Romantismo - Leitura e Aprecisação PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 6

classes mais humildes, o que dá à Revolução

um cunho popular-burguês.
A ascensão das classes médias provoca
um deslocamento do público consumidor da
DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA Literatura, que passa a ser o burguês e não
SÉRIE: 1º ANO ENSINO MÉDIO mais o nobre. Por isso, a arte clássica,
ANO ACADÊMICO: 2020 (UNIDADE I) aristocrática, seria substituída pela arte
PROFº.: EDINEI NOVAIS romântica, de cunho nacional e popular. É
notório que as camadas populares não tinham
L I N G U A G E N S, C Ó D I G O S E S U A S T E C N O L O G I A S grande preparo intelectual, não eram cultas, o
que as fazia incapazes de assimilar a erudição
ROMANTISMO clássica, as sutilezas do torneio verbal, a
disciplina rigorosa de composição, as alegorias
(PRIMEIRA PARTE)
fundadas na cultura greco-romana,
“Casar assim pensamento com o sentimento, a especialmente na mitologia. Este novo público
ideia com a paixão, colorir tudo isso com a leitor buscava uma expressão artística que
imaginação, fundir tudo isto com o sentimento da fosse, ou uma forma de entretenimento, ou
religião e da divindade, eis a Poesia - A Poesia projeção de seus gostos e anseios. O
grande e santa - A Poesia como eu a compreendo aparecimento do romance folhetinesco
sem a poder definir, como eu a sinto sem poder publicado com periodicidade regular pela
traduzir”.
imprensa, explorando a complicação
Gonçalves Dias
sentimental, a intriga, o mistério, a aventura,
1. Contexto histórico Cultural - a ancestral das novelas de radiodifusão e
televisivas atuais, expressa essa tendência.
revolução Francesa A palavra-chave do período Romântico
foi “LIBERDADE”, no campo político, pela
O Romantismo é um movimento que
superação do absolutismo; no campo
configura um estilo de vida e de arte
econômico, pelo Liberalismo do “Laissez faire,
predominante na Civilização Ocidental, no
laissez passer”; no campo artístico, pela
período compreendido, aproximadamente,
derrocada das regras e preceitos clássicos - “ni
entre a segunda metade do século XVIII e a
règles, ni modèles” - proclamava Victor Hugo,
primeira do século XIX. Reflete, no campo
um dos arautos da nova estética.
artístico, as profundas transformações
históricas do período, marcado pelo apogeu do Metamos o martelo nas teorias, nas poéticas e nos
processo de transferência da liderança histórica sistemas. Abaixo esse velho reboco que mascara a
da aristocracia para a burguesia. fachada da arte, nada de regras nem de modelos.
Esse processo se deflagrou com maior Victor Hugo
intensidade a partir do advento do Iluminismo, 2. Literatura
da divulgação de suas propostas pelos AS ORIGENS DO ROMANTISMO
enciclopedistas, culminando com a E AS INFLUÊNCIAS EUROPEIAS
REVOLUÇÃO FRANCESA. A partir daí, os ideais
de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” As primeiras manifestações do Romantismo
ecoam pelo mundo todo, anunciando podem ser localizadas:
transformações. Os donos do poder não são
a) Na ALEMANHA, onde o vigor e o gênio de
mais o Clero e a Nobreza, e o sangue azul
Göethe marcam, a partir de Werther, o início da
deixou de ser a condição indispensável para o
ruptura com a preceptiva clássica, ao lado de
reconhecimento da sociedade. No processo outros, que comungam no espírito da “STURN
revolucionário de tomada do poder, a UNDDRANG” (tempestade e violência), nome que
burguesia contou com o apoio do povo, das se dá ao movimento que antecede o Romantismo
Alemão, insurgindo-se contra os rigores do que iam contribuindo para a formação de um
Classicismo. ambiente propício ao desenvolvimento e aceitação
das ideias românticas.
b) Na INGLATERRA, com a poesia melancólica Podemos dizer que os autores do
subjetiva de Young e com a reabilitação da poética Arcadismo brasileiro, além de se utilizarem dos
medieval. Tem grande influência, na nossa artifícios típicos da estética neoclássica (imitação de
literatura, o romance histórico medieval, criado por autores gregos e latinos, uso da mitologia pagã,
WALTER SCOTT, cujo “Ivanhoé” serve de modelo etc.) já expressavam em suas poesias, alguns
aos heróis de José de Alencar, e a poesia do elementos que seriam depois explorados pelos
“spleen” (nostalgia) de BYRON, modelo constante românticos, como, por exemplo: o elogio da vida
do negativismo, do tédio e do satanismo de Álvares em natureza, livre das agitações sociais e
de Azevedo e seus seguidores. mundanas; exaltação de aspectos da natureza
brasileira (flora e fauna); expressão sentimental de
c) Na FRANÇA, onde, já nos iluministas (Rousseau e estados de alma, etc.
Diderot) o convencionalismo é alvo da rebeldia dos Além desses aspectos, é preciso lembrar
“novos”, CHATEAUBRIAND redescobre as belezas que já existia, desde o século XVI, muita coisa
