menor ao seu de aplicação muito restrita em Fitopatologia, por
desenvolvimento, já antes da penetração, na suas limitações técnico-econômicas, contrapondo-
penetração, nas fases subsequentes do processo se ao uso mais generalizado de todos os outros
doença, na extensão dos tecidos afetados e na princípios que, no conjunto, recebem a
produção do inóculo. Mesmo que essa resistência denominação de prevenção ou profilaxia. No
seja baixa, resta ainda a possibilidade de os danos controle de doenças de plantas é ainda válido o
nas culturas afetadas serem pouco pronunciadas. ditado “melhor prevenir do que remediar”.
É na exploração dessas características, São exemplos de métodos terápicos: uso de
naturalmente presentes nas populações vegetais, fungicidads sistêmicos e, no caso de algumas
que se fundamenta o princípio da imunização doenças, como os oídios, também de fungicidas
genética, resultando, então, no uso de variedades convencionais, com a conseqüente recuperação da
imunes, resistentes e tolerantes. Esse método de planta doente; cirurgia de lesões em troncos de
controle é o ideal pois, em sendo funcional, não árvores, como no caso da gomose dos citros, ou de
onera diretamente o custo de produção e pode até ramos afetados, como no caso da seca da
dispensar outras medidas de controle. Entretanto, mangueira ou da rubelose dos citros; tratamento
muitas vezes implica em sacrifício de produtividade térmico dos toletes da cana-de-açúcar, visando a
e/ou valor comercial do produto. eliminação do patógeno do raquitismo da soqueira.
Atualmente, concretiza-se a possibilidade de
imunização de plantas através de substâncias
químicas (imunização química) e de proteção 11. CONTROLE INTEGRADO VERSUS
cruzada ou pré-imunização (imunização MANEJO INTEGRADO
biológica). A idéia de imunizar as plantas
quimicamente, pela introdução de substâncias A integração de medidas de controle é premissa
tóxicas, é velha, mas só recentemente, com o básica dos princípios de Whetzel. O seu simples
advento dos fungicidas sistêmicos, está se enunciado leva à conclusão de que as medidas de
tornando viável do ponto de vista prático: a planta controle visam interromper ou desacelerar,
tratada com o produto sistêmico torna-se integradamente, o ciclo das relações patógeno-
resistente porque em seus tecidos se apresenta hospedeiro, interferindo no triângulo da doença.
uma concentração adequada do fungicida ou Essa preocupação pela integração dos métodos de
porque ele próprio ou algum seu derivado induz a controel vem desde os primórdios da Fitopatologia,
planta a produzir substâncias tóxicas ao patógeno. há mais de cem anos.
Não se descarta a possibilidade de que mesmo Embora controle de doença seja uma
fungicidas convencionais tenham atuação terminologia bem estabelecida e amplamente
semelhante, desencadeando a produção de compreendida, Apple (1977) afirmou que há base
compostos fenólicos e fitoalexinas pelas plantas lógica convincente para substituí-la por manejo de
tratadas. doença, pois, dentre outras razões:
O mais notável exemplo de pré-imunização ou
proteção cruzada, é o do limão galego • Controle implica num grau impossível de
propositalmente inoculado com estirpe fraca do dominância pelo homem;
Vírus da Tristeza dos Citros, que protege a planta
contra as estirpes fortes do mesmo vírus. Assim, • Controle leva a uma visão falha do sistema
produções comerciais dessa variedade cítrica têm de controle quando a doença volta ao nível
sido possível, mesmo sendo suscetível a um vírus de dano;
amplamente disseminado e eficientemente
transmitido pelo pulgão preto, Toxoptera citricidus. • Controle leva ao esquecimento que as
O efeito epidemiológico das medidas de medidas são aplicadas para reduzir o dano e
imunização é predominantemente a redução do não para destruir os organismos causais;
inóculo inicial y0 e da taxa r de desenvolvimento da
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 109
Unidade 15
cultivar pode ser usado para obter um “ranking” definição, diz-se que a resistência do hospedeiro é
dos isolados. do tipo horizontal e que os isolados diferem
Na Tabela 1, por exemplo, para qualquer quanto à agressividade. Voltando à Tabela 1,
cultivar que se escolha, o isolado 1 sempre será o pode-se dizer, então, que o isolado 1 é o mais
mais patogênico, não importando a existência de agressivo de todos e que a cultivar A é a que
diferenças significativas nos níveis de resistência apresenta maiores níveis de resistência horizontal
entre cultivares. Da mesma forma, para qualquer (note que o termo horizontal não significa que
isolado que se escolha, o “ranking” das cultivares todos os cultivares apresentam o mesmo grau de
não se altera quanto à ordem de resistência. Por resistência).
