RCC - O Que É o Dom de Lágrimas

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O que é o dom de lágrimas?

Lágrimas de Arrependimento

“O amor torna as pessoas indispensáveis. Seu eu amo, eu preciso de você...e


isso me faz melhor. Se eu amo, passo a gostar mais da sua voz do que da
minha...p.11.O Dom das Lágrimas. Márcio Mendes. Editora Canção Nova. 33[.
Ed. 2007.

“Se diante de nossa vida despedaçada perguntarmos: “Onde é que está


Deus?”, a resposta é ajuntando os cacos para nos ajudar a reconstruí-la. Deus
não é a causa do sofrimento. Ele não quer e não pode fazer o mal a ninguém.
Mas uma coisa é certa: ele está sempre ao lado de quem sofre.”(p.16. O Dom
das Lágrimas. Márcio Mendes. Editora Canção Nova. 33ª. Ed. 2007).

“A Palavra de Deus fala de um tipo de oração feita entre ‘lágrimas’ que é


poderosíssima. Isso por se tratar de um dom do Espírito Santo. É uma oração
eficaz que Deus atende prontamente. Por isso está escrito: “Roguemos ao
Senhor com lágrimas que nos conceda a sua misericórdia como lhe aprouver,
para que assim como se perturbou o nosso coração com o orgulho dos nossos
inimigos, do mesmo modo encontraremos glória em nossa humilhação”(Jt 8,
17). Deus tem o poder de transformar em vitória a humilhação que vivemos no
momento presente. O choro nos esvazia na presença do Senhor e, quando um
coração está vazio de si mesmo, Deus o encherá. É a humildade que atrai o
Senhor ao nosso encontro. No dom de lágrimas, Deus cura o coração ferido
pelo pecado, purifica-o e fortalece-o contra todo mal e toda tentação. Trata-se
de um favor, um dom que Deus concede de graça, um benefício que ele dá e
que tem o poder de tornar a pessoa liberta. Esse dom tem a força de devolver
a felicidade aos que se perderam de Deus e mergulharam nas trevas da
tristeza. É uma graça especial e firme de intercessão que age em nós para
salvar as pessoas...Deus, pela humildade das lágrimas, salva da morte e do
desespero. Ele desperta esse carisma no coração de uma pessoa quando quer
torná-la melhor, mais santa. São muitos os bens que o Espírito Santo realiza na
vida daqueles a quem deu esse dom. Mas a graça só acontece se a pessoa
acolher com reconhecimento. (p.20-22. O Dom das Lágrimas. Márcio Mendes.
Editora Canção Nova. 33ª. Ed. 2007).

“São Pedro Damião havia experimentado a força do chorar no Espírito e isso


lhe permitia afirmar: “Ademais, as lágrimas dissolvem todo contágio de
impureza na prostituta, e contribuem para que as mãos imundas mereçam
tocar não apenas os pés mas a cabeça do Senhor. Dizia ainda que as lágrimas
contribuem para que aquele que foi infiel e pecou não pereça depois da
queda.” (p.26. O Dom das Lágrimas. Márcio Mendes. Editora Canção Nova.
33ª. Ed. 2007).
“Foi o que aconteceu  com Pedro. Depois de ter se entregado à tristeza e
negado por três vezes o Filho de Deus, Pedro fica amargurado e entra em
sofrimento. O olhar de infinita misericórdia de Jesus provoca lágrimas de
arrependimento e cura seu coração. Jesus não o acusa, apenas recebe-o de
volta como amigo.(p.30. O Dom das Lágrimas. Márcio Mendes. Editora Canção
Nova. 33ª. Ed. 2007).

 
“Quero citar cinco coisas que ajudam a viver essa experiência:

 
a)Rezar para obter este dom...b)Deixar-ser moldar por Deus..s)Desapegar-se
da própria imagem e romper com preconceitos – Se uma pessoa se prende à
preocupação pelo que os outros vão pensar dela,se fica envergonhada pelo
fato de ser vista chorando, se ela está de tal maneira presa à própria fama e
aspecto físico...então corre o risco de não se abrir aos dons de Deus...d)Buscar
a Glória de Deus ..e)Confiar no doador.(p.40-41. O Dom das Lágrimas. Márcio
Mendes. Editora Canção Nova. 33ª. Ed. 2007).

