Resumo Livro Geografia, Uma Pequena História Crítica

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 1.

Relação entre o surgimento do pensamento geográfico e a expansão colonial:

=> Meados do século XIX:


* expansão imperialista => as potências europeias disputam para dividir os continentes em “zonas de influência”
* Até 1870 - Capitalismo Industrial (concorrencial)
* A partir de 1870 - Capitalismo financeiro (Monopolista)
* O Pensamento Geográfico passa a ser aceito como ciência
=> A Geografia sempre fez parte da História humana associada ao conhecimento do novo, ao espírito de conquista e
domínio dos povos e das terras ainda desconhecidas
=> Até o século XVIII, a Geografia se resumia em relatos de viagem, escritos em tom literário; compêndios de
curiosidades, sobre lugares exóticos; áridos relatórios estatísticos de órgãos de administração; obras sintéticas,
agrupando os conhecimentos existentes a respeito dos fenômenos naturais; catálogos sistemáticos, sobre os
continentes e os países do Globo etc.
=> No século XIX, em paralelo ao neocolonialismo, a Geografia passou a promover o levantamento sistemático do
mundo extraeuropeu, identificando riquezas potenciais necessárias à evolução do capitalismo que se afirmava em sua
fase imperialista por meio da expansão industrial que necessitava matérias-primas e novos mercados para seus
produtos.
=> Durante as expansão colonial mercantilista promovida na Idade Moderna, o Capitalismo se restringia ao
entesouramento do ouro e da prata.
=> No século XIX, o desenvolvimento capitalista passou a depender de fontes renovadas de recursos naturais e,
portanto, de identificar novos caminhos e eventuais restrições para apoiar o projeto geopolítico de hegemonia financeira
e industrial dos países da Europa Ocidental frente às novas forças econômicas que surgiam tanto na Rússia, como,
secundariamente, na América do Norte.
=> O “estudo sistemático da natureza”, raiz da geografia moderna, no século XIX, é indissociável da revolução científica
que se observava desde o final do século anterior no projeto científico de Alexander von Humboldt (1769/1859), que já
tinha o objetivo de contribuir com o progresso das ciências físicas.
=> Na segunda metade do século XIX se intensificaram as grandes expedições e a exploração científica do interior dos
continentes que Humboldt, em suas grandes viagens, começara pioneiramente a fazer.
=> A expansão colonial constituía o motor das potências europeias, comprometidas basicamente com o conhecimento
geográfico aprofundado de terras desconhecidas e/ou pouco povoadas e com o conhecimento das potencialidades dos
novos territórios.
=> O conhecimento sistemático da superfície terrestre que começava então a ser elaborado no âmbito da geografia e da
cartografia não estava descolado do desenvolvimento de uma formação colonial que implicava invariavelmente a
apropriação de novas terras.
=> Na perspectiva europeia, a ocupação do solo e a expansão territorial estavam na base do poder.
=> Enquanto se estabelecia como disciplina e conhecimento estratégico na consolidação do nacionalismo europeu, ao
mesmo tempo, a Geografia fornecia o conhecimento necessário não só voltado à expansão do colonialismo africano do
século XIX como à consolidação da ocupação do interior das antigas colônias na América.

2. A Geografia moderna e a questão nacional na Europa:

=> A geografia moderna, como disciplina, tornou-se um saber estratégico na consolidação da questão nacional na
Europa a partir do final do século XIX, alcançando um papel legitimador da afirmação dos estados nacionais nesse
continente, notadamente naqueles países que passaram por um processo tardio de unificação de seu território, em
especial, a Alemanha.
=> O discurso geográfico moderno foi gerado naqueles países, como é o caso da Alemanha, onde esse processo
necessitou de uma forte dose de indução, caminhando junto com a própria consolidação do moderno Estado nacional.
=> O fim do século XIX e o princípio do século XX ofereceram os contextos políticos e intelectuais mais apropriados para
uma reflexão sobre o Estado e o seu poder, visando a uma racionalização da gestão deste poder e da própria
organização política imposta pelo processo de mudança.
=> Os grandes confrontos territoriais a que se assiste entre o fim do século XIX e o século seguinte giram principalmente
em torno dos nacionalismos, convertendo as questões territoriais.
=> Os estudos geográficos que se definiam em torno das relações entre os homens e o ambiente em que viviam.
=> A Geografia se institucionalizou em “escolas nacionais”, em especial, as escolas alemãs e francesas.
=> No último quartel do século XIX e o primeiro do século XX, os grandes temas da geografia humana e da geografia
política, em particular, centram-se em torno do Estado, do povo e do território.
=> Os corpos territoriais do Estado, o território, as fronteiras, as capitais, afirmam-se como objetos de estudo da
geografia política, oferecendo um vasto campo de estudo inaugurado pela obra de Ratzel.
=> A geografia, enquanto disciplina escolar, “naturalizou” as fronteiras políticas entre os países, ajudando a projetar uma
forte imagem simbólica do Estado-nação identificada pelo seu formato e pela descrição das inúmeras características do
território nacional.
=> o discurso geográfico foi, sem dúvida, um elemento central na consolidação do sentimento de pátria e o principal
núcleo divulgador da ideia de identidade pelo espaço.
=> O nacionalismo, como ideologia identitária, constituiu, assim, o fundamento do Estado-nação, que progressivamente
se superpôs ao Estado moderno.
=> O Nacionalismo tornou-se então um recurso simbólico necessário à consolidação do Estado como instituição política
territorializada e legitimada pela sociedade.
=> Durante a Idade Moderna, os europeus inventaram o Estado moderno e a Geografia enquanto disciplina curricular
institucionalizada.
=> Segundo Hobsbawm (1991), a “questão nacional”, como os velhos marxistas a chamavam, está situada na
intersecção da política, da tecnologia e da transformação social. As nações existem não apenas como funções de um
tipo particular de Estado territorial, como também no contexto de um estágio particular de desenvolvimento econômico e
tecnológico. (...) “as nações e seus fenômenos associados, como o nacionalismo e o próprio Estado, devem, portanto,
ser analisados em termos das condições econômicas, administrativas, técnicas, políticas, entre outras”.
=> A Geografia moderna busca a integração entre fenômenos naturais e sociais.
=> Os conceitos centrais da Geografia moderna (meio, paisagem, ambiente, território, região) incorporados a outras
áreas do conhecimento e recontextualizados no discurso geográfico, emprestaram uma concretude, isto é, uma
“naturalização” aos processos sociais.
=> No final do século XIX e início do século XX, o entendimento da nação, conforme realizada pela geografia oficial, foi
construído essencialmente pelo alto, em momentos, historicamente diferenciados, de necessidade de afirmação da
centralidade de um Estado, agora entendido como um Estado territorial, um Estado-nação.
=> O Estado moderno tornou-se progressivamente um espaço político.
=> Para Hobsbawm (1991), a “nação” pertence exclusivamente a um período particular e historicamente recente. Ela é
uma entidade social apenas quando relacionada a uma certa forma de Estado territorial moderno, o “Estado- -nação” e
não faz sentido discutir nação e nacionalidade fora desta relação.
=> A consolidação do Estado-nação como forma de poder político territorialmente centralizado só foi possível pela
submissão e pelo controle do território. Este controle se fez pela imposição da lei, pelo comando centralizado da
burocracia da administração pública e pela uniformização das instituições sociais: língua, moeda pesos e medidas, etc
=> O povo passou a ser o corpo da nação, e, portanto, confundido com ela e submetido à centralidade territorial do
poder político. Além do povo, era necessário, também, possuir um território e uma lei para se constituir um Estado-
nação.
=> Sendo o Estado uma construção política e ideológica que se fez no tempo e no espaço, a centralidade territorial do
seu poder decisório foi fundamental para a tarefa de tomar a si a obrigatoriedade de fornecer educação para todos,
utilizando o aparato institucional a sua disposição para as exaltações simbólicas do nacionalismo. Disciplinas como a
história e a geografia foram estratégicas nesta tarefa.

 O que é Geografia?
 Alguns autores definem a Geografia como o estudo da superfície terrestre.
 Kant defendia a existência de duas classes de ciências: as especulativas, apoiadas na razão, e as
empíricas, apoiadas na observação e nas sensações/experiências.
 Kant dividia as ciências empíricas em duas disciplinas de síntese: a Antropologia, síntese dos
conhecimentos relativos ao homem, e a Geografia, síntese dos conhecimentos sobre a natureza.
 Tradição Kantiana: Geografia como uma ciência sintética (que trabalha com dados de todas as demais
ciências), descritiva (que enumera os fenômenos abarcados) e que visa abranger uma visão de conjunto do planeta.
 Problema: O que é superfície terrestre? Bioesfera ou Crosta Terrestre?
 Outros autores vão definir a Geografia como o estudo da paisagem “o que é real” - “o que é possível ver”.
 Segundo essa corrente, há duas variantes para a apreensão da paisagem:
 A primeira mantém a tônica descritiva, determinada pela enumeração dos elementos presentes e na discussão
das formas – daí ser denominada de morfológica.
 A segunda se ocupa da relação e da dinâmica existene entre os elementos da paisagem, apontando para um
estudo de fisiologia, isto é, do funcionamento da paisagem.
 A perspectiva morfológica está relacionada à estética = Pautada na observação do horizonte abarcado pela
visão do investigador, e desta contemplação adviria a explicação - Muita induição e pouca carga racional
 A perspectiva da fisiologia da paisagem seria um organismo, com funções vitais e com elementos que
interagem
 Objetivo da Geografia = buscar estas inter-relações entre fenômenos de qualidades distintas que coabitam
numa determinada porção do espaço terrestre. Esta perspectiva introduz a Ecologia no domínio geográfico.
 Geografia como estudo da individualidade dos lugares = analisa todos os fenômenos que estão presentes
numa dada área, tendo por meta compreender o caráter singular de cada porção do planeta => descrição exaustiva de
todos os elementos para descobrir um elemento de distinção => Posteriormente chamada “Geografia Regional”
 Objeto de estudo da Geografia Regional = uma unidade espacial, uma região => uma determinada porção do
espaço terrestre (de dimensão variável), passível de ser individualizada, em função de um caráter próprio.
 Geografia como estudo diferenciação das áreas = busca individualizar áreas, para depois compará-las.
 Propõe uma perspectiva generalizadora e explicativa.
 Busca verificar as regularidades da distribuição e das inter-relações dos fenômenos existentes em uma
determinada área.
 Geografia como estudo do espaço = o espaço seria passível de uma abordagem específica, a qual qualificaria
a análise geográfica.
 Problema: O que se entende por espaço?
 Espaço como categoria (tempo, grau, gênero, espaço etc.) de entendimento
 Espaço como um atributo dos seres “nada existiria sem ocupar um determinado espaço”.
 Espaço como um ser específico, com características e com uma dinâmica própria.
 Geografia como o estudo das relações entre o homem e o meio natural => a disciplina busca explicar o
relacionamento entre os dois domínios da realidade
 Trata-se de uma disciplina de contato entre as ciências naturais e as humanas, ou sociais.
 Perspectivas:
 Influência da natureza no desenvolvimento da humanidade => A ação do meio sobre o homem => O homem é
visto como um elemento passivo => cuja história é determinada pelas condições naturais, que o envolvem => os
fenômenos humanos são compreendidos como efeitos das causas naturais
 A segunda perspectiva inverte a primeira e analisa a ação que o homem exerce sobre o meio => Nessa lógica,
o homem se apropria dos recursos oferecidos pela natureza e os transforma, como resultado de sua ação.
 A terceira perspectiva confere o mesmo peso à ação humana sobre o meio natural e à ação do meio sobre o
homem => buscaria compreender o estabelecimento, a manutenção e a ruptura do equilíbrio entre o homem e a
natureza.
 Independente da perspectiva, prevalece a idéia de que a Geografia trabalha unitariamente, com os
fenômenos naturais e humanos.
 Inobstante as inúmeras definições formais do objeto, inexiste um consenso, mesmo no plano formal, a
respeito da matéria tratada pela Geografia.