Tabela 1. Ausência de interação diferencial: podem existir diferenças estatisticamente significativas entre
isolados ou cultivares, mas não uma interação diferencial significativa entre isolados e
cultivares. A ordem das cultivares, de acordo com a resistência, é constante, não importando o
isolado que esteja sendo usado. Da mesma forma, a ordem dos isolados, de acordo com a
patogenicidade, é constante, não importando qual cultivar esteja sendo usada
Isolados Cultivares
A B C
1 3 4 5
2 2 3 4
3 1 2 3
Tabela 2. Presença de interação diferencial: pode ou não existir diferença estatisticamente significativa
entre isolados ou cultivares, mas sempre há uma interação diferencial significativa entre
isolados e cultivares. A ordem das cultivares, de acordo com a resistência, ou dos isolados, de
acordo com a patogenicidade, não pode ser determinada apenas pela reação frente a um
isolado ou uma cultivar, respectivamente.
Isolados Cultivares
D E F
4 5 1 1
5 1 5 1
6 1 1 5
O fato de uma cultivar apresentar resistência se tomar muito cuidado com esta generalização,
horizontal não significa que ele não tenha pois existem contra-exemplos de todos os tipos. A
resistência vertical e vice-versa. Também não resistência em sorgo a Periconia circinata, por
implica que os genes responsáveis por estes tipos exemplo, é monogênica e horizontal. Por outro
de resistência pertençam a classes distintas. Da lado, a resistência de cevada a Puccinia hordei,
mesma maneira, raças agressivas também podem medida pelo tempo que leva entre a inoculação e o
apresentar virulência e vice-versa. aparecimento de sintomas (período de incubação),
é poligênica, mas apresenta interações diferenciais
com raças do patógeno.
3.2. Características Genéticas e
Agronômicas das Resistências Vertical
e Horizontal 3.2.2. Durabilidade
em batata, e dos monogenes de resistência a a variedade com gene R1, tais como as raças (0),
ferrugem e antracnose (gene ARE) em feijoeiro, são (2), (3), (4), (2,3), etc. O restante 1% de esporos
alguns dos mais conhecidos. Também é geralmente pertence às raças (1), (1,2), (1,3), (1,4), (1,2,3), etc.,
aceita a idéia de que resistência horizontal que podem infectar ambos os campos. Para este
oligo/poligênica está além da capacidade grupo de raças, o campo com o gene R1 é tão
microevolutiva do patógeno em ser vencida. É o suscetível quanto o campo sem genes R. O
caso do cultivar Proctor de cevada, resistente ao resultado da chuva de esporos é que o campo sem
fungo Ustilago nuda. O fungo penetra o embrião da o gene R1 iniciou seu ciclo com um inóculo efetivo
planta, infectando os pistilos jovens da flor 100 vezes maior do que o campo com o gene R1. O
somente na época da polinização. No cultivar número inicial de lesões (por planta, por m2, por
Proctor, ao contrário de cultivares suscetíveis, a ha, enfim, qualquer unidade que se escolha) é 100
polinização ocorre enquanto a inflorescência está vezes maior no campo sem gene R1 do que no
ainda envolta pela bainha (cleistogamia), campo com ele. Dessas lesões iniciais o fungo
impossibilitando a infecção. Esta resistência, começa a se disseminar: a epidemia tem início.
tipicamente horizontal, e presumivelmente além da Daqui para frente, a epidemia prosseguirá com a
capacidade de mudança do patógeno, é mesma rapidez tanto num campo como no outro,
oligogênica, sendo governada por 3 genes. mas a quantidade de inóculo no campo com R1 é
somente 1/100 daquela existente no outro campo.
Por causa dessa menor quantidade de inóculo
3.2.3. Efeitos na Epidemia inicial, a epidemia em R1 é retardada pelo período
de tempo necessário para o inóculo aumentar 100
A resistência vertical, por ser efetiva apenas vezes. Isso se traduz em um atraso no início da
contra algumas raças do patógeno, age no sentido epidemia.
de reduzir a quantidade efetiva de inóculo inicial, A Figura 1 ilustra os fatos descritos acima.
fazendo com que o início da epidemia seja Além dos dias de atraso no início da epidemia,
atrasado. pode-se também notar que a taxa de aumento da
Imagine-se, como exemplo, dois campos de doença, neste caso, não é reduzida pela presença
batata lado a lado. Num deles cresce uma cultivar do gene R1, mostrando-se tão rápida na cultivar
sem nenhum gene R de resistência vertical e no resistente quanto no suscetível. Isto significa que a
outro uma cultivar com o gene R1, que confere raça (1), por exemplo, pode atacar uma cultivar
resistência a determinadas raças de Phytophthora com o gene R1 tão facilmente quanto a raça (0)
infestans. Geralmente, no início do ciclo da pode atacar uma variedade R0: os esporos
cultura, o número de esporos do patógeno é germinam e penetram do mesmo modo, o micélio
bastante pequeno, de tal forma que ambos os coloniza o tecido hospedeiro com a mesma
campos, independentemente do genótipo das eficiência, os esporos são produzidos do mesmo
cultivares neles plantados, permanecem isentos de modo e nos mesmos números, etc. Um observador
doença. No entanto, mais tarde, ambos são experimentado, mesmo fazendo inspeções
atingidos por uma leve chuva de esporos periódicas nos dois campos em discussão, não
originária, por exemplo, de campos vizinhos que poderá decidir qual deles tem a cultivar com o gene
foram infectados mais cedo. Dos esporos que R1, a não ser baseado no atraso inicial da
chegam até os dois campos em discussão, suponha epidemia.
que 99% pertença a raças que não podem infectar
Figura 1. Efeito da resistência vertical sobre o desenvolvimento de epidemias [segundo Camargo &
Bergamin Filho (1995)].