“Não é difícil descobrir quando as lágrimas são um dom de Deus...há um choro


que me torna pesado e, por isso, afundo. É o choro da criança i9matura que
não conseguiu o que queriam, choro de ressentimento, de raiva, de medo –
são aquelas lágrimas de frustração e de impaciência. É ainda aquele pranto em
que choro com pena de mim mesmo. Quem alimenta esse tipo de choro corre o
risco de adoecer...quem chora de raiva reforça a sua raiva. Quem chora de
tristeza aprofunda a tristeza. Esse tipo de lamentação faz muito mal, porque em
vez de libertar, manem a pessoa presa, curtindo o ressentimento.(p.42-43. O
Dom das Lágrimas. Márcio Mendes. Editora Canção Nova. 33ª. Ed. 2007).

Lágrimas que curam

“Esse encontro com Jesus é possível, e continua tão forte e intenso como
antes. Basta querer e se aproximar do Senhor para experimentar. Uma pessoa
me escreveu contando: “hoje, passei pela experiência de chorar e ser
consolada por Deus. Senti uma dor muito forte e um medo de que acontecesse
de novo um sofrimento que tive há alguns anos. Quando comecei a rezar e a
clamar por Deus, comecei a chorar e percebi que ele estava me curando.”
(p.27-28. O Dom das Lágrimas. Márcio Mendes. Editora Canção Nova. 33ª. Ed.
2007).
Lágrimas pela contemplação da verdade

No mesmo momento em que o Espírito Santo começa a nos revelar a verdade


sobre nós, sobre as coisas deste mundo e também sobre as realidades
espirituais, os nossos olhos começam a derramar lágrimas, os nossos olhos
começam a derramar lágrimas, porque o ser humano sempre chora quando se
aproxima da verdade. Deus é a verdade. “Quando chorei ouvindo hinos”(...),
dizia Agostinho: ‘ que emoção me causavam! Fluíam em meu ouvido destilando
a verdade em meu coração.” (p.51. O Dom das Lágrimas. Márcio Mendes.
Editora Canção Nova. 33ª. Ed. 2007).

Dom de lágrimas e Santa Catarina de Sena:

Dom das Lágrimas

Outra característica da espiritualidade de Catarina está vinculada ao dom das


lágrimas. Elas exprimem uma sensibilidade sublime e profunda, uma
capacidade de comoção e de ternura. Não poucos Santos tiveram o dom das
lágrimas, renovando a emoção do próprio Jesus, que não impediu nem
escondeu o seu pranto diante do sepulcro do amigo Lázaro e do sofrimento de
Maria e de Marta, e da visão de Jerusalém nos seus últimos dias terrenos.
Segundo Catarina, as lágrimas dos Santos misturam-se com o Sangue de
Cristo, do qual ela falava com tonalidades vibrantes e imagens simbólicas
muito eficazes: «Recordai Cristo crucificado, Deus e homem (...). Ponde-vos
como objectivo Cristo crucificado, escondei-vos nas chagas de Cristo
crucificado, afogai-vos no sangue de Cristo crucificado» (Epistolário, Carta n.
21: A alguém sobre cujo nome não se pronuncia). 24 de Novembro de 2010 –
Papa Bento XVI

http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2010/documents/
hf_ben-xvi_aud_20101124_po.html

O Tratado das lágrimas descrito no diálogo de Santa Catarina de Sena com


Deus:
Lágrimas imperfeitas: se fundamentam no temor servil. Em primeiro lugar, as
lágrimas de condenação, próprias dos pecadores; em seguida, as lágrimas de
medo, encontradas naqueles que deixam o pecado mortal por medo de castigo
e choram; em terceiro lugar, as lágrimas de autoconsolação, derramadas pelas
almas livres dos pecados mortal que começam a servir-me. Estas últimas
também são imperfeitas, pois imperfeito é o amor de onde procedem.

