Processo Escolar Entre Imigrantes e Seus Descendentes
Processo Escolar Entre Imigrantes e Seus Descendentes
Processo Escolar Entre Imigrantes e Seus Descendentes
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RESUMO
O texto aborda a dinâmica do processo escolar entre imigrantes e seus descendentes, estabele-
cidos na Região Colonial Italiana do Rio Grande do Sul. A pesquisa abrange o período de 1875
a 1930. Como eixo de investigação está a compreensão da importância, do sentido e da busca
pela escola pública. Traz a lume as ações de famílias, comunidades, cônsules, congregações reli-
giosas e autoridades públicas que, marcados por intensas relações de poder, atuaram em prol da
escolarização. Problematiza a importância da escola pública vislumbrando as iniciativas em três
modalidades: escolas étnico-comunitárias, públicas e confessionais. Utiliza documentação diversifi-
cada como relatórios, fotografias, cartas, jornais e atas. A análise considerou os pressupostos da
“Nova História”, pelo viés da História Cultural. Conclui-se que a intensa dinâmica vivida em prol
da escolarização na Região, construiu as bases do sistema escolar público atual nos municípios
em estudo, o que denota a importância da escola, juntamente com a família e a religiosidade, na
educação dos sujeitos.
ABSTRACT
This paper discusses the dynamics of the school process among immigrants and their descendants
in the region of Italian colonization in the state of Rio Grande do Sul. The investigation covers
the period from 1875 to 1930. The main axis of investigation is the understanding of the impor-
tance and meaning of the public school and the search for it. The article highlights the actions of
families, communities, consuls, religious orders and public authorities that, under the influence
of intense power relations, struggled for schooling. It discusses the importance of public schools
by stressing initiatives related to three modes of schools, viz. ethnic-communal, public and con-
fessional schools. It uses various kinds of documents, such as reports, photographs, letters, news-
papers, minutes of inspections and final examinations. The analysis includes the assumptions of
the “New History” from the perspective of Cultural History. It points out the intense dynamics
developed to promote schooling in that region, which laid the foundations of the present public
school system in the municipalities covered by the investigation and denotes the importance of
schools, along with families and religiosity, for the education of subjects.
*
Versão modificada do texto apresentado na 33ª Reunião Anual da ANPED.
**
Doutora em Educação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Professora do Programa de
Pós-Graduação em Educação, na linha de pesquisa em História e Filosofia da Educação, da Universidade de Caxias do Sul.
Beneficiária de apoio da Fapergs. E-mail: taluches@ucs.br
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Iniciando...
1
“A instrução é necessária a nós como o ar, a água e a luz. É o pão da alma.” Jornal Corriere d’Itália em 06/09/1918,
Bento Gonçalves, Museu Histórico Casa do Imigrante.
2
O Jornal Corriere d’Itália era de Bento Gonçalves. Com uma tiragem media de 2000 cópias publicava noticias de
toda a Região Colonial Italiana. Era um jornal católico que fora fundado em 1913 pelo Pe. Carlista Henrique Poggi, pároco
de Bento Gonçalves. Era editado pela ‘Societá Anônima Editrice’ pertencente à congregação. Afirmava-se neutro mas
apresentava notas políticas, escrito em italiano, sua circulação criou algumas polêmicas nas oposições trazidas da Europa
entre italianos e austríacos assim como entre Igreja e Maçonaria. Circulou até 1927 quando foi vendido para o Staffetta
Riograndense, de Garibaldi, mantido pelos capuchinhos. O Staffetta Riograndense tornou-se Correio Riograndense e
circula até a atualidade. O acervo do Corriere d’Itália está no Museu Histórico Casa do Imigrante em Bento Gonçalves.
3
Em 06/09/1918, sem assinatura do autor, no Jornal Corriere d’Itália, Bento Gonçalves. Museu Histórico Casa
do Imigrante.
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a partir de 1875 na Região Colonial Italiana do Rio Grande do Sul. Como eixo principal
de investigação está a compreensão da importância, do sentido e da busca pela escola
pública. Traz a lume as ações de famílias, comunidades, cônsules, congregações religiosas
e autoridades públicas que, marcados por intensas relações de poder, atuaram em prol
da escolarização. Ainda, problematiza a importância da escola pública vislumbrando as
iniciativas em três modalidades: escolas étnico-comunitárias, públicas e confessionais.