do cristianismo, sobrepondo-se à mitologia dos escrita sobre o Brasil pelos viajantes e missionários,
poetas árcades. Com Atala, valoriza as sugestões de principalmente, em que eram frequentes os elogios
paisagem americana, que José de Alencar assimilou às nossas riquezas naturais, à bondade natural do
no seu Iracema. Os cantos de Vigny, a lira amorosa, indígena, o que muitas vezes dava a impressão de
naturista e religiosa de Lamartine e as confissões de que a terra brasileira era um verdadeiro paraíso.
Alfred Musset ecoam na poesia brasileira da É necessário ainda destacar a importância,
primeira à última fase do movimento romântico. A para o desenvolvimento do Romantismo, da vinda
poesia social rebelde e declamatória de Victor da Família Real para o Brasil, em 1808, pois os atos
Hugo, e seu romance de denúncia da opressão do de D. João VI, têm importância fundamental para a
proletariado – OS MISERÁVEIS - plasmaram a evolução da nossa cultura: a abertura dos portos; a
retórica de Castro Alves. Também as narrativas criação de bibliotecas, de escolas superiores; a
passionais de Georges Sand e o romance de permissão para o funcionamento de tipografias (de
aventura de Alexandre Dumas deixaram marcas no onde surgiria o jornalismo, importante agente
gosto literário brasileiro. Cabe notar que a França cultural no século XIX). Além disso, as sucessivas
de Napoleão Bonaparte foi o centro irradiador das levas de imigrantes portugueses contribuíram para
ideias do liberalismo e do gosto artístico romântico. a formação de um público cada vez maior que
À medida que os exércitos napoleônicos procurava, na literatura, a representação de seus
avançavam, iam inoculando, na Espanha, em próprios dramas sentimentais, mais ou menos como
Portugal, na Itália, na Bélgica, na Rússia, os germens faz o público de hoje, com relação ao cinema e à
das novas ideias. No Brasil, a emancipação política televisão.
fez com que declinasse a influência portuguesa, Contemporânea ao movimento de
pela absorção de modelos franceses e ingleses. Independência de 1822, a literatura romântica
sempre expressou sua ligação com a política e, ao
d) No BRASIL, foi particularmente importante o lado da euforia da liberdade e do desejo de
Romantismo, pois constitui um elemento decisivo construção de uma pátria brasileira, surgiu também
na evolução não só da literatura como também da o desejo de criação de uma literatura brasileira; o
própria cultura brasileira. esforço para essa realização, como afirma o crítico
Didaticamente falando, o ano de 1836 Antônio Cândido, era visto como um “ato de
marca o início do Romantismo brasileiro, quando brasilidade”.
Gonçalves de Magalhães publica seu livro de A influência do Romantismo foi também
poesias Suspiros Poéticos e Saudades, e lança, em muito importante na linguagem literária.
Paris, juntamente com Araújo Porto-Alegre, Torres Reivindicando a liberdade de expressar as
Homem e Pereira da Silva a Niterói – Revista peculiaridades e as diferenças da fala brasileira,
Brasiliense, em que as novas ideias românticas são alguns autores procuraram criar o que se poderia
divulgadas. No entanto, devemos reconhecer que já chamar de “estilo literário brasileiro”, isto é, um
se percebiam certas características românticas em modo de sujeitar a língua portuguesa à
obras de autores anteriores, além de alguns fatos sensibilidade brasileira.
Temos, em resumo, que o Romantismo, no Esse predomínio do sentimento sobre a
Brasil, se revestiu de características próprias, pois, razão, a princípio, parecia equilibrado; porém, com
coincidindo com a época de nossa autonomia, o passar do tempo, houve um exagero tal que
acabou se tornando uma espécie de estilo da vida chegou a tomar “proporções de epidemia,
cultural do país, considerando-se o escritor um degenerando numa tristeza vaga, numa insaciedade
porta-voz da sensibilidade popular e dos anseios tediosa e docemente mórbida: o mal do século”.
políticos e sociais da coletividade.
“O romantismo reduz toda poesia ao lirismo, como
CARACTERÍSTICAS DO ROMANTISMO forma natural e primitiva, oriunda da sensibilidade
e da imaginação individuais da paixão e do amor.
1. SUBJETlVISMO Poesia tornou-se sinônimo de autoexpressão.”
(Afrânio Coutinho)
Representa um dos traços fundamentais
dessa estética o “culto do eu”. O artista traz à tona
o seu mundo interior com plena liberdade. Não há ESTE INFERNO DE AMAR
mais a preocupação com modelos clássicos e
universalizantes; é a vitória do indivíduo, da sua “Este inferno de amar - como eu amo!
visão de mundo, do seu impulso criador. É a Quem mo pôs aqui n’alma... quem foi?
exposição triunfal do homem interior em suas Esta chama me alenta e consome,
fantasias, aspirações e intuições. que é a vida - e que a vida destrói
Como é que se veio a atear.
VAGABUNDO Quando - ai quando se há de ela apagar?

