2 Artigos Sobre Bioética

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COORDENAÇÃO GERAL COORDENAÇÃO ACADÊMICA

Célia Barbosa Abreu Carolina Altoé Velasco


Manoel Messias Peixinho Joyce Abreu de Lira
Tauã Lima Verdan Rangel Tauã Lima Verdan Rangel

ESCRITOS MENORES SOBRE


DIREITOS FUNDAMENTAIS

VOLUME 04
ESCRITOS MENORES SOBRE DIREITOS
FUNDAMENTAIS
VOLUME 04
ISBN: 978-1540617439

Capa: Le Passage de Kay Sage (1956)

COORDENAÇÃO GERAL:
Célia Barbosa Abreu
Manoel Messias Peixinho
Tauã Lima Verdan Rangel

COORDENAÇÃO ACADÊMICA:
Carolina Altoé Velasco
Joyce Abreu de Lira
Tauã Lima Verdan Rangel

Editora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da


Universidade Federal Fluminense
Rua Tiradentes, nº 17 – Ingá
Niterói-RJ, CEP: 24.210-510
+55 (21) 3674-7477
e-mail: sociologia_direito@yahoo.com.br

Conteúdo:
Os textos apresentados nesta obra são de inteira responsabilidade dos
autores. A reprodução dos trabalhos fica autorizada mediante citação da
fonte.
CONSELHO EDITORIAL

Adalberto Cardoso (IUERJ) Margarida Camargo Lacombe (UFRJ)

Carmem Lucia T. Felgueiras (UFF) Mauricio Vieira Martins (UFF)

Cláudia Ribeiro Pfeiffer (UFRJ) Napoleão Miranda (UFF)

Eliane Junqueira (PUC-RJ) Nuria Belloso Martín (Universidade


de Burgos)

Glória Márcia Percinoto (UERJ) Renan Springerde Freitas (UFMG)

Henri Acserald (UFRJ) Ricardo Perlingeiro M. da Silva


(UFF)

Joaquim Leonel de R. Alvim (UFF) Sam Moyo (African Institute of


Agrarian Studies – Zimbábue)

Juliana Neuenschwander Magalhães Samuel Rodrigues Barbosa (USP)


(UFRJ)

Luis Carlos Fridman (UFF) Selene Herculano de Freitas (UFF)

Marcelo da Costa Pinto Neves (IDP) Sophie Olfield (University of Cape


Town)

Marcelo Pereira de Mello (UFF) Wilson Madeira Filho (UFF)


CONSELHO CIENTÍFICO

Adriano Moura (UNESA) Jeancezar Ditzz de Souza Ribeiro


(UNILASALLE-RJ/UCAM-RJ)

Adriano Pilatti (PUC-RJ) João Carlos Castellar (IAB)

Alexandre de Castro Catharina Manoel Messias Peixinho (UCAM-RJ)


(UNESA)

Benedicto de Vasconcellos Luna Marcelo Pereira de Almeida (UCP)


Gonçalves Patrão (UFF/
UNILASALLE-RJ)

Carlos Alberto Lima de Almeida Maria Lúcia de Paula Oliveira (PUC-


(UNESA) RJ)

Célia Barbosa Abreu (UFF) Monica Paraguassu Correia da Silva


(UFF)

Carolina Altoé Velasco (UCAM- Paulo Jorge Fonseca Ferreira da


RJ/PUC-RJ) Cunha (Universidade do Porto –
Portugal)

Eduardo Manuel Val (UFF/UNESA) Rafael Mario Iorio Filho (UNESA)

Elian Araújo (MACKENZIE-RJ) Sérgio Sant’Anna (UCAM-RJ)

Fábio Carvalho Leite (PUC-RJ) Stella Emery Santana (FAESA-ES)

Florian Fabian Hoffman Técio Lins e Silva (IAB)


(Universidade de Erfurt –
Alemanha/ PUC-RJ)

Gustavo Sampaio Telles Ferreira


(UFF)
COORDENAÇÃO GERAL

Célia Barbosa Abreu


Pós-Doutorado em Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ/2016). Doutora em Direito Civil pela Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (UERJ. 2008). Mestre em Direito Civil pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ/2000). Graduação em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro (PUC/RJ. 1991). Professora Adjunta III de Direito Civil da Universidade Federal
Fluminense. Professora do Corpo Docente Permanente do PPGDC (Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Direito Constitucional) da Faculdade de Direito - UFF. Autora das
obras: Contornos Dogmáticos & Eficácia da Boa-fé Objetiva, Curatela & Interdição Civil (1a e 2a
edição) e Primeiras Linhas sobre a Interdição após o Novo Código de Processo Civil, além de
artigos publicados em revistas especializadas e capítulos de livros publicados. Experiência em
Direito, com ênfase em Direito Comparado; Direito Constitucional Comparado nas Relações
Privadas & Públicas; Direitos Fundamentais nas Relações Privadas & Públicas; Direito
Fundamental à Saúde (especialmente, Saúde Mental); Direito Civil-Constitucional. Advogada.

Manoel Messias Peixinho


Pós-Doutorado. Université Paris - Nanterre. (2013-2014). Doutorado em Direito. Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio, Brasil (2000-2004). Mestrado em Direito.
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio, Brasil. (1995-1997).
Aperfeiçoamento em Direito. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio, Brasil
(1988 - 1992). Graduação em Direito. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-
Rio, Brasil (1987 - 1992) Graduação em Teologia. Seminário Metodista. (1987 - 1990).
Atualmente é professor do Departamento de direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro e do Mestrado em Direito da Universidade Cândido Mendes. É professor
colaborador da Fundação Getúlio Vargas e da Escola de Magistratura do Estado do Rio de
Janeiro. A militância na advocacia é dedicada, prioritariamente, às matérias especializadas em
licitações e contratos administrativos, ao servidor público e à responsabilidade civil do Estado.

Tauã Lima Verdan Rangel


Doutorando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade
Federal Fluminense (UFF), Linha de Pesquisa em Conflitos Urbanos, Rurais e Socioambientais,
obtendo aprovação no processo seletivo no ano de 2015. Mestre, com bolsa (CAPES), em
Ciências Jurídicas e Sociais pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da
Universidade Federal Fluminense (UFF). Especialista em Práticas Processuais, Processo Civil,
Processo Penal e Processo do Trabalho pelo Centro Universitário São Camilo-ES, 2014-2015.
Integrante do Grupo de Pesquisa Direitos Fundamentais UFF, coordenado pela Professora Dra.
Célia Barbosa Abreu (PPGDC-UFF), e Ecossocial, coordenado pelo Professor Dr. Wilson
Madeira Filho (PPGSD-UFF). Possui pesquisas em desenvolvimento nas seguintes áreas
temáticas: (i) Direito Ambiental e Direito Urbanístico, com especial atenção para o Meio
Ambiente Urbano; (ii) Direito do Patrimônio Cultural, com ênfase e tutela jurídica e
salvaguarda do patrimônio material e imaterial capixaba; (iii) Métodos Extrajudiciais de
Tratamento de Conflito, com ênfase em mediação e conciliação; (iv) Acesso à Justiça, com
ênfase em Juizados Especiais, Ativismo, Assistencialismo e Demandismo Judicial, bem como
desafios na promoção do acesso à justiça; (v) Justiça Ambiental, com ênfase para os impactos
das instalações de indústrias petrolíferas no litoral sul-capixaba; (vi) Direito Processual, com
destaque para o Novo Código de Processo Civil, Ondas Renovatórias de Acesso à Justiça de
Cappelletti; (vii) Direitos Humanos, com ênfase na reconstrução dos direitos humanos, novos
direitos humanos e direito humano à alimentação adequada; (viii) Segurança Alimentar e
Nutricional, com especial atenção para equipamentos públicos de alimentação e nutrição
(banco de alimentos, cozinha comunitária e restaurante popular) e políticas públicas locais de
promoção de segurança alimentar e nutricional.
COORDENAÇÃO ACADÊMICA

Carolina Altoé Velasco


Doutora em Direito pela PUC-Rio (Teoria do Estado e Direito Constitucional). Mestra em
Direito pela Faculdade de Direito de Campos - RJ (Relações Privadas e Constituição). Bolsista
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES (Mestrado e
Doutorado). Especialista em Direito Privado pela Universidade Candido Mendes - RJ. Graduada
em Direito pela Faculdade de Direito de Campos - RJ. Membro da Comissão de Bioética e
Biodireito da OAB-RJ. Membro da Comissão de Direito de Família e Sucessões do IAB.
Professora da graduação e da pós-graduação em Direito da Universidade Candido Mendes - RJ
(UCAM). Professora dos cursos de extensão e especialização da Pontifícia Universidade
Católica do Rio (PUC-Rio). Consultora na área de Biodireito, Direito de Família e Sucessões no
escritório MCP Peixinho, Cacau e Pires - Consultores e Advogados. Possui experiência na área
de Direito, com ênfase em Biodireito, Direito Civil, Direito Constitucional e Direitos
Fundamentais.

Joyce Abreu de Lira


Professora Substituta no Departamento de Direito Aplicado (estágio supervisionado e
laboratório de prática jurídica) na Universidade Federal Fluminense, campus Niterói (2016).
Professora de Direito Constitucional no Projeto Monitor Acadêmico da Escola da Magistratura
do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ - 2015). Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em
Direito Constitucional da Universidade Federal Fluminense - UFF (2014-2016). Pesquisadora
no Grupo de Pesquisa sobre Direitos Fundamentais da Faculdade de Direito da UFF (2014).
Pós-graduada pelo curso de Pós-Graduação Lato Sensu da Escola da Magistratura do Estado do
Rio de Janeiro (EMERJ - 2013). Graduada em Direito pela Universidade Gama Filho (2009).
Advogada. Juíza-Leiga no III Juizado Especial Cível da Capital (2012-2015). Conciliadora Oficial
junto ao Juizado Especial Cível da Região Oceânica da Comarca de Niterói (2005 - 2008) e à 1ª
Vara Cível da Comarca de São Gonçalo (2008-2010). Interesse em Direito Público e Privado,
com ênfase no Direito Constitucional, Teoria do Direito, Teoria do Estado, Teoria da
Constituição, História do Direito, Instituições Políticas, Direitos Fundamentais, Efetivação dos
Direitos Sociais, Ações Constitucionais, Controle de Constitucionalidade, Interpretação
Constitucional, Direito Administrativo, Direito Civil, Direito Civil Constitucional, Introdução às
Normas do Direito Brasileiro, Filosofia do Direito e Sociologia do Direito.

Tauã Lima Verdan Rangel


Doutorando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade
Federal Fluminense (UFF), Linha de Pesquisa em Conflitos Urbanos, Rurais e Socioambientais,
obtendo aprovação no processo seletivo no ano de 2015. Mestre, com bolsa (CAPES), em
Ciências Jurídicas e Sociais pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da UFF.
Especialista em Práticas Processuais, Processo Civil, Processo Penal e Processo do Trabalho
pelo Centro Universitário São Camilo-ES, 2014-2015. Possui pesquisas em desenvolvimento
nas seguintes áreas temáticas: (i) Direito Ambiental e Direito Urbanístico, com especial
atenção para o Meio Ambiente Urbano; (ii) Direito do Patrimônio Cultural, com ênfase e tutela
jurídica e salvaguarda do patrimônio material e imaterial capixaba; (iii) Métodos Extrajudiciais
de Tratamento de Conflito, com ênfase em mediação e conciliação; (iv) Acesso à Justiça, com
ênfase em Juizados Especiais, Ativismo, Assistencialismo e Demandismo Judicial, bem como
desafios na promoção do acesso à justiça; (v) Justiça Ambiental, com ênfase para os impactos
das instalações de indústrias petrolíferas no litoral sul-capixaba; (vi) Direito Processual, com
destaque para o Novo Código de Processo Civil, Ondas Renovatórias de Acesso à Justiça de
Cappelletti; (vii) Direitos Humanos, com ênfase na reconstrução dos direitos humanos, novos
direitos humanos e direito humano à alimentação adequada; (viii) Segurança Alimentar e
Nutricional, com especial atenção para equipamentos públicos de alimentação e nutrição
(banco de alimentos, cozinha comunitária e restaurante popular) e políticas públicas locais de
promoção de segurança alimentar e nutricional.
AGRADECIMENTO

O conhecimento é daquelas coisas que não se afeiçoa à solidão. Antes, o


coletivo, a soma de esforços, são fermento para a sua produção, assim como a
generosidade o é para o aprimoramento: quem gosta de conhecer, gosta de
ensinar, afinal, muito mais se aprende quando se ensina.
A palavra universidade – e isso merece ser sempre lembrado – encontra
sua origem etimológica em universum que, na literalidade, significa “tornado um”,
pois se forma da junção de unus, “um”, e versus, particípio passado do verbo
vertere,”voltar, virar”, daí o porquê o uso correntio apontar para a ideia de uma
“comunidade de mestres e estudiosos”.
Esta Coleção de e-books, com a qual somos todos brindados, contém uma
coletânia de trabalhos de talentosos investigadores da ciência social reunidos
através da soma de esforços de uma comunidade que faz as coisas acontecerem.
Magnetizados pela vocação da Profa. Dra. Célia Barbosa Abreu, líder do Grupo de
Pesquisa em Direitos Fundamentais da Faculdade de Direito da Universidade
Federal Fluminense, pesquisadores abnegados das mais diversas formações –
graduandos, bacharéis, mestrandos, mestres, doutorandos, doutores e pós-
doutores – todos igualmente irmanados, organizaram o II Seminário Internacional
em Direitos Fundamentais, com a também notável participação de dois outros
Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu de escol, destacadamente o Programa
de Pós-Graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-Rio), através do Prof. Dr. Fábio Carvalho Leite e o Programa de Mestrado em
Direito da Universidade Cândido Mendes (UCAM-Rio), pelas mãos do Prof. Dr.
Manoel Messias Peixinho, primoroso evento que já se pode afirmar, ancorado em
dados objetivos, entrou definitivamente para o calendário da pesquisa em Direito
em âmbito internacional (afinal, além de contar com notável palestrante
estrangeiro, o insigne Prof. Dr. Paulo Ferreira da Cunha, da Universidade do Porto,
Portugal, recebeu a inscrição de 218 trabalhos, tendo o sítio do evento na rede
mundial de computadores – seminarioduff.blogspot.com.br, contado, até a data de
23.11.2016, com 23.824 visitas).
Trabalho desta magnitude, como sói ocorrer na academia, não é tarefa de
ermitão, antes contou com o decisivo apoio de tantos – organizadores do evento,
tais como os responsáveis pelo recebimento de e-mails, pela manutenção e
atualização do blog e páginas de facebook do seminário, digitadores, editores,
técnicos em informática e web design, além de pesquisadores, que merecem, todos,
para além dos parabéns, muitos agradecimentos. Aquí, parafraseando o Presidente
John Kennedy, como ninguém se pôs a perguntar o que a academia podia fazer por
ele, mas sim, o que cada um podia fazer pela academia, o resultado não poderia ter
sido outro senão o SUCESSO.

Novembro de 2016,

Pedro Paulo Carneiro Gasparri


Mestre em Direito Constitucional pela Universidade Federal Fluminense
Especialista em Direito Processual pela PUC-RIO
Especialista em Direito Público e Privado pela EMERJ
Graduado em Direito pela PUC-RIO
Graduado em Ciências Econômicas pela PUC-RIO
Integrante do Grupo de Pesquisa em Direitos Fundamentais/UFF

Tauã Lima Verdan Rangel


Doutorando do PPG em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense
Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal Fluminense
Especialista em Práticas Processuais pelo Centro Universitário São Camilo-ES
Graduado em Direito pelo Centro Universitário São Camilo-ES
Integrante do Grupo de Pesquisa em Direitos Fundamentais/UFF
Vice-Líder do Grupo de Pesquisa em Saúde Mental, Direitos Humanos e
Desenvolvimento/UFF
SUMÁRIO

Prefácio de Daniel Borrillo ............................................................................................................................. 11

Prefácio de Wilson Madeira Filho, Napoleão Miranda e Célia Barbosa Abreu .......................... 15

Introdução ............................................................................................................................................................ 18

O valor do consentimento como autorregulação: notas iniciais sobre o


consentimento informado na gestação de substituição – Carolina Altoé Velasco.................... 23

Cotas Raciais nas Universidades como Direitos Humanos ao Desenvolvimento –


Laura Astrolábio dos Santos e Manoel Messias Peixinho................................................................... 28

Autonomia privada e corpo: paradigmas e perspectivas da doação de órgãos em


vida no Ordenamento Jurídico Brasileiro – Célia Barbosa Abreu; Iara Duque Soares ........... 34

Entre o livre mercado e a defesa do meio-ambiente: a economia colaborativa como


uma alternativa viável – Fabio Paulo Reis de Santana e Helena Elias Pinto ............................... 40

Direito humano à alimentação adequada em tempos de transgenia alimentar:


primeiros comentários – José Nogueira Antunes Neto e Tauã Lima Verdan Rangel .............. 46

Domínio sobre o corpo feminino: reflexões sobre a violência obstétrica em tempos


de biopolítica – Camille Pacheco Carvalho; Joyce Abreu de Lira e Leonardo Martins
Costa........................................................................................................................................................................ 51

O bem-estar como direito fundamental nos hard cases do Supremo Tribunal


Federal – Alexandre Magno Antunes de Souza e Pablo Ronaldo Gadea de Souza .................... 57

O consentimento informado: entre o erro médico e o agir ético na relação médico-


paciente – Letícia de Souza Alves; Dalmir José Lopes Júnior ............................................................ 63

Corpos a-nômalos, corpos (a)normais: uma análise dos poderes transformadores


da interpretações dos corpos intersex – Carolina Lopes de Oliveira ............................................ 67

Terapia genética: cura de doenças e os limites jurídicos e éticos da eugenia


moderna – Tiago Mascarenhas da Costa Marques ................................................................................ 80

Análise de alguns argumentos morais no debate sobre a eutanásia – Luiz Augusto


Castello Branco de Lacerda Marca da Rocha e Thiago Rodrigues Pereira .................................. 85
A eutanásia no pensamento de James Rachels - Luiz Augusto Castello Branco de
Lacerda Marca da Rocha ................................................................................................................................. 89

O direito fundamental da escolha do momento de morrer – liberdade e autonomia


na CRFB/88 – Thiago Rodrigues-Pereira ................................................................................................. 92
11

PREFÁCIO DE DANIEL BORRILLO


¿CÓMO UN EMPRESARIO MEDIOCRE E INCOMPETENTE, HA
CONSEGUIDO LLEGAR A LA CASA BLANCA SIN PROGRAMA
POLÍTICO Y EXULTANDO UN DISCURSO RACISTA, MISÓGINO,
ANTISEMITA Y HOMÓFOBO?

E
s con inmenso placer que acepto la invitación para redactar el
prefacio a la colección de doce volúmenes de los Escritos
menores sobre Direitos Fundamentais provenientes de una
iniciativa del Master de Derecho Constitucional da Universidade Federal Fluminense, en
el marco del Segundo Seminario Internacional sobre Derechos Humanos
Fundamentales. Hago llegar a los lectores de dicha obra, un artículo publicado en el
periódico argentino Pagina 12 intentando explicar la victoria de Donald Trump y los
peligros que conlleva tal elección política1. Espero que mi reflexión permita abrir el
debate acerca de la necesidad de construir espacios de resistencia ante el creciente
conservadurismo al que asistimos a nivel mundial.
***
¿Cómo un empresario mediocre e incompetente, ha conseguido llegar a la
casa blanca sin programa político y exultando un discurso racista, misógino,
antisemita y homófobo?

