Fônons e Vibrações Da Rede
Fônons e Vibrações Da Rede
Fônons e Vibrações Da Rede
Vibrações Cristalinas
7.1 - Falhas do Modelo de Íons Estáticos
1
A forma deste termo se justifica pois em um isolante os elétrons precisam ser excitados termicamente
com energias acima da energia do gap (Eg) para contribuírem para o calor específico.
2
Veja o Capítulo 21 do Ashcroft.
130
acoplado, com duas massas idênticas M e constantes elásticas K, como mostrado na
(0) (0)
Fig. 7.1. As posições de equilíbrio das massas são 𝑥1 e 𝑥2 e os deslocamentos a
partir do equilíbrio são designados por 𝑢1 e 𝑢2 , respectivamente.
1 2
K K K
M M
(0)
𝑥1 𝑥2
(0) x
Note que o termo (u1 – u2)2 dá origem aos termos cruzados que acoplam os dois
osciladores e tornam difícil a solução do problema. Podemos também analisar as forças
restauradoras (Lei de Hooke) que atuam em cada uma das massas:
Note que estas equações podem ser escritas de form mais concisa se definirmos um
vetor F com duas componentes: 𝐅 = (𝐹𝐹1 ), e analogamente para os deslocamentos a
2
partir do equilíbrio: 𝐮 = (𝑢𝑢1). Usando esta notação, a Eq. (7.01) fica na forma de uma
2
equação matricial:
𝑭 = −𝜱 ⋅ 𝒖 , (7.03)
onde
3
Ou matriz de derivadas segundas, ou ainda matriz Hessiana.
131
𝑢1 +𝑢2 𝑢1 −𝑢2
𝑞1 = ; 𝑞2 = . (7.05)
√2 √2
Tais modos normais são obtidos pela diagonalização da MCF (são seus autovetores),
mas neste exemplo simples eles podem ser escritos apenas recordando a noção de que
o problema de dois corpos se resolve com a mudança para a coordenada do centro-de-
massa e coordenada relativa. Assim, podemos verificar que a hamiltoniana pode ser
reescrita como:
E= 1
2
Mq12 + 12 M 12 q12 + 12 Mq 22 + 12 M 22 q 22 , (7.06)
U = U (r) (7.1)
rR , τ = rR0 , τ + u R , τ . (7.2)
O deslocamento é pequeno o suficiente para que o átomo i não perca sua "identidade",
ou seja, cada átomo permanece mais próximo de suas própria posição de equilíbrio
original do que de qualquer outra. Estamos considerando portanto pequenas vibrações
4
Iremos supor conhecida a energia potencial, sem entrarmos em considerações sobre como ela é
calculada. Na verdade, este pode ser um problema bem complicado computacionalmente.
132
em torno das posições de equilíbrio, e não deslocamentos arbitrariamente grandes. Este
fato está ilustrado na Fig. 7.2.
R+τ
r
Figura 7.2 - Os círculos brancos representam os sítios da rede R + τ (posições de equilíbrio) e os círculos
pretos são as posições atômicas instantâneas r.
Vamos agora calcular a energia potencial neste caso. Antes, vamos simplificar
por um momento a notação, como fizemos também no caso do oscilador duplo,
definindo r, R e u como vetores de 3N coordenadas:
U (r ) = U (r 0 + u) = U (r 0 ) + (u )U 0 + 12 (u ) 2 U 0 + (7.4)
segundo termo é
U U
(u )U = u1 + + u3 N =0 , (7.5)
u1 u 3 N
0
0
ou seja, o segundo termo é nulo pela própria definição de equilíbrio, onde as derivadas
primeiras se anulam. O terceiro termo será
133
1
1
(u ) 2 U = u1 + + u3N u1 + + u3N U =
2 0
2 u1 u 3 N u1 u 3 N 0
1 2U
= u
2 =1,,3 N u u
u
(7.6)
=1,, 3 N
0
2U 2U
u1u1 0 u1u 3 N 0
(7.7)
Φ=
2U U 2
u 3 N u1 0 u 3 N u 3 N 0
U = U 0 + 12 u Φ u . (7.8)
5
Novamente, no produto matricial u.Φ.u, o vetor deslocamento do lado direito é um vetor coluna
(N1) e o vetor do lado esquerdo é seu transposto (N1), de modo que o resultado da operação u.Φ.u é
um escalar.
