A Producao Artesanal Da Rapadura Uma Ana
A Producao Artesanal Da Rapadura Uma Ana
A Producao Artesanal Da Rapadura Uma Ana
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Formato: PDF
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Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7247-720-8
DOI 10.22533/at.ed.208191710
Atena Editora
Ponta Grossa – Paraná - Brasil
www.atenaeditora.com.br
contato@atenaeditora.com.br
APRESENTAÇÃO
É com imensa satisfação que apresento a Coletânea intitulada – “Geografia:
Políticas e Democracia – volume 3”, cujo título apresenta inúmeras possibilidades,
e, sobretudo, provocações ao construirmos e desconstruirmos uma Geografia
para o século XXI. Trata-se de uma leitura teórica e empírica oriunda de diferentes
pesquisadores que dialogam com análises provenientes das diferentes subáreas da
ciência geográfica e áreas afins.
Nesse sentido, ressalta-se a importância da pesquisa científica e os desafios
hodiernos para o fomento na área de Geografia em consonância com a formação
inicial e continuada de professores da Educação Básica.
A Coletânea está organizada a partir de diferentes enfoques temáticos, ou seja,
reconhecendo as diferentes subáreas da Geografia, a saber: Ensino da Geografia,
Geografia Urbana, História do Pensamento Geográfico e sua interface Econômica e
Política, Geografia Econômica, Geografia Agrária e Regional conforme expresso nos
nove capítulos que compõem a referida Coletânea.
Esperamos que as análises publicadas nessa Coletânea da Atena Editora
propiciem uma leitura crítica e prazerosa, assim como despertem novos e frutíferos
debates geográficos para desvendar os caminhos e descaminhos da realidade
brasileira, latino-americano e mundial na emergência de práticas democráticas.
CAPÍTULO 1 ................................................................................................................ 1
O CURRÍCULO E A PRÁTICA PEDAGÓGICA NAS ESCOLAS DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO
Ana Carolina de Figueiredo Azevedo
Ana Claudia Ramos Sacramento
DOI 10.22533/at.ed.2081917101
CAPÍTULO 2 .............................................................................................................. 13
MINHA CASA... E A VIDA? OS SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS PÚBLICOS NOS
CONJUNTOS HABITACIONAIS DO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA NA
CIDADE DE JOÃO PESSOA-PB
Rayssa Bernardino de Lacerda
Maria de Lourdes Soares
DOI 10.22533/at.ed.2081917102
CAPÍTULO 3 .............................................................................................................. 25
INADAPTAÇÕES NA FRONTEIRA DA INFORMALIDADE: FAVELAS E CONJUNTOS
Tales Lobosco
DOI 10.22533/at.ed.2081917103
CAPÍTULO 4 .............................................................................................................. 38
MICROALGAS: UMA OPORTUNIDADE PARA MELHORAR OS INDICADORES DE
SANEAMENTO NO BRASIL
Renan Barroso Soares
Rodrigo Nunes Oss
Márcio Ferreira Martins
Ricardo Franci Gonçalves
DOI 10.22533/at.ed.2081917104
CAPÍTULO 5 .............................................................................................................. 49
A GEOGRAFIA REGIONAL EM RICHARD HARTSHORNE
Wesley de Souza Arcassa
DOI 10.22533/at.ed.2081917105
CAPÍTULO 6 .............................................................................................................. 60
ADVENTURE-TIME: O CRONOTOPO NO ESPÍRITO DO NEOLIBERALISMO DE
HAYEK, KEYNES E MISES
Marcus Antonio de Lyra Alves
DOI 10.22533/at.ed.2081917106
CAPÍTULO 7 .............................................................................................................. 77
A TERRITORIALIZAÇÃO DOS BANCOS EM PORTUGAL: UMA ANÁLISE
PRELIMINAR
Diego Paschoal de Senna
Sandra Lúcia Videira
DOI 10.22533/at.ed.2081917107
SUMÁRIO
CAPÍTULO 8 .............................................................................................................. 88
A FEIRA DE NOVA CRUZ/RN: UMA TRADIÇÃO COMERCIAL DE EXPRESSÃO
REGIONAL
Severino Alves Coutinho
DOI 10.22533/at.ed.2081917108
CAPÍTULO 9 .............................................................................................................. 99
A PRODUÇÃO ARTESANAL DA RAPADURA: UMA ANÁLISE GEOGRÁFICA
BASEADA NA COMUNIDADE RURAL JOÃO MOREIRA, SÃO JOÃO DA PONTE -
MG
Gustavo Henrique Cepolini Ferreira
Tayne Pereira da Cruz
DOI 10.22533/at.ed.2081917109
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
doi
O CURRÍCULO E A PRÁTICA PEDAGÓGICA NAS ESCOLAS
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Ana Carolina de Figueiredo Azevedo geografia pensa e estrutura suas aulas a partir
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. do Currículo Mínimo de Geografia do estado
Faculdade de Formação de Professores – do Rio de Janeiro (2012). Assim, apresenta o
Departamento de Geografia – São Gonçalo – Rio
estudo de caso para pensar. Esta metodologia
de Janeiro.
permite compreender as relações e ações que
Ana Claudia Ramos Sacramento o objeto estabelece, interpretando seu contexto
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
de modo a haver a apreensão mais completa
Faculdade de Formação de Professores –
Departamento de Geografia – São Gonçalo – Rio do caso. O documento curricular de geografia
de Janeiro. do Estado do Rio de Janeiro não traz nenhuma
transformação no ensino, pois é limitada quanto
a fundamentos teórico-metodológicos.