Varias líneas de análisis han sido propuestas, las más superficiales se


refieren al abstencionismo (sobre todo de los latinos y las mujeres) que ha hecho que
Hilary Clinton pierda seis millones de votos de electores que simplemente no se han
manifestado. Otras señalan el sufrimiento de la clase obrera blanca, los bajos salarios,
la angustia de la globalización, el terrorismo y el miedo a las olas de refugiados. Ahora
todas estas explicaciones se presentan como evidentes (cuando en realidad no todos
los electores de Trump son pobres o victimas) pero nadie, ningún politólogo, ningún
sondeo de opinión, ningún perito ha podido prever el desastre, lo que demuestra la
increíble burbuja en la que vive el mundo político, los medios de comunicación y los
institutos de opinión pública.

1
Pagina 12, suplemento Soy del 18/11/2016 : https://www.pagina12.com.ar/suplementos/soy/notas
12

Profundizando aún más el análisis, el escritor Paul Berman, considera que


el origen del mal se encuentra en el colapso de la inteligenzia norteamericana. El anti-
intelectualismo, la actitud de hostilidad y desconfianza respecto de los intelectuales es
particularmente fuerte en sociedades avanzadas de consumo como la estadounidense
donde se desprecia el esfuerzo intelectual. El célebre escritor Isaac Asimov dice que
“existe un culto de la ignorancia en los Estados Unidos, siempre ha sido así. La
tradición del anti-intelectualismo fue una constante que ha hecho brecha en nuestra
vida política y cultural, nutrida por la falsa idea que la democracia significa que mi
ignorancia vale tanto como el saber”. La expansión del evangelismo explica asimismo
el rechazo de la razón, el espíritu crítico y la especulación, promoviendo la emoción y
el sentimentalismo (81% de los protestantes blancos votaron por Trump). El
vicepresidente de Trump, Mike Pence es un ex católico convertido al evangelismo,
abiertamente homofóbo que ha financiado con fondos públicos terapias de conversión
de los homosexuales hacia la heterosexualidad, ha propuesto poner fin a la gratuidad
de los tratamientos contra el sida y ha promovido, como gobernador del estado de
Indiana, una ley sobre la libertad religiosa que permite a los patrones y comerciantes
no contratar, emplear ni atender a homosexuales, judíos o musulmanes invocando
razones religiosas.

La victoria del pastor evangélico Marcelo Crivella en las recientes


elecciones municipales de Rio de Janeiro confirman dicho análisis. Como Pence, el
grupo de diputados evangélicos del Parlamento de Brasil, propone introducir en las
escuelas públicas la teoría creacionista y prohibir cualquier referencia a la
homosexualidad en los programas, lo cual sería considerado una propaganda inmoral.

Según Guy Sorman, la victoria de Trump puede interpretarse como la


revancha del macho blanco. Después de varios años de política de igualdad y paridad,
emancipación de la mujer y discriminación positiva en favor de las minorías étnicas, el
macho blanco se siente amenazado y el miedo irracional a perder su supremacía lo
lleva a adoptar soluciones extremas. Según el ensayista Adam Shatz, las elecciones de
2016 son el fruto de una política de resentimiento cultural; los electores de Trump
desean “recuperar su posición de dominación natural, no solo económicamente sino
sobre todo políticamente, luego de haber visto la Casa Blanca “confiscada” por una
13

familia de negros y ser disputada por una mujer. Se trata, para este electorado, de
restaurar la primacía blanca contra el multiculturalismo de Obama”

La nefasta astucia de Trump es haberse dirigido no a la razón de los


electores sino a su cerebro reptiliano, es decir a la parte del cerebro que controla las
emociones más primitivas como la rabia, la territorialidad, la agresión, la violencia. Al
considerar a los mexicanos como ladrones y violadores, Trump le habla al cerebro
reptiliano del obrero norteamericano blanco que teme que su empleo sea ocupado por
un inmigrante. Al considerar a los musulmanes como terroristas, Trump le habla al
cerebro reptiliano del evangelista que se siente amenazado por una religión que crece
tanto o más que la suya. Al considerar que la mujer deber ser ama de casa y ocuparse
de sus hijos, Trump le habla al cerebro reptiliano del machista que se siente
amenazado por el éxito profesional de las mujeres. Al prometer destruir el Obamacare,
Trump se dirige al cerebro reptiliano del paciente blanco que teme que el paciente
negro ocupe su cama de hospital. Al pronunciarse contra el matrimonio igualitario,
Trump le habla al cerebro reptiliano del heterosexual que teme que sus hijos sean
seducidos por los gays. Su exhibicionismo de nouveau riche, le habla al cerebro
reptiliano del pobre que sueña hacerse rico como por toque de magia. El problema es
que el cerebro de reptil existe también en los latinos (29%), las mujeres (42%), las
personas LGBT (14%), los judíos (24%) los negros (8%) y los musulmanes (4%) que
han votado por Trump (una forma de xenofobia, misoginia, homofobia y racismo
interiorizado por las propias minorías… )

Espinoza decía que la pasión triste es una imperfección del ser que nos
conduce al odio, al miedo y la ansiedad. Trump ha sabido provocar las pasiones tristes
latentes….

La victoria de Trump, como el Brexit, el triunfo de Crivella y el aumento de


los partidos de extrema derecha en Europa constituyen un retroceso de la civilización
política. El sexismo, la homofobia, el racismo, el antisemitismo, la xenofobia y la
misoginia del discurso del Trump que le permitió llegar al poder de la principal
potencia mundial constituyen los ingredientes de esta forma oscura y arcaica de la
política que remplaza al ciudadano por el guerrero y a la civilidad por la jungla. Como
dice el sociólogo francés E. Fassin, “los electores de extrema derecha no son víctimas
14

que hay que escuchar en su sufrimiento sino sujetos políticos a los que hay que
combatir políticamente”.

Prof. Dr. Daniel Borrillo


Profesor de derecho en la Universidad de Paris Ouest, investigador del
Centre d’études en sciences administratives et politiques, CNRS Paris,
perito de la Unión Europea en materia de igualdad y no
discriminación.
15

PREFÁCIO DE WILSON MADEIRA FILHO, NAPOLEÃO MIRANDA E


CÉLIA BARBOSA ABREU

Prezados Leitores,

C
om satisfação, nos reunimos para prefaciar a presente Coleção
intitulada “Escritos Menores sobre Direitos Fundamentais”,
resultado dos esforços originários do Grupo de Pesquisa em
Direitos Fundamentais/UFF, cadastrado no CNPQ, liderado pela Professora Dra. Célia
Barbosa Abreu, Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Direito Constitucional da Universidade Federal Fluminense (PPGDC/UFF), que
também este subscreve. A eles se somaram o imprescindível apoio do Corpo Docente e
Discente do próprio Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito
Constitucional da Universidade Federal Fluminense (PPGDC/UFF), do Programa de
Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito da Universidade Cândido Mendes (UCAM) e
do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito da Pontifícia Universidade
Católica (PUC Rio), presente ainda o apoio dos Programas de Pós-Graduação em
Sociologia e Direito (PPGSD/UFF) e em Justiça Administrativa (PPGJA/UFF), bem
como do IAB (Instituto dos Advogados Brasileiros) e do ILADISC (Iniciativa Latino-
Americana de Direito, Sociedade e Cultura).

O material que se disponibiliza ao público consubstancia o conjunto dos


resumos expandidos aprovados e selecionados para o II Seminário Internacional sobre
Direitos Humanos Fundamentais, contendo os comentários interdisciplinares e os
estudos jurídicos em geral sobre a temática do evento, os quais estão sendo
gratuitamente publicados (como capítulos de livro) em formato de e-book no blog do
evento, antes mesmo do começo de sua realização. Cuida-se, efetivamente, de uma
proposta inovadora realizada na área acadêmica e que vislumbra viabilizar a leitura
prévia pelos participantes dos Grupos de Trabalho dos resumos a serem apresentados
por outros pesquisadores então presentes, incitando um debate mais rico durante a 2a
edição deste seminário. A Comissão Organizadora investe, portanto, neste projeto que
crê resultará em textos completos futuros melhor articulados para os anais, dada a
maior discussão entre os autores, fruto de uma reflexão conjunta.
16

Cada volume desta coleção passou por membros de uma Coordenação


Geral e de uma Coordenação Acadêmica. Os volumes 1 a 4 tiveram a Coordenação
Geral dos Professores Célia Barbosa Abreu, Manoel Messias Peixinho e Tauã Lima
Verdan Rangel. Os volumes 5 a 8 foram coordenados pelos Professores Célia Barbosa
Abreu, Fábio Carvalho Leite e Tauã Lima Verdan Rangel. A Coordenação Acadêmica do
volume 1 foi realizada pelos Professores Benedicto de Vasconcellos Luna Patrão, Pablo
Dominguez Martínez e Sheila Regina Matos de Azeredo. Os Coordenadores
Acadêmicos do volume 2 foram os Professores Antonio Fernandes de Oliveira Netto,
Carlos Alberto Lima de Almeida e Karyne Castro da Silva. Atuaram na Coordenação
Acadêmica do volume 3 os Professores Emerson Affonso da Costa Moura, Jeancezar
Ditzz de Souza Ribeiro e Tatiana Fernandes Dias da Silva. No volume 4, assumiram a
Coordenação Acadêmica os Professores Carolina Altoé Velasco, Joyce Abreu de Lira e
Tauã Lima Verdan Rangel. Relativamente ao volume 5, os Coordenadores Acadêmicos
foram os Professores Alex Assis de Mendonça, Monica Paraguassu Correia da Silva e
Pedro Paulo Carneiro Gasparri. Do volume 6, ficaram encarregados da Coordenação
Acadêmica os Professores Elian Pereira de Araújo, Letícia Rayane Dourado Pinto e
Sergio Luiz Pinheiro Sant’Anna. Do volume 7, cuidaram da Coordenação Acadêmica os
Professores: Felippe Borring Rocha, Fernando Gama de Miranda e Jurema Schwind
Pedroso Stussi. Da Coordenação Acadêmica do volume 8, se encarregaram os
Professores: Alexander Seixas da Costa, Carlos Magno Spricigo Venerio e Sérgio
Gustavo de Mattos Pauseiro. Abraçaram a Coordenação Acadêmica do volume 9 os
Professores: Bárbara Gomes Lupetti Baptista, Dalton Robert Tibúrcio e Daniela Juliano
Silva. No volume 10, os responsáveis pela Coordenação Acadêmica foram os
professores: André Hacl Castro, Márcia Bataglin Dalcastel e Paola de Andrade Porto.
No volume 11, a Coordenação Acadêmica coube às professoras: Cibele Carneiro da
Cunha Macedo Santos, Fernanda Pontes Pimentel e Giselle Picorelli Yacoub Marques.
Os Coordenadores Acadêmicos do volume 12 foram os professores: Clarisse Stephan
Farhart Jorge, Laércio Melo Martins e Marcus Fabiano Gonçalves.

O trabalho desenvolvido pelos supracitados docentes resultou num total


de 191 trabalhos, divididos em 12 volumes, com aproximadamente 982 páginas, em
torno dos principais temas sobre direitos humanos fundamentais discutidos na
atualidade. Cada um destes volumes traz múltiplos e variados aspectos desta que é a
matéria central objeto do seminário. Esta obra digital nasce como uma consequência
17

da boa e expressiva recepção do evento pela Comunidade Acadêmica, atraindo


pesquisadores dos mais diversos e qualificados Programas de Pós-Graduação Stricto
Sensu do país.

À guisa de conclusão, esta Coleção é ofertada não somente como fonte de


consulta e inspiração para os participantes de cada um dos participantes grupos de
trabalho, na elaboração de seus artigos completos a serem enviados futuramente, em
conformidade com as normas do Edital do evento, mas também como um pequeno
estímulo aqueles que desejarem se valer destes “escritos menores” em suas atividades
profissionais e acadêmicas. Nestes, vem expressa a preocupação existente no sentido
de oferecer um espaço para reflexões e diálogos interdisciplinares, especialmente num
momento em que o país vive o corte do fomento em pesquisas, a despeito da
importância destas como instrumento de transformação social e cultural.

A iniciativa da Coleção se deu também com o propósito de agradecer e


homenagear a todos os autores e colaboradores desta segunda edição do seminário. E,
nesse viés, que venha 2017 e, com ele, uma nova Coleção inspirada nesta iniciativa tão
gratificante para todos.

Novembro de 2016.

Prof. Dr. Wilson Madeira Filho


Diretor da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense e
Presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação
Interdisciplinar em Sociais e Humanidades (ANINTER-SH)

Prof. Dr. Napoleão Miranda


Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da
Universidade Federal Fluminense

Profª. Dra. Célia Barbosa Abreu


Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação em Direito
Constitucional da Universidade Federal Fluminense
18

INTRODUÇÃO

A
intenção geral da presente obra é propiciar aos pesquisadores
um espaço de troca de conhecimento científico o mais diverso
e multidisciplinar possível, em torno da temática Direitos
Humanos Fundamentais. Nesse sentido, sem pretender nisso nenhuma invenção
revolucionária, se deu início no ano de 2015 à primeira edição do Seminário
Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais, no âmbito do Programa de
Pós-Graduação em Direito Constitucional da Universidade Federal Fluminense.
Com grata surpresa, então, vimos que o referido evento, de imediato, recebeu uma
acolhida muito além de qualquer expectativa do Grupo de Pesquisa em Direitos
Fundamentais/UFF, cadastrado no CNPQ e sob minha liderança, que trouxe para si
a tarefa de dar vida a este projeto.

Nesta segunda edição, a Comunidade Acadêmica novamente nos


surpreendeu, abraçando a proposta de um segundo seminário, o que se verificou
pela expressiva demanda de inscrições e envio de trabalhos. Nesse sentido, o que
se tem presente agora é o reflexo disto, quando se verifica a imensa gama de
trabalhos, que foi possível compilar para propiciar aos participantes do evento o
conhecimento prévio das pesquisas a serem debatidas pelos estudiosos presentes
no ámbito de cada Grupo de Trabalho.

Em se tratando dos resumos expandidos que, oportunamente, gerarão


os artigos completos a serem encaminhados para os Anais do evento, se entendeu
por bem, de forma singela, intitular esta coleção de obras coletivas em formato de
e-books de Escritos Menores sobre Direitos Fundamentais. Para tanto, contamos
com a colaboração de trinta e seis docentes, que se dispuseram a realizar o
trabalho de leitura e seleção dos textos recebidos, tendo cada grupo de trabalho
permitido que fosse gerado um e-book respectivo. A eles, o meu sincero muito
obrigada, por tornarem este sonho possível.

Antes, então, que os senhores dêem início às suas leituras, a exemplo do


que fez em seu Prefácio o Professor Daniel Borrillo, permito-me igualmente trazer
19

à baila, por oportuno, o artigo da filósofa estadunidense, Judith Butler, que também
foi publicado no periódico argentino Pagina 12, que certamente servirá às
reflexões deste seminário quando correlaciona a privação de direitos humanos
existente na sociedade com o triunfo de Donald Trump, conferindo um olhar ao ser
humano e à situação deste que teria contribuído para tanto.

Nesse sentido, indaga como não se teria visto o que estava por vir.

Segue o texto, boa leitura a todos,

Profª. Dra. Célia Barbosa Abreu


Pós-Doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Direito/UERJ
Doutora e Mestre em Direito Civil/UERJ
Docente Permanente do Mestrado em Direito Constitucional/UFF
Professora Adjunta do Departamento de Direito Privado/UFF
20

PODREDUMBRE ANUNCIADA. EL TRIUNFO DE DONALD TRUMP REPRESENTA


LA MÁXIMA EXPRESIÓN DE LA PASIÓN RACISTA Y MISÓGINA EMANCIPADA.
PERO ELLA SIEMPRE HA ESTADO ALI.2

Judith Butler

Hay dos preguntas que parece importante formular sobre las secuelas
de esta terrorífica elección: ¿quiénes son las personas que votaron por Trump y
por qué nadie se esperaba realmente que llegara a esos números? Aquellas
personas que vivimos y trabajamos en entornos urbanos y progresistas no leemos
demasiado acerca del populismo de la clase trabajadora blanca y las vías por donde
conducen su rabia. Bernie Sanders entendió que la rabia es lo más importante. En
todo caso, ahora nos toca hacer algunos esfuerzos para entender cómo las formas
de privación de derechos económicos especialmente cuando se trata de hombres
blancos se convierten en xenofobia, racismo, homofobia y misoginia. Por un lado
nos debemos plantear cómo nuestras propias posiciones son difamadas como las
opiniones de una élite educada. Por otro, debemos volver a la pregunta básica de la
democracia: ¿cómo m… son las personas? Es fácil desdeñar a todos esos votantes
como irracionales y viles racistas. Lo son. Pero debe haber un modo de quebrar
nuestro propio círculo y examinar esa rabia, sus fuentes y nuestras propias
prácticas de autoaislamiento. De modo que mientras nos preguntamos quién m…
son esas personas, también debemos preguntarnos cómo somos nosotros y cómo
hemos restringido nuestro campo de visión para no haber visto venir lo que vino.
Tal vez los trumpistas mintieron a los encuestadores o tal vez eran invisibles para
los encuestadores. Probablemente debamos volver a la pregunta de por qué Bernie
eligió hacer su llamado como lo hizo: dejando en claro que entendía las
condiciones económicas de esta impredecible porción del electorado.

Las formas de racismo, xenofobia, homofobia y misoginia que estamos


viendo no son nuevas. Las crueles campañas contra Obama nos recordaron que

2 Pagina 12, suplemento Soy del 18/11/2016 :


https://www.pagina12.com.ar/suplementos/soy/notas.
21

estaban allí. La simpatía hacia los policías que mataban personas negras
desarmadas ha sido otro signo muy claro. El horrible tratamiento de los migrantes
que vienen del sur y el ardor de la islamofobia también lo fueron. Pero todo esto
parecía para muchos de nosotros tan irracional y aberrante que no era posible
imaginar que la mitad de la ciudadanía surfearía esa ola de podredumbre. Trump
modeló un racismo y una misoginia desvergonzados y enorme cantidad de
personas se acomodaron a ellos para votar por él. Otro enorme grupo de personas
fueron tocados y conmovidos por su discurso racista y se sintieron por fin
liberados del superego censor de los movimientos feministas y antirracistas. Las
denuncias públicas acerca del racismo de Trump lo único que hicieron fue llevar
ese odio a la clandestinidad. Tump logró emancipar una pasión racista que siempre
había estado ahí expresada, por ejemplo, por lo que conocemos como cultura
policiaca. El discurso amoroso de Hillary sólo ayudó a alentar la furtiva vida del
odio. Y Trump pudo monopolizar la rabia de los hombres blancos de la clase
trabajadora.