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 113
Figura 2. Efeito da resistência horizontal sobre o desenvolvimento de epidemias: resistência horizontal das
cultivares A, B e C [segundo Camargo & Bergamin Filho (1995)].
De maneira geral, pode-se resumir os efeitos doença, qualquer que seja ele, em relação à
dos dois tipos de resistência no curso de uma cultivar A. A cultivar D tem a mesma resistência
epidemia dizendo que a resistência vertical afeta, vertical de B e a mesma resistência horizontal de
principalmente, o inóculo inicial (y0), enquanto a C. A curva D tem, portanto, a mesma inclinação da
resistência horizontal afeta, principalmente, a taxa curva C. Entretanto, enquanto a curva B está
de desenvolvimento da doença (r). somente 10 dias atrás da curva A, a curva D está
Para avaliar o comportamento da epidemia na 20 dias atrás da curva C porque a resistência
presença das resistências vertical e horizontal, horizontal reduziu pela metade a taxa de infecção e
considere as quatro cultivares hipotéticas duplicou o tempo necessário para a doença
representadas na Figura 3. A cultivar A tem pouca recuperar a perda de inóculo inicial causada pela
resistência horizontal e nenhuma vertical. A resistência vertical. A resistência vertical da
cultivar B tem a mesma quantidade de resistência cultivar D reforça grandemente a resistência
horizontal que A, além de resistência vertical. A vertical que ela possui. Mesmo considerando que
cultivar C assemelha-se à cultivar A por não Ter os níveis da resistência vertical e da horizontal
resistência vertical, mas possui uma maior sejam pequenos, como mostrado pelas curvas B e
quantidade de resistência horizontal. Essa C, o efeito combinado delas na cultivar D é muito
resistência horizontal é suficiente para dobrar o bom.
tempo gasto pelo patógeno para causar o dobro de
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 114
Figura 3. Efeito das resistências horizontal (RH) e vertical (RV), separadas e combinadas. A cultivar A
possui pequena RH e nenhuma RV; a cultivar B possui a mesma RH de A, mais RV; a cultivar C
não possui RV, mas tem mais RH do que A e B; a cultivar D combina RV com RH de C [segundo
Camargo & Bergamin Filho (1995)].
Autógamas Alógamas
alface abacate
amendoim alfafa
arroz banana
aveia brócolis
cevada cebola
citros centeio
ervilha couve-flor
feijão mamão
linho manga
soja melancia
sorgo milho
tabaco pepino
tomate repolho
trigo uva
4.2.1. Seleção em Plantas Alógamas repetido, até que se obtenha o nível de resistência
desejado.
Em alógamas, os métodos de seleção massal e Na cultura do milho, que faz uso intensivo de
de famílias são muito utilizados para acumular cultivares híbridas, depois que genes de resistência
genes de resistência. A seleção massal é a são acumulados em uma população, os melhores
estratégia de seleção mais simples, onde os indivíduos são selecionados e auto-polinizados por
indivíduos mais resistentes são selecionados e várias gerações, até que atinjam elevados níveis de
suas sementes são colhidas e misturadas, homozigose. Consegue-se, assim, linhagens
originando uma nova população. O processo é homozigotas ou puras que poderão ser,
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 116
posteriormente, cruzadas entre si, gerando que serão avaliadas no campo. A seleção, a partir
híbridos simples. Um híbrido simples, por sua vez, desta geração, é feita tanto dentro de famílias como
pode ser cruzado com uma terceira linhagem pura, entre famílias, isto é, os melhores indivíduos das
gerando um híbrido triplo, ou com outro híbrido melhores famílias são selecionados. As sementes
simples, gerando um híbrido duplo. A produção de oriundas do auto-cruzamento destes indivíduos
cultivares híbridos corresponde, na verdade, a um selecionados irão compor a geração F4. A seleção
processo similar ao do piramidamento, onde os inter- e intrafamilial é repetida até,
genes de resistência de cada linhagem pura são aproximadamente, a geração F6-F8. Quando estas
combinados em híbridos. gerações avançadas são atingidas, existe um alto
grau de homozigose dentro de famílias devido aos
sucessivos ciclos de auto-cruzamento. Entre
4.2.2. Seleção em Plantas Autógamas famílias, porém, existe heterogeneidade. Assim,
deste ponto em diante, a seleção passa a ser
Os métodos de seleção em culturas autógamas somente interfamilial, com seleção de todos os
devem se adequar ao sistema reprodutivo da indivíduos das melhores famílias. O método do
planta. Nestas culturas, geralmente, a polinização “bulk” difere do pedigree, pois a semente dos
cruzada é difícil de ser obtida na prática, o que indivíduos selecionados em cada geração são
eleva os custos do processo. Desta forma, a regra é misturadas antes do inícios do ciclo seguinte. A
reduzir os cruzamentos manuais ao mínimo seleção é baseada na performance individual de
indispensável. cada planta e não na performance de sua progênie.