134
onde cada componente F é dada por F = − U u . Em notação matricial6:
− U
F= = −Φ u . (7.10)
u
− F F
= − . (7.11)
u 0
u
As Equações (7.10) e (7.11) mais uma vez têm uma analogia clara com o oscilador
harmônico simples (F = - kx). Novamente, a Fig. 7.3 pode ser usada para interpretar
este resultado: realizamos um deslocamento infinitesimal δuν em um certo
átomo/direção ν e isto causa uma força δFµ em outro átomo/direção µ. A razão entre
essas duas quantidades (com o sinal de menos) é o elemento Φ da MCF. Usaremos
esta definição como um método prático para o cálculo da MCF nos exemplos que virão
a seguir.
Φ
Figura 7.3 – Interpretação física da constante de força Φ. Note que os índices e se referem não apenas
a átomos do cristal, mas também a direções de deslocamentos atômicos.
2U 2U
= = = . (7.12)
u u 0
u u 0
Note que, pela definição (7.11), isto implica que a força sentida (pelo átomo na direção)
quando se realiza um deslocamento infinitesimal (do átomo na direção) , é a mesma
força sentida (pelo átomo na direção) quando se realiza um deslocamento
infinitesimal (do átomo na direção) .
6
Tente mostrar o resultado da segunda igualdade. Para isso, use o fato que a matriz Φ é simétrica, ou
seja, Φ = Φ , que mostraremos a seguir.
135
(2) Regra de soma acústica: A soma dos elementos de uma linha (ou coluna)
de Φ é igual a zero. Isto pode ser demonstrado da seguinte maneira. Façamos um
deslocamento u = d idêntico para todos os átomos e direções. A força resultante deve
ser nula, pois a posição relativa dos átomos não se alterou. Assim, temos
d 0
11 + 12 +
F = −Φ u = −Φ d = −d = 0 , (7.14)
como queríamos demonstrar. Este resultado pode ser visto também como uma
conseqüência da 3a Lei de Newton: vamos supor que o átomo/direção 1 é deslocado por
uma distância d. O vetor força resultante será:
d 11 F1
F = −Φ u = −Φ 0 = −d 21 = F2 (7.15)
Como não existem forças externas, a força sentida pelo átomo/direção 1 deve cancelar
exatamente a soma das forças sentidas pelos demais átomos: F = 0 , o que implica
em
1 = 0 , ou seja a soma dos elementos da primeira coluna é zero. O mesmo
136
1
u R , (t ) =
Mτ
εˆ (k )e
k
i k R − (k )t
. (7.18)
1
q k (t ) = εˆ τ (k )e i k R − (k )t . (7.19)
M
u R , = u R + Niai , , (7.20)
n1 n n
k= b1 + 2 b 2 + 3 b 3 , (7.21)
N1 N2 N3
onde bi são os vetores primitivos da rede recíproca e ni são inteiros. Estes são
exatamente os mesmos k's permitidos para os estados eletrônicos, e estão também
restritos à 1a ZB.
Nosso objetivo agora é encontrar as frequências dos modos normais e os vetores
de polarização. Substituindo a expressão (7.19) na equação de movimento (7.17),
obtemos:
7
Soluções mais gerais podem sempre ser escritas como uma combinação linear de modos normais.
137
Agora, de maneira semelhante ao que fizemos na Eq. (7.3) para os índices generalizados
(R, τ, ) , vamos definir novos índices generalizados i (τ, ) e j (τ , ) . Esses
novos índices combinam as coordenadas cartesianas e as posições dos átomos da base
em um único índice. Assim, i e j percorrem valores de 1 a 3p. Usando esta nova notação,
A Eq. (7.23) se simplifica:
onde
1
Dij (k ) =
MiM j
R
Ri , R j e −ik ( R −R) (7.25)
K K K K K K K
…
1 a 2 3 N 1
Figura 7.4 – Cristal unidimensional de parâmetro de rede a com condições de contorno periódicas e
interação harmônica entre 1os vizinhos.
