O Inventariante Ou Administrador Do Espólio

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O Inventariante ou

Administrador
do Espólio

Prof.ª Amanda Kathleen Harrison


Prof.ª Livia Regina de Figueiredo
Prof. Paulo Roberto de Souza Junior
Prof. Pedro Henrique Nascimento Zanon

Indaial – 2021
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021

Elaboração:
Prof.ª Amanda Kathleen Harrison
Prof.ª Livia Regina de Figueiredo
Prof. Paulo Roberto de Souza Junior
Prof. Pedro Henrique Nascimento Zanon

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

H318o

Harrison, Amanda Kathleen

O inventariante ou administrador do espólio. / Amanda


Kathleen Harrison; Livia Regina de Figueiredo; Paulo Roberto de Souza
Junior; Pedro Henrique Nascimento Zanon. – Indaial: UNIASSELVI, 2021.

144 p.; il.

ISBN 978-65-5663-825-6
ISBN Digital 978-65-5663-826-3

1. Gestão do inventário. – Brasil. I. Harrison, Amanda Kathleen. II.


Figueiredo, Livia Regina de. III. Souza Junior, Paulo Roberto de. IV. Zanon,
Pedro Henrique Nascimento. V. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 340

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
A disciplina que se inicia tem, como eixo principal, o estudo sobre o
inventariante ou o administrador do espólio. Através dessa abordagem, visamos
demonstrar a função e a necessidade do inventariante dentro do processo
de inventário, como esse administrador perde a função dele, devido ao não
cumprimento das próprias responsabilidades.
O inventário é um procedimento de jurisdição voluntária, já que não
há autor e réu, integrando, assim, o rol de procedimentos especiais. Esse
procedimento poderá ser realizado via judicial ou via extrajudicial.
O inventariante terá atribuições comuns e especiais. Com relação às
atribuições comuns, o Art. 618, do CPC de 2015, enumera as atribuições que
deverão ser praticadas, de ofício, pelo inventariante, como representar o espólio
ativa e passivamente; já as atribuições especiais estão previstas no Art. 619, do
CPC de 2015, e dependem dos demais herdeiros e de autorização judicial.
O referido inventariante não possui direito à remuneração, salvo os que
forem nomeados como inventariantes dativos (os herdeiros e sucessores “de
cujus” serão autores ou réus nas ações nas quais o espólio for parte).
Na Unidade 1, estaremos verificando a diferença dos inventários judicial
e extrajudicial, além do formato e da aplicabilidade de cada um, quem será o
representante do espólio na condução do processo, incumbências, perigo, e
prestações de conta.
Na Unidade 2, abordaremos a nomeação do inventariante, a ordem de
escolha deste, o termo de compromisso e de primeiras declarações e o conceito
e os casos da impugnação.
Na Unidade 3, estudaremos o inventariante e a responsabilidade dele
na condução do inventário, a troca, a destituição, a remoção e a sonegação de
bens do inventariado.
Prof.ª Amanda Kathleen Harrison
Prof.ª Livia Regina de Figueiredo
Prof. Paulo Roberto de Souza Junior
Prof. Pedro Henrique Nascimento Zanon
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livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a
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SUMÁRIO
UNIDADE 1 - DO INVENTARIANTE OU ADMINISTRADOR DO ESPÓLIO E DA NOMEAÇÃO
DO INVENTARIANTE: INCUMBÊNCIAS DO INVENTARIANTE DA
PRESTAÇÃO DE COMPROMISSO...................................................................... 1

TÓPICO 1 - INVENTÁRIO E PARTILHA: JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL.................................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................3
2 INVENTÁRIO E PARTILHA: JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL.................................................4
2.1 INVENTÁRIO JUDICIAL .........................................................................................................................8
2.2 INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL .........................................................................................................12
RESUMO DO TÓPICO 1.......................................................................................................... 17
AUTOATIVIDADE................................................................................................................... 18

TÓPICO 2 - ADMINISTRADOR PROVISÓRIO E INVERTARIANTE: PERIGOS E


VANTAGENS DA NOMEAÇÃO............................................................................ 21
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 21
2 ADMINISTRADOR PROVISÓRIO E INVENTARIANTE: PERIGOS E VANTAGENS
DA NOMEAÇÃO.................................................................................................................. 22
2.1 ADMINISTRADOR PROVISÓRIO.........................................................................................................22
2.2 INVENTARIANTE: PERIGOS E VANTAGENS DA NOMEAÇÃO ........................................... 25
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................... 29
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 30

TÓPICO 3 - INVENTARIANTE: PRESTAÇÃO DE COMPROMISSOS E INCUBÊMCIAS........ 33


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 33
2 INVENTARIANTE: PRESTAÇÃO DE COMPROMISSO E INCUMBÊNCIA........................... 33
2.1 PRESTAÇÃO DE COMPROMISSO.......................................................................................................34
2.2 INCUMBÊNCIA ..................................................................................................................................... 37
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................. 40
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................... 45
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 46

REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 48

UNIDADE 2 — DAS PRIMERIAS DECLARAÇÕES DO INVENTARIANTE DO TERMO


CIRCUNSTANCIADO...................................................................................... 51

TÓPICO 1 — NOMEAÇÃO DO INVENTARIANTE E ORDEM DE PREFERÊNCIA.................... 53


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 53
2 NOMEAÇÃO DO INVENTARIANTE.................................................................................... 54
3 ORDEM DE PREFERÊNCIA PARA A ESCOLHA DO INVENTARIANTE...............................59
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................... 64
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 65

TÓPICO 2 - TERMOS DE COMPROMISSO E TERMOS DAS PRIMEIRAS DECLARAÇÕES...........67


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................67
2 FUNÇÃO TERMO DE COMPROMISSO E TERMO DAS PRIMEIRAS DECLARAÇÕES.........67
3 DIFERENÇAS E UTILIZAÇÃO DO TERMO DE COMPROMISSO E DO TERMO
DAS PRIMEIRAS DECLARAÇÕES......................................................................................75
3.1 REMOÇÃO DO INVENTARIANTE........................................................................................................ 77
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................... 80
AUTOATIVIDADE................................................................................................................... 81

TÓPICO 3 - PRIMEIRAS DECLARAÇÕES E IMPUGNAÇÃO................................................. 83


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 83
2 PRIMEIRAS DECLARAÇÕES............................................................................................. 83
3 IMPUGNAÇÃO DAS PRIMEIRAS DECLARAÇÕES............................................................ 86
3.1 DO HERDEIRO PRETERIDO................................................................................................................ 88
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................. 90
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................... 94
AUTOATIVIDADE...................................................................................................................95

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................97

UNIDADE 3 — DA SONEGAÇÃO, DA REMOÇÃO E DA TROCA DO INVENTARIANTE...........99

TÓPICO 1 — SONEGAÇÃO DE BENS PELO INVENTARIANTE............................................. 101


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 101
2 BENS DO ESPÓLIO E SONEGAÇÃO POR PARTE DO INVENTARIANTE.......................... 101
3 RESPONSABILIDADES DO INVENTARIANTE PELA SONEGAÇÃO DE BENS.................106
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................108
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................109

TÓPICO 2 - DESTITUIÇÃO E REMOÇÃO DO INVENTARIANTE...........................................111


1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................111
2 DESTITUIÇÃO E REMOÇÃO DO INVENTARIANTE: CONCEITO, DIFERENÇAS
E HIPÓTESES....................................................................................................................111
3 RESPONSABILIDADES DO INVENTARIANTE E HIPÓTESES DE REMOÇÃO.................. 115
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................123
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................124

TÓPICO 3 - TROCA DO INVENTARIANTE E CONSEQUÊNCIAS DENTRO DO INVENTÁRIO..........127


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 127
2 MOTIVOS DA TROCA DO INVENTARIANTE..................................................................... 127
3 CONSEQUÊNCIAS NO INVENTÁRIO DEVIDO À TROCA DO INVENTARIANTE............... 131
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................136
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................ 141
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................142

REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 144
UNIDADE 1 -

DO INVENTARIANTE OU
ADMINISTRADOR DO
ESPÓLIO E DA NOMEAÇÃO
DO INVENTARIANTE:
INCUMBÊNCIAS DO
INVENTARIANTE DA PRESTAÇÃO
DE COMPROMISSO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender a diferença entre os inventários judicial e extrajudicial;

• conhecer a função do administrador provisório;

• verificar as vantagens da nomeação do inventariante;

• analisar os perigos da escolha do inventariante.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com
o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – INVENTÁRIO E PARTILHA: JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL


TÓPICO 2 – ADMINISTRADOR PROVISÓRIO E INVENTARIANTE: PERIGOS E
VANTAGENS DA NOMEAÇÃO
TÓPICO 3 – INVENTARIANTE: PRESTAÇÃO DE COMPROMISSOS E INCUMBÊNCIAS

CHAMADA
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1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!

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2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
INVENTÁRIO E PARTILHA: JUDICIAL E
EXTRAJUDICIAL
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos as diferenças entre os inventários judicial
e extrajudicial, a função de cada um e quando serão utilizados.

Importante mencionar que haverá a transferência imediata da posse e do


domínio da posse dos bens e das dívidas aos herdeiros pelo falecimento do “de cujus”,
exceto aos legatários que receberão a posse, apenas, após a partilha.

A herança é o conjunto de direitos e de obrigações que representam a herança


do “de cujus”. Esse acerco que advém da herança é composto do acervo hereditário,
chamado de espólio, o qual representa a massa de bens do falecido, por isso, não é
dotado de personalidade jurídica.

A materialização do recebimento da herança será realizada mediante o


processamento do inventário e da partilha, que segue o princípio “droit de saisine”,
adotado pelo Código Civil brasileiro e representado pelo Art. 1.784: “Aberta a sucessão, a
herança se transmite, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários”.

Essa herança é tida como um bem imóvel para efeitos legais (Art. 80, II, do Código
Civil de 2002), que se refere a um todo unitário mesmo com vários herdeiros (Art. 1971, do
Código Civil de 2002), seguindo até a partilha das normas relativas ao condomínio, em
relação à propriedade e à posse (§ único do Art. 1971, do Código Civil de 2002).

A transmissão sucessória dessa herança é realizada, formalmente, através de


um processo de inventário e partilha dos bens e dos ativos entre herdeiros e legatários; a
herança é indivisível até o fim do referido processo, pois dependerá de uma autorização
judicial para a alienação dos bens ou a retirada de algum ativo que faça parte da herança
deixada pelo “de cujus”.

O inventário e a partilha são matérias dispostas nos Arts. 1.991 a 2.027, do Código
Civil de 2002. O primeiro se refere ao processo que visa apurar quais foram os bens
deixados pelo “de cujus”, herdeiros e dívidas, objetivando apurar o resultado, que será o
objeto da partilha; já o segundo, a partilha, é o procedimento ao qual se refere a divisão
do patrimônio do “de cujus” entre herdeiros e legatários, separando-se a meação do
cônjuge sobrevivente (cônjuge supérstite).

3
2 INVENTÁRIO E PARTILHA: JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL
O inventário, derivado do latim inventarium, de invenire, do verbo invenire,
significa “achar, encontrar, descobrir”. É conceituado como a descrição do patrimônio
do “de cujus” (pessoa que foi a óbito), devendo ser obrigatório para que se proceda à
partilha dos bens destinados a sucessores.

Esse inventário possui um aspecto multidimensional, já que, além de separar


bens, faz a dissolução de uma sociedade empresária e a inventariança desses bens.

Junqueira (2009, p. 89) salienta que inventário é o processo

[...] que se abre para a descrição e partilha de todos os bens do de


cujus ao tempo de sua morte, individualizando-os com precisão e
clareza para o fim especial de proceder à partilha e à divisão, o que
resultará na legalização e transferência do patrimônio aos seus
sucessores, atribuindo, a cada um deles, o que lhe couber.

Esse ato, ou efeito, visa indicar, registrar, catalogar ou descrever bens e coisas,
minuciosamente e pormenorizados, de bens ou de direitos. Nessa linha, é preciso
explanar a respeito do direito das sucessões:

O direito sucessório trata da transmissão de bens, direitos e obrigações


em razão da morte de uma pessoa aos seus herdeiros, de um modo
geral, seus familiares. Tratando-se de direito sucessório, tem sua razão
de ser no direito de propriedade, conjugado ao direito das famílias. O
elemento familiar é definido pelo parentesco [...] (DIAS, 2019, p. 34).

Assim, a finalidade do inventário é descrever os bens da herança, as dívidas


do “de cujus”, os herdeiros, o cônjuge, os credores etc., assim, através disso, haverá a
partilha dos bens, e as dívidas do “de cujus” serão quitadas através do patrimônio dele,
pois não há “herança da dívida”.

Caso apareçam novas dívidas após a partilha, os herdeiros responderão,


proporcionalmente, ao quinhão, efetivamente, herdado na partilha. Não sendo outro,
segue o posicionamento do STJ, como veremos a seguir:

4
FIGURA 1 – RECURSO ESPECIAL

FONTE: <https://bit.ly/3kMZZzV>. Acesso em: 24 abr. 2021.

NOTA
O prazo para a abertura do processo de inventário será de dois meses
após o óbito de uma pessoa que deixou algum patrimônio, e deverá
se encerrar dentro de 12 (doze) meses, podendo ser prorrogado por
determinação judicial, de ofício ou a pedido do (s) interessado (s).
Todavia, o Art. 31, da Resolução nº 35/07, do CNJ, autoriza que seja
aberto a qualquer tempo, mas ressalva que poderão ser aplicadas
penalidades de natureza fiscal (multas e juros de mora), quando
exceder o prazo, legalmente, previsto.

FONTE: <https://bit.ly/3c03EW3>. Acesso em: 24 abr. 2021.

FIGURA 2 – RESOLUÇÃO DO CNJ E INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/7324/tags/893-multar>. Acesso em: 24 abr. 2021.

5
Tal Resolução segue a Súmula 542, do STF: "Não é inconstitucional a multa
instituída, pelo estado-membro, como sanção pelo retardamento do início ou da
ultimação do inventário".

O Código Civil de 2002 prevê, no Art. 1.641, I, c/c, o Art. 1.523, I, pois há a
possibilidade do inventário negativo quando inexistem bens para serem inventariados e
partilhados. A função dele é eliminar qualquer tipo de impedimento matrimonial.

Inventário negativo, segundo Mello (2017, p. 344):

[...] É aquele que tem, por finalidade, a obtenção de prova de


inexistência de acervo hereditário. Os herdeiros respondem pelas
dívidas do falecido até o limite da herança. Na falta de bens, não há
como responsabilizá-lo. O credor tem legitimidade concorrente para
pleitear a abertura do inventário dos bens deixados pelo falecido, e,
ainda que estes não existam, pode pleitear a abertura do inventário
negativo com a finalidade de definir a inexistência de bens.

Este tipo de inventário tem a função de retirar a obrigação do pagamen-


to de dívidas do “de cujus” quando este não tenha deixado bens ou ativos para
serem partilhados.

FIGURA 3 – INVENTÁRIO

FONTE: <https://bit.ly/3ohbGzv>. Acesso em: 24 abr. 2021.

A respeito da partilha, é a repartição dos bens da herança ou a distribuição


do acervo hereditário entre os herdeiros. No direito romano, ela era translativa de
propriedade; o herdeiro se tornava proprietário do quinhão respectivo no momento da
partilha, como se, nesse instante, tivesse adquirido aos demais co-herdeiros. Perante a
nossa lei, porém, ela é, simplesmente, declarativa, e não atributiva de direitos. O herdeiro
adquire a propriedade não em virtude da partilha, mas por força da abertura da sucessão.
O próprio de cujus, por ficção, investe seu sucessor no domínio e posse da herança.

A partilha é o ato que acontece após o inventário, que define a divisão de um


patrimônio entre os respectivos herdeiros ou legatários do  “de cujus”. Essa partilha
poderá ser amigável ou judicial.

6
A partilha amigável advém de um acordo entre os herdeiros e os legatários,
maiores e capazes, ou, quando necessário, representados judicialmente, realizada por
escritura pública ou termo nos autos do inventário ou da homologação judicial. A partilha
amigável poderá ser realizada da seguinte forma:

FIGURA 4 – PARTILHA AMIGÁVEL

FONTE: <https://bit.ly/3Hf4GvA>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Há dois tipos de partilha amigáveis: por ato inter vivos ou post mortem. A partilha
por ato inter vivos se dá quando o ascendente distribui os bens aos filhos, por ato entre
vivos (doação) ou de última vontade (testamento), desde que não prejudique a legítima
dos herdeiros necessários, Art. 2.018, do CC. Já “as partilhas amigáveis post mortem são
aquelas feitas por acordo entre os sucessores maiores e capazes, podendo ser realizadas
por escritura pública, por termo nos autos do inventário, ou por escrito particular
homologado pelo juiz (Art. 2.015, do CC)”. Estas são chamadas de arrolamento sumário.

“O arrolamento sumário é uma forma abreviada de inventário-partilha nos casos de


concordância de todos os herdeiros, desde que maiores e capazes, não importando o valor dos
bens, se diminutos ou grandiosos, nem a sua natureza. Basta que os interessados ​​(meeiros,
herdeiros e legatários) elejam esse tipo de procedimento, constituindo procurador, e explicada,
para homologação, a partilha amigável” (DONIZETTI, 2017, p. 833). Ao lado dos procedimentos
de inventário, arrolamento sumário e arrolamento comum, tem-se o pedido de alvará judicial,
que serve para o levantamento de pequenos valores deixados pelo “de cujus”.

A partilha judicial será realizada durante o processo de inventário, por decisão


do juiz, que preside o processo em decorrência da ausência de acordo entre herdeiros
e legatários, ou quando existir menor ou incapaz dentro dos relacionados no inventário,
segundo alude o Art. 2.016, do Código Civil de 2002. Essa partilha não se confunde com
a doação (Art. 2.018, do Código Civil).

Quando há erro no formal de partilha judicial, devidamente, homologado, a


correção dele, quando a meeira já estiver falecida, não poderá ser por meio de escritura
pública ou por meio de pedido autônomo de alvará judicial, já que, tratando-se de erro
material, bastaria requerer, nos próprios autos do arrolamento, a retificação do formal
de partilha. Não há o que falar de renúncia póstuma de direitos através da concessão de
alvará. Vejamos a decisão a seguir, do TJ-SP, que menciona tal situação:
7
FIGURA 5 – DECISÃO

FONTE: <https://bit.ly/3CawVrI>. Acesso em: 24 abr. 2021.

A partilha será anulável em decorrência de vícios e de defeitos que possam


invalidar, em geral, os negócios jurídicos. O prazo para anular a partilha é de um ano (Art.
2.027 e § único, Código Civil de 2002).

O processo de inventário, no Brasil, poderá ocorrer via judicial ou extrajudicial,


todavia, em respeito ao princípio constitucional referente ao acesso à justiça, está apto
a ser judicial, tornando-se modalidade extrajudicial facultativa.

NOTA
Em 2007, através da Lei Federal nº 11.441, foi autorizado que, desde que to-
dos os interessados sejam capazes e concordes, há a realização do inventário e
da partilha por escritura pública, criando-se o inventário extrajudicial, ou por via
administrativa; já existindo incapaz ou testamento deixado pelo “de cujus”, será
adotado, obrigatoriamente, o rito judicial (inventário judicial).

FONTE: <https://bit.ly/2YB3Ace>. Acesso em: 24 abr. 2021.

2.1 INVENTÁRIO JUDICIAL


O Código de Processo Civil, no Art. 610 e seguintes, disciplina os casos nos quais
há a necessidade de inventário judicial, segundo Mello (2017), devido à necessidade de
garantia da proteção:

• deixa, o “de cujus”, um testamento;


• há interessados incapazes (menores ou interditados);
• existe divergência quanto à partilha entre os herdeiros.

Quando há interessados incapazes, estes serão representados por um tutor, no


caso dos menores, ou curador, quando interditados. O Ministério Público será ouvido,
visando assegurar os direitos do menor ou do incapaz. Inclui-se, nos casos de inventário
judicial, quando o “de cujus” deixou a cônjuge grávida.
8
FIGURA 6 – LEGITIMADOS PARA DISPUTA DE ABERTURA DO PROCESSO DE INVENTÁRIO JUDICIAL

FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 24 abr. 2021.

A natureza jurídica do processo judicial de inventário é mista, como alude Fadel


(2010, p. 129):

A verdadeira natureza do processo judicial de inventário é mista, ou


seja: administrativa, na parte da apuração da monta; contenciosa, com
base na controvérsia entre os herdeiros, embora as contestações não
tomem a forma de litígio, própria das ações comuns, e, principalmente,
no referente à partilha, dadas as consequências da sentença respecti-
va, em nada importando o fato de se processarem inter volentes.

A abertura do processo do inventário judicial deverá ser realizada por quem


possui interesse neste (herdeiros), segundo o Art. 615, § 1º, do CPC, e pelo Ministério
Público, pela Fazenda Pública, pelo juiz competente e pelos credores de dívida deixada
pelo “de cujus”, segundo o Art. 616, do CPC.

9
FIGURA 7 – DOCUMENTOS PARA ABERTURA DO INVENTÁRIO

FONTE: <https://bit.ly/31HlGue>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Cabe, ao juiz, analisar todas as questões de direito com base nos documentos
apresentados, e deixando as que necessitam de provas ulteriores para as vias ordinárias.

DICA
Prática em inventário, alvará judicial e partilha de bens: https://www.
youtube.com/watch?v=3CbXVHc6ANU.

10
FONTE: O autor

Ferreira (2008, p. 14) afirma que, no referido projeto, existe a explanação dos
motivos pelos quais o legislador o criou. Veja a seguir:

1. A lei busca uma simplificação de procedimentos, ou seja, a lei é


procedimental, não altera o direito material.
2. Via alternativa para os procedimentos de  separação,  divórcio,
inventário e partilha, em que existam partes maiores e capazes
em consenso; ou seja, a via judicial segue possível.
3. Fortes racionalidade e celeridade, decorrentes do procedimento
notarial, que deverá ser mais apropriado para partes que estão em
consenso, resguardando o Judiciário para as causas com litígio.
Dessa forma, obtém-se celeridade por duas vias: o procedimento
consensual é mais rápido e o procedimento litigioso, pela via
judicial, também o será, posto que as causas consensuais não
tomarão o tempo dos juízes.
4. Concentrar o Poder Judiciário na jurisdição contenciosa, seu
destino tradicional, descentralizando, para delegados do poder
público, a atividade consensual [...].
5. Desafogar o Poder Judiciário, posto que o diagnóstico é de uma
sobrecarga de causas, com tendência a crescimento, e o Estado
não pretende, ou não pode destinar mais recursos para aparelhar
o Poder e fazer face à demanda.
6. Desonerar o cidadão, com a previsão de gratuidade para os atos
de separação e divórcio e com tabelas de emolumentos notariais
mais baratas do que as tabelas de custos em vigor, na maioria dos
Estados, para os atos de inventário e partilha.

11
2.2 INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e o Novo Código de Processo
Civil são unânimes em apresentar que a redução de formalidades e a burocracia são
os elementos norteadores do fim social do inventário extrajudicial que visam eliminar
demandas através de meios alternativos de solução de conflitos em sociedade.

Com as finalidades de autorizar o inventário extrajudicial e definir os


procedimentos dele, foi instituída a Lei nº 11.441, de 04 de janeiro de 2007, que “altera
dispositivos da Lei no  5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil,
possibilitando a realização de inventário, partilha, separação consensual e divórcio
consensual por via administrativa”.

O novo Código de Processo Civil (CPC) trouxe uma nova redação aos Arts. 982
e 983, do CPC de 1973, que, posteriormente, com as devidas modificações, geraram os
Arts. 610 e 611, do CPC de 2015. Todavia, a referida lei gerou muitas dúvidas e debates,
necessitando que o CNJ – Conselho Nacional de Justiça publicasse a Resolução nº
35, de 24 de abril de 2007, que “disciplina a lavratura dos atos notariais relacionados a
inventário, partilha, separação consensual, divórcio consensual e extinção consensual
de união estável por via administrativa (Redação dada pela Resolução nº 326, de
26.6.2020)”, retirando tais questionamentos.

A Lei nº 11.441, de 04 de janeiro de 2007, e a Resolução nº 35, de 24 de abril de


2007, estão baseadas no princípio “droit de saisine”, adotado pelo Código Civil Brasileiro.

Esse inventário extrajudicial, notarial ou administrativo, tem o propósito de


facilitar a prática do ato de transmissão dos bens, devido ao modelo para resolver a
partilha. Com isso, reduz os serviços judiciários, abrindo campo a um procedimento
extrajudicial no Ofício de Notas, afastando os rigores da burocracia forense para a
celebração de um ato notarial que visa chancelar a partilha, amigavelmente, acordada
entre meeiro (a) e herdeiros, e o recolhimento dos impostos devidos. Com isso, reserva-
se, ao juiz, a análise das questões mais complexas no plano sucessório.

NOTA
Caso o inventário seja realizado através de procedimento administrativo, a es-
critura pública lavrada pelo Tabelião constituirá título hábil para todos os atos
de registro, não se restringindo, apenas, para o registro imobiliário, podendo, in-
clusive, ser utilizada para levantamento de valores depositados em instituições
financeiras. A escritura pública constitui título executivo extrajudicial, podendo
ser utilizada para fins de uma execução forçada, em casos, por exemplo, de um
dos herdeiros não observar a divisão homologada (OLIVEIRA, 2016).

12
FIGURA 8 – INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL REALIZADO EM CARTÓRIO DE NOTAS

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/2155/search/750>. Acesso em: 24 abr. 2021.

O processo de inventário extrajudicial será deflagrado através de uma Escritura


Pública Declaratória de abertura de inventário e nomeação de inventariante, obrigato-
riamente, conforme determinado pelo Art. 11, da Resolução nº. 35, do CNJ, com a indi-
cação do inventariante, fazendo menção aos poderes decorrentes da função dele para
a transferência de propriedade, desde que o “de cujus” não tenha deixado testamento.

NOTA
A escritura pública, introduzida pela Lei nº 11.441/07, e reproduzida no Art.
610, do Código de Processo Civil de 2015, tem eficácia idêntica à do alvará
judicial, impondo, às instituições financeiras e a outros órgãos, públicos e
privados, o respeito ao que, nela, estiver contido. Dispõe, expressamente, o
Art. 14, da Resolução n° 35/2007, do Conselho Nacional de Justiça: “Para
as verbas previstas na Lei nº 6.858/80, é, também, admissível a escritura
pública de inventário e partilha”.

FONTE: <https://bit.ly/2YB3Ace>; <https://bit.ly/3mrEAuM>; <https://bit.


ly/3c03EW3>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Todavia, o STJ entendeu que, mesmo com o testamento, há a possibilidade de


o testamento ser processado extrajudicialmente.

13
FIGURA 9 – PROCESSO EXTRAJUDICIAL

FONTE: <https://bit.ly/3c4Ei9s>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Todavia, não segue a regra de competência prevista no Código de Processo Civil


sobre a necessidade do local de abertura, já que isso pode ser feito em qualquer cartório
de notas, independentemente do domicílio das partes, do local de situação dos bens ou
do local do óbito do falecido.

FIGURA 10 – INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

FONTE: <https://bit.ly/3qtEBmA>. Acesso em: 24 abr. 2021.

O inventário extrajudicial, por escritura pública, pode ser realizado, desde que,
segundo Lôbo (2013):

• haja concordância entre todos os herdeiros;


• o falecido não tenha deixado testamento;
• sejam partilhados todos os bens (vedando-se a partilha parcial);
• haja a presença de um advogado comum a todos os interessados;
• estejam quitados todos os tributos;
• o Brasil tenha sido o último domicílio do falecido.

14
DICA
As principais dúvidas sobre os inventários judicial e extrajudicial: https://
www.youtube.com/watch?v=IsUMPAA0v0M.

Assim, a modalidade extrajudicial dependerá do cumprimento dos seguintes


requisitos: herdeiros capazes, concordes quanto à partilha dos bens e representados por
advogado ou defensor público. Por outro lado, essa partilha deverá seguir a modalidade
judicial caso existam herdeiros menores e incapazes ou em virtude de não haver acordo
entre os sucessores, nos termos do Art. 2.016, do Código Civil.

FIGURA 11 – VANTAGENS E DESVANTAGENS - INVENTÁRIO JUDICIAL E INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

FONTE: <https://bit.ly/3HfdGBd>. Acesso em: 24 abr. 2021.

15
FIGURA 12 – VANTAGENS E DESVANTAGENS - INVENTÁRIO JUDICIAL E INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

FONTE: <https://bit.ly/3HfzQDa>. Acesso em: 24 abr. 2021.

16
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A herança é transferida, imediatamente, aos herdeiros, e o processo de inventário,


apenas, materializa tal função. Assim, aprendemos os formatos de inventário e de
partilha e a importância do inventário negativo.

• O inventário poderá ser realizado de forma judicial ou extrajudicial. Os requisitos


do inventário judicial estão presentes no NCPC e no Código Civil.

• O inventário extrajudicial está previsto na Lei nº 11.441, de 04 de janeiro de 2007,


e na Resolução nº 35, de 24 de abril de 2007, incluindo os procedimentos e os
requisitos.

17
AUTOATIVIDADE
1 A finalidade do inventário é legalizar a transferência do patrimônio do “de cujus” aos
herdeiros dele e aos legatários na proporção de direitos mediante a partilha, ou seja, é
o instituto jurídico que tem, por finalidade, a sucessão hereditária, isto é, a divisão do
acervo patrimonial. A respeito do inventário, analise as sentenças a seguir:

I- O inventário é um procedimento judicial, ou extrajudicial, com a finalidade de


transferir a propriedade dos bens do “de cujus” para os sucessores dele.
II- O inventário é um procedimento judicial, ou extrajudicial, com a finalidade de
transferir os bens e os ativos do “de cujus” para os sucessores dele.
III- A partilha da herança é a individualização do quinhão hereditário que ficará para
cada um dos sucessores do “de cujus”.
IV- A partilha da herança virá através de uma escritura pública de compromisso entre as
partes e rol de bens partilhados.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

2 A palavra inventário deriva do latim inventarium, cujo significado é encontrar, achar.


Esse significado identifica bem o conceito do que é inventário, pois esse processo
tem, como objetivo, exatamente, encontrar, achar bens deixados pelo falecido. Como
dito, essa modalidade de inventário é aquela a partir da qual se busca o Judiciário
para descrever os bens deixados pelo falecido e distribuí-los entre os herdeiros
dele.  A respeito do processo de inventário, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O prazo de abertura do inventário é de 60 dias, contados da morte do autor da


herança.
b) ( ) Quem estiver na posse e na administração do espólio, não poderá pleitear a
abertura do inventário.
c) ( ) O local de abertura do inventário será no domicilio do inventariante. 
d) ( ) A multa por atraso da abertura do inventário será cobrada após um ano da não
abertura do inventário.