Un punto más: la educación. Muchos de estos votantes no están bien


educados y desconfían de las instituciones educativas, incluidas las universidades.
Las consideran caras, elitistas e innecesarias. La división de clases en este punto es
brutal. Mientras más se aleje el acceso a la educación más formas de odio atentarán
contra nuestras vidas políticas. Trump es una persona que no lee y no considera
que deba hacerlo. Desde la izquierda, perdimos la oportunidad de conectar esa
rabia con la privación económica y con una agenda política progresista. Ahora
tenemos que pensar seriamente en las perspectivas de un partido socialista en
Estados Unidos, uno que se sustente en fuertes alianzas de solidaridad con otros
países. La degradación económica y la aceleración de la inequidad fueron
oportunamente nombradas por Occupy Wall Street y otros movimientos
antiglobalización del mismo modo que Black Lives Matter pudo identificar y
mostrar fuentes abrumadoras de sufrimiento contemporáneo. Pero cómo esas
mismas condiciones pueden llevar -y lo han hecho- a políticas reaccionarias que
incluso atentan contra nuestros preceptos constitucionales más básicos es lo que
tenemos que estudiar ahora. Eso significa cambiar nuestro propio marco y
22

terminar con nuestro propio aislamiento en la izquierda para que algo así no nos
vuelva a sorprender tanto. Las minorías sexuales, de género y raciales -y los
indocumentados- estaremos entre los más vulnerables a la acción de este poder de
policía recargado. Deberemos organizarnos y luchar con toda nuestra pasión.
23

O VALOR DO CONSENTIMENTO COMO AUTORREGULAÇÃO: NOTAS INICIAIS


SOBRE O CONSENTIMENTO INFORMADO NA GESTAÇÃO DE SUBSTITUIÇÃO

Carolina Altoé Velasco3

Palavras-chave: Gestação de Substituição; Consentimento Informado; Autorregulação.

OBJETIVOS

O consentimento é compreendido como um motivo de justificação no Direito,


onde os contratos são formados com base no consentimento apresentado pelas partes
envolvidas naquela relação jurídica. Além do consentimento, faz-se necessária a
presença de outros elementos, como a capacidade das partes, licitude, possibilidade,
determinação do objeto, bem como a verificação de possíveis vícios capazes de eivar a
relação jurídica que se deseja ver estabelecida. Se a obrigação é assumida de modo
voluntário e o consentimento também se faz de modo voluntário, as partes estariam
vinculadas por meio da relação jurídica que se estabelece. Entretanto, definir quando o
consentimento é fornecido de forma válida e, portanto, capaz de gerar os efeitos que
dele se espera, pode atravessar diversas hipóteses. Saber em que medida o
consentimento possui um vício capaz de lhe retirar a validade é sempre um tema difícil.
Sustenta-se que o consentimento – principalmente e especialmente em casos delicados
que envolvem questões éticas e morais – deve ser livre e esclarecido. Isso porque o
consentimento está vinculado diretamente à noção de dignidade, liberdade, autonomia
privada e aos direitos fundamentais.

3
Doutora em Teoria do Estado e Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro. Professora de Direito da Universidade Candido Mendes. Professora dos cursos de extensão e
especialização da PUC-Rio. Membro da Comissão de Bioética e Biodireito da OAB-RJ. E-mail:
carolinaltoe@yahoo.com.br Lattes: http://lattes.cnpq.br/0497719736621077
24

ABORDAGEM TEÓRICA

A expressão consentimento possui emprego variável. A manifestação de


vontade, no plano dos negócios jurídicos, recebe a denominação de consentimento. O
consentimento é também verificado na forma de documentos, chamados de termos de
consentimento. Trata-se de documento recomendado por códigos de ética, por
exemplo, para ser utilizado na prática cotidiana em saúde e na realização de pesquisas
envolvendo seres humanos. É indicado para as situações em que se empregam
tecnologias avançadas. A terminologia para expressar a prática do consentimento
apresenta variações. Na literatura, a expressão mais comum para se referir, de maneira
genérica, a essa prática é consentimento informado (informed consent). No Brasil, desde
1996, adota-se a terminologia Consentimento Livre e Esclarecido (CLE), conforme a
Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 196/1996, que dispõe sobre ética em
pesquisa com seres humanos. Na Resolução do Conselho Federal de Medicina n.
2.121/2015, que estabelece normas éticas para a prática clínica de reprodução humana
assistida, a terminologia empregada é consentimento livre e esclarecido informado.
Portanto, o consentimento informado ou termo de consentimento informado são
expressões genéricas utilizadas nos formulários das clínicas de reprodução assistida,
destinados a pessoas que buscam seus serviços. 4
Em termos objetivos, verificar o que representa o consentimento nem sempre
se traduz em tarefa fácil. Os questionamentos gravitam em torno da sua natureza
jurídica, da certeza e alcance da sua definição ou da sua obrigatoriedade. Pelas regras
estabelecidas pelo Conselho Federal de Medicina5, o consentimento informado é

4
MENEGON, Vera Mincoff. Consentindo ambigüidades: uma análise documental dos termos de
consentimento informado, utilizados em clínicas de reprodução humana assistida. Cadernos de Saúde
Pública. vol. 20, n. 3, p. 845-854, mai./jun. 2004.
5
Resolução 2.121/2015 do Conselho Federal de Medicina: “I – Princípios gerais, item 4: O consentimento
livre e esclarecido informado será obrigatório para todos os pacientes submetidos às técnicas de
reprodução assistida. Os aspectos médicos envolvendo a totalidade das circunstâncias da aplicação de
uma técnica de RA serão detalhadamente expostos, bem como os resultados obtidos naquela unidade de
tratamento com a técnica proposta. As informações devem também atingir dados de caráter biológico,
jurídico e ético. O documento de consentimento livre e esclarecido informado será elaborado em
25

obrigatório. Quanto à natureza jurídica, ao se considerar as características mencionadas


na Resolução n. 2.121/2015 do Conselho Federal de Medicina, é tranquilo afirmar que
se trata de um verdadeiro contrato, com prescrições de regras e estabelecimento de
ações. Como se trata, via interpretação, de contrato, aplicam-se as disposições gerais
do Código Civil às questões.
De acordo com a visão tradicional da doutrina civilista6, o consentimento é um
elemento dos atos jurídicos, expresso através da aquiescência (autorização,
manifestação de vontade favorável) e, em algumas oportunidades, mediante o silêncio,
gerador de efeitos jurídicos obrigacionais. Diante dessa ótica, a proteção do
consentimento é meramente formal: contra vícios que possam macular o exercício
pleno da vontade e a capacidade de exercício de direitos.
Na Bioética e no Biodireito a concepção de consentimento sofreu impactos em
decorrência do curso histórico e cultural das sociedades. O consentimento informado
deve sua origem ao Código de Nuremberg que determinou a necessidade de
consentimento para a pesquisa com seres humanos, em reação às experiências
nazistas, generalizando-se para toda a prática médica e científica.
Na relação médico-paciente, paciente-cientista, pessoa-pessoa, a condição de
vulnerabilidade demanda um exercício de cautela necessário com vistas a averiguar se
houve o perfeito entendimento de todas as consequências desencadeadas da relação
avençada.

CONCLUSÕES

O tema se desenvolve diante da possibilidade suscitada pelas técnicas de


reprodução humana assistida em conceber a vida humana através da gestação de
substituição. Assim, diante dos dilemas inaugurados, a pesquisa traçará respostas para

formulário especial e estará completo com a concordância, por escrito, obtida a partir de discussão
bilateral entre as pessoas envolvidas nas técnicas de reprodução assistida”. (Sem grifos no original).
6
Cite-se, por todos, MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. Parte Geral. 5. ed. São
Paulo: Saraiva, 1966.
26

os novos dilemas que perpassam a validade do consentimento e a possibilidade de


revogação/retratação do consentimento.

REFERÊNCIAS

BALLESTEROS, Jesús. Derechos Humanos: concepto, fundamentos, sujetos. Madrid:


Tecnos, 1992.

BEYLEVELD, Deryck and BROWNSWORD, Roger. Human dignity in Bioethics and Biolaw.
New York: Oxford University Press, 2004.

_____. Consent in the Law. Oregon: Hart Publishing, 2007.

CASABONA, Carlos María Romeo. El derecho y La bioética ante los limites de La vida
humana. Madrid: Editorial Centro de Estudios Ramón Areces, S.A, 1994.

______. El derecho a la vida: aspectos constitucionales de las nuevas biotecnologías. In:


Actas de las VIII Jornadas de la Asociación de Letrados del Tribunal Constitucional.
Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 2003.

DWORKIN, Ronald. Domínio da vida: aborto, eutanásia e liberdades individuais.


Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

FRANKENBERG, Günther. A gramática da constituição e do direito. Tradução de Elisete


Antoniuk. Belo Horizonte: Del Rey, 2007.

HABERMAS, Jürgen. O futuro da natureza humana. Tradução Karina Jannini. São Paulo:
Martins Fontes, 2004.

LUNA, Florencia. Consentimento livre e esclarecido: ainda uma ferramenta útil na ética
da pesquisa. Disponível em: anis.org.br

MENEGON, Vera Mincoff. Consentindo ambigüidades: uma análise documental dos


termos de consentimento informado, utilizados em clínicas de reprodução humana
assistida. In: Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, maio/jun. 2004.

______. Entre a linguagem dos direitos e a linguagem dos riscos: os consentimentos


informados na reprodução humana assistida. 2003. 285 f. Tese (Doutorado em
Psicologia Social) – Instituto de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
2003.
27

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. Parte Geral. 5. ed. São Paulo:
Saraiva, 1966.

PECES-BARBA MARTÍNEZ, Gregorio. La dignidad de la persona desde la filosofía del


derecho. Madrid: DYKINSON, 2002.

ROPPO, Enzo. O Contrato. Tradução de Ana Coimbra e M. Januário Gomes. Coimbra:


Almedina, 2010.

SCOTT, Elizabeth S. Surrogacy and the Politics of Commodification. Disponível em:


http://lsr.nellco.org
28

COTAS RACIAIS NAS UNIVERSIDADES COMO DIREITOS HUMANOS AO


DESENVOLVIMENTO

Laura Astrolabio dos Santos7


Manoel Messias Peixinho8

Palavras-chave: cotas; raciais; direitos; humanos; desenvolvimento.

1. OBJETIVO

O presente trabalho tem o objetivo de tratar o tema cotas raciais como direito
fundamental de segunda geração, direitos humanos ao desenvolvimento, abordando
justificativas relacionadas ao contexto histórico brasileiro, justificativas constitucionais,
a eficácia da mencionada ação afirmativa, as reivindicações por melhorias e a não
implementação das cotas na USP.

2. O HISTÓRICO ESCRAVOCRATA BRASILEIRO

Traçar o histórico escravocrata do Brasil se faz necessário para fins de


abordagem inicial do tema, visto que esse histórico está incluído na maioria das
discussões que se relacionam com as cotas raciais no Brasil.
Na obra “Culturas e Diásporas Africanas”, fruto do II Colóquio Culturas e
Diásporas Africanas realizado em novembro de 2009 na Universidade Federal de Juiz de
Fora, Tavares (2009, p. 14) informa que “Cerca de 150 milhões de almas são herdeiras
diretas da cultura africana, negros e mestiços, pelo menos, 30% da população da região,

7
Graduação em Direito pela Universidade Iguaçu (2003) - Pós-graduação latu sensu pela Universidade
Cândido Mendes (2011). Pós-graduanda em Relações Étnico-raciais e Educação (Latu sensu) no Centro
Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca. E-mail: lauraastrolabio@gmail.com. Lattes:
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K8045068P1.
8
Doutor em Teoria do Estado e Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro. Professor do Departamento de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e do
Programa de Mestrado da Universidade Candido Mendes. E-mail: peixinho@mcp-advogados.com.br
(telefone: 21-99974-7956). Lattes: http://lattes.cnpq.br/1016382585372214.
29

em especial, localizados no Brasil, na Colômbia e na Venezuela. Contudo, séculos de


exclusão e dominação mantêm essas populações sob os piores índices econômicos e
sociais, sem contar a indignidade, a ausência de reconhecimento cultural, as injustiças
cognitivas e a falta de respeito advinda da inexistente cidadania. Ainda pior é a forma
banalizada e naturalizada com que as elites tratam as situações cotidianas que
frequentemente são engolfadas no estereótipo e na imaginação colonial”.
É sabido que o Brasil recebeu milhões de africanos que foram transladados
como mercadoria em navios negreiros, que muitos morreram devido ao tratamento
desumano a que eram submetidos na viagem e que os sobreviventes dessas viagens, já
em território brasileiro, foram covardemente escravizados, torturados, assassinados e
estuprados. Esta trajetória desumana a que foram submetidos os negros no Brasil não
escapa, contudo, da constatação de que o Brasil muito antes de 1500 é uma terra de
mestiços, de profunda miscigenação e que culturalmente fomos forjados pela cultura
africana e nos tornamos um povo mestiço. Contudo, o fato de sermos um povo
miscigenado não foi capaz de acabar com o exclusivismo racista com a formação de
guetos racial e econômico (Holanda, 1988, p. 2-22).

3. JUSTIFICATIVA CONSTITUCIONAL

A CF/88 prevê o direito à igualdade, que representa uma obrigação positiva,


que se expressa através de ações afirmativas.
O inciso III do art. 1º da Carta Magna dispõe sobre o princípio da dignidade da
pessoa humana. Vejamos:

art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos:
(…)
III- a dignidade da pessoa humana;
30

No art. 3º, a CF/88 prevê a promoção do bem de todos, além de constituir


como objetivo fundamental da República a erradicação da pobreza e das desigualdades
sociais:

Art.3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do


Brasil:
I- construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II- garantir o desenvolvimento nacional;
III- erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
IV- promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

O art. 4º prevê a necessidade de zelar pelos direitos humanos, repudiar o


racismo e o terrorismo. Todos os artigos conjugados levam a percepção de que instituir
políticas que promovam a igualdade de condições é imperioso. A igualdade não é um
postulado exclusivamente formal, antes exige-se do Estado que garanta aos cidadãos as
condições de acesso dos indivíduos aos bens materiais indispensáveis ao exercício de
isonomia plena, de possibilidade de competição em condições mínimas de dignidade
econômica e social.
Ressalte-se que, os principais escopos das ações afirmativas estão previstos no
inciso IV do art. 3º e no inciso VII do art. 170, ambos da Constituição Federal.
No âmbito do direito ao desenvolvimento, as ações têm como objetivo
erradicar a pobreza e promover igualdade social. Portanto, a implementação das cotas
raciais, na condição de política pública de inclusão social, é imposição constitucional,
que não se concilia com uma hermenêutica individualista e forjada numa cultura de
exclusão.
O Estado do Rio de Janeiro, através da Lei 3.708/2001, instituiu as cotas raciais
nas universidades do Estado, sendo 40% para negros e pardos. Tal Lei foi substituída
pela Lei 4.151/2003, reservando 45% das vagas para estudantes carentes, assim
divididos 20% para negros, 20% para estudantes egressos de escolas públicas e 5% para
deficientes físicos.
31

No entanto, a estabilidade jurídica de tal política pública de inclusão social só


ocorreu em 2012 com a decisão do STF na ADPF 186 e com o advento da Lei
12.711/2012.

4. A EFICÁCIA DAS COTAS RACIAIS NAS UNIVERSIDADES

No artigo A política pública de cotas em universidades enquanto instrumento


de inclusão social, Bezerra e Gurgel (2012 ) falam sobre os resultados de pesquisa
realizada entre 2009 e 2010, na UERJ, pesquisa esta que teve como objetivo analisar os
impactos da política de cotas, ou seja, se as cotas raciais promoveu ou não a inclusão
social dos alunos cotistas: “ Os resultados revelados pela pesquisa documental, nas
duas turmas, 2005 e 2006, dos vários cursos da UERJ revelam um desempenho
satisfatório, que preenche as condições acadêmicas para a inclusão de um grupo
advindo dos níveis de renda mais baixos da sociedade brasileira. Aqueles para os quais
se reservava uma perspectiva pouco promissora, nos planos do trabalho e da vida
social”.
Segundo Joaquim Benedito Barbosa Gomes (2001, p. 39-40), as medidas
governamentais direcionadas às ações afirmativas são chamadas race-conscious
measures ou race sensitive measures. É o “conjunto de políticas públicas e privadas de
caráter compulsório, facultativo ou voluntário, concebidas com vistas ao combate à
discriminação racial, de gênero e de origem nacional, bem como para corrigir os efeitos
presentes da discriminação praticada no passado, tendo por objetivo a concretização do
ideal de efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais como a educação e o
emprego”. Assim, as cotas raciais aplicadas à educação são medidas governamentais
inclusivas direcionadas não somente a minimizar a igualdade material como também
promover a diversidade étnica numa verdadeira república racial.
32

5. A NÃO IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE COTAS PELA USP

Apesar do grande avanço, e mesmo após a manifestação do STF e do advento


da Lei 12.711/12, ainda existe resistência em relação a adoção do sistema de cotas pela
USP - Universidade de São Paulo. Em 2013, a USP teve como resultado um único negro
entre os cursos mais disputados.

6. DAS REIVINDICAÇÕES POR MELHORIAS

É importante mencionar que nos últimos anos, após a implementação do


sistema de cotas, foram iniciados debates acerca de melhorias.
A trajetória dos negros até o ingresso na universidade foi modificada após a
implementação das cotas. No entanto, os negros conseguem ultrapassar a barreira do
vestibular, mas vão em direção ao conhecimento no decorrer do curso em completa
situação de desigualdade de condições e a formação é uma superação.
Falta o Estado oferecer aos cotistas: alimentação, vestuário, moradia, cultura,
transporte, material didático, dentre outras coisas básicas.

CONCLUSÃO

Através do presente ficam registradas as reflexões resumidas sobre o tema, os


aspectos suscitados inicialmente, tais como histórico escravocrata, aspecto
constitucional, eficácia, resistência com relação ao sistema de cotas e reivindicações por
melhorias, que precisam ser discorridos de forma mais ampla em momento oportuno. A
luta pela igualdade plena não se conquista somente com garantia jurídicas
constitucionais, legais ou medidas estatais efetivas. A igualdade racial, com respeito às
especificidades étnicas, é uma necessidade que transcende um modelo democrático
liberal: há que ser efetivada um modelo de república racial fundada nas diversidades
sociais, culturais, religiosas, dentre outras facetas que expressam as múltiplas
diferenças como cláusulas pétreas de solidariedade e respeito humano civilizatório.
33

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEZERRA, Teresa Olinda Caminha, GURGEL, Claudio Roberto Marques . 2012.


<http://revistas.pucsp.br/index.php/pensamentorealidade/article/viewFile/12650/9213
> . Acesso em 14/11/2016.--

GOMES, Joaquim Benedito Barbosa. Ação Afirmativa e Princípio Constitucional da


Igualdade. Rio de Janeiro: Renovar, 2001.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 20. ed. Rio de Janeiro: José Olímpio,
1988.

LAHNI, Cláudia Regina, DELGADO, Ignacio José Godinho, ROCHA, Enilce Albergaria,
MENEGAT, Elizabete M., ANDRADE, Danúbia. Culturas e Diásporas Africanas. Juiz de
Fora: UFJF, 2009.
34

AUTONOMIA PRIVADA E CORPO: PARADIGMAS E PERSPECTIVAS DA DOAÇÃO


DE ÓRGÃOS EM VIDA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO9

Célia Barbosa Abreu10


Iara Duque Soares11

Palavras-chave: autonomia privada; disposição do corpo; doação; órgãos;


comercialização.