Utilizando documentação diversificada como relatórios, fotografias, cartas,
jornais, atas de inspeção e exame final, a análise considerou os pressupostos da “Nova
História”, pelo viés da História Cultural. Conclui-se que a intensa dinâmica vivida em
prol da escolarização na Região, construiu as bases do sistema escolar público atual nos
municípios em estudo, o que denota a importância da escola, juntamente com a família e
a religiosidade, na educação dos sujeitos.
4
Lembro que conforme Faria Filho, “[...] escolarização pretende designar o estabelecimento de processos e
políticas concernentes à “organização” de uma rede, ou redes, de instituições, mais ou menos formais, responsáveis seja
pelo ensino elementar da leitura, da escrita, do cálculo e, no mais das vezes, da moral e da religião, seja pelo atendimento em
níveis posteriores e mais aprofundados. Em outra acepção, estamos entendendo por escolarização o processo e a paulatina
produção de referências sociais, tendo a escola, ou a forma escolar de socialização e transmissão de conhecimentos, como
eixo articulador de seus sentidos e significados.” FARIA, FILHO. Luciano Mendes de. O processo de escolarização em
Minas Gerais: questões teórico-metodológicas e perspectivas de pesquisa. In: FONSECA, Thaís Nívia de Lima e VEIGA,
Cyntia Greive (orgs). História e Historiografia da Educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2003, p.78.
5
O livro “Os italianos no Rio Grande do Sul”, escrito por De Boni e Costa,tornou-se uma das referências sobre
o tema e de certa forma “inaugurou” um movimento de reconstrução histórica muito evidente a partir das comemorações
do Centenário de Imigração Italiana no Rio Grande do Sul em 1975. A partir deste ano foram sendo progressivamente
produzidas e publicadas inúmeras obras e olhares sobre a imigração italiana. Sob a coordenação de Rovílio Costa e Luis A.
De Boni a ‘Coleção Imigração Italiana’ publicada especialmente pela EST (Escola Superior de Teologia) em 1985 já contava
com mais de 60 publicações sobre o tema – porém, nenhuma específica sobre o tema educação.
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a escola, na vida colonial, era praticamente desnecessária: não era um meio de ascensão
social e não se fazia necessária como transmissora de conhecimentos práticos [...]. Ler e
escrever não era relevante naquela sociedade.” (1984, p. 43). Porém, os mesmos autores
reconhecem que, desde os primeiros tempos, os imigrantes “[...] faziam constantes
pedidos para que se lhes oferecesse escola [...]” bem como que “[...] os colonos foram
eles mesmos construindo suas escolas [...]”. (1984, p. 42). Fica clara uma contradição
pois, se não era importante a escola, por que solicitá-la? Por que construí-la? A respeito
do assunto, em outra publicação, Costa escreveu:
Manfrói registrou que “[...] nas colônias italianas o interesse pela escola, pelo
ensino e pelo aprendizado da língua italiana foi praticamente nulo. No universo cultural
do imigrante italiano a escola não ocupava um lugar de destaque, nem tinha função
definida.”(1999, p.52). E ainda que “[...] se a iniciativa e o interesse pela instrução era
medíocre, a do governo era ainda maior [...] a questão escolar foi inexistente entre os
colonos de origem italiana.”(1975, p. 136 e 137). Manfrói soma a falta de interesse dos
imigrantes pela escola com o descaso das próprias iniciativas públicas na expansão do
ensino na Região Colonial Italiana.
No livro A Igreja e a Imigração Italiana, escrito por Zagonel, encontra-se a afirmação
de que “[...] o colono italiano não ligava tanto para a escola [...]. A escola o forçava
colocar em ociosidade braços preciosos e desembolsar escassos recursos econômicos de
que dispunha.” (1975, p. 43 e 44).
O trabalho agrícola, baseado no conhecimento empírico e operatório ensinado
pelos próprios pais, e a prática religiosa seriam a grande tônica e a explicação central para
muitos dos autores que, não dedicando-se a um estudo aprofundado do processo escolar
na região, indicavam o sucesso dos imigrantes e seus descendentes na conjunção Fé e
Trabalho. Referências reforçadas por provérbios como Io sono un uomo di pratica e no di
grammatica (eu sou um homem de prática e não de gramática), produziram discursos em
que os imigrantes italianos, considerados analfabetos, importaram-se tão somente com
a posse da terra, com o trabalho, especialmente agrícola – este sim, produtor de riqueza.