Eat, drink, and love; what can the rest avail us? Eu não sei, não me lembra o passado,
(Byron, Don Juan) a outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
“Eu durmo e vivo ao sol como um cigano, Em que paz tão serena a dormir!
Fumando meu cigarro vaporoso; Oh! que doce era aquele sonhar
Nas noites de verão namoro estrelas; Quem me veio, ai de mim! despertar?
Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso! Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o Sol tanta luz!
Ando roto, sem bolsos nem dinheiro; E os meus olhos ardentes os pus.
Mas tenho na viola uma riqueza: Que fez ela? eu que fiz? - Não o sei.
Canto à lua de noite serenatas, Mas nessa hora a viver comecei... ”
E quem vive de amor não tem pobreza. (AImeida Garret)

Escrevo na parede as minhas rimas, “Oh! ter vinte anos sem gozar de leve
De painéis a carvão adorno a rua; A ventura de uma alma de donzela!
Como as aves do céu e as flores puras E sem na vida ter sentido nunca
Abro meu peito ao sol e durmo à lua”. Na suave atração de um róseo corpo
(Álvares de Azevedo) Meus olhos turvos se fechar de gozo!
Oh! Nos meus sonhos, pelas noites minhas
2. SENTIMENTALISMO Passam tantas visões sobre o meu peito!”
(Álvares de Azevedo)
O sentimento passa a ser considerado o
grande valor da vida, pois somente através dele Evasão no Espaço
consegue-se expressar o interior do indivíduo. Esta
ênfase ao lado sentimental do ser humano a) NATUREZA: o romântico vai encontrar na
culminará numa visão intimista e egocêntrica da natureza o lugar de refúgio, de tranquilidade, onde
vida cuja medida mais exata chamar-se-á “impulsos o seu espírito pode encontrar a paz. Ele verá a
do coração”. natureza como um prolongamento de seus
sentimentos e de sua alma; será sua musa e sua
confidente, participante e companheira. Ela não
mais será “apenas cenário” como era no contexto Olhos de brasas.
árcade. Naquele vale de ciprestes negros
Zunem os ventos com furor não visto...
Daquela rocha, murmurando, o rio
“É bela a noite, quando grave estende Se precipita.”
Sobre a terra dormente o negro manto (Gonçalves Dias)
De brilhantes estrelas recamado;
Mas nessa escuridão, nesse silêncio Evasão na Morte
que ela consigo traz, há um quê de horrível A morte é vista como a evasão das evasões,
que espanta e desespera e geme n’alma; como a solução definitiva para o mal de viver. O
Um quê de triste que nos lembra a morte!” poeta convive com ela, idolatra-a e vê nela a
(Gonçalves Dias) libertação da sua angústia de viver.