PALAVRAS-CHAVE: Currículo; Prática
RESUMO: Entender o currículo é pensá-lo
Pedagógica; Ensino de Geografia.
como um objeto dinâmico que resulta das práxis
de diferentes atores. Este engloba muito mais
THE CURRICULUM AND THE
que uma grade de conteúdos, visto que ele
está também caracterizado para ensinar, o que PEDAGOGICAL PRACTICE IN THE
ensinar e qual intencionalidade do ensino, pois é SCHOOLS OF THE STATE OF RIO DE
resultado de interesses que estão em constante JANEIRO
disputa, traduzindo as condições histórico-
ABSTRACT: To understand the curriculum is to
culturais e políticas que se dão no espaço atual.
think of it as a dynamic object that results from
Também consideramos o professor aquele
the praxis of different actors. This encompasses
quem colocará o currículo em prática, assim é
much more than a grid of contents, since it is
preciso compreender suas práticas, reflexão e
also characterized to teach, what to teach and
crítica sobre aquilo que está sendo orientado
what intentionality of teaching, because it is the
a fazer. Isso deve se constituir no ato de
result of interests that are in constant dispute,
formar o docente, educando esse profissional
translating the historical-cultural and political
para o exercício do magistério. Sua ação está
conditions that are given in the current space.
envolvida num processo de educar, ensinar,
We also consider the teacher who will put the
aprender, pesquisar e avaliar. Dessa forma, o
curriculum into practice, so he must understand
trabalho busca entender como o professor de
his practices, reflection and criticism about what
1 | INTRODUÇÃO
E SEUS ELEMENTOS
MAPA 1: Quantidade de Professores por escola e por municípios do Estado do Rio de Janeiro.
Fonte: Evelyn Castro, 2016.
5 | CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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Currículo, cultura e sociedade. 5ª edição. São Paulo: Editora Cortez, 2001. p.39-57.
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geografia e a discussão do modelo N-H-E dentro das habilidades e competências. In: XIII Encontro
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CARDOSO, Micheli da Cruz; HORA, Dayse Martins. Competências e habilidade: alguns desafios para
a formação de professores.In: XI Jornada do HISTEDBR: A Pedagogia Histórico-Crítica, a Educação
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LOPES, Aline Casimiro; MACEDO, Elizabeth. Teorias do Currículo. São Paulo: Cortez, 2011.
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abordagens qualitativas. 2ª ed. São Paulo: EPU, 2013.
MOREIRA, Ruy. Para onde vai o pensamento geográfico? 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2014.
PEREIRA, Yan Marllon da. O papel do currículo no atual contexto neoliberal: uma análise do
currículo mínimo de geografia e dos seus conceitos de região, território e paisagem. 2016. 133
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Estado do Rio de Janeiro, São Gonçalo, 2016.
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algumas reflexões.In: VII Congresso Brasileiro de Geógrafos. Anais..., pp. 1-12, 2014.
VEIGA, Ilma Passos. A. Docência como atividade Profissional. 1ª ed. In: Ilma Passos Alencastro
Veiga; Cristina D'Avilla. Profissão Docente: novos sentidos, novas perspectivas. Campinas -SP:
Papirus, v. 01, 2008, pp. 13-21.
VERDUM, Priscila. Prática Pedagógica: o que é? O que envolve? Revista Educação por Escrito –
PUCRS, v.4, n.1, pp. 91-105, jul. 2013. Disponível em: <file:///C:/Users/Home/Documents/Textos/o%20
que%20%C3%A9%20a%20pr%C3%A1tica%20pedag%C3%B3gica.pdf.> Acesso em 09 de abr. 2019.
RESUMO: Em um contexto de extrema ofensiva MY HOME ... AND LIFE? THE PUBLIC
neoliberal que tem imposto vários desafios a SERVICES AND EQUIPMENT IN THE ROOM
política de habitação de interesse social em
SETS OF MY HOUSE PROGRAM MY LIFE IN
todo o país, faz-se necessário investigar como
THE CITY OF JOÃO PESSOA-PB
se tem dado a sua implementação na cidade de
João Pessoa-PB. O presente estudo consiste, ABSTRACT: In a context of extreme neoliberal
dessa forma, em uma pesquisa de campo sobre offensive that has imposed several challenges
a política habitacional na capital paraibana, que to housing policy of social interest throughout
tem como objetivo analisar a efetivação do direito the country, it is necessary to investigate how
à cidade e à moradia digna através do Programa it has been given its implementation in the city
Minha Casa Minha Vida para as famílias de of João Pessoa-PB. The present study consists
baixa renda, segundo a disponibilidade de of a field research on housing policy in the
serviços e equipamentos públicos. A pesquisa capital of Paraíba, which aims to analyze the
de campo foi realizada nos quatro conjuntos realization of the right to the city and decent
habitacionais mais bem equipados com os housing through the Programa Minha Casa
serviços e equipamentos públicos de saúde, Minha Vida for low income families, according to
educação e transporte público, com a aplicação the availability of public services and equipment.
de formulários com os beneficiários originais. Field research was carried out in the four most
Como resultado, o estudo afirmou a hipótese da well-equipped housing complexes with public
pesquisa, ao identificar a carência de serviços health, education and public transportation
e equipamentos públicos nos entornos dos services and facilities, with the application of
INTRODUÇÃO
O Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) é o programa carro-chefe da
política de habitação, e ao longo dos anos passou a ser visto como única solução
para o problema habitacional do país, recebendo volumosos recursos do Governo
Federal para a construção de moradias. Em razão disso, é de extrema importância
que o maior programa habitacional do país garanta o direito à cidade e à moradia
digna.
O direito à moradia digna é um direito humano básico, que vai além do mero
fornecimento de uma unidade habitacional. Ele diz respeito a um conjunto de
condições que devem ser asseguradas para que haja um morar adequado, como a
disponibilidade de serviços e equipamentos públicos.
Segundo a Portaria nº 518 de 8 de novembro de 2013 do Ministério das
Cidades, que dispõe sobre as diretrizes para aquisição de unidades habitacionais,
“consideram-se equipamentos públicos aqueles voltados à educação, saúde e demais
complementares à habitação, tais como assistência social, segurança e outros a
critério da Secretaria Nacional de Habitação do Ministério das Cidades” (BRASIL,
2013).
Os equipamentos e serviços públicos são bens de utilidade pública
indispensáveis ao bom funcionamento da cidade, pois a existência destes
é considerada como um fator importante de bem-estar social e de apoio ao
desenvolvimento econômico.