 O Positivismo como fundamento da Geografia Tradicional

 Para o positivismo, os estudos devem restringir-se aos aspectos visíveis do real, mensuráveis, palpáveis
 “A Geografia é uma ciência empírica, pautada na experiência e observação” – “Evidências”
 A descrição, a enumeração e classificação dos fatos referentes ao espaço são momentos de sua apreensão,
mas a Geografia Tradicional se limitou a eles; como se eles cumprissem toda a tarefa de um trabalho científico.

 Geografia => relação entre homem e natureza
 O homem é mais um elemento da paisagem – perspectiva naturalista
 Por que a Geografia fala muito em população (números) e pouco e sociedade (interações entre seres humanos?)

 “A geografia é uma ciência de síntese”


 Perspectiva anti-sistemática e abrangente
 A Geografia é um resumo de tudo aquilo que interfere na vida da superfície da terra. É a ciência que unifica os
estudos sistemáticos efetuados pelas demais áreas do conhecimento.
 Princípios que definiam as características que tornavam um estudo aceito como sendo objeto da Geografia:
 “princípio da unidade terrestre”: a terra é um todo, que só pode ser compreendido numa visão de conjunto;
 “princípio da individualidade”: cada lugar tem uma feição, que lhe é própria e que não se reproduz de modo igual
em outro lugar;
 “princípio da atividade” – tudo na natureza está em constante dinamismo;
 “princípio da conexão” – todos os elementos da superfície terrestre e todos os lugares se interrelacionam;
 “princípio da comparação” – a diversidade dos lugares só pode ser apreendida pela contraposição das
individualidades;
 “princípio da extensão” – todo fenômeno manifesta-se numa porção variável do planeta;
 “princípio da localização” – a manifestação de todo fenômeno é passível de ser delimitada.
 O estudo geográfico aborda a forma, ou a formação, ou a dinâmica (movimento ou funcionamento), ou a
organização, ou a transformação do espaço geográfico
 Definições do objeto geográfico refletem o temário geral, filtrado à luz de posicionamentos sociais (políticos,
ideológicos e científicos) diferenciados.
 A sociedade é complexa e a Geografia é uma ciência que expressa os conflitos e contradições de uma
sociedade de classes.
 Os métodos de interpretação expressam posicionamentos sociais, ao nível da ciência
 Existem várias Geografias, porque existem vários posicionamentos sociais
 A Geografia é, portanto, uma prática social associada ao espaço terrestre.

 Elementos históricos que favoreceram a sistematização do pensamento geográfico:


1. conhecimento efetivo da real forma e dimensão do planeta (continentes) – ideia de conjunto terrestre
 As grandes navegações e as descobertas que delas resultaram possibilitaram que as pessoas da época
tivessem consciência da existência dos contornos gerais da superfície terrestre. Inobstante, alguns desses contornos
ainda não tivessem sido totalmente conhecidos.
 A ideia que a Europa era o centro do mundo é um elemento destacado no processo de transição do feudalismo
para capitalismo.
 A consolidação do modo de produção capitalista exigia a articulação de suas relações a uma escala planetária, o
que faz expandir sua área de ação das sociedades europeias a todo o globo terrestre
 A ideia de espaço mundial é cunhada, pela primeira vez, no século XIX.
2. Coletânea de informações e dados confiáveis, acumulados e arquivados, sobre variados lugares e sobre a
diversidade da superfície da Terra.
 Coincide com a formação de uma base empírica para comparação em Geografia
 Levantamento das realidades locais – viabilizado através do avanço do mercantilismo e com a formação dos
impérios coloniais.
 A apropriação de um dado território implicava o estabelecimento de uma relação mais estreita com os elementos
ali existentes, logo, num maior conhecimento de sua realidade local
 A exploração produtiva dos territórios coloniais, com o estabelecimento de atividades econômicas, aprofundava
ainda mais o conhecimento de suas características
 O desenvolvimento do comércio colonial incentivou os Estados europeus a promover um inventário dos recursos
naturais, presentes em suas possessões, gerando informações mais sistemáticas, e observações mais cientificas.
 O interesse dos Estados levou ainda à fundação de institutos nas metrópoles, que passaram a agrupar o
material recolhido, como as sociedades geográficas e os escritórios coloniais.
 A Geografia da primeira metade do século XIX foi, fundamentalmente, a elaboração desse material
3. Aparecimento de uma Geografia padronizada:
 Aprimoração das técnicas cartográficas para representar e localizar os territórios “descobertos” de maneira
padronizada e precisa
 A expansão comercial dependia de mapas e cartas de navegação precisas para conseguir calcular as rotas,
saber a orientação das correntes e dos ventos predominantes, e a localização correta dos portos.
 Surgimento de uma economia global que conectou distintas e longínquas partes do globo
 A descoberta das técnicas de “impressão” difundiu e popularizou cartas e mapas.
 Os elementos que viabilizaram a sistematização da Geografia foram concebidos no bojo do processo de avanço
e consolidação do modo de produção capitalista.
 Este conjunto de formulações implicou na valorização dos temas geográficos pelos teóricos da época, a ponto de
legitimarem a criação de uma disciplina específica dedicada a eles.
 Século XVIII – Iluminismo – crença na explicação RACIONAL dos fenômenos que aconteciam no mundo
 A Ordem Feudal pregava uma explicação teológica dos fenômenos que realmente aconteciam no mundo
 Propor a explicação racional do mundo implicava deslegitimar a visão religiosa, logo, a ordem social por ela
legitimada.
 Kant e Leibniz destacam a questão espaço em suas obras
 Immanuel Kant (1724-1804) => o conhecimento é dado pelos sentidos, sendo, portanto, um conhecimento
empírico que advém da percepção de um “sentido interno”, que revela o homem (antropologia pragmática) e um “sentido
externo”, que revela a natureza (geografia física)
 Os economistas políticos discutem questões geográficas ao tratar de temas como a produtividade natural do
solo, a dotação diferenciada dos lugares, em termos de recursos minerais, os problemas da distância, o aumento
populacional, entre outros
 Evolucionismo:
 Darwin e Lamarck – Destacam o papel que as condições ambientais desempenham na evolução das espécies -
a adaptação ao meio seria um dos processos fundamentais.
 Haeckel - desenvolveu a idéia de Ecologia, isto é, do estudo da inter-relação dos elementos que coabitam um
dado espaço.
 A sistematização da Geografia como ciência particular e autônoma no século XIX caracteriza um desdobramento
das transformações operadas na vida social, pela emergência do modo de produção capitalista.
 A Geografia foi um instrumento que viabilizou a consolidação do Capitalismo em alguns países da Europa.
 Durante a transição do Feudalismo para o Capitalismo, a burguesia agia e pensava no sentido de transformar a
ordem social (feudal) existente.
 Quando a Geografia foi enfim sistematizada, a burguesia já tinha se consolidado no controle dos Estados e já
atuava como classe dominante no sentido de manter a ordem social (burguesa) implementada.
 O modo de produção capitalista se espalhou pela Europa, mas NÃO se desenvolveu de maneira homogênea,
assumiu um caráter próprio em cada país que se apresentou.
 1648 – Fim da Guerra dos 30 anos – Paz de Vestfália – marco inicial da consolidação do Estado Moderno.
 A maioria das nações europeias se tornou Estado Moderno a partir de 1648, exceto, Portugal (1385) e Espanha
(1492).
 Outros dois casos fogem à regra, pois somente conseguiram se tornar Estado centralizado na segunda metade
do século XIX: Itália (1860) e Alemanha (1871)
 A Geografia nasceu justamente em um desses Estados retardatários no processo de centralização da autoridade
na figura do monarca, na Alemanha, onde a questão do espaço passou a ser tratado como prioridade na ordem do dia.
 Humboldt e Ritter – “país da Geografia” – são alemães
 O projeto científico que conduziu Humboldt à América espanhola foi por ele definido como uma “empresa
idealizada com o objetivo de contribuir para o progresso das ciências físicas” ao mesmo tempo em que considerava que
a publicação de seu trabalho podia oferecer interesse “para a história dos povos e o conhecimento da Natureza”.
 A Alemanha é o berço dos primeiros institutos e das primeiras cátedras dedicadas à Geografia
 São alemãs as primeiras teorias, as primeiras propostas metodológicas e as primeiras correntes do pensamento
geográfico

 Relação entre o surgimento da Geografia e o modelo de capitalismo implementado na Alemanha:

 Até 1806, a Alemanha se resumia em um conglomerado de feudos (ducados, principados, reinos) remanescente
do antigo “Sacro Império Romano-Germânico”, localizado no centro do Continente Europeu e com potencial para se
tornar um hegemón.
 Em 1806, no contexto das Guerras Napoleônicas, Napoleão Bonaparte invadiu, fragmentou o território do antigo
“Sacro Império Romano-Germânico” em mais de 400 Estados independentes e criou a “Confederação do Reno”.
 Em 1815, no contexto do Congresso de Viena, o território da “Confederação do Reno” foi ampliado e o número
de Estados soberanos reduzido para 40, aproximadamente. A “Confederação do Reno” deu lugar à “Confederação
Germânica”, uma unidade/associação política e econômica dos principais territórios de língua alemã.
 No decorrer do século XIX, a unidade política e econômica implementada em Viena foi se fortalecendo
progressivamente até se consolidar em 1871, quando a unificação nacional foi totalmente concluída e formalizada
através da criação do “2º Reich Alemão”.
 Até 1871, a Alemanha não experimentou o modelo de Regime Absolutista, nem qualquer outro tipo de governo
centralizado
 A estrutura feudal se manteve praticamente intacta até o século XIX e o modo de produção capitalista alcançou
as relações de produção alemã no decorrer da Idade Moderna, mas sem romper com a ordem vigente – origem da
expressão “Feudalismo Modernizado”
 O capitalismo foi implementado através de um processo de modernização pelo alto – modernização
conservadora.
 O processo de modernização foi conduzido pela aristocracia agrária, que promoveu transformações na
economia, mas sem alterar as estruturas de poder existentes, em especial, a estrutura fundiária.
 A terra continuou sob o controle da nobreza pré-capitalista.
 Nobreza Junker – grandes proprietários de terras e militares de elite
 Enquanto vigorava exclusivamente a ordem feudal, o latifúndio possuía uma economia fechada e a produção era
voltada para o autoconsumo.
 A partir da implementação do “Feudalismo Moderno”, o latifúndio foi instrumentalizado para produzir para o
Mercado internacional
 As relações de trabalho não foram objeto da modernização, em especial, a servidão, que se tornou a base da
produção capitalista alemã
 O modelo de Capitalismo que se desenvolveu na Alemanha é absolutamente “sui generis”, pois mesclou
produção para o mercado com trabalho servil
 Produção destinada à exportação = comércio local fraco e a burguesia pulverizada e débil
 Até a década de 1830, o comércio entre as unidades, os principados e os ducados alemães, também era
incipiente, em função das barreiras alfandegárias existentes entre eles.
 A burguesia alemã estava fadada a se desenvolver à sombra de um Estado comandado pela aristocracia
agrária.
 Os rumos da economia alemã começaram a mudar em 1806, devido a imposição do Bloqueio Continental por
Napoleão Bonaparte. Na ocasião, algumas cidades da Alemanha experimentaram um processo incipiente de
industrialização e um aquecimento do mercado interno.
 O aparente desenvolvimento vivenciado no período despertou nas classes dominantes a ideia de unificação
nacional.
 A primeira manifestação concreta de UNIDADE ocorreu em 1815, quando foi criada a Confederação Germânica,
que reunia os principados alemães e os reinos da Prússia e da Áustria, estabelecia laços econômicos e abolia impostos
aduaneiros entre os membros da associação política.