3 O Art. 11, da Resolução nº 35, do CNJ (Redação dada pela Resolução nº 326, de
26.6.2020), determina que haja uma Escritura Pública de abertura do processo de
inventário extrajudicial de nomeação do inventariante. Sobre essa Escritura Pública,
assinale a alternativa CORRETA:

18
a) ( ) A Escritura Pública nomeia o interessado em representar o espólio com poderes
de inventariante.
b) ( ) A Escritura Pública define os bens a partilhar e os valores de cada herdeiro.
c) ( ) A Escritura Pública indica o interessado em representar o espólio, com poderes
de inventariante, para a concordância dos herdeiros.
d) ( ) A Escritura Pública define os bens a partilhar, os valores de cada herdeiro e as
obrigações de cada herdeiro durante o inventário.

4 Mario e Solange estavam casados há mais quinze anos, quando Mario veio a óbito,
deixando bens imóveis e móveis a inventariar. Este era casado com Solange pelo regime
de comunhão parcial de bens, e, dessa união, nascerá Tiago, capaz. Além dos bens,
Mario deixou débitos vencidos e exigíveis em favor de Daniel. Disserte a respeito de que
tipo de inventário poderá ser aberto e se Daniel poderá ser nomeado inventariante.

5 Marcos possui um imóvel e um carro comprado à prestação. Este vem a falecer,


deixando dois herdeiros, João e Sebastião. Aberta a sucessão, foi verificado que o
carro estava alienado ao Banco Y. Devido a prestações sobre este, havia, na data do
óbito, 10% de parcelas em aberto. Mencione a possibilidade de existirem dívidas de
herança e como ficarão os 10% das parcelas que estão em aberto.

19
20
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
ADMINISTRADOR PROVISÓRIO E
INVERTARIANTE: PERIGOS E VANTAGENS
DA NOMEAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
No momento do óbito do titular da herança, abre-se a sucessão, havendo a
transmissão dos bens ou dos direitos patrimoniais do titular dos bens, segundo o Art.
1784, do Código Civil de 2002. Todavia, há a necessidade de um processo de inventário,
para que ocorram a operacionalização da transmissão e a efetivação da partilha dos
bens entre os herdeiros, o que pode ser realizado por via extrajudicial ou judicial. No
inventário, há a nomeação de uma pessoa que desempenhará o encargo de inventariante,
conduzindo o inventário, chamado de inventariante ou administrador do inventário.

O administrador do inventário tem as funções de inventariar os bens, dirigir e


organizar o espólio, arrecadar esses bens, e realizar os atos preparatórios dos inventários,
sem levar em conta a idade ou a qualidade perante o “de cujus”, no inventário judicial.

Caberá, ao juiz, a nomeação do inventariante, conforme o Art. 617, do Código de


Processo Civil, que poderá ser:

• o cônjuge meeiro casado sob o regime de comunhão, desde que estivesse


convivendo com o outro ao tempo da morte deste;
• o herdeiro que se ache de posse e de administração do espólio;
• qualquer outro herdeiro que possa representar.

Vejamos as decisões judiciais a seguir, as quais envolvem o rol de nomeação do


inventariante:

21
FIGURA 13 – DECISÕES JUDICIAIS

FONTE: <https://bit.ly/3qtFoE8>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Na falta desse inventariante, legal ou judicial, será indicado um inventariante


dativo pelo juiz (Art. 617, VIII, do CPC).

Já no processo de inventário extrajudicial, será indicado um interessado que


representará o espólio, e que receberá o cargo aos moldes do cargo do inventariante
mencionado no inventário judicial.

2 ADMINISTRADOR PROVISÓRIO E INVENTARIANTE:


PERIGOS E VANTAGENS DA NOMEAÇÃO
O inventariante terá os encargos definidos dele no processo de inventário, com
o aceite, através do preenchimento do Termo de Compromisso, que será observado no
processamento do inventário nas modalidades judicial e extrajudicial. Entretanto, antes
desse aceite, os bens e os ativos do falecido serão administrados pelo administrador
provisório, que responderá pelos próprios atos, quando praticados com culpa ou dolo.

Na escolha desse inventariante, deveremos levar em conta quem é, qual era


a ligação dele com o “de cujus”, pois administrará a massa administrativa dos bens
deixados pelo falecido.

2.1 ADMINISTRADOR PROVISÓRIO


O administrador provisório ficará responsável pela herança até a nomeação do
inventariante, podendo, inclusive, requerer a abertura do inventário e a partilha, já que
está na posse administrativa dos bens do falecido. Esse administrador poderá não ser,
apenas, uma pessoa, ou seja, poderá ser um grupo.

22
FIGURA 14 – ADMINISTRADOR PROVISÓRIO E LIGAÇÃO DELE COM O “DE CUJUS”

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/2245/search/634>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Carneiro (2019, p. 66) salienta que há a necessidade de que alguém administre


os bens até a nomeação de um inventário:

[...] Seja como for, do ponto de vista prático, é preciso que alguém
administre tais bens até que o processo de inventário seja instaurado e
nomeado o inventariante. Pode ocorrer a necessidade da prática de atos
de administração, como pagamentos de empregados, recebimento de
aluguéis, atos de conservação de bens que reclamem medidas judiciais,
e assim por diante. Administrador provisório não ostenta essa qualidade,
em princípio, por força de nomeação judicial, mas, sim, por uma questão
de fato: encontrar-se na posse corporal e na administração dos bens
do autor da herança, ao mesmo tempo em que tem, também, a posse
direta de parte de tais bens ou da outra metade.

Assim, é uma obrigação legal de este abrir o inventário, já que está com a posse
dos bens da herança. Caso não proceda com a abertura no prazo definido por lei, poderá
gerar a própria responsabilização pelos danos sofridos pelos demais herdeiros ou
terceiros que necessitavam da abertura do inventário para a garantia de algum direito.
Assim, demonstrada a negligência, a culpa estará provada, salvo motivo de força maior.

Na abertura do processo de inventário, o administrador provisório terá que


trazer, ao acervo hereditário, os frutos e os rendimentos obtidos do patrimônio do “de
cujus” enquanto estavam sob a administração dele. Havendo prejuízo no patrimônio do
“de cujus”, deverá, o administrador provisório, responder, por culpa ou dolo, por parte da
própria administração, perante os herdeiros.

“O administrador provisório é o responsável pela adequada administração dos


bens do espólio como se seus fossem, desde a abertura da sucessão até o momento
em que o inventariante prestar o compromisso” (614, do NCPC). Os frutos obtidos com o
imóvel e, assim, recebendo aluguéis de imóveis do “de cujus”, deverá, este, ser repassado

23
aos demais herdeiros, com justa proporção de quintão hereditário, além do pagamento
de aluguéis referentes ao imóvel que está sendo utilizado, pelo administrador aos
herdeiros, os quais não estão ocupando esse imóvel até o final da posse.

O valor poderá ocorrer através de uma ação, cujas finalidades sejam o arbitra-
mento e a fixação de aluguéis em favor do herdeiro.

DICA
Administração provisória da herança: https://bit.ly/3wzCn6i.

Assim, esse administrador provisório assumirá a administração dos bens do “de


cujus” até a nomeação do inventariante, no processo de inventário judicial, ou de terceiro
interessado no processo de inventário extrajudicial, já que está na posse direta dos
bens, seja por ser companheiro ou companheira do “de cujus”, ou por estar morando no
mesmo local que o falecido. Ainda, talvez, detinha mais acesso a este, não necessitando
ser nomeado judicialmente.

O referido administrador deverá indicar, na abertura da sucessão, os bens a


serem inventariados, e terá o direito de reembolso das despesas necessárias e úteis
realizadas para esses bens durante o inventário.

Há a necessidade da prestação de contas dos gastos realizados, o que


poderá ser realizado dentro do próprio processo, entretanto, havendo a necessidade
de apuração de dano, este deverá ser apurado por via ordinária, podendo, o juiz do
inventário, através de uma medida cautelar, determinar a reserva do quinhão de quem
esteja sendo responsabilizado.

NOTA
O administrador provisório responde por danos que vier a causar
aos bens do espólio a título de dolo ou culpa. O dolo ocorre quando
o administrador provisório quer malversar o patrimônio do espólio ou
algum bem dele integrante; enquanto a culpa é a administração mal-
conduzida, ou seja, uma administração imprudente, negligente ou sem
necessária habilidade para fazer o que fez.

24
Sonegar, desviar, omitir expressões que estão dentro do dolo, má-fé, desde
que provados, haverá responsabilização, e, por conseguinte, pena de perda dos bens,
todavia, ao agir por simples omissão, erro ou ignorância, não estando caracterizado o
dolo de sonegar, afasta-se a pena de perda dos bens.

O cargo de administrador é um cargo provisório, por isso, não segue a ordem de


preferência para a nomeação dele, e nem será assinado o Termo de Compromisso. Essa
nomeação seguirá os ditames indicados no CPC.

O Termo de Compromisso deverá ser assinado pelo inventariante, que significa o


aceite da incumbência de ser inventariante no processo de um determinado inventário, assim,
a administração provisória dos bens ficará a cargo do espólio, segundo o Art. 613, do CPC.

2.2 INVENTARIANTE: PERIGOS E VANTAGENS DA NOMEAÇÃO


O cargo de inventariante é tido como um serviço público prestado à comunidade,
sob supervisão de um juiz que presidirá o processo, atuando, assim, como auxiliar deste.

O inventariante, ao assumir esse encargo, passará a realizar um leque de


obrigações para o bom andamento do processo, assim, a escolha dele deverá ser bem
avaliada para que não haja prejuízos ao espólio, já que este conduzirá os bens e os
ativos do “de cujus” durante o processamento do inventário.

FIGURA 15 – INVENTARIANTE FISCALIZADO NA ATUAÇÃO

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/3113/search/632>. Acesso em: 24 abr. 2021.

A nomeação desse inventariante será realizada pelo juiz, o qual lhe outorga
à administração do processo de inventário, assim, as representações ativa e passiva
da herança, ou seja, a massa patrimonial autônoma, deixada pelo “de cujus”, será
representada pelo inventariante. As despesas serão pagas por ele e autorizadas pelo
juiz, dentro do inventário judicial.
25
O Art. 617, do CPC, de 2015, segundo Dias (2015), apresenta a ordem dos
legitimados para o cargo de inventariante:

I. Cônjuge ou companheiro do sobrevivente: é necessário que


estivesse convivendo com o autor da herança. Em caso de união
estável, bastará que os herdeiros o reconheçam.
II. herdeiro: tratam-se dos demais herdeiros, como descendente e
ascendente.
III. Qualquer herdeiro: ocorre quando não há herdeiros na posse e na
administração do espólio, e estes discordam acerca do presente
encargo, cabendo, ao juiz, a decisão.
IV. Herdeiro menor de idade por seu representante legal: tratam-
se de conflitos de interesse entre representante e representado,
devendo, nesse caso, ser nomeado curador ao herdeiro incapaz.
V. Testamenteiro: na ausência dos anteriores, poderão confiar, a
ele, a posse e a administração do espólio, e quando a herança
estiver distribuída em legados.
VI. Cessionário do herdeiro ou do legatário: passando a ser o titular
da herança ou do legado, deve-se reconhecer a legitimidade do
cessionário como inventariante.
VII. Inventariante judicial: sua investidura depende das leis de
organização judiciária dos Estados.
VIII. Inventariante dativo: trata-se de pessoa estranha ao inventário
que substitui o inventariante judicial.

Rosa e Rodrigues (2019, p. 130 mencionam, seguindo o posicionamento judicial,


que o rol não é exaustivo, por isso, o inventariante poderá ser removido, e não havendo
interessados ou concordância entre estes, o juízo poderá nomear um inventariante
dativo, que será pago pelo espólio.

Destaque-se, porém, que tal rol não é exaustivo, mas, meramente, exem-
plificativo, pois podem surgir outras hipóteses, a partir das quais a atuação
do inventariante não seja condizente com a inventariança assumida, ou
dadas as circunstâncias do processo de inventário. Nesse sentido, já se
manifestou, o Superior Tribunal de Justiça, pela não exaustividade das
causas de remoção do inventariante, ainda na vigência do CPC/73, mas
como posicionamento, plenamente, aplicável ao código vigente.

Todavia, a inventariança cabe, preferencialmente, ao cônjuge ou ao companheiro


supérstite, mesmo sem regime da separação convencional de bens, em decorrência da
ordem de preferência do Art. 617, do CPC de 2015, o qual coloca o cônjuge sobrevivente
como inventariante, mas há a possibilidade de que essa ordem de preferência seja
alterada, em atenção a determinadas situações, tornando-a relativa.

Dentre as situações que ensejaram a troca, estão a do cônjuge sobrevivente ter


tido um litígio com o “de cujus”, ou uma separação de corpus, que possibilitasse uma
separação judicial, assim, este cederá o lugar dele de inventariante a um herdeiro que
detenha condições de prestar maiores e mais precisas declarações da situação dos bens.

Nesses casos, a administração dos bens poderá ficar a cargo do filho mais velho ou do
filho mais idôneo que convivia com o “de cujus”. Por outro lado, o Art. 617, inciso IV, autorizou o
menor ser inventariante, desde que esteja, devidamente, representado nos atos dele.

26
DICA
Inventariante: significado, obrigações e importância para o inventário:
https://www.youtube.com/watch?v=Z-wNtQcHUZA.

Não configura a nomeação desse inventário uma punição aos herdeiros, mas
uma determinação legal para que seja transcorrido o processo de inventario e partilha
dentro do escopo previsto na legislação processual, evitando-se possíveis conflitos
familiares e sucessórios.

FIGURA 16 – TROCA DE INVENTARIANTE - REQUISITOS E NECESSIDADE

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/4476/search/629>. Acesso em: 24 abr. 2021.

O Art. 620, do CPC de 2015, salienta que, no prazo de vinte dias, contados da
data em que prestou compromisso, deverá realizar as primeiras declarações, das quais
se lavrará o termo circunstanciado, assinado pelo juiz, pelo escrivão e pelo inventariante,
no qual serão exarados:

27
FIGURA 17 – PRIMEIRAS DECLARAÇÕES DO INVENTARIANTE

FONTE: <https://bit.ly/3HcBJAM>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Após a realização dessas primeiras declarações e da redução a termo, o juiz deverá


citar os interessados e intimar a Fazenda Pública, o Ministério Público, se houver herdeiro
incapaz ou ausente, e o testamenteiro, se houver testamento (CPC/2015, Art. 626).

28
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O administrador provisório atuará no processo de inventário até a nomeação do


inventariante, assim, este será responsabilizado pela atuação quando agir mediante
culpa ou dolo.

• O administrador provisório não assinará o Termo de Compromisso, pois agirá,


temporariamente, dentro do processo.

• A definição do inventariante e a nomeação dele seguem os trâmites do Código Civil


de 2002 e o Código de Processo Civil de 2015.

• Após a nomeação, o inventariante terá o prazo de cinco dias para assinar o Termo de
Compromisso e vinte dias para apresentar as primeiras declarações.

29
AUTOATIVIDADE
1 O administrador do inventário tem as funções de inventariar os bens, de dirigir e de
organizar o espólio, arrecadar esses bens no inventário judicial. Esse administrador,
ou o inventariante, deverá prestar compromisso e realizar as primeiras declarações
no prazo estipulado em lei. A respeito dessas primeiras declarações do inventariante,
analise as sentenças a seguir:

I- Nas primeiras declarações, deverão conter o nome, o estado, a idade e o domicílio do


autor da herança, o dia e o lugar em que faleceu e se deixou testamento.
II- Nas primeiras declarações, estarão presentes o nome, o estado, a idade, o endereço
eletrônico e a residência dos herdeiros, e havendo cônjuge ou companheiro
supérstite, além dos respectivos dados pessoais, sem a necessidade do regime de
bens do casamento ou da união estável.
III- Nas primeiras declarações, serão apresentados a qualidade dos herdeiros e o grau
de parentesco com o inventariado.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

2 O administrador provisório se encontrará na posse direta dos bens do “de cujus”, devido
ser cônjuge ou por ter autorização deste, assim, administrará o bem até que seja
nomeado o inventariante, que dependerá da assinatura do Termo de Compromisso.
Com relação ao administrador provisório, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O administrador provisório não terá a conduta dele avaliada, pois o cargo é


provisório.
b) ( ) O administrador será responsabilizado pelo próprio ato na condução do processo
quando agir com culpa ou dolo.
c) ( ) O administrador provisório deverá agir com zelo e respeito ao Termo de
Compromisso assinado.
d) ( ) O administrador provisório agirá dentro do processo de inventário até as primeiras
declarações do inventariante.

30
3 O rol do Art. 617, do CPC de 2015, prevê uma ordem de nomeação do inventariante,
configurada na pessoa do cônjuge sobrevivente, que assumirá a ordem preferencial
nessa nomeação, todavia, poderá ser alterada, como visto em decisões judiciais. A
respeito dessa alteração, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A alteração da ordem de nomeação do inventariante é uma medida extrema, pois


fere o Art. 617, do CPC de 2015.
n) ( ) A alteração da ordem de nomeação do inventariante dependerá do caso em
concreto que será avaliado pelo juiz.
c) ( ) A alteração da ordem de nomeação do inventariante poderá ser requerida pelo
cônjuge sobrevivente.
d) ( ) O Art. 617, do CPC de 2015, permite a alteração da nomeação, pois o rol deste não
é taxativo.

4 “O administrador provisório é o cônjuge sobrevivente ou herdeiro que se encontra na


posse dos bens, nada havendo que o impeça de representar o espólio em juízo, até
a nomeação do inventariante” (RT 596/87). “Havia inventariante compromissada, que
renunciou ao posto. Por isso, até sua substituição efetiva, esta, e não o outro indicado,
é que, em realidade, tinha condições legais para, eventualmente, assumir a defesa dos
interesses do Espólio” (RJTJESP 113/214 apud Nelson Nery Junior, ob. cit., p. 1.318).
Explique a função do administrador provisório e dentro do processo de inventário.

5 O herdeiro, ou cônjuge do “de cujus”, ao assinar o termo de inventariante, assume


uma série de responsabilidades para o bom andamento do processo, assim, a escolha
dele deverá ser bem avaliada, para que não ocorram prejuízos ao espólio. Todavia,
verificando danos, este será apreciado em via ordinária. Cite os tipos de danos
possíveis e a responsabilidade do inventariante frente ao ocorrido.

31
32
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
INVENTARIANTE: PRESTAÇÃO DE
COMPROMISSOS E INCUBÊMCIAS
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 3, abordaremos a função do Termo de Compromisso do
inventariante e a incumbência dele. O inventariante é, na verdade, o administrador dos
bens da herança. Cabe, a este, auxiliar o juiz ao decorrer do processo de inventário. Além
disso, as citações referentes ao espólio serão direcionadas à figura do inventariante,
tratando-se a atividade, sem dúvida, de um múnus (VENOSA, 2017).

O inventariante, para ter a nomeação ao cargo de inventariante deferida pelo


juiz, deverá, primeiramente, ser portador de uma idoneidade perante as atividades que
exerce, já que atuará como representante da massa administrativa do “de cujus” e em
concordância aos demais herdeiros.

O cargo de inventariante requer a assinatura do Termo de Compromisso, que


deverá ser realizada no prazo de cinco dias, pelo inventariante, ou seu procurador,
desde que tenha mandato especial para tal finalidade. Caso não seja assinado, deverá
ser nomeado outro inventariante, já que esse Termo de Compromisso o habilita na
representação do espólio, judicial ou extrajudicialmente.

Diante da nomeação, passa a ter uma série de incumbências para com o


processo de inventário, as quais deverão ser cumpridas, sob pena de destituição do
cargo. Algumas dessas incumbências deverão ser realizadas com o aval dos demais
herdeiros, já outras não necessitam disso.

2 INVENTARIANTE: PRESTAÇÃO DE COMPROMISSO E


INCUMBÊNCIA
O administrador do espólio, ou o inventariante, ficará encarregado de arrecadar
os bens e os ativos do “de cujus”, e de prestar essas informações ao juízo mediante
“primeiras declarações”. Uma vez nomeado, o inventariante deverá assinar o Termo de
Compromisso para, fielmente, desempenhar o cargo, no prazo de cinco dias.

O cargo de inventariante o autoriza a representar o espólio, ativa e passivamente,


em juízo ou fora dele (CPC/2015, Art. 618, I), além da administração, ”velando-lhe os
bens com a mesma diligência como se seus fossem” (inciso II), além dessas tarefas
próprias da função de administrador e representante do espólio (CPC/2015, Art. 618).

33
FIGURA 18 – FUNÇÃO DO INVENTARIANTE NA LEGISLAÇÃO EM VIGOR

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/2340/search/647>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Compete, ainda, ao inventariante, ouvidos os interessados e com autorização


do juiz, realizar as atividades nos termos do Art. 619 e dos incisos I a IV, do Código de
Processo Civil de 2015 (CPC/2015).

2.1 PRESTAÇÃO DE COMPROMISSO


O inventariante é a peça-chave para o processamento de transmissão da
herança, pois dirigirá e organizará o espólio do “de cujus”, indicando a relação dos bens
e dos ativos, os herdeiros, além de quitar as dívidas do falecido.

O cargo de inventariante é dado ao cônjuge sobrevivente ou a um herdeiro por


determinação legal, e não por confiança, como mencionado na decisão a seguir:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. LEGITIMIDADE. REPRESENTAÇÃO


ESPÓLIO. COMPROMISSO DE INVENTARIANTE NÃO PRESTADO.
ORDEM DE CITAÇÃO. ADMINISTRADOR PROVISÓRIO. VIÚVA.
1. A legitimidade para representação do espólio é do inventariante,
conforme Art. 75, inc. VII, do CPC. 2. Enquanto não prestado
compromisso de inventariante, o espólio será representado pelo
administrador provisório (Arts. 613 e 614, CPC), devendo ser
observada a ordem de representação estabelecida nos termos do
Art. 1.797, do Código Civil. 3. Tendo, o falecido, deixado viúva, esta
detém a legitimidade para exercer a função de administradora
provisória do espólio, de modo que a citação do espólio deve ocorrer
na sua pessoa. 4. Agravo de instrumento conhecido e provido. (TJ-DF
07129668420208070000 DF 0712966-84.2020.8.07.0000, Relator:
NA CANTARINO, Data de Julgamento: 09/09/2020, 5ª Turma Cível,
Data de Publicação: Publicado no DJE: 21/09/2020.)

Uma vez protocolado o termo assinado, o juiz o nomeará e dará ciência aos
demais herdeiros, para que concordem, ou não, com a nomeação.  Essa nomeação
para o cargo é função privativa do juiz, que presidirá o feito, determinando, a este,

34
que represente o espólio judicial e extrajudicialmente, ativa e passivamente. Caso haja
discordância dessa nomeação por parte dos herdeiros, estes farão uma reclamação no
próprio processo de inventário, o qual poderá ser alvo de agravo de instrumento.

Feita a escolha do inventariante, o juiz levará em conta a posse do bem, todavia,


não tendo herdeiro que esteja na posse de um bem, será nomeado outro herdeiro.
Todavia, na falta de um consenso que defina quem será o inventariante entre os
herdeiros, o juiz escolherá o mais próximo do falecido. Havendo mais de um herdeiro
na mesma condição, será escolhido o mais velho. O herdeiro menor, para receber a
inventariança, deverá estar, devidamente, representado.

O juiz, ao escolher um dos herdeiros para exercer esse cargo, deverá levar em
conta o seguinte: a idoneidade, a experiência, a proximidade, o domicílio dos bens e os
negócios do autor da herança, mas nada impede que seja nomeado um herdeiro que
tenha domicílio fora do Brasil.  A imparcialidade deverá ser a tônica desse cargo, por isso,
não será nomeado o credor ou o devedor do espólio ou de um dos herdeiros.

NOTA
Não há impedimento, segundo o Supremo Tribunal Federal, que
o cônjuge casado, pelo regime da comunhão parcial de bens,
administre os bens adquiridos durante o matrimônio. Nesse
mesmo caminho, está o cônjuge casado pelo regime de separação
legal de bens.

FIGURA 19 – PROCURADOR DO INVENTARIANTE E ASSINATURA DO TERMO DE COMPROMISSO

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/2471/search/646>. Acesso em: 24 abr. 2021.

35
A investidura, nesse cargo de inventariante, dar-se-á através da assinatura do
Termo de Compromisso do inventariante, pelo inventariante ou pelo advogado dele,
desde que este tenha procuração com poderes especiais para tanto, no prazo de cinco
dias, já que esse termo se traduz por sua investidura, e, através dele, que o inventariante
informa que atuará com zelo e comprometimento, o que cargo requer.

Com a assinatura desse Termo de Compromisso, o inventariante representará


a massa de herança do “de cujus”, a qual não possui personalidade jurídica. Atuará,
judicialmente, para o andamento do processo de inventário, e, extrajudicialmente, perante
bancos, financeiras, terceiros, para renovar contratos de locação, contratar advogados etc.

Esse cargo de inventariante é controlado por regras e obrigações, dos Arts. 618,


619 e 620, do CPC. Assim, não havendo o cumprimento das obrigações, poderá, o
inventariante, ser removido do cargo, pelo próprio juiz (de ofício) ou a requerimento de
qualquer outro interessado, conforme previsto nos Arts. 622 a 625, do CPC. Todavia, se
o Termo de Compromisso for assinado por um advogado sem poderes para tanto, o juiz
dará um prazo para seja trazido, aos autos, o mandato contendo tal autorização, como
pode ser observado na decisão judicial a seguir.

FIGURA 20 – INVENTÁRIO - TERMO DE COMPROMISSO DE INVENTARIANTE – NULIDADE - REQUERIMENTO


FIRMADO POR ADVOGADO SEM PODERES

FONTE: <https://bit.ly/3oqLu5Q>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Esse inventariante se assemelha a um depositário, ressalvadas as diferenças


entre os dois, já que o inventariante, ao agir com dolo ou culpa, sofrerá uma punição na
órbita civil, que poderá ensejar na perda de bens que configuram o quinhão hereditário
dele, além da destituição do cargo de inventariante, todavia, não haverá a perda
coercitiva de liberdade, o que poderá acontecer com o depositário infiel.

36
FIGURA 21 – IMPEDIDOS DE OCUPAÇÃO DO CARGO DE INVENTARIANTE

FONTE: <https://bit.ly/3mrEAuM>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Havendo a destituição do inventariante, o espólio será representado pelo


administrador provisório, até que ocorra uma nova nomeação.

2.2 INCUMBÊNCIA
O Art. 618, e seus incisos, do Código de Processo Civil de 2015, enumeram as
incumbências do inventariante, como representar, ativa ou passivamente, em juízo ou fora
dele, o espólio, sem remuneração para tanto. A citação, nas ações nas quais a massa do “de
cujus” for alvo, deverá ser realizada pela pessoa do inventariante. Todavia, caso haja alguma
demanda judicial em face do espólio, em processo de inventário, no qual o inventariante for
dativo, os sucessores do “de cujus” serão intimados para o acompanhamento do feito.

NOTA
O inventariante terá o prazo de cinco dias para assinar o Termo de
Compromisso, e vinte dias para apresentar as primeiras declarações,
pessoalmente ou por procuradores dotados de poderes especiais.

Durante o processamento do inventário, o inventariante deverá exibir, em


cartório, a qualquer tempo, para o exame das partes, os documentos relativos ao
espólio; juntar, aos autos, a certidão do testamento, se houver; e trazer, à colação, os
bens recebidos pelo herdeiro ausente, renunciante ou excluído.

37
Há a necessidade de prestar contas da própria gestão e dos gastos realizados,
e, caso pratique atos com culpa ou dolo, deverá ser responsabilizado, inclusive, com a
perda dos bens aos quais teria direito.

FIGURA 22 – PRESTAÇÃO DE CONTAS DO INVENTARIANTE

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/3824/search/639>. Acesso em: 24 abr. 2021.

O inventariante poderá requerer a declaração de insolvência, desde que as


dívidas sejam superiores aos próprios bens e direitos, assim, haverá a arrecadação geral
dos bens, com a função de universalizar todos os valores do devedor. Com a presente
declaração, o insolvente deixa de usufruir da posse dos próprios bens penhoráveis,
representando, assim, a perda da disponibilidade do patrimônio envolvido.

Vejamos a decisão do TJ-MG, a respeito da declaração de insolvência civil do


espólio em uma relação locatícia:

FIGURA 23 – DECLARAÇÃO DE INSOLVÊNCIA CIVIL DO ESPÓLIO EM RELAÇÃO LOCATÍCIA

FONTE: <https://bit.ly/3qxScJJ>. Acesso em: 24 abr. 2021.

O inventariante possui poderes de gestão sobre os bens, todavia, atos que


não são corriqueiros ou extraordinários deverão ser autorizados judicialmente, como
modificar a estrutura do negócio que está sendo inventariado, por pertencer ao falecido,
Art. 619, do CPC de 2015. Já os atos de gestão, previstos no Art. 618, do referido diploma
legal, não precisam de autorização.

38
O Art. 619, que, também, repetiu o Art. 992, do CPC/73, esclarece que incube,
ainda, ao inventariante, ouvidos os interessados e com autorização do juiz:

FIGURA 24 – AÇÕES DO INVENTARIANTE

FONTE: <https://bit.ly/3mrEAuM>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Os poderes do inventariante, no inventário extrajudicial, seguem os preceitos


dos Arts. 618 e 619, do CPC de 2015.

39
LEITURA
COMPLEMENTAR
O INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL ANTE A EXISTÊNCIA DE TESTAMENTO

Vitor Kümpel e Giselle de Menezes Viana


 
Em que pese a incidência do princípio da saisine, determinando a transmissão
automática da herança no momento de abertura da sucessão (Art. 1784, do Código
Civil), é necessário um procedimento posterior de apuração de ativos e passivos, para
permitir o pagamento de eventuais dívidas e a partilha aos herdeiros.