Lágrimas perfeitas: são as que procedem do homem que atingiu a perfeição do


amor pelo próximo e que me ama desinteressadamente. Unidas a estas últimas
estão as lágrimas de prazer, espirituais, versadas em grande suavidade...Há,
enfim, as lágrimas de fogo, espirituais, concedidas áqueles que desejam chorar
e não conseguem.

Deus concede à Santa Catarina de Sena a explicação das espécies de


lágrimas:

1ª. Lágrimas de condenação

As primeiras são próprias das pessoas que vivem em pecado mortal. As


lágrimas brotam do coração; como aqui a fonte está corrompida, o pranto é
pecaminoso e mau, bem como todas as demais atividades.

As lágrimas nascem do coração...O pecador, por exemplo, chora quando o


coração sofre com a perda de um objeto amado. Suas lágrimas são
numerosíssimas, conforme a variedade do amor. Achando-se corrompida a raiz
interior, que é o egoísmo, tudo nasce corrompido. É como uma árvore, cujos
frutos fossem venenosos, as flores pobres, as folhas manchadas e os ramos
voltados para o chão...tal é a árvore interior dos pecadores. Vós, porém, deveis
ser árvores de amor. Por amor vos criei, sem amor não podeis viver. O homem
virtuoso planta sua árvore no vale da humildade; o orgulhoso, na montanha da
soberba.Mal plantada, a árvore deste último só produz frutos mortais...mesmo
quando o pecador pratica uma boa ação, não merece para a vida eterna, uma
vez que a raiz do egoísmo prejudica tudo. Sua alma, em pecado mortal, não
possui a graça. Mesmo assim, o homem pecador não deve deixar de praticar o
bem, pois toda boa obra terá sua recompensa. A boa ação praticada em
pecado mortal não merece o céu, mas é paga por minha justiça. Ás vezes,
darei bens materiais; outras vezes...dou uma vida mais longa para o pecador
emendar-se; outras ainda, concedo a vida da graça pelos merecimentos de
algum meu servidor. Foi o que fiz no glorioso apóstolo Paulo, que abandonou a
infidelidade e as perseguições ao cristianismo devido às preces de santo
Estevão(At 7,60). Como vês qualquer que seja seu estado de vida, ninguém
deve deixar de fazer o bem.

O homem pecador pronuncia-se iniquamente sobre meus ocultos juízos e


mistérios; despreza tudo quanto realizei por amor; nega quanto revelei em meu
Filho...tais pessoas tudo julgam e condenam em sintonia com seu parecer
enfermiço. O egoísmo cegou-lhes a inteligência, vendou o olhar da fé, impediu-
lhes de reconhecer a verdade. ..Sem autoconhecimento, o infeliz pecador
pretende pronunciar-se sobre o segredo íntimo dos outros. Baseado em
comportamentos exteriores, julga os sentimentos do coração. Meus servidores
julgam sempre retamente, pois fundamentam-se na minha bondade; os
pecadores, sempre mal, alicerçados que estão na maldade. De seus juízos
nascem muitas vezes o ódio, homicídios, desprezo pelos demais,
distanciamento de meus servidores devido ao seu amor pela virtude. ...a
preocupação dos pecadores é falar mal, blasfemar contra minhas obras,
murmurar contra todo mundo...a palavra pronunciada penetra fundo no coração
do homem a quem é dirigida, atinge regiões que nenhum punhal alcança.