8
Note que D(k) não depende de R, já que, devido à simetria de translação, os elementos da matriz de
constantes de força dependem apenas da posição relativa entre os átomos. Por simplicidade, poderíamos
escolher R=0, por exemplo.
9
Ao invés de diagonalizar uma matriz (3N3N), precisamos apenas diagonalizar uma matrix (3p3p)
para cada um dos N k's na 1a ZB.
138
Neste caso mais simples, os índices generalizados µ e ν indicam apenas as
coordenadas da célula unitária, ou seja, 𝜇 ≡ 𝑅 e 𝜈 ≡ 𝑅′. Vamos calcular a matriz de
constantes de força. Em 1 dimensão, a matriz terá NN elementos:
𝜕2𝑈 𝛿𝐹
𝛷𝑅,𝑅′ = 𝜕𝑢 | ≈ − 𝛿𝑢 𝑅 , (7.26)
𝑅 𝜕𝑢𝑅′ 0 𝑅′
−2𝐾𝛿𝑢𝑅′ , se 𝑅 = 𝑅′
𝛿𝐹𝑅 = {𝐾𝛿𝑢𝑅′ , se 𝑅 = 𝑅′ ± a . (7.27)
0, qualquer outro 𝑅
uR’
K K
R’ - a R’ R’+a
Figura 7.5 – Um deslocamento infinitesimal no átomo produz forças apenas nos seus vizinhos mais
próximos e nele mesmo.
2K −K 0 0 0 − K
− K 2K −K 0 0 0
0 −K 2K −K 0 0
Φ= 0 0 −K 2K 0 0 . (7.28)
−K 0
0 0 0 0 0 2K − K
− K −K 2 K
0 0 0 0
4𝐾 𝑘𝑎
𝐷(𝑘) = sen2 ( 2 ) . (7.29a)
𝑀
139
Neste caso, a matriz dinâmica é igual ao próprio autovalor 2 . Podemos então
facilmente encontrar as frequências dos modos normais:
𝐾 𝑘𝑎
𝜔 = 2√𝑀 |sen ( 2 )| . (7.30)
Este resultado está mostrado no gráfico da Fig. 7.6. Note que, no limite 𝑘 → 0 (longos
comprimentos de onda), a relação de dispersão é linear (𝜔 = 𝑐𝑘) , indicando uma onda
(sonora) com velocidade c, como veremos a seguir.
(k)
-/a /a k
Figura 7.6 – Frequências dos modos normais de um cristal monoatômico unidimensional para k na 1a Zona
de Brillouin.
onde 𝑅 = 𝑛𝑎 (com n inteiro) são as posições atômicas. Vamos analisar alguns destes
deslocamentos (em t = 0).
(a) k = 0
(b) k = /a
(c) k qualquer
= 2/k
Figura 7.7 – Alguns modos normais. (a) Para k = 0, modo de translação. (b) Para k = /a, onda estacionária
com átomos se movendo em oposição de fase com seus vizinhos. (c) Modo com vetor de onda k qualquer.
140
um todo, não representando portanto um movimento de vibração. Assim pode-se
entender porque a frequência deste modo é nula, (0)=0: como não há deslocamentos
relativos entre os átomos, o modo de translação tem energia potencial nula. Isto pode
ser visto também como uma consequência da regra de soma acústica que estudamos
anteriormente.
d K ka
vg = =a cos (7.32)
dk M 2
e está mostrada na Fig. 7.8. Note que vg vai a zero para k = /a, como se espera de uma
onda estacionária. Note também, como dissemos anteriormente, que vg se aproxima de
uma constante no limite k → 0 , indicando que a relação de dispersão é
aproximadamente linear na origem, ou seja, ck , com c = a K M . A constante c
é a velocidade da onda elástica no limite k → 0 . Isto nada mais é do que a velocidade
do som no cristal, já que ondas sonoras são ondas elásticas longitudinais com
comprimento de onda muito grande comparado com as distâncias interatômicas. A
teoria de vibrações harmônicas é portanto capaz de prever, a partir de quantidades
microscópicas como a massa, constante de mola e parâmetro de rede, uma grandeza
macroscópica mensurável como a velocidade do som.
vg
/a k
Figura 7.8 – Velocidade de grupo em função do vetor de onda.