De fato, com a abertura da sucessão, os bens são transferidos aos sucessores,


mas como um todo unitário e indivisível (Art. 1.790, parágrafo único, do Código Civil).
Daí a necessidade do inventário e da partilha, permitindo a divisão por quinhões a cada
herdeiro e a consolidação da transmissão patrimonial¹.

No que diz respeito ao aspecto procedimental, antes da Lei nº 11.441/07,


os inventários processavam-se exclusivamente no âmbito judicial. Porém, com a
entrada em vigor da referida lei – que, dentre outras providências, modificou o
Art. 982, do antigo Código de Processo Civil de 1973 –, conferiu-se um inédito
protagonismo aos notários na operacionalização da transmissão causa mortis,
tanto na etapa do inventário quanto da partilha.

Assim, admitiu-se o processamento dos inventários e partilhas também


pela via extrajudicial, possibilidade preservada pelo atual Código de Processo
Civil (Art. 610, §§ 1º e 2º)². Desde 2007, portanto, o procedimento de apuração
do patrimônio líquido deixado pelo falecido, culminando na partilha aos herdeiros,
pode ser realizado não apenas em juízo, mas também por escritura pública, perante
o tabelião de notas de livre escolha dos interessados.

1
V. F. Kümpel – C. M. Ferrari, Tratado Notarial e Registral, São Paulo, YK Editora, 2017, p. 918-919.

2
Note-se que a matéria foi também regulamentada pela Resolução nº 35, de 24 de abril de 2007, do Conse-
lho Nacional de Justiça. Deve-se também considerar as normas editadas pelas Corregedorias da Justiça dos
Estados atinentes à atividade notarial. No Estado de São Paulo, por exemplo, a matéria é regida pelos itens
105 e seguintes do Cap. XIV, Tomo II, das NSCGJSP.

40
Vale dizer, desde que atendidos os pressupostos e requisitos legalmente fixa-
dos, os interessados poderão escolher entre a via judicial e a extrajudicial para a opera-
cionalização do inventário e da partilha³.

A escritura, assim concebida, constitui título hábil para o registro imobiliário e


demais órgãos e repartições públicas e privadas para a transferência de bens e direitos,
bem como para promoção de todos os atos necessários à materialização das transferências
de bens e levantamento de valores, independentemente de homologação judicial4.

Essa inovação se alinhou a uma tendência crescente nas últimas décadas em prestigiar
a atividade dos notários e registradores, ampliando seu âmbito de atuação. Isso não
apenas pela destacada celeridade e segurança jurídica que as serventias extrajudiciais
garantem, mas também pelo consequente desafogamento do Poder Judiciário, que
pode então se concentrar na resolução de questões efetivamente litigiosas.

É nesse ponto, aliás, que reside a nota característica dos procedimentos atribu-
ídos às serventias extrajudiciais: a ausência de litigiosidade. Por isso, a lei exige como
pressuposto para a viabilidade do processamento extrajudicial do inventário que as par-
tes sejam plenamente capazes e concordes, exigindo também a inexistência de testa-
mento válido e eficaz deixado pelo falecido.

Inexistência de testamento como pressuposto para a via extrajudicial

Como mencionado, a opção pela via extrajudicial não se compatibiliza com a


existência de litigiosidade, daí se exigir a concordância entre os interessados. Estes, até
para que possam expressar sua concordância, devem ser plenamente capazes. O Art.
610, do CPC, é claro nesse sentido, afirmando, em seu § 1º, que o inventário e a partilha
poderão ser feitos por escritura pública "se todos forem capazes e concordes". Essa
exigência complementa o disposto no caput, segundo o qual se impõe a via judicial se
houver testamento ou interessado incapaz.

Do referido caput, se depreende o outro pressuposto do inventário extrajudicial,


qual seja, a inexistência de testamento válido e eficaz do falecido.

3
Ressalte-se o caráter facultativo do inventário e partilha extrajudiciais. Disso decorre ser possível optar
pela via judicial, ainda que presentes todos os requisitos legais para o processamento administrativo. Essa
natureza facultativa deriva da própria dicção legal, haja vista ter a lei utilizado o vocábulo “poderão” no §
1º, do Art. 610, do CPC/2015. Fica claro, pois, o objetivo do legislador de criar uma alternativa aos interes-
sados, sem obrigá-los e sem prejudicar o direito de ação das partes. O Art. 2°, da Resolução nº 35/2007, é
ainda mais claro nesse sentido, determinando: “é facultada aos interessados a opção pela via judicial ou
extrajudicial; podendo ser solicitada, a qualquer momento, a suspensão, pelo prazo de 30 dias, ou a de-
sistência da via judicial, para promoção da via extrajudicial”. Não obstante, até por um imperativo de segu-
rança jurídica, não se deve admitir a tramitação simultânea dos dois procedimentos, judicial e extrajudicial.
 
4
V. F. Kümpel – C. M. Ferrari, Tratado Notarial e Registral, São Paulo, YK Editora, 2017, p. 918-919.

41
Visando operacionalizar essa exigência, o provimento 56/2016, do Conselho
Nacional de Justiça, tornou obrigatório, para a lavratura de escrituras públicas de inventário
extrajudicial, a juntada de certidão acerca da inexistência de testamento deixado pelo autor
da herança. Tal certidão é expedida, a pedido de interessado e mediante apresentação
da certidão de óbito, pela CENSEC – Central Notarial de Serviços Compartilhados, que
engloba, dentre seus módulos de informação, o Registro Central de Testamentos OnLine
(RCTO), responsável por recepcionar informações sobre a lavratura de testamentos
públicos e instrumentos de aprovação de testamentos cerrados em todo o Brasil5.

Flexibilização da exigência: precedentes

A regra do caput do Art. 610, do Código de Processo Civil, no que diz respeito à
imposição da via judicial ante a existência de testamento, não foi considerada absoluta
pela doutrina nem pela jurisprudência. Cite-se, por exemplo, o Enunciado nº 600, da
VII Jornada de Direito Civil do CJF, segundo qual "após registrado judicialmente o
testamento e sendo todos os interessados capazes e concordes com os seus termos,
não havendo conflito de interesses, é possível que se faça o inventário extrajudicial".
Também, nessa linha, posicionaram-se as Corregedorias das Justiças dos diversos
estados, editando normas que igualmente excepcionam a referida exigência.

É o caso das normas extrajudiciais paulistas, que, com a edição do Provimento


37/20166, passaram a permitir o processamento do inventário, pela via administrativa,
quando houver expressa autorização do juízo sucessório competente, nos autos do
procedimento de abertura e cumprimento do testamento, com todos os interessados
capazes e concordes7. Regra idêntica foi incorporada à Consolidação Normativa do Rio
de Janeiro8, a partir do Provimento 24/2017.

As normas paulistas também admitiram o inventário extrajudicial nas hipóteses


de testamento revogado ou caduco ou, ainda, quando houver decisão judicial, com
trânsito em julgado, declarando a invalidade do testamento, observadas a capacidade
e a concordância dos herdeiros9. Porém, nesse caso, cabe ao notário, de forma prévia,
solicitar a certidão do testamento, a fim de constatar a existência de disposição
reconhecendo filho ou qualquer outra declaração de caráter irrevogável, caso em que a
lavratura de escritura pública de inventário e partilha ficará vedada, processando-se o
inventário exclusivamente pela via judicial10.

5
Art. 2º do Provimento nº CNJ 56/2016.
6
O provimento teve fundamento no parecer 133/2016-E, emitido no Processo nº 2016/52695, relatado
pelo então juiz assessor da Corregedoria, Swarai Cervone de Oliveira.
7
Item 129, Cap. XIV, Tomo II.
8
Art. 286, § 1º, II.
9
Item 129.1, Cap. XIV, Tomo II, das NSCGJSP.
 10 Item 129.2, Cap. XIV, Tomo II, das NSCGJSP.

42
De forma semelhante, determinou o Código de Normas da Corregedoria Geral
da Justiça do Estado de Santa Catarina, tanto ao permitir o inventário por escritura
pública na hipótese de testamento revogado, caduco ou invalidado por decisão judicial
transitada em julgado¹¹, quanto ao admiti-lo se já ocorrida a abertura do testamento em
juízo e o cumprimento de todas as disposições testamentárias¹².

Posicionamento do STJ

A questão da compatibilidade entre o processamento extrajudicial do inventário


e a preexistência de testamento foi recentemente abordada pela 4ª Turma do STJ, por
ocasião do julgamento do REsp 1.808.767/RJ, ocorrido em 15/10/2019 e relatado pelo
ministro Luis Felipe Salomão.

A Corte concluiu, de forma unânime, pela possibilidade de inventário extrajudicial


mesmo havendo testamento do falecido, desde que este tenha sido previamente
registrado judicialmente ou se tenha a expressa autorização do juízo competente.
Isso se, atendendo à exigência da lei, os interessados forem capazes e concordes e
estiverem devidamente assistidos por advogados.

No caso analisado, a autora da herança falecera em 2015, deixando testamento


público que atribuía a parte disponível da herança ao viúvo. O referido testamento foi
aberto, processado e concluído perante a 2ª Vara de Órfãos e Sucessões do Rio de
Janeiro, com a plena concordância dos herdeiros – todos maiores e capazes – bem
como da Procuradoria do Estado.

Muito embora o inventário tenha sido iniciado na via judicial, os interessados solici-
taram a extinção do feito e a autorização para o proceder pela via administrativa. Tal pedido
foi indeferido em primeiro grau – decisão confirmada posteriormente pelo Tribunal de Jus-
tiça do Rio de Janeiro – com fundamento no Art. 610, caput, do CPC/2015. Argumentou-
-se que, de acordo com o dispositivo, a existência de testamento impõe o processamento
judicial do inventário e da partilha, obstaculizando, consequentemente, a via extrajudicial.

Em recurso ao STJ, os recorrentes invocaram o disposto no § 1º do mesmo


Art. 610, alegando que o preceito, ao permitir o inventário extrajudicial na hipótese de
herdeiros capazes e concordes, excepcionaria o caput, de modo que a existência de
testamento não seria, por si só, um empecilho à via administrativa.

No julgamento do Recurso Especial, tal argumento foi confirmado pelo relator,


que deu uma interpretação sistemática ao § 1º, considerando-o uma exceção ao
caput. Ou seja, muito embora a regra do caput estabeleça que tanto a existência de
testamento como de interessado incapaz impõem a via judicial, o § 1º, ao exigir tão

11
Art. 814-A, caput, acrescido pelo Provimento n° 18, de 23 de novembro de 2017.
12
Art. 814-A, § 1º.

43
somente a capacidade e concordância dos envolvidos para autorizar o processamento
extrajudicial do inventário, estaria restringindo a hipótese de incidência do caput. Vale
dizer, a existência de testamento em princípio impede a via extrajudicial, salvo na
situação de interessados plenamente capazes e concordes.

Reforçando essa possibilidade, argumentou o relator que o inventário extra-


judicial é fomentado pela legislação hodierna, pois representa uma redução na carga
burocrática – e consequentemente de tempo e custos – de modo a facilitar a opera-
cionalização da transmissão hereditária. Essa finalidade social é endossada, segundo o
ministro, pelos Arts. 5º, da LINDB, e 3º, 4º e 8º, do CPC.

Afirmou, ainda, que sendo todos os herdeiros e interessados maiores, capazes


e plenamente concordes quanto à destinação e à partilha de bens, inexiste conflito de
interesses, e por isso não seria razoável impor a judicialização do inventário para efetivar
um testamento inclusive já tido como válido pela Justiça.

FONTE: <https://bit.ly/3n2ZGlU>. Acesso em: 24 abr. 2021.

44
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O inventariante, para iniciar os atos de gestão dele, ordinários ou extraordinários,


deverá preencher o Termo de Compromisso de Inventariança, requisito necessário
para a nomeação.

• A nomeação do inventariante passará pelo crivo dos demais herdeiros antes de ser
nomeado pelo juiz, que presidirá o processamento do inventário.

• O inventariante assume as incumbências previstas no Art. 618 (ato de ordinários,


sem a necessidade de uma autorização), do CPC, e no Art. 619 (atos extraordinários,
que dependerão dos interessados e da autorização do juiz).

• Caso não cumpra os encargos ou traga prejuízos ao espólio, poderá ser destituído
do cargo.

45
AUTOATIVIDADE
1 O Termo de Compromisso é um documento que deverá ser assinado pelo inventariante,
no prazo de cinco dias. Esse termo expressa que o cônjuge sobrevivente, ou um
herdeiro, aceitou o cargo de inventariante, e que atuará, de forma idônea, em favor
do espólio até a partilha dos bens. A respeito desse Termo de Compromisso de
inventariança, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O Termo de Compromisso representa a promessa do inventariante de bem para,


fielmente, desempenhar o cargo.
b) ( ) O Termo de Compromisso representa as primeiras declarações do inventariante.
c) ( ) O Termo de Compromisso materializa a nomeação de uma pessoa ao cargo de
inventariante, habilitando-o à herança.
d) ( ) O Termo de Compromisso é assinado, somente, pelo herdeiro, ou pelo cônjuge
sobrevivente, que passará a atuar como inventariante.

2 O cônjuge sobrevivente, ou o herdeiro nomeado  para o cargo de inventariante,


passará a ter uma série de incumbências para com o processo de inventário, as quais
deverão ser cumpridas, sob pena de destituição do cargo. Com base nesses encargos
do inventariante, analise as sentenças a seguir:

I- Apresentar todos os bens, o ativo e as dívidas do “de cujus”.


II- Representar o espólio, judicial e extrajudicialmente, nos polos ativo e passivo.
III- Administrar durante o inventário, pois a partilha ficará a cargo do administrador
provisório.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e III estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 O inventariante  é o nomeado para administrar os bens do espólio (“de cujus”) até a


partilha. Cabe, a ele, representar a herança ativa e passivamente, tendo as funções
definidas, pelo CPC, no inventário judicial e no inventário extrajudicial. Conforme a
posição de inventariante, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

46
( ) Enquanto não prestado o compromisso de inventariante, o espólio será representado
pelo administrador provisório.
( ) O espólio será representado pelo inventariante  para representar os interesses
particulares de cada herdeiro.
( ) O inventariante fará as primeiras declarações dele com a assinatura do Termo de
Compromisso.
 
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 O Termo de Compromisso, dentro de um inventário, representa o aceite do


inventariante, ou seja, ao realizá-lo, este passa a ter várias incumbências no processo
de inventário, já que representará o espólio, judicial ou extrajudicialmente, ativa ou
passivamente. Disserte a respeito da necessidade, ou não, da utilização do Termo de
Compromisso no inventário extrajudicial.

5 O inventariante deverá praticar certos atos de gestão, dentre os quais estão os


que necessitam de autorização dos demais interessados e os que não necessitam.
Essa necessidade está prevista no Art. 619, do CPC de 2015. Aborde esses atos, que
necessitam de autorização dos interessados para que aconteçam dentro do processo
de inventário.

47
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Dispo-
nível em: https://bit.ly/31Jkuqo. Disponível em: 24 abr. 2021.

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35, de 24 de abril de 2007.


Disciplina a aplicação da Lei 11.441/07 pelos serviços notariais e de registro. Dis-
ponível em: https://bit.ly/3n8MBYp. Acesso em: 24 abr. 2021.

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível


em: https://bit.ly/3wAigoy. Acesso em: 24 abr. 2021.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


https://bit.ly/3bKce9w. Acesso em: 24 abr. 2021.

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Paulo: Livraria e Editora Universitária de Direito, 2016.

PIVA, R. C. Direito civil (online Plataforma Pearson). São Paulo: Manole, 2012. (cod. 19895)

RIZZARDO, A. Direito das sucessões. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.

48
RODRIGUES, S. Direito civil. 25. ed. Atualizada de Zeno Veloso. São Paulo: Saraiva, 2002.

ROSA, C. P. da; RODRIGUES, M. A. Inventário e partilha. Salvador: Juspodivm, 2019.

STRECK, L. L.; NUNES, D.; CUNHA, L. C. da; FREIRE, A. Comentários ao Código de


Processo Civil. São Paulo, 2017.

VENOSA, S. de S. Direito civil: sucessões. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2017 (Coleção
Direito Civil; 6).

49
50
UNIDADE 2 —

DAS PRIMERIAS DECLARAÇÕES


DO INVENTARIANTE DO
TERMO CIRCUNSTANCIADO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender como são feitas as nomeações do inventariante;

• diferenciar o Termo de Compromisso do Termo das Primeiras Declarações;

• analisar a função das primeiras declarações;

• impugnar as primeiras declarações do inventariante.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – NOMEAÇÃO DO INVENTARIANTE E ORDEM DE PREFERÊNCIA


TÓPICO 2 – TERMOS DE COMPROMISSO E TERMOS DAS PRIMEIRAS DECLARAÇÕES
TÓPICO 3 – PRIMEIRAS DECLARAÇÕES E IMPUGNAÇÃO

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UNIDADE 2!

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UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
NOMEAÇÃO DO INVENTARIANTE E ORDEM
DE PREFERÊNCIA

1 INTRODUÇÃO
O processo de inventário é uma sequência de atos que objetiva individualizar os
herdeiros e eventuais legatários, cessionários, devedores e credores do falecido; levantar o
valor dos créditos que teria a receber e a pagar das dívidas que deixou; recolher os impos-
tos e as taxas; apurar o patrimônio total a ser dividido e o valor; e, afinal, dividir e entregar o
quinhão que cabe a cada beneficiado. Contudo, diferentemente da maioria dos demais pro-
cessos que visam à satisfação de um direito material, o inventário necessita, não somente,
de alguém o impulsione, mas, também, de um gestor, para administrar o ativo e/ou passivo
deixados pelo de cujus, proteger o patrimônio contra terceiros e assegurar a manutenção
do valor de mercado, além de representar o espólio, ativa e passivamente, em juízo e/ou fora
dele, nos termos do Art. 75, inciso VII, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015).

FIGURA 1 – ADMINISTRADOR PARA PASSIVO E ATIVO DO INVENTÁRIO

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/2745/recent_pics>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Para atender a essa necessidade, o juiz nomeia um responsável,


legalmente, denominado de inventariante, seguindo, ao máximo, a ordem
preferencial contida nos incisos do Art. 617, do Código de Processo Civil (BRASIL,
2015), a qual, entretanto, não é rígida, e foi pensada, pelo legislador, a partir da
presunção de que o companheiro, ou o herdeiro, que estava na administração
dos bens na data do passamento, é mais interessado e apto para gerir o espólio,
conservar os bens e dar andamento ao processo de inventário, ou seja, a lei
segue uma presunção decrescente, que parte daqueles que melhor conhecem
53
a vida e os negócios do inventariado e/ou têm grande interesse na preservação
dos bens, até uma pessoa estranha, de confiança do juiz e sem nenhum vínculo
pessoal ou familiar com o de cujus.

Após a nomeação, o inventariante deve assinar o Termo de Compro-


misso de bem para desempenhar o encargo, apresentar as primeiras declara-
ções e juntar os documentos exigidos em lei, dando início efetivo ao inventário
dos haveres e das dívidas do de cujus.

As primeiras declarações, por sua vez, abarcam a formalização das


informações dos herdeiros, legatários, bens, direitos e obrigações. Servem de
base para o inventário e para a partilha, e devem ser bem completas.

De pronto, é importante ressalvar a responsabilidade do inventariante


quanto à correta indicação de todos os bens e valores. Não raro, até por acordo
entre os herdeiros, o inventariante deixa de informar a existência de dinheiro,
móveis caros, joias, louças de valor expressivo, quadros de pintores famosos,
títulos ao portador, o que pode gerar a responsabilidade e o dever de ressarcimento.

2 NOMEAÇÃO DO INVENTARIANTE
O inventariante é a pessoa, judicialmente, encarregada de impulsionar o pro-
cesso de inventário, e, a um só tempo, administrar e proteger o patrimônio a ser dividi-
do até a partilha final, porém, em que pese a ordem prevista no Art. 617, do Código de
Processo Civil (BRASIL, 2015), não há um critério rígido e imutável para a nomeação do
inventariante dentro da predileção normativa estabelecida pelo legislador.

O juiz deve escolher e nomear, segundo o próprio prudente arbítrio, a pessoa que
entender ser, processualmente, e mais idônea para a tarefa, entendida a idoneidade, nesse
caso, como a reunião de atributos que favoreçam a observância dos preceitos legais, como:

• capacidade civil;
• condições físicas e mentais para o encargo;
• qualidades morais, econômicas, administrativas e jurídicas;
• disponibilidade de tempo;
• experiência;
• respeito e confiança dos demais herdeiros ou legatários.

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FIGURA 2 – INVENTARIANTE, PROCESSUALMENTE, IDÔNEO, CAPAZ DE OBSERVAÇÃO DOS PRECEIROS
LEGAIS

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/7645/search/978>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Um exemplo, para uma melhor compreensão, seria se o falecido fosse um


investidor cujo espólio consista em uma expressiva quantidade de ações e de altas
aplicações no mercado futuro de commodities. O herdeiro mais idôneo, certamente,
seria um economista. Se a preservação do espólio exigir a administração complexa de
empresas ou de bens imóveis com alto rendimento mensal, o mais idôneo seria um
administrador de empresas.

Após a nomeação, o inventariante é intimado, pessoalmente, para, no prazo de


cinco dias, comparecer no cartório e firmar o Termo de Compromisso, um documento
simples e elaborado pelo cartório, no qual constam a qualificação do inventariante, a
informação e a aceitação da nomeação, a promessa de bem cumprir o compromisso e
regular andamento ao processo de inventário, a data e a assinatura do inventariante ou
do advogado com poderes especiais.

O Termo de Compromisso pode ser definido como um compromisso legal, uma


promessa formal do inventariante, a de que aceita e de que desempenhará, honradamente,
os deveres e as obrigações do cargo; apresentará as primeiras declarações no prazo
legal, sem ocultar herdeiros e bens; trará, ao processo, todas as provas necessárias;
trabalhará pela consensualidade entre os interessados, para evitar litígios desnecessários;
antecipará o pagamento das despesas processuais; quitará os impostos; fará a defesa do
espólio em juízo e fora dele; e administrará os bens como se próprios fossem. É um pacto
de bem, e, fielmente, capaz de suportar o encargo da inventariança, preservar os bens,
pagar as dívidas, representar o espólio das formas ativa e passiva, em juízo ou fora dele,
observando-se quanto ao dativo e à necessidade da intimação dos herdeiros, segundo o
Art. 75, inciso primeiro, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015).

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Na prática, o usual é o advogado ser intimado da nomeação do inventariante, e,
com poderes especiais na procuração, assinar o Termo de Compromisso.

FIGURA 3 – ADVOGADO - TERMO DE COMPROMISSO - PODERES ESPECIAIS

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/8476/search/956>. Acesso em: 24 abr. 2021.

O prazo de cindo dias para a assinatura pode ser prorrogado pelo juiz, em razão
de impedimento momentâneo do inventariante e da falta de poderes especiais na
procuração. Ainda, suspenso pela morte ou pela perda da capacidade processual dos
herdeiros, do representante legal ou dos advogados, por convenção entre os herdeiros e
os legatários, por motivo de força maior ou quando interposto incidente de impedimento
ou de suspeição, como afirmam o Art. 313 e incisos, do Código de Processo Civil (CPC).
Por fim, quando interposta exceção de incompetência até o juiz de primeiro grau aceitá-
la ou rejeitá-la, como preconiza o Art. 337, do CPC (BRASIL, 2015).

Além de administrar o espólio; de resguardar os bens como se próprios fossem;


dar andamento regular ao processo; e prestar as primeiras e as últimas declarações
pessoalmente ou por meio de procurador com poderes especiais, são deveres, do
inventariante, exibir, em cartório, os documentos relacionados ao espólio para o exame
das partes; juntar, nos autos, a certidão do testamento, se houver; trazer, à colação, os
bens recebidos pelo herdeiro ausente, que renunciar à herança ou tiver sido excluído,
com a finalidade de igualar as legítimas, nos termos dos Arts. 2.002 a 2.012, do Código
Civil (BRASIL, 2015); prestar conta da própria gestão ao deixar o cargo ou quando
destituído pelo juiz; e requerer a declaração de insolvência do espólio.

Apesar de ser, apenas, um conjunto de bens a serem inventariados, e não ter


personalidade jurídica civil, o espólio é, legalmente, pessoa formal, e, nessa qualidade,
reveste-se de capacidade, podendo ser acionar e ser acionado judicialmente.

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FIGURA 4 – ESPÓLIO - PESSOA FORMAL PORTADORA DE CAPACIDADE

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/6117/tags/3583-processo>. Acesso em: 24 abr. 2021.

A colação, por sua vez, pode ser definida como o ato pelo qual o inven-
tariante informa, no processo de inventário, os bens recebidos por um ou mais
herdeiros como antecipação da legítima.

É importante trazer, ao processo, a relação dos bens e dos valores re-


cebidos antecipadamente, para equilibrar, na partilha, a herança a ser recebida
pelos demais herdeiros, evitando que aquele que recebeu bens do inventariado
em vida seja agraciado com um quinhão maior.

É permitido, aos herdeiros, renunciarem à totalidade da herança, imedia-


tamente, após a abertura do inventário, desde que não tenham exercido atos de
vontade que impliquem em aceitação tácita. Não existe renúncia parcial: o her-
deiro aceita ou renuncia, integralmente, à herança e a todos os encargos dela.

A desistência da herança, no decorrer do processo de inventário, não é


renúncia, mas doação em favor de um ou de mais herdeiros ou legatários.

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FIGURA 5 – DESISTÊNCIA DA HERANÇA NO CORRER DO PROCESSO - DOAÇÃO

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/5527/tags/1038-compartilhar>. Acesso em: 24 abr. 2021.

A exclusão do direito à herança, por sua vez, nos termos do Art. 1.814, do Código
Civil (BRASIL, 2015), pode ocorrer por atos de indignidade:

• atentado contra a vida ou a honra do falecido e dos familiares próximos (cônjuge,


companheiro, ascendentes ou descendentes);
• calúnia ou crimes contra a honra do inventariado, seu cônjuge ou companheiro;
• atos de violência ou de fraude, com impedimento de acesso, do autor da herança,
aos próprios bens por ato de última vontade.

IMPORTANTE
É importantíssimo que os atos de disposição de última vontade,
testamento ou codicilo sejam trazidos ao processo de inventário.

Nos termos do Código Civil, o testamento é ato personalíssimo, unilateral,


gratuito, solene e revogável, pelo qual uma pessoa destina os bens dela a pessoas
físicas ou jurídicas, total ou parcialmente, e (BRASIL, 2015):

• nomeia tutor para os filhos menores, segundo o Art. 1.634, inciso IV, c/c Art. 1.729, §
único; e curador especial para os incapazes, através do Art. 1.733;
• reconhece filhos havidos fora do casamento, segundo o Art. 1.609, inciso III;
• declara e reconhece fatos, como a união estável;
• cria fundações, conforme o Art. 62;

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• institui bem de família, segundo o Art. 1.711; condomínios editalícios, conforme o Art.
1.332; servidões, pelo Art. 1.378; e multipropriedade, ao se observar o Art. 1.358-F;
• faz doações, em observância ao Art. 549;
• estabelece a destinação de óvulos e de sêmen congelados, confessa dívidas,
crimes, dentre outros.

Já o codicilo é o instrumento escrito que estipula obrigações de pequeno valor, como


dádivas e esmolas para pessoas certas e determinadas. É a destinação de bens pessoais,
como roupas, joias e móveis, com o estabelecimento de regras para o próprio enterro etc.

3 ORDEM DE PREFERÊNCIA PARA A ESCOLHA DO


INVENTARIANTE
A ordem de preferência, estabelecida pelo legislador, no Art. 617, do Código de
Processo Civil (BRASIL, 2015), objetiva a eleição do inventariante com maior probabilidade
de conhecer a totalidade dos herdeiros, dos bens e das rendas deles advindas, dos
créditos a receber, das dívidas a quitar, e que, concomitantemente, reúna as melhores
qualidades para representar e administrar o patrimônio, em juízo e fora dele.

A primeira opção do legislador foi o cônjuge ou o companheiro supérstite, convivente


com o inventariado ao tempo da morte e que estivesse na coadministração e sob a posse
dos bens. Não raro, por direito próprio, eles são, também, proprietários de parte do patrimônio
a ser inventariado, com interesse direto na proteção, valorização e conservação dos bens.

FIGURA 6 – PRIMEIRO NA ORDEM DE PREFERÊNCIA - CÔNJUGE OU COMPANHEIRO SUPÉRSTITE

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/8174/search/964>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Mesmo sem meação, pelo conhecimento mútuo proporcionado pela


convivência íntima diária, o cônjuge, ou companheiro sobrevivente, segue sen-
do o mais bem qualificado para oferecer as primeiras declarações, por poder in-
dicar, de forma completa e transparente, todos os herdeiros ou legatários, bens,
dívidas e créditos a serem inventariados, evitando conflitos e litígios desneces-
sários ou posterior sobrepartilha por sonegação.
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NOTA
No direito brasileiro, não existe diferença entre cônjuge e
companheiro para efeitos sucessórios, entendimento pacificado pelo
Superior Tribunal Federal, nos temas 0498 e 0908, em repercussão
geral (STF. RE 646.721. 2017), que concluiu “Inconstitucional a
distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros,
prevista no Art. 1.790, do CC/2002, devendo ser aplicado, nas
hipóteses de casamento e nas de união estável, o regime do Art.
1.829, do CC/2002” (BRASIL, 2017).

FONTE: <https://bit.ly/3n7AFWG>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Cônjuge sobrevivente e companheiro sobrevivente são equiparados no direito


de preferência à nomeação como inventariantes, devendo ser observado o Art. 1.829
para a definição do regime de bens.

O regime escolhido pelas partes, no casamento ou na escritura declaratória de


união estável, prevalece após a formalização da união. Antes dela, o regime que vige é,
sempre, o da comunhão parcial de bens, não se comunicando os adquiridos antes da
convivência comum, os recebidos como doação e os herdados.

Na falta de cônjuge ou de companheiro supérstite, convivente com o falecido


na data do óbito, ou que não reúna condições físicas e/ou mentais para a nomeação, o
legislador optou por colocar, na ordem de preferência, o herdeiro que detenha a posse e
a administração dos bens. Novamente, o legislador privilegiou a pessoa mais próxima do
de cujus, com melhores condições de indicar todos os herdeiros, legatários e credores;
carrear, ao processo, todos os bens, direitos, dívidas e demais informações necessárias
ao regular andamento do feito; e, a um só tempo, com interesse direto na preservação
do valor do patrimônio a ser dividido.