...Além do medo, os pecadores costumam sofrer adversidades, quais sejam


perdas de bens em geral e em particular. Em geral, por ocasião da morte; em
particular, pela privação de uma coisa ou outra: saúde, filhos, riquezas, posição
social, honras. Tais perdas acontecem quando eu, médico bondoso, julgo
proveitoso permiti-las, da mesma forma como concedera aqueles bens antes.
Por terem o coração corrompido, muitos pecadores impacientam-se, sem
procurar compreender. Surgem os protestos, a murmuração, o ódio, o
desprezo por mim e pelos outros. Consideram mal aquilo que eu dera como
bem; apenas lhes conta a dor pelo objeto amado. Diante disso, o pecador
costuma cair num pranto angustiado e impaciente, que lhe arruína e mata a
alma, privando-a da vida da graça; um choro que cega a pessoa, corporal e
espiritualmente; que lhe retira toda alegria, toda esperança. Chora o pecador,
porque privado daquilo que constituía seu prazer e o objeto de sua afeição, de
sua esperança, de sua fé. Além da lágrima, há outras causas desses grandes
inconvenientes; são a afeição desordenada e a angústia do coração, donde a
lágrima procede. De fato, não é a lágrima exterior que causa a morte espiritual
e o sofrimento, mas sim a raiz donde ela nasce, isto é, o egoísmo do coração
desregrado. Quando o coração é bom e possui a graça, o pranto também é
santo e alcança de mim a misericórdia. Dei o nome de ‘lágrima de condenação’
a este pranto, porque manifesta que o coração está morto. 

Disse acima que existe também o vendaval do remorso! Como sou bondoso,
sirvo-me da prosperidade material para atrair amorosamente os homens; do
temor servil, a fim de que orientem o coração para a prática das virtudes; da
adversidade, para que o homem tome consciência da fragilidade e incerteza
das realidades deste mundo. Acontece, porém, que para alguns todos esses
meios não produzem efeito; dado que os amo demais, envio então o remorso
da consciência. Quero que confessem seus pecados no sacramento da
penitência. Quando se obstinam no mal e recusam tal graça, os pecadores
acabam na reprovação. Iludem as reprovações da própria consciência,
distraem-se com prazeres ilícitos, ofendem a mim e ao próximo. Com a raiz da
árvore apodrecida, tudo secou e a pessoa recai na tristeza íntima entre
lágrimas e angústias. Não havendo conversão enquanto para isso dispõem da
liberdade, tais pessoas passarão do pranto da terra para o choro do inferno.
Então o finito se mudará em infinito, pois a causa deste último pranto é o ódio
infinito pelo bem, em que se fundamente o pecador...Enquanto estais neste
mundo, sois livres de amar ou odiar como quereis; quem encera esta vida no
amor, terá um bem infinito e quem a terminar no ódio, encontrar-se-á num mal
interminável, da condenação eterna...Para os condenados de nada servem
vossas esmolas e boas obras. São membros separados do corpo que eu
constituí na caridade. Recusaram obedecer aos santos preceitos da jerarquia,
de quem recebeis nesta vida o sangue do Cordeiro imaculado. Condenaram-
se, assim, eternamente em choro e ranger de dentes(Mt 8, 12), quais mártires
do demônio(14.13). Ali recebem do demônio os frutos que para si recolheram.
Desse modo, as lágrimas de condenação fazem sofrer nesta vida e dão a
companhia interminável dos demônios na outra.

2ª.Lágrimas de temor:

As segundas lágrimas pertencem áqueles que começam a ter consciência dos


próprios males e temem os castigos consequentes. Constitui o comum início de
conversão...

“O medo de ser castigado age sobre o livre arbítrio e este procede à limpeza da
casa da alma. Tendo-se purificado(na confissão) o homem sente paz em sua
consciência, põe ordem nas suas afeições, abre a inteligência para o
autoconhecimento. Antes de tal purificação, a inteligência apenas pensava nos
pecados; surgem agora as primeiras consolações espirituais. Livre dos
remorsos, a alma espera o alimento das virtudes. Acontece-lhe como para o
doente após a cura: volta-lhe o apetite. Tocará à vontade preparar-lhe o
alimento espiritual.”
3ª. Lágrimas de autocompaixão:

As terceiras lágrimas estão nas pessoas que superam o temor servil e


atingiram o amor e a esperança. Percebem que lhes perdoei, sentem favores e
consolações. Para concordar com o coração, choram. Como são
imperfeitas..trata-se de um pranto ao mesmo tempo sensível e espiritual.