 Elementos que levaram a discussão geográfica para o centro das preocupações das classes dominantes da
Alemanha, no século XIX:
 Confederação Germânica Não representou a criação de um Estado Nacional
 Permanência da extrema diversidade entre os membros da Confederação – Prússia e Áustria disputavam a
hegemonia dentro da Confederação
 As relações entre as unidades confederadas NÃO eram sólidas e duráveis
 Não foi instituído um poder centralizado para organizar o espaço – as autoridades locais ainda estavam no
comando
 Não havia pontos de convergência nas relações econômicas

 O domínio e a organização do ESPAÇO, a apropriação do território, a variação regional, entre outros temas, se
tornou o centro da discussão na pauta da sociedade alemã do século XIX.
 Ao contrário da França, onde a questão central era a organização social, na Alemanha era fundamental discutir a
questão do espaço.
 Os primeiros ensaios sobre a sistematização da Geografia foram realizados por Alexander von Humboldt
(1769/1859) e Carl Ritter (1779/1859), dois teóricos contemporâneos, influenciados pelos efeitos da Revolução
Francesa.
 Para Humboldt, a Geografia era uma espécie de síntese de TODOS os conhecimentos relativos à terra.
 Em termos metodológicos, Humboldt propôs o “empirismo raciocinado”, uma espécie de “intuição que decorre
da observação”
 A proposta de Humboldt é:
 Global
 Não privilegia o homem
 Humboldt defendia que havia uma causalidade/relação entre as conexões/elementos contidas na paisagem
observada.
 Carl Ritter, por sua vez, apresentou uma obra explicitamente metodológica e propôs uma Geografia normativa.
Reforçou a análise empírica (observação e experiência)
 Ritter definiu o conceito de “sistema natural”, isto é, uma área delimitada e dotada de individualidades.
 Para Ritter, a Geografia deveria estudar os fenômenos individuais e compará-los.
 Segundo Ritter, cada fenômeno abarca um conjunto de elementos, que representam uma totalidade, onde o
homem é o principal elemento.
 Ritter estudava lugares e buscava identificar as particularidades de cada lugar
 A Geografia deveria explicar a individualidade dos sistemas naturais pois nessa se expressaria os desígnios de
Deus ao criar aquele lugar específico
 Ritter acreditava que os lugares estavam predestinados conforme a vontade divina
 A proposta de Ritter é:
 Antropocêntrica = O homem é sujeito da natureza
 Regional = analisa características individuais
 Valorização da relação homem e criador
 A formulações de Humboldt e Ritter constituem a base da Geografia Tradicional. Todas as teorias que surgiram
posteriormente remetiam às análises de Humboldt e Ritter, seja para defendê-las ou refutá-las.
 Humboldt e Ritter colaboraram para o surgimento da “Geografia Unitária” => criam uma linha de continuidade do
pensamento geográfico
 Inobstante concorrerem para a institucionalização da Geografia e influenciar todas as escola da Geografia
Tradicional, não conseguiram criar uma escola do pensamento geográfico.
 A eixo da discussão geográfica continuou sendo a Alemanha durante o século XIX.
 O processo de sistematização da Geografia adquiriu novo ânimo, no segundo quarto do século XIX, a partir das
formulações do alemão Friedrich Ratzel (1844/1904).
 As formulações de Humboldt e Ritter foram influenciadas pela experiência vivida no início do século XIX, quando
a ideia de unificação alemã ainda era uma embrião.
 No decorrer do século XIX, essa ideia amadureceu, ganhou adesão da sociedade alemã e se concretizou em
1971, quando o processo de unificação foi concluído e o “Segundo Reich” foi criado.
 Ratzel, portanto, vivenciou a constituição real do Estado nacional alemão e suas primeiras décadas.
 As formulações de Ratzel expressam claramente as preocupações e os anseios da sociedade alemã dessa
época.
 A Geografia de Ratzel foi um instrumento poderoso de legitimação dos desígnios expansionistas do Estado
alemão, recém-criado – “““Manual do Imperialismo”””
 1834 => Criação do “Zollverein” => zona aduaneira => as unidades confederadas podiam comercializar entre si,
livremente, seus produtos industrializados e matérias-primas => simbolizou a unificação econômica => representou a
unificação de pesos e medidas, unificação das moedas, a queda de barreiras alfandegárias, entre as unidades
confederadas que aderiram ao acordo.
 A Áustria foi excluída do “Zollverein”
 1848 => Primavera dos Povos = surgimento de inúmeros movimentos revolucionários nas unidades germânicas
confederadas => surgimento de UM bloco contrarrevolucionário = as classes dominantes que estavam no controle das
diferentes unidades confederadas estreitaram laços políticos e militares, e se UNIRAM para conter os levantes
populares.
 Os movimentos populares também demandavam por “UNIFFICAÇÃO”. As classes dominantes locais, ao
perceberem a adesão das massas ao projeto de unificação, sequestraram a Agenda dos rebeldes e instrumentalizaram
para atingir seus próprios interesses.
 A possibilidade real de unificação acirrou as disputas entre a Prússia (potência emergente) e a Áustria (império
consolidado) pela liderança no processo.
 1866 => Guerra Austro-Prussiana “Guerra das 7 Semanas” => O resultado foi uma vitória acachapante do
Exército prussiano, sob o comando de Bismarck.
 Ao vencer a Áustria, a Prússia garantiu as supremacia do seu modelo de nação, assentada na militarização da
sociedade e do Estado.
 O controle do novo Estado que estava surgindo permaneceu nas mãos da nobreza Juncker.
 Sob estes pilares, em 1871, se ergueu uma monarquia extremamente burocratizada, que estendeu a ação do
Estado sobre todos os domínios da sociedade civil.
 Consolidado o “Segundo Reich”, teve início uma política doméstica altamente repressiva e uma política externa
marcada por um expansionismo agressivo.
 Ao invés da Prússia se fundir à Alemanha, foi a Alemanha que incorporou os princípios e valores que norteavam
a Prússia, através de uma política cultural nacionalista implementada pelo então chanceler alemão Otto Von Bismarck.
 A política nacionalista foi instrumentalizada para justificar o expansionismo alemão e as várias guerras de
conquista empreendidas por Bismarck.
 A Alemanha foi um dos últimos Estados europeus a conseguir se unificar e centralizar o poder, destarte, quando
o processo de unificação foi concluído, o país emergiu como “um elo débil na cadeia imperialista”, pois, inobstante estar
localizado no centro do mundo capitalista e ter se industrializado, não possuía colônias.
 Apesar da Alemanha ter se desenvolvido internamente, o atraso no processo de unificação a deixou de fora da
partilha dos territórios coloniais. A ausência de colônias explica o agressivo projeto imperial da Alemanha e sua fome por
anexar novos territórios.
 A Geografia de Ratzel:
 Propõe uma legitimação do expansionismo Bismarckiano.
 1882 – Ratzel publicou o libro “Antropogeografia – Fundamentos da aplicação da Geografia à História => Essa
obra é considerada o marco inaugural da Geografia Humana => Trata sobre a influência que as condições naturais
exercem sobre a humanidade e sobre a própria constituição social => sobre natureza possibilitar a expansão ou a
estagnação de um povo => sobre a natureza possibilitar o contato entre povos, gerando isolamento e a mestiçagem
 Segundo Ratzel, a natureza não exerce uma influência direta e imediata sobre o homem, a ação da natureza
sobre o homem é mediada por condições econômicas e sociais => A natureza oferece os recursos naturais, mas o
homem precisa saber utilizar esses recursos naturais para conseguir conquistar sua liberdade.
 Progresso = maior e melhor uso dos recursos naturais = relação mais íntima entre homem e natureza
 Para manter a posse sobre o território, é necessário estabelecer um vínculo com a terra, com o solo. Ratzel
explica que a sociedade se organizou e criou o Estado para defender seu território.
 A antropogeografia de Ratzel privilegia a análise do espaço.
 A Geografia de Ratzel destaca o elemento humano associado à história e ao espaço, mas não considera o
homem um agente de transformação
 Território = condições de trabalho = garantia da existência e da sobrevivência da sociedade
 Progresso = expandir e conquistar territórios
 Espaço Vital = equilíbrio entre a população de uma sociedade e os recursos disponíveis para suprir suas
necessidades, definindo, portanto, suas potencialidades para progredir e suas premências territoriais.
 O expansionismo segundo Ratzel é um fenômeno natural e inevitável para uma sociedade progredir.
 Ratzel também legitimou o Estado prussiano onipresente e militarizado, ao afirmar que o Estado exerce o papel
de protetor e está acima da sociedade.
 Importante reter que o objeto central do estudo Ratzeliano é a influência que a condições naturais exercem sobre
a evolução das sociedades.
 Metodologia Ratzeliana => análise empírica “experiência, observação e descrição => inovou ao propor ir além da
“descrição” e “ver o lugar como objeto em si, e como elemento de uma cadeia em escala planetária”.
 Manteve uma perspectiva naturalista da geografia.
 A análise Ratzel é extremamente mecanicista, pois reduz a vida e a natureza a um conjunto de órgãos que
funcionam como uma máquina
 Ratzel considera que os fenômenos humanos operam de maneira idêntica à atuação dos fenômenos naturais.
 Equiparou o homem aos demais elementos da natureza e ignorou os efeitos da ação humana sobre a história e
sobre o espaço.
 Um dos legados de Ratzel é a criação da “Escola Determinista”
 Contudo, os discípulos de Ratzel empobreceram significativamente suas formulações, ao afirmar que: “As
condições naturais determinam a História”. “O homem é produto do meio”. Ratzel considerava que o homem, apesar de
não ser uma agente de transformação, exercia certa influência sobre os fenômenos naturais, pois era parte da natureza.
 Lógica do Determinismo ao contrário => “As condições naturais mais hostis propiciam maior desenvolvimento”
=> As sociedades tiveram que se adaptar às adversidades e desenvolver tecnologias mais avançadas para conseguir
sobreviver às necessidades impostas.
 A tese do “Determinismo ao contrário” explica o subdesenvolvimento brasileiro como fruto da tropicalidade e da
indolência (pouca disposição para o trabalho) do homem tropical e o desenvolvimento norte-americano associado
diretamente ao clima temperado.
 Determinismo = completa naturalização da História humana
 O surgimento da Geopolítica (estudo sobre a dominação dos territórios) também pode ser associado às teorias
Ratzelianas acerca da ação do Estado sobre o Espaço.
 O teóricos da Escola Geopolítica concentram suas análises em formas de defender, manter e conquistar
territórios.
 “Teoria das Áreas Pivôs” = coração de um determinado território => “Quem dominasse o coração, dominaria o
restante do território”
 Um dos objetivos do Hitler quando implementou sua política expansionista da década de 1930, era dominar o
“coração da terra”!
 Outra perspectiva que sobreveio a partir das formulações de Ratzel deu origem à “Escola Ambientalista”.
 Trata-se de uma abordagem recente e os teóricos NÃO consideram que sua origem tem relação direta com a
Antropogeografia.
 Inobstante a Escola Ambientalista não ser considerada um desdobramento das teorias Ratzelianas, é inconteste
que Ratzel foi o primeiro formulador de seus princípios estruturantes.
 A Escola Ambientalista propõe o estudo do homem em relação aos elementos do meio em que ele se insere =>
O conjunto dos elementos naturais é abordado com o ambiente vivenciado pelo homem.
 Trata-se de uma corrente determinista, mas com caráter mais acentuado, sem uma visão fatalista absoluta
 A natureza não é vista como determinação, mas como sustentáculo da vida humana.
 É uma perspectiva naturalista, porém sem a causalidade mecanicista.
 O Ambientalismo se fortaleceu associado à Ecologia (ciência que estuda as relações entre o ambiente e os
seres que nele vivem – “Mesologia”
 O estudo das inter-relações dos organismo, que coabitam determinado meio, já estava presente em Ratzel