Não havendo herdeiro sob a posse e a administração dos bens, o juiz poderá
nomear qualquer um deles, maior e capaz. Inexistindo herdeiros maiores e capazes, a
preferência recai nos menores, por meio do representante legal deles.

Em que pese o Código de Processo Civil seja silente, devem ser incluídos,
no mesmo patamar dos herdeiros menores, aqueles com deficiência física, mental,
intelectual ou sensorial, curatelados ou não, e os ausentes, também, por meio dos
respectivos representantes legais.

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FIGURA 7 – HERDEIROS DEFICIENTES FÍSICOS, MENTAIS, INTELECTUAIS OU SENSORIAIS E AUSENTES,
EQUIPARADOS AOS MENORES PARA EFEITOS DE INVENTARIANÇA

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/3352/search/968>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Nos termos da Lei nº 13.146/15 (BRASIL, 2015), conhecida como Estatuto do


Deficiente Físico, a participação plena e efetiva dos portadores de deficiência deve se dar
em condições de absoluta igualdade com as demais pessoas. Assim, não há razão para
manter, fora da ordem de nomeação dos inventariantes, os deficientes que necessitam
de apoio ou de curatela, na pessoa dos representantes legais.

Tendo, o falecido, deixado testamento, a partir da falta das pessoas elencadas


anteriormente, ou se nenhuma delas reunir condições para assumir o encargo da
inventariança, o juiz nomeará esse para o testamenteiro, se ele estiver a par da
administração dos bens do espólio ou se a herança for constituída, apenas, por legados.

Se nenhuma das pessoas citadas anteriormente existir, ou se estiverem


impossibilitadas de assumir o encargo, por qualquer motivo, o juiz pode nomear, como
inventariante, o cessionário do herdeiro ou do legatário, ou seja, aquele para quem ele
transferiu um ou mais direitos e/ou obrigações.

Finalmente, na falta de cessionário de direitos e/ou de obrigações, o juiz


nomeará um inventariante judicial, auxiliar do juízo, e, na comarca na qual ele não existir,
uma pessoa estranha idônea.

O inventariante judicial e a pessoa idônea, ainda que nomeada em caráter


eventual, serão remunerados na qualidade de auxiliares da justiça, a exemplo dos
peritos, dos depositários e dos intérpretes. A remuneração será arbitrada pelo juiz, entre
um e cinco por cento da herança líquida, por analogia ao Art. 1.987, do Código Civil
(BRASIL, 2015), que prevê o prêmio do testamenteiro.

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FIGURA 8 – INVENTARIANETE JUDICIAL E PESSOA IDÔNEA - AUXILIARES DA JUSTIÇA

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/6585/search/970>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Exemplo de excepcionalidade é a indicação do testamenteiro como inventariante,


expressa no testamento. Se o juiz entender prudente a escolha do testador, não se oporá a ela.

Na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a nomeação do testamenteiro


como inventariante, em detrimento dos herdeiros, é permitida sempre que a situação
de beligerância entre eles, assim, recomendar. No Agravo em Recurso Especial número
1.601.918 – PR do Superior Tribunal de Justiça (BRASIL, 2019), de relatoria do Ministro
Luis Salomão, o pedido de destituição do inventariante foi negado sob o argumento de
inexistência de subversão da ordem legal de nomeação do Art. 617, do CPC (BRASIL,
2015), quando a prudência recomendar que nenhum dos herdeiros seja nomeado para
o exercício da inventariança. A Corte deixou claro que o rol do Art. 617 é flexível, e que a
escolha deve recair sob a pessoa mais apta para assegurar o trâmite regular do processo
e a defesa dos direitos de herdeiros e de legatários.

NOTA
A regra geral é de observância da ordem de nomeação, do Art. 617, do Código
de Processo Civil, mas ela pode ser excepcionada para evitar prejuízo para a
administração dos bens do espólio, para o regular andamento do processo ou
se alguma das pessoas não puder cumprir as funções da inventariança.

FONTE: <https://bit.ly/3mrEAuM>. Acesso em: 24 abr. 2021.

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A simples falta de acordo, ou a disputa, entre os herdeiros, pela inventariança,
entretanto, não autoriza a preterição. As circunstâncias precisam demonstrar a prudência
e os critérios objetivos para a escolha do nomeado mais idôneo em detrimento dos
demais na ordem legal. A decisão precisa ser fundamentada nos termos do Art. 93,
inciso IX, da Constituição Federal (BRASIL, 1988).

Considerando que cabe, ao inventariante, pagar as dívidas do espólio da forma


mais favorável para os herdeiros e para os legatários, o credor pode, mas não deve ser
nomeado inventariante, ainda que na condição de dativo, única pela qual poderia ser
habilitado, em razão do óbvio conflito de interesses com o espólio, já que é direito legal
dele receber o crédito, preferencialmente, em dinheiro, além de pleitear a separação de
bens para o pagamento com liquidação em praça ou leilão, optar pela adjudicação de
bens, e pedir a expropriação desses bens do monte. A exceção é quando o valor dos
bens do espólio é inferior ao crédito, e um único credor tem direito a eles. Nesse caso,
inexiste o conflito de interesses, já que, por lei, o credor ficará com todo o monte mor.

Quanto ao cessionário, se os bens foram adquiridos antes da abertura do


testamento ou da instauração do processo de inventário, ele se iguala aos herdeiros, e
não há óbice para a nomeação dele como inventariante.

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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O inventariante é nomeado pelo juiz, e a escolha deve recair no mais, processualmente,


idôneo, entendida a idoneidade como capacidade civil, física e mental para suportar o
encargo, incluindo boas qualidades morais, econômicas, administrativas e jurídicas,
disponibilidade de tempo, experiência, respeito e confiança dos demais herdeiros
ou legatários. Após, o inventariante firma um Termo de Compromisso, prometendo
cumprir o encargo com diligência e honradez, impulsionar o processo, e administrar
e proteger o patrimônio do espólio até a partilha final.

• O Código de Processo Civil, no Art. 617, prevê uma ordem para a nomeação do
inventariante, que é flexível, recaindo, primeiramente, no cônjuge, ou no companheiro
supérstite, que esteja na administração dos bens no momento da morte; depois,
no herdeiro que detém a administração dos bens; e, sucessivamente, em qualquer
herdeiro, no herdeiro menor, incapaz ou ausente na pessoa do seu representante
legal, no testamenteiro, no cessionário, no inventariante judicial e em qualquer
pessoa idônea da confiança do juiz.

• O inventariante exerce numus publico, e as obrigações dele estão elencadas


nos Arts. 618 e 619, que afirmam que deve administrar e representar o espólio,
ativa e passivamente, em juízo e fora dele; apresentar as primeiras e as últimas
declarações; exibir os documentos relativos ao espólio para o exame das partes;
juntar a certidão de testamento, se houver; trazer, à colação, bens em antecipação
da legítima; prestar contas; requerer a insolvência do espólio; e, com a autorização
do juiz, alienar bens, transigir, pagar dívidas do espólio e cuidar da conservação e da
manutenção dos bens.

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AUTOATIVIDADE
1 O processo de inventário é uma sequência de atos que visam à satisfação do direito
material dos herdeiros. Precisa de alguém que o impulsione, e, a um só tempo,
administre os bens deixados pelo de cujus. A respeito desse administrador, o que
podemos afirmar? Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) É pessoa idônea nomeada pelo juiz com capacidade civil, condições físicas,
mentais, morais, econômicas e disponibilidade de tempo para suportar o encargo.
b) ( ) É pessoa idônea, nomeada na ordem do Art. 617, do Código de Processo Civil, que
é rígida.
c) ( ) É qualquer um que tenha cultura e tempo suficientes para impulsionar o processo
e administrar o espólio.
d) ( ) É uma pessoa indicada pelas partes e nomeada pelo juiz, com base, exclusiva-
mente, na confiança familiar.

2 O Termo de Compromisso pode ser definido como um compromisso legal do


inventariante, o de que aceita e desempenhará, honradamente, os deveres e as
obrigações do cargo, em especial, dar andamento ao processo de inventário e bem
administrar o espólio. A respeito do conteúdo do Termo de Compromisso, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) É um documento simples feito pelo cartório, uma promessa formal a ser assinada,
exclusivamente, pelo inventariante nomeado.
b) ( ) É um documento simples no qual, além da promessa formal de dar andamento
ao processo, deve constar a relação dos herdeiros e dos bens que serão
administrados.
c) ( ) É um documento simples, feito pelo cartório, uma promessa formal na qual
constam a qualificação do inventariante, a ciência e a aceitação da nomeação e
a promessa de bem desempenhar o encargo.
d) ( ) É um documento simples, elaborado e assinado pelo advogado, mesmo sem
poderes especiais, uma promessa que dará regular andamento ao processo.

3 O Temo de Compromisso deve ser assinado pelo inventariante em cinco dias após
a ciência da nomeação, sob pena de destituição do encargo, mas em situações
excepcionais, os interessados podem pedir, ao juiz, e ter deferida a prorrogação
desse prazo. A respeito dessa prorrogação e do deferimento dela, classifique V para
as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Sempre que for conveniente, para o inventariante, é preciso esperar até ter ciência
da extensão do encargo e do que precisa fazer para apresentar as primeiras
declarações.

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( ) Quando o advogado precisa de tempo para contatar os herdeiros e os legatários e
para pegar a procuração com os poderes especiais.
( ) Sempre que o nomeado, o procurador ou o representante legal morrer ou perder a
capacidade civil.
( ) Quando interposto incidente de impedimento ou de suspeição.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – V – F.
b) ( ) F – F – V –V.
c) ( ) F – V – F – F.
d) ( ) F – F – V– F.

4 Em que pese o Código de Processo Civil, no Art. 617, indique uma ordem preferencial
para a nomeação dos inventariantes. Ela não inclui os deficientes físicos, mentais,
intelectuais ou sensoriais. Analise a situação desses indivíduos a partir da Lei n°
13.146/15 e explique a razão pela qual eles não podem ser excluídos da inventariança.

5 O Código de Processo Civil estabelece uma série de tarefas a serem cumpridas


pelo inventariante, no exercício do numus público, para o bom desenvolvimento do
processo e para a profícua gestão dos bens, dos direitos e das obrigações do espólio,
porém, como mero gestor do espólio, mesmo que parte dos bens a serem divididos lhe
pertença, ele não pode tudo. A lei estabelece obrigações que só podem ser cumpridas
com a autorização do juiz. Explique a diferença entre as obrigações que podem ser
cumpridas sem ordem judicial e as que precisam desse aval.

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UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
TERMOS DE COMPROMISSO E TERMOS DAS
PRIMEIRAS DECLARAÇÕES

1 INTRODUÇÃO
Prestado o compromisso legal, a primeira obrigação do inventariante é apresen-
tar as primeiras declarações no prazo e segundo as regras processuais.

As informações contidas nas primeiras declarações devem ser detalhadas e


completas, para permitir a construção de um termo circunstanciado estruturado, sem
falhas, e, ao final, uma partilha equitativa, observada a razoável duração do processo.

2 FUNÇÃO TERMO DE COMPROMISSO E TERMO DAS


PRIMEIRAS DECLARAÇÕES
Vinte dias após a assinatura do Termo de Compromisso, o inventariante deve
juntar no processo de inventário as Primeiras Declarações ou, em caso de impedimento
justificável, comunicar o fato ao juiz e pedir novo prazo, sob pena de destituição.

O Art. 620, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015), elenca a ordem na qual
as informações devem ser prestadas, e que, posteriormente, serão transladadas para o
termo circunstanciado, a saber:

• qualificação completa do falecido, dia e lugar da morte, testamento, com


individualização e a competência do juízo;
• qualificação completa do cônjuge ou companheiro supérstite, se houver, com
indicação do regime de casamento e eventual pacto antenupcial, ou escritura
declaratória de união estável; dos herdeiros, com indicação do grau de parentesco
com o de cujus, e dos legatários. A partir de nascituros, com o quinhão destinado a
eles reservado, nos termos do Art. 650, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015).

O material genético crioconservado, ou seja, espermatozoides, óvulos ou


embriões, deve ser informado, especialmente na falta de disposição testamentária. Por se
tratar de questão sucessória recente na história do direito, sem previsão legal, consenso
doutrinário ou jurisprudencial, ela será decidida pelo juiz caso a caso, considerando os
direitos iguais dos herdeiros havidos ante mortem e post mortem.

As únicas normas sobre a crioconservação são a Resolução nº 2.168 (BRASIL,


2017), do Conselho Federal de Medicina, e o Provimento n° 63, do Conselho Nacional

67
de Justiça (BRASIL, 2017), que permitem o uso de material genético post mortem para
concepção, desde que existente autorização expressa. A Lei n° 11.105/05, conhecida
como Lei de Biossegurança (BRASIL, 2005), prevê o uso do material para reprodução
assistida para doação ou descarte. Porém, não há nenhuma regulamentação que trate
da situação do embrião implantado, mesmo sem consentimento expresso do falecido,
que resultou numa vida. O aborto, in casu, é ilegal. A lei não prevê diferença entre os
herdeiros ante mortem e post mortem. Os direitos do nascituro são assegurados em lei.
E a punição que poderia ser imputada a quem fez mal uso do embrião, espermatozoide
ou óvulo sem autorização expressa do de cujus não atinge o ser vivo em geração ou
já nascido, pois isso feriria a dignidade da pessoa humana, princípio pilar de toda a
estrutura jurídica brasileira. A adoção de embriões também é muito pouco aventada,
que dirá debatida, na comunidade jurídica.

Por outro lado, a lei também assegura o pleno uso da propriedade. Se o material
crioconservado é doado a alguém, tanto o proprietário desse material tem direitos sobre
ele como a pessoa humana fruto desse material pode ter direitos sucessórios sobre o
patrimônio deixado pelo doador. Um embrião não existe sem dois doares, o que permite
concluir que pertence a duas pessoas. Se a jurisprudência reconhece o direito dos
adotados de terem anotados na sua certidão de nascimento os nomes dos genitores
biológico e afetivo, não haveria razão legal para vetar a inclusão do nome do doador ou
doadores do material crioconservado.

De outro lado, estão os direitos sucessórios de herdeiros e legatários, que diante


de um ato espúrio de terceiro podem ver diminuído o patrimônio que teriam e esperavam
receber, o impacto de um novo parente inesperado nas estruturas familiares existentes etc.

A comédia De Repente Pai (2014), dirigida por Ken Scott, chama a atenção para
um pai de meia idade, que em dado momento foi doador de esperma e que descobre, anos
depois, ter 533 filhos adolescentes que querem conhecer o pai biológico, e traz discussão
jurídica no âmbito do direito de família e sucessório, que já se fazem necessários.

São muitas as situações possíveis e ainda sem respostas, que merecerão estudos
e debates doutrinários e jurisprudenciais nos próximos anos, ante o desenvolvimento
de técnicas cada vez mais modernas de reprodução assistida. Por isso, recomenda a
cautela que o material crioconservado seja informado no inventário e, se for o caso,
tomadas providências no juízo comum para obstar ou permitir seu uso, conforme os
interesses das partes.

68
FIGURA 9 – MATERIAL CRIOCENSERVADO - HERDEIROS HAVIDOS ANTE MORTEM E POST MORTEM -
DIREITOS IGUAIS

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/2399/search/971>. Acesso em: 24 abr. 2021.

As informações nas primeiras declarações devem estar acompanhadas


dos documentos comprobatórios e, se houver, testamento mandado cumprir
antecipadamente, nos termos do Art. 735, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015).

O nome, a nacionalidade, o estado civil, a idade, o endereço eletrônico e a


residência servem para individualizar os interessados e demonstrar a capacidade civil.
Se houver menores é obrigatório nomear e qualificar os representantes legais, bem
como pedir a intimação do Parquet.

A nacionalidade do estrangeiro deve ser informada para estabelecer a legislação


mais favorável aos interesses do cônjuge e filhos brasileiros, conforme inciso XXXI, Art.
5°, da Carta Magna, regulamentado na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
(LINDB), Decreto nº 4.657/42, Art. 10°, § 1° (BRASIL, 1942).

Com o avanço do processo eletrônico e maior acesso dos jurisdicionados à


internet, a lei passou a exigir também o endereço eletrônico, para intimação via meios
eletrônicos, Art. 193, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015).

A qualidade dos herdeiros e o grau de parentesco com o autor da herança.


A informação do regime de casamento ou da união estável é imprescindível para o
reconhecimento do direito de meação, da qualidade de herdeiro e do grau de parentesco
para a determinação da ordem de vocação hereditária que impactará na partilha.

A autodeclaração dos herdeiros, sobre viverem em regime de união estável, faz


prova e resguarda direitos futuros patrimoniais, previdenciários, dentre outros.

69
A relação completa e individualizada dos bens, direitos e ações, inclusive dos
trazidos à colação, na ordem do Art. 620, do CPC (BRASIL, 2015), com individualização
do valor à época da morte, mesmo estimado, acompanhada da prova documental,
sempre que possível.

Os bens alheios na posse do inventariado à época da morte, ainda quando haja


dúvidas sobre se integram ou não o espólio, ou faltem documentos comprobatórios
da propriedade e da sua origem, também devem ser elencados de forma individuada,
informada esta peculiaridade e estimado o valor na data do passamento.

O valor corrente dos bens informado pelo inventariante, mesmo estimado, goza
de presunção de veracidade, mas pode ser impugnado pelos herdeiros e interessados,
a quem cabe o ônus da prova.

Não raro, herdeiros e interessados entram em acordo e informam valores abaixo


do mercado esperando pagar um valor menor de imposto de transmissão causa mortis,
cujas alíquotas variam de 3% a 6% de acordo com estado, sem levar em consideração o
fato gerador de outros tributos, como o imposto de renda sobre ganhos de capital, que
tem alíquotas entre 15% e 22,5%, segundo a legislação de número 13.259 (BRASIL, 2016).

NOTA
Não se deve usar nas primeiras declarações, e nem numa escritura
pública de inventário, a expressão vaga e genérica: “... é atribuído
pelas partes o valor de R$ xx,xx, para os fins fiscais”. Essa confissão
impede o inventariante de, na declaração para o cálculo do Imposto
de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), optar pelo valor
mais vantajoso para os herdeiros ou para o espólio, que pode ser
o valor de mercado dos bens, o valor venal ou o valor declarado
no Imposto de Renda (IR) do cujus. A tributação não está vinculada
aos valores exigidos no Código Civil, e pode ser vantajoso, para o
herdeiro, no decorrer do processo, trocar os valores informados
nas primeiras declarações pelo valor corrigido pelo Estado, base
de cálculo do ITCMD, para elidir ou diminuir o IR sobre ganhos de
capital em futura alienação dos bens.

Na ação de inventário é preciso ter muita atenção e cuidado na valoração dos


bens, inclusive sob o aspecto tributário.

70
FIGURA 10 – PRIMEIRAS DECLARAÇÕES - ART. 620, DO CPC

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/8476/tags/355-relatorio>. Acesso em: 24 abr. 2021.

A ordem correta de informação dos bens nas Primeiras Declarações:

• os primeiros bens a serem indicados devem ser os imóveis, com suas especificações,
o título, o local onde se encontram, a área, as limitações, as confrontações, as
benfeitorias úteis, necessárias e voluptuárias, o número das transcrições aquisitivas
e eventuais ônus que pesem sobre o bem, como hipotecas, alienação fiduciária,
usufruto e penhora e valor na data da morte. O ideal é que o inventariante, ao
distribuir o inventário, já providencie as certidões de ônus reais atualizadas, para ter
em mãos todos os dados dos bens imóveis;
• os bens móveis, capazes de movimento próprio ou de serem deslocados por
terceiros sem que isso altere o seu valor econômico, devem ser descritos com todas
as características que permitam individualizá-los e com o valor na data da morte.
Devem ser incluídos nesta parte os direitos sobre bens incorpóreos, bens abstratos
que não possuem existência física, como os direitos autorais, reputados móveis
para os efeitos legais descritos no Art. 3°, da Lei nº 9.610 (BRASIL, 1998);
• os semoventes, bens que se deslocam por força própria e sem alteração da sua
substância: animais selvagens, domésticos ou domesticados. Os semoventes
devem ser relacionados com sinais distintivos que permitam individualizá-los, como
número de registro no Ibama, na secretaria de fazenda municipal ou nas secretarias
estaduais agropecuárias, conforme o caso, marca de fogo no dorso dos animais,
segundo descrito na Lei nº 4714 (BRASIL, 1965) e/ou identificação nos brincos,
número do registro em cartório, certificado de pureza de raça. É preciso indicar
também a espécie e quantidade de animais, especialmente quando coletividade:
bando, matilha, vara, rebanho, manada, cardume;
• o dinheiro, as joias (inclusive as denominadas de família), que passam de ascendentes
para descendentes ao longo dos anos), os objetos de ouro, prata e pedras preciosas,
com informação da pureza, cor, brilho e tamanho, qualidade da lapidação e detalhes
do acabamento, nome do ourives, peso e importância da pedra, sua origem, data da

71
extração, ainda que aproximada, e informações históricas. É recomendável informar
também, sempre que possível, se as gemas são tratadas, não tratadas ou realçadas,
para evitar confusão entre o tipo e qualidade das pedras.

A informação sobre o dinheiro deve ser completa, incluindo o valor em moeda


nacional ou estrangeira na data do óbito, banco, agência, com endereço no Brasil ou no
exterior, e número da conta.

FIGURA 11 – INFORMAÇÕES COMPLETAS DO DINHEIRO, EM MOEDA NACIONAL OU ESTRANGEIRA, NA


DATA DO ÓBITO

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/6091/tags/2526-ativo>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Os bens seguintes são, nessa ordem:

• os títulos da dívida pública, prefixados, pós-fixados ou híbridos;


• as ações preferenciais e ordinárias, identificadas pelos códigos e número das
apólices, subscritas ou não;
• as quotas de capital, parcelas em bens ou dinheiro que os sócios disponibilizam
para a composição do capital social de uma sociedade empresarial, Art. 1.055, do
Código Civil (BRASIL, 2015);
• os valores mobiliários: partes beneficiárias, bônus de subscrição, debêntures e
commercial paper (Instrução 134/90, CVM);
• os títulos de crédito típicos, como letras de câmbio, notas promissórias, cheques,
duplicatas;
• os títulos de sociedade atípicos ou inominados, criados pela vontade dos próprios
particulares segundo seus interesses, como títulos virtuais, papel-vaca.

As dívidas ativas, bens e direitos a receber, e as dívidas passivas, bens e direitos


a pagar, devem ser informadas com a indicação das datas de vencimento, títulos e
origem das obrigações, o nome e qualificação de credores e devedores.

72
As dívidas passivas do autor da herança não são transmitidas aos herdeiros,
mas devem ser pagas até o limite dos bens do espólio, segundo Art. 1.997, do Código
Civil (BRASIL, 2015), em juízo ou fora dele, na proporção do quinhão de cada herdeiro.
Quitadas as dívidas, os bens remanescentes serão partilhados.

ATENÇÃO
Cuidado para não confundir as dívidas ativas e passivas do
inventariado com as dívidas ativas estatais, dinheiro que o Estado
tem a receber e pode cobrar dos contribuintes, ou com as dívidas
passivas dos contribuintes, dinheiro que eles devem recolher aos
cofres estatais a título de impostos, taxas e contribuições sociais.

As despesas funerárias, independentemente da existência de herdeiros legítimos


devem ser abatidas do monte, mas as de sufrágio, de cunho religioso, só obrigarão a
herança quando expressamente previstas em testamento ou codicilo, conforme o Art.
1.998, do Código Civil (BRASIL, 2015).

ATENÇÃO
É prudente o inventariante apresentar, desde logo, com as primeiras
declarações, um balanço contábil do espólio, com a relação dos
créditos a receber e das dívidas a pagar.

No caso do empresário individual, quando a própria pessoa física exerce a atividade


empresarial, conforme o Art. 966, do Código Civil (BRASIL, 2015), as relações jurídicas
transcendem a regularidade formal e a morte não deve colocar fim à personalidade
jurídica. Uma ruptura abrupta poderia prejudicar a renda familiar, a empregabilidade direta
e indireta, os contratos com fornecedores e clientes, o recebimento de ativos e a quitação
de passivos. Neste caso, o juiz ordena o balanço contábil e, se for interesse dos herdeiros,
autoriza a continuidade da atividade empresarial até a conclusão do inventário.

73
FIGURA 12 – EMPRESÁRIO INDIVIDUAL – MORTE, MAS SEM FIM À ATIVIDADE

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/2413/tags/473-empresario>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Quanto às sociedades por ações há pouca margem para dissensos, pois a


cotação é feita com base no preço de mercado, na data da morte. Um simples ofício à
Comissão de Valores Mobiliários ou à Bolsa de Valore esclarecerá o preço das ações no
Mercado de Balcão ou nas bolsas de Mercadorias e Futuros, conforme o caso.

Já nas atividades empresariais limitada, em nome coletivo, em comandita simples


ou em cota de participação, é preciso apuração de haveres, procedimento contábil para
levantamento e avaliação do dinheiro que o sócio falecido tem a levantar junto à empresa
e o previsto no contrato social para a morte de sócios deve ser respeitado.

A juntada do balanço empresarial ou da apuração de haveres pelo inventariante,


anexas às primeiras declarações, pode evitar a perícia, segundo o Art. 472, do CPC (BRASIL,
2015). Mas, se todos os herdeiros forem capazes e for possível a autocomposição, a perícia
pode ser consensual, conforme Art. 471, do CPC (BRASIL, 2015), antes ou após impugnação.

A perícia contábil nos autos do inventário, no caso do balanço, e a apuração de


haveres nas vias ordinárias, somente serão ordenadas pelo juízo da sucessão se houver
impugnação por qualquer herdeiro, pleito que aproveita e impede a preclusão também
para os demais herdeiros.

É possível a realização de audiência de conciliação antes dessa decisão, já que


dissensos sucessórios não costumam ser propriamente sobre o valor ou a partilha dos
bens. Se o conciliador consegue que os herdeiros separem problemas emocionais de
interesses patrimoniais, a conciliação evita anos de litígios.

74
NOTA
Vale, para o direito sucessório, a doutrina de que a essência das
relações familiares emana da Constituição Federal. Elas têm o escopo
na supremacia dos princípios da dignidade da pessoa humana e da
solidariedade familiar, prolongam-se no tempo e se sobrepõem aos
interesses patrimoniais.

Inviável a conciliação, para evitar prejuízos a herdeiros e legatários pela demora


na apuração de haveres no juízo comum, a lei permite a continuidade da ação de
inventário com reserva de quotas para sobrepartilha.

3 DIFERENÇAS E UTILIZAÇÃO DO TERMO DE COMPROMISSO


E DO TERMO DAS PRIMEIRAS DECLARAÇÕES
Em sentido lato, termo que pode ser juridicamente definido como um registro
ou uma declaração feita por uma autoridade pública ou funcionário público acerca de
ato ou fato determinado, com a finalidade de mantê-lo durável durante o processo e
garantir estabilidade jurídica.

Circunstanciado é o termo que contém um detalhamento minucioso dos fatos


e circunstâncias que o ensejaram.

Partindo dessas premissas, o Termo Circunstanciado é a peça processual


através da qual o Estado grava, materializa e formaliza todas as informações contidas
nas primeiras declarações, confirma a apresentação ou não de eventuais impugnações
e, caso positivo, o seu teor.

75
FIGURA 13 – TERMO CIRCUNSTANCIADO - DETALHAMENTO JUDICIAL DAS PRIMEIRAS DECLARAÇÕES

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/4044/search/978>. Acesso em: 24 abr. 2021.

O Termo Circunstanciado não é uma novidade no processo de inventário. Ele já era


previsto no Art. 993, do Codex de 73, nos mesmos moldes do atual CPC, com a finalidade
de confirmar as primeiras declarações apresentadas pelo inventariante, outorgando-lhes
presunção de veracidade e credibilidade pública, até prova em contrário. Por isso, para
atingir o seu objetivo legal e processual, ele deve ser descritivo, sucinto e direto.

NOTA
É importante não confundir prazo com termo. Prazo é o lapso
de tempo para a realização de um ato. Termo é o momento
processual formal a partir do qual um ato tem início ou término.

O Termo Circunstanciado deixa o processo de inventário mais transparente e


objetivo, possibilita a detecção de falhas nas primeiras declarações, que devem ser
sanadas antes da sua assinatura, facilita a solução de controvérsias entre herdeiros e
demais interessados, bem como abre caminho para uma prestação jurisdicional célere
e eficaz, que resulte na legalização da divisão do patrimônio do falecido, dentro da
razoável duração do processo assegurada no inciso LXXVIII, do Art. 5º, da Constituição
Federal (BRASIL, 1988).

76
3.1 REMOÇÃO DO INVENTARIANTE
O inventariante é gestor do espólio e a um só tempo responsável por dar regular
andamento ao processo de inventário, devendo desempenhar as duas funções de
forma profícua e, quando não consegue, deve ser removido pelo juízo sucessório e
outro nomeado em seu lugar.

O ideal é o exercício da inventariança pelo cônjuge, companheiro, herdeiros


ou legatários, desde que reúnam condições técnicas para o desempenho da função,
mas não há lógica em mantê-los, e a qualquer outro nomeado, se não administram
bem o espólio ou não conduzem os processos judiciais a contento. Um inventariante
descuidado, sem condições de gerir o patrimônio, incompetente, desinteressado pelo
processo, ou sem estrutura emocional para lidar com eventuais conflitos de interesses
entre herdeiros e legatários pode causar muitos prejuízos.

É importante também não confundir impugnação às primeiras declarações com


o pedido de remoção do inventariante.

Na impugnação às primeiras declarações, podem ser abordados três temas:

• erros, omissão ou sonegação de bens e direitos;


• reclamação contra a nomeação do inventariante;
• contestação da idoneidade do escolhido para exercer a inventariança.

FIGURA 14 – OMISSÃO OU SONEGAÇÃO DE BENS - REMOÇÃO DO INVENTARIANTE

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/6778/search/981>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Os motivos, não exaurientes, para a remoção estão no Art. 622, do Código de


Processo Civil (BRASIL, 2015). Quatro dizem respeito ao regular andamento processual:

77
• deixar de apresentar as primeiras e as últimas declarações no prazo legal;
• deixar de dar regular andamento ao processo;
• deixar de defender o espólio nos processos nos quais for citado;
• deixar de prestar contas ou prestá-las irregularmente.