Contudo, o que se percebe com relação ao PMCMV é que com a predominância
da inserção periférica dos conjuntos habitacionais, distantes da malha urbana
consolidada, o acesso aos serviços e equipamentos públicos tornou-se mais difícil
para as famílias contempladas pelo programa. Dessa forma, um programa habitacional
que deveria estar comprometido com a efetivação do direito à moradia digna, termina
muitas vezes por reproduzir um morar precário.
A presente pesquisa trata-se da continuação, aprofundamento da pesquisa
iniciada na graduação em Serviço Social sobre o estudo da política de habitação,
através do Programa “Minha Casa Minha Vida”, para as famílias de baixa renda,
segundo a problemática da disponibilidade de serviços e equipamentos públicos nos
conjuntos habitacionais construídos.
Art.1º O Programa Minha Casa, Minha Vida- PMCMV tem por finalidade criar
mecanismos de incentivo à produção e aquisição de novas unidades habitacionais
ou requalificação de imóveis urbanos e produção ou reforma de habitações rurais,
para famílias com renda mensal de até R$ 4.650,00 [...] (BRASIL, 2009).
Surge assim, o PMCMV, desenhado pela Casa Civil em parceria com os maiores
empresários do setor, e como uma iniciativa do Governo Federal que ofereceu
condições para o financiamento de moradias nas áreas urbanas, com o objetivo de
amenizar os efeitos da crise e diminuir o déficit habitacional brasileiro que em 2009
era estimado em 5.998 milhões de moradias (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2012).
O programa priorizou famílias com renda de até três salários mínimos, embora
também atendesse famílias com renda de até dez salários mínimos, o que representou
um avanço para a política de habitação social, visto que, os programas anteriores de
habitação, como o BNH, deixaram de fora os segmentos de menor renda. E dessa
forma, apesar de ter sido criado como uma medida anticíclica para enfrentamento
da crise econômica, o PMCMV se constituiu como uma grande política social para
atender as famílias de baixa renda, que o mercado por si só não alcançava.
O programa passou a concentrar boa parte dos recursos voltados para a área
habitacional, e com o quantitativo de casas construídas e a avaliação positiva do
programa por parte do governo e da opinião pública, o PMCMV se enraizou na política
urbana em nível nacional, tornando-se programa carro chefe da política habitacional
no Governo Dilma (2011-2016).
Na segunda fase do programa que se inicia em 2011, uma das maiores
preocupações foi garantir uma moradia digna, com infraestrutura e equipamentos
sociais, como afirma Magalhães (2011, p.12) “[...] uma grande preocupação em relação
ao Minha Casa Minha Vida 2, foi além de garantir um teto, assegurou o acesso aos
serviços de saúde, educação e outros necessários para a população”.
Assim sendo, segundo Magalhães, as principais alterações do PMCMV2 em
relação ao 1 estão, em primeiro lugar no tocante as questões de desenvolvimento
sustentável, na percepção da necessidade de uma maior prestação de serviços
públicos. Passando, então, a ser necessária uma maior articulação do Ministério das
Cidades com outros ministérios para os mesmos atuarem de forma mais integrada
para garantir os equipamentos sociais básicos para os novos contemplados
(MAGALHÃES,2011).
Apesar dos resultados quantitativos alcançados e dos avanços qualitativos na
concepção de desenvolvimento urbano integrado com a criação do Ministério das
Cidades e de instrumentos como a PNH, o SNHIS e o FNHIS, com o passar do
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a criação do PMCMV durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, num
contexto de crise e recessão econômica, e grande déficit habitacional que o país vivia
em 2008, a construção de moradias foi utilizada como um ativo financeiro. Dessa
forma, o Programa Minha Casa Minha Vida foi criado, com um desenho fortemente
fundado na participação do setor privado, retomando a política habitacional com o
objetivo de construir moradias para dinamizar a economia.
Desse modo, a prevalência da lógica financeira na implementação do Programa
fez com que as construtoras se tornassem o principal agente da política habitacional,
o que resultou na predominante construção dos conjuntos em regiões periféricas da
cidade, onde os terrenos são mais baratos devido à ausência ou precariedade de
infraestrutura urbana e de serviços e equipamentos públicos. Portanto, percebe-se que
assim como o BNH, o PMCMV contribui para o padrão periférico de desenvolvimento
urbano, com densidade populacional, infraestrutura e serviços precários.
Com o PMCMV é intensificado o modelo de desenvolvimento urbano periférico
na capital, com a construção predominante de conjuntos habitacionais na região sul-
sudeste da cidade.
Apesar das exigências estabelecidas pelo programa referentes a localização dos
conjuntos e a observação de parâmetros mínimos de atendimento por infraestrutura
e serviços, o direito à cidade mostra-se negado quando se analisa a localização dos
empreendimentos e a falta de intersetorialidade do Programa, que resulta na ausência
REFERÊNCIAS
AMORE, Caio Santo. “Minha Casa Minha Vida” para iniciantes. IN: AMORE, C. S.; SHIMBO, L. Z.;
RUFINO, M. B. C. (Orgs). Minha Casa... E a Cidade? Avaliação do Programa Minha Casa Minha Vida
em seis estados brasileiros. 1. ed. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2015.
BRASIL. Casa Civil. Lei n. 11.977 de 7 de julho de 2009. Dispõe sobre o Programa Minha Casa Minha
Vida– PMCMV e a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas; altera
o Decreto-Lei no 3.365, de 21 de junho de 1941, as Leis nos 4.380, de 21 de agosto de 1964, 6.015,
de 31 de dezembro de 1973, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 10.257, de 10 de julho de 2001, e a
Medida Provisória no 2.197-43, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11977.htm. Acesso em: 26 de setembro
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______. Ministério Das Cidades. Caderno 1 Análise de Custos Referenciais: qualificação da inserção
urbana. Brasília, 2017.
______. Ministério das Cidades. Portaria nº 518 de 8 de novembro de 2013. Dá nova redação à
Portaria nº 168, de 12 de abril de 2013, do Ministério das Cidades, que dispõe sobre as diretrizes
gerais para aquisição, requalificação e alienação de imóveis com recursos advindos da integralização
de conta no Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), no âmbito do Programa Nacional de
Habitação Urbana (PNHU), integrante do Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV). Gabinete do
Ministro, Brasília, DF, nov. 2013.