OBJETIVOS

O presente estudo objetiva uma visão sistêmica e interdisciplinar da atual


regulamentação dos transplantes inter vivos no ordenamento jurídico brasileiro,
considerando a suposta efetividade da legislação específica em contraposição às
garantias constitucionais individuais, em especial à autonomia privada do doador sobre
o próprio corpo.

ABORDAGEM TEÓRICA

A compreensão do corpo, embora inerente à condição humana, sofreu, ao


longo da história da humanidade, consideráveis transformações em seu alcance e
proteção frente às relações sociais, de acordo com o contexto histórico, social e cultural
em que se inseriam. Se, em algum momento se escorou na base da sacralidade cristã,
em outros tantos, foi vinculada à fisiologia natural, à consciência espiritual e até mesmo

9
Este artigo é resultante de estudos desenvolvidos no âmbito do Grupo de Pesquisa em Direitos
Fundamentais/UFF, sob a liderança da Profa. Dra Célia Barbosa Abreu, cadastrado junto ao CNPQ, do qual
a primeira coautora é integrante.
10
Pós-Doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro-UERJ. Doutora e Mestre em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, na linha de
pesquisa em Direito Civil. Professora Adjunta de Direito Civil da Faculdade de Direito da Universidade
Federal Fluminense. Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação em Direito Constitucional
PPGDC/UFF. E-mail: celiababreu@terra.com.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/ 8015623070536170”.
11
Advogada formada pela Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense. E-mail:
iaraduque@id.uff.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/6295246093239400.
35

à propriedade privada. Certo, no entanto, que todas as tentativas de adequação das


concepções do corpo humano ao longo do tempo, trataram-se de imposições culturais
com vistas a atender esses interesses de determinados grupos e anseios sociais, que,
ainda hoje, traçam as limitações à autonomia individual sobre o corpo.
Com efeito, nota-se mesmo na atualidade um antagonismo no seio do
ordenamento jurídico pátrio, nesta matéria. Isto porque, se por um lado é possível
afirmar que com o movimento de constitucionalização do Direito Civil ocorreu a
elevação da pessoa humana ao espaço central do Direito Brasileiro por meio da
Constituição de 1988 e o corpo passou a figurar no direito privado como espaço
inviolável tanto em relação às intervenções externas, como relativamente à lesividade
das condutas do próprio titular, por outro persistem dispositivos legais
infraconstitucionais que não se coadunam com esta lógica.
Nesse campo, positivando o que se poderia chamar de autênticas situações de
limitação corporal, temos a hipótese do art. 13 do Código Civil de 2002, que proíbe a
disposição do corpo, excepcionando apenas as hipóteses de exigência médica e a
questão dos transplantes de órgãos da forma estabelecida pela Lei nº 9.434/97, que
igualmente culmina por restringir a liberdade e a autonomia do indivíduo.
O referido diploma legal acaba por deslocar a posição personalista, na qual se
inspira a concepção de autonomia corporal da Carta Magna, para uma posição oposta,
dotada de características paternalistas, criando, assim, maiores limitações à disposição
corporal para fins terapêuticos e restringindo a legalidade do transplante de órgãos e
partes do corpo humano para os casos de pessoas aparentadas, de forma que, em
relação aos não aparentados, o procedimento só será permitido se o caráter altruístico
da iniciativa puder ser constatado pelo Poder Judiciário.
A regulamentação trazida pela Lei nº 9.434/97 teria por intento geral obstar a
lesão à integridade física do doador, assegurando a potencial eficácia do transplante e
impedindo o comércio de órgãos, mediante qualquer tipo de contraprestação. No
entanto, para este último objetivo, a lei não estabeleceu quaisquer critérios específicos
para verificar a existência ou não de qualquer espécie de onerosidade, deixando a
decisão a este respeito sujeita à discricionariedade do julgador.
36

Dito contexto leva a doutrina a indagações como: “de quem é o corpo? Da


pessoa interessada, dos familiares que a cercam, de um Deus que lhe há doado, de uma
natureza que quer inviolável, de um poder social que de mil formas dele se apossa, de
um médico ou de um magistrado que estabelece seu destino?” (RODOTÀ, 2006, p. 73).
Além do comando constitucional mencionado, é preciso considerar que,
mesmo no plano infraconstitucional, o próprio legislador traz outros dispositivos
incompatíveis com a lógica do art. 13 do Código Civil e com a chamada Lei de
Transplantes. Exemplificativamente, ao cuidar da capacidade civil no Código Civil de
2002, atribuiu a todo sujeito capaz a responsabilidade por seus atos e, com isso, a
legitimidade pela sua manifestação de vontade que, pelo princípio da autonomia
privada, é preservada pela Constituição. Recentemente, no mesmo viés, o Estatuto da
Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/15) consagrou a autonomia privada, inclusive
relativamente a questões atinentes ao corpo, tutelando os direitos sexuais e
reprodutivos e a conservação da fertilidade, com a vedação da esterilização
compulsória.
Diferente disso, portanto, quando tratamos do direito ao corpo individual,
percebemos que as referidas limitações impostas à autodeterminação corporal na
codificação civil e na lei especial de transplantes de órgãos não observam
objetivamente as aptidões pessoais para traçar escolhas sobre o próprio corpo. Os
espaços de liberdade corporal, teoricamente envolvidos pelas esferas íntimas da
subjetividade individual, surgem, na verdade, como terrenos de afirmação de valores
morais maiores, impostos sob a ótica paternalista do Estado. Sob o escopo de garantir
“a efetivação da autonomia existencial”, a capacidade civil de autodeterminação do
indivíduo é afastada para atribuir ao Estado – ou, excepcionalmente ao magistrado e
aos médicos auxiliares (no caso de autorização judicial para transplantes) – o poder
social de escolher em quais situações será permitida ou não a cessão de órgãos para
fins terapêuticos (MORAES, 2014, p. 811).
Com respaldo ético e moral, as propostas de criação de um mercado de órgãos
que permita a compensação financeira diante dos riscos submetidos por aquele que
cede um ou parte de um órgão para salvaguardar a vida de outrem ou qualquer outra
37

proposta relacionada à flexibilização do atual regramento são rechaçadas sob a tese da


vedação à coisificação do corpo e sua natureza res extra commercium, com vistas a
defender o próprio sujeito dos perigos da sua falta de conhecimento e de melhores
alternativas de subsistência, sem considerar, muitas vezes, o dever de conscientização,
por parte do poder público, do significado, dos riscos e das consequências sociais que
os atos de disposição corporal podem atingir.
É preciso que a vulnerabilidade (de pessoas pobres) não seja confundida com a
incapacidade. Enquanto a primeira pretende a concessão de direitos subtraídos dos
economicamente mais fortes, com vistas a compensar juridicamente a desigualdade
econômica, a segunda (em seu caráter absoluto) caracteriza-se pela supressão da
aptidão para a prática direta de determinados atos. O fato do indivíduo não ter tido
condições de se instruir a ponto de reconhecer, por conta própria, todos os efeitos
práticos do exercício de sua autonomia corporal, ou ainda, o fato de estar em condições
econômicas de miséria, por não ter as mesmas oportunidades de desenvolvimento das
elites de seu país, não o fazem menos detentor de seus próprios direitos e corpo
comparativamente aqueles pertencentes à classe mais rica da população.
Sabe-se, evidentemente, que a instituição de fortes garantias legais contra
interferências externas ao corpo, no âmbito nacional e internacional, têm sua razão de
existir. A incolumidade corporal, hoje com status de direito fundamental amparado na
Constituição da República, tem sua origem na resistência civil contra as intervenções
estatais, marcada, principalmente, pelo suplício nazista que assombrou a população
alemã no século XX (SCHWABE, 2005, p.265). Os abusos perpetrados à vida e
especialmente ao corpo humano neste período – seja através da tortura ou da
experimentação científica – causaram tamanha repulsa que movimentaram todo um
coletivo internacional de forças a criar normas específicas para este tipo de tutela, com
vistas a preservar o alto teor de dignidade humana inerente ao corpo como
identificação existencial de cada indivíduo. Desse modo, o alcance da intervenção
estatal neste campo, sobrepondo-se ao chamado interesse privado de maneira geral,
teria por fundamento o interesse público primário do Estado, relacionando-se aos fins
38

que ele deve promover, ainda que o beneficiário seja exatamente a pessoa privada
(BARROSO, 2011, p.70/71).
A concepção de incolumidade física que se pretende preservar com a premissa
constitucional de vedação ao comércio busca impedir que alguém seja obrigado a
submeter seu corpo a qualquer tipo de procedimento – médico ou não – que venha a
diminuir ou prejudicar o seu funcionamento ou afetar a sua dignidade. A retirada de
órgãos e partes do corpo humano para fins de transplante ou tratamento
evidentemente não é uma intervenção cirúrgica insignificante ao corpo dos indivíduos
que se submetem a esse tipo de procedimento, mas também não se pretende torná-la
externa ao âmbito de autonomia do próprio sujeito. A liberdade do indivíduo de optar
se deseja, de fato, submeter-se ao procedimento deve ser, sempre, ponderada.
Concluindo, se é certo que a Constituição (art 199, parágrafo 4o) veda todo
tipo de comercialização, nos dias atuais, também estaria correto afirmar que a referida
vedação não queda isenta de dúvidas. O constituinte fixou, realmente, uma proteção
jurídica para o indivíduo, mas não se pode admitir que esse preceito seja capaz de dar
conta de todo e qualquer contexto histórico e social.
Neste particular, acrescente-se que os próprios constitucionalistas admitem o
fenômeno da mutação constitucional, seja pela via da interpretação, da atuação do
legislador ou do costume. Eis aqui destacado o importante papel a ser desenvolvido
pela hermenêutica jurídica e pelos operadores do direito, na medida de vislumbrar a
atribuição de sentido efetivo às normas jurídicas abstratas que, como a
autodeterminação corporal, sofrem limitações por vezes excessivas, seja pela mudança
da conjuntura social em que se inserem, do paradigma que as motivaram ou mesmo a
especificidade da situação a que se quer aplicar.

5 REFERÊNCIAS

BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos


fundamentais e a construção do novo modelo. 2 ed. São Paulo : Saraiva, 2010.
39

BERLINGUER, Giovanni. Corpo humano: mercadoria ou valor? Estudos avançados, São


Paulo , v. 7, n. 19, p. 167-192, dez. 1993.

MORAES, Maria Celina Bodin de; CASTRO, Thamis Dalsenter Viveiros de. A autonomia
existencial dos atos de disposição do próprio corpo. Pensar, Fortaleza, v. 19, n. 3, p.
779-818, set./dez. 2014. Disponível em
<file:///C:/Documents%20and%20Settings/Mario/Meus%20documentos/Downloads/34
33-11176-1-PB.pdf> Acesso em 12 abr. 2015.

RODOTÀ, Stefano. La vita e le regole: tra diritto e non diritto. Milano: Feltrinelli, 2006.

SÁ, Maria de Fátima Freire de. Biodireito e direito ao próprio corpo: doação de órgãos,
incluindo o estudo da Lei n. 9.434/97, com as alterações introduzidas pela Lei n.
10.211/01. 2. ed., rev., atual e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2003., p. 90.

SCHWABE, Jürgen. Cinqüenta Anos de Jurisprudência do Tribunal Constitucional Alemão.


Traduzido por Beatriz Hennig. et al. Montevidéu: Konrad Adenauer – Stiftung, 2005.
40

ENTRE O LIVRE MERCADO E A DEFESA DO MEIO AMBIENTE: A ECONOMIA


COLABORATIVA COMO UMA ALTERNATIVA VIÁVEL

Fabio Paulo Reis de Santana12


Helena Elias Pinto13

Palavras-chave: economia colaborativa; mercado; meio ambiente; desenvolvimento


sustentável.

RESUMO

O presente estudo pretende analisar as tensões entre a lógica do livre mercado


e o dever de preservação do meio ambiente para as gerações presentes e futuras, a
partir das contribuições teóricas de Mireille Delmas-Marty e de Luc Ferry. O problema
reside em como conferir efetividade às disposições normativas que impõem a defesa do
meio ambiente se as leis do mercado se pautam por princípios que vão, muitas vezes,
em sentido oposto àquele. O objetivo do presente estudo consiste em tentar buscar
uma alternativa viável para o problema e, para tanto, parte-se da hipótese de que a
economia colaborativa pode oferecer uma saída conciliadora para o desenvolvimento
sustentável, com vistas a retirar dos ombros dos Estados independentes um papel
apenas de sancionador das condutas ambientalmente ilícitas para um papel de fomento
às condutas ambientalmente desejáveis a partir da ideia de compartilhamento de bens,
de serviços e de informação.

12
Mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Direito Constitucional da Universidade Federal
Fluminense, fabiodesantana@yahoo.com.br; http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?
id=K4828383D2.
13
Doutorado em Direito pela Universidade Gama Filho. Professora Adjunta do Programa de Pós-
graduação em Direito Constitucional da Universidade Federal Fluminense, helenaelias@gmail.com;
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4246312Y4.
41

JUSTIFICATIVA

A constatação da necessidade de preservação do meio ambiente se apresenta


fortemente, nos dias atuais, notadamente, em decorrência de fatores como: o
desenvolvimento das grandes metrópoles, o crescimento populacional desenfreado, o
aumento do consumo, o desenvolvimento da indústria e da mecanização. Não foi por
outra razão que diversos diplomas normativos nacionais e internacionais buscaram
disciplinar os limites para as práticas exploratórias, como por exemplo, no plano
externo, a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992) e o
Protocolo de Kyoto (1997), e, no plano interno, a Constituição Federal (1988) e a
legislação ambiental em geral. Nesse sentido, seria indispensável uma evolução na
compreensão da posição jurídica do meio ambiente, passando de mero objeto de
direito do homem para a condição de sujeito de direito (FERRY, 1994).
Ocorre que, em contraposição a essas ideias, as leis do mercado seriam regidas
pelo princípio fundamental da oferta e da demanda, que não vislumbraria, por si só,
freios à realização dos desejos dos indivíduos, na esteira do pensamento liberal
econômico. Assim, far-se-ia necessário conciliar as diferentes gerações de direitos no
bojo de uma ideia de interdependência (DELMAS-MARTY, 2003).
Porém, as tentativas nacionais e internacionais apontam para evoluções e
retrocessos na tensão entre mercado e meio ambiente, abrindo espaço para novas
soluções, que visem a conferir maior efetividade às normas ambientais. É nesse
contexto que o presente estudo apresenta a economia colaborativa, com suas
ferramentas específicas (RIFKIN, 2001), como uma saída possível numa tentativa de
aprimorar a proteção e a educação ambientais.

OBJETIVOS

O objetivo do presente estudo consiste em apresentar as ferramentas da


economia colaborativa como uma alternativa viável para a redução das tensões entre o
mercado e o meio ambiente, já que a economia de compartilhamento permite a auto-
42

organização da sociedade, com vistas a realizar objetivos comuns. E, diante disso, fixar o
papel do Estado perante a economia privada e a sociedade.

METODOLOGIA

Será realizado estudo com base em livros doutrinários, artigos científicos e


jornalísticos, tratados internacionais e leis nacionais.

ABORDAGEM TEÓRICA

Adotar-se-á como marco teórico nos estudos sobre a ecologia a referência


bibliográfica de Luc Ferry, que aborda diversas categorias jurídicas com vistas a conferir
autonomia ao meio ambiente. Já na exposição das tensões entre o mercado e as
diferentes gerações de direitos lançar-se-á mão dos estudos realizados por Mireille
Delmas-Marty apontados na referência bibliográfica. Por fim, como base para o
desenvolvimento das ideias acerca da economia colaborativa, será recepcionado o
pensamento de Jeremy Rifkin.

BREVES NOTAS SOBRE A ECONOMIA COLABORATIVA

A economia colaborativa, segundo Gilberto Sarfati (2016), baseia-se em


modelos de negócios pautados em trocas peer to peer (P2P), intermediados por uma
comunidade on-line. O grande exemplo é o aplicativo Uber que revolucionou o
segmento de transporte individual com um modelo de compartilhamento de viagens,
unindo diretamente motoristas e usuários.
A perspectiva da colaboração objetiva alterar a lógica de mercado baseada na
ideia de propriedade por um modelo pautado pela ideia do uso. A tônica da economia
colaborativa se torna a busca pelo acesso aos bens de consumo, sem necessariamente
passar pela efetiva aquisição dos bens.
43

Nesse diapasão, Jeremy Rifkin (2016) sustenta que a vida econômica já está
profundamente marcada pelos bens comuns colaborativos, de maneira que os
mercados já estariam começando a ceder lugar para as redes e a posse estaria se
tornando menos importante do que o efetivo acesso.
Mesmo com pouco tempo de existência, a economia do compartilhamento
permite a democratização do acesso a bens e serviços, uma vez que torna produtos e
serviços amplamente difundidos e quase gratuitamente disponíveis a todas as pessoas.
No limite, o uso da internet como plataforma de ação garante à economia do
compartilhamento de bens a possibilidade de atingir uma escala quase ilimitada de
pessoas ao redor do mundo, impulsionando a democracia do acesso para além das
fronteiras territoriais.
Contudo, essa realidade, embora bastante difundida no país e no mundo,
ainda não foi incorporada significativamente às práticas cotidianas dos Estados, porque
carece a percepção pelas autoridades em geral de que a economia colaborativa
poderia, ao fim e ao cabo, contribuir enormemente para a difusão dos direitos
fundamentais, colaborando com as atividades estatais atualmente deficitárias.

CONCLUSÃO

As tensões entre mercado e meio ambiente apontam para uma solução que
busque conciliar os direitos e os interesses envolvidos, de modo que o Estado não seja
encarado apenas como um freio ao desenvolvimento econômico, mas, sobretudo,
como o agente principal na promoção do desenvolvimento sustentável.
Assim, o presente estudo propõe como alternativa a adoção das ferramentas
utilizadas pela economia colaborativa (por exemplo, a criação de aplicativos ou o apoio
a iniciativas já existentes), com vistas a conferir ao Estado também – e não
exclusivamente – o papel de estimular a auto-organização da sociedade para fins de
aumento da proteção e da educação ambientais. Em relação à iniciativa privada, o
Estado poderia condicionar a concessão de serviços públicos, por exemplo, ao
44

desenvolvimento de ou ao apoio a, por parte da concessionária, aplicativos que


promovam a proteção ou a educação ambiental.
Nesse sentido, poder-se-ia citar como medidas individuais já existentes: o
aplicativo denominado Greenmeter (que auxilia o usuário a dirigir de forma mais
econômica, reduzindo o consumo de combustível e, consequentemente, poluindo
menos o meio ambiente) e o intitulado Recicle RJ (que ajuda a localizar pontos de coleta
de material reciclável mais próximos, utilizando o GPS, de, por exemplo, reciclagem de
papel e de óleo de cozinha). A maioria desses aplicativos, contudo, encontra-se apenas
disponível nos Estados Unidos, de modo que o Brasil ainda carece dessas iniciativas
“verdes”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DELMAS-MARTY, Mireille. Por um direito comum. São Paulo: Martins Fontes. 2004.