Os métodos mais utilizados em programas de Este processo avança até a geração F6-F8
melhoramento para resistência são “pedigree” e começando, a partir daí, a seleção inter- e
“bulk”. No primeiro caso (Figura 5), uma população intrafamilial igual ao método do “pedigree”. A
F2 é estabelecida e os melhores indivíduos desta vantagem deste método é que ele permite a
geração são selecionados. Estas plantas são auto- manipulação de um maior número de plantas até o
polinizadas naturalmente, gerando famílias F3, início da seleção interfamilial.
Figura 5. Esquema de seleção por "pedigree". Sementes dos 10 indivíduos F2 mais resistentes (círculos
cheiros) foram coletadas e plantadas, originando 10 progênies F3 de 10 indivíduos cada. Dois
indivíduos de cada uma das 5 progênies F3 mais resistentes foram selecionados (seleção inter- e
intrafamilial),originando progênies F4. O processo de seleção entre e dentro de famílias continua
até a geração F6-F8. A partir daí, a seleção passa a ser somente entre famílias. O número de
famílias e o número de indivíduos selecionados por geração pode variar, dependendo da
pressão de seleção desejada [segundo Camargo & Bergamin Filho (1995)].
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 117
Unidade 16
sendo a mais eficiente entre os métodos culturais local assegura a manutenção dos patógenos
de controle. No Brasil, ênfase ao controle de necrotróficos daquela cultura.
doenças pela rotação de culturas, tem sido dada
em cereais de inverno. • Não apresentam estruturas de resistência, as
A rotação de culturas é o cultivo alternado de quais poderiam mantê-los viáveis por vários
espécies vegetais diferentes no mesmo local e na anos no solo, à espera de uma nova
mesma estação anual. Por exemplo, trigo, aveia, oportunidade de infectar a planta hospedeira,
trigo, aveia, etc. Assim, numa mesma lavoura, quando esta voltasse a ser cultivada naquele
durante o inverno, são cultivadas, alternadamente, local. Exemplos de estruturas de resistência são
duas espécies de cereais. Por outro lado, o cultivo clamidosporos, esclerócios e oosporos. Convém
alternado de diferentes espécies, na mesma mencionar que os patógenos assinalados em
lavoura, em estações diferentes, constitui a cereais de inverno, no Brasil, não apresentam
sucessão anual de culturas. Por exemplo, a tais estruturas. Porém, B. sorokiniana, como já
alternância entre trigo e soja, bastante empregada citado, sobrevive, também, como conídios livres
no estado do Paraná. Nesse caso, tem-se no solo.
monocultura do trigo, no inverno, e monocultura
da soja, no verão. Diz-se que ocorre uma dupla • Apresentam esporos grandes, pesados, que são
monocultura anual. transportados pelo vento a distâncias
O princípio de controle envolvido na rotação de relativamente curtas. Servem de exemplo B.
culturas é a supressão ou eliminação do substrato sorokiniana, D. tritici-repentis e Drechslera teres.
apropriado para o patógeno. A ausência da planta
cultivada anual (inclusive as planta voluntárias e • Apresentam esporos relativamente pequenos e
os restos culturais) leva à erradicação total ou leves, porém transportados pelo vento ou por
parcial dos patógenos necrotróficos que dela são respingos de chuvas a distâncias
nutricionalmente dependentes. A eliminação dos relativamente curtas. Servem de exemplo
resíduos culturais, durante a rotação de culturas, Septoria nodorum, em cereais de inverno, e
é devida à sua decomposição pelos microrganismos diferentes espécies de Septoria, Colletotrichum e
do solo. Durante o processo de decomposição, os Phomopsis, em outros cultivos.
fitopatógenos associados aos resíduos são
destruídos pela microbiota. Sob este ponto de • Apresentam poucos ou nenhum hospedeiro
vista, a rotação de culturas constitui-se, também, secundário. Ainda não foi devidamente
numa medida de controle biológico.. esclarecida, no Brasil, a possível presença de
A maioria, senão a totalidade, dos hospedeiros secundários de D. tritici-repentis, D.
fitopatógenos, provavelmente, morreria de inanição teres, S. nodorum e S. tritici. Em caso afirmativo,
ou de velhice, independentemente de qualquer estes hospedeiros secundários poderiam, em
fator biológico, caso não tivessem acesso ao determinadas condições, comprometer o efeito
hospedeiro ou a outro substrato adequado. erradicante da rotação de culturas.
