Vani
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Vani
Massinga
2021
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Índice Pág.
1. Introdução.....................................................................................................................................3
2. A filosofia africana.......................................................................................................................4
2.2.1. Etnofilosofia...........................................................................................................................5
2.2.3.1. Pan-Africanismo................................................................................................................10
3. Conclusão...................................................................................................................................14
4. Referencias bibliográficas..........................................................................................................15
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1. Introdução
Importa aqui referenciar que o homem negro na antiguidade era visto como indígena, homem
sem valor e princípios, em suma, homem que não procura o saber da sua própria existência no
mundo, eis a razão de ser tratado como um animal irracional para os ditos brancos, porem, de
uma forma progressiva foi se construindo um intelecto reflectivo aos africanos e começarem a
construir uma imagem de valor e merecedor de consideração e respeito pela raça branca.
Factos importantes sobre a civilização e construção de uma identidade africana estão descritas no
decurso deste trabalho, com mais enfâse na política do africano. Com isso, o trabalho visa trazer
assuntos relacionados a filosofia africana e o seu percurso até aos dias atuais.
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2. A filosofia africana
Na Filosofia, Voltaire afirma, na sua obra História do Século XIV, que o povo mais elevado é o
francês e o mais baixo é o africano; Jean-Jacques Rousseau diz que os africanos são bons
selvagens; para Hegel, os africanos são povos sem história e, por consequência, desprovidos de
humanidade; Kant chega à conclusão de que os africanos são povos sem interesse; Levy Brhul
proclama que os africanos têm uma mentalidade pré-lógica; por sua vez, Montesquieu afirma que
os africanos são povos sem leis; os antropólogos Morgan e Tylor sustentam que a África é uma
sociedade morta. O monarca francês Luís XIV escreveu O Código Negro, uma espécie de direitos
dos senhores sobre os negros.
Não restam dúvidas, portanto, de que o Ocidente desencadeou uma teoria de dominação que
gerou um profundo complexo de inferioridade nos africanos. Em Panafricanisme ou
Communisme?,George Padmore diz que este facto provocou uma crise no pensamento, na
palavra e no agir do homem africano. O ocidentalismo promovia, directa ou indirecta mente, uma
antropologia triunfalista, cujas teorias e doutrinas exaltavam uma classe que se autoproclamava
herdeira exclusiva da humanidade inteira. Por essa razão, arrogava-se o direito de destruir,
assumir ou «esmagar» os outros povos. Este tipo de antropologia poderia ser classificada como
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Mais tarde, as ciências sociais e humanas realizaram novas abordagens, adoptando uma visão
diferente em relação às culturas não-ocidentais. Passaram a reconhecer que toda a cultura
representa uma determinada civilização, independentemente da sua situação geográfica, histórica,
social e económica. Contudo, não nos podemos esquecer de que o período em que a população
africana viveu todas estas discriminações foi tão longo e profundo que ainda hoje estas se
encontram bem vivas na sua memória. Tal condiciona o seu comportamento: este fenómeno não
só influenciou a mentalidade europeia, como também deixou marcas na mentalidade do próprio
Povo negro, visto que a sua auto-estima ficou deveras afectada.
2.2.1. Etnofilosofia
Trata-se do «grito» de africanos e africanistas pelo reconhecimento do negro como homem. Estes
produziram obras em defesa do homem negro. Uma das formas de realizar essa defesa é através
da etnofilosofia. Os etnofilósofos são assim denominados por terem feito estudos sobre etnias
africanas. Estes defendem que toda a Filosofia é uma Filosofia cultural, isto é, ninguém faz
Filosofia sem se basear em alguma cultura. Para Anyanw, a missão do filósofo africano é
compreender e explicar os princípios sobre os quais se baseia cada uma das culturas africanas.
Todavia, as suas pesquisas, que se apelidaram de Filosofia africana, foram alvo de severas
críticas, principalmente pelas seguintes razões.