Petrone, por sua vez, registrou:
[...] na massa dos imigrantes de origem italiana entrada no Brasil, foi muito elevada a
participação dos contingentes originários da áreas rurais, caracterizados por elevadas
taxas da analfabetismo. [...] Analfabetismo, origem predominantemente rural do
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imigrante, indubitável pobreza, quando não miserabilidade, são alguns dos traços
que podem contribuir para que se compreenda o nível de valorização da escola por
parte dessa gente [...]. (PETRONE, 1990, p. 603).
Vale salientar que o discurso dos pobres e miseráveis analfabetos, expulsos da Pátria
de origem que, por serem trabalhadores disciplinados, ordeiros, pautados nos valores da
fé, venceram e fizeram a América precisa ser repensado6. A narrativa da epopéia italiana
produz uma materialidade que precisa ser desmontada.
Gardelin escreveu um alerta sobre a interpretação feita por muitos estudiosos
e historiadores sobre o analfabetismo entre os imigrantes italianos, já que a maioria,
especialmente os homens, era alfabetizados. Para ele não há dúvida de que o
empobrecimento cultural e o analfabetismo foi presença entre os filhos desses imigrantes
que, na realidade local, viram-se alijados da presença de um sistema escolar que atendesse
a todas as demandas existentes. “O nível de instrução e de alfabetização dos colonos de
1875 não era o de 1900,e muito menos o de 1925, que é o momento em que se fixaram
inúmeros conceitos.” (GARDELIN, 1993, p. 123).
Importante referir que as colônias da Serra Gaúcha foram ocupadas por italianos
provenientes, em sua maioria, de regiões do norte da Itália, onde as políticas públicas já se
preocupavam com o processo de escolarização. Grosselli informa que em Trento, em 1880,
as pessoas analfabetas, com mais de 6 anos de idade, eram em torno de 14,5% do total da
população, sendo 12% homens e 16% mulheres. Acrescenta que a obrigação de freqüência
escolar dos 6 aos 12 anos estava em vigor desde 1774, e foi estendida a obrigatoriedade até
os 14 anos em 1869.7 Certamente não migraram para a Região Colonial Italiana apenas
trentinos, mas a situação escolar assemelhava-se nas demais regiões do norte, em especial
naquelas que estiveram sob domínio Austro-Húngaro.
Publicações e discursos naturalizados dão conta de que o imigrante italiano pouco
teria se importado com a instrução de seus filhos e que, eles próprios, em sua maioria,
seriam analfabetos. Entretanto, ao serem considerados os índices anteriores e consultadas
as fontes primárias como o primeiro recenseamento realizado nas Colônias Conde d’Eu
e Dona Isabel8, no ano de 1883, percebe-se que especialmente homens declararam, em
sua grande maioria, serem alfabetizados, perfazendo uma média de 74% dos homens
adultos. Informa Giron que, a partir do levantamento dos Mapas Estatísticos da Colônia
Caxias, “[...] 63% dos imigrantes de sexo masculino sabiam ler, enquanto apenas 37%
6
Uma discussão sobre o mito do herói italiano foi produzida na dissertação já publicada por CORTEZE. Dilse
Piccin. Ulisses va in América: história, historiografia e mitos da imigração italiana o Rio Grande do Sul (1875 a 1914).
Passo Fundo: ed. UPF, 2002.
7
“Nel 1880 le persone analfabete in Trentino, com piú di 6 ani di età erano 50.000 su uma populazione
complessiva di 352.000, cioè il 14,5% del totale della popolazione (12% tra i maschi e 16% tra le femmine). In alcune zone
di alta montagna, dove la gente abituata all’emigrazione stagionale ormai da secoli, il tasso di analfabetismo giungeva al
3%-4%. L’obbligo scolastico daí 6 ai 12 anni era in vigore dal 1774 e fu esteso ai 14 anni nel 1869. Nel 1880 si contavano
nella regione 569 maestri e 770 maestre, um insegnante elementare cioè ogni 260 persone, come sappiamo pagati dalle
amministrazioni comunali che si facevano carico anche delle spese di costruzione e manutenzione delle scuole e talvolta
anche dei costi dei libri scolastici. Nella stessa annata si contavano pure 8 scuole superiori.” GROSSELLI, Renzo M.. Noi
tirolesi, sudditi felici di Don Pedro II. Porto Alegre: EST edições, 1999, p. 53.