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Déficit Habitacional no Brasil 2009. Belo Horizonte, 2012.
MAGALHÃES, Inês. ‘Importante é o programa continuar’, diz secretária de Habitação sobre Minha
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http://blog.planalto.gov.br/assunto/minha-casa-minha-vida/>. Acesso em: 11 de outubro de 2018.
MARICATO, Ermínia. Para entender a crise urbana. 1.ed. São Paulo: Expressão Popular, 2015.
MINAYO, M. C. de S. Ciência, Técnica e Arte: o desafio da pesquisa social. IN: ________. (Org.).
Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
ROLNIK, Raquel et al. Inserção Urbana no PMCMV e a Efetivação do Direito a Moradia Adequada:
uma avaliação de sete empreendimentos no estado de São Paulo. IN: AMORE, C. S.; SHIMBO, L. Z.;
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SANTOS, Eliane Campos dos. A Dinâmica da Expansão Urbana e o Programa Minha Casa Minha
Vida em João Pessoa-PB: processos e agentes na produção da cidade. In: Encontro Nacional de
Geógrafos, 19., 2018. Anais... João Pessoa,2018.
Da mesma forma, quem deposita sua confiança nos sistemas peritos - como é
O padrão aqui é este, o que dita é a necessidade aqui, então assim que cobriu,
Depois, depois ele foi comprando os materiais... aí foi levantando a casa, ajudando
gente, aí depois a casa não tinha jeito as paredes caiam inteirinhas, Eu falei: Meu
Deus que eu vou fazer? Mas não teve jeito, tivemos que fazer tudo de novo, um
ou outro nos mostrava como fazer, e conseguimos, fizemos a casa, copa, sala,
cozinha, dois, três quartos, um banheiro, cozinha e depois fez uma puxada pra...
fez um varandão lá nos fundos e botou cerâmica nas paredes. Isso tudo com a
gente morando dentro da casa, a gente não tinha outro lugar para ir (Valdenira,
moradora do Santa Marta - Beco do Jabuti).
O solo aqui é ruim, se você vai construir térreo mais um, precisa cavar três latas
pra fundamento, se for térreo e mais dois, tem que cavar quatro latas (Alexinaldo,
morador de Novos Alagados).
Aqui eles botaram uns arames no chão, depois vieram, com um... chamam de
esteira, depois botaram um plástico preto, disseram que era pra não correr, e aí
botaram o concreto, que aquela máquina faz... com brita, tudo. Mas não aguenta
laje não, de jeito nenhum. Se eu tiver de botar uma laje aqui vou ter que quebrar
tudo isso e fazer fundamento, vai ter que seguir dois metros e meio, se quiser
botar assim, no máximo uma casa em cima, se botar mais uma e mais outra tem
que seguir três metros, porque aqui era maré (Sra. Isodélia, moradora de Novos
Alagados).
“Aqui não tinha tanta casa, era mais espaçoso. Com o tempo estas casas foram
tomando o espaço que tinha, isso era espaço da gente, hoje virou um caminhozinho
espremido, não serve mais pra nada. Mas as pessoas precisam de espaço, né?
Se precisam e está aí, vão usar mesmo, não vão ficar apertadas em casa com
espaço aqui fora [...] foram fazendo sem preguntar nada, sem pensar que estavam
tomando todo o espaço e algumas casas são tão grandes, será que precisava
mesmo isto tudo?” (Dona Nadir, moradora da Babilônia).
Morar na casa da gente é totalmente diferente do que pegar uma destas casinhas
da Conder. É diferente a questão do orgulho, né? Porque eu tava lá no mangue, na
casinha fincada na água, e hoje tô aqui [...] eu acho que é uma vitória, assim, né? A
gente não podia comprar um terreno porque era caro. Tá certo que muitos tinham
um casebre grande, na maré, a gente que vivia lá, mas vivia bem, entendeu? Mas
estar aqui agora, com esta casa do jeito que está é uma vitória (Gilberto, morador
de Novos Alagados).
Neste sentido, dividir uma parede com o vizinho, que pode parecer completamente
normal nas áreas formais das cidades brasileiras, principalmente em edifícios de
apartamentos, é um dos fatores de maior reclamação a respeito da qualidade das
construções de moradias estatais:
É uma ruindade essas casas, vou te dizer. Às vezes tem gente que quer comprar
uma casa dessa e a pessoa deixa de vender porque tá colado com outra, aí a
pessoa não quer, colado, não... É uma parede só, eu comprei porque estava
precisando, e é aqui que eu vou vivendo. É colado, empilhado [...] em apartamento
também é assim, mas eu nunca gostei de apartamento, nunca gostei (Maria de
Lurdes, moradora de Novos Alagados - Conjunto Boiadeiro).
As casas eu gosto. Mas, eu acho errado o que a Conder fez. Casa com parede-
meia é horrível, é péssimo isso aqui entendeu? Se eu bato um prego, ele vai achar
que eu estou quebrando a parede dele. Morar numa casa que tem parede-meia
dividindo com os outros é horrível, é péssimo (Leni, moradora de Novos Alagados
- Conjunto Boiadeiro).
3 | CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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Editora 34, 2009.
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Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro: ANPEd, n.20, 2002. p. 60-70.
1 | INTRODUÇÃO
ESGOTO
raiz, folhas e caules, como nas outras plantas (VANDAMME; FOUBERT; MUYLAERT,
2013).
A biomassa de microalgas é considerada a alternativa mais promissora para a
produção de energia (VANDAMME; FOUBERT; MUYLAERT, 2013) e está inserida
na terceira geração dos biocombustíveis. A primeira geração foi obtida a partir de
produtos alimentícios, tal como soja, cana-de-açúcar e milho, causando competição
indesejável com a produção de alimentos. A segunda geração superou este problema,
ao cultivar lignocelulose como matéria prima do processo. Contudo, muitos obstáculos
foram observados, como baixa produtividade de biomassa, demanda excessiva de
água e terras agrícolas e a necessidade de um pré-tratamento eficiente, de baixo
consumo de energia. A terceira geração surgiu nos últimos anos e está baseada na
produção a partir de microalgas, de modo a superar os desafios encontrados nas
gerações anteriores (JANKOWSKA; SAHU; OLESKOWICZ-POPIEL, 2017).