As abordagens feitas por tais intelectuais descreviam, na sua maioria, práticas habituais dos
africanos, afirmando-se como Filosofia africana.
Estes estudos, quando eram feitos por africanistas não-africanos, denegriam o africano.
O sacerdote belga Placide Tempels, por exemplo, dizia que o africano tinha uma lógica
menor.
Estes estudiosos abordavam temas relativos a etnias africanas. Alexis Kagame, inspirando-se
na filosofia aristotélica, escreveu uma obra intitulada A Filosofia Bantu-Ruandês do Ser,
onde desenvolvia a sua reflexão, trazendo à tona as categorias aristotélicas do ser, através da
análise gramatical rigorosa das estruturas linguísticas. A partir desta obra, vários estudantes
africanos defenderam as suas teses, cada um deles com a filosofia Bantu da sua língua
vernácula.
Tempels dizia que existe uma filosofia do negro, só que esta é diferente na forma e no
conteúdo da Filosofia europeia.
Por estas e outras razões, OS críticos opuseram-se à existência de urna Filosofia africana.
Contudo, não pode-se desprezar Tempels, pois a sua abordagem tinha como fim o
reconhecimento do negro como homem pelos colonizadores. Por conseguinte, os seus estudos
contribuíram bastante para a redefinição do relacionamento entre o Ocidente e o povo negro.
1. Reivindicando que existe uma Filosofia africana, estamos a cair na ratoeira colonialista e
racista que insiste que um africano é diferente de um europeu. Portanto, qualquer referência a
Filosofia africana obriga-nos a definir África em relação à Europa. Logo, no podemos aceitar que
haja uma Filosofia africana que claramente nega a Filosofia em geral.
2. Filosofia, no seu sentido restrito, é uma disciplina científica, teorética e individual, assim como
a Linguística, a Álgebra e, portanto, não se pode substituí-la por crenças populares, práticas
tradicionais e comportamento popular de um povo qualquer. A Filosofia não se deve identificar
com o mito ou com a religião tradicional.
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4. Todo o projecto de edificar uma Filosofia africana é um projecto europeu de demarcar a todo o
custo a civilização africana da europeia. Por Isso, dizer que os africanos têm a sua própria
civilização quer dizer que a civilização africana é fixa e está mumificada nas tradições antigas,
que todo o poder do africano reside no passado, nas tradições dos seus antepassados. Os filósofos
que encaram a Filosofia a partir do ponto de vista do passado designam-se por etnofilósofos e são
europeus. Tentam sufocar a capacidade criativa dos africanos porque esperam que os filósofos
africanos sejam simples activistas das suas tradições culturais, em vez de pensadores originais.
5. Todos concordam que a Filosofia africana não pode nascer ex nihil (do nada), mas que
necessariamente parte da herança cultural. Contudo, esta herança cultural não consiste apenas em
olhar para atrás. A Filosofia africana deve ser uma confrontação criativa das suas ideias com o
presente e o futuro.
6. 0 papel criador da Filosofia africana tem de ser desempenhado por filósofos africanos que são
sujeitos da actividade filosófica. A africanidade da Filosofia africana só emerge a partir de uma
actividade filosófica de discussão e crítica dos africanos que são filósofos. A africanidade
consiste na pertença dos filósofos ao continente africano. A africanidade não consiste em falar da
África ou em tratar de problemas africanos, pelo contrário, consiste na partilha e na conversa
entre africanos que são filósofos qualificados e profissionais que usam a razão de maneira crítica
e criadora.
mantém o seu significado original. Na opinião deste critico, a universalidade da Filosofia deve
ser conservada. É preciso salientar que os primeiros propagandistas da Filosofia africana foram
homens da igreja, como, por exemplo Tempels (belga), Alexis Kagame (Ruandês), John Mbiti
(queniano) e Vicente Mulago (congolês).