 A Geografia de Paul Vidal de La Blache:


 Origem francesa – Surgiu em Oposição às formulações Ratzelianas
 1453 => Queda de Constantinopla (os turco-otomanos tomam Constantinopla e suplantam definitivamente os
Impérios Romano e Bizantino) => Início da Idade Moderna
 Idade Moderna = Transição Feudo-Capitalista
 1649 – Contexto de transição do Feudalismo para o Capitalismo => Fim da “Guerra dos 30 Anos” => Paz de
Vestfália => A França se torna Estado Moderno com território unificado e com poder centralizado na pessoa do monarca
=> Implementação do Regime Absolutista
 Século XVII => Inglaterra e França despontam como potências mundiais
 Século XVIII => Inglaterra e França se consolidam com potências globais
 1789 – Revolução burguesa => Fim da Idade Moderna => A transição do Feudalismo para o Capitalismo foi
finalmente concluída => a burguesia enfim chegou ao poder, instalou seu modelo de governo e instrumentalizou o
Estado em prol dos seus interesses => Inaugura a Idade Contemporânea
 Burguesia francesa = Sólida, com aspirações consolidadas e com uma ação nacional => liderou uma projeto de
transformação radical da ordem social existente.
 Revolução Francesa => Mudança na estrutura agrária da França = extinção dos elementos que caracterizavam a
ordem feudal
 A burguesia agiu como a classe revolucionária, levantou-se contra a ordem social existente, formulou um novo
projeto de nação estruturado em moldes capitalistas, aglutinou e instrumentalizou as massas em torno do seu objetivo
revolucionário.
 O expansionismo de Napoleão simboliza a consolidação do modo de produção capitalista na França.
 Pensamento burguês => propostas progressistas e tradição liberal na França
 Para conseguir fazer a revolução e implementar o Capitalismo, a burguesia incorporou as camadas populares ao
processo político e instrumentalizou o movimento para atingir seus objetivos - “política de massas”.
 1789 – 1848 => Era das Revoluções => período de consolidação da burguesia no poder e do modo capitalista
como novo modelo de organização social na França
 Nesse contexto surge do proletariado
 Durante a Era das Revoluções, a burguesia e o proletariado se mantiveram unidos para evitar o retorno do
antigo regime.
 À medida que se consolidou no poder e se tornou a classe dominante, a burguesia rompeu com as classes
populares e se aliou às camadas mais conservadoras da sociedade para conseguir manter o poder do aparelho do
Estado => Os ideais e as propostas liberais e progressistas forjadas na fase revolucionária, caem por terra, frente aos
imperativos autoritários demandados pela manutenção do “status quo”.
 A retórica da Liberdade foi mantida => Forjou-se uma ideologia de defesa das liberdades formais submetida à
ordem
 No século XIX, a Democracia estava associada à ideologia Jacobina, anti-liberal, os Democratas do século XIX
eram autoritários e favoráveis a governos autoritários, desde que populares e defensores do voto universal.
 Os levante populares passaram a sofrer com a violenta repressão perpetrada pelo Estado, instrumentalizado
pela burguesia.
 No decorrer do processo de consolidação da ordem burguesa, o proletariado se conscientizou que seus
interesses eram totalmente antagônicos aos interesses burgueses, portanto, passou a se organizar de maneira mais
sistemática e difundir ideologias proletárias, anti-burguesas e antiliberais, através de movimentos sociais genuinamente
proletários e, não mais, fruto de uma aliança de classes.
 Acirramento da luta de classes
 França = berço do Socialismo militante => primeiro lugar onde o caráter classista da democracia burguesa se
manifestou
 1848 => Primavera dos Povos => Manifesto Comunista => “Internacionalismo Proletário”
 A ideologia proletária ameaçava frontalmente os interesses da burguesia europeia
 Os governos burgueses utilizaram o Nacionalismo como antídoto para combater o internacionalismo.
 O Nacionalismo foi instrumentalizado para legitimar autoritárias doutrinas de ordem.
 A repressão foi mobilizada novamente => A burguesia e as camadas mais conservadoras da sociedade se
uniram novamente para impedir que os revolucionários destruíssem a ordem burguesa e implementassem a ordem
proletária na França.
 A repressão foi instrumentalizada e legitimada com base na ideia de manutenção da ordem
 Durante boa parte do século XIX, o equilíbrio de poder instituído em Viena manteve uma paz relativa e evitou
que uma das potências europeias (Inglaterra, França, Áustria, Prússia e Rússia) conseguisse estabelecer sua
hegemonia em relação às demais.
 No caso da Alemanha e da França, havia um choque de interesses nacionais, uma disputa entre Imperialismos,
entre dois modelos de Capitalismos distintos.
 Em meado do século XIX, surgiram três estadistas que passaram a desafiar o condomínio de poder criado pela
Ordem de Viena, pautado no sistema de Concertação e NÃO na utilização da força: Napoleão III, na França; Cavour, na
Itália; Otto Von Bismarck, na Prússia.
 As disputas pela hegemonia e pelo controle continental da Europa se intensificaram, principalmente, entre
França e Prússia.
 O auge da disputa foi a Guerra Franco-Prussiana, na qual a Prússia sagrou-se vencedora, após uma derrota
acachapante do Napoleão III.
 Em 1871, portanto, a Alemanha unificada despontou como uma potência emergente, extremamente poderosa,
localizada no centro da Europa, com capacidade para se tornar um hegemón no Continente Europeu.
 1871 => Comuna de Paris => Primeiro governo popular da História da humanidade => Marx chamou de “Assalto
aos Céus” => O movimento foi reprimido pelas classes dominantes francesas “ASSOCIADAS” aos prussianos.
 Após as unificações da Alemanha (e da Itália), as bases territoriais e geopolíticas da Europa foram
completamente alteradas.
 A França perdeu os territórios da Alsácia e Lorena, extremamente vitais à sua industrialização => reservas de
carvão.
 O Império de Napoleão III caiu e nos “escombros” da Comuna de Paris, nasceu a Terceira República Francesa,
com o beneplácito do Imperador alemão.
 É nesse contexto de efervescência social do século XIX, que a Geografia começou a ser sistematizada e
institucionalizada na França => a disciplina passou a fazer parte do currículo de todas as séries de ensino básico =>
houve a criação de cátedras e institutos para estudo da Geografia
 O desenvolvimento da Geografia passou a ser uma política Estado => Os franceses concluíram que a
supremacia prussiana na guerra estava diretamente associada ao seus estudos e seus conhecimentos sobre o espaço.
 A partir dessa lógica, os franceses também decidiram pensar o Espaço e desenvolver um pensamento
geográfico que deslegitimasse a Geografia alemã e, ao mesmo tempo, reconhecesse os princípios expansionistas
franceses.
 Objetivo francês => combater a Geografia de Ratzel que legitimava as ações expansionistas do Estado alemão.
 Principal teórico => Paul Vidal de La Blache => fundador da Escola Francesa de Geografia => deslocou para a
França o eixo do debate geográfico, até então sediado na Alemanha
 A Geografia de Paul Vidal de La Blache, assim como a de Ratzel, expressa a real conjuntura social da época
=> a Terceira República, o antagonismo com a Alemanha e a particularidade do desenvolvimento histórico da França.
 Importante reter que, o pensamento geográfico desenvolvido, sistematizado e institucionalizado tanto na
Alemanha, quanto na França, reflete o modelo de capitalismo implementado e o interesse das classes dominantes de
cada país.
 O pensamento de Ratzel é o espelho do autoritarismo que permeava a sociedade alemã e privilegiava o Estado
como agente social mais importante
 O pensamento Paul Vidal de La Blache, por sua vez, estava associado ao ideário da Revolução Francesa,
manifestava um tom mais liberal e sua análise partiu do homem abstrato do Liberalismo.
 Paul Vidal de La Blache critica veemente a Antropogeografia de Ratzel
 Condenou a vinculação entre o pensamento geográfico e a defesa de interesses políticos imediatos => Reiterou
a necessidade da neutralidade do discurso científico => Atacou diretamente as formulações de Ratzel que legitimavam a
doutrina expansionista alemã (a Geografia de La blache dissimulava a legitimação ideológica dos interesses franceses –
Os interesses políticos eram mascarados – a atuação do imperialismo se legitimava de forma mais sútil)
 Paul Vidal de La Blache propôs um pensamento geográfico despolitizado – “Mito da Ciência Asséptica”
 A dissimulação do conteúdo político é resultado do recuo da burguesia após se consolidar do poder => o
potencial revolucionário decorrente do avanço das ciências dos homens era um dos maiores temores da burguesia.
 Paul Vidal de La Blache => dissociação do saber => estratégia para descomprometer o saber com a prática
social e dissimular seu caráter ideológico
 A “teoria do espaço vital”, assim como a Geopolítica, também foram objetos das críticas proferidas por Paul Vidal
de La Blache
 Inobstante criticar a Geopolítica, Paul Vidal de La Blache criou uma especialização denominada “Geografia
Colonial”
 Paul Vidal de La Blache propôs que o homem atua como agente criativo, ou seja, a ação humana não é apenas
uma resposta às imposição do meio.
 Apesar de destacar o papel que a ação humana exerce sobre a paisagem, Paul Vidal de La Blache não rompeu
totalmente com o naturalismo, pois reiterou que a “Geografia é uma ciência dos lugares e não dos homens”. Nesse
sentido, sua análise buscar compreender o resultado da ação humana sobre a paisagem e não esta em si mesma.
 Ao destacar o impacto da ação humana sobre o meio natural, Paul Vidal de La Blache questiona a concepção
Ratzeliana, fatalista e mecanicista da relação entre homem e natureza => ataca frontalmente a ideia de que o curso da
História é determinado pelas condições naturais.
 Paul Vidal de La Blache adotou uma postura relativista, afirmou que “tudo que se refere ao homem é mediado
pela contingência/incerteza/possibilidade”, em contraposição ao Determinismo.
 A Geografia Francesa proposta por Paul Vidal de La Blache é resultado do diálogo crítico com sua congênere
alemã.
 Objeto da Geografia proposta por Paul Vidal de La Blache => a relação homem-natureza, na perspectiva do
impacto da ação humana sobre a paisagem
 O homem é um agente de transformação ATIVO, INFLUENCIADO pelo meio
 As necessidades do homem são condicionadas pelas natureza => Cabe ao homem buscar satisfazer suas
necessidades utilizando os recursos/matérias-primas e as condições oferecidas pelo meio