As vantagens desses biocombustíveis em relação aos de primeira e segunda
geração são dadas por várias características do cultivo das microalgas, dentre
elas: elevada eficiência fotossintética; rápida taxa de crescimento, podendo dobrar
a sua biomassa a cada 24 h; resistência à vários tipos de contaminação; baixo
requerimento de terra, podendo ser cultivada em áreas impróprias para outras culturas;
capacidade de produzir uma grande variedade de matérias-primas para produção
de biocombustíveis e outros bioprodutos; distinta biorremediação ambiental, como
fixação de CO da atmosfera e outros gases de combustão, depuração da água e
2
tratamento de esgoto (JIA; YUAN, 2016; MEYER; WEISS, 2014; RAS et al., 2011;
RAZZAK et al., 2013; THIANSATHIT; KEENER; KHANG, 2015; ZENG et al., 2011;
RIBEIRO et al., 2015).
A partir da biomassa de microalgas é possível produzir biodiesel, bioetanol
e gases combustíveis (JACOB; XIA; MURPHY, 2015). Apesar do foco inicial das
pesquisas terem sido na produção de biodiesel, os custos envolvidos no processo,
como a secagem, a extração dos lipídios e o processo de esterificação, tornaram-
TRATAMENTO DE ESGOTO
4 | CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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2 | METODOLOGIA
A palavra região deriva do latim regere, palavra composta pelo radical reg, que
deu origem a outras palavras como regente, regência, regra etc. Regione nos tempos
do Império Romano era a denominação utilizada para designar áreas que, ainda que
dispusessem de uma administração local estavam subordinadas às regras gerais
Hartshorne (1939) demonstra que desde Kant, passando por Humboldt e Ritter,
a Geografia teria se caracterizado por ser o estudo das diferenças regionais. Este
é, pois, o traço distintivo que marca a natureza da Geografia e a ele deve-se ater.
O método corológico/regional, ou seja, o ponto de vista da Geografia, de procurar
na distribuição espacial dos fenômenos a caracterização de unidades regionais, é
a particularidade que identifica e diferencia a Geografia das demais ciências. Há
outros campos que estudam os mesmos fenômenos, mas só a Geografia tem esta
preocupação primordial com a distribuição e a localização espacial e este ponto
de vista é o elemento-chave na definição de um campo epistemológico próprio à
Geografia.
O método corológico/regional, segundo Hartshorne (1939; 1978), orienta a
Geografia em direção à reunificação de seu campo de pesquisas físicas e humanas,
pois a região é a síntese destas relações complexas. Os fatores humanos e naturais
não têm que ser identificados separadamente — qualquer insistência anterior nessa
direção ocorreu em função dos argumentos dos deterministas ambientais — e a
divisão entre Geografia Humana e Geografia Física é infeliz, porque ela limita a esfera
de integrações possíveis no estudo da realidade.
Em suma, para Hartshorne (1978), a Geografia não pode ser considerada
como dividida em estudos que analisam elementos individuais através do mundo, e
estudos que analisam complexos totais de elementos, por áreas. Aqueles constituem,
logicamente, parte integrante das ciências sistemáticas respectivas, ao passo que
estes simplesmente são irrealizáveis. Todos os estudos de Geografia analisam as
variações espaciais e as conexões de fenômenos em integração. Não existe dicotomia
ou dualismo. Pelo contrário, verifica-se uma gradação ao longo de um continuum,
desde os estudos que analisam os complexos mais elementares em variação
espacial através do mundo, até os que analisam as mais complexas integrações em
variação espacial dentro dos limites de áreas reduzidas. Os primeiros podem ser
adequadamente denominados “estudos tópicos” e os segundos, “estudos regionais”,
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das temáticas enfocadas durante o texto torna-se possível inferir que
Richard Hartshorne ocupa um papel de destaque no hall de pensadores responsáveis
por significativas mudanças teórico-metodológicas na Geografia.
A versão americana da Geografia Regional atingiu o seu ápice no período
entre guerras com a ascensão da escola denominada de diferenciação de área,
corológica ou descrição regional, tendo em Hartshorne seu principal teórico. Baseado
na perspectiva de Hettner, sob a ótica do pensamento kantiano, o teórico realizou
uma série de reivindicações sobre a Geografia Regional como núcleo da disciplina
geográfica, ocupando lugar singular dentro da divisão acadêmica do trabalho.
Partindo do conceito de “região”, Hartshorne foi capaz de conceber o processo
de diferenciação espacial, o qual serviu de base para a elaboração do método
corológico/regional fundado na análise comparativa das estruturas espaciais. O
estabelecimento desse método visou orientar a Geografia em direção à reunificação
de seu campo de pesquisas físicas e humanas, pois a região é a síntese destas
relações complexas. Dessa forma, a dicotomia sistemático/particular desaparece
em uma espécie de complementaridade compreendida na noção de região. Para o
teórico, uma Geografia científica deve se definir a partir de um método, para assim,
proceder à análise racional da realidade, organizando categorias gerais e tipologias
funcionais explicativas.
No campo da Geografia Regional, Hartshorne afirmou que a Geografia pode ser
considerada uma ciência da diferenciação regional da superfície terrestre. Através
Por fim, deve-se ressaltar que ao desenvolver suas reflexões sobre a natureza
da Geografia como ciência, Hartshorne tornou-se o teorizador mais importante da
Escola Clássica Norte-Americana de Geografia, sendo que sua produção acadêmica
encontrou repercussão, dado o seu caráter amplo e explicitamente metodológico. Este
foi responsável por realizar uma modernização no arcabouço teórico da Geografia
Clássica, sendo capaz de manter a essência da busca de um conhecimento unitário.
Através da publicação de The Nature of Geography (1939) e Perspective on the
Nature of Geography (1959), o autor transformou o debate teórico-metodológico até
então desenvolvido no âmbito da ciência geográfica.