“Era-lhe a vida uma comédia insípida


“Oceano terrível, mar imenso Estúpida e sem graça ele a passava
De vagas procelosas que se enrolam Com a fria indiferença do marujo
Floridas rebentando em branca espuma Que fuma o seu cachimbo reclinado
Num polo e noutro polo, Na proa do navio olhando as vagas
Enfim... enfim te vejo; enfim meus olhos - Vivia por viver... porque vivia.”
Na indômita cerviz trêmulos cravo, (Fagundes Varela)
E esse rugido teu sanhudo e forte
Enfim medroso escuto!”
(Gonçalves Dias) “Pensamento gentil de paz eterna
Amiga morte, vem. Tu és o termo
b) GOSTO PELO EXÓTICO E PITORESCO: De dois fantasmas que a existência formam,
procurando novas situações, o romântico vai a - Dessa alma vã e desse corpo enfermo.
terras distantes, onde a sua imaginação e fantasia
chegam às raias do sobrenatural. As florestas Pensamento gentil de paz eterna
virgens, as paisagens orientais, os locais ermos e Amiga morte, vem. Tu és o nada,
soturnos passam a favorecer a solitária vida do Tu és a ausência das moções da vida,
romântico. Do prazer que nos custa a dor passada.

“Amo o silêncio, os areais extensos, Por isso, ó morte, eu amo-te, e não temo
Os vastos brejos e os sertões sem dia, Por isso, ó morte, eu quero-te comigo.
Porque meu seio como a sombra é triste, Leva-me à região da paz horrenda,
Porque minh’alma é de ilusões vazia.” Leva-me ao nada, leva-me contigo.”
(Fagundes Varela) (Junqueira Freire)

c) GOSTO PELAS RUÍNAS: porque elas 4. IDEALISMO - MULHER - HERÓI – MUNDO


representam a vitória da natureza sobre a ação do MULHER - é a criatura ideal, um misto de anjo,
homem. santa e mulher em torno da qual gravitam todas as
qualidades femininas: carinhosa, fiel, formosa,
d) GOSTO PELO NOTURNO: que vai de encontro prendada, centro de todas as atenções e
à atmosfera de mistério, tão a gosto romântico. A delicadezas. Figura poderosa e inatingível, capaz de
esse fato acrescentam-se as imagens de cemitérios mudar a vida do homem, de levá-Io à morte e à
solitários, paisagens enluaradas - ambiente propício loucura.
à fantasia e à imaginação, favorecidas pelo valor
que os objetos adquirem. SONETO
“Pálida, à luz da lâmpada sombria,
“Que horrenda noite!... que pavor me cerca! Sobre o leito de flores reclinada,
Por toda parte mil fantasmas se erguem Como a lua por noite embalsamada,
De espesso fumo, sem cessar vibrando Entre as nuvens de amor ela dormia!
vezes o seu corpo vergou, cedendo a retração
Era a virgem do mar, na escuma fria violenta da árvore, que voltava ao lugar que a
Pela maré das águas embalada! natureza lhe havia marcado.”
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!” (José de Alencar , O Guarani)
(Álvares de Azevedo)
MUNDO: “com que os poetas sonhavam e
construíram perfeito. Para onde pudessem fugir
HERÓI buscando lenitivo ao seu sofrimento.”
“Oh! céu de minha terra - azul sem mancha -
a) O herói romântico não se contenta com o mundo Oh! sol de fogo que me queima a fronte,
em que vive, é rebelde e desafiador. Julga-se Nuvens doiradas que correis no acaso,
diferente de outros homens, é solitário e, Névoas da tarde que cobria o monte
dificilmente, encontra lenitivo para essa revolta e
solidão. Perfumes da floresta, vozes doces,
Mansa lagoa que o luar prateia,
“Meu herói é um moço preguiçoso Claros riachos, cachoeiras altas,
Que viveu e bebia porventura Ondas tranquilas que morreis na areia.”
Como nós, meu leitor, se era formoso (Casimiro de Abreu)
Ao certo não o sei. Em mesa impura
Esgotara seu lábio fervoroso 5. ILOGISMO
Como vós e como eu a taça escura...
Era pálida sim... mas não d’estudo; A exacerbação do subjetivismo faz com que
No mais... era um devasso e disse tudo.” os românticos acreditem em si mesmos e nos
(Álvares de Azevedo) mundos que criam, guiados pela intuição, mesmo
quando essa atitude fere a lógica e a razão. Daí
b) Os países do Novo Mundo não conheceram o decorre o ilogismo, a instabilidade emocional,
medieval. Mas urgia criar um passado heroico, uma traduzida em atitudes antitéticas e paradoxais:
tradição, que sustentas se o élan nacionalista. alegria/tristeza, entusiasmo/depressão, desejo/
Descobriu-se o indígena, que passou a significar, autopunição.
para as literaturas americanas, o mesmo que o
cavaleiro medieval; o herói lendário, nobre, “Ó páginas da vida que eu amava,
altruísta, guerreiro fiel aos deveres de seu clã. Por Rompei-vos! nunca mais! tão desgraçado!...
isso, o Peri de José de Alencar se parece mais com Ardei, lembranças doces do passado!
Ivanhoé do que com os nossos sofridos tupis, Quero rir-me de tudo que eu amava!”
guaranis, etc. Salientamos também o antagonismo (Álvares de Azevedo)
existente em Peri, selvagem das matas brasileiras,
possuidor de uma força que supera os limites
humanos, mas, ao mesmo tempo, uma criatura “Quando junto de ti eu sinto às vezes
terna, amável, capaz de amar platonicamente a bela Em doce enleio desvairar-me o siso,
Ceci. Nos meus olhos incertos sinto lágrimas...