_________. Três Desafios para um Direito Mundial. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003.
FERRY, Luc. A Nova Ordem Ecológica. São Paulo: Ensaio. 1994.

MACIEL, Edgar; TOMAZELLI, Idiana; MAIA, Laura; MORENO, Thiago. (2013, 26 de julho).
Mundo digital desafia economia. Acessado em 20.09.2016. Disponível em:
http://www.estadao.com.br/infograficos/economia-colaborativa,economia,196320.
Jornal Estadão.

MILARE, Edis; COIMBRA, José de Ávila Aguiar. Antropocentrismo x Ecocentrismo na


Ciência Jurídica. Revista de Direito Ambiental, São Paulo, ano V, n. 36, p. 9-42, out-dez,
2004.

RIFKIN, Jeremy. Sociedade com custo marginal zero: a internet das coisas, os bens
comuns colaborativos e o eclipse do capitalismo. São Paulo: M. Books do Brasil Editora.
2016.

RODRIGUES, Anna Carolina, 27 aplicativos para salvar o mundo. Ano 2012. Disponível em
http://super.abril.com.br/tecnologia/27-aplicativos-para-salvar-o-mundo. Acessado em
08.10.2016.

SARFATI, Gilberto. A evolução tecnológica tem gerado inovações que estão causando
uma verdadeira Revolução. Exemplos disso são a Economia Colaborativa e a Inteligência
Artificial, capazes de promover melhorias transformadoras na Sociedade, In: Prepare-se
45

para a Revolução: economia colaborativa e inteligência artificial. GVEXECUTIVO, v. 15, n.


1, jan-jun 2016.
46

DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA EM TEMPOS DE


TRANSGENIA ALIMENTAR: PRIMEIROS COMENTÁRIOS

José Nogueira Antunes Neto14


Tauã Lima Verdan Rangel15

Palavras-chave: Direito à Alimentação Adequada. Segurança Alimentar e Nutricional.


Transgenia Alimentar.

INTRODUÇÃO

Alimentação e nutrição são elementos essenciais ao desenvolvimento humano,


configurando, portanto, mínimo existencial indispensável para o atendimento das
potencialidades dos indivíduos. Neste sentido, passa-se a reconhecer o acesso à
alimentação adequada como direito fundamental e revestido de proeminência,
devendo-se, para tanto, repensar a disponibilidade e qualidade alimentar para
concretização de tal direito. Assim, o presente resumo tem como objetivo abordar o
direito à alimentação adequada, bem como seu a promoção e garantia da segurança
alimentar e nutricional da população em uma era de biotecnologia e transgenia
alimentar, tal como a inclusão de alimentos geneticamente modificados nos hábitos
alimentares populacionais. Em razão dessa gravidade, notam-se diversas vertentes
acerca dos alimentos transgênicos, sendo uma delas a consequência desfavorável à

14
Graduando do Curso de Direito da Faculdade Metropolitana São Carlos (FAMESC) – Bom Jesus do
Itabapoana. E-mail: josenogueira.neto@hotmail.com; link para o currículo lattes:
http://lattes.cnpq.br/0385002417417134;
15
Doutorando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal
Fluminense. Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e
Direito da Universidade Federal Fluminense. Especialista em Práticas Processuais – Processo Civil,
Processo Penal e Processo do Trabalho pelo Centro Universitário São Camilo. Bolsista da Comissão de
Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (CAPES). Integrante do Grupo de Pesquisa em “Direitos
Fundamentais – UFF” e Vice-Líder do Grupo de Pesquisa em “Saúde Mental, Direitos Humanos e
Desenvolvimento”, ambos cadastrados no CNPq e coordenados pela Professora Doutora Célia Barbosa
Abreu. E-mail: taua_verdan2@hotmail.com; link para o currículo lattes:
http://lattes.cnpq.br/8802878793841195;
47

sociedade, um conflito entre as espécies nativas e o abuso exagerado dos agrotóxicos


nos alimentos, gerando problemas de saúde para o próprio consumidor.

DESENVOLVIMENTO

O artigo 6º da Constituição Federal de 1988, modificado pela Emenda


Constitucional n.º 64, de 4 de fevereiro de 2010 reconhece que, são direitos sociais a
educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL,2010). Constata-se então que
houve a ocorrência da introdução da alimentação como direito social, destinado a
assegurar o ser humano a uma alimentação adequada, vinculada inerentemente a
consolidação da dignidade humana, que se evolui historicamente ao decorre do
desenvolvimento das garantias os direitos a existência da sociedade, eliminando a fome
como problema socioeconômico que norteia o Brasil. Pedro Lenza (2011) afirma que a
inclusão do direito à alimentação no rol dos direitos sociais trará para os cidadãos
brasileiros melhores condições de vida, pois o Estado torna-se obrigado, a assegurar a
todos, não somente o direito a alimentação, mas sim a uma alimentação com
qualidade.
A alimentação, por atender a uma das necessidades básicas do homem,
sempre foi objeto de preocupação individual e coletiva (BRASIL, ABRANDH, 2013, p.27).
Nesse sentindo, o Direito Humano a alimentação adequada (DHAA) busca políticas para
erradicar a fome do País e promover planos e ações para assegurar estes princípios,
sendo ela, intimamente vinculado à Dignidade da Pessoa Humana e é indispensável à
satisfação de outros direitos humanos (ALMEIDA, 2012). Sendo assim, o direito de cada
pessoa ter o acesso físico e econômico a alimentação adequada ou formas para adquirir
estes alimentos, além de significar o rompimento com a fome e a desnutrição. Nesse
sentindo, gozando de tamanha relevância para o Estado Democrático de Direito que a
sua efetivação seja imprescindível para a proteção da dignidade humana (CHEHAB,
2013). Por conseguinte, perceptível que vivenciar restritamente do direito ao acesso a
48

alimentos adequados se configura em fator de exclusão social, no qual se faz


necessário, sendo um acréscimo aos demais direitos sociais.
A alimentação passou a encontrar previsão expressa no Texto Constitucional
como um direito social, e não mais apenas nas Leis ordinárias das Unidades da
Federação, a preocupação com uma boa alimentação acaba por fazer parte de todo
programa de saúde pública dos governos federal, estadual e municipal (VAZ, 2012).
Sendo de extrema importância a exclusão da fome e a acessibilidade total ao alimento
adequado, além da disponibilidade dos próprios, ajustando-se as necessidades da
sociedade e estabilidade do acesso a alimentos produzidos e consumidos de forma
justa, sustentável, digna e isenta. Assim podendo o cidadão obter seus direitos por
diversas formas, sendo eles administrativos, político-administrativos, políticos, quase
judiciais e judiciais. Para tanto, a produção por alimentos orgânicos se dá pelo seu
modo de produção, no qual não se utiliza si quer praticas que acarretam a saúde do
individuo e do ambiente natural. Devendo ser de modo saudável e sustentável, onde
não ocorra a pratica de agrotóxicos, e sim que respeite o meio onde produz, por meio
de adubação verde ou orgânica, como as minhocas. Assim, buscando uma alimentação
mais adequada e de forma salutar e nutricional.
Desse modo, no artigo 2º, da lei 11.346/2003, aborda-se que a alimentação
adequada é direito fundamental do ser humano, inerente à dignidade da pessoa
humana e indispensável à realização dos direitos consagrados na Constituição Federal,
promovendo e garantindo a segurança alimentar e nutricional da população. Contudo,
com as inovações da biotecnologia trazidas pela Revolução Verde a partir da década de
1960 surgiram avanços na tecnologia, assim sendo possível criar alimentos
transgênicos, ou seja, alimentos geneticamente modificados, obtendo uma maior
produção com alteração no seu valor nutricional.
No entanto, nota-se que com a busca pela criação de sementes resistentes ao
seu próprio agrotóxicos ou sementes que produzem plantas inseticidas, no qual
controlam as pragas, obtiveram uma vertente oposta acerca desse assunto, sendo a
grande incerteza da produção desses próprios alimentos transgênicos, em que ocorre a
disseminação de organismos geneticamente modificados com consequências globais
49

desfavoráveis, gerando uma competição em oposição às espécies nativas, além do


aumento exagerado de agrotóxicos nos alimentos, assim como resíduos nos próprios
solos de produção e rios, produzindo alimentos que possam causar alergias, redução ou
anulação da eficácia de antibióticos, sendo um risco e prejudicando a saúde e o
ambiente. A Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN) instituiu um
sistema nacional norteado pelos princípios da universalidade, participação social,
intersetorialidade e equidade.

CONCLUSÃO

Entende-se então, a necessidade da busca do direito humano a uma


alimentação adequada e saudável, ao qual o individuo tem o direito de recorrer a tal,
sendo o próprio, direito fundamental, inerente à dignidade da pessoa humana e
indispensável à realização dos direitos consagrados na Constituição Federal. Assim, é
indispensável o acesso a uma alimentação de qualidade e de quantidade, ao qual faz
parte de todo programa de saúde pública. Contudo, o desafio de agora em diante é a
busca desenfreada por uma alimentação adequada ao qual busque uma segurança
alimentar, em que se percebe a visão inócua que se obtém dos alimentos transgênicos,
ao qual gera um risco na sociedade e sendo prejudicial à saúde e ao ambiente.

REFERÊNCIAS

ABRANDH, Ação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos. O Direito Humano à


Alimentação Adequada e o Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional. Brasília, 2013.
Disponível em: <www.oda-alc.org/documentos/1374763097.pdf>. Acesso em: 17 out.
2016

ALMEIDA, D. L. Alimentação Adequada como Direito Fundamental: Desafios para


garantir a efetivação. Revista Internacional de Direito e Cidadania, Instituto Estudos
Direito e Cidadania, v.5, n.14, out. 2012. Disponível em:
<http://reid.org.br/arquivos/REID-014.pdf>. Acesso em: 18 out. 2016
50

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Promulgada em Federal de 1988.


Disponível em: <www..planalto.gov.br>. Acesso em: 16 out. 2016

______.Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006. Cria o Sistema Nacional de Segurança


Alimentar e Nutricional – SISAN com vistas a assegurar o direito humano à alimentação
adequada e dá outras providências. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em:
16 out. 2016

CHEHAB, Isabelle Maria Campos Vasconcelos. O Direito Fundamental à Alimentação


Adequada: contexto histórico, definição e notas sobre a sua fundamentalidade. Revista
Âmbito Jurídico, Rio Grande, n. 119, dez. 2013. Disponível em: <www.ambito-
juridico.com.br>. Acesso em: 19 out. 2016.

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 15 ed. rev. e ampl. São Paulo:
Saraiva, 2011.

VAZ, J.E. P. O Direito Social a Alimentação. Artigonal, agosto de 2012. Disponível em:
<http://www.artigonal.com/doutrina-artigos/o-direito-social-a-alimentacao-
2952905.html>. Acesso em: 20 out. 2016.
51

DOMÍNIO SOBRE O CORPO FEMININO: REFLEXÕES SOBRE A VIOLÊNCIA


OBSTÉTRICA EM TEMPOS DE BIOPOLÍTICA16

Camille Pacheco Carvalho 17


Joyce Abreu de Lira 18
Leonardo Martins Costa 19

Palavras-chave: violência obstétrica; biopolítica; direito fundamental à liberdade;


dignidade humana.

OBJETIVOS

O presente estudo objetiva apresentar reflexão teórica acerca das origens da


dominação escolhas da mulher grávida como violação do seu direito fundamental à
liberdade. A partir do referencial apresentado por Foucault, busca-se contemplar o
tema sobre o prisma crítico. A questão que se coloca a investigar indaga a utilização do
poder médico como forma de determinação externa aos desejos da mulher gestante ou
parturiente e, consequentemente, como representação de uma prática de violência
obstétrica. Se as escolhas são limitadas pelo conhecimento médico, que não é
orientado, mas direcionado e imposto, a parturiente, de fato, não está a exercer
plenamente a liberdade sobre seu corpo e mente.

16
Este artigo é resultante de estudos desenvolvidos no âmbito do Grupo de Pesquisa em Direitos
Fundamentais/UFF, sob a liderança da Profa. Dra Célia Barbosa Abreu, cadastrado junto ao CNPQ, do qual
os autores são integrantes.
17
Graduanda pela Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense. E-
mail:“camillepc@gmail.com”. Lattes:“ http://lattes.cnpq.br/8689177053465142”.
18
Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Direito Constitucional da Universidade Federal
Fluminense. Professora Substituta do Departamento de Direito Aplicado da Universidade Federal
Fluminense. Pesquisadora no Grupo de Pesquisa sobre Direitos Fundamentais da Universidade Federal
Fluminense E-mail: “joyce.lira@gmail.com”. Lattes: “http://lattes.cnpq.br/ 8015623070536170”.
19
Graduando pela Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense. E-
mail:“leomartins@live.com”. Lattes:“ http://lattes.cnpq.br/9713176787920777”.
52

ABORDAGEM TEÓRICA

A abordagem do tema da violência obstétrica nos tempos atuais tem


considerado que a imposição sobre o corpo e as escolhas da mulher gestante e
parturiente assume diversas facetas. Não são incomuns os relatos das mulheres que se
sentem ofendidas no exercício da sua liberdade de escolha quantos às formas médicas
de acompanhamento da gestação e, principalmente, de praticar o parto. A temática
tem sido objeto de crescentes debates e investigações acadêmicas multidisciplinares,
que buscam verificar a hipótese da violência obstétrica enquanto forma de manipulação
médica sobre as escolhas que atinem ao corpo da mulher, afinal, “o corpo é uma
realidade bio-política; a medicina é uma estratégia bio-política” (FOUCAULT, 1984, p.
80)
A pesquisa se desenvolverá a partir da metodologia qualitativa, parcialmente
exploratória de bibliografia capaz de trazer possíveis esclarecimentos teóricos acerca
das dúvidas que são lançadas quando o pesquisador se depara com a temática descrita.
Pauta-se a discussão de fundo em teorias que possibilitam interligar a crítica jurídica da
violação da liberdade constitucionalmente garantida (art. 5º, caput, CRFB/88) – e,
assim, da própria dignidade humana (art. 1º, III, CRFB/88) – à crítica sobre o modelo
biopolítico que cada vez mais se impõe enquanto forma de exercício de poder sobre os
corpos humanos (FOUCAULT, 2008).
A violência obstétrica, em resumo, consiste na ideia de se criar o medo e, a
partir do temor, impor às escolhas da gestante ou parturiente as mais diversas regras,
que se defendem estar amparadas pelo conhecimento médico, mas que, na prática,
atuam como forma de interferência direta sobre as escolhas da gestante ou parturiente
(levando em conta que este terror psicológico pode acontecer tanto meses antes como
no momento do trabalho de parto). A violência, assim, ocorre inicialmente num plano
psicológico, podendo chegar às vias de fato em diversos casos.
A discussão acerca deste mote tem ganhado tamanha amplitude que é possível
encontrar material informativo da Defensoria Pública, por exemplo, esclarecendo que
“a violência obstétrica é o desrespeito à mulher, seu corpo e seus processos
53

reprodutivos. Isso acontece através de tratamento desumano, transformação de


processos naturais do parto em doença ou abuso da medicalização, negando às
mulheres a possibilidade de decidir sobre seus corpos” (DPESP, 2015, p. 6).
Verifica-se que, de acordo com o procedimento ético de cada profissional,
podem existir práticas divergentes quanto ao modo de aplicação do conhecimento
médico. Há, em certas práticas médicas que se pretende criticar, a capacidade de impor
o conhecimento médico como forma de poder sobre o corpo da mulher e, assim,
provocar o que se convencionou denominar de violência obstétrica.
Por outro lado, o que se assume como desejável é que a conduta médica
busque transmitir o conhecimento científico com o objetivo de informar e orientar a
mulher gestante ou parturiente, de forma clara e objetiva, ética e zelosa, com a
preocupação integral em respeito da dignidade das escolhas dessa mulher. Pretende-se
libertar as escolhas da mulher da forma mais agressiva do domínio biopolítico, o que
não pressupõe a ausência de informação e orientação médica, ao contrário, assume o
conhecimento médico como paralelo, mas não condicional às opções quanto ao modo
de exercer a gestação e o parto.
O exercício daquele primeiro tipo antiético de poder médico, porém, tornou-se
a prática preponderante pelo menos desde o final do último século, diante dos avanços
tecnológicos da medicina cirúrgica, que estimularam cada vez mais a cesariana como
método de parto aparentemente seguro, eficaz e, principalmente, previsível. A
previsibilidade representa a possibilidade de o médico adequar o nascimento de uma
vida às exigências da sua agenda profissional.
Em si, a ideia mercantil do nascimento humano é capaz de representar a
violação da dignidade da mulher. Essa violação é ainda ampliada quando se tem em
vista a prática médica manipuladora que induz à própria privação da liberdade de
consciência e escolha dessa mulher. Além de ser capaz de representar violência direta
ou física, tem o potencial de elevar a violência ao terror psicológico que faz com que as
mulheres se sintam forçadas a escolher determinados procedimentos, levadas pelo
medo da responsabilização exclusiva sobre suas escolhas, as quais deveriam ser
orientadas e não determinadas pelo médico obstetra.
54

Com o avanço da reflexão e debate sobre o tema, relatos de casos de


abandono médico de parturientes ou de acompanhamento parcial da gestação tem se
mostrado cada vez mais presentes. Questionar a prática obstétrica violenta e,
consequentemente, antiética, tornou-se o mote de muitas pesquisas nas mais diversas
áreas do conhecimento e tocam, inclusive e especialmente, às teorias críticas jurídicas e
políticas. A gestação é tema cercado por mitos e suposições e caberia ao médico a
função de orientar a gestante a exercer sua escolha de forma consciente, já que o
conhecimento e aparato instrumental médico científico é capaz de prever situações de
risco e suas respectivas soluções científicas.
É evidente a violação da dignidade humana (art. 1º, III, CRFB/88) e do direito
fundamental à liberdade (art. 5º, caput, CRFB/88), especificamente da liberdade da
mulher gestante e parturiente, quando o pesquisador se debruça sobre o tema da
violência obstétrica. Existe a violência obstétrica nas mais variadas situações. Há o
terror imposto na primeira consulta, por exemplo, quando a gestante começa a ser
desestimulada ao parto natural e os apelos aos procedimentos cirúrgicos e hospitalares
passam a ser impostos.
A mulher pode ser dominada, ainda, durante toda a gestação, por exemplo,
com a prática da desorientação e imposição da dúvida e da responsabilização exclusiva
por suas escolhas; com a limitação da quantidade de consultas médicas e do tempo de
duração desses encontros; com o excesso medicamentoso; com a falta de cuidado em
exames corporais. Por fim, a pior das facetas da violência obstétrica tem se verificado
no ato de abandono médico às vésperas do parto, quando o obstetra não consegue
convencer a mulher a realizar procedimentos cirúrgicos desnecessários que, como é
sabido, são mais caros e mais rápidos, mas que atendem apenas à lógica de mercado,
interessando apenas à engrenagem estrutural que depende desse movimento
mercadológico do nascimento humano.
Em O nascimento da Clínica, de Foucault, pode-se verificar que o processo
histórico de mercantilização da saúde, inclusive da mulher gestante e parturiente,
remonta ao final do século XVIII com a criação de diversos hospitais e clínicas voltados à
55

prática de médicos em formação, citando-se, como exemplo, a criação da Clínica de


Partos de Copenhague, em 1787 (FOUCAULT, 1977, p. 64).
O atendimento nesta clínica era voltado a mulheres socialmente
desfavorecidas "moralmente desarmadas e socialmente perigosas" (FOUCAULT, 1977,
p. 97), como as parturientes solteiras. Com isso, em primeiro lugar, as práticas médicas
obstétricas se orientavam por uma suposta inferioridade de sentimentos de pudor das
mulheres que eram apenas objetos. A partir de ideias reducionistas da sensibilidade
dessas mulheres, não casadas e gestantes, as famílias “honradas” buscavam reafirmar
sua superioridade, bradando que ali havia o cumprimento de seu dever moral e social.
Usar os corpos das mulheres gestantes e sem moral como objeto de estudo viabilizaria
a pesquisa médica-científica, ao passo que tais mulheres, até então socialmente inúteis,
passariam a encontrar sua utilidade social.
Neste contexto, “os ricos” praticariam sua filantropia ao oferecer tratamento
médico para aquelas que não teriam condições de arcar com seus custos, mas com a
real intenção de que fossem estudadas nestas “pobres mulheres” as patologias ou
complicações que pudessem vir a atingi-las futuramente. E, com sorte, estas menos
afortunadas mulheres acometidas por doenças poderiam até mesmo ser curadas pelos
médicos que os estudavam (FOUCAULT, 1977, p. 96).
A ideia que unia pesquisador médico e objeto de pesquisa, num sistema dito
filantrópico, porém, foi bastante questionada. De acordo com Barros, o atual modelo
biomédico propõe, ao contrário, que os médicos respeitem um distanciamento entre o
observador e o objeto observado (BARROS, 2002). Por outro lado, cada vez mais tem se
experimentado um modelo clínico que trata o paciente enquanto mercadoria,
atendendo, assim, a uma lógica mais mercantil da saúde. Disso decorre, por exemplo,
segundo Capra, que na medicina moderna tem-se limitado a saúde do paciente a um
funcionamento mecânico, chegando ao ponto de comparar o corpo humano com uma
máquina e o médico como alguém capaz de manipular o seu funcionamento natural
(CAPRA, 1982).
56

CONCLUSÃO

Em conclusão, a pesquisa apresentada busca investigar o arcabouço teórico


que encontra, nas origens, a compreensão dos fatores de formação do modelo de
prática clínica/médica que tem repercutido especialmente no tratamento dispensado às
mulheres gestantes e parturientes. E, desse modo, apresentar o cotejo entre as ideias
de mercantilização da saúde, dominação dos corpos e das escolhas dessas mulheres
com a necessária crítica do ponto de vista constitucional brasileiro acerca das violações
que são consequentes.