Os demais são sobre a administração dos bens:

• deixar de zelar pelo patrimônio do espólio de tal forma que se perca o valor;
• deixar de cobrar as dívidas ou permitir o perecimento de direitos;
• sonegar, ocultar ou desviar os bens do espólio.

Porém, há muitos outros, como deixar de exibir documentos relativos ao espólio,


não trazer bens à colação, alienar bens ou fazer pagamentos em autorização do juiz,
transacionar sem autorização, deixar de fazer a declaração do imposto de renda no
momento adequado, não comunicar ao juízo a existência de testamento, se houver
elevado grau de animosidade entre as partes, conflito de interesses no exercício do numus
publico, vício ou situação de risco que justifique a medida excepcional de afastamento.

A remoção pode ex officio, proferida a decisão nos próprios autos, ou requerida


por qualquer interessado como incidente processual, como cônjuge ou companheiro
supérstite, herdeiros, legatários, cessionários, Ministério Público quando atue como
custos legis, testamenteiro, credores, terceiros interessados.

FIGURA 15 – REMOÇÃO DO INVENTARIANTE - EX OFFICIO OU A REQUERIMENTO

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/2470/search/981>. Acesso em: 24 abr. 2021.

O pedido cautelar para impedir o inventariante de exercer um ou mais atos de


gestão que possam ser prejudiciais para o espólio é possível. Distribuído o incidente de
remoção, que não suspende a ação de inventário, o inventariante será citado para em 15
dias contestar o pedido, apresentar e requerer provas, nos termos do Art. 624 e parágrafo

78
único, do CPC (BRASIL, 2015). O âmbito probatório é amplo, admitidos o depoimento
pessoal, a oitiva de testemunhas, a prova documental, inclusive com juntada posterior
de documentos, a inspeção pessoal e a prova pericial.

Por óbvio, a juntada posterior de documento se traduz em apresentação de


documentos novos, ou seja, documentos que, por qualquer motivo relevante, estavam
indisponíveis para o inventariante no momento da sua defesa.

A falta da contestação não implica confissão quanto à matéria de fato e o dever


de provar o alegado é o autor do pedido de remoção. O juiz sentenciará com base nos
documentos e demais provas disponíveis no processo de inventário e nos autos da remoção.

O juiz deve decidir o incidente de remoção ainda que o mérito esteja relacionado
a outra questão de natureza prejudicial, como a apuração criminal prevista no Art.
315, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015). A decisão é interlocutória e o recurso
possível é o agravo de instrumento.

79
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Após a assinatura do Termo de Compromisso, o inventariante tem 20 dias para


protocolar as primeiras declarações, com as informações requeridas no Art. 620,
do CPC: qualificação completa do falecido, cônjuge ou companheiro supérstite,
herdeiros e legatários, relação completa dos bens, direitos e ações, inclusive
os trazidos à colação, e certidão do testamento, se houver. Os bens devem ser
individualizados, com o valor na data da morte e nesta ordem: imóveis, móveis e
semoventes, dinheiro, joias e metais e pedras preciosas, títulos da dívida pública,
ações, quotas e títulos de sociedade, dívidas ativas e passivas, direitos e ações.

• O Termo Circunstanciado é uma peça processual objetiva, sucinta e direta, por meio
da qual o Estado grava, materializa e formaliza todas as informações contidas nas
primeiras declarações, confirma a apresentação ou não de eventuais impugnações
e, caso positivo, o seu teor.

• O inventariante é o gestor do espólio e responsável por dar regular andamento ao


processo e, se não cumpre estas tarefas eficientemente, para evitar prejuízos aos
herdeiros, deve ser removido da função e outro indicado no seu lugar. Os motivos
para a remoção são amplos. O incidente processual de remoção do inventariante
pode ser requerido por qualquer interessado, tramita em autos apensos, não
suspende a ação de inventário, e o juiz deve julgá-lo, ainda quando pendente
questão de natureza prejudicial.

80
AUTOATIVIDADE
1 As primeiras declarações devem detalhadas e completas, para permitir a construção de
um termo circunstanciado estruturado, sem falhas, e, a final, uma partilha equitativa,
observada a razoável duração do processo, conforme determina a Constituição
Federal. Sobre as primeiras declarações, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Elas devem ser protocolas pelo inventariante, 20 dias após a assinatura do Termo
de Compromisso e, em caso de impedimento justificado, no prazo que o juiz deferir.
b) ( ) Há uma ordem legal para a indicação e qualificação do cônjuge ou companheiro
supérstite, herdeiros e legatários, mas não para a relação completa e
individualizada dos bens, direitos e ações.
c) ( ) Os bens alheios que se encontravam na posse do falecido na data da morte não
precisam ser individualizados, se não houver documentos comprobatórios da
propriedade.
d) ( ) A informação prestada pelo inventariante nas primeiras declarações, quando não
acompanhadas de documentos, não goza da presunção de veracidade.

2 A expressão vaga e genérica atribuindo valor aos bens para efeitos fiscais nas primeiras
declarações impede alteração posterior para o valor atribuído pelo estado para o
cálculo do ITCMD, para o valor de mercado dos bens, valor venal ou valor declarado no
IR do cujus, que tributariamente pode ser mais vantajoso para os herdeiros. Quanto
ao valor dos bens nas primeiras declarações, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A base de cálculo do ITCMD é o valor indicado pelo inventariante para cada um


dos bens deixados pelo de cujus, e tem vinculação direta com o IR do espólio e
dos herdeiros.
b) ( ) A tributação não está vinculada aos valores exigidos no Código Civil, fato que
merece muita atenção do inventariante para evitar onerar os herdeiros e o espólio
com o pagamento e impostos.
c) ( ) O valor atribuído aos bens nas primeiras declarações são indiferentes para a
incidência do IR sobre ganho de capital.
d) ( ) Como o valor dos bens é estimado nas primeiras declarações, a indicação para
fins fiscais não importa em confissão.

3 Os bens devem ser informados nas primeiras declarações de forma individualizada,


na ordem estabelecida no código de processo civil e com valor atribuído pelo
inventariante. A identificação pormenorizada possibilita a formalização de um Termo
Circunstanciado objetivo e enxuto, o que facilitador da futura partilha. Com base no
descrito, analise as sentenças a seguir:

81
I- Os primeiros bens a serem indicados devem ser os imóveis, com suas especificações:
título, localização, área, limitações e confrontações, benfeitorias, número das
transcrições aquisitivas e ônus que pesem sobre o bem.
II- Os bens imateriais, como os direitos morais, são equiparados a bens móveis para os
efeitos legais e devem ser inseridos nas primeiras declarações logo após a descrição
dos bens imóveis.
III- As joias popularmente denominadas “de família” não precisam ser descritas nas
primeiras declarações. Só joias valiosas devem ser relacionadas de acordo com a
pureza, cor, brilho, tamanho, lapidação, nome do ourives, peso e importância da pedra.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente as sentenças II e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

4 A cada dia, surgem novas questões envolvendo o direito sucessório. Uma delas é a
crioconservação de espermatozoides, óvulos ou embriões, e a reprodução assistida
post mortem. A lei não distingue herdeiros nascidos ante mortem e post mortem, e
a lei preserva os direitos do nascituro. Escreva sobre o direito à reprodução assistida
post mortem e por que é importante informar, nas primeiras declarações, a existência
de material genético crioconservado.

5 Termo é um registro ou declaração feita por uma autoridade pública ou funcionário


público acerca de ato ou fato determinado para mantê-lo durável durante o processo
e garantir estabilidade jurídica. Circunstanciado é o detalhamento dos fatos e
circunstâncias que o ensejaram o termo. A partir dessas definições, aborde o Termo
Circunstanciado no direito sucessório.

82
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
PRIMEIRAS DECLARAÇÕES E
IMPUGNAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
A citação é um chamamento ao processo de inventário, que proporciona prazo
que para todos aqueles com interesse na sucessão, inclusive o estado, por meio da
Fazenda Pública, o Ministério Público na condição de custos legis, possam falar sobre as
primeiras declarações, seja para concordar com os seus termos, seja para impugná-los,
em respeito ao princípio do contraditório.

A impugnação permite aos herdeiros indicar todos os erros e outras falhas nas
primeiras declarações, discordar fundamentadamente da nomeação do inventariante
e contestar a qualidade de herdeiros. Se procedente, o juiz ordena a retificação das
primeiras declarações e/ou substitui o inventariante.

O meeiro ou herdeiro preterido, não citado nas primeiras declarações ou


na partilha, também podem impugnar a preterição no próprio inventário ou em ação
autônoma, que julgados procedente, resultam no direito à meação ou herança, antes
ou após a partilha.

2 PRIMEIRAS DECLARAÇÕES
O inventário é uma ação judicial de procedimento contencioso, exigindo
a citação de todos os interessados no processo, nos termos do Art. 626, do Código
de Processo Civil (BRASIL, 2015), para ciência das primeiras declarações e eventual
impugnação: cônjuge ou companheiro supérstite, herdeiros e representantes legais,
legatários, testamenteiro, se houver testamento, Fazenda Pública, e Ministério Público,
se houver incapaz ou ausente.

83
FIGURA 16 – CITAÇÃO DOS HERDEIROS E DOS INTERESSADOS PARA DEFESA DOS DIREITOS EM EVENTU-
AL IMPUGNAÇÃO - ART. 626, DO CPC

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/4652/search/629>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Como o espólio é considerado bem imóvel até a partilha, a citação dos cônjuges
e companheiros dos herdeiros é sempre necessária, ainda que o monte seja constituído
apenas por bens móveis e semoventes.

Se houver cessão de direitos anterior à citação, o cessionário ingressará nos


autos como parte, por equiparado aos herdeiros. Se a cessão for posterior à citação, o
herdeiro seguirá como parte e o cessionário deverá ingressar nos autos como assistente-
litisconsorcial, em razão do seu interesse direito no objeto da lide.

ATENÇÃO
É importante não confundir meios eletrônicos com e-mail. Em que pese o
Poder Judiciário use o e-mail para intimações e citações, meios eletrônicos
são instrumentos muito mais amplos. A quinta turma do Superior Tribunal
de Justiça (STJ) já decidiu, por exemplo, que o WhatsApp pode ser usado para
citação ou intimação, se a autenticidade do destinatário puder ser comprovada,
como número de telefone, confirmação do recebimento por escrito e foto que
o identifique. Se a autenticidade do destinatário não puder ser comprovada
inequivocamente, a citação, ou intimação, é nula. A decisão foi exarada em
Habeas Corpus, mas, por analogia, as regras se aplicam ao processo civil, sem
óbice para o uso de outros aplicativos de mensagem multiplataforma, como
Business, Telegram ou Signal, além das redes sociais, desde que por meio do
Messenger, para resguardo do sigilo em respeito à intimidade.

84
Como a citação é um chamamento da parte para tomar ciência e, se quiser,
responder aos termos e pedidos propostos para a ação, se a parte já estiver representada
por advogado nos autos, a citação é desnecessária. Neste caso pressupõe-se que a
parte já tem conhecimento da existência da ação e o advogado deverá ser intimado
para falar nos autos, segundo o parágrafo 4°, do Art. 626, do CPC (BRASIL, 2015).

Em 26 de agosto de 2021, a Lei 14.186 alterou o Art. 247, do Código de Processo


Civil (BRASIL, 2015), para permitir a citação por meio dos recursos eletrônicos ou carta, para
qualquer lugar do país, privilegiando a agilidade proporcionada pela internet e a necessidade de
avanço na comunicação eletrônica para fazer frente às necessidades criadas pela pandemia.

FIGURA 17 – CITAÇÃO E INTIMAÇÃO VIA MEIOS ELETRÔNICOS

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/7611/tags/2789-eletronico>. Acesso em: 24 abr. 2021.

O Conselho Nacional de Justiça, na resolução 354 (BRASIL, 2020), regulamentou


a citação e a intimação por qualquer meio eletrônico, que pode ser feita tanto pelo
servidor cartorário, como pelo Oficial de Justiça.

NOTA
Os meios eletrônicos facilitam a localização de pessoas,
daquelas que, malandramente, tentam se esconder da Justiça,
e daquelas que mudaram de endereço, perderam contato
com os parentes e amigos, vivem em outros países, moram
em áreas rurais afastadas ou em áreas de risco. Os cartórios
têm buscado pessoas não localizadas pelos oficiais de justiça,
diretamente, nas redes sociais, citando-as pelo Messenger. É
uma excepcionalidade boa, pois evita a citação por edital em um
Diário Oficial Eletrônico que, na realidade, ninguém lê e nem fica
sabendo que foi feita. Nem os operadores do direito buscam e

85
leem editais se não tiverem interesse nele. A localização e a citação de testamenteiros,
meeiros, herdeiros, legatários e cessionários são muito importantes para a garantia
do cumprimento da vontade do de cujus, proteção desses direitos e recebimento do
patrimônio.

O uso dos meios eletrônicos facilita, mas não elide a necessidade da citação
por edital, nos termos do inciso III, do Art. 259, do CPC (BRASIL, 2015), se frustrada a
entrega da carta, devolvido o e-mail ou se for impossível comprovar inequivocamente
o recebimento da mensagem e a autenticidade do destinatário nos aplicativos de
mensagem multiplataforma.

3 IMPUGNAÇÃO DAS PRIMEIRAS DECLARAÇÕES


Após a juntada aos autos do último aviso de recebimento, do mandado de
citação, da última publicação do edital ou da citação via meios eletrônicos, tem início
o prazo de 15 dias para cônjuge e companheiro, herdeiros, legatários e cessionários
contestarem, impugnarem as primeiras declarações.

FIGURA 18 – PRAZO PARA IMPUGNAÇÃO - 15 DIAS APÓS COMPROVADA CITAÇÃO

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/6687/tags/787-carta>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Nas impugnações sucessórias, assim como na ação contenciosa de inventário,


as normas gerais são aplicadas quando não há disposição expressa em contrário.
Por isso, se as partes tiverem procuradores de diferentes escritórios, o prazo para a
impugnação é contado em dobro conforme o Art. 229 do CPC (BRASIL, 2015).

As partes podem contestar o teor das primeiras declarações para arguir erros,
omissões e sonegação de bens, reclamar contra a nomeação de inventariante e contestar
a qualidade de herdeiro, juntando documentos e pedindo a realização de outras provas.
86
Há preclusão se não forem indicadas na impugnação problemas na nomeação
do inventariante, mas não com relação a erros, omissões e sonegação de bens, que
podem ser levantados até a partilha.

A qualidade de herdeiro também pode ser levantada até a partilha, mas o juiz
sucessório somente pode decidir com base na prova documental juntada ao processo.
Questões mais complexas, que requerem dilação probatória, como reconhecimento de
paternidade ou maternidade, deverão ser remetidos às vias ordinárias e, havendo indícios
de veracidade no pleiteado, o juiz deve reservar bens suficientes para eventual sobrepartilha.

A Fazenda Pública, enquanto parte, é citada pessoalmente após o cônjuge e


companheiro, herdeiros, testamenteiro e cessionários e pode se manifestar amplamente
sobre as primeiras declarações no prazo de 15 dias, podendo impugnar valores e
isenções, levantar suspeita de simulação e de omissão na declaração de bens.

Anexados documentos pelas partes, em respeito ao princípio do contraditório, o


juiz intimará o inventariante para se manifestar sobre eles.

Se novos documentos forem anexados pelo inventariante na sua contestação à


impugnação, o juiz intimará as partes para falarem sobre eles.

Posteriormente, e após a vista como parte interessada, desta feita como gestor
formal do recurso público, a Fazenda Pública deve juntar ao processo, no prazo de
15 dias, os dados que constam de seu cadastro imobiliário e o valor dos bens de raiz,
ou seja, dos terrenos e prédios urbanos e rurais descritos nas primeiras declarações.
Silente a Fazenda sobre os bens de raiz, se todos os herdeiros forem capazes, o juiz
pode determinar que o valor indicado nas primeiras declarações seja utilizado para o
cálculo do Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD). A Fazenda Pública
será intimada para dizer se concorda ou não com os valores contidos nas primeiras
declarações. Se discordar, o juiz determinará a avaliação dos bens por perito.

Por fim, o Ministério Público, que atua como custos legis, é também citado
pessoalmente e aberta vista do processo para manifestação em 30 dias. O Parquet pode
renovar os pleitos feitos pelas partes, se pronunciar favoravelmente ou negativamente
sobre eles, pedir a juntada de documentos, requerer a remessa de questões complexas
pela necessidade de dilação probatória para o juízo comum.

87
FIGURA 19 – MINISTÉRIO PÚBLICO - CITADO PARA ATUAR COMO CUSTOS LEGIS

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/4276/search/985>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Após a manifestação de todos os interessados a impugnação é decidida, se procedente,


o juiz determina a retificação das primeiras declarações, remove e nomeia outro inventariante.
Se improcedente, as partes inconformadas podem interpor agravo de instrumento.

3.1 DO HERDEIRO PRETERIDO


Preterição, no direito sucessório, é a omissão da informação de existência
de herdeiro ou legatário nas primeiras declarações, resultando na sua exclusão da
herança. É possível ocorrer também preterição de cônjuge ou companheiro supérstite,
especialmente deste último, quanto ao direito de meação e parte dos bens na herança.

FIGURA 20 – PRETERIÇÃO DE MEEIRO OU DE HERDEIRO - EXCLUSÃO ILEGAL DA HERANÇA

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/5097/tags/8164-solidao>. Acesso em: 24 abr. 2021.

88
O meeiro, ou o herdeiro, podem impugnar a preterição no próprio inventário
enquanto não sentenciada a partilha. O pedido será processado em autos apartados,
respeitado o contraditório. A intervenção do Ministério Público, como custos legis, é
obrigatória se alguma parte for menor, incapaz ou ausente, e o seu parecer deve ocorrer
após contestação e eventual réplica.

O juiz sucessório tem competência para dirimir o problema da preterição, se a


prova documental anexada ao processo for inequívoca. Havendo necessidade de dilação
probatória, ou indeferido o pedido, o julgador facultará às partes levar a questão às vias
ordinárias, reservando cautelarmente bens suficientes para preservar a propriedade do
pretenso meeiro ou o quinhão do pretenso herdeiro ou legatário. Os interessados têm o
prazo de 30 dias para impetrar a ação no juízo comum, conforme previsto no Art. 308,
do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015), e provarem ao juiz sucessório que o fizeram,
sob pena de reconsideração da reserva de bens.

Acolhido o pedido feito na impugnação, o inventariante deve retificar as suas


informações e incluir o meeiro ou herdeiro entre as partes com direito na sucessão.

O meeiro que teve a sua meação preterida também pode impetrar Ação de
Embargos de Terceiro contra o espólio, no próprio juízo do inventário, nos termos do Art.
674, parágrafo 2°, inciso I, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015). Após a partilha, a
Ação de Embargos de Terceiro deve ser impetrada no juízo comum, diretamente contra
os sucessores do de cujus.

A mesma ação pode ser impetrada por terceiros, na condição de proprietário ou


possuidor, com o objetivo de excluir bens do inventário ou da sucessão, arrolados pelo
inventariante como de propriedade ou posse pelo falecido, com justo título.

O herdeiro preterido, após o término do inventário, pode impetrar Ação de


Petição de Herança para ter reconhecido o seu direito sucessório e obter a restituição
da herança, no todo ou em parte, contra outro herdeiro que ilegitimamente a possua.
É possível pedir a reserva do quinhão cautelarmente, para evitar a dilapidação do
patrimônio. Essa ação é geralmente utilizada por filhos que pleiteiam e têm a paternidade
ou maternidade reconhecida após o falecimento do genitor ou genitora.

89
LEITURA
COMPLEMENTAR
IMPLANTAÇÃO DE EMBRIÕES CONGELADOS EM VIÚVA EXIGE AUTORIZAÇÃO
EXPRESSA DO FALECIDO, DECIDE QUARTA TURMA

STJ NOTÍCIAS

A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por maioria, restabeleceu


sentença que proibiu a implantação de embriões criopreservados em uma viúva, por
entender que tal procedimento, para ser realizado após a morte do cônjuge, depende de
consentimento expresso e inequívoco.

Na origem do caso, os filhos do primeiro casamento pediram judicialmente que


fosse impedida a utilização do material genético do pai – morto em 2017 – pela madrasta
viúva, sustentando não existir documento que comprovasse autorização dada em vida.

O falecido e a viúva eram casados desde 2013 sob o regime legal de separação
absoluta de bens, já que ele tinha 72 anos na época da celebração do matrimônio. Em
testamento particular, o falecido teria deixado a parte disponível da herança para os
filhos do primeiro casamento e, para a esposa, o valor de R$ 10 milhões, além do dinheiro
necessário para a compra de um apartamento.

Acordo sobre custódia dos embriões

A viúva alegou que haveria autorização do marido para a criopreservação e


posterior implantação dos embriões, e que não existiria exigência legal quanto à forma
de manifestação desse consentimento.

O juízo de primeiro grau julgou o pedido dos filhos procedente, mas o Tribunal
de Justiça de São Paulo (TJSP) reformou a sentença tendo em vista o contrato com o
hospital encarregado de conservar o material genético, no qual o casal acordava que, em
caso de morte de um deles, os embriões congelados ficariam sob a custódia do outro.

Para a corte paulista, os embriões criopreservados são "inservíveis a outra


finalidade que não a implantação em útero materno", e confiar sua guarda à parceira
viúva representaria "autorização para a continuidade do procedimento".

90
Reprodução assistida carece de regras

O ministro Luis Felipe Salomão – cujo voto prevaleceu na Quarta Turma – destacou
que o ordenamento jurídico brasileiro possui regulamentação insuficiente para a resolução
de conflitos sobre reprodução assistida. O Código Civil de 2002, por exemplo, é omisso
quanto à possibilidade de utilização do material genético de pessoa falecida.

De acordo com o magistrado, a Resolução nº 2.168/17, do Conselho Federal


de Medicina (CFM), preceitua ser possível a reprodução assistida póstuma, desde
que haja autorização prévia específica do falecido para o uso do material biológico
criopreservado.

Ele também mencionou o Provimento nº 63/2017, do Conselho Nacional


de Justiça (CNJ), segundo o qual, na reprodução assistida após a morte, deverá ser
apresentado termo de autorização prévia específica da pessoa falecida para o uso de seu
material genético, lavrado por instrumento público ou particular com firma reconhecida
– mesma linha adotada pelo Enunciado 633, do Conselho da Justiça Federal (CJF).

Efeitos para além da vida

No caso em julgamento, o ministro observou que, como a decisão de autorizar a


utilização dos embriões projetaria efeitos para além da vida do indivíduo – com implicações
não só patrimoniais, mas também relacionadas à personalidade do genitor e dos que seriam
concebidos –, a sua manifestação de vontade deveria se dar de maneira incontestável, por
meio de testamento ou outro instrumento equivalente em termos de formalidade e garantia.

Para o magistrado, considerar o contrato de prestação de serviços com o hospital


uma declaração inequívoca de vontade do falecido significaria admitir o rompimento do
testamento que ele deixou, com alteração do planejamento sucessório original por pessoa
diferente do próprio testador. O ministro apontou que o hospital também entendeu não
haver autorização do marido para a implantação dos embriões após a sua morte.

A autorização dada no contrato – concluiu Salomão – serve apenas para que a


viúva possa ceder o material genético para pesquisa, descartá-lo ou deixá-lo intocado,
"mas nunca implantá-lo em si, porque aí necessitaria de autorização prévia e expressa".

Ementa: RECURSO ESPECIAL. INEXISTÊNCIA DE NEGATIVA DE PRESTAÇÃO


JURISDICIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DE OFENSA A ATOS NORMATIVOS IN-
TERNA CORPORIS. REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA. REGULAMENTAÇÃO. ATOS NOR-
MATIVOS E ADMINISTRATIVOS. PREVALÊNCIA DA TRANSPARÊNCIA E CONSENTIMENTO
EXPRESSO ACERCA DOS PROCEDIMENTOS. EMBRIÕES EXCEDENTÁRIOS. POSSIBILI-
DADE DE IMPLANTAÇÃO, DOAÇÃO, DESCARTE E PESQUISA. LEI DE BIOSSEGURANÇA.
REPRODUÇÃO ASSISTIDA POST MORTEM. POSSIBILIDADE. AUTORIZAÇÃO EXPRESSA E
FORMAL. TESTAMENTO OU DOCUMENTO ANÁLOGO. PLANEJAMENTO FAMILIAR. AUTO-
NOMIA E LIBERDADE PESSOAL.

91
1. A negativa de prestação jurisdicional não se configura quando todos os aspectos
relevantes para o correto julgamento da causa são considerados pelo órgão julgador,
estabelecendo-se, de modo claro e fundamentado, a compreensão firmada, ainda
que em sentido diferente do desejado pelos recorrentes.
2. Nos termos do entendimento do STJ, é inviável, em recurso especial, a verificação
de ofensa/aplicação equivocada de atos normativos interna corporis, tais como
regimentos internos, por não estarem compreendidos no conceito de tratado ou lei
federal, consoante a alínea "a", do inciso III, do Art. 105, da CF/1988.
3. No que diz respeito à regulamentação de procedimentos e técnicas de reprodução
assistida, o Brasil adota um sistema permissivo composto por atos normativos
e administrativos que condicionam seu uso ao respeito a princípios éticos e
constitucionais. Do acervo regulatório destaca-se a Resolução nº 2.168/17 do Conselho
Federal de Medicina, que impõe a prevalência da transparência, do conhecimento
e do consentimento da equipe médica, doadores e receptores do material genético
em todas as ações necessárias à concretização da reprodução assistida, desde a
formação e coleta dos gametas e embriões, à sua criopreservação e seu destino.
4. Quanto ao destino dos embriões excedentários, a Lei da Biossegurança (Lei nº
11.105/05) dispõe que poderão ser implantados no útero para gestação, podendo,
ainda, ser doados ou descartados. Dispõe, ademais, que, garantido o consentimento
dos genitores, é permitido utilizar células-tronco embrionárias obtidas da fertilização
in vitro para fins de pesquisa e terapia.
5. Especificamente, quanto à reprodução assistida post mortem, a Resolução CFM
nº 2.168/17 prevê sua possibilidade, mas sob a condição inafastável da existência
de autorização prévia específica do(a) falecido(a) para o uso do material biológico
criopreservado, nos termos da legislação vigente.
6. Da mesma forma, o Provimento CNJ nº 63 (Art. 17, § 2º) estabelece que, na reprodução
assistida post mortem, além de outros documentos que especifica, deverá ser
apresentado termo de autorização prévia específica do falecido ou falecida para
uso do material biológico preservado, lavrado por instrumento público ou particular
com firma reconhecida.
7. O Enunciado nº 633, do CJF (VIII Jornada de Direito Civil), prevê a possibilidade de
utilização da técnica de reprodução assistida póstuma por meio da maternidade de
substituição, condicionada, sempre, ao expresso consentimento manifestado em
vida pela esposa ou companheira.
8. O Planejamento Familiar, de origem governamental, constitucionalmente, previsto
(Art. 196, § 7º, e Art. 226), possui natureza promocional, e não coercitiva, com
fundamento nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade
responsável, e consiste na viabilização de utilização de recursos educacionais e
científicos, bem como na garantia de acesso igualitário a informações, métodos e
técnicas de regulação da fecundidade.
9. O princípio da autonomia da vontade, corolário do direito de liberdade, é preceito
orientador da execução do Planejamento Familiar, revelando-se, em uma de suas
vertentes, um ato consciente do casal e do indivíduo de escolher entre ter ou não
filhos, o número, o espaçamento e a oportunidade de tê-los, de acordo com seus
planos e expectativas.

92
10. Na reprodução assistida, a liberdade pessoal é valor fundamental e a faculdade que
toda pessoa possui de autodeterminar-se fisicamente, sem nenhuma subserviência
à vontade de outro sujeito de direito.
11. O CC/2002 (Art. 1.597) define como relativa a paternidade dos filhos de pessoas
casadas entre si, e, nessa extensão, atribui tal condição à situação em que os
filhos são gerados com a utilização de embriões excedentários, decorrentes de
concepção homóloga, omitindo-se, contudo, quanto à forma legalmente prevista
para utilização do material genético post mortem.
12. A decisão de autorizar a utilização de embriões consiste em disposição post mortem,
que, para além dos efeitos patrimoniais, sucessórios, relaciona-se intrinsecamente
à personalidade e dignidade dos seres humanos envolvidos, genitor e os que
seriam concebidos, atraindo, portanto, a imperativa obediência à forma expressa e
incontestável, alcançada por meio do testamento ou instrumento que o valha em
formalidade e garantia.
13. A declaração posta em contrato padrão de prestação de serviços de reprodução
humana é instrumento absolutamente inadequado para legitimar a implantação
post mortem de embriões excedentários, cuja autorização, expressa e específica,
haverá de ser efetivada por testamento ou por documento análogo.
14. Recursos especiais providos.

Acórdão

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Quarta Turma do


Superior Tribunal de Justiça acordam, após o voto-vista do Ministro Luis Felipe Salomão,
dando provimento aos recursos especiais, divergindo do relator, e a manifestação do
relator mantendo seu voto anterior, e o voto do Ministro Raul Araújo acompanhando
a divergência, e o voto da Ministra Maria Isabel Gallotti acompanhando o relator, e o
voto do Ministro Antonio Carlos Ferreira acompanhando a divergência, por maioria, dar
provimento aos recursos especiais, para restabelecer a sentença de piso e não autorizar
a realização, pelos recorridos, de implantação do material biológico de J L Z, falecido,
nos termos do voto divergente do Ministro Luis Felipe Salomão, que lavrará o acórdão.
Vencidos o relator e a Ministra Maria Isabel Gallotti. Votaram com o Sr. Ministro Luis
Felipe Salomão os Srs. Ministros Raul Araújo e Antonio Carlos Ferreira.

(STJ. REsp 1918421 / SP. Relator Min. MARCO BUZZI. Relator p/ Acórdão Min.
Luis Felipe Salomão. Quarta Turma. DJe em 26/08/2021).

FONTE: STJ NOTÍCIAS. Implantação de embriões congelados em viúva exige autorização expressa
do falecido, decide Quarta Turma. 2021. Disponível em: https://bit.ly/3n6TXvh. Acesso em: 24 abr. 2021.