Encontra-se doravante duas perspectivas, duas ideologias de libertação, cujas diferenças não
serão somente ideológicas, mas também raciais. Du Bois era um jovem culto (cursara a
Universidade, tendo sido o primeiro negro a fazer um curso superior). Marcus Garvey, conhecido
como an extraordinary leader of men, não estudara muito, porém vira muitos negros a trabalhar
em condições desumanas. É importante salientar que Garvey começou a trabalhar aos 15 anos e
foi expulso do seu serviço por incitar os seus colegas a protestar contra as condições injustas em
que trabalhavam. Este julgava que os libertadores da raça negra deveriam ser negros autênticos e
que o negro só se realizaria plenamente na sua terra natal, em África. Ora, Du Bois era mulato,
por isso Garvey não o considerava negro.
Na sua opinião, Du Bois não passava de um prolongamento da mão do branco, pois não
concordava com o regresso dos negros à África-mãe. Garvey construiu um navio para levar OS
negros que quisessem voltar à sua terra de origem. Du Bois, contrariamente ao seu antecessor
Booker Washington, que achava que a emancipação do negro passava por uma formação técnica
e por se acomodar à posição subalterna do negro nos EUA, afirmou que o problema fundamental
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dos negros não era de ordem económica, mas antes política. Du Bois postulou a existência de
elites intelectuais que serviriam de pontos de referência para os outros.
A maior dificuldade que Du Bois teve de enfrentar foi levantar o moral do negro, freneticamente
rebaixado pelas filosofias ocidentais. Este disse ao homem negro que África teve impérios: o
império de Ghana, o império de Mwenernutapa, Benin, Mali, Shongai, etc., os quais deram um
grande contributo para a humanidade. Outra evidência da influência africana sobre o Ocidente é a
pintura: a pintura europeia revolucionou-se quando o pintor espanhol Pablo Picasso entrou num
museu que ostentava objectos da cultura africana e ficou profundamente impressionado com uma
máscara(assim nasceu o cubismo de Picasso).
O africano era visto como o povo que nunca fizera nada de significativo. Os ocidentais
«desconhecem ou negligenciam a célebre tese que coloca o negro africano num lugar
privilegiado, considerando-o um dos «arquitectos» da Filosofia grega, que contou com a
sabedoria e a inteligência dos egípcios, cuja População não era apenas formada por homens de
raça branca». Ao que tudo indica, o desprezo pelo negro e a sua consequente condenação a um
plano o mais inferior possível foram deliberados, apoiando-se na literatura, o Ocidente tentou
distorcer tudo o que abonava a raça negra. Nos estudos de Maurice Delafosse, foi revelado que a
época medieval africana era, sob muitos pontos de vista, comparável à época medieval europeia.
Tudo isto prova que o Ocidente assumiu atitudes etnocêntricas, especialmente em relação ao
continente africano e aos seus habitantes, como ficou demonstrado no julgamento do padre
Bartolomeu de Las Casas, por defender a humanidade dos índios. O cardeal António chegou a
aceitar que OS índios eram homens, porém preveniu a Las Casas que estender esta humanidade
aos negros seria um exagero. Este estudo revela tão-somente que a pretensa inferioridade do
negro foi a arma psicológica que o branco inventou para denegrir a sua imagem, com o fim
último de o dominar. Sendo assim, os intelectuais africanos tinham corno missão procurar
caminhos para a reconquista da humanidade perdida. Esta tarefa foi levada a cabo por várias
correntes de pensamento, como o pan-africanismo, a negritude e o Black renaissance, entre
outras.
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2.2.3.1. Pan-Africanismo
A primeira conferência pan-africana teve lugar em Londres, em 1900. O seu objectivo era
procurar uma forma de protecção contra os agressores imperialistas brancos e contra a política
colonial que até então submetia os negros. Entendia-se que, por esta via, o africano conquistaria o
direito à sua própria terra, à sua personalidade. Tratava-se, portanto, de uma luta pelo direito de
todos os africanos serem tratados como homens, daí o conceito de pan-africanismo.
