Importância Da Logística para o Lean
Importância Da Logística para o Lean
Importância Da Logística para o Lean
Resumo
O bom desempenho de um sistema de Produção Enxuta (Lean Production) depende
diretamente da eficiência do sistema logístico da empresa. Nenhum sistema enxuto de
produção consegue obter sucesso se houver falhas no setor de logística da organização.
O abastecimento de matérias-primas e a entrega just in time ao cliente tornam-se
viáveis quando o sistema logístico está qualificado para fazer entregas constantes e em
pequenos lotes. Neste contexto, o objetivo deste artigo é mostrar essa importância do
sistema logístico para a produção enxuta.
1. Introdução
As empresas estão vivendo num ambiente onde a flexibilidade no mix de produção e a
rapidez de resposta ao cliente tornou-se fatores chaves para a sobrevivência de qualquer
organização. Períodos de respostas longos e ineficiência na mudança do mix de
produção não são tolerados pelo mercado. Qualquer empresa que se de ao luxo de não
buscar rapidez na resposta ao cliente está fadada a desaparecer num futuro não muito
distantes.
Dentro desse contexto, as empresas estão utilizando-se das técnicas da Produção Enxuta
(Lean Production) como forma de aumentar seu poder de competitividade. O Value
Stream Mapping (Mapa do Fluxo de Valor), o Kanban, o Heijunka Box (quadro de
nivelamento de cargas), entre outras estão se tornando em ferramentas do cotidiano das
empresas.
Embora tenham uma alta capacidade de eliminar desperdícios no processo de produção,
nenhuma destas ferramentas consegue, agindo isoladamente, levar a fábrica a atingir
altos níveis de desempenho. Como exemplo, Shingo (1996) destaca que a utilização
isolada do sistema kanban apenas auxilia a empresa no processo de controle de excesso
de estoques. Segundo o autor: "Suponha que uma empresa imite a Toyota e adote o
kanban. Ela será capaz talvez de implantar um sistema kanban de 200 unidades onde a
Toyota usou um de apenas 50. Isso pode convencer a empresa de que ela pode se
desfazer de estoque com mais de 200 unidades. Na verdade, a única vantagem real é que
a empresa começou a controlar o nível de excesso - ela não fez, na verdade, nada para
reduzir estoques". Por isso existe essa necessidade de integrar todas ferramentas de
produção enxuta e não apenas utilizá-las de forma isolada. Além disso, todos os setores
da organização devem estar preparados para suportarem o sistema enxuto, neste caso
em específico, o setor de Logística da organização.
A importância da Logística Integrada mostra-se relacionada a este fator. Muitos acabam
se preocupando apenas em implantar algumas das técnicas da produção enxuta, como o
kanban por exemplo, e se esquecem que o sistema kanban, para funcionar
adequadamente, parte do pressuposto que a empresa tenha um sistema logístico que
permita à organização receber matérias-primas e entregar seus produtos just-in-time. O
planejamento, implantação e coordenação eficiente do sistema logístico é que irá
permitir à organização alcançar todos os benefícios proporcionados pelo sistema de
produção enxuta.
A seguir será apresentada uma explanação sobre a produção enxuta, a logística e a
importância da integração entre esses dois sistemas.
2. Lean Production
O sistema de Produção Enxuta tem como objetivo tornar a empresa competitiva através
da redução dos desperdícios dentro da organização. Para isso ela lança mão de um
conjunto de ferramentas que visam identificar e eliminar estes desperdícios. Esta
filosofia deriva do JIT com a diferença que esta introduz novas ferramentas como o
CONWIP e o Heijunka Box, as quais trabalham integradas ao elenco tradicional de
ferramentas do JIT.
O termo Produção Enxuta foi criado no início da década de 90 para nomear o “Thinking
Process” de Taichi Ohno e o conjunto de métodos que descrevem o sistema de
produção da Toyota Motor Company. Este termo foi popularizado no livro “A Máquina
que Mudou o Mundo” (Womack, Jones, & Roos, 1992), o qual ilustra claramente a
significativa diferença de performance obtida pela implantação dos conceitos de
Produção Enxuta na indústria automobilística japonesa, em comparação com a indústria
ocidental.