Conclui-se deste fato que, durante a rotação de
culturas, os fitopatógenos são eliminados parcial
ou completamente, enquanto que, sob 4. CARACTERÍSTICAS DOS PATÓGENOS
monocultura, eles são estimulados e mantidos NÃO CONTROLÁVEIS PELA ROTAÇÃO
numa concentração de inóculo suficiente para a
DE CULTURAS
continuidade de seu ciclo biológico, podendo
causar, eventualmente, severas epidemias.
Aqui são caracterizados aqueles patógenos que
não satisfazem uma ou mais das características
anteriormente citadas:
3. CARACTERÍSTICAS DOS PATÓGENOS
CONTROLÁVEIS PELA ROTAÇÃO DE • Apresentam habilidade de competição
CULTURAS saprofítica. Serve de exemplo o fungo
Rhizoctonia solani, que é capaz de viver
Muitas são as características típicas daqueles indefinidamente no solo, pois tem a característica
patógenos mais sensíveis aos efeitos da rotação de de poder trocar de substrato saprofítico. Em vista
culturas. A seguir uma breve discussão daquelas disso, este parasita é considerado um habitante
mais importantes: natural da maioria dos solos. Este patógeno é
dificilmente controlado pela rotação, pois,
• Sobrevivem pela colonização saprofítica dos potencialmente, qualquer espécie vegetal
restos culturais do hospedeiro e não alternativa, integrante do sistema de rotação,
apresentam habilidade de competição pode servir de substrato. Todos os patógenos com
saprofítica. Nutricionalmente dependem, habilidade de competição saprofítica são de difícil
portanto, do hospedeiro, não trocando de controle por esta prática cultural.
substrato saprofítico. Patógenos do trigo, B.
sorokiniana e Drechslera tritici-repentis, • Possuem estruturas de resistência. Dentre as
multiplicam-se continuamente nos restos principais estruturas de resistência ou de
culturais do hospedeiro durante a entressafra. repouso encontradas em fitopatógenos pode-se
Assim, a presença de resíduos infectados num citar: oosporos, presentes em Pythium e em
Phytophthora; clamidosporos, presentes em
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 122
restos de cultura na lavoura significa, quase de 1%. Portanto, a monocultura e o plantio direto
sempre, a presença de fitopatógenos necrotróficos. aumentam a severidade da doença, e, por outro
Pode-se, então, concluir que o plantio direto lado, a rotação de culturas é uma solução
possibilita as condições ideais para a adequada para tal problema.
sobrevivência, multiplicação e infecção dos
fitopatógenos. Deve-se acrescentar ainda, que as
populações dos fitopatógenos aumentam ou 8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
diminuem em função da disponibilidade alimentar
e da favorabilidade do ambiente. Sob plantio AGRIOS, G.N. Control of plant diseases. In: AGRIOS,
direto, é máxima a disponibilidade de substrato e, G.N. Plant pathology. 4th ed. San Diego: Academic
em decorrência, a densidade de inóculo. Em Press, 1997. p.171-221.
resumo, os patógenos necrotróficos desprovidos de
estruturas de resistência sobrevivem mais PALTI, L. Cultural practices and infectious crop
diseases. Berlin: Springer 1981. 243p.
seguramente sob plantio direto do que sob plantio
convencional. REIS, E.; FORCELINI, C.A. Controle cultural. In:
Como, então, viabilizar o sistema de plantio BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L.
direto? A rotação de culturas claramente elimina (Eds.). Manual de fitopatologia: princípios e
os inconvenientes do plantio direto em relação ao conceitos. 3. ed. São Paulo: Agronômica Ceres,
aumento de doenças. O efeito do plantio direto em 1995. v.1, p.710-716.
aumentar a severidade da mancha amarela da
folha do trigo, causada por Drechslera tritici- REIS, E.M.; CASA, R.T.; HOFFMANN, L.L. Controle
cultural de patógenos radiculares. In: MICHEREFF,
repentis, pode ser um exemplo. Em monocultura, a
S.J.; MENEZES, M. Patógenos radiculares em
severidade alcança níveis elevados no estádio de solos tropicais. Recife: Universidade Federal Rural
alongamento, entretanto, sob rotação de culturas e de Pernambuco, 2000. (no prelo).
plantio direto, a severidade foi reduz para menos
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 124
Unidade 17
Tabela 1. Doenças de plantas, agentes causais e antagonistas estudados para o controle biológico.
obtida utilizando rotação de cultura; acréscimo de a quantidade de açúcares nas folhas e, com isso,
substratos orgânicos que estimulem os inicia o próximo estágio da sucessão microbiana,
antagonistas; alteração do pH do solo a um nível marcada pelo aumento da população de leveduras.