 Há um processo de troca mútua entre homem e natureza => O homem transforma a matéria natural e cria novas
formas e contornos na superfície terrestre (paisagem) => “Obra Geográfica do homem
 A natureza é um “mundo de possibilidades”!
 Paul Vidal de La Blache propôs a teoria do “Gêneros de Vida” => A área de incidência de cada “gênero de vida”
é o que denominamos por região geográfica => Cada região geográfica possuí características próprias e um grupo
humano “autóctone” (técnicas, usos, costumes e hábitos únicos) => Cada grupo humano se adapta às condições
ambientais de uma determinada região geográfica e estabelece com seu meio uma relação única, particular, que não é
regida por regras universais ou por uma capacidade explicativa generalista.
 A diversidade do meio, em tese, explica a diversidade dos gêneros de vida.
 Fatores que podem resultar em mudança no gênero de vida:
 possibilidade de exaurimento dos recursos existentes = possibilidade daquela sociedade migrar, ou buscar um
aprimoramento tecnológico, quando a possibilidade de migração estivesse restrita por barreiras naturais
 possibilidade de crescimento populacional = esse fenômeno poderia impulsionar a sociedade à busca de novas
técnicas, ou levá-la a dividir a comunidade existente e a criar um novo núcleo
 possibilidade de contato com outros gêneros de vida => os contatos gerariam arranjos mais ricos, pela
incorporação de novos hábitos e novas técnicas = “progresso humano”
 Ponto de convergência entre cidades = “Oficinas de Civilização”
 A difusão dos gêneros de vida pelo Globo, resultaria em um processo de enriquecimento mútuo, que levaria
inexoravelmente ao fim dos localismos
 área abrangida por um gênero de vida comum, englobando várias comunidades = “domínios de civilização”
 Critica o expansionismo alemão na Europa => As fronteiras europeias definiriam domínios de civilização,
solidamente firmados por séculos de história – As fronteiras europeias deveriam ser respeitadas
 Defende a expansão colonial na África e na Ásia => Em tese, os continentes asiático e africano abrigavam
sociedades estagnadas, imersas no localismo, “comunidades vegetando lado a lado”, sem perspectivas de
desenvolvimento. O contato com outros gêneros de vida seria necessário, para romper este equilíbrio primitivo.
 O progresso é fruto do contato entre gêneros de vida
 La Blache propõe a missão civilizadora do homem europeu e legitima a ação colonialista francesa
 Ratzel e La Blache embasavam suas convicções no Positivismo de Augusto Comte e, vinculado a este,
aceitação de uma metodologia de pesquisa oriunda das ciências naturais.
 Inobstante Vidal de La Blache ter destacado o propósito humano da Geografia, ele mantém uma perspectiva
numérica do homem, fala da população, de agrupamento, e nunca de sociedade; fala de estabelecimentos humanos,
não de relações sociais; fala das técnicas e dos instrumentos de trabalho, porém não de processo de produção.
 Abordagem naturalista => discução se resume na relação homem-natureza. Não aborda a relação entre homens.
 Desdobramentos da proposta Lablachiana:
*Criou a Doutrina do Possibilismo;
* Fundou a Escola Francesa de Geografia;
* Deslocou para a França o eixo da discussão geográfica
* Influenciou vários discípulos, que incorporaram formulações próprias sobre a Geografia, porém mantiveram o
fundamental de colocações vidalinas.
 Ao nível da Geografia Francesa, o autor que realmente avançou suas formulações, gerando uma proposta mais
elaborada foi Max Sorre (1940): A Geografia deve estudar as formas pelas quais os homens organizam seu meio,
entendendo o espaço como “a morada do homem”.
 Segundo Sorre, o habitat é uma construção humana, uma humanização do meio, que expressa as múltiplas
relações entre o homem e o ambiente que o envolve.
 Geografia de Sorre = Ecologia do homem = A ação do homem transforma as condições do meio original
 Sorre propõe a ideia de uma sobreposição de dados da observação, num mesmo espaço, analisando
historicamente a formação de cada elemento, desde os naturais (solo, vegetação etc) até os sociais (hábitos
alimentares, religião etc).
 A ideia de espaço geográfico de Sorre é a de espaços sobrepostos (o físico, o econômico, o social, o cultural etc)
em inter-relação.
 M. Le Lannou e A. Cholley publicaram suas concepções já na década de cinquenta.
 Lê Lannou concebeu a Geografia como eminentemente regional, definindo-lhe o objeto como “o homem
habitante”.
 Considerou em sua análise a ocupação e exploração do solo como a fundamental, e o estudo dos sistemas de
trabalho e das instalações humanas, como importante.
 O autor privilegiou a organização social, criticando o naturalismo.
 Inobstante reforçar o caráter humano do estudo geográfico, o autor vai concebeu como um “estudo dos
agrupamentos e dos estabelecimentos humanos no planeta”.
 Geografia de A. Cholley = “combinações” existentes na superfície do planeta
 “fatos geográficos” = relações entre elementos => “equilíbrio”.
 Geografia de Cholley = “ciência de complexos” => tentiva de restaurar a unidade entre a Geografia Física e
Humana.
 A seqüência Vidal de La Blache Sorre – Le Lannou e Cholley mostrou uma continuidade de fundamentos e
concepções na Geografia da França.
 Foco na Geografia Regional
 A Geografia de Hettner e Hartshorne:
 Geografia racionalista
 Influência do neokantismo de Rickert e Windelband
 Alfred Hettner - alemão - 1890-1910 => Propõe uma terceira via para a análise geográfica (além do determinismo
e do possibilismo)
 Geografia = ciência que que estuda “a diferenciação de áreas”, isto é, a que visa explicar “por quê” e “em que”
diferem as proporções da superfície terrestre
 O caráter singular das diferentes parcelas do espaço é resultado da particular forma de inter-relação dos
fenômenos existentes.
 Geografia = estudo dessas formas de inter-relação dos elementos, no espaço terrestre
 Richard Hartshorne - norte-americano - introduziu, desenvolveu, aprimorou e difundiu o pensamento de Hettner
no momento que os Estados Unidos afirmavam sua supremacia cultural no Ocidente no pós-Primeira Guerra.
 Década de 1930 - surge duas grandes escolas de Geografia nos Estados Unidos:
* Uma, na Califórnia, aproximou-se bastante da Antropologia, elaborando a Geografia Cultural - Carl Sauer - “paisagens
culturais” - análise das formas que a cultura de um povo cria, na organização de seu meio
* A outra, batizada de escola do Meio-Oeste, aproximouse da Sociologia funcionalista e da Economia, propondo estudos
como o da organização interna das cidades, o da formação da rede de tranportes etc.
 Abordagem de Hartshorne => mais ampla e explicitamente metodológica
 1939 => publicou “A Natureza da Geografia”
 1959 => publicou “Questões sobre a Natureza da Geografia”
 Geografia = individualidade e autoridade decorrentes de uma forma própria de analisar a realidade
 Geografia = estudo das inter-relações entre fenômenos heterogêneos, apresentando-as numa visão sintética
 Geografia = estudo das variações das áreas
 Conceitos básicos formulados por Hartshorne = “área” e “integração”, ambos referidos ao método
 área = parcela da superfície terrestre => Poder ser construída idealmente pelo pesquisador, no processo de
investigação, a partir da observação dos dados escolhidos.
 A região e o território eram vistos como realidades objetivas exteriores ao observador
 Área = múltiplos processos integrados - fonte inesgotável de inter-relações.
 A análise deveria buscar a integração do maior número possível de fenômenos inter-relacionados
 Hartshorne => Geografia Nomotética => O pesquisador analisa os mesmos pontos e faz as mesmas inter-
relações em diferentes lugares.
 As comparações das integrações obtidas permitiriam chegar a um “padrão de variação” dos pontos analisados
 Quanto maior a simplicidade de fenômenos e relações tratados, maior possibilidade de generalização. Quanto
mais profunda a análise efetuada, maior conhecimento da singularidade local.
 Geografia Tradicional:
* Deixou uma ciência elaborada, um corpo de conhecimentos sistematizados, com relativa unidade interna e indiscutível
continuidade nas discussões. Deixou fundamentos, que mesmo criticáveis, delimitaram um campo geral de
investigações, articulando uma disciplina autônoma. Nesse processo, elaborou um temário válido, independente das
teorias que desenvolveu; esse temário restou como a grande herança do pensamento geográfico tradicional. Assim, seu
grande feito foi a identificação de problemas, o levantamento de questões válidas, às quais deu respostas insatisfatórias
ou equivocadas.
*elaborou um rico acervo empírico, fruto de um trabalho exaustivo de levantamento de realidades locais. Mesmo que por
vias metodológicas também criticáveis, o valor das informações acumuladas não pode ser minimizado. Constituem um
substantivo material para pesquisas posteriores, pois apresentam dados minuciosos sobre situações sin gulares. Neste
sentido, a tônica descritiva foi benéfica, pois forneceu informações fidedignas. O próprio desenvolvimento das técnicas
de descrição e representação foi também um saldo favorável da Geografia Tradicional
*alguns conceitos (como território, ambiente, região, habitat, área etc.) que merecem ser rediscutidos. Sua crítica
permitirá um avanço, no trato das questões a que se referem.
 A Crise da Geografia Tradicional e o Movimento de Renovação da Geografia iniciou em 1950 e se intensificou
nos anos seguintes. Em 1970, a Geografia Tradicional foi definitivamente suplantada.
 Surgiram novas propostas metodológicas, que implicaram na perda da unidade contida na Geografia Tradicional
 A crise foi motivada por mudanças nas bases sociais que estavam no cerne dos fundamentos e das formulações
da Geografia Tradicional, por exemplo:
* O capitalismo monopolista/financeiro havia suplantado o capitalismo industrial e concorrencial
*Revolução científica inserida tanto no Capitalismo Concorrencial, quanto no Capitalismo Fiananceiro
*Queda do liberalismo (pós-Crise de 1929)
*Intervenção do Estado na economia (também é efeito da Crise de 1929)
*As teses da livre iniciativa, da ordem natural e auto-regulada do mercado haviam caído por terra
* O Estado passou ser a figura central na ordenação e regulação da vida econômica
* O planejamento econômico estava estabelecido como uma arma de intervenção do Estado => o planejamento
territorial, passou a ser a proposta de ação deliberada na organização do espaço
* A realidade do planejamento colocava uma nova função para as ciências humanas: a necessidade de gerar um
instrumental de intervenção, enfim uma feição mais tecnológica.