93
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A citação é o chamamento dos interessados na sucessão e a partir dela inicia o


prazo de contestação, impugnação das primeiras declarações. Devem ser citados
os cônjuges e companheiros sobreviventes, herdeiros, legatários, cessionários,
testamenteiro, Fazenda Pública e Ministério Público, como custos legis, para dizer
se concordam ou não com os termos das primeiras declarações.

• A impugnação é a forma como as partes podem contestar as primeiras declarações.


Seu teor deve versar sobre: erros, omissões e sonegação de bens, protestar contra
a nomeação do inventariante e a inclusão de herdeiro.

• O meeiro, ou o herdeiro preterido, pode apresentar impugnação nos próprios autos


do inventário contra a sua preterição, pleito que será processada em apenso, se a
prova documental for suficiente para a prova do direito. Se não, o juiz abrirá para
as partes a oportunidade de resolver o problema no juízo comum e reservará bens
suficientes para cobrir a meação e o quinhão. As partes têm 30 dias para impetrar
a ação nas vidas ordinárias. É preciso comprovar a distribuição da ação no juízo
comum, sob pena de liberação dos bens reservados. O meeiro também pode
interpor Embargos de Terceiro nos autos do inventário, que será processado em
apenso. Após a partilha, o herdeiro preterido deve interpor, na justiça comum, Ação
de Petição de Herança contra os sucessores para reaver bens de sua propriedade
em posse de outros herdeiros.

94
AUTOATIVIDADE
1 A respeito da citação e da intimação via meios eletrônicos, que afirma que é preciso
atenção para o fato de que os meios eletrônicos não se restringem ao e-mail. O STJ
decidiu, num Habeas Corpus, que o WhatsApp pode ser usado para a citação ou
intimação, mas modulou as exigências e essa modulação se aplica no processo civil.
Antes dele o CNJ já havia autorizado o uso das multiplataformas. Assim, classifique V
para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Para validade da citação é preciso confirmação inequívoca da autenticidade do


destinatário, como número de telefone, prova da resposta e foto.
( ) O uso das multiplataformas é uma excepcionalidade boa quando partes e terceiros
interessados não são localizados por outros meios, mas os cuidados com a
autenticidade devem ser observados.
( ) O sigilo, para preservar a intimidade dos citados ou intimados, precisa ser observado.
Se usadas plataformas como Facebook, a citação e a intimação devem ser feitas
pelo Messenger, jamais por mensagens públicas.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

( ) V – F – V.
( ) V – V – V.
( ) F – V – F.
( )F–F–F

2 A citação dá aos envolvidos a informação de que há um processo tramitando e de que


eles têm prazo para apresentar defesa, comprovar seus argumentos através de prova
documental, depoimento pessoal, testemunhal, inspeção pessoal e pericial. Analise
as sentenças a seguir:

I- A citação pode ser feita através de aplicativos de mensagem multiplataforma e a


certidão comprobatória só pode ser exarada por oficial de justiça.
II- A citação por edital deve ser feita sempre que impossível a localização do citando
pelos meios ordinários, e-mail e multiplataforma.
III- A citação da Fazenda Pública é opcional, e, a do Ministério Público, obrigatória, se
houver menores, incapazes e ausentes.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a sentença II está correta.


b) ( ) As sentenças I e II estão corretas.

95
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 As normas gerais processuais são aplicadas à Ação de Inventário, às impugnações


sucessórias, à Ação de Embargos de Terceiros, à Ação de Petição de Herança e
qualquer outra, sempre que não houver normas específicas dispondo de forma diversa.
A respeito dos prazos processuais que devem observar algumas determinações,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O Ministério Público pode falar nos autos em qualquer ocasião após a citação,
tanto para defesa das partes em geral como na qualidade de custos legis.
b) ( ) A Fazenda Pública tem 15 dias para contestar e, nesse mesmo prazo precisa informar
os dados que constam de seu cadastro imobiliário e o valor dos bens de raiz.
c) ( ) O Ministério Público tem prazo de 30 dias para falar na ação de inventário, após
citação, sem necessidade de abertura de vista.
d) ( ) Sempre que os advogados habilitados nos autos forem de escritório diferentes e
atenderem partes diferentes, os prazos se contam em dobro.

4 A preterição, no direito sucessório, é a omissão da informação de existência de meeiro,


herdeiro, legatário ou cessionário nas primeiras declarações, resultando na sua exclusão
do monte e da partilha, com transferência ilegal do patrimônio do de cujus, no todo ou
em parte. Descreva as providencias legais que os preteridos podem tomar.

5 A citação e a intimação garantem, às partes, o direito ao contraditório e a ampla


defesa, ou seja, dão às partes a oportunidade de se defenderem dos argumentos e
provas juntados pelo autor, no caso da ação de inventário, do contido nas primeiras
declarações e documentos que a instruem. Cite os principais avanços que ocorreram
nos dois últimos anos, em parte resultante dos cuidados sanitários durante pandemia,
no caso da citação.

96
REFERÊNCIAS
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 354, de 19 de novembro de
2020. Dispõe sobre o cumprimento digital de ato processual e de ordem judicial e
dá outras providências. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3579.
Acesso em: 24 abr. 2021.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AREsp 1601918. Ministro Relator Luis Felipe
Salomão. 2019. Disponível em: https://bit.ly/3F4niwy. Acesso em: 24 abr. 2021.

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Provimento nº 63, de 14 de novembro de


2017. Institui modelos únicos de certidão de nascimento, de casamento e de óbi-
to, a serem adotados pelos ofícios de registro civil das pessoas naturais, e dispõe
sobre o reconhecimento voluntário e a averbação da paternidade e maternidade
socioafetiva no Livro “A” e sobre o registro de nascimento e emissão da respectiva
certidão dos filhos havidos por reprodução assistida. Disponível em: https://atos.
cnj.jus.br/atos/detalhar/2525. Acesso em: 24 abr. 2021.

BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 2.168, de 21 de setembro


de 2017. Adota as normas éticas para a utilização das técnicas de reprodução
assistida – sempre em defesa do aperfeiçoamento das práticas e da observância
aos princípios éticos e bioéticos que ajudam a trazer maior segurança e eficácia a
tratamentos e procedimentos médicos -, tornando-se o dispositivo deontológico
a ser seguido pelos médicos brasileiros e revogando a Resolução CFM nº 2.121,
publicada no D.O.U. de 24 de setembro de 2015, Seção I, p. 117. Disponível em:
https://bit.ly/2YI19EU. Acesso em: 24 abr. 2021.

BRASIL. Lei nº 13.259, de 16 de março de 2016. Altera as Leis nº 8.981, de 20 de janei-


ro de 1995, para dispor acerca da incidência de imposto sobre a renda na hipótese
de ganho de capital em decorrência da alienação de bens e direitos de qualquer
natureza, e 12.973, de 13 de maio de 2014, para possibilitar opção de tributação de
empresas coligadas no exterior na forma de empresas controladas; e regulamenta o
inciso XI, do Art. 156, da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 - Código Tributário
Nacional. Disponível em: https://bit.ly/3F9ptPp. Acesso em: 24 abr. 2021.

BRASIL. Lei 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da


Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em: ht-
tps://bit.ly/3mVdyi0. Acesso em: 24 abr. 2021.

BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Dispo-


nível em: https://bit.ly/31Jkuqo. Disponível em: 24 abr. 2021.

BRASIL. Lei 11.105, de 24 de março de 2005. Regulamenta os incisos II, IV e V do § 1º


do Art. 225 da Constituição Federal, estabelece normas de segurança e mecanismos
de fiscalização de atividades que envolvam Organismos Geneticamente Modifica-

97
dos – OGM e seus derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS,
reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, dispõe sobre
a Política Nacional de Biossegurança – PNB, revoga a Lei nº 8.974, de 5 de janeiro
de 1995, e a Medida Provisória nº 2.191-9, de 23 de agosto de 2001, e os Arts. 5º,
6º, 7º, 8º, 9º, 10 e 16 da Lei nº 10.814, de 15 de dezembro de 2003, e dá outras pro-
vidências. Disponível em: https://bit.ly/3kvq06w. Acesso em: 29 abr. 2021.

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível


em: https://bit.ly/3wAigoy. Acesso em: 24 abr. 2021.

BRASIL. Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a


legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Disponível em: https://
bit.ly/3HdLZIN. Acesso em: 24 abr. 2021.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


https://bit.ly/3bKce9w. Acesso em: 24 abr. 2021.

BRASIL. Lei nº 4.714, de 29 de junho de 1965. Modifica legislação anterior sobre


o uso da marca de fogo no gado bovino. Disponível em: https://bit.ly/3HeCcSQ.
Acesso em: 24 abr. 2021.

BRASIL. Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução às normas


do Direito Brasileiro. Disponível em: https://bit.ly/3HgMq59. Acesso em: 24 abr. 2021.

DE REPENTE PAI. Direção de Ken Scott. Glendale, Califórnia, USA: DreamWorks Anima-
tion LLC, 2014. Trailer disponível em: https://bit.ly/3205Rzf. Acesso em: 24 abr. 2021.

98
UNIDADE 3 —

DA SONEGAÇÃO, DA
REMOÇÃO E DA TROCA DO
INVENTARIANTE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• analisar as responsabilidades do inventariante pela sonegação;

• diferenciar destituição e remoção do inventariante;

• compreender as responsabilidades do inventariante;

• analisar os motivos da troca do inventariante.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – SONEGAÇÃO DE BENS PELO INVENTARIANTE


TÓPICO 2 – DESTITUIÇÃO E REMOÇÃO DO INVENTARIANTE
TÓPICO 3 – TROCA DO INVENTARIANTE E CONSEQUÊNCIAS DENTRO DO INVENTÁRIO

CHAMADA
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CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!

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UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
SONEGAÇÃO DE BENS PELO
INVENTARIANTE

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, abordaremos, nesta unidade, as consequências para a hipótese
de sonegação de bens do espólio, por parte do inventariante, e as respectivas
responsabilidades dele. A legislação determina situações nas quais o inventariante
sofrerá sanções no processo de inventário quando realizar atos que escondam ou
omitam bens do espólio do processo de inventário e partilha.

Neste tópico, também, estudaremos os acontecimentos que ocorrem no


processo de inventário, que se originam da remoção do inventariante. Ele, ao omitir ou
deixar de descrever determinado bem ou valor do espólio, sofrerá sanção de natureza
processual, ou seja, será removido do cargo. De saída, frisamos que, caso o inventariante
seja removido, o juiz deverá proceder com uma nova nomeação, observando a preferência
legal disposta no Art. 617, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015). Além disso, após
a remoção, o inventariante destituído deverá entregar, de imediato, ao substituto dele,
os bens pertencentes ao espólio.

2 BENS DO ESPÓLIO E SONEGAÇÃO POR PARTE DO


INVENTARIANTE
Uma vez que for realizada a sucessão, todos os bens do falecido, também,
conhecido como de cujus, serão transmitidos aos herdeiros legítimos e aos
testamentários, ou seja, àqueles referenciados em testamento firmado, em vida,
pelo finado. Inventariar é a primeira fase, a qual abrange organizar, categorizar, listar
ou enumerar os bens deixados em vida, pelo falecido, que serão objeto da herança.

Na sequência, a partilha, como uma segunda fase, dividirá os bens do


espólio entre os herdeiros habilitados. Assim, podemos concluir que o objetivo
do inventário, seja ele judicial ou extrajudicial, é efetivar a transmissão dos bens
deixados, em vida, pelo espólio, para aqueles configurados como sucessores
dele, podendo ser herdeiros ou testamenteiros.

101
FIGURA 1 – EXEMPLO DE BENS INTEGRANTES DO ESPÓLIO

FONTE: <https://shutr.bz/31Pr26N>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Com a ocorrência do evento morte, a administração do acervo hereditário


necessitará de um administrador até a posterior nomeação do inventariante. Assim,
o administrador provisório é aquele que realiza todos os atos de administração dos
bens a serem inventariados e que, também, cumpra atos fiscais e tributários e receba
rendimentos em nome do espólio. Podemos dizer que o administrador provisório atua
desde a abertura da sucessão até a posterior nomeação do inventariante.

O inventariante, por sua vez, possui natureza jurídica de um administrador


judicial, e a respectiva nomeação dele ocorre pelo magistrado, nos autos do processo
de inventário, com observação do Art. 617, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015). O
inventariante possui a função de representar o espólio das formas ativa e passiva.

O administrador provisório e o inventariante respondem por eventuais danos


causados ao espólio e aos herdeiros. Trata-se da responsabilidade subjetiva, ou seja,
respondem se tiverem atuado com dolo ou com culpa. Essa responsabilidade está
expressa no Art. 614, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015). Vejamos:

Art. 614. O administrador provisório representa, ativa e passivamente,


o espólio, é obrigado a trazer, ao acervo, os frutos que, desde a
abertura da sucessão, percebeu, tem direito ao reembolso das
despesas necessárias e úteis que fez e responde pelo dano a que,
por dolo ou culpa, der causa (BRASIL, 2015).

102
FIGURA 2 – DANOS CAUSADOS AO ESPÓLIO

FONTE: <https://shutr.bz/3n8ugut>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Uma vez nomeado, o inventariante deverá ser intimado para prestar o Termo de
Inventariança no prazo de cinco dias. Nesse documento, o inventariante, solenemente,
declara o compromisso dele de desempenhar a função, em conformidade com o
parágrafo único do Art. 617, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015). O patrimônio
deixado pelo falecido é considerado como uma massa patrimonial indivisível, cuja
titularidade pertence, conjuntamente, a todos os herdeiros. Assim, passa-se a se
chamar de bens do espólio.

“O inventariante é a pessoa que tem, por função, administrar os bens do espólio,


sendo o representante legal dele. Só podem exercer esse múnus pessoas capazes e
que não tenham, de algum modo, interesses contrários aos do espólio” (GONÇALVES,
2019, p. 72). Com base nisso, seja no inventário judicial ou no extrajudicial, é possível
afirmar que o inventariante desempenha um trabalho, extremamente, importante nesse
processo, isso porque será ele o responsável por arrecadar os bens e por os administrar
até a entrega de cada quinhão aos herdeiros relacionados. Além disso, o inventariante
representará os bens até o trânsito em julgado da sentença de partilha ou de adjudicação.

A sonegação de bens na partilha ocorre quando há omissão da indicação dos


bens a serem inventariados, isto é, quando um bem que deveria entrar na partilha é,
intencionalmente, ocultado por um herdeiro ou por um inventariante. Sonegar significa
não indicar os bens ou os valores do espólio. Trata-se de ilícito civil com dolo daquele que
realiza o ato. Não é possível presumir a má-fé no eventual ato de sonegação, mas, pelo
contrário, a presunção é de boa-fé. Assim, aquele que alega a ocorrência de eventual ato
de sonegação de bens do espólio possuirá a incumbência de produzir provas do relato.

A sonegação, um regramento do direito sucessório, dá-se pela ocultação


intencional de bens que deveriam ser levados a inventário ou à colação. Origens do instituto
da sonegação, no direito sucessório, foram descobertas no direito romano, que estabelecia
pena para o herdeiro “que desviasse coisas da sucessão” (BORGES, 2012, p. 569).

103
FIGURA 3 – OCULTAÇÃO DE BENS DO INVENTÁRIO

FONTE: <https://shutr.bz/3wCLYt4>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Constituem atos de sonegação: “o ocultar intencional de bens da herança


que estão em seu poder ou no poder de terceiro, com o seu conhecimento; omitir, na
colação, bens que os deva levar; recusar o herdeiro a restituir os bens que devem ser
inventariados” (OLIVEIRA, 2019, p. 759).

O inventariante que realiza a sonegação de bens pode ser responsabilizado


com a perda do próprio bem, caso, também, seja herdeiro, e ser removido do cargo
de inventariante. Esse, ao omitir ou deixar de descrever determinado bem ou valor do
espólio, sofrerá sanção de natureza processual, ou seja, será removido do cargo.

Para o caso da sonegação de bens ou de valores, praticada pelo inventariante,


devemos observar o Art. 1.996, do Código Civil. Vejamos:

Art. 1.996. Só se pode arguir de sonegação, o inventariante, depois


de encerrada a descrição dos bens, com a declaração feita, por ele,
de não existirem outros por inventariar e partir, assim como arguir
o herdeiro, depois de se declarar, no inventário, que não os possui
(BRASIL, 2002).

Esse dispositivo normativo trata do momento em que se verifica a má-fé


manifesta. Deve-se destacar que o inventariante, também, pratica sonegação quando
deixar de restituir bens que estão em sua administração, e o momento dessa restituição
ocorre quando da concussão da partilha.

No processo de inventário, há obrigações comuns aos herdeiros, no que tange


aos bens de herança, ou seja, aos bens pertencentes ao autor da herança. A sonegação
desses, na partilha, ocorre quando há omissão na indicação dos bens a serem
inventariados, isto é, quando um bem que deveria entrar na partilha é, intencionalmente,
ocultado por herdeiro ou por inventariante.

104
Cada herdeiro é obrigado a descrever, no inventário, todos os bens da herança
que estejam em poder dele, mas, também, os que estejam em poder de outrem, que
sejam de conhecimento. Essa obrigação consiste no ato de colação, por meio do qual
os herdeiros têm de declarar o valor das doações que obtiveram, em vida, do autor da
herança. No ato da colação, é feita a conferência dos bens da herança e dos bens que
foram transferidos ou doados pelo autor da herança antes do falecimento dele.

Em síntese, os herdeiros, por lei, precisam descrever, no inventário, todos


os bens de herança que estejam sob o poder deles, mas, também, os que foram de
conhecimento e que estejam com outrem.

Os herdeiros devem restituir bens do espólio que estejam, porventura, sob o


próprio poder. Ainda, fazer constarem, na colação, bens que foram, a eles, doados ou
transferidos pelo autor da herança antes do falecimento dele. O ato da colação significa a
obrigação que os herdeiros têm de declarar o valor das doações que obtiveram, em vida,
do autor da herança. No ato da colação, é realizada a conferência dos bens da herança
e dos bens que foram transferidos ou doados, em vida, pelo autor do patrimônio.

Diante da falta de descrição dos bens da herança, sob o próprio poder ou de


outrem, dos quais tem conhecimento, ou de omissão no ato de colação, há sonegação do
patrimônio por parte do herdeiro. Implicado em sonegação de espólio no inventário, perde,
esse herdeiro, o direito que lhe cabia aos bens sonegados. Constituem atos de sonegação:

a) o ocultar intencional de bens da herança que estão em seu poder


ou no poder de terceiro, com o seu conhecimento;
b) omitir, na colação, bens que os deva levar;
c) recusar o herdeiro a restituir os bens que devem ser inventariados
(OLIVEIRA, 2019, p. 759).

O ato de sonegação de bens, por parte dos herdeiros, é tratado no Art. 1.992, do
Código Civil. Vejamos:

Art.1.992. O herdeiro que sonegar bens da herança, não os


descrevendo no inventário quando estejam em seu poder, ou, com o
seu conhecimento, no de outrem, ou que os omitir na colação, sendo
que os deva levar, ou deixar de restituí-los, perderá o direito que,
sobre eles, cabia-lhe (BRASIL, 2002).

A pena de sonegação, no entanto, requer a existência de dois elementos:


o objetivo e o subjetivo. O elemento objetivo consiste na ocultação da informação
de determinado bem, já o elemento subjetivo consiste no ato intencional de
prejudicar a partilha.

105
3 RESPONSABILIDADES DO INVENTARIANTE PELA
SONEGAÇÃO DE BENS
Nos casos nos quais a sonegação tenha sido praticada pelo próprio inventariante,
nos quais ele é o sonegador, além da penalidade comum aos herdeiros, cairá, sobre ele,
sobre o inventariante, a pena de remoção da administração do espólio. No entanto, essa
retirada se dá mediante alguma prova de que houve a sonegação de bens ou a negativa de
existência de bens indicados. Os direitos de requerer e de impor ação de pena de sonegados
pertencem, tão somente, aos herdeiros e aos credores da herança. No entanto, demais
interessados na ação podem se aproveitar da ação. Assim estabelece o Código Civil:

Art. 1.993. Além da pena cominada no artigo antecedente, se o


sonegador for o próprio inventariante, remover-se-á em se provando a
sonegação, ou negando, ele, a existência dos bens, quando indicados.
Art.1.994. A pena de sonegados só se pode requerer e impor em ação
movida pelos herdeiros ou pelos credores da herança.
Parágrafo único. A sentença que se proferir na ação de sonegados,
movida por qualquer dos herdeiros ou credores, aproveita aos demais
interessados (BRASIL, 2002).

Em síntese, o inventariante que realiza a sonegação de bens pode ser


responsabilizado com a perda do próprio bem, caso, também, seja herdeiro, e
pode ser removido do cargo. O inventariante, ao omitir ou deixar de descrever
determinado patrimônio ou valor do espólio, sofrerá sanção de natureza
processual, ou seja, será removido do cargo. “Tal conduta intencional, desde
que levada a efeito maliciosamente, revela má-fé, e sujeita, quem a cometeu,
à pena civil de sonegado, podendo, conforme o caso, sujeitá-lo, inclusive, à
sanção criminal, pelo delito de apropriação indébita” (BORGES, 2012, p. 254).

FIGURA 4 – SANÇÃO CRIMINAL PELA SONEGAÇÃO DE BENS

FONTE: <https://shutr.bz/3wMld5x>. Acesso em: 24 abr. 2021.

106
Havendo a perda, por parte do herdeiro, de patrimônio que não fora colacionado,
esse bem sonegado será objeto de partilha entre os demais herdeiros. Caso as riquezas
sonegadas não sejam restituídas pelo sonegador, por já não ter, sob o próprio poder,
esses bens, ele deverá pagar a importância relativa aos valores ocultados, sem prejuízo do
pagamento de indenizações por perdas e danos. Para o caso de sonegação de bens ou de
valores praticada pelo inventariante, deve-se observar o Art. 1.996, do Código Civil. Vejamos:

Art. 1.996. Só se pode arguir de sonegação, o inventariante, depois de


encerrada a descrição dos bens, com a declaração feita, por ele, de não
existirem outros por inventariar e partir, assim como arguir o herdeiro,
depois de se declarar, no inventário, que não os possui (BRASIL, 2002).

Esse dispositivo normativo trata do momento em que se verifica a má-fé


manifesta. Deve-se destacar que o inventariante, também, pratica sonegação
quando deixar de restituir bens que estão sob a administração dele, e o momento
dessa restituição ocorre quando da conclusão da partilha. Vale lembrar que,
no inventário, a administração da herança é exercida pelo inventariante,
segundo o Art. 1.991, do Código Civil, “desde a assinatura do compromisso até a
homologação da partilha” (BRASIL, 2002).

Borges enumera os efeitos da sonegação, que podem sujeitar o herdeiro


e o inventariante sonegadores às seguintes penas: “(i) a perda do direito sobre o
bem sonegado; (ii) a restituição da coisa, com frutos; (iii) os rendimentos, como
possuidor de má-fé; (iv) a indenização por perdas e danos; e (v) a aplicação do
Art. 943, do Código Civil, na indenização do espólio” (BORGES, 2012, p. 261).

107
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O inventário é o mecanismo desenvolvido pelo ordenamento jurídico brasileiro para


que os herdeiros daquele que faleceu (espólio) adquiram os bens deixados de herança.

• Inventariar é a primeira fase, a qual abarca organizar, categorizar, listar ou enumerar


os bens deixados em vida, pelo falecido, que serão objeto da herança. A partilha, na
sequência, como uma segunda fase, dividirá os bens do espólio entre os herdeiros
habilitados.

• A sonegação de bens, na partilha, ocorre quando há omissão da indicação dos bens


a serem inventariados, isto é, quando um bem que deveria entrar na partilha é,
intencionalmente, ocultado por herdeiro ou por inventariante. Sonegar significa não
indicar os bens ou os valores do espólio.

• O inventariante, ao omitir ou deixar de descrever determinado bem ou valor do


espólio, sofrerá sanção de natureza processual, ou seja, será removido do cargo.

108
AUTOATIVIDADE
1 A sonegação de bens, na partilha, ocorre quando há omissão da indicação dos bens
a serem inventariados. Assim, com relação à sonegação por parte do inventariante,
quando, também, herdeiro, analise as afirmativas a seguir, e, em seguida, assinale a
alternativa CORRETA:

I- Está sujeito, à pena de sonegação, quando o inventariante deixar de apresentar bens


que deveria colacionar.
II- Implica sonegação deixar, o inventariante, de descrever, no inventário, alguma
doação feita, por ele, ao autor da herança.
III- Implicado em sonegação de bens no inventário, o inventariante perde o direito que
lhe cabia aos bens sonegados.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Apenas as assertivas I e III são corretas.


b) ( ) Apenas as assertivas I e II são corretas.
c) ( ) Apenas a assertiva II é corretas.
d) ( ) Todas as assertivas são corretas.

2 O inventariante, ao omitir ou deixar de descrever determinado bem ou valor do


espólio, sofrerá algumas sanções. Assim, a respeito da pena de sonegação por parte
do inventariante, quando for um dos herdeiros, estará sujeito à:

I- Perda do próprio bem, ao qual tem direito na herança, e que foi, por ele, ocultado.
II- Remoção do cargo de inventariante.
III- Perda de remunerações percebidas a título de inventariante, e remoção, como
herdeiro, do processo de inventário

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Apenas as assertivas I e III são verdadeiras.


b) ( ) Apenas as assertivas I e II são verdadeiras.
c) ( ) Apenas a assertiva II é verdadeira.
d) ( ) Todas as assertivas são verdadeiras.

3 Sonegar significa não indicar os bens ou os valores do espólio. No tocante às


disposições a respeito da sonegação, analise as assertivas a seguir e assinale a
alternativa CORRETA:

109
a) ( ) Havendo perda de direito a bens de herança por parte do inventariante, decorrente
de sonegação, serão, esses bens, objeto de partilha entre os demais herdeiros.
b) ( ) A remoção do inventariante do cargo independe de prova de que a conduta dele
na sonegação foi intencional.
c) ( ) A pena de sonegação ao inventariante não depende de prova de ocultação da
informação.
d) ( ) No caso da não restituição de bens sonegados, pagará, o inventariante herdeiro,
a importância relativa aos valores ocultados e aos não ocultados.

4 O Código de Processo Civil prevê algumas penalidades para aquele que pratica
sonegação no inventário. No caso de o herdeiro e inventariante recair em prática de
sonegação, a que penalidade estará sujeito?

5 A penalidade atribuída ao inventariante sonegador requer a existência de dois


elementos: o objetivo e o subjetivo. Explique-os.

110
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
DESTITUIÇÃO E REMOÇÃO DO
INVENTARIANTE

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, neste tópico, abordaremos o conceito, as diferenças e as hipóteses
de destituição e remoção do inventariante. Apesar de causarem um mesmo resultado, a
destituição e a remoção não podem ser interpretadas como sinônimos. Conforme veremos,
a remoção possui natureza jurídica sancionatória, enquanto a destituição se refere a uma
circunstância que impede ou dificulta o eficaz exercício da função de inventariante.

Em relação às hipóteses de remoção, devemos destacar que o Código de


Processo Civil elenca um rol de possibilidades. A título de exemplo, caso o inventariante,
por culpa ou por dolo, cause danos ao espólio ou deixe de prestar as primeiras ou as
últimas declarações no prazo legal, haverá a possibilidade de sua remoção.

Portanto, apesar de possuírem certa aparência, a destituição e remoção são


institutos diferentes e devem ser analisados a fundo para que não haja confusão quando
forem aplicados na prática.

2 DESTITUIÇÃO E REMOÇÃO DO INVENTARIANTE:


CONCEITO, DIFERENÇAS E HIPÓTESES
Já estudamos no tópico anterior que, preferencialmente, a nomeação do
inventariante deve observar a disposição do Art. 617, do Código de Processo Civil
(BRASIL, 2015). Uma vez nomeado, o inventariante deve impulsionar processualmente
andamento do inventário com vista a uma adequada partilha dos bens e para que não
se retarde a distribuição dos quinhões.

Porém o inventariante não é obrigado a permanecer em seu cargo, bem como


pode ser trocado antes do término do procedimento. Nesse sentido, ocorrerá o fenômeno
da destituição ou da remoção.

A destituição do inventariante ocorre quando, independentemente de falhas


ou descumprimento de suas obrigações, seja necessária a substituição dele. Um
exemplo é quando o inventariante argumenta que não possui condições de saúde para
continuar com suas atribuições ou quando o próprio juiz verifica que há pessoa mais
bem qualificada para exercer as funções do inventariante.

111
FIGURA 5 – INVENTARIANTE COM SAÚDE DEBILITADA

FONTE: <https://shutr.bz/3n8tDkv>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Cristino Chaves de Farias e Nelson Rosenvald destacam que

a destituição do inventariante advém de algum fato exógeno, externo,


não atrelado diretamente ao exercício da inventariança. Ocorre, por
exemplo, quando o inventariante vem a ser preso ou é interditado.
Em casos tais, torna-se impossível o cumprimento do múnus da
inventariança, uma vez que passou a existir uma incompatibilidade
para o exercício do múnus (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 563).

Como frisado anteriormente, o inventariante pode, também, ser removido.


A remoção irá ocorrer como forma de penalizar o inventariante pelo cometimento de
alguma transgressão, seja esta dolosa ou culposa, no exercício da inventariança.

Cristino Chaves de Farias e Nelson Rosenvald aduzem que

a remoção é uma punição, material e processual, imposta ao


inventariante em decorrência de alguma falta cometida no exercício
do encargo. Possui, por conseguinte, evidente natureza sancionatória,
afastando ele do múnus. Apesar disso, não se pode imaginar que
a remoção só poderia ser cabível nos casos previstos na norma
processual. Sem equívocos, como as atribuições do inventariante
são múltiplas, é possível a sua remoção em casos igualmdnte plurais,
cabendo ao julgador, casuisticamente, apreciar a existência de justa
motivação para a remoção. Para exemplificar é possível prospectar a
sua remoção em virtude de desídia na prestação de contas, de indevida
alienação de um bem pertencente ao espólio, sem a prévia autorização
do juiz, ou de ocultação de bem pertencente ao, espólio, prejudicando
os demais interessados (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 563).

No tocante ao tema, Carlos Roberto Gonçalves ensina que:

A remoção é espécie do gênero destituição. Esta é mais ampla e pode


ocorrer sem que haja ato culposo ou doloso do inventariante. Ambas,
no entanto, implicam perda do cargo de inventariante. Mas a remoção

112
é determinada em consequência de uma falta, no exercício do cargo,
relacionada ao inventário, enquanto a destituição é determinada em
razão de um fato externo ao processo (GONÇALVES, 2019, p. 628).