“Livre do medo dos castigos, a alma colhe as segundas lágrimas de vida, com
as quais busca o amor e a prática das virtudes. Embora ainda seja imperfeita, a
pessoa já não teme; como verdade suma, eu lhe dou consolações e amor. Por
causa de tal consolação e amor, ama-me docemente a mim e as demais
pessoas. A vivência desse amor na alma purificada pelo temor servil infunde
numerosas e variadas consolações. Se perseverar, chegará a sentar-se à
mesa do Crucificado, passando do medo ao amor.”

4ª. Lágrimas de amor:

As quartas lágrimas acontecem com a prática das virtudes. Crescendo o desejo


da alma, a pessoa se une e se conforma à minha vontade; quer o que eu
quero, ama profundamente o próximo. É um pranto de amor por mim e de dor
pelos pecados e prejuízos sofridos pelo próximo.

Ao chegar às terceiras lágrimas de vida, o homem se põe à mesa da santa


cruz, nela saboreando o amoroso Verbo encarnado. Meu Filho deseja minha
honra e vossa salvação; por isso, seu coração foi aberto e se fez  vosso
alimento. Nesta ‘mesa’ o homem começa a alimentar-se do desejo da minha
glória e da salvação dos homens, bem como a renunciar a si mesmo e ao
pecado. Que frutos recolhe o homem destas lágrimas...são os seguintes:
grande força em dominar a sensualidade, verdadeira humildade, muita
paciência. Esta paciência vence toda oposição e liberta o homem dos
sofrimentos. Quem faz sofrer é a vontade própria, que é destruída pela
renúncia a si mesmo. A paciência domina a sensualidade, que se revolta diante
das ofensas, perseguições, ausência de consolações espirituais e sensíveis,
tornando o homem sofrido. Com a morte da vontade própria, a pessoa
experimenta os frutos da paciência em desejo amoroso e lacrimejante....Nas
injúrias vive em paz. Ao navegar por mares procelosos, quando perigosas
ventanias erguem terríveis ondas contra a barquinha da alma, tu vais tranquila
e serena sem danos. Minha vontade eterna te protege e impede que a água do
pecado penetre em ti! Filha querida, a paciência é uma rainha encastelada
numa fortaleza de rocha; vence e jamais é vencida. Nunca está sozinha, pois a
constância lhe faz companhia! Ela é o cerne da caridade, é o sinal de que
alguém possui a veste nupcial do amor. De fato, logo que tal ‘veste’ é rasgada,
o homem se torna impaciente...O homem paciente nunca deixa de me honrar e
de trabalhar pela salvação dos outros, dedicando a isso o próprio tempo. Ó
filha querida, a paciência encontrava-se nos mártires, que mediante os
sofrimentos salvaram outros; suas mortes foram fontes de vida, ressuscitando
mortos e expulsando as trevas do pecado mortal. Na força desta virtude rainha,
eles venceram o mundo com seus atrativos; com seus recursos, os poderosos
não conseguiram derrotá-los. A paciência é uma lâmpada sobre o
candelabro.  Tal é o fruto produzido pela ‘lágrima de amor’...a dor sentida é
uma dor que conforta, pois nasce da caridade e é causada pelo conhecimento
de pecados contra mim e de danos sofridos pelos pecadores.. É um sentimento
quebrota do amor e enriquece o homem; algo que alegra, algo que revela
minha presença na graça.

5ª. Lágrimas de união:

As quintas lágrimas, próprias da última perfeição, completam as anteriores. Em


união com a verdade eterna, estes progridem muito no desejo santo. Por esse
motivo, o demônio os teme e não consegue prejudicar-lhes a alma, seja com
ofensas, pois são pacientes na caridade, seja com atrativos espirituais e
materiais, por eles humildemente desprezados...Quem vive em mim não pode
ser enganado. O diabo evita os perfeitíssimos como o mosquito se afasta da
panela que ferve, por medo do calor.