 O desenvolvimento do Capitalismo havia tornado a realidade mais complexa:


*urbanização acelerada
*Surgimento de megalópoles
*modificação do quadro agrário em decorrência dos processoe de industrialização e de mecanização da atividade
agrícola.
*expansão do capital
* comunidades locais desapareciam progressivamente, articulando-se a intrincadas redes de relações, próprias da
economia mundializada da atualidade => O lugar já não se explicava em si mesmo
*O espaço terrestre se globalizara nos fluxos e nas relações econômicas => A realidade local era apenas elo
de uma cadeia, que articulava todo o planeta.
 Os instrumentos de pesquisa da Geografia Tradicional já não não davam conta nem da descrição e
representação dos fenômenos da superfície terrestre.
 A Geografia Tradicional estava limitada a explicar situações simples, quadros locais fechados e NÃO conseguia
responder a complexidade da organização atual do espaço.
 O movimento de renovação propôs novas técnicas de análise geográfica (sensoriamento remoto, as imagens de
satélite, o computador)
 A própria complexização da realidade e dos instrumentos de pesquisa havia envelhecido as formulações do
positivismo clássico.
 A indefinição do objeto de análise e a questão da generalização são os maiores pontos de crítica da Geografia
Tradicional
 A falta de leis, ou de outra forma de generalização, foi uma das maiores razões da crise da Geografia Tradicional
 A “revolução” teórico-quantitativa que balizou grande parte da produção da geografia brasileira nos anos 70, na
busca de embasamentos teóricos e operacionais sólidos e de uma linguagem universal de comunicação e entendimento
com outros campos do saber pode ser caracterizada pela adoção de técnicas quantitativas e modelos conceituais
matemático-estatísticos.
 O movimento de renovação da Geografia se dividiu em duas vertentes: Geografia Crítica e Geografia Pragmática
 Geografia Pragmática: “Quantitativa”
 Efetua uma crítica apenas à insuficiência da análise tradicional. Não vai aos seus fundamentos e à sua base
social. Ataca, principalmente, o caráter não-prático da Geografia Tradicional
 Voltada à prospecção e para o futuro
 Adota métodos hipotético-dedutivos, apoiados em modelos matemático-estatísticos

 Propõe uma renovação metodológica “conservadora”
 Não rompe com o conteúdo de classe => o pensamento geográfico pragmático e o tradicional possuem uma
continuidade, dada por seu conteúdo de classe – instrumentos práticos e ideológicos da burguesia.
 É uma mudança de forma, sem alteração do conteúdo social. Uma atualização técnica e lingüística. Passa-se,
de um conhecimento que levanta informações e legitima a expansão das relações capitalistas, para um saber que
orienta esta expansão, fornecendo-lhe opções e orientando as estratégias de alocação do capital no espaço terrestre.
 Baseada no neopositivismo lógico
 Estuda o espaço geográfico de maneira abstrata
 Compreende o homem como mais uma variável a ser levada em conta, ou seja, destituído de qualquer
expressão social ou histórica, sendo encarado como um elemento genérico dentro de um vasto universo de variáveis
espaciais.
 o espaço não é concebido como algo produzido historicamente pela sociedade.
 Para os autores filiados a esta corrente, o temário geográfico poderia ser explicado, totalmente com o uso de
métodos matemáticos.
 As relações e inter-relações de fenômenos de elementos, as variações locais da paisagem, a ação da natureza
sobre os homens, entre outras questões, poderiam ser expressas em termos numéricos e estatísticos.
 Os dados da realidade enfocada, assim como introduzir variáveis próprias do lugar estudado. A articulação entre
estes dados constantes e variáveis fornecerá, por uma elaboração no computador, os resultados em termos de padrões
e tendências
 Uso de instrumentos quantitativos, sistêmicos e modelísticos
 Os avanços da estatística e da computação propiciam uma explicação geográfica através de resultados
numéricos.
 Geografia Tradicional = indução “indícios” X Geografia Pragmática = dedução
 Principais vias da Geografia Pragmática:
*Quantitativa permite a elaboração de “diagnósticos” sobre um determinado espaço, apresentando uma descrição
numérica exaustiva sobre as suas características, e ainda as tendências da evolução dos fenômenos ali existentes.
*O modelo já informa, de modo mais direto, o ato da escolha, dirige a opção, orienta a estratégia adotada.
*A relação entre as premissas e as variáveis do modelo é, em si mesma, a produção da resposta buscada, a solução do
problema sob o qual se visa atuar.
* A escolha do modelo manifesta posições anteriores do pesquisador, e também diz respeito ao
problema tratado.
* A idéia de sistema está presente, pois a ação do planejamento se efetiva fundamentalmente pela criação ou
reordenação de “fluxos”, pela organização de “partes”, visando o equilíbrio do “todo”, enfim, pela busca da funcionalidade
do sistema.
*Teorias, como a da difusão de informações, orientam estratégias de intervenção específicas, por exemplo, a
antecipação dos efeitos e da viabilidade de uma dada medida a ser adotada num plano.
* A Geografia da Percepção informa como implementar o plano formulado, principalmente no que tange à reação do
elemento humano, frente às alterações prescritas.
 A Geografia Pragmática desenvolve uma tecnologia de intervenção na realidade. Esta é uma
arma de dominação, para os detentores do Estado
 A Geografia Pragmática é um acervo de técnicas, que se transforma em ideologia, ao tentar dissimular seu
componente e sua eficácia política, ao se propor como processo neutro e puramente objetivo.
 A posição política do planejador manifesta-se na escolha dos modelos, pois estes já indicam o caminho a ser
seguido.
 O “tecnicismo” é uma versão moderna da ideologia da neutralidade científica, já discutida ao tratar-se da
proposta vidalina.
 O planejamento serve para manter a realidade existente, atuando no sentido de neutralizar os conflitos e facilitar
a ação do Estado.
 A Geografia Pragmática é um instrumento da dominação burguesa. Um aparato do Estado capitalista. Seus
fundamentos, enquanto um saber de classe, estão indissoluvelmente ligados ao desenvolvimento do capitalismo
monopolista. Assim, são interesses claros os que ela defende: a maximização dos lucros, a ampliação da acumulação de
capital, enfim, a manutenção da exploração do trabalho.
 Nesse sentido, mascara as contradições sociais, legitima a ação do capital sobre o espaço terrestre.
 É uma arma prática de intervenção, mas também uma arma ideológica, no sentido de tentar fazer passar como
“medidas técnicas” (logo, neutras e cientificamente recomendadas” a ação do Estado na defesa de interesses de classe.
Fora da órbita estatal, o planejamento é diretamente um elemento da gerência das empresas capitalistas.
 Assim, o conteúdo de classe da Geografia Pragmática é inquestionável. É, inclusive, este compromisso que dá
unidade às suas várias propostas: uma unidade política.
 O fato de manter a base social do pensamento geográfico tradicional faz dela a via conservadora do movimento
de renovação dessa disciplina.
 O utilitarismo será o móvel comum de suas formulações.
 A crítica da Geografia Pragmática alimenta o embate ideológico atual, ao nível dessa disciplina. Esta é
empreendida por aquela vertente do movimento de renovação, que se denomina Geografia Crítica. A polêmica, entre as
duas vertentes, reflete o antagonismo político existente na sociedade burguesa; manifesta a contradição de classe, na
discussão de um campo específico do conhecimento.
 É assim um debate político, ao nível da ciência; uma luta ideológica, expressão da luta de classe, no plano do
pensamento. Cabe analisar o teor das críticas levantadas à perspectiva pragmática. Um questionamento levantado ao
conjunto de propostas, que constituem a Geografia Pragmática, incide no empobrecimento que ela introduz na reflexão
geográfica.
 A Geografia Tradicional, em função da prática da observação direta (da pesquisa de campo), concebia o espaço
em sua riqueza (em sua complexidade). A Geografia Pragmática, ao romper com estes procedimentos, simplifica
arbitrariamente o universo da análise geográfica, torna-o mais abstrato, mais distante do realmente existente. Seus
autores empobrecem a Geografia, ao conceber as múltiplas relações entre os elementos da paisagem, com relações
matemáticas, meramente quantitativas. Empobrecem a Geografia, ao conceber a superfície da Terra (para o pensamento
tradicional a “morada do homem” ou o “teatro da História”), como um espaço abstrato de fluxos, ou uma superfície
isotrópica, sob a qual se inclina o planejador, e assim a desistoricizam e a desumanizam. Empobrecem a Geografia ao
conceber a região (no pensamento tradicional o “fruto de um processo histórico”) como a região-plano, a área de
intervenção, cuja dinâmica é dada pela ação do planejador. Há, assim, um empobrecimento, advindo de um anti-
historicismo, comum a todas as propostas da Geografia Tradicional. E, vinculado a este, um triunfo do formalismo, das
teorizações genéricas e vazias, muito mais distantes da realidade do que aquelas teorias tradicionais.
 Desta forma, a concepção do espaço da Geografia Tradicional era mais rica, possuía maior grau de concretude,
maior correspondência ao real. É esse o sentido do empobrecimento aludido, que vem acompanhado de uma
sofisticação técnica e lingüística. Apresenta-se um discurso, na essência mais pobre, com uma linguagem mais rica e
mais elaborada. Porém a sofisticação instrumental veicula um conteúdo mais simplista. Este é o teor das críticas, ao
nível teórico, às propostas pragmáticas.
 Outras poderiam ser levantadas, como a do fracionamento do objeto, em que esta proposta incorre.
 A progressiva especialização dos estudos, dada pela finalidade utilitária e pelas exigências do trabalho aplicado,
leva à perda total de qualquer perspectiva, quanto à unidade do universo da análise geográfica. Entretanto, esta questão
é englobada pela anterior, sendo mais uma manifestação do empobrecimento contido na Geografia Pragmática.
 Em suma, esta é uma das vertentes do movimento de renovação, do pensamento geográfico. Aquela que engaja
a produção dessa disciplina no projeto da manutenção da realidade existente, sendo assim a vertente
conservadora. O saldo da Geografia Pragmática é um desenvolvimento técnico, minimizado frente ao
empobrecimento real da análise por ela empreendida. As várias correntes da Geografia Pragmática representam
uma das opções postas para quem faz Geografia na atualidade. Sua aceitação decorrerá do posicionamento
social do geógrafo, sendo assim um ato político, uma opção de classe.

 Geografia Crítica:

 Postura crítica radical, frente à Geografia existente (seja a Tradicional ou a Pragmática), a qual será levada ao
nível de ruptura com o pensamento anterior.
 A crítica é direcionada, principalmente, a uma postura frente à realidade, frente à ordem constituída.
 Os autores que se posicionam por uma transformação da realidade social, pensando o seu saber como uma
arma desse processo.
 Assumem o conteúdo político de conhecimento científico, propondo uma Geografia militante, que lute por uma
sociedade mais justa.
 Pensam a análise geográfica como um instrumento de libertação do homem.
 Os autores da Geografia Crítica vão fazer uma avaliação profunda das razões da crise: são os que acham
fundamental evidenciá-la.
 Vão além de um questionamento acadêmico do pensamento tradicional, buscando as suas raízes sociais.
 Ao nível acadêmico, criticam o empirismo exacerbado da Geografia Tradicional (que se orienta pela experiência,
com desprezo por qualquer metodologia científica), que manteve suas análises presas ao mundo das
aparências, e todas as outras decorrências da fundamentação positivista (a busca de um objeto autonomizado, a
idéia absoluta de lei, a não-diferenciação das qualidades distintas dos fenômenos humanos etc.).
 Entretanto, vão além, criticando a estrutura acadêmica, que possibilitou a repetição dos equívocos: o
“mandarinato”, o apego às velhas teorias, o cerceamento da criatividade dos pesquisadores, o isolamento dos
geógrafos, a má formação filosófica etc. E, mais ainda, a despolitização ideológica do discurso geográfico, que
afastava do âmbito dessa disciplina a discussão das questões sociais.
 Assim, ao nível da crítica de conteúdo interno da Geografia, não deixam pedra sobre pedra.
 A vanguarda desse processo crítico renovador vai ainda mais além, apontando o conteúdo de classe da
Geografia Tradicional. Seus autores mostram as vinculações entre as teorias geográficas e o imperialismo, a
idéia de progresso veiculando sempre uma apologia da expansão. Mostram o trabalho dos geógrafos, como
articulado às razões do Estado. Desmistificam a pseudo- “objetividade” desse processo, especificando como o
discurso geográfico escamoteou as contradições sociais. Atingem assim seu caráter ideológico, que via a
organização do espaço como harmônica; via a relação homem-natureza, numa ótica que acobertava as relações
entre os homens; via a população de um dado território, como um todo homogêneo, sem atentar para a sua
divisão em classes.
 Enfim, os geógrafos críticos apontaram a relação entre a Geografia e a superestrutura da dominação de classe,
na sociedade capitalista. Desvendaram as máscaras sociais aí contidas, pondo à luz os compromissos sociais
do discurso geográfico, seu caráter classista. As razões da crise foram buscadas fora da Geografia.
 O autor que formulou a crítica mais radical da Geografia Tradicional foi, sem dúvida, Yves Lacoste, em seu livro
A Geografia serve, antes de mais nada, para fazer a guerra. Lacoste argumenta que o saber geográfico
manifesta-se em dois planos: a “Geografia dos Estados-Maiores”e a “Geografia dos Professores”. Para ele, a
primeira sempre existiu ligada à própria prática do poder.
 Todo conquistador (Alexandre, César ou Napoleão) sempre teve um projeto com relação ao espaço, também os
Estados e, mais modernamente, a direção das grandes empresas monopolistas.
 Essa Geografia seria feita, na prática, ao se estabelecer estratégias de ação no domínio da superfície terrestre,
acontecendo, entretanto, que dificilmente esta teorização é explicitada. Porém, sempre existe vinculada à gestão
do poder.
 A “Geografia dos Professores” seria a que foi aqui denominada de tradicional. Esta, para Lacoste, tem uma dupla
função: Em primeiro lugar, mascarar a existência da “Geografia dos Estados-Maiores”, apresentando o
conhecimento geográfico como um saber inútil; assim, mascarar o valor estratégico de saber pensar o espaço,
tornando-o desinteressante, para a maioria das pessoas. Em segundo lugar, a “Geografia dos Professores”
serve para levantar, de uma forma camuflada, dados para a “Geografia dos Estados-Maiores”, e, assim, fornecer
informações precisas, sobre os variados lugares da Terra, sem gerar suspeita, pois tratar-se-ia de um
conhecimento eminentemente apolítico, e, ainda mais, inútil. Lacoste mostra esta relação entre os dois planos,
discutindo o uso, pelo Departamento de Estado dos E.U.A., das “ingênuas” teses francesas, nos bombardeios do
Vietnã.
 Vê-se que a crítica de Lacoste é bastante incisiva, colocando a Geografia como instrumento de dominação da
burguesia, dotado de alto potencial prático e ideológico, assim pondo a descoberto o seu caráter de classe.
Desta forma, o questionamento das teses tradicionais, efetuado pela Geografia Crítica, é muito mais profundo.
Incide nos compromissos sociais e nos posicionamentos políticos em jogo, e aponta para propostas de
renovação, que implicam uma ruptura com a Geografia Tradicional, e, mais que isso, na construção de um
conhecimento que lhe seja antagônico, de um discurso que a combata, de teorias que se contraponham às
tradicionais.
 Daí Lacoste definir seu trabalho como “guerrilha epistemológica”. Esta é a via revolucionária da renovação do
pensamento geográfico, que agrupa aqueles autores imbuídos de uma perspectiva transformadora, que negam a
ordem estabelecida, que vêem seu trabalho como instrumento de denúncia e com arma de combate; enfim, que
propõem a Geografia como mais um elemento na superação da ordem capitalista. A crítica radical do
pensamento tradicional é, dessa maneira, uma exigência do tom das propostas de renovação efetuadas.
 Continuamos no livro de Lacoste, como exemplificação. Este autor admite que os detentores do poder (seja o
Estado ou a grande empresa) sempre possuem uma visão integrada do espaço, dada pela intervenção
articulada em vários lugares. Por outro lado, o cidadão comum tem uma visão fracionada do espaço, pois só
concebe os lugares abarcados por sua vivência cotidiana, e só esporadicamente possui informações (e mesmo
assim truncadas) da realidade de outros lugares. O indivíduo conhece sua rua, seu quarteirão, seu bairro, o local
de seu trabalho, os locais de seu lazer, uma localidade visitada numas férias, talvez sua cidade; entretanto,
mesmo essa consciência se dá de uma forma parcial. Duas pessoas podem viver na mesma cidade,
concebendo-a de forma diferente, em função de seus interesses e de usa área de ação (um habitante da zona
sul de São Paulo pode desconhecer totalmente o que se passa na periferia da zona leste).
 Por outro lado, o Estado tem uma visão integrada articulada do espaço, pois age sobre todos os lugares
(capilaridade), e isto se transforma numa arma a mais de dominação. Assim, argumenta Lacoste, é necessário
construir uma visão integrada do espaço, numa perspectiva popular, e socializar este saber, pois ele possui
fundamental valor estratégico nos embates políticos. Diz explicitamente: “é necessário saber pensa o espaço,
para saber nele se organizar, para saber nele combater”.
 O propósito expresso por Lacoste define, de forma clara, os objetivos e a postura da Geografia Crítica. Esta
assume inteiramente um conteúdo político explícito, que aparece de forma cabal na sua afirmação, “a Geografia
é uma prática social em relação à superfície terrestre”, ou na de D. Harvey, “a questão do espaço não pode ser
uma resposta filosófica para problemas filosóficos, mas uma resposta calçada na prática social”; aparece, ainda,
na afirmação de M. Santos, “o espaço é a morada do homem, mas pode ser também sua prisão”.
 Vê-se que a renovação geográfica passa a ser pensada, em termos de teoria e prática, como uma práxis
revolucionária, naquele sentido de que não basta explicar o mundo, pois cumpre transformá-lo. Vê-se a distância
alcançada por esta posição, em relação à renovação empreendida pela Geografia Pragmática.
 A Geografia Crítica tem suas raízes na ala mais progressista da Geografia Regional francesa. A figura de Jean
Dresch aparece, no seio desse movimento, como um exemplo único de afirmação de um discurso político crítico;
suas teorias foram já uma antecipação (Dresch escreve suas obras nas décadas de 30 e 40). Esta ala da
Geografia Regional vai progressivamente se inteirando do papel dos processos econômicos e sociais, no
direcionamento da organização do espaço. Assim, abre uma discussão mais política na análise geográfica. Tal
abertura embasou-se na crescente importância do elemento humano na Geografia francesa, que aparece: na
diferenciação entre meio e meio geográfico, na sujeição da Geografia Física à Humana, e na idéia da região
como produto histórico (e sua valorização como objeto primordial).
 Assim, a Geografia Regional francesa aproximou-se da História e da Economia. É no bojo desse processo que
germinam as primeiras manifestações de um pensamento geográfico crítico, ao se introduzir na análise regional
novos elementos.
 A primeira manifestação clara dessa renovação crítica pode ser detectada na proposta da Geografia Ativa, nome
de um livro (escrito por P. George, Y. Lacoste, B. Kayser e R. Guglielmo), que marcou toda uma geração de
geógrafos. A Geografia Ativa opunha-se à Geografia Aplicada. Sua proposta era a de executar um tipo de
análise, que colocasse a descoberto as contradições do modo de produção capitalista, nos vários squadros
regionais. Ensejava assim uma Geografia de denúncia de realidades espaciais injustas e contraditórias. Tratava-
se de explicar as regiões, mostrando não apenas suas formas e sua funcionalidade, mas também as
contradições sociais aí contidas: a miséria, a subnutrição, as favelas, enfim as condições de vida de uma parcela
dapopulação, que não aparecia nas análises tradicionais de inspiração ecológica.
 Esta proposta veiculava um ideal humanista e conseguia um peso político, em função de sua potencialidade de
constatação e divulgação da manifestação espacial de problemas sociais. Daí a idéia, desenvolvida por estes
autores, do espaço como base da vida social, e sua organização como reflexo da atividade econômica.
 Entretanto, esta Geografia de denúncia não rompia, em termos metodológicos, com a análise regional
tradicional. Mantinha-se a tônica descritiva e empirista, apenas passava-se a englobar no estudo tópicos por ela
não abordados. Introduziam-se novos temas, mantendo os procedimentos gerais da análise regional. Fazia-se
uma descrição da vida regional, que não encobria as contradições existentes no espaço analisado. Sendo a
realidade injusta, sua mera descrição já adquiria um componente de oposição à ordem instituída.
 Tal perspectiva aparece com clareza, por exemplo, em obras como a Geografia da Fome de Josué de Castro, ou
a Geografia do Subdesenvolvimento de Y. Lacoste. Estes livros não iam além da proposta regional, porém
apresentavam realidades tão contraditórias, que sua simples descrição adquiria uma força considerável de
denúncia, fazendo da Geografia um instrumento de ação política. Estes estudos tiveram um papel significativo,
pois abriram novos horizontes para os geógrafos, ao apontarem uma perspectiva de engajamento social, de
atuação crítica.
 O autor que mais se destacou dentro desse movimento foi, sem dúvida alguma, Pierre Geogrge. Seu grande
mérito foi introduzir pioneiramente alguns conceitos marxistas na discussão geográfica. Este autor vai tentar uma
conciliação da metodologia da análise regional com o instrumental conceitual do Materialismo Histórico. Assim,
discute as relações de produção, as relações de trabalho, a ação do grande capital, as forças produtivas etc., em
suas análises regionais.
 P. Geogrge elabora uma extensa obra, constituída de ensaios, como Sociologia e Geografia; manuais, como
Geografia Econômica; e estudos concretos, tanto monográficos, como Geografia da U.R.S.S. ou Europa Central,
quanto sintéticos, como A ação do homem ou Panorama do mundo atual. As colocações desse autor ainda estão
à espera de uma interpretação mais minuciosa. A Geografia de denúncia não realizou por inteiro a crítica da
Geografia Tradicional, apesar de politizar o discurso geográfico.
 Por esta razão, ela se mostrou problemática, sem que isso atentasse à sua importância e eficácia política. Se,
por um lado, criava uma perspectiva de militância para os geógrafos conscientes, por outro não resolvia a
contento as questões internas dessa disciplina, pois colocava a explicação das realidades estudadas fora do
âmbito da Geografia, ficando esta como um levantamento dos lugares, um estudo da projeção do modo de
produção no espaço terrestre. Assim, limitava-se a um estudo das aparências, sem possibilidade de indagar