A Produção Enxuta reúne uma série de princípios para eliminar desperdícios durante a
produção dos produtos buscando atingir, ou até superar, as expectativas dos clientes
(MacDonald, Van Aken & Rentes, 2000). Suas técnicas procuram minimizar as perdas
dentro da empresa, gerando produtos a um menor custo e possibilitando à organização
produzir a um preço menor e sem perda da qualidade.
Os cinco princípios da Produção Enxuta são (Hines & Taylor, 2000):
1. Especificar o que gera e o que não gera valor sob a perspectiva do cliente. Ao
contrário do que tradicionalmente se faz, não se deve avaliar sob a óptica da
empresa ou de seus departamentos.
2. Identificar todos os passos necessários para produzir o produto ao longo de
toda linha de produção, de modo a não serem gerados desperdícios.
3. Promover ações a fim de criar um fluxo de valor contínuo, sem interrupções,
ou esperas.
4. Produzir somente nas quantidades solicitadas pelo consumidor.
5. Esforçar-se para manter uma melhoria contínua, procurando a remoção de
perdas e desperdícios.
Womack & Jones (1996) ressaltam que sete tipos de desperdícios foram identificados
por Shigeo Shingo para o Sistema Toyota de Produção:
1. Superprodução: Produzir excessivamente ou cedo demais, resultando em um
fluxo pobre de peças e informações, ou excesso de inventário;
2. Espera: Longos períodos de ociosidade de pessoas, peças e informação,
resultando em um fluxo pobre, bem como em lead times longos;
3. Transporte excessivo: Movimento excessivo de pessoas, informação ou peças
resultando em dispêndio desnecessário de capital, tempo e energia;
4. Processos Inadequados: Utilização do jogo errado de ferramentas, sistemas
ou procedimentos, geralmente quando uma aproximação mais simples pode ser mais
efetiva;
5. Inventário desnecessário: Armazenamento excessivo e falta de informação ou
produtos, resultando em custos excessivos e baixa performance do serviço prestado
ao cliente;
6. Movimentação desnecessária: Desorganização do ambiente de trabalho,
resultando baixa performance dos aspectos ergonômicos e perda freqüente de itens.
7. Produtos Defeituosos: Problemas freqüentes nas cartas de processo,
problemas de qualidade do produto, ou baixa performance na entrega;
Shingo (1996) destaca também algumas ações que podem ser tomadas para eliminar
estes desperdícios e conseqüentemente minimizar os ciclos de produção:
1. Eliminar o transporte, unindo várias máquinas de acordo com o fluxo do
processo;
2. Adotar fabricação e transferência unitária de peças e eliminar as esperas de
lote, com o objetivo de reduzir drasticamente os ciclos de produção;
3. Evitar a produção excessiva de produtos e minimizar os ciclos de produção
processando lotes pequenos e separados;
4. Adotar a TRF ou a troca de ferramentas em um único toque visando reduzir
drasticamente os tempos de setup;
5. Usar a lógica de inspeção na fonte com o intuito de alcançar o defeito zero e a
quebra zero dos equipamentos;
6. Tornar a produção com estoque zero possível através da adoção do sistema de
manufatura flexível, sensível a flutuações de demanda;
3. Logística Integrada
Segundo Womack et. al. (1992) nas empresas enxutas os componentes são entregues
nas empresas automobilísticas apenas no momento exato que serão utilizadas na
montagem. Tal procedimento está de acordo com o famoso sistema just-in-time,
inventado por Taiichi Ohno. Portanto, deve existir um sistema logístico enxuto que
consiga suprir as necessidades da fábrica somente quando esta requisitar.
Atualmente existe uma tendência em se integrar toda a cadeia de suprimentos. Algumas
organizações como a Toyota Motor Company perceberam que cooperar com seus
fornecedores é mais rentável do que forçá-los a produzir segundo um padrão pré-
estabelecido. Um outro exemplo é o relacionamento entre a DELL e o Wall-Mart
(Hammel, 2000). A DELL revolucionou o mercado de computadores adotando um
modelo de vendas diretas e consegue atualmente medir seus níveis de estoques em
horas. O Wall-Mart disponibiliza a seus fornecedores dados dos pontos de venda e
obtêm uma série de vantagens em função disso, desde a redução de custos de controlar
os estoques à maior disponibilidade e confiabilidade de entregas.