REFERÊNCIAS
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MOREIRA, Ruy. O Pensamento Geográfico Brasileiro: as matrizes clássicas originárias. São Paulo:
Contexto, 2008. v. 1.
(...) não é, entretanto, o significado objetivo dos eventos (se podemos presumir que
algo deste tipo exista) que importa, mas a forma que eles são percebidos, a forma
como são lidos. (USPENSKY in: TAMM, 2017, p.2019)1
1 “From this point of view, it is thus not the objective meaning of events (if anything of the kind be
presumed to exist) that matters, but the way they are perceived, the way they are read.”
DA TEMPORALIDADE POLÍTICA
No século XVII, os destinos das nações, reinos e culturas estavam também sujeitos
a esta sorte da adventure-time, deus e vilões, um tempo com sua própria lógica.
Isso ocorre nas primeiras novelas históricas européias, por exemplo, em Artamène
de Scudéry, ou Grand Cyrus em Arminius e Tusnelda de Lohenstein e as novelas
históricas de La Calprenède (BAKHTIN, 1981, p.96)3
3 In the seventeenth century, the fates of nations, kingdoms and cultures were also drawn into
this adventure-time of chance, gods and villains, a time with its own specific logic. This occurs in the
earliest European historical novels, for example in de Scudery's Aitamene, or the Grand Cyrus, in Lo-
henstein's Arminius and Tusneldah and in the historical novels of La Calprenede
4 Pervading these novels is a curious "philosophy of history" that hands over the settling of his-
torical destinies to an extratemporal hiatus that exists between two moments of a real time sequence.
Se toda ação social contempla uma noção temporal, a perspectiva política deve
conter em seu DNA a revelação de um cronotopo, assim chegamos ao Adventure-
time. Trata-se, defendemos, de uma conduta temporal que reforma a condição
histórica anterior que compreendia um tempo social ainda sequencial e mecânico
(Newton), ininterrupto sendo sobretudo teleológico(BEMONG Et Al., 2010, p.94). A
sua nova característica é a tomada de poder da ação frente ao tempo decorrido,
descentralizando a narratologia cristã escatológica e colocando a condição racional à
frente da história do mundo.
Nesta inversão, o tempo social é uma das vítimas e acaba distendido, contorcido,
para que a ação da empresa racional humana receba sua consideração significativa
através dos seus processos; é, portanto, semiotizado. O aspecto fundamental que
define a qualidade significativa da ação histórica é sua “eventualidade”, ou capacidade
de tornar-se um evento (событие), considerando que “o momento presente seja algo
além do resultado automático do momento anterior” (BEMONG et al., 2010, p.94 -
nossa tradução).
Necessário lembrar que a temporalidade medieval conservava em seu perfil
ideológico as condições de mistério e significação ainda místicos (FOUCAULT, 2005,
p.19-46) que atravessaram o milênio cristão dos séculos IV e V com uma filosofia de
Boécio ou Agostinho, aos séculos XVI e XVII com os maneirismos (HAUSER, 1972,
p.357-373) abarcando densas reformas da identidade do tempo cristão.
Com a tomada de prumos da produção humana pelas mãos positivistas, exatas
e funcionalistas, o nascimento de novos modelos de democracia e repúblicas culmina
na transformação absoluta da hierarquia entre a natureza e o humano, mudança
da qual a tecedura do mito da modernidade em Fausto de Goethe dá perfeita voz e
imagem. "A trágica grandeza do homem moderno está vinculada ao fato de que teve
a audácia de assumir, frente à Natureza, a função do tempo." (ELIADE, 1977, p.99).
O tempo estando nas mãos dos homens se sujeita necessariamente aos mandos da
produção como qualquer outro elemento que se encontra no mercado mundial das
novas indústrias, e os saltos entre estágios passam a ser calculados pelas mesmas
Por estas vias, o próprio Bakhtin não restringiu em nenhum momento seu
cronotopo ao estudo literário compreendendo e - inclusive - demonstrando as diversas
semiosferas culturais que se intercalam com suas aplicações, entre literatura,
outras manifestações artísticas, políticas ou até filosóficas. Em suas análises
isto fica bastante claro pela forma como relaciona linhas filosóficas a cronotopos
específicos (BAKHTIN, 1981, p.165). Ele próprio já havia apontado para o caráter
das manifestações culturais como movimentações significativas no eixo do tempo
quando se considera festividades ou “Carnavais” como autênticas festas do tempo,
de alternâncias e renovações, em que as festividades têm sempre uma íntima relação
marcada com a sua temporalidade, já que “Na sua base, encontra-se constantemente
uma concepção determinada e concreta do tempo natural (cósmico), biológico e
histórico”(BAKHTIN, 1987, p.8). Curiosamente, esta conexão que transforma o
10 My philosophy, in essence, is the concept of man as a heroic being, with his own happiness as
the moral purpose of his life, with productive achievement as his noblest activity, and reason as his only
absolute.
11 “chance event does not exist and that all future events are secretly located in the phenomena
of the past.”
Este mesmo fim seria alcançado pela liberdade absoluta provinda da razão
individual dos indivíduos (MCCARNEY, 2002, p.16), o que nos deixa muito próximos
das formulações dos cronotopos neoliberais, sobretudo entre Hayek e Mises. Nas
palavras de Hegel, o Estado “é a realização da Liberdade, ou seja, a meta final
absoluta que existe para si mesmo.” (HEGEL, 2001, p.39 : MÉSZÁROS, 2002, p.61).
A relação cronotópica entre personagem e mundo em leitura dos seus atos (LOTMAN,
2004, p.125) na configuração do texto social hegeliana e liberalista demonstra sua
característica fundamental, como salientada por Bakhtin, de profunda desconexão do
mundo. Neste sentido Hegeliano que Bakhtin indica ser o indivíduo “meramente um
sujeito físico da ação” (BAKHTIN, 1981, p.105) um ente “completamente passivo” não
em sua concepção individual, - uma vez que ele, evidentemente age segundo suas
vontades - mas no contexto de sua relação com os atos do mundo, suas atitudes
intencionais se relacionam com a mudança da realidade através de elementos
indiretamente ou teleologicamente orquestrados por algo “superior” (BAKHTIN,
1981, p.116), igual ao “homem” que vimos em Mises. Esta ação ocorre em um tempo
excepcional, determinado por sorte, fundamentando o caráter do Adventure-time que
Bakhtin ressalta ser relacionado a uma imagem de ação:
Este tempo vazio não deixa rastros em nenhum lugar, não há indicações de sua
passagem. Ele é, repetimos, um hiato extratemporal que aparece entre dois
momentos da sequência do tempo real, no caso, sendo um deles biográfico [...]