favorável aos antagonistas e desfavorável aos Os esporos dos fungos filamentosos, mesmo
patógenos; utilização de métodos de cultivo que depositados na superfície foliar permanecem
melhorem a estrutura do solo; escolha de época de dormentes. Entretanto, quando as folhas atingem
semeadura que seja mais favorável ao o estádio de senescência, a dormência pode ser
desenvolvimento do hospedeiro e dos antagonistas vencida, ocorrendo inclusive a colonização dos
que do patógeno; acréscimo de materiais orgânicos tecidos internos da planta. Assim, na senescência,
que, por competição, reduzam a disponibilidade de aumenta a população de fungos filamentosos, que
nitrogênio; utilização de irrigação que assegure o inclusive passam a nutrir bactérias e leveduras. A
desenvolvimento do hospedeiro e favoreça os sucessão apresentada considera a população
antagonistas; seleção de métodos de cultivo que dominante nos diferentes estádios pois, de modo
favoreçam os antagonistas na profundidade do solo geral, os diversos microrganismos estão presentes
em que a infecção do hospedeiro ocorre. simultaneamente, sendo este fato de relevante
importância para o controle biológico natural.
O equilíbrio da população microbiana do
6.2. Introdução de Antagonistas no Solo filoplano pode ser facilmente quebrado pela
influência humana. A modificação da superfície
Para que os antagonistas sejam eficientes no foliar e de seu microambiente pode ocorrer devido
desalojamento dos patógenos presentes no solo, à poluição ou à aplicação de produtos químicos
um período de tempo é necessário. Dessa forma, as (fungicidas, inseticidas, herbicidas, hormônios,
estruturas dos patógenos podem ser parasitadas acaricidas e fertilizantes). Essas alterações podem
ou predadas ou inviabilizadas pela liberação de interferir na ocorrência de doenças, pois haverá
metabólitos produzidos pelos antagonistas. uma redução da população microbiana saprofítica,
surgindo a oportunidade de desenvolvimento de
um outro patógeno que tinha, inicialmente,
7. CONTROLE BIOLÓGICO DE PATÓGENOS importância secundária.
DA PARTE AÉREA
O controle biológico, ao contrário do químico, para que danos à produção não ocorram. Assim,
não apresenta efeito imediato e espetacular. O há necessidade de integração dos métodos, de
nível de controle obtido com o método biológico, modo a haver mínima interferência entre os
isoladamente, pode estar abaixo do necessário métodos aplicados. Adicionalmente, seria
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 129
Unidade 18
absorção e capilaridade, à estrutura à cor e ao morta pela exposição a altas temperaturas, que
odor Após o tratamento térmico, o equilíbrio da geralmente ocorrem nas camadas superficiais do
população microbiana, construído após longa solo solarizado. A sensibilidade ao calor
interação dos vários componentes, é destruído ou apresentada por diversos patógenos de plantas
profundamente modificado. De modo geral, as pode indicar a possibilidade de controle através da
altas temperaturas atingidas tornam o tratamento solarização (Figura 1). Porém, apesar da exposição
não seletivo, resultando na erradicação dos do patógeno ao calor ser um importante fator, não
microrganismos, criando espaços estéreis, é o único mecanismo envolvido no método. Os
denominados vácuos biológicos. A recolonização do processos microbianos induzidos pela solarização
solo é feita, basicamente, através dos podem contribuir para o controle da doença, já que
microrganismos termotolerantes sobreviventes, dos o aquecimento do solo também atua sobre
microrganismos do solo adjacente não tratado, do organismos não alvo. Os propágulos dos
ar da água ou daqueles introduzidos com material patógenos, enfraquecidos pelo aquecimento
vegetal. A forma como é realizada a recolonização subletal, dão condições e estimulam a atuação de
do solo tratado é de grande importância para a antagonistas.
ocorrência de doenças de Plantas: a redução da Devido ao fato das temperaturas atingidas pelo
população de antagonistas como resultado do solo durante a solarização serem relativamente
tratamento térmico geralmente significa uma baixas, quando comparadas com o controle através
rápida disseminação do patógeno reintroduzido. de aquecimento artificial, os seus efeitos nos
Assim, todos os cuidados devem ser tomados para componentes bióticos do solo são menos drásticos.
evitar a reintrodução do patógeno no solo tratado. De modo geral, os microrganismos saprófitas,
dentre eles inúmeros antagonistas, são mais
tolerantes ao calor do que os patógenos de plantas
3.2. Solarização do Solo (Figura 1). Enquanto populações de muitos
microrganismos são reduzidas imediatamente após
A solarização é um método de desinfestação do a solarização, diversos actinomicetos, fungos
solo, desenvolvido em Israel, para o controle de termófilos e termotolerantes e Bacillus spp. são
patógenos, pragas e plantas daninhas através do menos afetados ou até mesmo estimulados. Não há
uso da energia solar. O método consiste na a eliminação de todos os microrganismos durante
cobertura do solo com filme plástico transparente, a solarização, como ocorre no tratamento com
antes do plantio, preferencialmente durante o vapor ou com fumigantes, não sendo criado,
período de maior incidência de radiação solar. O portanto, o chamado vácuo biológico. A
aumento do teor de umidade do solo antes da sobrevivência de tais microrganismos dificulta a
cobertura, quer seja através de irrigação ou chuva, reinfestação do solo, promovendo um efeito a longo
ajuda o processo, visto que em solo úmido as prazo do tratamento.