141
Neste caso, para determinar a MCF, será mais conveniente usar a notação menos
concisa em que deixamos explícito que os índices da MCF indicam a posição da célula
unitária e do átomo da base: (R, τ, ) . Especificamente, para este sistema
bidimensional, podemos ignorar o índice α que indica as coordenadas cartesianas. Desta
forma, os elementos da MCF são:
𝜕2𝑈
𝛷𝑅𝜏,𝑅′ 𝜏′ = 𝜕𝑢 | , (7.33)
𝑅𝜏 𝜕𝑢𝑅′ 𝜏′
0
Mais uma vez consideramos interações harmônicas entre 1os vizinhos com uma
constante de mola K. Desta forma, os únicos elementos não-nulos da matriz de
constantes de força são
2K (M 1 + M 2 ) 2 2K 2
4 − + (1 − cos ka ) = 0 , (7.38)
M 1M 2 M 1M 2
Vemos portanto que, para cada k, há duas soluções (k ) , desenhadas na Fig. 7.10. As
diferentes soluções são conhecidas como ramos (analógos às bandas eletrônicas).
142
(k)
ramo 0
ótico
gap
ramo
acústico
= ck
-/a /a k
Figura 7.10 – Ramos de fônons para um cristal unidimensional com dois átomos distintos por célula
unitária.
2K (M 1 + M 2 )
0 = (ramo ótico)
M 1M 2 (7.40)
.
K
a k = ck (ramo acústico)
2( M 1 + M 2 )
Vemos novamente a presença de uma solução com relação de dispersão linear = ck
na vizinhança de k=0, associada à propagação de ondas sonoras e portanto denominada
ramo acústico. Além destas, há soluções cuja frequência não vai a zero na origem e
sim a uma constante 0. Estas soluções fazem parte do ramo ótico. Esta denominação
pode ser melhor entendida se analisarmos os vetores de polarização. O ramo acústico
corresponde a autovalores tais que 1 = 2 em k = 0 (verifique!), ou seja, para pequenos
comprimentos de onda (na vizinhança da origem) os deslocamentos de átomos
pertencentes à mesma célula unitária estão no mesmo sentido, como mostra a Fig.
7.11(a). Já o ramo ótico corresponde a autovalores 1 = − 2 em k = 0, ou seja,
deslocamentos contrários de átomos na mesma célula, como mostram as Fig. 7.11(b).
Na borda da Zona de Brillouin (k = /a), um dos átomos vibra, enquanto o outro
permanece parado, como mostraremos na lista de exercícios, de modo que as
freqüências são (2 K M 1 ) (átomo M1 vibrando) ou (2 K M 2 )
1/ 2 1/ 2
(átomo M2
vibrando) como mostram as Fig. 7.11(c) e 7.11(d). Em cristais iônicos, onde além de
terem massas distintas os átomos (íons) têm cargas opostas, estes deslocamentos em
sentido contrário podem ser excitados por um campo elétrico da luz, por exemplo. Por
isso a denominação “ramo ótico”. As frequências de vibração típicas estão na faixa do
infra-vermelho. Isto faz com que a espectroscopia de absorção no infra-vermelho seja
uma das técnicas mais poderosas para o estudo das vibrações cristalinas em sólidos.
143
(a) Acústico, k = 0
M1 M2 M1 M2 M1 M2 M1 M2
(b) Ótico, k = 0
M1 M2 M1 M2 M1 M2 M1 M2
Acústico, k = /a
(c)
M1 M2 M1 M2 M1 M2 M1 M2
LA
TA
TA
k
Figura 7.12 – Os 3 ramos acústicos de um cristal tridimensional com 1 átomo por célula unitária.