REFERÊNCIAS

BARROS, José Augusto C. Pensando o processo saúde doença: a que responde o modelo
biomédico?. Revista Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 11, n.1, p. 67-84, 2002. Disponível
em http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v11n1/08

CAPRA, Fritjjof. O ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura emergente. Trad.


Álvaro Cabral. São Paulo: Cultrix, 1982.

Defensoria Pública do Estado de São Paulo (DPESP). Conversando sobre violência


obstétrica. São Paulo: Coordenadoria de Comunicação Social e Assessoria de Imprensa
da Defensoria Pública do Estado São Paulo, 2015. Disponível em:
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/repositorio/34/documentos/cartilhas/Cartilha_
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FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. trad. Eduardo Brandão. 4. ed. Rio de Janeiro:
Graal, 1984.

FOUCAULT, Michel. Nascimento da Biopolítica. trad. Eduardo Brandão. 3. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2008.

FOUCAULT, Michel. O Nascimento da Clínica. trad. Roberto Machado. Rio de Janeiro:


Forense-Universitária, 1977.
57

O BEM-ESTAR ANIMAL COMO DIREITO FUNDAMENTAL NOS HARD CASES DO


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Alexandre Magno Antunes de Souza20


Pablo Ronaldo Gadea de Souza21

Palavras-chave: Direito Constitucional. Direitos fundamentais. Bem-estar animal.


Manifestação Cultural. Supremo Tribunal Federal.

INTRODUÇÃO

O embate entre o valor cultural e o bem-estar animal tem sido tema


recorrente ao redor do planeta e no Brasil não está sendo diferente. Trata-se de dois
princípios constitucionais. De um lado está o direito de manifestar-se culturalmente.
Porquanto que do outro, conforme já sedimentou o Supremo Tribunal Federal a clara
proteção constitucional em favor dos animais a partir da leitura do art. 225,§1º, VII, da
CF/88. A solução para decidir entre os dois princípios, no entanto, adveio do
sopesamento desses.
O tema do presente trabalho se calca nas decisões trazidas pelo STF no que
tange a abolição de práticas abusivas contra o bem-estar animal. Nisso, serão expostos
decisões que se utilizaram da ponderação de valores constitucionais e se calcando na
prudência e na proporcionalidade aboliram as práticas da briga de galos (ADI
nº1.856/MC), a farra do boi (RE 153.541-1-SC) e, recentemente, a vaquejada (ADI
4983). A fim de se fazer uma pesquisa mais aprofundada acerca desses julgados, a
metodologia utilizada será, mormente indutivo e terá um capítulo em especial para
tratar da inconstitucionalidade da vaquejada bem como da tentativa em burlar a
decisão do Supremo Tribunal Federal por parte do poder legislativo.
20
Graduando em Direito pela Universidade Federal Fluminense. Bolsista. E-mail:
alexandreantunes@id.uff.br; Link do Lattes: http://lattes.cnpq.br/1818002135781296
21
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Direito Constitucional da Universidade Federal
Fluminense. Bolsista CAPES. E-mail: pabloronaldogadeadesouza@hotmail.com; Link do Lattes:
http://lattes.cnpq.br/3389876988723300
58

OBJETIVOS

A finalidade do trabalho é discutir de forma aprofundada acerca dos hard cases


decididos pelo Supremo Tribunal Federal no que tange à ponderação dos valores
constitucionais manifestação cultural e bem-estar animal.

EIXO TEMÁTICO

Pelo fato do trabalho se remeter à causa do Direito animal e estar preconizado


no artigo 225, parágrafo 1º da Constituição Federal, o qual trata de Direito Ambiental,
sendo este Direito Difuso, acredita-se que o este seria englobado pelo “GT IV – Direitos
Difusos”, justamente por tratar da relação humano-ambiental.

1. ABORDAGEM TEÓRICA

Com o intento de problematizar a questão foi buscado através de Ronald


Dworkin o tratamento dos princípios como direito em si. Manter o social standarts em
detrimento de um princípio seria em outros termos permanecer no atraso e não
acompanhar a evolução humana. Os princípios devem guiar os juízes nos chamados
hard cases.
Nada obstante, restou tratar acerca da ponderação em caso de conflito entre
dois princípios. O que havia era o valor cultural de algumas práticas que punham
animais em situações análogas a tortura, como a briga de galo, a farra do boi e a
vaquejada. O STF teve então de decidir nos três casos sob a luz da ponderação dos
princípios, qual deveria ser garantido: o bem-estar animal ou a prática cultural.
Nesse diapasão, foi necessária a leitura sobre o que pensava Robert Alexy
acerca dos princípios e da tarefa de se estabelecer a ponderação entre eles. Assim, “um
conflito entre regras somente pode ser resolvido se uma cláusula de exceção, que
59

remonta o conflito, for introduzida numa regra ou pelo menos se uma das regras for
declarada nula”22.
Em outros termos, os princípios estão atrelados aos valores. O sentido
axiológico é o que deve perdurar. Nisso, o que valeria mais a prática cultural ou o bem-
estar animal? O STF entendeu que o bem-estar animal deve perdurar em detrimento de
práticas que atentem contra esse princípio trazido no art. 225, § 1º, VII, da CF/88.
O dispositivo traz de forma clara o dever do poder público vedar práticas que
submetam animais à crueldade. Ademais, mesmo não estando no art. 5º da
Constituição Federal Brasileira de 1988, trata-se o bem-estar animal de uma garantia
fundamental tendo em vista o que se encontra preconizado no parágrafo 2º do art. 5º,
ou seja: “Os direitos e garantias expressos nessa constituição não excluem outros
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados”. Essa é a chamada cláusula de
abertura e a sua importância advém da permissão de que novos direitos sejam
descobertos e tutelados mesmo que não estejam expressos no título II da Constituição
Federal de 1988.
Ainda, sob essa ótica não há como negar que proteger animais de práticas
cruéis, o STF tem promovido a dignidade da pessoa humana de uma grande parcela da
sociedade a qual já não aguenta mais a manutenção de certas práticas que não apenas
ofendem o bem-estar animal bem como invade a esfera humana daqueles que não
mais suportam barbáries sob a escusa de se tratar de uma manifestação cultural como
já fora no passado a escravidão.
Nesse ponto, cabe tratar das dimensões do Direto Fundamental. Karel Vasak já
havia se referido ao meio ambiente e ao direito da solidariedade como os direitos de
terceira geração ou dimensão. Sob esse panorama, Norberto Bobbio em seu a Era dos
Direitos não titubeou ao reconhecer outras dimensões de direito. E, assim afirmou que
não existe direito absoluto que valha por toda a humanidade, mas sim direitos que
perduram enquanto não há mudança de paradigmas e arriscou em suscitar o direito
animal:

22
Robert Alexy, Theorie der Grundrechte.
60

“Não é difícil prever que, no futuro, poderão emergir novas pretensões que no
momento nem sequer podemos imaginar, como o direito a não portar armas contra a
própria vontade, ou o direito de respeitar a vida também dos animais e não só dos
homens. O que prova que não existem direitos fundamentais por natureza. O que
parece fundamental numa época histórica e numa determinada civilização não é
fundamental em outras épocas e em outras culturas”23.

2. RESULTADOS ALCANÇADOS

No ínterim de incessantes questionamentos e pesquisas acerca desse tema, o


único resultado seguro que se pode chegar é que os Direitos Fundamentais não são
algo estanque e que sua aplicação para que se torne imediata há de se prestar atenção
nas mudanças da sociedade.
Valorar o fato atendendo aos anseios da sociedade tem de ser feito sob a luz
da proporcionalidade. O juízo há de se despir ao máximo de suas convicções pessoais e
procurar buscar o meio adequado que venha infringir nas liberdades apenas naquilo em
que outro bem tutelado de maior valor sofra grave ameaça de ser lesionado.
No caso estudado não como dizer que o STF não se atentou para a máxima
cautela. Os princípios, como diria Ronald Dworkin, devem guiar os juízes nos chamados
hard cases e isso foi o que ocorrera nas decisões proferidas pelo STF no que tange a
ponderação entre o valor cultural e o bem-estar animal.
O que foi descoberto nesse trabalho era que o bem-estar animal poderia
atingir de forma indireta a dignidade da pessoa humana. Àqueles que visam proteger
animais de maus-tratos, o fato de não terem voz ou ainda sofrer com o deboche de
pouco caso advindo dos seus representantes no parlamento causa em longo prazo o
sofrimento psicológico como se o seu país fosse uma imensa prisão imersa na
intolerância apenas para fazer valer o direito de poucos se deleitarem a espetáculos
desnecessários sob a escusa de se tratar uma prática cultural como já fora também um
dia a escravidão.

23
BOBBIO, Norberto in “A Era dos Direitos”
61

Nesse panorama, ter um direito preconizado pela Constituição Federal e mais


do que isso, eleito como um princípio, sem haver sua aplicação imediata se faz com que
o povo perca a fé nas suas instituições.

CONCLUSÕES

Costumes culturais como a vaquejada, a farra do boi e a rinha de galo, por mais
valorosos que sejam para um grupo de indivíduos, não merecem prosperar tendo em
vista o detrimento do bem-estar animal, principalmente quando a constituição
brasileira afirma de forma indubitável que cabe ao poder público, visando a
manutenção do meio ambiente ecologicamente equilibrado, “proteger a fauna e a flora,
vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade”. Tal
dispositivo apenas visa garantir os direitos de terceira geração imaginada por Karel
Vasak e garantir obliquamente o direito à democracia, tendo em vista que há o
crescente número de pessoas preocupadas com o bem-estar animal. Nas palavras do
professor Paulo Bonavides esse seria um direito de “quarta geração”. Tal não deveria
sofrer limitação nem pelo Parlamento, conforme foi feito com a aprovação da lei que
torna patrimônio imaterial a vaquejada, ensejando assim em clara violação aos
princípios da Separação dos Poderes e de sua harmonização bem como daquele que
afirma que o poder emana do povo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Trad. de Luis Virgílio Afonso da Silva.
São Paulo: Malheiros, 2008.

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 26 ed. São Paulo: Malheiros, 2011.

MARMELSTEIN, George. Curso de Direitos Fundamentais. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2013.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 1856 RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJ:
26.05.2011, Trib. pleno, Publicação: 14.10.2011.
62

_________ RE: 153.531 SC, Rel. FRANCISCO REZEK, DJ: 02/06/1997, Seg. Tur.
Publicação: DJ 13.03.1998.
63

O CONSENTIMENTO INFORMADO: ENTRE O ERRO MÉDICO E O AGIR ÉTICO


NA RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

Letícia de Sousa Alves24


Dalmir José Lopes Junior25

Palavras-chave: consentimento esclarecido; autonomia; erro médico; relação médico-


paciente.

RESUMO

O artigo a ser apresentado visa verificar como a relação entre agir técnico e
agir ético interfere na relação médico-paciente por meio do instituto jurídico do
consentimento informado. Analisar-se-á casos concretos nos quais o ato médico viola a
esfera ética jurídica e interfere no direito de liberdade e autonomia do indivíduo.
Pretende-se averiguar igualmente se o consentimento informado protege de fato os
direitos da personalidade, como a vida e integridade física, perante o agir médico. Por
fim, objetiva-se analisar até que ponto a ciência médica pode interferir na
autodeterminação do paciente. Proceder-se-á por meio de análise teórica e
jurisprudencial. Com base no trabalho desenvolvido, buscar-se-á entender como o
judiciário brasileiro tem tratado essa questão.

ABSTRACT

Article being presented aims to see how the relationship between acting
technical and ethical action interferes with the doctor-patient relationship through the
legal principle of informed consent. It will analyze specific cases in which the medical act
violates legal ethical sphere and interferes with the right of freedom and autonomy of

24
Graduanda do curso de direito da Universidade Federal Fluminense (UFF), polo Volta Redonda.
Email:leticiaalves@id.uff.br; http://lattes.cnpq.br/2701655296241529
25
Doutor em Bioética e Ética Aplicada pela UFRJ. Professor adjunto de direito civil da Universidade
Federal Fluminense (UFF). http://lattes.cnpq.br/1154901557001434
64

the individual. It is intended to as certain also whether the informed consent protects
indeed the rights of personality, such as life and physical integrity, to the acting
physician. Finally, the objective is to analyze the extent to which medical science can
interfere with the self-determination of the patient. There shall be by means of
theoretical and jurisprudential analysis. Based on the work, will seek to be understood
as the brazilian judiciary has handled this issue.

INTRODUÇÃO

A questão da relação médico-paciente no que tange o consentimento


informado enfatiza a definição e a aplicação do conceito de agir médico e o agir ético.
Mesmo sem a existência de uma lei específica para regulamentar o assunto, a doutrina
tende ao entendimento de que os profissionais da área médica, em regra, devem
ponderar a vontade do paciente diante de uma explicação coerente de determinado
procedimento técnico a ser realizado.
Enfatizar-se-á no presente trabalho a necessidade de estabelecer uma
comunicação recíproca entre médico e paciente, bem como sua violação é passível de
gerar danos independentemente de um erro na técnica médica empregada (erro
médico), resultando, desse modo, em uma violação no agir ético-jurídico.
Pretende-se refletir acerca de como esse instituto jurídico pode auxiliar no
processo de compreensão substancial a fim de evitar erro de percepção da
comunicação recíproca entre médico e paciente. Assim como, analisar o agir médico de
uma ótica que respeite a autodeterminação do paciente.

OBJETIVOS

O presente artigo tem como objetivo analisar a relação entre o agir médico e o
agir ético, principalmente a maneira como o judiciário lida com essas questões.
Analisar-se-á quais as obrigações jurídicas que o médico possui em face do
direito e que devem ser integradas ao agir médico, pois se a violação ao consentimento
65

informado constitui um dano em si, o agir médico compreenderia não só questões


relativas à técnica, mas também deveres éticos que passam a ser exigíveis
juridicamente na relação com seu paciente. O que acarreta a reconsideração dessa
relação sob um prisma axiológico.
Por fim, o trabalho tem como objetivo entender como o consentimento
informado produz um dano independente do erro da técnica médica empregada.

ABORDAGEM TEÓRICA E METODOLÓGICA

O marco teórico do trabalho parte da teoria principialista de Beauchamp e


Childress que tem como referencial para esta relação quatro princípios norteadores,
todos de natureza prima facie, dentre os quais entram em discussão do presente
trabalho os princípios da autonomia e da beneficência. O primeiro é a base fundamental
do paradigma moderno que coloca o paciente como possuidor de direitos fundamentais
relativos à sua saúde e ao seu corpo, de tal modo que o paciente deve participar o
processo de tomada de decisão médica. Por outro lado, o princípio da beneficência tem
seu fundamento na concepção clássica da medicina hipocrática que prevê que o médico
sempre atuará em prol dos melhores interesses do paciente.
A autonomia é relevante em razão da discussão que se pretende realizar, pois
se o consentimento informado depende de um erro técnico, o direito de
autodeterminação do paciente não seria autônomo. O princípio da autonomia seria um
principio subsidiário e dependente de uma conduta culposa relativa à técnica médica.
E para evidenciar essa discussão recorrer-se-à a análise jurisprudencial e a
revisão crítica da literatura que trata do tema.

BIBLIOGRAFIA

BEAUCHAMP, Tom L.; CHILDRESS, James F. Princípios de ética biomédica. 2. Ed. São
Paulo: Loyola, 2011.

BERGSTEIN, Gilberto. A informação na relação médico-paciente. Ed. São Paulo: Saraiva,


2013.
66

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Saraiva 2015.

BRASIL, Constituição (1988). Constituição da república federativa do Brasil de 1988. São


Paulo: Saraiva, 2015.

BRASIL, CFM. Código de ética médica de 2009. Resolução nº1.931/2009 de 17 de


setembro de 2009. Disponível em: <
https://portal.cfm.org.br/images/stories/biblioteca/codigo%20de%20etica%20medica.p
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FRANÇA, Genivaldo Veloso de. Direito médico. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.

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Revista da AMRIGS, v. 56, 1, p. 87-92, jan.-mar. 2012.
67

CORPOS A-NÔMALOS, CORPOS (A)NORMAIS: UMA ANÁLISE DOS PODERES


TRANSFORMADORES DA INTERPRETAÇÃO DOS CORPOS INTERSEX

Carolina Lopes de Oliveira26

Palavras-chave: intersexualidade; “poderes de gênero”; pluralidade existencial.