É composto por uma série de segmentos curtos que correspondem a aventuras
separadas, dentro de cada aventura, o tempo é organizado de fora, tecnicamente.
(BAKHTIN, 1981, p.90)12
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Não é difícil compreender que em um mundo sem ativos financeiros, grande parte
das mercadorias, imóveis, entre outros, estariam estocados a espera do consumidor
reunir o montante de dinheiro necessário. O trabalhador teria que reorganizar sua
jornada de trabalho, a fim de exercer sua vida ativa várias vezes, para consumir o
equivalente que produziu, atrasando totalmente a economia mundial.
O crédito acelera tudo: o prédio pode começar a ser construído tão logo o
empresário tenha obtido o financiamento mínimo inicial; em geral, nem compra o
terreno, incorpora-o mediante a troca por certo número de apartamentos quando
o prédio ficar pronto. À medida que a construção avança, o prédio em construção
serve de garantia para a obtenção de novos empréstimos. A partir de certo ponto,
os apartamentos “na planta” são postos à venda. As entradas e prestações pagas
pelos compradores financiam a continuidade das obras. Tão logo o prédio fica
pronto, os apartamentos podem ser ocupados, embora nenhum tenha sido pago
integralmente. Muitos compradores de apartamentos “na planta” revendem-nos
prontos, presumivelmente com lucros, embora também possam sofrer prejuízos
(SINGER, 2000, p30).
2 | DESENVOLVIMENTO
O setor bancário português era sem dúvidas a base mais forte para economia
portuguesa, o poder bancário aumentou consideravelmente devido a moeda europeia,
endividando-se no exterior com juros extremamente baixos. Não tendo muitas
opções onde investir este capital, as instituições depositaram seus investimentos no
ramo imobiliário/construções, setor considerado como lucro garantido. Financiando
o construtor e o comprador ficando com o imóvel como garantia, o resultado foi o
recorde de endividamento no exterior. E é a partir disto que se pode relacionar a crise
mundial com a crise portuguesa já que os credores das instituições portuguesas eram
os mesmos do falido mercado hipotecário norte-americano.
No início de 2008 o BPN (Banco Português de Negócios) se tornou alvo de
investigações, criado em 1993 e consolidado entre a população, José de Oliveira
Costa, político e presidente do mesmo, foi o responsável em colocar todo o país
em alerta, devido a um rombo nas contas, estimado em 700 milhões de euros. Em
novembro de 2008 o governo anuncia a nacionalização do banco e Oliveira Costa foi
preso. Em 2010 o governo decide vender o BPN operação que foi concretizada pelo
valor de 40 milhões de euros ao Banco angolano BIC.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
TABELA 1
TABELA 2
No ano de 2008 o Banco Espirito Santo atuava no território português com 713
agências, após o decreto de falência no ano de 2014 percebe-se uma queda de 16%
no número de agências ao longo de todo território. O número parece relativamente
baixo em comparação ao montante da dívida adquirida, porém implica em cerca de
120 unidades.
A tentativa aplicada pelo governo, com o intuito de salvar a instituição, remete-
se ao que alguns autores referem-se a “Banco bom e Banco mau”, que nada mais é
do que o resgate dos ativos bons da agência falida e em seguida transferidos para
uma nova instituição, (aqui no caso o “Novo Banco”) e os ativos tóxicos permanecem
na instituição falida, que no caso seria o “Banco Mal”.
Uma breve análise da tabela 2 pode-se constatar todas as quedas e elevações
das principais agências bancarias de Portugal. O BPN (Banco Português de Negócios
SA) e a Caixa central de crédito agrícola não apresentaram queda no número de
agências, durante o levantamento de dados desses 5-6 anos entre 2008 e 2014.
A Caixa Central de Credito agrícola mutuo, instituição pertencente a um grupo de
Geografia, Políticas e Democracia 3 Capítulo 7 84
investidores (Credito agrícola) encontrou-se em estado de estagnação, não nota-se
desenvolvimento ao longo dos anos e nem perda considerável.
Responsável pelos financiamentos de projetos agrícolas no país a Caixa central
de crédito agrícola é uma das instituições que estão com certa folga financeira ate o
momento.
TABELA 3
4 | CONCLUSÕES
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Figura 01 – Feira livre municipal na Rua Dr. Pedro Velho, centro, Nova Cruz-RN – nos anos 40
Fonte: Acervo da Prefeitura Municipal de Nova Cruz-RN.
[...] existem desde a Antiguidade. [...]. Essa tradição cultural se expandiu por todo
o Brasil. A persistência e a resistência das feiras livres nas cidades não estão
associadas apenas aos fatores socioeconômicos demonstrados, mas também,
associa-se a essa tradição, a esse costume popular, portanto a cultura (AZEVEDO;
QUEIROZ, 2013).
Entre os municípios do Rio Grande do Norte de maior procura pela feira, segundo
a pesquisa, estão Montanhas, Lagoa d’Anta, Santo Antônio, Passa e Fica, Pedro
Velho e Canguaretama, somando, respectivamente, 13%, 10%, 9%, 7%, 5%, 5% de
consumidores residentes em tais localidades. Além destes, outros 12% são formados
por consumidores provenientes de municípios da Paraíba, como Jacaraú com 7% e
Logradouro com 5%, que também tem a feira como forma de consumo.
Na realidade, é preciso levar em consideração que o comércio em suas
diferentes formas, tem sido fundamental para o desenvolvimento da economia de
qualquer cidade, além disso têm aumentado e diversificado sua produção de forma
progressiva, objetivando atender as especificidades socioculturais de cada sociedade.