“Então passou-se sobre esse vasto deserto E por te amar, por teu desdém - perdi-me...
de água e céu uma cena estupenda, heroica, sobre- Tresnoitei-me em orgias macilento,
humana um espetáculo grandioso, uma sublime Brindei blasfemo ao vício e da minh’alma
loucura. Tentei me suicidar no esquecimento!”
Peri alucinado suspendeu-se aos cipós que (Álvares de Azevedo)
se entrelaçavam pelos ramos das árvores já
cobertas de água, e com um esforço desesperado 6. LIBERDADE DE CRIAÇÃO E
cingindo o tronco da palmeira nos seus braços DESPREOCUPAÇÃO COM A FORMA
hirtos, abalou-o até as raízes.
Três vezes os seus músculos de aço,
estorcendo-se inclinaram a haste robusta, e três
Libertando-se dos modelos clássicos, os b) Indianismo
românticos abandonam as formas fixas (são raros
os sonetos, odes, oitavas, etc.); a obrigatoriedade Foi a forma mais representativa de
da rima, valorizando o verso branco; negam e nacionalismo literário. Corresponde, no Brasil, à
fundem os gêneros literários, abandonando a busca de um legítimo antepassado nacional, já que
sistematização, impondo o desaparecimento de não possuíramos Idade Média com heróis típicos.
alguns gêneros, como a epopeia clássica, a tragédia, Por outro lado, a figura do índio foi idealizada pelos
a comédia e propiciando o surgimento de outros, escritores românticos com a finalidade de nivelar
como o drama, o romance de costumes. esse nosso antepassado ao português colonizador.
Uma conquista importante dos autores O índio romântico é sempre bom, nobre, bonito e
românticos foi a renovação e o enriquecimento da cavaleiro generoso.
língua, com a incorporação de neologismos, e a Segundo Dante Moreira Leite, o indianismo
tentativa de aproximação entre a língua literária e a tinha conteúdo ideológico. “O índio foi, no
linguagem oral e coloquial. A superação do rigor Romantismo, uma imagem do passado e, portanto,
linguístico dos clássicos possibilitou uma dicção não apresentava qualquer ameaça à ordem vigente,
mais compatível com o gosto e o entendimento do sobretudo à escravatura.
leitor da época. Os escritores, políticos e leitores
identificavam- se com esse índio do passado, ao
“Frouxo o verso talvez, pálida a rima. qual atribuíam virtudes e grandezas; o índio
Por estes meus delírios cambaleia, contemporâneo que, no século XIX, como agora,
Porém odeio o pó que deixa a lima arrastava-se na miséria e na semiescravidão, não
E o tedioso emendar que gela a veia! constituía um tema literário”.
Quanto a mim é o fogo quem anima Não podemos esquecer, ainda, que o
De uma estância o calor quando formei-a, indianismo se articulava com uma proposta
Se a estátua não saiu como pretendo, europeia mais ampla; a ideia do bom selvagem. No
Quebro-a - mas nunca seu metal emendo.” caso do Brasil, o índio representava a concretização
(Álvares de Azevedo) desse homem em estado natural, ainda não
“corrompido” pela civilização.

ROMANTISMO NO BRASIL

Além do conjunto de características comuns


ao Romantismo europeu, é possível apontar no
Romantismo brasileiro alguns traços específicos.

a) Cor local

Corresponde à utilização poética de nossa


Natureza tropical, com sua variedade de aspectos,
oposta a dos países europeus. A descrição da
paisagem local indica a tomada de consciência e a
afirmação daquilo que é característico em cada
país. Casimiro de Abreu afirma: “O filho dos trópicos
deve escrever numa linguagem propriamente sua -
lânguida, como ele, quente como o sol que o
abrasa, grande e misteriosa como as suas matas
seculares...”

Você também pode gostar