O presente trabalho tem como principal objetivo refletir sobre a


intersexualidade e, a partir deste tema, sobre os poderes que impedem a
autodeterminação existencial. Para isso, a intersexualidade será contextualizada e serão
analisadas: suas nomenclaturas e diagnósticos, ocorrências, bem como o sistema
binário de categorias sexuais a que cada indivíduo é submetido ao nascer.
Isto porque, como será visto, desde que nascem (ou a partir do momento em
que descobrem sua intersexualidade) as pessoas intersex são imersas em uma realidade
de posicionamentos divergentes e incertos, passando a existir em meio a discordâncias.
Não há consenso quanto ao que pode ser considerado intersexualidade, quanto à
frequência da ocorrência de casos, quanto à necessidade ou não de intervenção médica
e nem mesmo quanto ao nome que pode ser utilizado para descrever o que acontece
com elas. Um quadro ainda pior no Brasil, onde uma sistematização de dados que seja
de fácil acesso para os indivíduos envolvidos, como mencionado, sequer existe.
Há quem acredite que o termo intersexualidade refira-se à transexualidade e
esta confusão é compreensível, uma vez que existem semelhanças entre as
experiências intersex e trans*27. O escritor e ativista intersex Iain Morland (2014, p.
114), por exemplo, elucida que “ambas levantam a questão sobre que tipo de corpo
alguém precisa ter para reclamar filiação em um gênero e se o sentimento de

26
Doutoranda (2016-) e Mestra (2016) em Teoria do Estado e Direito Constitucional pela PUC-Rio.
Graduada em Direito pela Universidade Federal Fluminense (2013). E-mail: carolinalopes08@gmail.com.
Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/9646128625742910
27
O asterisco é utilizado nesta palavra para indicar que a mesma corresponde a um “termo guarda-
chuva” (umbrella term), isto é, “refere-se a diversas experiências de gênero não normativas, tais como
transexual, transgênero ou travesti” (DIAS, 2014, p. 475).
68

pertencimento da pessoa a um gênero é colorido pela experiência de viver em um


corpo que foi tocado pela tecnologia médica”28.
Entretanto, também existem diferenças e estas precisam ser reconhecidas,
pois ao passo que as pessoas que se identificam como transgênero ou transexual29
geralmente nascem com anatomias femininas ou masculinas “típicas”, mas sentem
como se tivessem “nascido no corpo errado”, as pessoas intersex nascem com uma
anatomia (interna e/ou externa) que não corresponde às consideradas “típicas”, o que
faz com que intervenções médicas e cirúrgicas ocorram, muitas vezes, de maneira
precoce e sem que a sua vontade possa ser considerada30.
Entretanto, na maioria das vezes em que se substitui a palavra intersexualidade
pelo termo “hermafrodita”, até mesmo as pessoas que não faziam ideia do assunto,
parecem entender melhor o tema. Desta forma, é importante entender de onde teria
surgido o termo “hermafrodita” e porque essa palavra, apesar de ser mais conhecida,
não é a nomenclatura mais adequada segundo alguns teóricos.
Conforme explica Catherine Harper (2007, p. 2), apesar de muitos ativistas a
utilizarem como forma de luta política, objetivando ressignificá-la, “a palavra
‘hermafrodita’ carrega consigo associações mitológicas e fetichistas que servem para
desumanizar e estigmatizar a pessoa viva e real a quem a palavra é aplicada”31. Os
intersex estão presentes em nossa realidade, não são seres mitológicos. São “variações

28
Tradução livre de: “(…) both intersex and transsexuality raise the question of what kind of body one
needs to have in order to claim membership in a gender and whether a person’s sense of belonging to a
gender is colored by the experience of living in a body that has been touched by medical technology”.
29
Segundo as definições publicadas em glossário elaborado pela doutora em Psicologia Social da
Universidade de Brasília, Jaqueline Jesus, transgênero seria um “conceito ‘guarda-chuva’ que abrange o
grupo diversificado de pessoas que não se identificam, em graus diferentes, com comportamentos e/ou
papéis esperados do gênero que lhes foi determinado quando de seu nascimento”, ao passo que
transexual seria o “termo genérico que caracteriza a pessoa que não se identifica com o gênero que lhe
foi atribuído quando de seu nascimento” (JESUS, 2012, p. 14-15, grifou-se). Já o Programa Brasil Sem
Homofobia (PBSH), define como transexuais as “pessoas que não aceitam o sexo que ostentam
anatomicamente. Sendo o fato psicológico predominante na transexualidade, o indivíduo identifica-se
com o sexo oposto, embora dotado de genitália externa e interna de um único sexo” (PBSH, 2004, p. 30).
Por sua vez, Heloisa Barboza diferencia-os da seguinte maneira: “a designação ‘transexual’ indica a
passagem de um sexo para outro, enquanto ‘transgênero’ estaria a indicar a migração de gênero”
(BARBOZA, 2010, p. 69).
30
ISNA. “What's the difference between being transgender or transsexual and having an intersex
condition?” Disponível em: http://www.isna.org/faq/transgender. Acesso em: 20 out. 2015.
31
Tradução livre de: “The word ‘hermaphrodite’ arguably carries mythological and fetishistic associations
that serve to dehumanize and stigmatize the living and real individual to whom the word is applied.”
69

na formulação genética, efeitos hormonais antes e após o nascimento, e atipicidades de


desenvolvimento com causas desconhecidas” que resultam diária e mundialmente no
“nascimento de ‘meninos’ com pênis pequenos ou ausentes e/ou testículos que não
desceram, ‘meninas’ com clitóris aumentados ou sem vaginas, ou crianças cujos
cromossomos, órgãos e hormônios são misturas daquelas típicas para meninas ou
meninos”32 (HARPER, 2007, p. 3).
Por estas razões, outras nomenclaturas começam a ser pensadas.
No ano de 2006, um documento elaborado por especialistas (posteriormente
conhecido como Consenso de Chicago), recomendou que o termo médico a ser
utilizado deveria ser Disorders of Sex Development (DSD) (MACHADO, 2008, p. 166). No
Brasil, desde o ano de 2003, a expressão adotada pelo Conselho Federal de Medicina
(CFM), em sua resolução que trata do tema (Resolução CFM n.º 1.664/2003), foi
“Anomalias da Diferenciação Sexual (ADS)”.
Ocorre que o termo “disorder” remete, por sua própria tradução, à ideia de
“desordem”, o que sugere uma doença ou anomalia que precisa de “ordenação”
(MACHADO, 2008, p. 17). A mesma crítica pode ser aplicada à nomenclatura ADS, uma
vez que ela traz em si mesma o substantivo “anomalia”. Por este motivo, e diante das
perspectivas de “relativização da ideia de ‘patologização’ e crítica às classificações
médicas” (MACHADO, 2008, p. 17) que também são objetivos desse trabalho, entende-
se que os termos “intersex” e “intersexualidade” são os mais adequados.
Contudo, para além da nomenclatura, as divergências sobre o tema também se
estendem quanto ao seu significado e quanto à frequência de sua ocorrência.
A maioria dos textos e pesquisas médicas e a própria ideia do termo
“anomalia” presente na nomenclatura ADS, sugerem que a intersexualidade
corresponde a um “fenômeno específico” de casos incomuns e pouco frequentes.

32
No original: “Unlike mythological ‘hermaphrodites’, intersexuals are present in this world. Variations in
genetic formulation, hormonal effects before and after birth, and developmental atypicalities with
unknown causes result daily and globally in the birth of ‘boys’ with tiny or absent penises and/or
undescended testicles, ‘girls’ with enlarged clitorises or no vaginas, or infants whose chromosomes,
organs and hormones are mixtures of those typical for girls or boys.”
70

Damiani e Guerra-Júnior (2007, p. 1014), por exemplo, afirmam que “uma anomalia
genital ocorre em 1 de cada 4.500 nascimentos”.
Todavia, para autores como a bióloga Anne Fausto-Sterling (2000a), a
intersexualidade não é incomum. De acordo com essa autora, haveria uma frequência
de nascimentos de pessoas intersex de 1,7% – 5.100 indivíduos em uma cidade de
300.000 habitantes, por exemplo (FAUSTO-STERLING, 2000a, p. 51).
Com relação aos dados específicos do Brasil, observa-se que o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não possui em nenhuma de suas tabelas
algum campo ou dado referente às informações sobre o número de nascimentos de
crianças intersex. Além disso, somada à ausência de dados sistematizados, cabe
ressaltar que a única norma brasileira existente é a mencionada Resolução nº 1.664/03
do CFM. Em todo o mundo, por outro lado, diversas leis estão sendo criadas e os
próprios indivíduos intersex têm se organizado para lutar pela visibilidade de seus
direitos.
Outro problema existente diz respeito à discordância quanto à escolha da
medida a ser adotada pela família ou pelos médicos nesses casos. Para a maior parte
dos médicos atuantes na área, a intervenção cirúrgica é essencial33. Já para a maioria
dos participantes dos movimentos sociais de pessoas intersex, tais cirurgias causam
sofrimentos físicos e psíquicos que mais do que evitáveis, são desnecessários. Por outro
lado, já existem médicos que não estão realizando as cirurgias precoces de
“reconstrução genital”, pois preferem aguardar os resultados das pesquisas e dos
estudos dedicados a informar seus verdadeiros benefícios e, ao mesmo tempo, há
pessoas dentro do movimento social que acreditam que o constrangimento e
sofrimento psíquicos oriundos da “não normalização de suas genitálias” são um ônus
muito maior do que os causados pelas cirurgias (GUIMARÃES JÚNIOR, 2014, p. 26-28).
Por óbvio, nos casos de risco de morte ou formação de tumores cancerígenos,
uma intervenção médica faz-se claramente emergencial. Todavia, o que dizer dos
demais casos? Por que não existem dados sistematizados sobre os procedimentos que

33
O que aparece na própria “Exposição de Motivos” da Resolução CFM nº 1.664/03, que define: “o
nascimento de crianças com sexo indeterminado é uma urgência biológica e social”.
71

vêm sendo adotados? Será que realmente existe uma possibilidade de escolha, ou seja:
será que os familiares podem optar por não fazer a cirurgia e esperar até que seus filhos
constituam sua identidade sexual para decidirem por si mesmos? Ou será que os
diagnósticos dados pela equipe médica estão seguindo um padrão e considerando a
intersexualidade uma “anomalia” carente de “correção” urgente e imperativa?
Diante dessa conjuntura, o presente trabalho pretende questionar as ideias de
“correção”, “anomalia” e “adequação corporal”, utilizadas pelos profissionais de saúde,
as consequências destas ideias sobre a sociedade e seus impactos sobre as pessoas
intersex.
Outros objetivos consistem na investigação dos tratamentos conferidos a esses
corpos que “não se encaixam”, analisando as denominadas “Era das Gônadas” e “Era da
Conversão”, até chegar à ideia contemporânea de “emergência médica”, trazida pela
Resolução CFM nº 1.664/2003. Para isso, serão analisadas as formas que o corpo foi
pensado ao longo do tempo e de que maneira as noções de gênero e sexo foram por
elas impactadas.
Por fim, os mecanismos de poder que se encontram imbricados a estas noções
de normalidade/anormalidade serão observados e, a fim de provocar uma tentativa de
retirada dos corpos intersex da zona de abjeção, buscar-se-á pensar a respeito da
admissão de existências plurais, capazes de permitir o pleno desenvolvimento de
identidades e o respeito às sensibilidades humanas.
Assim, procura-se ponderar, através das pesquisas bibliográficas realizadas,
sobre as melhores formas de preservar a vontade dessas pessoas e permitir a
construção subjetiva de sua identidade sexual.

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Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
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SARDINHA, Ana Paula de Andrade. Habilidades sociais em portadores de anomalia da


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(Org.). Petrópolis: Vozes, 2000.
80

TERAPIA GENÉTICA: CURA DE DOENÇAS E OS LIMITES JURIDICOS E ÉTICOS


DA EUGENIA MODERNA

Tiago Mascarenhas da Costa Marques34

Palavras-chave: Ética. Eugenia. Terapias. Limites. Justiça.

INTRODUÇÃO

Nos idos de 2008 o julgamento da ADI 3510 no STF, sobre a


inconstitucionalidade da Lei de Biossegurança, cujo aspecto mais polêmico, tratava a
possibilidade de uso de células tronco embrionárias pela pesquisa cientifica, tornou-se
marco e palco de importantes reflexões éticas. Atualmente, o uso da chamada terapia
genética, em seu estágio mais avançado, surpreendeu o mundo.
Cientistas de da Universidade americana de Temple, no primeiro semestre de
2016 anunciaram publicamente, que através de uma técnica que faz uso da terapia
genética, foi possível extrair o HIV das células humanas. O processo, explicado em
edição da revista Nature Scientific Reports, um dos mais importantes periódicos
médicos, demonstraram a possibilidade de enfim, termos um novo caminho para a cura
de uma das doenças mais devastadoras que conhecemos.
Se, os resultados apresentados são louváveis, e uma grande comemoração
para milhões de infectados no mundo, que sofrem com tratamento à base de coquetéis
diários para controlar a infecção, reacende-se um debate que havia caído no
esquecimento por base da sociedade, e em alguma medida pelos meios jurídicos: quais
os limites para o uso ético desses tratamentos? Que impactos ele pode trazer para o
nosso cotidiano e para o futuro da humanidade? Como impedir que uma tecnologia
cujo objetivo é melhorar a vida das pessoas não se torne uma forma moderna de
eugenia?

34
Mestrando – PPGH UNIRIO. Email: tih_masca@live.fr; http://lattes.cnpq.br/8771582380061224
81

Não nos propomos neste pequeno trabalho a apresentar soluções, mas trazer
alguns elementos importantes históricos e jurídicos importantes para a discussão, que
precisa ser democraticamente debatida.

TERAPIA GENÉTICA COMO ESPERANÇA PARA A CURA DE DOENÇAS GRAVES

Ninguém questiona que a humanidade vive hoje um estágio de


desenvolvimento tecnológico onde podemos controlar nossa evolução, e produzir os
saltos que a natureza e a seleção natural darwiniana afirmam que levaríamos milhares
de anos para produzir.
A produção de medicamentos foi capaz de erradicar doenças que quase
puseram fim à espécie séculos atrás – como os surtos de peste bulbônica na Idade
Média - e que tinham efeitos devastadores em seus ciclos epidêmicos – caso da Gripe
espanhola no início do século XX. A descoberta de penincilina, e tantos outros avanços
poderiam ser aqui citados.
Nas últimas décadas, cientistas aprenderam a manipular o nosso próprio
código genético, e tais avanços tem sido capazes de traçar o caminho para a cura de
doenças que nos assombram – como o Alzheimer e o Câncer. E, os motivos para
comemorar são inegáveis. Se a média de vida do homem no século XIX estava em torno
dos 50 a 60 anos, chegamos aos 80 lúcidos, produtivos, e sem grandes surpresas, não
raro aos 90, e a população centenária ganha a cada década mais integrantes.
Ignorar essa realidade e impedir estudos e usos dessa técnica seria grave
violação aos direitos humanos e à saúde de todos aqueles cuja vida poderia ser
melhorada ou salva.

UMA EUGENIA MODERNA: OS LIMITES ÉTICO-JURIDICOS NO TRATAMENTO GENÉTICO

Parte da comunidade científica defende a ideia da existência de “eugenia


positiva”, podendo-se defini-la como “a melhoria das capacidades biológicas, do inato
humano ”,onde apresenta-se como discutível o afastamento dos processos tidos
82

“terapêuticos” desse conceito – ao se buscar, afinal, curar ou erradicar enfermidade,


indubitavelmente se tem em mente uma melhoria de capacidades biológicas.
No entanto, a eugenia em suas origens – ainda que arraigada pelo pensamento
oitocentista – tinha as mesmas metas, e suas práticas no entanto, resultaram na
deformação e morte de milhares, especialmente na África no século XIX e nos campos
de concentração nazista. Como trabalhar com essa técnica sem abrir portas para as
violações básicas de direitos humanos?
Para Norberto Bobbio “"Depois da afirmação dos direitos políticos e nova
geração de direitos, que se afirmam diante das ameaças à vida, à liberdade e à
segurança, que provém do crescimento, cada vez mais rápido, irreversível e
incontrolável, do progresso técnico".
Nesse sentido, a linha da declaração da ONU de1997 - Declaração Universal
sobre Genoma Humano e aos Direitos Humanos - tentou definir o limite ético aceitável,
preservando-se a manipulação para fins terapêuticos e por conseguinte, a proibição da
clonagem humana deliberada.
A CF/1988 em seu turno (art. 199) determina que a lei disporá sobre as
condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos, substâncias
humanas para fins de transplante , pesquisa e tratamento e no art. 225 atribui ao poder
público o controle da produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem o risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.
Como conciliar esses preceitos?
O presente artigo, no entanto, pretende observar as principais discussões
travadas no campo cientifico e jurídico pós julgamento da ADI 3510.
De fato, a preocupação com o rumo das pesquisas, e com os seus efeitos não
apenas sobre os seres humanos atuais e as futuras gerações, mas com a própria
espécie, encontra respaldo na categoria dos direitos humanos, na medida em que esta
vem elaborada em torno da ideia de necessidade de proteção e promoção daqueles
valores e direitos considerados mais básicos para a vida digna dos seres humanos.
Nesse sentido, pertinente o questionamento: É possível, e desejável, algum
grau de harmonização normativa em bioética, sendo certo que o poder saber jurídico
sempre é conservador e visa a manutenção da coesão e dos status quo? Faz se
83

necessário uma tutela no âmbito global, levando-se em conta o necessário espaço de


manifestação do pluralismo também nas questões bioéticas? Haveria um ― espaço do
universalismo em bioética e na sua regulação jurídica? As questões como se pode ver,
remontam os mesmos dilemas que povoavam o pensamento jurídico desde os
oitocentos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Frente a leitura e análise das declarações internacionais e da nossa legislação


pátria, parece nos pertinente que o conteúdo de um biodireito mínimo universal já se
encontra em caminho de ser bem delineada. Nota-se que a fundamentação do
biodireito em princípios éticos e jurídicos gerais identifica na categoria dos direitos
humanos o necessário parâmetro a orientar a formulação com alcance universal,
buscando encontrar uma via que considera os espaços de manifestação do pluralismo
cultural, e que ao mesmo tempo seja capaz de construir uma regulação normativa
básica que seja razoável, apta a tutelar valores e direitos possíveis de serem
considerados fundamentais por diferentes culturas, visões morais, doutrinas religiosas e
convicções individuais. Sem, que seja olvidado o fato de observar específicas
responsabilidades, em especial, à comunidade científica internacional, assim como aos
Estados nacionais e corporações.

REFERENCIAS:

BARBOZA, Heloisa H. e BARRETTO, Vicente de P. (Orgs.). Os fundamentos éticos dos


direitos humanos. Revista de Direito Comparado, Belo Horizonte, v. 2, n. 2, p. 343-359,
mar. 1998.

BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Trad. Carlos N. Coutinho. Rio de Janeiro: Campus,
1992.

COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. São Paulo:
Saraiva, 1999.

DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
84

DWORKIN, Ronald. A virtude soberana: a teoria e a prática da igualdade. São Paulo:


Martins Fontes, 2005, cap. 13, p. 609-644.