Foi dentro do espírito emergente de revolta contra o colonialismo que surgiu o Black
Renaissance, cujo fundador foi Du Bois. Esta corrente de pensamento teve repercussões sociais,
que consistiam em incutir o homem negro a ideia de ser igual aos brancos. Este movimento
difundia ideologias contra a discriminação do povo negro. Defendia que os negros não podiam
continuar a assistir passivamente à sua própria discriminação e que deviam reagir perante os
tratamentos desumanos. Du Bois afirmava: «que os brancos saibam que por cada porrada que o
branco der a um negro, nós lhes vamos dar duas; por um negro morto, nós vamos matar dois
brancos.»
Azikiwé escreve em Renascent Africa: Ensinai o africano que renasce a ser homem. Foi no
âmbito do renascimento africano que se desenvolveu o conceito de personalidade africana. A
personalidade africana defende que existem características comuns, atributos essenciais e únicos
que fazem parte do ser de todos os africanos. A ideia de African Personality teve as suas raízes
em Edward Wilmont Blyden e foi retomada por Kwame Nkrumah.
vossa raça. Se não fordes vós mesmos, se abdicardes da vossa personalidade, não havereis
deixado nada ao mundo. Não tereis satisfação, utilidade, nada que atraia ou fascine os homens,
porque com a supressão da vossa individualidade havereis perdido o vosso carácter distintivo.
Vereis, então, que ter abdicado da vossa personalidade significará ter abdicado da missão e da
glória particular à qual sois chamados» — aconselha Blyden, notando que «seria de facto
renunciar à vossa divina individualidade, o que seria o pior dos suicídios».
Este pensador demonstra que os costumes e as instituições da África negra estão em consonância
com as necessidades dos africanos. Ademais, África pode dar um contributo ao mundo nas
questões de ordem espiritual. A civilização europeia é dura, individualista, competitiva,
materialista e foi fundada sobre o culto da ciência e da técnica. A civilização africana é doce e
humana. Para Nkrumah, o homem africano é um ser espiritual, dotado de dignidade, integridade e
valor intrínseco.
A corrente relativista punha a tónica na diversidade cultural e social e considerava que a unidade
do género humano se manifestava na sua capacidade de se diferenciar em múltiplas culturas. A
posição relativista pretendia sobretudo lutar contra o imperialismo americano e defender as
minorias colonizadas, os grupos africanos. Esta corrente impôs como normas o respeito pela
diferença, a tolerância, a crença na pluralidade dc valores e a aceitação da diversidade.
A negritude era um movimento principalmente cultural e literário, mas com pretensões também
políticas, conquanto protestava contra a atitude colonialista, lutando pela emancipação do povo.
O poema de Noémia de Sousa «Let my people go/Deixa passar o meu Povo» é disso um exemplo
Vivo.
No mundo da lusofonia, o movimento foi difundido por vários órgãos, como, por exemplo, a
Junta de Defesa dos Direitos de África, a Tribuna de África e a Mensagem, formadas por
africanos e europeus favoráveis à promoção da cultura negro-africana. Foi neste contexto que, em
1920, nasce, em Lisboa, a Liga Africana com os seguintes objectivos:
conseguir que se torne realidade o livre acesso de indivíduos de raça africana a todas as
situações sociais e cargos públicos, nas mesmas condições exigidas aos indivíduos de raça
branca.
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3. Conclusão
Findo trabalho conclui-se que ao longo dos anos o povo africano foi vitima de colonização
europeia e tempo depois vários africanos reuniram-se em defesa da existência da filosofia
africana. Neste sentido, foi no âmbito do renascimento africano que se desenvolveu o conceito de
personalidade africana. A personalidade africana defende que existem características comuns,
atributos essenciais e únicos que fazem parte do ser de todos os africanos.
4. Referencias bibliográficas
GEQUE Eduardo; BIRIATE Manuel. Pré-universitário – Filosofia 12. 1ª Edição. Editora Logman
Moçambique. Maputo. 2010.