estruturas de resistência dos patógenos geralmente A solarização do solo não pode ser considerada
são mais sensíveis ao calor, a condutividade um método ideal de controle, visto que diversas
térmica do solo é aumentada, assim como a limitações restringem o seu uso, como a
atividade biológica, fatores que podem acelerar o necessidade de máquinas para sua aplicação em
controle dos patógenos. extensas áreas; o custo do tratamento; a
Após a cobertura, as camadas superficiais do necessidade do terreno permanecer sem ser
solo apresentam temperaturas superiores às do cultivado durante o período; a difícil drenagem de
solo descoberto, sendo que o aquecimento é menor grandes áreas com acentuado declive durante a
quanto maior for a profundidade. Por este motivo, solarização, além de possíveis limitações
a cobertura deve permanecer durante um período climáticas. Entretanto, devido à facilidade e
suficiente (geralmente um mês ou mais) para segurança de aplicação, tanto para o agricultor
ocorrer o controle dos patógenos nas camadas quanto para o ambiente, a solarização pode ser
mais profundas do solo. considerada como uma das alternativas para o
A elevação da temperatura do solo pela controle de patógenos habitantes do solo dentro de
solarização tem um efeito inibitório ou letal aos um sistema de manejo integrado.
organismos. Parte da população de patógenos é
adequada para ser utilizada é aquela que mantém
as qualidades dos frutos e das hortaliças, sendo
4. REFRIGERAÇÃO geralmente apropriada para reduzir os danos em
pós-colheita causados por doenças. Muitas vezes,
O método físico mais conhecido e largamente as baixas temperaturas isoladamente são
utilizado para controlar doenças de produtos insuficientes para um controle adequado das
frescos é a refrigeração. Entretanto, apesar de ser doenças, havendo necessidade do emprego de
comum e de fácil utilização, muitas vezes é mal métodos suplementares.
empregado. As baixas temperaturas não destroem
os patógenos que estão dentro ou fora dos tecidos
dos vegetais frescos. Elas apenas retardam ou 5. ATMOSFERA CONTROLADA OU
inibem o crescimento e as atividades dos MODIFICADA
patógenos. Dessa forma, há redução do
desenvolvimento das infecções existentes e evita-se Esta técnica é utilizada para aumentar a
o início de novas infecções. A temperatura conservação dos alimentos após a colheita por
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 132
GHINI, R.; BETTIOL W. Controle físico. In: BERGAMIN GHINI, R.; BETTIOL W. Controle físico de patógenos
FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual radiculares. In: MICHEREFF, S.J.; MENEZES, M.
de fitopatologia: princípios e conceitos. 3. ed. São Patógenos radiculares em solos tropicais. Recife:
Paulo: Agronômica Ceres, 1995. v.1, p.786-803. Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2000.
(no prelo).
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 134
Unidade 19
Apresenta baixa toxicidade oral aguda a aplicação para outras partes da planta, implica,
mamíferos. por isso mesmo, na ausência ou diminuição da
fitotoxicidade e na atuação fungitóxica dentro do
• Folpet: produto quimicamente relacionado ao hospedeiro.
captan, apresenta propriedades físicas e Todos os fungicidas sistêmicos, em função de
biológicas semelhantes. Mais eficiente do que sua capacidade de penetração e translocação
captan no controle de algumas doenças, como dentro da planta, são capazes de agir
mancha preta, oídio da roseira e podridão parda curativamente. Na prática, entretanto, observa-se
do pêssego. Também é muito eficiente no que, sob o ponto de vista epidemiológico, os mais
controle de sarna da macieira e antracnose e importantes princípios envolvidos são a proteção
míldio de cucurbitáceas. Em condições de alta e a imunização. Proteção porque são mais
temperatura e alta umidade, doses elevadas comumente pulverizados nas folhagens e a maior
podem ocasionar injúrias em uva e em parte do resíduo fica depositada externamente, à
plântulas de cucurbitáceas. espera do patógeno; imunização porque a
pequena porcentagem que penetra pode
• Dyrene: indicado para o controle de doenças de translocar na seiva e apresentar-se em
tomateiro, batata e aipo, apresenta um amplo concentração fungitóxica dentro dos tecidos
espectro de ação fungitóxica. No tomateiro sadios do hospedeiro. Além de efeitos curativos,
apresenta alta eficiência contra pinta preta e imunizantes e protetores, os fungicidas
septoriose e menor eficiência contra requeima. sistêmicos podem ter considerável ação
Mais utilizado comercialmente sobre gramados erradicante, muito importante no tratamento de
para controlar helmintosporioses, fusariose e sementes e do solo, visando a eliminação de
rizoctoniose. patógenos específicos.