144
k
Ramos óticos
Ramos acústicos
145
Considere um cristal com Ncel células unitárias e p átomos na base, contendo
portanto um total de N = Ncel × p átomos. Por simplicidade, consideremos todos os
átomos com a mesma massa M. Pela notação desenvolvida no início da Seção 7.2 (veja
a Eq. (7.3)), o vetor deslocamento u tem 3N coordenadas, e a MCF tem dimensões (3N
× 3N). Podemos escrever, dentro da aproximação harmônica, a energia total (cinética +
potencial) deste sistema como:
E = T +U = 1
2
u
Mu + U 0 + 12 u Φ u (7.41)
N cel 3 p
E = U 0 + 12 Mq k2s + 12 M s2 (k )qk2s . (7.45)
k =1 s =1
E = 3Nk B T . (7.46)
1 E
c= = 3nk B , (7.47)
V T
146
c
3nkB discrepância
clássica
discrepância
quântica
T
c ~ T3
7.5 – Fônons
E n = (n + 1
2
) , (7.48)
n=2
n=1
n=0
x
Como foi visto na última Seção, nosso cristal pode ser considerado, dentro da
aproximação harmônica, como um sistema de 3N osciladores harmônicos
desacoplados, com freqüências s(k). Assim, para cada modo normal (k,s), as energias
permitidas são:
(7.50)
147
E = U 0 + E nks = U 0 + (nks + 1
2 ) s (k )
k ,s k ,s
O número quântico nks indica em que estado excitado está o modo normal com vetor
de onda k do ramo s. As energias de cada modo normal são quantizadas, ou seja, passa-
se de um nível para outro apenas através da absorção ou emissão de uma excitação
elementar de vetor de onda k e energia s (k ) , sugerindo portanto uma natureza
“corpuscular”. Um fônon é então um quantum de energia elástica, da mesma forma que
um fóton é um quantum de energia eletromagnética. Desta forma, em vez de dizer “o
modo normal do ramo s com vetor de onda k está no estado excitado nks”, diz-se que
“há nks fônons do ramo s com vetor de onda k no cristal”. De modo idêntico ao oscilador
harmônico simples, o número de fônons está relacionado à “amplitude” de vibração do
modo normal.
Para investigarmos agora as propriedades térmicas do cristal quântico, temos
que calcular o número médio de fônons em um certo modo normal, <nks>, em função
da temperatura. A probabilidade de que o modo esteja no estado nks é dada pelo fator
de Boltzmann:
− Enks
e
p(nks ) = , (7.51)
e
− Enks
nks
n n
− Enks − nks s ( k )
ks e ks e
nks = =
nks nks
’ (7.52)
e e
− Enks − nks s ( k )
nks nks
1 − nks s ( k )
nks = − ln e . (7.53)
ks nks
1
Usando o resultado da soma de uma progressão geométrica: x
n =0
n
=
1− x
se
− s (k )
x<1, onde x = e , obtemos finalmente
1
nks = s ( k )
. (7.54)
e −1
10
Para os que já viram este tópico em Física Estatística, ambos são bósons com potencial químico nulo,
ou seja, sem restrição no número de partículas.
148
1 1 s (k )
u = u0 +
V ks 2 s (k ) +
1
V ks e s ( k )
−1
. (7.55)
1 s (k )
c=
V T
e
ks
s (k )
−1
. (7.56)
Como se nota, um cálculo exato do calor específico não é nada simples, pois envolve
um somatório (que eventualmente transformaremos em uma integral) sobre todos os
k’s permitidos na 1a Zona de Brillouin de uma função complicada. Note que uma
expressão analítica para s(k) só existe em situações extremamente idealizadas, como
as que vimos na Seção 7.2. Ainda assim, utilizando argumentos gerais e algumas
aproximações, podemos extrair muitos resultados físicos da expressão (7.56), como
veremos a seguir.
1 1
lim = (7.57)
x →0 e − 1
x
x
1 𝜕 ℏ𝜔 (𝒌) 1 3𝑁
𝑐 = 𝑉 𝜕𝑇 ∑𝒌𝑠 𝛽ℏ𝜔𝑠 (𝒌) = 𝑉 ∑𝒌𝑠 𝑘𝐵 = 𝑘𝐵 = 3𝑛𝑘𝐵 , (7.58)
𝑠 𝑉
149
é o chamado modelo de Einstein, de 1907. Einstein foi o primeiro a aplicar a mecânica
quântica ao problema do calor específico de sólidos11. Sua suposição foi que todos os
modos normais teriam a mesma freqüência, s (k ) = E (frequência de Einstein), uma
aproximação que pode ser considerada um pouco drástica, como mostra a Fig. 7.17.