8
Recenseamento da Colônia Conde d’Eu e Dona Isabel em 1883, Arquivo Histórico e Geográfico de
Montenegro.
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das mulheres eram alfabetizadas” (1998, p. 90). Os dados levam a crer que, se o índice
de analfabetismo cresceu nas colônias, foi nas primeiras décadas de colonização, entre os
filhos de imigrantes que não tinham, muitas vezes, onde estudar.
As antigas colônias rapidamente prosperaram e os municípios que atualmente as
compõem possuem elevada renda per capita e excelente qualidade de vida, se comparado
com o restante do País. A partir disto, surge a pergunta: se a escola não era importante para
aqueles colonos como explicar os dados atuais existentes com relação à escolarização?
Claro está que há indícios bem concretos os quais permitem considerar ter havido
movimentos em prol da escola. A escola foi desejada e solicitada. No universo cultural
daqueles imigrantes e seus descendentes, ela tinha importância no processo de negociação
e construção dos processos identitários, na afirmação e constituição de significados
culturais, bem como uma utilidade prática – a de conhecerem o idioma nacional, podendo
assim comercializar seus produtos e não serem enganados. A educação das crianças se
fazia na participação da família, no exemplo e na execução de responsabilidades, das quais
elas, desde cedo, tinham de dar conta (trabalho), no ensinamento / catecismo religioso e,
também, na escola – pensada, especialmente, em seu sentido prático e básico – a leitura, a
escrita e as quatro operações.
A escola seria uma estratégia de sobrevivência na medida em que viabilizaria a
aquisição de conhecimentos, os quais permitissem uma adaptação e uma convivência
melhor na nova Pátria. Como concluiu Correa, em estudo sobre a imigração italiana
em Campinas, São Paulo, “[...] a educação aparece como uma forma [...] de buscar lidar
com a convivência social local [...]. as iniciativas educacionais desenvolvidas por esses
imigrantes representaram a forma de perseguir um direito que se lhes tinha negligenciado
por parte do Estado brasileiro.” A mesma autora considera ainda ser “[...] inconteste
que os imigrantes italianos criaram escolas ao mesmo tempo em que as reivindicaram
do Estado e, de ambos os modos, agiram organizadamente e até mesmo o fizeram
individualmente [criando escolas particulares].”9 Marcílio (2005), Liebana (1999), Payer
(1999), entre outros autores corroboram na afirmação da importância da escola para
grupos de imigrantes italianos estabelecidos em outras regiões do Brasil.
As estratégias dos imigrantes para viabilizar o mínimo de aprendizagem aos seus
filhos produziu iniciativas semelhantes, mesmo tendo colonizado estados e regiões
diferenciadas do Brasil. Ao referenciar outros estudos já realizados sobre os imigrantes
italianos e a escola, sua importância e sentido, é perceptível que a escola foi importante,
pois houve iniciativas particulares, cobranças às administrações públicas e até formação
de associações que atendessem a demanda escolar. Não se trata de uniformizar o processo
escolar e as iniciativas envolvidas, mas de interrogar os indícios históricos.
Vale referir, em virtude do exposto anteriormente, que a “indiferença pela
escolarização”, reiteradamente afirmada nas produções bibliográficas sobre a Região
Colonial Italiana, entre os imigrantes e seus descendentes, deixa de considerar, de
9
CORRÊA. Rosa Lydia Teixeira. Conviver e sobreviver: estratégias educativas de imigrantes italianos (1880
a 1920). Tese em História. São Paulo: USP, 2000, p. 211 e 212. E CORRÊA, Rosa Lydia Teixeira. Imigração Italiana e
estratégias de inserção sociocultural: a Escola do Circolo Italiani Uniti de Campinas. In: BENCOSTTA, Marcus Levy
Albino. Memórias da Educação – Campinas (1850 a 1960). Campinas, SP: ed. Unicamp, 1999, p. 245 a 274.
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certa forma, as difíceis condições em que viviam muitas das famílias. Claro está que
havia abundância de alimento, mas parcas condições financeiras para adquirir calçados,
fazendas (tecidos) e mesmo materiais escolares. Considerando os contextos de saída
(da península itálica) e de chegada (ao Brasil, Rio Grande do Sul) dos milhares de
imigrantes que colonizaram as colônias Dona Isabel, Conde d’Eu, Caxias e as demais
criadas posteriormente, é coerente a afirmação de que, durante os primeiros anos,
aqueles grupos de imigrantes não tiveram condições materiais para investir, de forma
mais sistemática, na expansão do sistema educativo (muito precário) nas colônias. No
entanto, paulatinamente, as iniciativas surgiram, afirmaram e propagaram a escolarização.