Neste...estado, aumenta tanto a caridade, que o homem não somente suporta


as dificuldades pacientemente, mas deseja-as com alegria...Desejoso de
configurar-se a Cristo crucificado, renuncia a toda satisfação pessoal, de
qualquer tipo que seja. Fruto desta lágrima de união é a quietude do espírito,
uma comunhão contínua comigo em grande prazer...Nele o homem se une
muito estritamente ao amor divino...A memória lembra-se de mim
permanentemente, atenta aos meus benefícios; mas ela se fixa menos sobre
os benefícios, do que no amor com que os dei...De maneira particular a
memória considera o dom da criação, pelo qual o homem surgiu do nada à
minha imagem e semelhança...É no coração de Cristo que a memória supera
toda imperfeição e enche-se da recordação dos meus favores....Uma vez
superada a cegueira do egoísmo, ela contempla o sol que é Cisto crucificado e
o reconhece como Deus e Homem. Por ocasião da união comigo, recebera
uma ulterior iluminação infusa, dom gratuito meu , que não desprezo os
ardentes desejos e esforços da alma. A vontade segue a inteligência, une-se à
sabedoria infusa com um amor perfeitíssimo, muito ardente. Se me
perguntassem o que aconteceu numa pessoa assim, eu responderia: tornou-se
um outro eu na caridade!...São Tomás de Aquino, por exemplo, adquiriu sua
sabedoria mais na oração, no êxtase e na iluminação da mente do que no
estudo humano. Foi uma lâmpada por mim colocada na jerarquia da Santa
Igreja a dissipar as trevas do erro. São João Evangelista, quanta luz recebeu
ao reclinar-se sobre o peito de Cristo(Jo 13, 25)...são esses frutos da união
nesta vida, entre lágrimas e suores, no último estado da vida espiritual – Se a
pessoa perseverar, passará, um dia, dessa união – imperfeita como união, mas
perfeita quanto à graça, à perfeita união celestes. Enquanto se encontra no
corpo, o homem não atinge tudo o que deseja; estará preso a uma ‘lei
perversa’, cuja força as virtudes adormecem, mas não destroem....As almas
que forem para o céu, terão a vida eterna; os demais terão a condenação como
punição de seu pranto pecaminoso. Os primeiros, dos sofrimentos desta vida
passarão à alegria; a vida eterna será a recompensa de suas lágrimas de
amor. No céu...continuarão a oferecer-me lágrimas de fogo em vosso favor.
Concluo assim minhas palavras sobre as lágrimas, suas qualidades e seus
efeitos. Umas conduzem os perfeitos ao céu, outras levam os maus á perdição!

As lágrimas de fogo

Qualquer que seja o motivo pelo qual se chore, é do coração que todas as
lágrimas nascem. Neste sentido, indistintamente podem ser chamadas
‘lágrimas cordiais’. A diferença entre elas encontra-se na qualidade do amor,
bom ou mau, perfeito ou imperfeito...existe alguma lágrima que não saia dos
olhos?

Sim, existe um pranto de fogo, procedente do desejo santo e que faz


consumar-se no amor por mim. Há pessoas que gostariam de chorar na
renúncia de si mesmas e no desejo de salvar os outros, mas não consegue.
Relativamente a tais pessoas, afirmo que já possuem a lágrima de fogo, com
que chora o Espírito Santo. Sem lágrimas exteriores, elas me oferecem as
aspirações da vontade que deseja chorar. Aliás, se prestares atenção, verás
que o Espírito Santo chora em cada servidor meu que possui o desejo santo e
faz orações contínuas e humildes na minha presença. Ao que parece foi quanto
pretendia afirmar o glorioso apóstolo Paulo, ao dizer que o Espírito Santo chora
em mim ‘com gemidos inefáveis’(Rm 8, 26), a vosso favor.

O fruto da lágrima de fogo não é menor que o das demais. Muitas vezes, até
maior, dependendo da intensidade do amor. Ninguém deve perturbar-se, pois,
e julgar-se distante de mim, só porque não derrama as lágrimas que deseja. Ao
desejar lágrimas, ocorre conformar-se á minha vontade, humilhar-se diante do
‘sim’ e do ‘não’ por mim pronunciados. Ás vezes, deixo uma pessoa sem
lágrimas, a fim de que permaneça numa atitude humilde, em oração contínua,
desejosa de chegar a mim. Almas existem que, se conseguissem o que
almejam, nem tirariam proveito; sentir-se-iam satisfeitas com a obtenção das
lágrimas desejadas e cairiam no egoísmo. É para vosso crescimento que não
dou lágrimas exteriores, mas unicamente as do espírito, as do coração,
inflamadas na chama da divina caridade. Em todo estado de vida e ocasião,
tais pessoas podem agradar-me. A menos que seu espírito se afaste de mim
por falta de fé e amor. Sou o médico, vós sois os doentes; dou a todos o que é
necessário para a salvação e o crescimento de vossas almas. (Diálogo.Editora
Paulus. 12ª.ed. 2011. p.179-200).