Essa multiplicidade de efeitos dos fungicidas
sistêmicos deve-se a três características:
Protetores Orgânicos Adicionais especificidade de ação ao nível citoquímico,
absorção pela planta e capacidade de
• Dodine: introduzido para controlar sarna da translocação dentro da planta. Efetivamente,
macieira, apresenta alta fungitoxicidade todos os fungicidas sistêmicos inibem,
inerente e destaca-se pela capacidade de seletivamente, processos metabólicos específicos,
melhorar a cobertura por redistribuição. Além compartilhados apenas por grupos restritos de
disso, tem certa ação curativa, conseguindo fungos, atuando tão somente contra os patógenos
eliminar o fungo da sarna da macieira 28 horas visados (Tabela 1). A alta especificidade de ação
após a infecção. leva à alta fungitoxicidade inerente aos fungos
sensíveis e à baixa fitotoxicidade. A baixa
• Dichlofluanid: fungicida de amplo espectro, fitotoxicidade, aliada à absorção e à capacidade
particularmente eficiente no controle de Botrytis de translocação, leva ao efeito sistêmico.
spp., agente de mofo cinzento, em culturas Embora apresentem diferenças, o fato de
frutíferas e ornamentais. compartilharem características de maior
especificidade e fungitoxicidade inerente, bem
como de penetração e translocação dentro da
7.3. FUNGICIDAS SISTÊMICOS planta, torna os fungicidas sistêmicos muito mais
eficientes do que os não sistêmicos: têm maior
efeito erradicante, protetor, curativo e
A cura ou terapia da planta doente é a
imunizante; exigem menores dosagens e números
atenuação de seus sintomas ou a reparação dos
de pulverizações; apresentam menores problemas
danos provocados pelo patógeno. É uma ação
de fitotoxidez, de contaminação ambiental e de
dirigida contra o patógeno, após o
desequilíbrio biológico; são mais adequados para
estabelecimento de seu contato efetivo com o
uso em programas de manejo integrado.
hospedeiro. Fungicidas erradicantes e protetores
Em vista de todas essas vantagens, não é de
podem também atuar como fitoterápicos, em
se estranhar a grande escalada no uso de
circunstâncias particulares: às vezes é o patógeno
fungicidas sistêmicos, iniciada após a ampla
que se apresenta numa situação muito
aceitação de benomyl e de carboxin no final da
vulnerável, como no caso de oídios; ou a
década de 1960. A tendência atual continua
estrutura afetada do hospedeiro pode ser tratada
sendo a do aumento dos sistêmicos. Moléculas
com maior rigor sem riscos de fitotoxicidade,
com novas modalidades de atuação, além da
como no caso de tratamento de sementes.
fungitoxicidade direta, estão sendo pesquisadas.
Entretanto, a quimioterapia só adquiriu grande
ímpeto de desenvolvimento com o advento dos
fungicidas sistêmicos, porque a sistemicidade,
além da capacidade de translocação do local de
MICHEREFF, S.J. Fundamentos de Fitopatologia ... 141
ÍNDICE
Pág.
• Apresentação
• Unidade 1 - Conceito e história da Fitopatologia .......................................... 1
• Unidade 2 - Conceito e importância das doenças de plantas ........................ 5
• Unidade 3 - Classificação de doenças de plantas ......................................... 12
• Unidade 4 - Etiologia e classificação de patógenos ....................................... 17
• Unidade 5 - Sintomatologia de doenças de plantas ...................................... 19
• Unidade 6 - Fungos como agentes de doenças de plantas ............................ 24
• Unidade 7 - Bactérias como agentes de doenças de plantas.......................... 43
• Unidade 8 - Vírus como agentes de doenças de plantas ............................... 52
• Unidade 9 - Nematóides como agentes de doenças de plantas ...................... 61
• Unidade 10 - Outros agentes de doenças de plantas ...................................... 68
• Unidade 11 - Variabilidade de agentes fitopatogênicos ................................... 75
• Unidade 12 - Ciclo das relações patógeno-hospedeiro .................................... 81
• Unidade 13 - Epidemiologia de doenças de plantas ........................................ 89
• Unidade 14 - Princípios gerais de controle de doenças de plantas .................. 102
• Unidade 15 - Controle genético de doenças de plantas ................................... 109
• Unidade 16 - Controle cultural de doenças de plantas ................................... 119
• Unidade 17 - Controle biológico de doenças de plantas .................................. 123
• Unidade 18 - Controle físico de doenças de plantas ....................................... 129
• Unidade 19 - Controle químico de doenças de plantas ................................... 133
APRESENTAÇÃO
Nesta apostila são abordados alguns tópicos relevantes de Fitopatologia, com ênfase
em seus princípios, o objetivo principal da disciplina Fitopatologia I, do Curso de
Graduação em Agronomia, da Universidade Federal Rural de Pernambuco. A meta básica
foi sistematizar as informações disponíveis e compatibilizá-las ao enfoque da disciplina,
procurando auxiliar no processo de ensino-aprendizagem, uma vez que planejamento e a
organização são fundamentais para uma boa aprendizagem.