10
Em 28/02/1930 foi instalada em Caxias do Sul, a Escola Complementar Duque de Caxias para a formação de
professores. Ela representou a implementação concreta de um projeto de educação pública, na medida em que investiu na
formação dos professores da Região. Em 1932, quando se formou a primeira turma, ali estavam jovens complementaristas
provenientes de diversos municípios e essa condição progressivamente produziu diferenças na organização administrativa
e didático-pedagógica do ensino primário regional.
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11
Objeto de estudo e análise de dissertações ou teses, em especial, para a educação, as teses de TAMBARA,
Elomar. Positivismo e educação: a educação no Rio Grande do Sul sob o castilhismo. Pelotas:UFPel, 1995 e CORSETTI,
Berenice. Controle e Ufanismo: a Escola Pública no Rio Grande do Sul. UFSM, 1998. E, ainda, GIOLO, Jaime. Estado,
Igreja e Educação no RS da Primeira República. São Paulo: FEUSP, 1997.
Cadernos de História da Educação – v. 11, n. 2 – jul./dez. 2012 675
A escola não deve ser apenas o primeiro foco da educação espiritual. Desenvolvendo
as faculdades físicas e intelectuais do aluno, ela deve ao mesmo tempo ministrar os
conhecimentos rudimentares mais essenciais à aprendizagem de qualquer profissão
técnica ou profissional. [grifos meus].
Em 1908, não deixou de reiterar a idéia que perpassava a política pública empreendida
para o setor afirmando que “[...] o melhor de todos os bens é a instrução; aperfeiçoando
o indivíduo física, intelectual e moralmente, não só o torna apto e disposto às lutas que
a vida impõe, como coopera eficazmente para o engrandecimento da Pátria.”15 Muitos
desses discursos, em defesa da educação pública, são encontrados nos relatórios dos
intendentes dos municípios em estudo.
Sem dúvida, as solicitações pela escola pública foram uma constante em todo
o período estudado. As comunidades podiam propor que a municipalidade pagasse o
professor e mantivesse a escola provida com os materiais necessários, já que eles doavam
o terreno e a construção da escola:
12
Mensagem enviada à Assembléia dos Representantes do Estado do Rio Grande do Sul pelo Presidente Antônio
Augusto Borges de Medeiros na 4ª. Sessão Ordinária da 4ª. Legislatura em 20 de setembro de 1904.
13
Veja-se DIDONET, Zilah Cercal. O Positivismo e a Constituição Rio-Grandense de 14 de julho de 1891. Santa
Maria: UFSM, 1975. Dissertação de Filosofia.
14
Mensagem enviada à Assembléia dos Representantes do Estado do Rio Grande do Sul pelo Presidente Antônio
Augusto Borges de Medeiros na 3ª. Sessão Ordinária da 5ª. Legislatura em 20 de setembro de 1907, p. 11.
15
Mensagem enviada à Assembléia dos Representantes do Estado do Rio Grande do Sul pelo Presidente Antônio
Augusto Borges de Medeiros na 4ª. Sessão Ordinária da 5ª. Legislatura em 20 de setembro de 1908, p. 13 e 14.
16
Fundo Educação. AHMSA.
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17
Fabriqueiro ou fabricário era o encarregado de receber os rendimentos da fábrica de uma igreja ou capela,
de cuidar dos móveis e paramentos, além de administrar internamente o templo e o entorno a ele pertencente (caso do
cemitério, salão...).
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Finalizando...
Referências
18
O Decreto n. 1479 de 26 de maio de 1909, modificou o programa de ensino complementar e criou colégios
elementares do Estado. Os Colégios Elementares significaram um “novo” modelo de organização da escola: seriada com
um professor em cada classe, entre outras proposições.
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TAMBARA, E.. Positivismo e educação: a educação no Rio Grande do Sul sob o castilhismo.
Pelotas:UFPel, 1995.
WERLE, F. O. C.. O nacional e o local: ingerência e permeabilidade na educação brasileira.
Bragança Paulista: ed. Universidade São Francisco, 2005.
ZAGONEL, C. A.. Igreja e Imigração Italiana. Porto Alegre: EST / Sulina, 1975.