(k)
E
-/a /a k
Figura 7.17 – Modelo de Einstein para um cristal unidimensional diatômico. A relação de dispersão s(k)
é substituída por uma frequência “média” E.
1 E (
E 3n E e E k BT E k B T
2
)=
c= = 3n
T e E k BT − 1
=
V T ks e
E
−1 (
e E k BT − 1 )
2
e E k BT
( E k BT )
2
(7.59)
= 3nk B
(e E k BT
)
−1
2
ou seja, o calor específico vai realmente a zero a baixas temperaturas, mas não com
forma ~ T3 que é medida experimentalmente. Esta discrepância é consequência da
aproximação s (k ) = E , como veremos a seguir.
11
De fato, este trabalho de Einstein foi o primeiro a utilizar a Mecânica Quântica na área de Física da
Matéria Condensada como um todo!
150
(k)
kBT / ħ
-/a /a k
Figura 7.18 – Os modos normais significativamente populados com fônons são apenas aqueles com energia
menor ou da ordem de kBT. Para baixas temperaturas, estes são os modos acústicos.
Para fônons acústicos, uma aproximação mais conveniente seria utilizar uma
relação de dispersão linear, ou seja, s (k ) = ck . Este é o modelo de Debye,
desenvolvido por Peter Debye em 1912. Iremos supor, por simplicidade, que a
velocidade do som c é a mesma para os três ramos acústicos. Desta forma, a expressão
(7.56) para o calor específico torna-se
1 3 V D
k
ck ck
c= ck
= 3
V T ks e − 1 V T (2 ) 0
4k 2 ck
e −1
dk , (7.59)
onde efetuamos a soma apenas sobre os 3 ramos acústicos (deixamos de lado os modos
óticos). Definimos o limite superior da integral como um certo vetor de onda kD. Como
obtê-lo? Idealmente, teríamos que efetuar a integral dentro da 1a Zona de Brillouin, que
pode ter uma forma geométrica complicada. Por simplicidade, e aproveitando a simetria
esférica do integrando, faremos a integral em uma esfera de raio kD. Como veremos a
seguir, o formato exato do volume de integração não irá importar muito para as
propriedades a baixas temperaturas, para as quais apenas os modos em torno de k = 0
irão contribuir. Mas devemos garantir que a esfera de integração contenha o mesmo
número de pontos k permitidos dentro da 1a Zona de Brillouin, ou seja, Ncel. Isto define
o valor de kD, que é conhecido como vetor de onda de Debye:
13
4 3 (2 ) 3 6N 2
k D = N cel k D = cel . (7.60)
3 V V
151
3 V 3c
k kD
D
ck 3 k3
c=
V T (2 ) 3
4
0 e
ck
−1
dk =
2 2 T e
0
ck
−1
dk =
k 3 e ck
kD
3c ck
=
2 2 0 (e ck − 1) 2 k BT 2 dk . (7.61)
ck
Definindo x = , e fazendo a substituição de variáveis, temos
k BT
D / T 3
3c k B k BT x 4 e x
c=
2 2
0
c c (e x − 1) 2
dx , (7.62)
ck D
onde D = é a temperatura de Debye. Podemos reescrever a expressão (7.62)
kB
de modo que a temperatura de Debye apareça mais explicitamente (verifique!):
3 /T
T D
x 4e x
c = 9nk B
D
0 (e x − 1) 2
dx . (7.63)
Note que a dependência do calor específico com a temperatura sempre aparece na forma
T / D , de modo que a temperatura de Debye define a escala de temperaturas relevante
ao problema. Assim, no limite de temperaturas baixas, ou seja, T D , podemos
estender o limite de integração até :
3
T x 4e x
c = 9nk B
D
0 (e x − 1) 2 dx . (7.64)
A integral definida pode ser resolvida, e seu valor é 4 4 15 . Desta forma, obtemos
finalmente a expressão do calor específico para baixas temperaturas:
3
12 4 T
c= nk B . (7.65)
5 D
152
Material D (K)
Li 400
Na 150
C 1860
Ar 85
Ne 63
153
Por simplicidade, vamos considerar o modelo de Einstein, que descrevemos na
Seção anterior. Os resultados principais que vamos obter poderão ser generalizados
para modelos mais realistas da dispersão de fônons. Nossa abordagem será feita a partir
da aproximação quase-harmônica, que é uma maneira conveniente do ponto de vista
matemático de introduzir os efeitos anarmônicos. Nesta aproximação, introduzimos
uma dependência das constantes de força K com a distância interatômica a (veja por
exemplo a Fig. 7.4, para um modelo 1D). Em uma mola anarmônica, a constante de
mola diminui quando a ligação química é esticada, ou seja, a ligação química se
enfraquece quando esticada, mas continuamos utilizando as expressões que obtivemos
na aproximação harmônica, apenas modificando as frequências dos modos normais.