“Também os capítulos seguintes do diálogo (32), que se costumam


chamarTratado das lágrimas, procedem segundo a mesma via ascensional
mas com absoluta originalidade de esquema, que demonstra na Santa a
dominadora da personalidade própria e da didáctica desenvolvida e precisa,
apesar da improvisação do ditado.” João Paulo II. Carta Apostólica
Amantissima
Providentia.http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_letters/
documents/hf_jp-ii_apl_29041980_amantissima-providentia_po.html
Catarina de Sena oferece nos seus escritos um dos mais fúlgidos modelos
daqueles carismas de exortação, de palavra de sabedoria e de palavra de
ciência operantes, como declara São Paulo, nalguns fiéis das primitivas
comunidades cristãs e cujo uso ele quis que fosse bem disciplinado,
admoestando que estes dons são concedidos não tanto para o benefício
daqueles que os possuem, mas, principalmente, para o bem de todo o Corpo
da Igreja, porque, efectivamente, nele — explica o Apóstolo — «tudo isto é
obra do mesmo e único Espírito, que distribui os seus dons a cada um,
conforme entende » (1 Cor 12,11), e, portanto, o benefício dos tesouros
espirituais que o Espírito Santo concede devem redundar em benefício de
todos os membros do Corpo Místico de Cristo (cfr. 1 Cor 11, 5; Rom 12, 8; 1
Tim 6, 2; Tit 2, 15).(Santa Missa da Proclamação de Santa Catarina de Sena
como Doutora da Igreja. Homília do Papa Paulo VI. 04.10.1970).

http://www.vatican.va/holy_father/paul_vi/homilies/1970/documents/hf_p-
vi_hom_19701003_po.html

São João Maria Vianney e o dom das lágrimas:

Recebeu com abundancia o dom das lagrimas…Pois, bem, o Cura D´Ars


nunca falava do pecado e dos pecadores sem chorar. Durante todo o tempo da
Via-Sacra, os soluços arquejavam-lhe o peito. Não raro, ao distribuir a Sagrada
Comunhão, as lágrimas caíam-lhe sobre a casula. Mormente no fim de sua
vida, não podia pregar sobre a Eucaristia, a bondade e o amor de Deus, e
sobre as delicias do céu, sem ser interrompido pelas lágrimas…Chorava ao ver
o espetáculo mais humilde da natureza, se lhe recordava o amor de Deus ou o
endurecimento dos pecadores. Dizia: “Os passarinhos cantavam no bosque, e
eu me pus a chorar. Pobres animaizinhos, pensava eu, Deus vos criou para
cantar e vós cantais…O homem foi feito para amar a Deus não o ama. (p.379)

Bibliografia: TROCHU, Francis. O Santo cura D’Ars. Editora Littera Maciel.


1997.

Palavras da Bíblia:

“Tobit, então, suspirando em meio de suas lágrimas, pôs-se a orar” (Tobias 3,1)

“Então Raguel disse: Não tenho mais dúvidas de que Deus admitiu em sua
presença minhas lágrimas.” (Tobias 7,13)
“Quando tu oravas com lágrimas e enterravas os mortos, quando deixavas a
tua refeição e ias ocultar os mortos em tua casa durante o dia, para sepultá-los
quando viesse a noite, eu apresentava as tuas orações ao Senhor.” (Tobias
12,12)

“Mas o Senhor é paciente; façamos, pois, penitência por isso e peçamos-lhe


perdão com lágrimas nos olhos.” (Judite 8,14)