arespeito da essência dos problemas.
 A manutenção da ótica empirista vedava a análise dos processos essenciais e a explicação era sempre externa
à Geografia. Poder-se-ia dizer que estes autores tinham uma ética de esquerda, porém instrumentalizada numa
epistemologia positivista. Daí, sua posterior superação.
 A Geografia Crítica também se desenvolveu bastante a partir dos estudos temáticos, notadamente aqueles
dedicados ao conhecimento das cidades (que não devem ser confundidos com a Geografia Urbana tradicional).
Aqui, foi particularmente importante a contribuição dada por autores não-geógrafos. O contato com teorias extra-
geográficas foi bastante benéfico; basta pensar na influência de um sociólogo, como M. Castels, ou de um
filósofo, como H. Lefebvre; o primeiro através de seu livro já clássico A questão urbana, o segundo através de
obras como A produção do espaço e Espaço e Política.
 A influência de urbanistas, como J. Lojikne ou M. Folin, também é sensível. No rol das influências
extrageográficas, o nome de M. Foucault deve ser mencionado, por suas colocações sobre a relação entre o
espaço e o poder, contidas em Microfísica do Poder. Na verdade, a Geografia Crítica abre para um leque
bastante amplo de influências “externas”. Afinal, romper o isolamento do geógrafo é também uma de suas
metas.
 Entre estes trabalhos temáticos, que enfocam o urbano, um destaque deve ser dado para a figura de David
Harvey. Este autor esteve na vanguarda do neopositivismo da reflexão geográfica; depois rompeu radicalmente
com a perspectiva pragmática, escrevendo uma obra que traduz uma profunda autocrítica: A justiça social e a
cidade. Neste livro, faz a crítica das teorias liberais sobre a cidade, e assume uma postura socialista. Realiza
então uma leitura das colocações marxistas, tentando empregar a teoria da renda fundiária na análise da
valorização do espaço urbano. Analisa o uso do solo, um tema clássico da Geografia, à luz das categorias do
valor-de-uso e do valor-detroca.
 Nessa reflexão, adianta bastante as formulações a respeito de uma dialética do espaço, e chega a algumas
concepções interessantes, como, por exemplo, a de “ver as formas espaciais enquanto processos sociais no
sentido de que os processos sociais são espaciais”. Trabalhando com uma concepção mais ampla, isto é, numa
escala mais abrangente do que a do fenômeno urbano, vários autores vêm realizando uma discussão crítica a
respeito do território.
 Assim, enfocam a expansão espacial das relações capitalistas de produção, as formas espaciais e os fluxos
gerados, a organização do espaço implementada por este modo de produção, enfim, a lógica do capital na
apropriação e ordenação dos lugares. Dentro desta perspectiva, podem-se destacar as formulações de A.
Lipietz, que escreveu uma obra intitulada O capital e seu espaço; de F. Indovina e D. Calabi, que escreveram um
sugestivo artigo sobre o uso capitalista do território, e do mesmo F. Indovina, autor do interessante trabalho
Capital e Território.
 Em todos estes trabalhos, tenta-se entender a essência da organização do espaço terrestre no modo de
produção capitalista. Com tal finalidade, retoma-se a discussão de questões como a relação entre a sociedade e
o solo, o Estado e o território e os recursos e a atividade econômica. Estas questões são integradas num
contexto de discussão, informado pela Economia Política e orientado pelo legado teórico de Marx.
 Os resultados daí oriundos são bastante sugestivos e estimulantes. Vê-se que os caminhos buscados pelas
várias propostas da Geografia Crítica são numerosos, diferentes, e todos igualmente importantes. Caberia ainda
mencionar obras significativas, que exemplificam este esforço: algumas abordando pontos especificamente
metodológicos, como Geografia e Ideologia de J. Anderson, ou à Geografia Pragmática, como Geografia e
Tecnoburocracia de Melhem Adas. Há de se destacar o papel das revistas Herodote e Antípoda, na veiculação
desta bibliografia crítica. Alguns eventos, - como o congresso organizado pelo Instituto Gramsci, versando sobre
o tema “Homem, natureza e sociedade: ecologia e relações sociais” – também se articulam com este esforço
renovador. Enfim, há muito sendo feito, e mais ainda por se fazer.
 Em termos de uma concepção mais global de Geografia, cabe uma exposição mais minuciosa da proposta de
Milton Santos, apresentada em seu livro Por uma Geografia nova. Esta obra expressa uma tentativa sintética de
outros trabalhos desse autor, representando uma proposta geral para o estudo geográfico – é assim um livro de
claro conteúdo normativo.
 Neste trabalho, depois de avaliar criticamente a Geografia Tradicional, a crise do pensamento geográfico e as
principais propostas de renovação, efetivadas pela Geografia Pragmática, M. Santos passa a exporsua
concepção do objeto geográfico. Tenta dar uma resposta para a questão primordial desse volume: o que é a
Geografia. Ou, melhor, como deve ser a análise do geógrafo.
 Cabe apresentar mais detalhadamente esta proposta, que é uma das mais amplas e substantivas empreendidas
pela Geografia Crítica.
 Milton Santos argumenta que é necessário discutir o espaço social, e ver a produção do espaço como o objeto.
Este espaço social ou humano é histórico, obra do trabalho, morada do homem. É assim uma realidade e uma
categoria de compreensão da realidade. Toda sua proposta será então uma tentativa de apreendê-lo, de como
estudá-lo. Diz que se deve ver o espaço como um campo de força, cuja energia é a dinâmica social. Que ele é
um fato social, um produto da ação humana, uma natureza socializada, que pode ser explicável pela produção.
Afirma, entretanto, que o espaço também é um fator, pois é uma acumulação de trabalho, uma incorporação de
capital na superfície terrestre, que cria formas duráveis, as quais denomina “rugosidades”.
 Estas criam imposições sobre a ação presente da sociedade; são uma “inércia dinâmica” – tempo incorporado
na paisagem – e duram mais que o processo que as criou. São assim uma herança espacial, que influi no
presente. Por esta razão, o espaço é também uma instância, no sentido de ser uma estrutura fixa e, como tal,
uma determinação que atua no movimento da totalidade social.
 As formas espaciais são resultados de processos passados, mas são também condições para processos futuros.
As velhas formas são continuamente revivificadas pela produção presente, que as articula em sua lógica.
 Caberia, antes de mais nada, entender como se dá este movimento. Milton Santos argumenta que toda atividade
produtiva dos homens implica numa ação sobre a superfície terrestre, numa criação de novas formas, de tal
modo que “produzir é produzir espaço”. Afirma que a organização do espaço é determinada pela tecnologia, pela
cultura e pela organização social da sociedade, que a empreendem. Na sociedade capitalista, a organização
espacial é imposta pelo ritmo de acumulação. Na verdade, esta representa uma dotação diferencial de
instrumentos de trabalho, na superfície do planeta, uma fixação de capital no espaço, obedecendo a uma
distribuição “desigual e combinada”. Diz que, desta forma, os lugares manifestam uma combinação de capital,
trabalho, tecnologia e trabalho morto, expresso nas “rugosidades”.
 O autor diz ainda que a unidade de análise do geógrafo deve ser o Estado Nacional, pois, só levando em conta
esta escala, pode-se compreender os vários lugares contidos em seu território. O Estado é o agente de
transformação, de difusão e de dotação. É o intermediário entre as forças internas e externas.
 Assim, não é passivo; ao contrário, orienta os estímulos e é o grande criador das “rugosidades”. O Estado
manifesta o modo de produção, nas várias porções da Terra e é por este determinado; logo, passa a sua lógica
ao estabelecer e dirigir a ordem espacial.
 Tendo estabelecido estes argumentos, M. Santos avança sua proposta. Coloca que as diferenças dos lugares
são naturais e históricas, e que a variação da organização do espaço é fruto de “uma acumulação desigual de
tempo”. Essa organização é uma combinação de variáveis, resíduos vivificados pelo tempo presente, unificados
num movimento geral pelo Estado. Assim, uma articulação de elementos naturais e processos históricos, de
passado e presente, “variáveis assincrônicas funcionando sincronicamente”.
 Desta forma, há um contínuo processo demodernização em curso, que não atinge todos os lugares ao mesmo
tempo, que é estimulado pelo Estado, e que obedece à lógica do capital e não aos interesses do homem
(manifestando-se então como uma modernização maldosa).
 Tal processo define os usos do solo, a apropriação da natureza, as relações entre os lugares, enfim a
organização do espaço. Seu traço geral é a desigualdade, pois a história do capital é seletiva, elege áreas,
estabelece uma divisão territorial do trabalho, impõe uma hierarquização dos lugares, pela dotação diferenciada
de equipamentos. É tal processo que deve ser objeto de preocupação dos geógrafos, que o analisarão, em cada
manifestação concreta, tendo em vista uma Geografia mais generosa e vendo o espaço como um lugar de luta.
 Esta é, em termos bem resumidos, a proposta de Milton Santos, uma das mais amplas e acabadas da Geografia
Crítica. Há de se ressaltar que este autor já a substantivou, em alguns pontos mais específicos, como na análise
da organização interna das cidades, e seu papel na organização regional. Tais estudos encontram-se expostos
em vários artigos e em livros, como O espaço dividido, As cidades do Terceiro Mundo, Pobreza urbana e
Geografia e Sociedade. As formulações de Milton Santos representam uma das propostas da Geografia Crítica,
exemplificando bem a postura política e o posicionamento social que a caracterizam. Entretanto, a proposta de
M. Santos é uma das perspectivas, convivendo, no seio da Geografia Crítica, com outras, que lhe são
diferenciadas e mesmo antagônicas em alguns pontos.
 Isto coloca uma questão central,a da dialética entre unidade e diversidade, no interior do pensamento geográfico
crítico. Pode-se dizer que a Geografia Crítica é uma frente, onde obedecendo a objetivos e princípios comuns,
convivem propostas díspares. Assim, não se trata de um conjunto monolítico, mas, ao contrário, de um
agrupamento de perspectivas diferenciadas. A unidade da Geografia Crítica manifesta-se na postura de oposição
a uma realidade social e espacial contraditória e injusta, fazendo-se do conhecimento geográfico uma arma de
combate à situação existente. É uma unidade de propósitos dada pelo posicionamento social, pela concepção de
ciência como momento da práxis, por uma aceitação plena e explícita do conteúdo político do discurso
geográfico. Enfim, unitários objetivam-se através de fundamentos metodológicos diversificados. Daí, advém uma
grande diversidade metodológica, no âmbito da Geografia Crítica. Esta apresenta um mosaico de orientações
metodológicas, bastante variado: estruturalistas, existencialistas, analíticos, marxistasm (em suas várias
nuances), ecléticos etc.
 Aqui a unidade se esvanece, mantendo-se, como único traço comum, o discurso crítico. São buscados, para
fundamentar as propostas efetuadas, autores bastante díspares: Adorno, Foucault, Mao Tse-Tung, Lefort,
Godelier, Barthes, Lênin, Sartre, entre outros.
 Vê-se que a gama de orientações abarcada é realmente ampla. Assim, há uma unidade ética, substantivada
numa diversidade epistemológica. Esta diversidade é em certo sentido benéfica, pois estimula o debate, gera
polêmicas e faz avançar as colocações. Onde há discussão há vida, onde há debate aflora o pensamento crítico,
onde há polêmica há espaço para o novo, para a criação. Por isso, a Geografia na atualidade estimula a
reflexão; a queda das “verdades” fossilizadas age nesse sentido.
 Buscam-se novos caminhos, questionam-se velhas concepções, tentam-se novas fórmulas. Existe um enorme
horizonte pela frente, na elaboração dessa Geografia nova, resta muito trabalho por fazer. Assim, a Geografia
Crítica é um desafio, e uma promessa.
 Finalizando, pode-se dizer que o movimento de renovação, atualmente em curso na Geografia, com suas duas
vertentes, reproduz, ao nível desse campo específico do conhecimento, o embate ideológico contemporâneo –
reflexo, no plano da ciência, da luta de classes na sociedade capitalista. Os geógrafos críticos, em suas
diferenciadas orientações, assumem a perspectiva popular, a da transformação da ordem social. Buscam uma
Geografia mais generosa e um espaço mais justo, que seja organizado em função dos interesses dos homens.







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