Ademais, outras atividades terciárias também demandam por um comércio forte, em
razão de novas exigências que, por sua vez, estão ligadas ao grande dinamismo
econômico contemporâneo. Nesse processo está ligado à presença dos bancos que
funcionam em consonância com as atividades comerciais, levando a população não
só a frequentar o espaço da feira, como também buscar serviços na cidade, o que
pode gerar maior crescimento do setor terciário e, desta maneira, solidificar ainda
mais a sua posição no quadro regional.
O aspecto que mais chama atenção nessas mudanças são o surgimento de
novas atividades que se materializam e desenvolvem-se na cidade. Nesse sentido,
“O estudo das formas do comércio [...] nos permite compreender e explicitar uma
nova articulação espaço – tempo e tal articulação implica uma organização social
distinta” (PINTAUDI, 2005, p. 158), gerando no espaço urbano uma configuração
[...] num evento econômico, social e cultural, que reúnem compradores e vendedores
de varias mercadorias num determinado local, em intervalos de tempos regulares.
Tais acontecimentos modificam a paisagem [...], uma vez que nos dias das feiras
livres, as principais ruas [...] exprimem um mosaico de atividades, de situações,
de cenas, de odores, de sons que se realizam, simultaneamente, num só espaço
(GONÇALVES, 2005, p. 144).
Nova Cruz é possuidora da maior feira livre da região – em extensão (no horário e no
espaço que ocupa) e diversidade de produtos. Localizada no Alto de São Sebastião,
a feira atrai pessoas (vendedores ambulantes, comerciantes, compradores etc) de
toda a circunvizinhança, inclusive do Estado da Paraíba (AZEVEDO, 2005, p. 113).
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Gustavo Henrique Cepolini Ferreira ABSTRACT: This essay aims to analyze the
Departamento de Geociências e PPGEO - handmade production of rapadura according
Universidade Estadual de Montes Claros to data from world sugarcane production, as a
Tayne Pereira da Cruz culture and territorial practice of the peasantry
Núcleo de Estudos e Pesquisas Regionais e in different Brazilian regions. It is, therefore,
Agrários - UNIMONTES an interpretation of production linked to food
practice, economy and local development for
several rural families. Theoretical reference
RESUMO: O presente ensaio visa analisar dialogues with fieldwork in the Northern region
a produção artesanal da rapadura conforme of Minas Gerais, especially in the municipality of
dados provenientes da produção mundial da São João da Ponte and in the rural community of
cana-de-açúcar, como uma cultura e prática João Moreira, where the handmade production
territorial do campesinato em diferentes of rapadura involves more than 33 families who
regiões brasileiras. Trata-se, portanto, de uma conceive the logic of the land as a way of work
interpretação da produção atrelada à prática and life.
alimentar, à economia e ao desenvolvimento KEYWORDS: Handmade rapadura. North of
local para várias famílias da área rural. O Minas Gerais. Peasantry.
referencial teórico dialoga com trabalhos de
campo na mesorregião Norte de Minas Gerais,
INTRODUÇÃO
especialmente no município de São João da
Ponte e na Comunidade Rural de João Moreira, O presente ensaio estrutura-se a partir
onde a produção artesanal da rapadura envolve da discussão sobre a produção mundial da
mais de 33 famílias que concebem a lógica da cana-de-açúcar e o surgimento da rapadura
terra como forma de trabalho e vida. no seu modo artesanal, cuja cultura que está
PALAVRAS-CHAVE: Rapadura artesanal. presente em várias áreas do mundo, não
Norte de Minas Gerais. Campesinato. sendo diferente nas regiões brasileiras. Sabe-
se que essa atividade, até a atualidade, está
HANDMADE PRODUCTION OF RAPADURA: tradicionalmente presente na alimentação
A GEOGRAPHICAL ANALYSIS BASED ON popular, sendo reconhecida como uma
THE RURAL COMMUNITY JOÃO MOREIRA, produção favorável ao desenvolvimento
SÃO JOÃO DA PONTE - MG
Geografia, Políticas e Democracia 3 Capítulo 9 99
econômico e social, além de ser suporte e a principal fonte de renda para várias
famílias do campo.
Para aprofundarmos este estudo e análises é necessário contextualizar nos
tópicos a seguir essas breves considerações sobre a produção da cana-de-açúcar
no contexto mundial e nacional; o surgimento da rapadura; o camponês e o modo de
produção; o espaço da área de estudo frisando a localização do município e alguns
cultivos agrícolas no município.
Para o camponês, a relação é estabelecida quando ele vende aquilo que excede
suas próprias necessidades de sobrevivência, suas e de sua família. Nesse caso,
troca-se o produto por dinheiro, que, por sua vez, passa a ser trocado por aquilo
que não consegue produzir, que tenha valor de uso. Nessa relação, dinheiro tem a
forma nominal; portanto, não é capital. (SOUSA; CONCEIÇÃO, 2010, p. 67).
3 Informação coletada com o Pe. Márcio Antônio Rosa da Silva em abril de 2017.
Valor da Área
Quantidade Área colhida Rendimento
produção destinada à
produzida (t) (ha) médio (kg/há)
(x1000) R$ colheita (há)
Arroz 1 1,00 3 1 1.000
Cana-de-açúcar 30.000 5.400,00 500 500 60.000
Feijão 40 200,00 150 50 800
Mandioca 2.500 1.000,00 250 250 10.000
Milho 120 113,00 1.200 200 600
Sorgo 15 8,00 30 10 1.500
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Direito à moradia digna 13, 14, 15, 22, 23
Discurso 60, 61, 64, 68, 69, 72, 73, 74
Lagoa 38, 93
Política 4, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 22, 23, 60, 61, 62, 64, 66, 70, 71, 73, 75, 76, 89, 95
Portugal 77, 78, 81, 82, 83, 84, 85, 86
Prática pedagógica 1, 3, 5, 6, 7, 8, 11, 12
Produção do espaço 19, 25, 26, 36, 37
Programa Minha Casa Minha Vida 13, 14, 16, 17, 18, 19, 22, 23, 24
Rapadura artesanal 99
Richard Hartshorne 49, 50, 51, 52, 57, 58