MARTÍNEZ, Flor Sanches. Frente a um futuro espetacular e preocupante da terapia


gênica? In: CASABONA, Carlos María Romeo (Org.). Biotecnologia, direito e bioética:
perspectivas em direito comparado. Belo Horizonte: Del Rey; PUC Minas, 2002. p. 95-97

SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 19. ed. São Paulo:
Malheiros, 2001.
85

ANÁLISE DE ALGUNS ARGUMENTOS MORAIS NO DEBATE SOBRE A EUTANÁSIA

Luiz Augusto Castello Branco de Lacerda Marca da Rocha 35


Thiago Rodrigues Pereira36

Palavras-chave: Eutanásia – Autonomia – Dignidade –-Compaixão

O debate a respeito da eutanásia mobiliza a atenção das pessoas em todo o mundo


ocidental. A dramaticidade do tema leva estudiosos, juristas, filósofos e moralistas a
sustentar teses contrárias ou favoráveis à prática que, em essência, representa o direito ao
controle acerca do momento do próprio óbito. Neste sentido, percebe-se a presença de
inúmeros argumentos que se repetem: respeito à autonomia e dignidade do paciente,
compaixão, santidade da vida são comumente evocados por partidários de ambos os lados.
Exemplificativamente, o argumento do respeito à dignidade é trazido à pauta por
pensadores favoráveis à prática da eutanásia, na medida em que a manutenção de uma
existência caracterizada por dores e padecimentos constantes e sem esperança de
recuperação seria, em si, contrária à dignidade. Para outros, contudo, a dignidade é inerente
à condição humana, não podendo ser perdida sob nenhuma hipótese (uma adaptação deste
posicionamento, de ordem teológica, credita esta imutabilidade ao fato da vida humana ser
uma derivação divina). Susan SHELL aponta a ambiguidade do uso da dignidade na polêmica
sobre a eutanásia:

Is “human dignity” a vacuous concept – a mere placeholder for varying


ethical commitments and biases –or hás it a useful role to play in bioethics?
The former impression is seemingly confirmed by the disparate uses to
which “human dignity” is put by opposing sides in contemporary bioethical
debates. For the liberal and secular left, it is generally associated with
personal “autonomy” and expanded individual choice. For the conservative
and religious right, it is generally associated with the sanctity of “life” and
35
Professor do Centro Universitário Augusto Motta – UNISUAM. Bacharel em Direito pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro – UFRJ. Pós Graduado em Direito Civil e Processual Civil pela Universidade Estácio de Sá-
UNESA. Mestrando em Direito na Universidade Católica de Petrópolis– UCP. Email:
augustocastellobranco@gmail.com; http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4299866A6
36
Pós-Doutor em Direitos Humanos pela Universidade Católica de Petrópolis – UCP; Pós-doutorando em
Filosofia pela Universidade Federal Fluminense-UFF; Doutor em Direito pela Universidade Estácio de Sá –
UNESA/RJ (bolsista FAPERJ); Professor do PPGD da UCP; Professor Adjunto da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro – UERJ. Email: prof.thiagorp@gmail.com;
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4240795J6)
86

related limits on such choice. Does the term “human dignity” merely
encourage each side to talk past the other, or can it supply fruitful common
ground? (In:PELLEGRINO et. al., 2008, p.333).

De igual modo, a autonomia é trazida como razão forte para justificar e condenar o
suposto direito de morrer. Opositores à existência de tal direito afirmam que a proximidade
do óbito caracterizada pela situação de terminalidade, agregada a outros fatores (receio de
se tornar um fardo para os familiares, temor de arruinar financeiramente a família, et
coetera) poderia afetar a autonomia real do paciente. Tal argumento encontraria um sentido
mais forte na hipótese de pacientes incapazes de consentir (portadores de demência grave,
crianças, pacientes em estado vegetativo persistente).Neste sentido, confira-se a advertência
feita por SÁ:

Dworkin comenta que o princípio da autonomia também é utilizado pelos


adversários da eutanásia que sustentam a vulnerabilidade da autonomia da
vontade diante de pressões como doença terminal, desgaste físico dos
parentes e amigos, e grandes gastos financeiros despendidos nos
tratamentos médico-hospitalares. Sustentam inclusive o respeito à
autonomia nos pacientes inconscientes que não têm como manifestar suas
vontades colocando em dúvida a opinião da família – que pode divergir da
vontade do paciente se consciente – e a própria decisão do paciente se
consciente estivesse (SÁ; OLIVEIRA, 2005, p. 120).

Vale lembrar, contudo, que o próprio DWORKIN refere-se à autonomia como


integridade, devendo ser tomada em consideração para a tutela dos interesses críticos do
paciente terminal, sendo “crucial, para o direito das pessoas, que elas possam tomar, por si
próprias, decisões fundamentais que lhes permitam por fim a suas vidas quando quiserem
fazê-lo, ao menos nos casos em que sua decisão não for claramente irracional” (DWORKIN,
2016, p. 268) Tal ideia de autonomia como expressão de integridade poderia mesmo ser
evocada por seus familiares, em caso de impossibilidade do enfermo manifestar seu desejo
consciente.
A ideia de santidade da vida é igualmente um argumento sólido, apresentado tanto
em uma visão teológica - concebida como produto da criação divina ou, quando ao menos,
do “investimento natural” – quanto uma visão liberal, pautada no investimento humano
(DWORKIN, 2016, pp.302-304). James RACHELS, por sua vez, remete a origem da proibição
moral absoluta da supressão de toda vida humana inocente tradição cristã ocidental. O autor,
87

apresenta uma proposta de redefinição do conceito de santidade de vida, pautada na


distinção numa dissociação de seus sentidos biológico (to be alive) e biográfico (to have a
life), detendo a segunda concepção primazia sobre a primeira, conforme se depreende da
seguinte passagem:

The point is not to preserve as many living things as possible, but to protect
the interests of individuals who are the subjects of lives.. It’s a derived rule,
inferred from a more fundamental rule having to do with the protection of
lives. It is as though we had formulated the rule by reasoning thus: ‘it’s
morally important to protect lives, and the individuals who are subjects of
lives. If those individuals are killed, their biographical lives, and not just their
biological lives will be destroyed. Therefore, such killing is wrong (RACHELS,
1986., p. 28)

Da exposição supra depreende-se a insuficiência dos referidos critérios (bem como


outros, frequentemente trazidos ao debate) para oferecer uma solução satisfatória ao tema.
O presente trabalho pretende desenvolver uma análise crítica de tais argumentos, bem como
oferecer um critério que se entende aplicável: o de que toda restrição a direitos e liberdades
individuais essenciais deve estar pautada num interesses público claramente comprovado,
sob pena de prevalecer a determinação individual. Este entendimento tangencia a decisão
prolatada pela Corte Constitucional Colombiana, trazida por DIAS, segundo a qual:

A Constituição se inspira na consideração da pessoa como um sujeito moral,


capaz de assumir, de forma responsável e autônoma, as decisões sobre os
assuntos que primeiro a ele incumbem, devendo o Estado limitar-se a impor
deveres, em princípio, em função dos outros sujeitos morais com quem está
chamado a conviver e, portanto, se a maneira que os indivíduos veem a
morte reflete suas próprias convicções, eles não podem ser forçados a
continuar vivendo quando, pelas circunstâncias extremas em que se
encontram, não o estima desejável nem compatível com sua própria
dignidade, com o argumento inadmissível de que uma maioria o julga um
imperativo religioso ou moral (apud DIAS, 2012, p. 132).

REFERÊNCIAS

DIAS, Roberto. O Direito Fundamental à morte digna – uma visão constitucional da eutanásia.
Belo Horizonte: ed. Forum, 2012.

DWORKIN, Ronald. The right to Death. Disponível em


http://www.nybooks.com/articles/1991/01/31/the-right-to-death/Acesso em 18 out. 2016.
88

_________________ O Domínio da Vida. Trad. Jefferson Luiz Camargo. 2ª ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2016.

FINNIS, John. Human Rights and Common Good. Collected Essays, v. III. Nova York: Oxford
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HARRIS, John. The value of life. Taylor & Francis e-Library, 2001.

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Paulo: Edições Loyola, 2014.

PESSINI, Leo. Eutanásia: Por que abreviar a vida? São Paulo: Centro Universitário São Camilo;
ed. Loyola, 2004.

RACHELS, James, RACHELS, Stuart. A coisa certa a fazer: leituras básicas sobre filosofia moral.
Trad. Delamar José Volpato Dutra. 6ª ed., Porto Alegre: AMGH, 2014.

RACHELS, James. The End of Life: Euthanasia and Morality (Studies in Bioethics). Oxford, UK:
Oxford University Press, 1986.

SÁ, Maria F. F.; OLIVEIRA, Patrícia M. G. O Direito de Morrer na Visão de Ronald Dworkin. In:
Revista do Curso de Direito Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, v. 5, n. 5, 2005..
Disponível em: http://www3.izabelahendrix.edu.br/ojs/index.php/dih/article/view/105/89
Acesso em 01 out. 2016.
89

A EUTANÁSIA NO PENSAMENTO DE JAMES RACHELS

Luiz Augusto Castello Branco de Lacerda Marca da Rocha37

Palavras-chave: Eutanásia – Vida - Interesses

O presente trabalho tem por finalidade analisar o livro The End of Life: Euthanasia
and Morality, publicado em 1986, de autoria de James RACHELS, no qual o autor enfrenta a
temática da eutanásia, sob um ponto de vista moral e jurídico.
RACHELS aponta a oposição à eutanásia centrada na ideia de santidade da vida, a
qual atribui a duas tradições: o janinismo oriental e o cristianismo no Ocidente, com sua
proibição moral de por fim a uma “vida humana inocente”. Ambas as tradições são
apresentadas e criticadas como inadequadas a explicar as razões pelas quais o ato de matar
alguém seria moralmente inadequado.
Em seguida, o autor propõe sua própria versão de santidade de vida, pautada numa
dissociação de seus sentidos biológico (to be alive) e biográfico (to have a life), detendo a
segunda concepção primazia sobre a primeira, conforme se depreende da seguinte
passagem:

The point is not to preserve as many living things as possible, but to protect
the interests of individuals who are the subjects of lives.. It’s a derived rule,
inferred from a more fundamental rule having to do with the protection of
lives. It is as though we had formulated the rule by reasoning thus: ‘it’s
morally important to protect lives, and the individuals who are subjects of
lives. If those individuals are killed, their biographical lives, and not just their
biological lives will be destroyed. Therefore, such killing is wrong (RACHELS,
1986., p. 28)

37
Professor do Centro Universitário Augusto Motta – UNISUAM. Bacharel em Direito pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro – UFRJ. Pós Graduado em Direito Civil e Processual Civil pela Universidade Estácio de Sá-
UNESA. Mestrando em Direito na Universidade Católica de Petrópolis– UCP. Email:
augustocastellobranco@gmail.com ; http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4299866A6
90

Superada esta análise preliminar, centra-se a obra numa apreciação moral da


eutanásia, na qual são apresentados argumentos favoráveis e contrários à sua prática. Neste
sentido, o artigo pretende desenvolver tais argumentos, contrastando-os com outros
autores, em especial FINNIS e DWORKIN. Para FINNIS, os traços que caracterizam o “ser
humano” são comuns à humanidade em si, não desaparecendo ainda que alguma das
habilidades que compõem esta humanidade venham a ser eventualmente comprometidas:

The human being’s life is not a vegetable life supplemented by an animal life
supplemented by an intellectual life; it is the one life of a unitary being. So a
being that once has human (and thus personal) life will remain a human
person while that life (the dynamic principle for that being’s integrated
organic functioning) remains—that is, until death. Where one’s brain has
not yet developed, or has been so damaged as to impair or even destroy
one’s capacity for intellectual acts, one is an immature or damaged human
person (FINNIS, 2013, p. 221).

A noção de interesses críticos apresentada por DWORKIN pode complementar o


sentido proposto por RACHELS para a defesa da vida, na medida em que representam aquilo
que, para o sujeito titular de tais interesses, seria uma vida boa. Assim:

As pessoas consideram importante não apenas que sua vida contenha


uma variedade de experiências certas, conquistas e relações, mas que
tenha uma estrutura que expresse uma escolha coerente entre essas
experiências – para algumas, que demonstre um compromisso inequívoco
e autodefinidor com uma concepção de caráter ou de realização que a
vida como um todo, vista como uma narrativa integral e criativa, ilustre e
expresse. Sem dúvida esse ideal de integridade não define, por si só, uma
forma de vida: pressupõe convicções substantivas (DWORKIN, 2016, p.
290).

Por fim, RACHELS traça uma avaliação jurídica da eutanásia, e apresenta – à luz do
contexto jurídico norte-americano – sua proposta de utilização como meio de defesa. Este
paper pretende discutir a viabilidade –ou não- de aplicar tal pensamento ao modelo jurídico
brasileiro.
91

REFERÊNCIAS

BARROSO, Luís Roberto. A Morte como ela é: dignidade e autonomia individual no final da
vida. In: GOZZO, Débora, et. al., Bioética e Direitos Fundamentais. São Paulo: Saraiva, 2012.

DIAS, Roberto. O Direito Fundamental à morte digna – uma visão constitucional da eutanásia.
Belo Horizonte: ed. Forum, 2012.

DWORKIN, Ronald. The right to Death. Disponível em


http://www.nybooks.com/articles/1991/01/31/the-right-to-death/Acesso em 18.10.2016.

__________ O Domínio da Vida. Trad. Jefferson Luiz Camargo. 2ª ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2016.

FINNIS, John. Human Rights and Common Good. Collected Essays, v. III. Nova York: Oxford
University Press, 2011.

GUEST, Stephen. Ronald Dworkin. 3 ed., Stanford University Press, 2013. HARRIS, John. The
value of life. Taylor & Francis e-Library, 2001.

HOLLAND, Stephen. Bioética: enfoque filosófico. Trad. Luciana Pudenzi. São Paulo: Centro
Universitário São Camilo; Loyola, 2008.

PESSINI, Leo; BARCHIFONTAINE, Christian de P. Problemas Atuais de Bioética. 11 ed. São


Paulo: Edições Loyola, 2014.

PESSINI, Leo. Eutanásia: Por que abreviar a vida? São Paulo: Centro Universitário São Camilo;
ed. Loyola, 2004.

RACHELS, James, RACHELS, Stuart. A coisa certa a fazer: leituras básicas sobre filosofia moral.
Trad. Delamar José Volpato Dutra. 6 ed., Porto Alegre: AMGH, 2014.

RACHELS, James. The End of Life: Euthanasia and Morality (Studies in Bioethics). Oxford, UK:
Oxford University Press, 1986.
92

O DIREITO FUNDAMENTAL DA ESCOLHA DO MOMENTO DE MORRER - LIBERDADE


E AUTONOMIA NA CRFB/88

Thiago Rodrigues-Pereira38

Palavras-chave: autonomia; escolha; limites; Estado; intervenção

O tema do direito fundamental à vida, e não a qualquer vida, por óbvio, mas a
uma vida minimamente digna, já foi objeto de intenso debate em diversas áreas como a
jurídica39, econômico-social40, dentre outras.
No presente estudo, o que se busca como objeto principal da pesquisa é
analisar obre a existência ou não de um direito fundamental a escolher o momento de
morrer, e consequentemente até que ponto poderia o Estado se envolver em uma escolha
do seu cidadão. Frise-se que que se está falando de uma escolha tomada de forma racional,
no pleno gozo das faculdades mentais do cidadão, atestado por médicos e psicólogos.
O presente estudo tem bem demarcado essa questão de analisar tão somente
se esse cidadão teria um direito fundamental a optar por morrer, e até que ponto pode o
Estado se interferir nessa decisão.
Essa pesquisa poderia estar no Grupo de Trabalho IV sore Bioética e temas
correlatos, mas optou-se por incluí-lo no Grupo I justamente por ser discutido não os
aspectos éticos ou bioéticos dessa escolha, mas simplesmente se o contrato social concede
ao soberano o direito de escolher para o seu cidadão a opção de viver, mesmo que esse
cidadão tenha optado por morrer.
Portanto, serão objeto de discussão aspectos político-jurídico-filosóficos dessa
discussão existencial do ser humano, e não os seus aspectos éticos ou religiosos.

38
Pós-Doutor em Direitos Humanos pela Universidade Católica de Petrópolis – UCP; Pós-doutorando em
Filosofia pela Universidade Federal Fluminense-UFF; Doutor em Direito pela Universidade Estácio de Sá –
UNESA/RJ (bolsista FAPERJ); Professor do PPGD da UCP; Professor Adjunto da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro – UERJ. Email: prof.thiagorp@gmail.com;
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4240795J6
39
TORRES, Ricardo Lobo. O mínimo Existencial e o Direitos Fundamentais. Disponível em
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/viewFile/46113/44271 .Acesso em 04.11.2016.
40
SEN, Amartya. Desenvolvimento como Liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
93

Assim, em um primeiro momento procurar-se-á analisar, mesmo que de forma


sucinta, a teoria contratualista em seus aspectos onde há um maior consenso entre os
pensadores modernos e contemporâneos. Se faz necessário essa breve introdução ao
pensamento contratualista e neo contratualista para se entender os limites de ação do Poder
do Estado na autonomia privada de seus cidadãos, desde o surgimento dos direitos
fundamentais de primeira dimensão após a França revolucionária, até os dias de hoje, no
Brasil, com a constituição federal brasileira de 1988, uma constituição compromissória,
dirigente e garantista.
Em um segundo momento, serão analisadas algumas ideias sobre a autonomia
e liberdade de escolha, mostrando algumas teorias filosóficas sobre o tema, com ênfase na
visão kantiana de autonomia da razão e na visão nietzschiana de superação de uma moral
dominante na busca por encontrar os seus próprios valores éticos, e assim fazer suas
escolhas com base nos seus próprios valores.
Por fim, serão analisados os limites da intervenção estatal na autonomia de
escolha do cidadão em abreviar a própria vida, de forma absolutamente racional e não
atentatória dos direitos humanos.
Portanto, serão esses os aspectos que irão conduzir a presente pesquisa,
entendendo, de forma sucinta, a formação dos limites do Estado na vida do cidadão,
passando por algumas noções sobre autonomia, até chegar ao objeto central da pesquisa,
que seriam os limites da intervenção estatal na vida do cidadão.
A hipótese inicial sustenta que o Estado não teria o direito nem o dever de
perpetuar uma vida sem que o titular da mesma concorde com essa perpetuação, aliás, pelo
contrário, quando esse titular opta de forma racional por querer abreviá-la. Utilizando-se
tanto de uma visão contratualista, como kantiana e também nietzschiana, procurar-se-á
demonstrar que a possibilidade do Estado de determinar o momento da morte de um
cidadão, viola por completo a autonomia mínima desse cidadão e de sua possibilidade de
escolha, e que não há possibilidade hermenêutica de conseguir dar sentido diverso a esse ora
esposado sem subverter por completo o sentido constitucionalmente correto.
Merece ser mencionado que não se estará defendendo a eutanásia,
ortotanásia, suicídio ou suicídio assistido, ou questões do gênero, mas sim analisando a tênue
94

divisão entre intervenção estatal e autonomia da vontade, motivo pelo qual o presente
estudo foi encaminhado ao grupo de trabalho 1.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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