“Roguemos ao Senhor com lágrimas que nos conceda a sua misericórdia como
lhe aprouver, para que, assim como se perturbou o nosso coração com o
orgulho de nossos inimigos, do mesmo modo encontremos glória em nossa
humilhação.” (Judite 8,17)

“e, estando a seus pés, por detrás dele, começou a chorar. Pouco depois suas
lágrimas banhavam os pés do Senhor e ela os enxugava com os cabelos,
beijava-os e os ungia com o perfume.” (São Lucas 7,38)

“Servi ao Senhor com toda a humildade, com lágrimas e no meio das


provações que me sobrevieram pelas ciladas dos judeus.” (Atos dos Apóstolos
20,19)

“Nos dias de sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e
lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, e foi atendido pela sua piedade.”
(Hebreus 5,7)

“Quando me vêm ao pensamento as tuas lágrimas, sinto grande desejo de te


ver para me encher de alegria.” (II Timóteo 1,4)

“Temos dons diferentes, conforme a graça que nos foi conferida. Aquele que
tem o dom da profecia, exerça-o conforme a fé.7.Aquele que é chamado ao
ministério, dedique-se ao ministério. Se tem o dom de ensinar, que ensine;8.o
dom de exortar, que exorte; aquele que distribui as esmolas, faça-o com
simplicidade; aquele que preside, presida com zelo; aquele que exerce a
misericórdia, que o faça com afabilidade.9.Que vossa caridade não seja
fingida. Aborrecei o mal, apegai-vos solidamente ao bem.10.Amai-vos
mutuamente com afeição terna e fraternal. Adiantai-vos em honrar uns aos
outros.11.Não relaxeis o vosso zelo. Sede fervorosos de espírito. Servi ao
Senhor.12.Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes
na oração.13.Socorrei às necessidades dos fiéis. Esmerai-vos na prática da
hospitalidade.14.Abençoai os que vos perseguem; abençoai-os, e não os
praguejeis.15.Alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que
choram.16.Vivei em boa harmonia uns com os outros. Não vos deixeis levar
pelo gosto das grandezas; afeiçoai-vos com as coisa modestas. Não sejais
sábios aos vossos próprios olhos.17.Não pagueis a ninguém o mal com o mal.
Aplicai-vos a fazer o bem diante de todos os homens.18.Se for possível, quanto
depender de vós, vivei em paz com todos os homens.19.Não vos vingueis uns
aos outros, caríssimos, mas deixai agir a ira de Deus, porque está escrito: A
mim a vingança; a mim exercer a justiça, diz o Senhor (Dt 32,35).20.Se o teu
inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber. Procedendo
assim, amontoarás carvões em brasa sobre a sua cabeça (Pr 25,21s).21.Não
te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o bem.(Rm 12, 6, 21)

“Na Igreja, Deus constituiu primeiramente os apóstolos, em segundo lugar os


profetas, em terceiro lugar os doutores, depois os que têm o dom dos milagres,
o dom de curar, de socorrer, de governar, de falar diversas línguas.29.São
todos apóstolos? São todos profetas? São todos doutores?30.Fazem todos
milagres? Têm todos a graça de curar? Falam todos em diversas línguas?
Interpretam todos?31.Aspirai aos dons superiores. E agora, ainda vou indicar-
vos o caminho mais excelente de todos.(I Cor 12, 28-31).”

“A uns ele constituiu apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas,


pastores, doutores,12.para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o
desempenho da tarefa que visa à construção do corpo de Cristo,13.até que
todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus,
até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de
Cristo.14.Para que não continuemos crianças ao sabor das ondas, agitados por
qualquer sopro de doutrina, ao capricho da malignidade dos homens e de seus
artifícios enganadores.15.Mas, pela prática sincera da caridade, cresçamos em
todos os sentidos, naquele que é a cabeça, Cristo.16.É por ele que todo o
corpo - coordenado e unido por conexões que estão ao seu dispor, trabalhando
cada um conforme a atividade que lhe é própria - efetua esse crescimento,
visando a sua plena edificação na caridade.(Ef 4, 11-16).”

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