Com base nisso, a hipótese de destituição não se confunde com a possibilidade


de remoção do inventariante. A remoção possui natureza jurídica sancionatória, ou seja,
ocorre quando o inventariante descumpre algum dever legal a ele atribuído e pode ser
responsabilizado por eventuais danos causados. A destituição, por sua vez, não ser trata
de uma sanção, mas de uma circunstância que impede ou dificulta o eficaz exercício da
função de inventariante.

Nos moldes das disposições do Código de Processo Civil, o inventariante poderá


ser removido a requerimento de qualquer interessado no inventário e na partilha ou de
ofício pelo juiz. O Art. 622, do diploma processualista civil, elenca um rol de hipóteses
em que o se visualizadas, poderão acarretar a remoção do inventariante.

Dentre as hipóteses trazidas no referido dispositivo, podemos expor:

• haver a falta de apresentação, dentro do prazo legal, das primeiras ou das últimas
declarações;
• deixar de conferir o andamento regular ou de praticar atos protelatórios no
procedimento de inventário;
• causar danos aos bens do espólio;
• parar de defender ou de cobrar dívidas ativas do espólio e de prestar contas;
• sonegar, ocultar ou desviar bens do espólio.

FIGURA 6 – DESÍDIA DO INVENTARIANTE

FONTE: <https://shutr.bz/3qvo5Tf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

113
Devemos destacar que as hipóteses apresentadas configuram apenas um
exemplo de enumerações em que o inventariante pode ser removido. Dessa maneira, se
outras causas ou faltas que incompatibilizem com o exercício da imventariança sejam
encontradas, o inventariante poderá ser removido.

Ainda sobre a remoção do inventariante, cabe esclarecer que a simples demora


em realizar o término do procedimento do inventário, não é uma justificativa para a
remoção dele, salvo se a demora ou paralisção tenha ocorrido por culpa ou dolo do
inventariante. Sobre o tema, Carlos Roberto Gonçalves aponta que:

Em caso de indevida paralisação do processo, não se admite


arquivamento nem decreto extintivo, sendo inaplicável, na espécie,
a regra do art. 485, II e III, do estatuto processual de 2015. Incumbirá
ao juiz, com fundamento no art. 139 do mesmo diploma, ordenar
as medidas para promover o andamento do inventário, podendo
remover e substituir o inventariante relapso, se necessário. Para tanto
é preciso que a demora tenha por causa a culpa do inventariante
(GONÇALVES, 2019, p. 627).

Caso haja a remoção ou a destituição do inventariante, o juiz deverá nomear


outro indivíduo para assumir o múnus. Ao proceder com a nova nomeação, o juiz deverá
observar a ordem preferencial do Art. 617, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015).

Nessa linha de pensamento, Cristiano Chaves de Farias e Nelson


Rosenvald ensinam que “tanto a remoção, quanto a destituição da inventariança,
implica na perda do cargo de inventariante, exonerando-o das funções, comuns
ou especiais, com a nomeação de uma nova pessoa para o exercício do encargo”
(FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 563).

FIGURA 7 – SUBSTITUIÇÃO DO INVENTARIANTE

FONTE: <https://shutr.bz/3ksITHm>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Em sintonia com os direitos e garantias fundamentais constitucionais, a remo-


ção ou a destituição do inventariante deve respeitar o princípio do devido processo le-
gal. Assim, o inventariante precisar ser cientificado do procedimento que visa afastá-lo

114
do cargo, para com isso, atuar em contraditório, produzir provas e buscar convencer o
juiz que a decisão de trocar o inventariante é errônea. Vejamos o que diz o Art. 623, do
Código de Processo Civil:

Art. 623. Requerida a remoção com fundamento em qualquer dos


incisos do art. 622, será intimado o inventariante para, no prazo de 15
(quinze) dias, defender-se e produzir provas.
Parágrafo único. O incidente da remoção correrá em apenso aos
autos do inventário (BRASIL, 2015).

A decisão de remoção ou destituição do inventariante deve ser devidamente


fundamentada e indicar os motivos que levaram a sua escolha. Pelo fato de não por
fim ao procedimento, a decisão proferiza possui natureza de decisão interlocutória.
Portanto, contra tal decisão é cabível o recurso de agrado de instrumento.

Conforme apresentado, a atuação do inventariante é imprescindível para a


solução do inventário. Justamente por carregar tamanha responsabilidade, caso seja
constatado qualquer incompatibilidade com as atribuições que lhe foram confiadas,
haverá justificativa para afastar o inventatiante de suas funções, resguardando assim,
os interesses patrimoniais dos interessados.

A partir das análises feitas, percebemos que a remoção e a destituição geram os


mesmos efeitos no procedimento de inventário, quais sejam:

• a perda do cargo de inventariante e das respectivas funções dele;


• a consequente nomeação de outra pessoa para o exercício do encargo.

Contudo, a remoção e a destituição ocorrem por motivos diferentes e


mesmo produzindo os mesmos efeitos, esses eventos não podem ser confun-
didos, tendo em vista que a remoção ocorre com o intuito de penalizar o in-
ventariante por alguma falha no exercício de sua atividade, seja ela dolosa ou
culposa. Por outro lado, a destituição representa uma hipótese mais ampla, em
que havendo qualquer incompatibilidade com o munus, será possível requerer
a troca do inventariante.

3 RESPONSABILIDADES DO INVENTARIANTE E
HIPÓTESES DE REMOÇÃO
Devemos agora compreender o que ocorre caso o inventariante descumpra com as
suas obrigações. Antes disso, apresentamos quais são as responsabilidades do inventariante.

Inventariar é a primeira fase que importa em organizar, categorizar, listar ou


enumerar os bens deixados em vida pelo falecido que serão objeto da herança. A
partilha, em sequência, a partilha, como uma segunda fase, irá dividir o patrimônio do
espólio entre os herdeiros habilitados.

115
Assim, podemos concluir que o objetivo do inventário, seja ela judicial ou
extrajudicial, é efetivar a transmissão dos bens deixados em vida pelo espólio para
aqueles configurados como seus sucessores que podem ser tanto herdeiros quanto
testamenteiros.

Carlos Roberto Gonçalves aponta que “o inventariante é a pessoa que tem por
função administrar os bens do espólio, sendo seu representante legal. Só podem exercer
esse múnus pessoas capazes e que não tenham, de algum modo, interesses contrários
aos do espólio” (GONÇALVES, 2019, p. 72).

O inventariante possui natureza jurídica de um administrador judicial e sua


respectiva nomeação ocorre pelo magistrado nos autos do processo de inventário, com
observação ao Art. 617, do Código de Processo Civil. Ele possui a função de representar
o espólio tanto de fora ativa quanto de forma passiva.

O inventariante possui a competência de representar tanto ativamente quanto


passivamente o espólio no procedimento de inventário. A sua nomeação obedece ao
disposto no Art. 617, do Código de Processo Civil. Vejamos:

Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:


I - o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse
convivendo com o outro ao tempo da morte deste;
II - o herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio,
se não houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou se
estes não puderem ser nomeados;
III - qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na
administração do espólio;
IV - o herdeiro menor, por seu representante legal;
V - o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do
espólio ou se toda a herança estiver distribuída em legados;
VI - o cessionário do herdeiro ou do legatário;
VII - o inventariante judicial, se houver;
VIII - pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante
judicial.
Parágrafo único. O inventariante, intimado da nomeação, prestará,
dentro de 5 (cinco) dias, o compromisso de bem e fielmente
desempenhar a função (BRASIL, 2015).

O juiz decidirá entre os legitimados, aquele que será o inventariante. Apesar


do rol elencado ser extenso, a doutrina de Direito Civil brasileiro entende que essa
ordem não é absoluta. Assim, é possível que o juiz realize a nomeação de alguém que
não está previsto na ordem estabelecida, desde que tenha motivos justificados e seja
desaconselhável atuar conforme a ordem legal.

Uma vez nomeado, o inventariante deverá ser intimado para prestar o Termo de
Inventariança no prazo de cinco dias. Neste documento o inventariante solenemente
declara seu compromisso de desempenhar a função, em conformidade com o parágrafo
único do Art. 617, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015). Em sequência, para o
próprio Código de Processo Civil, o inventariante estará habilitado para a prática de:

116
• atos de gestão;
• atos de disposição;
• atos de prestação de contas.

Os atos de gestão são aqueles previstos, expressamente, no Art. 618, do


Código de Processo Civil (BRASIL, 2015). Importante destacar que os atos de gestão
podem ser praticados independentemente de autorização prévia do juiz e até mesmo
de concordância dos interessados. São eles:

Art. 618. Incumbe ao inventariante:


I - representar o espólio ativa e passivamente, em juízo ou fora dele,
observando-se, quanto ao dativo, o disposto no art. 75, § 1º ;
II - administrar o espólio, velando-lhe os bens com a mesma
diligência que teria se seus fossem;
III - prestar as primeiras e as últimas declarações pessoalmente ou
por procurador com poderes especiais;
IV - exibir em cartório, a qualquer tempo, para exame das partes, os
documentos relativos ao espólio;
V - juntar aos autos certidão do testamento, se houver;
VI - trazer à colação os bens recebidos pelo herdeiro ausente,
renunciante ou excluído;
VII - prestar contas de sua gestão ao deixar o cargo ou sempre que
o juiz lhe determinar;
VIII - requerer a declaração de insolvência (BRASIL, 2015).

Já os atos de disposição, elencados no Art. 619, apenas, podem ser praticados,


pelo inventariante, com a devida anuência do juiz e ouvidos os interessados. Tais atos são:

• alienar bens de qualquer espécie;


• transigir em juízo ou fora dele;
• pagar dívidas do espólio;
• fazer as despesas necessárias para a conservação e para o melhoramento dos bens
do espólio.

Por fim, os atos de prestação de contas estão elencados no inciso VII,


do Art. 618, do Código de Processo Civil. A prestação de contas é realizada no
fim de sua gestão, especificando as receitas, a aplicação das despesas e os
eventuais investimentos que tiver feito.

117
FIGURA 8 – PRESTAÇÃO DE CONTAS DO INVENTARIANTE

FONTE: <https://shutr.bz/3Fack8V>. Acesso em: 24 abr. 2021.

O inventariante inicia suas atribuições a partir da assinatura do termo


de compromisso. Sobre essa perspectiva, Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald ensinam que “a atividade do inventariante tem extensão temporal.
Inicia-se com a assinatura do termo de compromisso, após a sua nomeação, por
ato judicial, perdurando até o trânsito em julgado da partilha, acompanhando
toda a marcha procedimental” (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 553).

FIGURA 9 – ASSINATURA DO TERMO DE COMPROMISSO

FONTE: <https://shutr.bz/3CaULnp>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Note-se que a inventariança configura verdadeiro encargo pessoal, pois com a


assinatura do termo de compromisso produz-se uma responsabilidade própria, cabendo
ao inventariante administrar o espólio, arrolar os bens, restituir as coisas alheias que se
encontrem em poder do inventariado, encaminhar o cumprimento dos débitos deixados
e recolher os tributos que incidam sobre os bens da herança e aqueles devidos por sua
transmissão aos herdeiros.

118
Assim, ao assinar o termo de compromisso o inventariante está incumbido
das atribuições e responsabilidades previstas no Art. 618, do Código de Processo Civil.
Além das atribuições previstas no dispositivo anterior, ao firmar o termo, o inventariante
também estará incumbido das atribuições do Art. 619, do Código de Processo Civil,
desde que ouvidos os interessados e com autorização do juiz. Vejamos:

Art. 619. Incumbe ainda ao inventariante, ouvidos os interessados e


com autorização do juiz:
I - alienar bens de qualquer espécie;
II - transigir em juízo ou fora dele;
III - pagar dívidas do espólio;
IV - fazer as despesas necessárias para a conservação e o melhora-
mento dos bens do espólio (BRASIL, 2015).

Após análise das responsabilidades do inventariante, devemos aprofundar e


compreender quais são as ocasiões de sua remoção. O inventariante pode ser removido
de suas funções por hipóteses legalmente previstas em conformidade com o Art. 622,
do Código de Processo Civil. Vejamos:

Art. 622. O inventariante será removido de ofício ou a requerimento:


I - se não prestar, no prazo legal, as primeiras ou as últimas
declarações;
II - se não der ao inventário andamento regular, se suscitar dúvidas
infundadas ou se praticar atos meramente protelatórios;
III - se, por culpa sua, bens do espólio se deteriorarem, forem
dilapidados ou sofrerem dano;
IV - se não defender o espólio nas ações em que for citado, se
deixar de cobrar dívidas ativas ou se não promover as medidas
necessárias para evitar o perecimento de direitos;
V - se não prestar contas ou se as que prestar não forem julgadas boas;
VI - se sonegar, ocultar ou desviar bens do espólio (BRASIL, 2015).

O rol de hipóteses do Art. 622, para a remoção do inventariante, não é taxativo. A


jurisprudência do Superior Tribal de Justiça possui entendimento de que o inventariante
também pode ser destituído ou removido em caso de “animosidade manifesta pelas
partes”. Assim, ainda que não se enquadrem, perfeitamente, em alguns dos itens do Art.
622, as partes do processo de inventário podem arguir que não possuem mais relação
de confiança com o inventariante, com a intenção de o substituir.

O inciso I, do Art. 622, do Código de Processo Civil, aponta que se o inventariante


não prestar as primeiras ou as últimas declarações no prazo legal, ele poderá ser
removido. O Art. 620, do Código de Processo Civil, versa sobre a apresentação das
primeiras declarações do inventariante. Segundo anotações anteriores, sabemos que a
apresentação deve ocorrer em 20 dias contados da assinatura do Termo de Compromisso
e se deve buscar a individualização dos envolvidos e o levantamento dos bens e dívidas.

O diploma processual em análise é um tanto quanto explícito e minucioso no que


diz respeito às exigências e o conteúdo das primeiras declarações. Desse modo, Carlos
Roberto Gonçalves aponta que o objetivo do artigo é “uma perfeita individualização

119
e caracterização dos bens, bem como a correta e completa indicação dos herdeiros,
demais sucessores, credores e devedores” (GONÇALVES, 2019, p. 634). Por isso, caso
não sejam apresentadas, existirá justificativa plausível para remoção do inventariante.

FIGURA 10 – APRESENTAÇÃO DETALHADA E MINUCIONSA DAS DECLARAÇÕES

FONTE: <https://shutr.bz/3HfStHm>. Acesso em: 24 abr. 2021.

No que diz respeito ao inciso II, do Art. 622, do Código de Processo Civil,
especificamente, no tocante à paralisação do procedimento, Cristiano Chaves de Farias
e Nelson Rosenvald defendem que se trata de uma

hipótese completamente justificável de remoção do inventariante é o


abandono ou paralisação do procedimento, sem impulso por longo pe-
ríodo, mesmo sem provocação do juiz. Cabe ao inventariante a missão
profícua de garantir a razoável duração do inventário, não podendo que-
dar inerte e contribuindo, passivamente, para eternizar o procedimento,
deixando que o tempo termine por perecer relações jurídicas, muita vez
por conta de interesses escusos (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 563).

O inciso III, do Art. 622, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015), trata
da figura dos danos causados ao espólio. Assim, se for verificado algum prejuízo,
seja ele decorrente de dolo ou de culpa, existirá justificativa para remoção.

O inciso IV, do Art. 622, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015), faz
menção à desídia do inventariante em representar o espólio em ações judiciais
em que for citado, bem como deixar de cobrar dívidas ativas ou tomar quaisquer
outras medidas para evitar prejuízos ou o perecimento de direitos ligados ao
procedimento de inventário.

O inciso V, do Art. 622, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015), traz,


como justificativa de remoção do inventariante, a falta de prestação de contas de
sua atividade ou quando a prestação de contas não representar uma realidade
benéfica para os interessados no inventário. Isso quer dizer que mesmo que
sendo transparente em seu exercício, o inventariante causou algum tipo de dano.
120
Por fim, o inciso IV, do Art. 622, do Código de Processo Civil (BRASIL,
2015), destaca que se o inventariante sonegar, ocultar ou desviar bens do
espólio será admitida sua remoção. A justificativa é um tanto quanto óbvia, pois,
ao proceder com essas ações, o inventariante atuará fora das linhas pactuadas
no termo de compromisso.

Conforme apresentado, é possível que outras situações que não se


enquadrem, perfeitamente, nos itens do Art. 622, sejam passíveis de remover o
inventariante. A título de exemplo, os interessados no inventário não possuem
mais confiança no inventariante, com isso, desejam substituí-lo.

FIGURA 11 – RELAÇÃO DE DESCONFIANÇA EM FACE DO INVENTARIANTE

FONTE: <https://shutr.bz/3wJ1Iei>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Sob a luz das disposições constitucionais, o inventariante pode se defender do


incidente de remoção. Vejamos a argumentação do professor Cleyson de Moraes Mello
(2017, p. 350) sobre o requerimento de remoção do inventariante:

Requerida a remoção com fundamento em qualquer dos incisos do


art. 622, será intimado o inventariante para, no prazo de 15 (quinze)
dias, defender-se e produzir provas (art. 623, CPC). Neste sentido, a
remoção do inventariante pressupõe a sua intimação, no prazo de
cinco dias, para se defender e produzir provas (STJ, AgRg no REsp
1.461.526/RS, rel Min. Mauro Campbell Marques, 2º T., j. 16.10.2014).

121
FIGURA 12 – ATRIBUIÇÃO DE MULTA

FONTE: <https://shutr.bz/30keeV6>. Acesso em: 24 abr. 2021.

O requerimento de remoção é processualmente denominado de Incidente da


Remoção. Esse procedimento ocorrerá sempre em apenso aos autos do processo de
inventário para se decidido pelo juiz. Assim, uma vez removido, o inventariante deverá
entregar os bens do espólio ao novo inventariante substituído. Caso descumpra essa
obrigação, o juiz poderá promover mandato de busca e apreensão ou mandato de
imissão na posse dos bens do espólio. Também será possível a atribuição de multa ao
inventariante removido que não cumprir com a obrigação de entregar os bens do espólio.

122
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O Termo de Compromisso conduz para a abertura de incumbências na via


administrativa e na via judicial.

• Caso seja constatada alguma incompatibilidade no exercício das atribuições de


inventariante, será, plenamente, possível a substituição dele.

• As hipóteses de substituição, previstas no Art. 622, do Código de Processo Civil,


são, meramente, exemplificativas. Assim, havendo qualquer outra hipótese que
configure prejuízo aos interessados, será possível proceder com a remoção.

• A remoção do inventariante pode ocorrer mediante requerimento ou ofício pelo juiz.

• Como efeito da substituição, haverá nova nomeação de inventariantes, respeitada a


preferência legal prevista no Art. 617, do Código de Processo Civil.

• Decretada a substituição, o inventariante removido deverá entregar todos os bens


e documentos que estiverem em seu poder ao novo inventariante, sob pena de
responsabilização.

123
AUTOATIVIDADE
1 A legislação processualista civil autoriza a troca do inventariante. Nesse sentido,
considerando os pontos estudados sobre o tema, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente o juiz pode requerer a troca ou remoção do inventariante.


b) ( ) Somente os herdeiros necessários podem requerer a substituição do inventariante.
c) ( ) O juiz não pode decretar a remoção do inventariante de ofício, pois depende de
provocação dos interessados.
d) ( ) A inércia em suas atribuições e a desídia do inventariante são exemplos de
fatores que possibilitam a nomeação de outro inventariante com vistas a diminuir
os prejuízos aos interessados no inventário e na partilha.

2 O inventariante deve exercer o múnus com eficiência e dedicação conforme pactuado


no termo de compromisso firmado por ele. No tocante à troca de inventariante, analise
as afirmativas a seguir, e, em seguida, assinale a alternativa CORRETA:

I- A destituição do inventariante não resulta na perda da inventariança.


II- Tanto a remoção quanto a destituição exoneram o indivíduo das funções que lhe
foram confiadas.
III- Havendo remoção ou destituição, haverá uma nova nomeação para o exercício da
inventariança.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.


b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa III está correta.

3 Quando o inventariante é removido, o juiz do inventário deverá analisar o rol preferencial


para nomear outro responsável pelo múnus. Após a remoção, o inventariante conserva
algumas obrigações. Sobre o tema, analise as afirmativas a seguir e marque V para
as afirmativas verdadeiras e F para as afirmativas falsas, e, em seguida, marque a
alternativa que contém a sequência CORRETA:

( ) Mesmo removido ou destituído, o inventariante mantém a obrigação de prestar


contas de sua gestão, em relação ao período no qual exerceu a inventariança,
inclusive mantendo-se como parte legítima, ativa e passivamente, para o manejo
de uma ação de prestação de contas.

124
( ) O inventariante removido deverá entregar todos os documentos e todos os bens
que estiverem sob o seu domínio ao novo inventariante nomeado.
( ) O inventariante removido não poderá ser responsabilizado penalmente caso se
negue a entregar os bens do espólio que estão em sua guarda.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) V – V – F.
b) ( ) F – V – V.
c) ( ) V – F – F.
d) ( ) V – V – V.

4 O inventariante deve exercer o múnus com eficiência e dedicação conforme pactuado


no termo de compromisso firmado por ele. No tocante à troca de inventariante,
apresente dois efeitos da remoção.

5 Quando o inventariante é removido, o juiz do inventário deverá analisar o rol preferencial


para nomear outro responsável pelo múnus. Após a remoção, o inventariante
conserva algumas obrigações. A respeito do tema, apresente duas obrigações que o
inventariante conserva mesmo após a remoção dele.

125
126
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
TROCA DO INVENTARIANTE E
CONSEQUÊNCIAS DENTRO DO
INVENTÁRIO

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 3, abordaremos o procedimento para a remoção do
inventariante e a consequente substituição dele. A legislação determina algumas
situações nas quais o inventariante será removido do processo de inventário. A título
de exemplo, podemos destacar, como motivos para a remoção, quando ocorrerem
omissões relativas ao processo de inventário ou à administração dos bens do inventário.

Neste tópico, também, estudaremos os acontecimentos que ocorrem no


processo de inventário, que se originam da remoção do inventariante. De saída, frisamos
que, caso o inventariante seja removido, o juiz deverá proceder com uma nova nomeação,
observando a preferência legal disposta no Art. 617, do Código de Processo Civil.

Portanto, é muito importante que todos os interessados estejam, sempre,


atentos ao processo de inventário, pois a omissão, a inatividade e o descaso do
inventariante podem gerar uma denúncia ao juiz, para a causa e a designação de um
novo inventariante.

2 MOTIVOS DA TROCA DO INVENTARIANTE



Sabemos que o inventariante é a pessoa responsável por administrar o espólio
do de cujus e, portanto, essa pessoa tem o compromisso de exercer sua função com
fidelidade, e principalmente prestar contas durante todo o processo de inventário, além
disso, a pessoa que ocupa o cargo de inventariante, presta um serviço e estará sob
fiscalização do juiz do processo.

Também sabemos que ao ser convocado para inventariante, a pessoa presta


compromisso de representar o espólio através de um termo de compromisso, e assim,
adquire poderes para representar o espólio em juízo ou fora dele e principalmente o
cargo de administrador dos bens até que sejam partilhados, além de representar o morto
em processos judiciais, pagar suas dívidas e prestar contas até o fim do inventário.

O art. 622 do Código de Processo Civil apresenta um rol de possibilidades que


representam motivo de remoção do inventariante. Vejamos:

127
Art. 622. O inventariante será removido de ofício ou a requerimento:

I - se não prestar, no prazo legal, as primeiras ou as últimas


declarações;
II - se não der ao inventário andamento regular, se suscitar dúvidas
infundadas ou se praticar atos meramente protelatórios;
III - se, por culpa sua, bens do espólio se deteriorarem, forem
dilapidados ou sofrerem dano;
IV - se não defender o espólio nas ações em que for citado, se
deixar de cobrar dívidas ativas ou se não promover as medidas
necessárias para evitar o perecimento de direitos;
V - se não prestar contas ou se as que prestar não forem julgadas boas;
VI - se sonegar, ocultar ou desviar bens do espólio (BRASIL,
2015).

Nos moldes do dispositivo anterior, é possível extrair que a remoção ou troca do


inventariante pode ser requerida por qualquer interessado no inventário e na partilha ou
até mesmo decretada de ofício pelo juiz, porém o rol do referido artigo representa apenas
uma exemplificação, não é taxativo e desta forma cada caso deve ser analisado de forma
individual para que assim, sendo visualizada inércia ou desídia do inventariante em face
das suas atribuições, esse evento seja comunicado ao juiz para que se proceda com a
nomeação de outro inventariante, sob pena de proporcionar prejuízos incalculáveis.

A seguir, vamos analisar cada um dos itens do dispositivo e exemplificar para


que o acadêmico possa visualizar em casos concretos:

I- O inventariante que ao ser nomeado, deixar de apresentar dentro do prazo de 20


dias, a lista com todos os bens móveis e imóveis do espólio com as certidões de
matrícula, saldos bancários e documentos de posse, todos os herdeiros e legatários
devidamente qualificados e seus respectivos documentos pessoais, além de
certidões negativas de tudo ou que deixar de apresentar a mesma lista, salvo caso
haja necessidade de venda de algum bem para pagamento de outras dívidas ou
tributos ao final do processo de inventário, se enquadra neste item.
II- Aquele que foi nomeado e não dar andamento no processo de inventário, que usa
informações infundadas para levantar dúvidas, que pratica atos simplesmente para
atrasar o curso normal do processo, ou seja, que trabalha contra o processo, que não
colabora para que se seja concluído no menor tempo possível, incorre no item descrito.
III - É obrigação do inventariante cuidar dos bens do espólio, fazer a devida manutenção
e mantê-lo em boas condições, se por sua ação ou omissão os bens se deterioram,
sofrem danos ou se perdem, como um veículo deixado em exposição ao sol e chuva,
sem cuidado para que se deteriore, uma casa que fica abandonada, sem limpeza e
conservação, poderá o inventariante ser destituído do cargo de acordo com este item.
IV - O inventariante é a pessoa que representa o espólio, e caso deixe de defendê-lo
em qualquer ação judicial, deixe de cobrar dívida da qual o espólio seja credor ou
se não buscar os direitos do espólio, está infringindo o item IV, do Art. 622, do CPC.
Aqui, a título de exemplo, é o inventariante que deixa de cobrar o aluguel de um

128
imóvel pertencente ao espólio, ou ainda caso um bem do espólio seja penhorado
em processo judicial para pagar dívida do de cujus e o inventariante não faça a
defesa para que o bem não se perca.
V - Deixar de prestar contas ou fazer de forma errada e a descontento, ou seja,
enquanto responsável pelo espólio, este funciona como em empresa, que deve ser
administrada pelo inventariante, onde este deve fazer a prestação de contas aos
herdeiros e ao juiz do processo periodicamente, ou seja, tudo o que é gasto e/ou
recebido pelo espólio deve ser relacionado e demonstrado para que todos tenham
conhecimento e que o processo seja transparente.
VI - E por último, o inventariante que tomar para si, ocultar ou sonegar qualquer fruto ou
bem do espólio, por exemplo receber aluguéis de imóveis do espólio e se apropriar
do total ou de parte do valor em desfavor dos demais herdeiros, neste caso não se
trata de qualquer valor que lhe caiba como herdeiro, mas de valor que não lhe seja
de direito, será substituído com base neste item.

No tocante ao tema, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald ensinam que

a atuação do inventariante é de suma importância para a breve


solução do inventário, bem como para efetivar apresentação do
espólio. Exatamente por isso, havendo desídia, incúria, no exercício
da inventariança justifica-se, a mais não poder, o seu afastamento da
função, resguardando os interesses· patrimoniais dos sucessores e
dos credores (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 561).

Nesse sentido, o inventariante não possui direito subjetivo de permanecer


como inventariante até que a partilha ocorra. Ele deve exercer o múnus com eficiência e
dedicação conforme pactuado no termo de compromisso firmado por ele.

Se o juiz do processo entender que o atual inventariante não cumpriu com seu
compromisso, que houve negligência na prestação de contas, que não atendeu de forma
íntegra e honesta aos requisitos de seu cargo, decretará a remoção e nomeará um novo
inventariante, com base no Art. 617, do Código de Processo Civil, sempre respeitando a
ordem indicada no dispositivo legal.

Com base no exposto, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald aduzem


que o juiz deve

[...] afastar o inventariante quando a sua presença comprometer


o andamento do procedimento, decorrente, ou não, de conduta
culposa. Até mesmo porque, reiterando o que se afirmou noutra
sede, o procedimento de inventário não se extingue sem resolução
de mérito por abandono do inventariante. Nesse caso, exige-se o
seu afastamento, com nomeação de uma outra pessoa (FARIAS;
ROSENVALD, 2017, p. 561).

A maneira de se dar início a remoção do inventariante é com a petição de


remoção, que deverá ser instruída de todos os documentos probatórios que indiquem as
irregularidades praticadas, o juiz então dará prazo para defesa e prestação de contas e caso
entenda que não há divergência no que for apresentado, manterá o inventariante no cargo.
129
De acordo com o art. 623 do Código de Processo Civil, uma vez requerida a
remoção do inventariante, ele será intimado e poderá se defender e produzir provas no
prazo de 15 dias. Eis o dispositivo comentado:

Art. 623. Requerida a remoção com fundamento em qualquer dos


incisos do art. 622, será intimado o inventariante para, no prazo de 15
(quinze) dias, defender-se e produzir provas.
Parágrafo único. O incidente da remoção correrá em apenso aos
autos do inventário (BRASIL, 2015).

No tocante ao parágrafo único do dispositivo apresentado, Cristiano Chaves de


Farias e Nelson Rosenvald destacam que

a remoção do inventariante exige a formação de um procedimento


incidental (em apenso ao inventário), por provocação de qualquer
interessado ou mesmo de ofício pelo magistrado, em portaria
ou decisão fundamentada. Uma vez deflagrado, o juiz mandará
cientificar o inventariante para que possa exercer a sua. plena e ampla
defesa, em prazo de cinco dias, e produzir amplamente as provas que
entender pertinentes. Concluída a instrução, o magistrado prolatará
decisão nesse incidente, mantendo, ou removendo, o inventariante
(FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 561).