Como as frequências dos fônons estão ligadas diretamente às constantes de mola (𝜔 ∝
√𝐾), tais frequências (e, consequentemente, a frequência efetiva de Einstein 𝜔𝐸 )
também diminuem quando o cristal se expande. Vamos modelar este decréscimo de
forma linear com a variação de volume ∆𝑉 = 𝑉 − 𝑉0 :
∆𝑉
𝜔𝐸 (𝑉) = 𝜔𝐸0 (1 − 𝛾 𝑉 ) , (7.66)
0
3 ℏ𝜔 (𝑉)
𝐸(𝑉, 𝑇) = 𝑈0 (𝑉) + 2 𝑁ℏ𝜔𝐸 (𝑉) + 3𝑁 exp(𝛽ℏ𝜔𝐸 . (7.67)
𝐸 (𝑉))−1
1 (𝑉−𝑉0 )2
𝐸0 (𝑉) = 𝐸0 (𝑉0 ) + 2 𝐵 , (7.69)
𝑉0
154
Já podemos perceber o efeito de expansão térmica, concretizado no segundo termo da
Eq. (7.69), que descreve o aumento no volume do cristal devido à temperatura.
1 𝑑𝑉 ∗
Podemos obter então o coeficiente de expansão térmica 𝛼 = 𝑉 𝑑𝑇 :
0
2
ℏ𝜔0 𝛾
𝛼 = 3𝑛𝑘𝐵 ( 𝑘 𝑇𝐸 ) exp(−𝛽ℏ𝜔𝐸0 ) . (7.69)
𝐵 𝐵
1 (7.71)
𝒖𝒌 (𝑹, 𝑡) = 𝜺̂(𝒌)𝑒 𝑖(𝒌⋅𝑹−𝜔𝑡)
√𝑀
Qual o momento linear total deste cristal? Basta somar os momentos lineares de todos
os átomos:
𝑑 0, se 𝐤 ≠ 0
𝑷𝑡𝑜𝑡 = 𝑀 ∑𝑹 𝒖𝒌 (𝑹, 𝑡) = −𝑖𝜔√𝑀𝑒 −𝑖𝜔𝑡 𝜺̂ ∑𝑹 𝑒 𝑖𝒌⋅𝑹 = { . (7.72)
𝑑𝑡 𝑁, se 𝐤 = 0
Ou seja, um fônon com k0 não carrega momento físico. Isto se justifica, pois os
deslocamentos u são deslocamentos relativos. Apenas os modos de translação (k=0),
que representam translações do cristal como um todo, carregam momento físico.
Apesar disso, pode-se mostrar12 que a quantidade k atua como momento linear
do fônon nos processos de interação deste com fótons ou nêutrons, e por isso tem
relevância e recebe a denominação momento cristalino do fônon (de forma bastante
análoga ao momento cristalino do elétron, que vimos no Capítulo 5). Estes mecanismos
são extremamente importantes porque propiciam informação experimental direta sobre
o espectro de fônons. Nestes processos, as conservações do momento e da energia se
escrevem da seguinte forma:
12
Apêndice M do Ashcroft-Mermin.
155
p − p = (k + G ) (7.73)
,
E − E = s (k )
p p
p’ p’
criação destruição
Referências:
- Ashcroft e Mermin, Capítulos 21 a 24.
- Kittel, Capítulos 4 e 5.
- Ibach e Lüth, Capítulos 4 e 5.
156