Mas para que esta disponibilidade e confiabilidade possam acontecer entre clientes e
fornecedores é necessário existir um sistema logístico eficaz. Qualquer falha no sistema
de entregas leva as duas organizações a perdas não somente financeiras, mas talvez
ainda pior, de credibilidade entre elas e seus clientes.
Quando trabalhando num ambiente de produção enxuta, onde as entregas são realizadas
just-in-time, todo o sistema enxuto fica sujeito à eficiência do sistema logístico em
suprir a linha de produção no momento exato. Qualquer atraso nas entregas pode
representar uma paralisação na linha de montagem. A figura 2 a seguir, mostra um
exemplo de uma cadeia de suprimentos e a importância do planejamento logístico
Lead time de
produção = 1 dia Lead time de
Lead time de entrega = 1 dia
recebimento = 1 dia
Nesta figura podemos observar que o lead time total da cadeia de suprimentos depende
da eficiência das entregas. Qualquer atraso tanto na entrega ao cliente final quanto na
entrega à fábrica aumentará o lead total de entrega ao cliente. Uma das formas que as
empresas se utilizam para precaver-se contra atrasos de entrega e fornecimento são os
estoques. Mas, está mais do que provado que os custos com estoques são elevados.
Além disso, trabalhando num ambiente enxuto de produção os estoques são levados a
um patamar mínimo. Portanto, problemas de fornecimento tanto de matéria-prima como
de entregas irão se refletir no lead time total de entrega ao cliente.
Quando se projeta um sistema enxuto, utilizando ferramentas como o Value Stream
Mapping, o Heijunka Box, entre outras, consegue-se reduzir o lead time de produção da
fábrica. Alguns podem pensar que uma redução no lead time de produção resultará em
uma diminuição no lead time total. Isto é verdade quando o sistema logístico também
está preparado para trabalhar de forma enxuta. Caso contrário, por exemplo, se as
entregas ao cliente forem feitas de forma ineficiente, todo o tempo ganho com a
eliminação nos desperdícios na produção será desperdiçado no sistema de entregas.
Trabalhando num sistema de produção enxuta a fabrica será abastecida com lotes
menores e com maior freqüência. Uma dúvida que pode surgir com isso é: quando se
projeta um sistema logístico para atender a produção just-in-time o custo final do
produto não aumentará devido a um aumento no gasto com transportes?
A resposta é não. Os ganhos com a redução nos custos com estoques são bem maiores
do que os gastos adicionais com transporte. Devemos lembrar que existem muitos
desperdícios e custos relacionados com estoques como: manutenção de estoques; risco
de obsolescência; custos com espaço ocupado, custos de movimentação de materiais,
etc.
Além disso, um novo método de abastecimento tem sido desenvolvido nas empresas de
sistemas enxutos de produção, método esse denominado de milk run. “Esse é um
método de acelerar o fluxo de materiais entre plantas no qual os veículos seguem uma
rota para fazer múltiplas cargas e entregas em muitas plantas. Ao fazer carregamentos e
entregas freqüentes, com veículos em milk run conectando várias plantas, em vez de se
esperar acumular materiais para a expedição direta com caminhão cheio entre duas
plantas, é possível reduzir os estoques e o tempo de reação ao longo de um fluxo de
valor. Milk runs entre as plantas são similares em conceitos às rotas de movimentação
de material dentro das plantas”, (Lean Institue , 2003).
milk run
5. Considerações Finais
6. Referências
MACDONALD, T; VAN AKEN,E.; RENTES, AF. Utilization of simulation model to support value
stream analysis and definition of future state scenarios in a high-technology motion control plant.
Research Paper. Department of Industrial & Systems Engineering, Virginia Polytechnic Institute and
State University & São Carlos Engineering School, University of São Paulo, 2000.
PETER HINES & DAVID TAYLOR. Going lean. Lean Enterprise Center, 2000
SHINGO, S. Sistemas de Produção com estoque zero. Productivity Press, Inc., 1996.
WATTS, M. O que é uma economia de mercado. Agência de informações dos estados Unidos da
América, Washington DC, EUA, 1993.
WOMACK, J.; JONES, D.; ROOS, D. Lean Thinking: Banish Waste and Create Wealth in your
Corporation. Simon & Schuster, New York, 1996.
WOMACK, JONES, & ROOS. The Machine that Changed the World. 1992.