Aprofundando nossos estudos sobre o tema apontamos que a troca do inventariante


pode advir em duas situações distintas, quais sejam: a) remoção, que podemos entender
como punição pelo mal exercício da função, ou seja, o inventariante que pratica qualquer
dos itens do Art. 622, do Código de Processo Civil, será removido do cargo ; b) destituição,
se entende pelo impedimento do inventariante de seguir no cargo, por fato alheio ao
procedimento de inventário, por exemplo uma doença grave que impede a pessoa de
continuar na função. Assim, tanto uma quanto a outra resultam na perda da inventariança,
exonerando o indivíduo das funções que lhe foram confiadas. Consequentemente, havendo
a remoção ou destituição, haverá uma nova nomeação para o exercício do encargo.

A remoção do inventariante também pode ser requerida pelo Ministério Público


quando este intervir no processo de inventário, desta forma, com base nos mesmos
itens do Art. 622, do Código de Processo Civil, fará o requerimento ao juiz do processo.
Nesta hipótese, é importante ressaltar que o Ministério Público pode intervir no processo
de inventário quando existir interesse de incapazes, antes da reforma do Código de
Processo Civil, o rol de possíveis inventariantes não incluía o herdeiro menor, e com
a nova redação vigente desde 2016, prevê a possibilidade destes figurarem como
inventariante e por consequência o Ministério Público intervém como fiscal da lei para
defender os interesses tanto do inventariante incapaz quanto do herdeiro incapaz.

Por ser decisão interlocutória, caberá agravo de instrumento contra a decisão do


juiz do inventário que determina a remoção do inventariante. Perceba que a remoção é
considerada uma punição para o inventariante desonesto, no entanto a substituição do
ocupante deste cargo também pode se dar pela destituição, o que não é uma punição,
mas uma necessidade por conta de um acontecimento que impede o inventariante de
seguir com a função.

130
Num caso concreto, pode ser a esposa do de cujus que veio a contrair uma
doença grave que a impede de exercer sua função, pois pode ficar com saúde debilitada,
ou ter de fazer um tratamento de saúde que lhe tomará tempo, ou ainda um acidente
que lhe comprometa as funções locomotoras, uma internação de longo prazo, enfim,
uma série de fatores que podem fazer com que essa pessoa não tenha mais condições
de cumprir com sua obrigação e por causas alheias a sua vontade, é destituída do cargo
e substituída pela pessoa seguinte na ordem do Art. 617, do Código de Processo Civil.

Outra possibilidade de destituição do cargo é por impedimento legal ou falta


de legitimação, por exemplo uma pessoa que não esteja no rol do Art. 617, do Código
de Processo Civil, ou aquela que seja impedida do exercício da função por condenação
criminal, pois é sabido que um dos requisitos é que seja pessoa idônea, e aquele que
comete crime e é condenado não é considerado pessoa digna.

Conforme apresentado, a função desempenhada pelo inventariante carrega uma


responsabilidade muito grande e deve ser acompanhada de perto pelos interessados
no processo de inventário e partilha. Isso porque, a conduta em discordância com os
preceitos legais e com os interesses dos herdeiros podem ocasionar graves prejuízos.
Portanto, caso seja constatada qualquer irregularidade, é muito importante e necessário
que se proceda com a substituição do inventariante conforme destaca o art. 622 do
Código de Processo Civil.

É importante lembrar, que o substituto deve receber do inventariante removido


todos os bens do espólio e se não o fizer, será obrigado por mandado de busca e apreensão
ou de imissão na posse, dependendo do tipo de bens, além de multa fixada pelo juiz em
valor arbitrado até três por cento do valor de todos os bens constantes do inventário.

Além disso, o inventariante que além de infringir o dispositivo legal, causar dano
ao resultado do inventário, assim como aos herdeiros diretamente ou a seus direitos, não
somente será removido do cargo como também responderá de outras maneiras tanto na
esfera cível por perdas e danos como na esfera criminal dependendo do caso concreto.
Podemos exemplificar com um caso de sonegação cometida pelo inventariante que
resulta na perda do direito dos herdeiros sobre algum bem que lhes cabia, aqui então
com base no código 1.995 e seguintes do Código Civil, o inventariante será processado
em ação incidental própria.

3 CONSEQUÊNCIAS NO INVENTÁRIO DEVIDO À TROCA


DO INVENTARIANTE
Falamos sobre as responsabilidades do inventariante dentro do processo de
inventário e de suas obrigações. Podemos compará-lo ao depositário ou ao mandatário,
guardadas as devidas peculiaridades de cada um, por exemplo o depositário que
transgride será submetido à punições indicadas pelo Código de Processo Civil, já o
inventariante só é destituído do cargo e no máximo terá de reparar os danos causados
131
aos bens. Comparado ao mandatário, a diferença é quanto os poderes, uma vez que
o inventariante não tem poder de decisão e nem sempre atua atendendo a interesses
dos herdeiros, além de ser constituído por dispositivo legal e não necessariamente por
ser pessoa de confiança dos herdeiros e interessados, sua remoção só é possível por
infringir a lei, e o mandatário pode ser destituído por vontade de seus representados.

A primeira consequência que surge com a troca do inventariante está prevista


no art. 624 do Código de Processo Civil. Vejamos:

Art. 624. Decorrido o prazo, com a defesa do inventariante ou sem


ela, o juiz decidirá.
Parágrafo único. Se remover o inventariante, o juiz nomeará outro,
observada a ordem estabelecida no art. 617 (BRASIL, 2015).

Naturalmente, a decisão que remover o inventariante terá de indicar o substituto,


seguindo, novamente, o rol preferencial previsto na norma processual para a indicação
do inventariante, ou seja, de acordo com o Art. 617, do Código de Processo Civil, em
ordem de prioridade são o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse
convivendo com o outro ao tempo da morte deste; o herdeiro que se achar na posse e
na administração do espólio, se não houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou
se estes não puderem ser nomeados; qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver
na posse e na administração do espólio; o herdeiro menor, por seu representante legal;
o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do espólio ou se toda a
herança estiver distribuída em legados; o cessionário do herdeiro ou do legatário;
o inventariante judicial, se houver; pessoa estranha idônea, quando não houver
inventariante judicial, assim se por acaso o inventariante removido foi o cônjuge
sobrevivente, o juiz da causa deverá considerar como substituto o herdeiro que se
achar na posse e administração do espólio e assim sucessivamente. No entanto, é
permitido que os sucessores, por decisão de comum acordo, escolham o inventariante
mesmo que este esteja fora da ordem prevista no Art. 617.

Além disso, é possível apresentar como efeito da troca de inventariantes a


previsão disposta no Art. 625 do Código de Processo Civil. Vejamos:

Art. 625. O inventariante removido entregará imediatamente ao


substituto os bens do espólio e, caso deixe de fazê-lo, será compelido
mediante mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse,
conforme se tratar de bem móvel ou imóvel, sem prejuízo da multa
a ser fixada pelo juiz em montante não superior a três por cento do
valor dos bens inventariados (BRASIL, 2015).

Nesses termos, o inventariante removido ou destituído da incumbência tem a


obrigação de devolver todos os bens e documentos do espólio que estejam em sua
guarda, sob pena de busca e apreensão ou de imissão de posse, se móveis ou imóveis,
respectivamente. Além disso, naturalmente, eventual responsabilização penal não será
afastada se além de tudo incorrer em tipos penais previstos.

132
Registra-se que mesmo removido ou destituído, o inventariante mantém a
obrigação de prestar contas de sua gestão em relação ao período em que exerceu a
inventariança, inclusive mantendo-se como parte legítima, ativa e passivamente, para
o manejo de uma ação de prestação de contas. Devemos entender que mesmo após
deixar o cargo, o inventariante tem o dever de entregar o seu “serviço” de forma que
não prejudique o seu substituto e principalmente o inventário e além disso se mantém
responsável por tudo que for pertinente ao período em que exerceu a inventariança.

A remoção ou destituição não isenta o inventariante de responsabilidades futuras,


não se deve pensar que uma vez substituído, não terá mais nenhuma obrigação com o
inventário, não é simplesmente como deixar um emprego, enquanto o processo estiver
correndo, será responsável por tudo aquilo que tenha ocorrido durante a sua gestão.

Já vimos que quando um inventariante não estiver cumprindo com suas


obrigações perante o inventário e seus interessados, ele poderá ser substituído.
O substituto deverá assumir as responsabilidades como inventariante e prestar o
compromisso da mesma forma que o anterior e dar sequência ao processo de inventário,
devendo exercer sua função da forma mais transparente possível, com as finalidades de
encerrar o processo e de, finalmente, obter-se o formal de partilha.

Nosso ordenamento não prevê limite de substituições, portanto, durante


o processo de inventário, o inventariante pode ser removido ou destituído quantas
vezes forem necessárias ou quantas vezes os interessados ingressarem com petição
requerendo a remoção e esta for deferida pelo juiz da causa. É claro que a cada incidente
como esse gera o atraso do processo, e, por consequência, os seus custos acabam
aumentando, dentre outras consequências.

Quanto a responsabilidade penal do inventariante, vimos que a remoção pode ser


requerida pela sonegação do inventariante dentre outros atos, basta que o juiz da causa
constate a ação ou omissão. Assim, segundo Arnaldo Rizzardo (2006), chegamos na
possibilidade de sanção penal à pessoa que ocupando cargo de confiança/inventariante,
apropria-se de bens do espólio ou declara inexistência de bens, que além de responder
civilmente pela sonegação também responderá ao crime de apropriação indébita.

O Art. 168, do Código Penal, prevê:

Apropriação indébita
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a
detenção:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Aumento de pena
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa:
I - em depósito necessário;
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante,
testamenteiro ou depositário judicial;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.

133
Perceba que o crime tem sua pena aumentada caso o réu seja inventariante,
testamenteiro ou depositário judicial, e como já abordamos anteriormente, a obrigação
do inventariante é comparada ao de depositário, uma vez que deve cuidar dos bens que
lhe foram confiados.

Diferente do crime de furto, a apropriação indébita se configura pelo


apoderamento de coisa alheia móvel, sem o consentimento do proprietário, mas que
exercendo cargo de confiança age como se fosse o dono. Na apropriação, a pessoa
tem acesso ao bem de forma legal, toma para si e deixa de dar ou devolver ao seu dono
legítimo, que no inventário são os herdeiros.

Portanto, quando o inventariante não cumpre com seu dever, comete o delito
de sonegação estando sujeito às penas do Código Civil e o os bens que deveriam estar
no inventario e que foram sonegados, ou seja, deixaram de figurar na partilha por ato
consciente do inventariante, fará com que este responda criminalmente pelo delito de
apropriação indébita.

Apontamos que o inventariante que sonega os bens pode ser responsabilizado


civil e criminalmente, mas como se dá a sonegação? Como se prova tal ato?

Pois bem, é sabido que após a morte, a sucessão deve ser aberta pelos herdeiros,
que dentre eles será nomeado o inventariante que tem a função de relacionar todos os bens
móveis e imóveis do falecido que estejam em seu poder ou de outros herdeiros ou ainda de
terceiros. Se nesta relação de bens tanto inventariante quanto herdeiros conscientemente
deixar de informar a existência de algum bem, praticará a sonegação e estará sujeito a
penalização pelo código civil como pelo crime de apropriação indébita. Alguns doutrinadores
entendem que para que se configure o delito a pessoa precisa agir com dolo, ter intenção de
tomar o bem para si. A pena para o inventariante sonegador é a remoção do cargo e a perda
do direito à herança do bem não relacionado, o herdeiro que oculta o bem em favor próprio
também perde o direito à herança e se a sonegação for praticada por testamenteiro ou
cessionário ambos também perdem seus direitos, o primeiro perde à vintena e o segundo o
direito sobre o bem sonegado. Para Wilson de Oliveira:

Sonegação é a ocultação dolosa de bens do espólio. Ocorre tanto


se não descritos pelo inventariante com o propósito de subtraí-
los à partilha como se não trazidos à colação pelo donatário. Em
conformidade com os preceitos legais, são estes os casos de
sonegação: I – os praticados pelo inventariante nos termos do art.
1.996; II – os praticados pelos herdeiros: a) não descrevendo no
inventário os bens que estejam em seu poder; b) que estejam em
poder de outrem com o seu conhecimento; c) omitir na colação, a
que os deva levar, ou deixar de restituí-los (OLIVEIRA, 2004, p. 227).

A sonegação pode ser de bens móveis ou imóveis, porém é mais comum acontecer
com os móveis já que a identificação do proprietário é mais difícil, exemplo é a retirada
de valores depositados em conta bancária da qual o sonegador tem acesso ou é cotitular,
valores de crédito deixados pelo falecido, joias, obras de arte, quadros, e todo e qualquer

134
outro bem que tenha valor, mas que não há documento que comprove a propriedade.

Quanto à arguição de sonegação, ela deve ser feita nos autos do processo
de inventário e se os bens ocultados forem apresentados, a declaração de bens será
aditada e o processo continuará seu curso. Se houver insistência na ocultação, ou seja,
o inventariante se recusar a apresentar o bem sonegado, a questão deverá ser dirimida
em ação de sonegados em juízo cível e sendo matéria de muitos questionamentos, a
pena só pode ser aplicada por decisão em ação ordinária e não no processo de inventário.

A sonegação deve ser arguida após a entrega da declaração e bens, mas nada
impede que seja feita até mesmo após o encerramento do inventário e da partilha, já
que deve ser trazida no momento do conhecimento da ocultação, porém dentro do
prazo prescricional de dez anos. Quanto à pena, como já dito, é prevista pelo código civil
e consiste na perda do direito ao bem sonegado, entenda que não se trata de perda da
herança, mas somente do direito ao bem que foi ocultado, o sonegador continua sendo
herdeiro dos demais bens do inventário.

Percebemos que a responsabilidade do inventariante é imensa dentro do


processo de inventário e que todos os seus atos são fiscalizados tanto pelos herdeiros
quanto pelo juiz da causa, e em alguns casos também pelo Ministério Público. Qualquer
deslize ou falha são motivos para que seja removido e substituído.

Como visto, o processo de inventário não pode seguir sem que seja nomeado um
novo inventariante quando houver a remoção ou destituição. Assim como primeiro efeito,
todos os bens ou documentos que estiverem sob o domínio do inventariante removido
deverão ser entregues ao novo inventariante nomeado, sob pena de responsabilização.
Por fim, destaca-se que mesmo com a troca, o inventariante removido deverá prestar as
contas de seus afazeres junto ao juízo em que tramita o processo de inventário. Além
disso, o inventariante que for desonesto e ocultar bens do espólio, será responsabilizado
civil e penalmente, podendo perder o direito ao bem sonegado, além de responder por
apropriação indébita e ser penalizado criminalmente também.

135
LEITURA
COMPLEMENTAR
FISCO PODE MULTAR HERDEIROS POR DEMORA EM INSTAURAR PROCESSO DE
INVENTÁRIO

Dierle Nunes e Moisés M. Oliveira

O estado de Minas Gerais, exercendo a competência que lhe confere a


Constituição da República, e com base na Resolução nº 9, de 1992, do Senado Federal
[1], editou a Lei nº 14.941, de 29 de dezembro de 2003, que institui e regula o ITCD,
bem como o Decreto nº 43.981/05. Desde a sua edição, a lei sofreu diversas alterações
[2] através da publicação de outros diplomas legais, sendo sua última modificação
resultante da Lei nº 22.796, de 28 de dezembro de 2017.

Inquestionavelmente, como preconiza a própria legislação mineira (inciso I, do


Art. 1º, da Lei nº 14.941/03), o ITCMD incide, dentre outras hipóteses, na transmissão da
propriedade de bem ou direito, por ocorrência do óbito [3].

Como bem sabido, com a morte da pessoa natural seus bens transmitem-
se, automaticamente aos seus sucessores legítimos e testamentários, nisso consiste
o amplamente conhecido princípio da droit de saisine (Código Civil, Art. 1.784). Uma
vez, porém, que o patrimônio do autor da herança constitui uma universalidade, torna-
se necessário apurar quais são os bens que integram o espólio, a fim de definir o que
passou realmente ao domínio dos sucessores.

Para esse fim, existe o procedimento especial do inventário e partilha (Arts. 610
a 673, do CPC), que tem por finalidade definir os componentes do acervo hereditário e
determinar quem são os herdeiros que recolherão a herança (inventário), bem como
definir a parte dos bens que tocará a cada um deles (partilha) [4].

O legislador atribuiu, ao inventário judicial, um caráter de urgência, fixando, no


Art. 611, do CPC, o prazo de dois meses para a sua instauração. Evidentemente este prazo
não é prescricional, no entanto, se não for cumprido, poderá a fazenda pública estadual
(SEF) fixar multa, relacionada com o imposto causa mortis, conforme entendimento
consolidado pelo STF no enunciado de Súmula 542 [5].

O enunciado apenas confirma a possibilidade dos Estados, dentro dos limites


de sua competência legislativa no âmbito tributário (Art. 155, I, da Constituição), fixarem
multa para inibir a inércia dos sucessores, que por não ajuizarem o procedimento de
inventário, impossibilitariam a apuração e arrecadação do ITCMD.

136
O CPC/15, repetindo o entendimento do CPC/73, prevê e estabelece os critérios
para apuração do imposto de transmissão causa mortis. O CPC, de forma razoável e
coerente, estabelece que depois de realizadas as últimas declarações do inventário, ou
seja, após a descrição e pormenorização do patrimônio e da realização da avaliação dos
bens componentes do acervo hereditário e antes de iniciada a fase propriamente da
partilha [6], proceder-se-á ao cálculo do tributo (CPC, Art. 637).

Pelo rito procedimental previsto no CPC, ao julgar o cálculo do imposto (parágrafo 2º,
do Art. 638, CPC), o juiz está pondo fim à primeira fase do procedimento (inventário), fixando
definitivamente o quantum a ser partilhado e o valor do imposto a ser pago à Fazenda Pública.

Entretanto, em que pese a regulamentação do CPC, a legislação mineira,


especificamente, na Lei nº 14.941/03 (Art. 13), e o Decreto nº 43.981/05 (Art. 26), que
regulamenta o ITCD em Minas Gerais, determinam que o ITCD deve ser pago no prazo
máximo de 180 dias contados da abertura da sucessão.

O não pagamento do imposto dentro do prazo previsto na legislação geraria a


punição do contribuinte por meio de multa diária, que pode atingir 12% sobre o valor total
do imposto (inciso I, do Art. 22, da Lei nº 14.941/03). Além da multa a legislação mineira
prevê também a incidência de juros de mora equivalentes à taxa referencial do Sistema
Especial de Liquidação e Custódia (Selic), estabelecida pelo Banco Central do Brasil (Art.
1º, da Resolução nº 2.880/97).

A legislação mineira instituiu assim um procedimento administrativo de


apuração do ITCD, realizado em meio eletrônico, o sistema Siare, que está totalmente
desatrelado do procedimento de inventário judicial, possuindo forma e prazos próprios.

A desvinculação do procedimento de apuração do ITCD, a princípio, pode


parecer desimportante, uma regra sem grande relevância. Entretanto, cabe realizar
algumas reflexões sobre as consequências dessa aparente antinomia jurídica.

Evidentemente, nas situações em que é possível a realização do inventário


extrajudicial (parágrafo 1º, do Art. 610, CPC) a apuração administrativa do ITCMD se
mostra o caminho mais viável. A exigência do ITCMD em relação às escrituras públicas
de inventário e partilha é evidente. Para a lavratura da escritura pública de inventário
e partilha exige-se não apenas a regularidade jurídica do quadro patrimonial, como
descrito na Resolução nº 35, do CNJ, como também, obviamente, a comprovação da
quitação fiscal plena, comprovada pelas CND’s e pela certidão de pagamento do ITCMD.

A grande questão que se coloca em relação ao prazo fixado pelo Art. 13, da
Lei n° 14.941/03, de Minas Gerais, diz respeito aos procedimentos de inventário e
partilha judiciais que tramitam pelo procedimento comum. Nesses casos, dificilmente
conseguirão os beneficiários da sucessão cumprir com a ditame legal, isso porque em
muitos casos o procedimento de inventário é o meio por meio do qual terão os herdeiros
acesso as informações sobre o patrimônio.

137
Essa situação se mostra ainda mais problemática quando existe entre os
herdeiros um litígio de natureza eminentemente patrimonial, como são os casos de
sonegação (Código Civil, Art. 1.996). Observe que nestes casos os herdeiros só poderão
arguir a sonegação em detrimento do inventariante após as últimas declarações,
ficando evidente a impossibilidade de apuração do ITCD vez que pairam dúvidas sobre
a extensão do patrimônio.

Lado outro, podem existir também controvérsias sobre quem eventualmente são
os beneficiários da sucessão. Como ocorre comumente nos casos de reconhecimento
de paternidade ou de união estável post mortem. Ou mesmo nos casos de ineficácia
ou caducidade de disposição testamentária. Nesse aspecto, importante observar que
o próprio CTN, em seu Art. 35, parágrafo único, determina que existem tantos fatos
geradores quanto são os herdeiros e legatários, tornando imprecisos os fatos geradores
se existem dúvidas sobre quem efetivamente são os beneficiários.

Além de Minas Gerais, outros cinco Estados adotam prazos e procedimentos


completamente diferentes dos estabelecidos pelo CPC, são eles: Amazonas, Acre, Mato
Grosso do Sul, Piauí e Santa Catarina. Constata-se assim que existe uma aparente antinomia
jurídica entre as determinações do CPC e a legislação tributária dos referidos estados.

Embora a herança seja transmitida, automaticamente no momento da abertura


da sucessão (Código Civil, Art. 1.784), a exigibilidade do imposto sucessório depende da
especificação do patrimônio transferido e dos sucessores, para que sejam apurados os
"tantos fatos geradores distintos" a que alude o citado parágrafo único do Art. 35, do CTN.

O arcabouço do ITCMD revela, portanto, que apenas após as últimas declarações


é possível identificar perfeitamente os aspectos material, pessoal e quantitativo da
hipótese normativa, tornando possível a realização do lançamento pela Fazenda Pública.
Fica evidente assim, que pelas características da transmissão causa mortis, não há
como exigir o imposto antes do reconhecimento judicial do direito dos sucessores.

Como mecanismo de resolução desta antinomia pode-se utilizar a Súmula 114[7]


do STF, que preconiza a necessidade de homologação do cálculo para que o imposto
seja exigível e, consequentemente, possa incidir multa e correção.

Nesse aspecto, importante observar que o STF fixou o entendimento de que


cabe, ao STJ, a apreciação de controvérsias atinentes à matéria infraconstitucional
objeto de enunciados de súmulas editados à luz das constituições anteriores a 1988[8].

Assim, o STJ [9] já vem aplicando a Súmula 114, determinando a inexigibilidade


do imposto antes de realizada a homologação judicial do cálculo no juízo sucessório.

138
Assim, cotejando os dispositivos do CPC com as súmulas do STF e com os
julgados mais recentes do STJ, concluímos que o fisco pode imputar aos herdeiros multa
pelo atraso na instauração do processo de inventário, pode fixar como base de cálculo
o valor dos bens à época da avaliação, entretanto, não pode cobrar multa e correção
antes de realizada o julgamento do cálculo do tributo no processo de inventário.

Pontue-se, por derradeiro, que tal matéria, em face de sua grande relevância
jurídica e econômica, poderá ser submetida aos Tribunais de Justiça (dos estados
indicados) para análise, nos recursos de apelação sobre o tema ou em reexame necessário,
em sede de Incidente de Assunção de Competência (Art. 947, do CPC), ou de IRDR (caso
presentes os requisitos do Art. 976, do CPC), para que seja proferido precedente normativo
que dimensione a temática de forma correta e se evite o abuso das cobranças de multas
indevidas, embasadas em legislações estaduais em desconformidade com o CPC/15 e
que atentam contra a própria realidade do procedimento de inventário e partilha.

[1] Art. 1º. A alíquota máxima do imposto de que trata a alínea a, inciso I, do Art.
155, da Constituição Federal, será de oito por cento, a partir de 1° de janeiro de 1992.

[2] A legislação mineira previa alíquotas progressivas, no entanto, após a edição


da Lei n° 17.272, de 28 de dezembro de 2007, o Estado passou a adotar alíquota única de
5% tanto para os casos de transmissão causa mortis quanto para os casos de doação.

[3] A redação atual do inciso I, do Art. 1º, da referida lei, foi estabelecida pela Lei nº
20.824, de 31 de julho de 2013, que alterou o texto da lei original em alguns dispositivos.

[4] THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: volume 3:


procedimentos especiais. 50. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 251.

[5] STF, Súmula 542 “Não é inconstitucional a multa instituída pelo Estado-
membro, como sanção pelo retardamento do início ou da ultimação do inventário.”

[6] Os civilistas clássicos ao tratarem da temática reconhecem que o cálculo do


imposto só pode ser efetivado após o encerramento da descrição dos bens, vez que não
seria possível ou mesmo razoável proceder-se à avaliação de acervo que não se conhece
integralmente. Nesse ponto destaca-se a clareza e objetividade de Itabaina de Oliveira, para
quem: “encerrado o inventário, e depois de ouvidos os interessados, segue-se o processo
preparatório da partilha, ordenando o juiz, por despacho, que se proceda ao cálculo para a
liquidação do imposto de transmissão causa mortis, devido à Fazenda Pública, de acordo
com as respectivas taxas estabelecidas em lei.” ITABAIANA DE OLIVEIRA, Arthur Vasco.
Tratado de direito das sucessões. 4. ed. São Paulo: Max Limonad, 1952. p. 868.

[7] STF, Súmula 114: “O imposto de transmissão "causa mortis" não é exigível
antes da homologação do cálculo.”

139
[8] "Como afirmado na decisão agravada, o Supremo Tribunal Federal
pacificou o entendimento de que cabe ao Superior Tribunal de Justiça a apreciação
de controvérsias atinentes à matéria infraconstitucional objeto de súmulas editadas à
luz das constituições anteriores a 1988, como é o presente caso, no qual se discute a
aplicação da Súmula n. 114 do Supremo Tribunal Federal, aprovada na Sessão Plenária de
13.12.1963, com base na interpretação do art. 500 do Código de Processo Civil de 1939."
(STF, ARE 768206-AgR, Relatora Ministra Cármen Lúcia, Segunda Turma, julgamento em
15.10.2013, DJe de 28.10.2013)

[9] STJ, REsp 752.808/RJ, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma,
julgado em 17.5.2007, DJ 4.6.2007; STJ, AgRg no REsp 1257451/SP, Rel. Ministro
Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 13.9.2011; STJ, REsp 1660491/RS, Rel. Ministro
Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 16/06/2017.

FONTE: NUNES, D.; OLIVEIRA, M. M. Consultor jurídico. 2018. Disponível em: https://bit.ly/30iZSoG. Acesso
em: 24 abr. 2021.

140
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Caso seja constatada alguma incompatibilidade no exercício das atribuições do


inventariante, será, plenamente, possível a substituição dele.

• As hipóteses de substituição, previstas no Art. 622, do Código de Processo Civil,


são, meramente, exemplificativas. Assim, havendo qualquer outra hipótese que
configure prejuízo aos interessados, será possível proceder com a remoção.

• A remoção do inventariante pode ocorrer mediante requerimento ou ofício pelo juiz.

• O Ministério Público, uma vez que funciona como fiscal da lei, pode requerer a
remoção do inventariante quando algum interesse de incapaz for ameaçado.

• Como efeito da substituição, haverá nova nomeação de inventariante, respeitada a


preferência legal prevista no Art. 617, do Código de Processo Civil.

• Decretada a substituição, o inventariante removido deverá entregar todos os bens


e documentos que estiverem em seu poder ao novo inventariante, sob pena de
responsabilização.

• O inventariante que oculta bens do espólio e os toma para si, como se dono fosse,
responde por sonegação e pode responder, criminalmente, por apropriação indébita.

• Se provada a sonegação, o agente perderá o direito de herança do bem ocultado.

141
AUTOATIVIDADE
1 O Código de Processo Civil prevê a troca do inventariante com base em ações ou omissões.
Nesse sentido, considerando os pontos estudados, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente o ministério público pode requerer a troca ou remoção do inventariante.


b) ( ) Somente os herdeiros necessários podem requerer a substituição do inventariante.
c) ( ) O juiz não pode decretar a remoção do inventariante de ofício, pois depende de
provocação dos interessados e aval do Ministério Público.
d) ( ) A sonegação, a ocultação e o desvio de bens são exemplos de ações que
embasam a nomeação de outro inventariante com finalidade de prejuízos aos
interessados no inventário e na partilha.

2 No que diz respeito à substituição de inventariante, analise as afirmativas a seguir, e,


em seguida, assinale a alternativa CORRETA:

I- A destituição do inventariante resulta na perda da inventariança.


II- Tanto a remoção quanto a destituição exoneram o indivíduo das funções que lhe
foram confiadas.
III- Havendo remoção ou destituição, haverá uma nova eleição para o cargo de
inventariante.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.


b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa III está correta.

3 Uma vez removido o inventariante, o juiz da causa deverá tomar como base o rol
preferencial do Art. 617, do CPC, para nomear substituto. No entanto, mesmo
removido, o inventariante conserva algumas obrigações. Analise as afirmativas a
seguir e marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as afirmativas falsas, e, em
seguida, marque a alternativa que contém a sequência CORRETA:

( ) Mesmo removido ou destituído, o inventariante mantém a obrigação de prestar


contas de sua gestão, em relação ao período no qual exerceu a inventariança,
inclusive mantendo-se como parte legítima, ativa e passivamente, para o manejo
de uma ação de prestação de contas.
( ) O inventariante removido poderá ser responsabilizado penalmente caso se negue
a entregar os bens do espólio que estão em sua guarda.

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( ) O inventariante removido deverá entregar todos os documentos e todos os bens
que estiverem sob o seu domínio ao novo inventariante nomeado.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) V – V – F.
b) ( ) F – V – V.
c) ( ) V – F – F.
d) ( ) V – V – V.

4 O processo de inventário deve se iniciar a partir da morte do autor. De acordo com


o Código de Processo Civil, quem são as pessoas indicadas a ocupar o cargo de
inventariante em ordem de preferência e quando a ordem pode não ser seguida?

5 A sonegação é o ato de ocultar bens da relação de bens do espólio. O inventariante


que pratica esse ato, intencionalmente, pode responder, civil e criminalmente, por seus
atos. Quais são as consequências previstas para a prática de sonegação em inventário?

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REFERÊNCIAS
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