Decisão Maria Claudia Bucchianeri
Decisão Maria Claudia Bucchianeri
Decisão Maria Claudia Bucchianeri
27/09/2022
Número: 0600301-20.2022.6.00.0000
Classe: REPRESENTAÇÃO
Órgão julgador colegiado: Colegiado do Tribunal Superior Eleitoral
Órgão julgador: Juíza Auxiliar - Ministra Maria Claudia Bucchianeri
Última distribuição : 07/09/2022
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Propaganda Política - Propaganda Eleitoral - Extemporânea/Antecipada
Objeto do processo: Trata-se de Representação proposta pelo PARTIDO DOS TRABALHADORES
(PT) - Nacional em face de DELTAN MARTINAZZO DALLAGNOL, de MICARLA ROCHA DA SILVA
MELO e PAULO EDUARDO LIMA MARTINS, Deputado Federal, sob a seguinte alegação:
- os Representados Deltan e Paulo, fazendo uso de seus perfis pessoais nas redes sociais
Instagram e Twitter, respectivamente, veicularam vídeo em ataque ao pré-candidato à Presidência
da República, Luiz Inácio Lula da Silva. O referido vídeo foi igualmente divulgado pelo portal de
notícia Terra Brasil Notícias.
"É preciso reconhecer. Esse jingle/clipe do Lula transmite exatamente o conteúdo e o significado
da candidatura do Luís Inácio à presidência. Faça justiça social, combata a ignorância, compartilhe
o vídeo"
"Comparação do jingle de Lula com falas sobre delações da Lava jato ganha a web; Veja o vídeo"
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT) - NACIONAL ROBERTA NAYARA PEREIRA ALEXANDRE (ADVOGADO)
(REPRESENTANTE) MARIA EDUARDA PRAXEDES SILVA (ADVOGADO)
EDUARDA PORTELLA QUEVEDO (ADVOGADO)
FERNANDA BERNARDELLI MARQUES (ADVOGADO)
VICTOR LUGAN RIZZON CHEN (ADVOGADO)
MIGUEL FILIPI PIMENTEL NOVAES (ADVOGADO)
MARIA DE LOURDES LOPES (ADVOGADO)
MARCELO WINCH SCHMIDT (ADVOGADO)
ANGELO LONGO FERRARO (ADVOGADO)
VALESKA TEIXEIRA ZANIN MARTINS (ADVOGADO)
CRISTIANO ZANIN MARTINS (ADVOGADO)
EUGENIO JOSE GUILHERME DE ARAGAO (ADVOGADO)
GEAN CARLOS FERREIRA DE MOURA AGUIAR
(ADVOGADO)
DELTAN MARTINAZZO DALLAGNOL (REPRESENTADO) JACQUELINE AMARILIO DE SOUSA (ADVOGADO)
UBIRATAN MENEZES DA SILVEIRA (ADVOGADO)
MAIRA DANIELA GONCALVES CASTALDI (ADVOGADO)
MARCELLI DE CASSIA PEREIRA (ADVOGADO)
MICARLA ROCHA DA SILVA MELO (REPRESENTADA) RAIMUNDO RAFAEL DE PAIVA RODRIGUES (ADVOGADO)
DONNIE ALLISON DOS SANTOS MORAIS (ADVOGADO)
PAULO EDUARDO LIMA MARTINS (REPRESENTADO) NELSON JUNKI LEE (ADVOGADO)
Procurador Geral Eleitoral (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
15815 27/09/2022 16:26 Decisão Decisão
0494
index: REPRESENTAÇÃO (11541)-0600301-20.2022.6.00.0000-[Propaganda Política -
Propaganda Eleitoral - Extemporânea/Antecipada]-DISTRITO FEDERAL-BRASÍLIA
DECISÃO
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negativa pelos representados; ii) a remoção do vídeo impugnado, nos termos do art. 17, § 1º-A,
da Res.-TSE nº 23.608/2019; e iii) a condenação dos representados ao pagamento de multa, no
valor máximo previsto em lei.
Em sua defesa, o representado Paulo Eduardo Lima Martins sustenta (ID
157553872):
a) não houve veiculação de inverdades no vídeo publicado, uma vez que o conteúdo
revela tão somente fatos pretéritos da vida de Luiz Inácio Lula da Silva narrados por Antônio
Palocci, Leo Pinheiro e pelo próprio Sr. Luiz Inácio, portanto são fatos públicos e notórios;
b) não há falar em propaganda eleitoral antecipada negativa, pois não houve
pedido explícito de não voto ou ofensa à honra e à imagem de pré-candidato, mas apenas
mero “exercício do direito de crítica política, trazendo à luz fatos pretéritos, sobejamente
conhecidos do público” (p. 7);
c) a remoção do vídeo da Internet ofende o direito à liberdade de expressão, ante a
“tentativa de esconder fatos verdadeiros, públicos e notórios” (p. 8).
A representada Terra Brasil Notícias apresentou defesa em que afirma, em resumo:
a) não ser a autora do vídeo impugnado e que apenas repostou, em seu sítio eletrônico, o
conteúdo que reflete fatos verídicos; b) não teriam sido ultrapassados os limites legais suficientes
para a caracterização do ilícito de propaganda eleitoral negativa, de modo que é necessário
garantir a intervenção mínima do Poder Judiciário e assegurar a liberdade de expressão e
informação (ID 157558606).
Em sua defesa, o representado Deltan Martinazzo Dallagnol suscita preliminarmente
a ilegitimidade ativa do representante para se insurgir contra suposta propaganda eleitoral
negativa de terceiro, ainda que seu filiado, porquanto não observa o disposto no art. 18 do Código
de Processo Civil, uma vez que a agremiação não possui candidato oficialmente escolhido em
convenção partidária. Quanto ao mérito, aduz que (ID 157572560):
a) o “vídeo ora questionado encontra abrigo na liberdade de expressão, até mesmo
porque, não há qualquer ilícito ou conteúdo eleitoral no caso concreto, tampouco propaganda
eleitoral antecipada” (p. 6);
b) a publicação não vai além de eventual mera crítica política, agasalhada pelo
direito à livre manifestação de pensamento, de modo que o art. 28, § 6º, da Res.-TSE nº
23.610/2019 estabelece que “a manifestação espontânea na internet de pessoas naturais em
matéria político-eleitoral, mesmo que sob a forma de elogio ou crítica a candidato ou partido
político, não será considerada propaganda eleitoral” (p. 10);
c) não há, no vídeo impugnado, pedido explícito de não voto, discurso de ódio,
afirmação sabidamente inverídica, ofensa à honra e, muito menos, violação ao princípio da
igualdade de oportunidades entre os candidatos, não se verificando, portanto, a configuração
de propaganda eleitoral antecipada, nos termos do art. 36-A da Lei nº 9.504/1997 e na linha dos
precedentes do TSE.
O Vice-Procurador-Geral Eleitoral manifestou-se pela improcedência do pedido por
meio de parecer assim ementado (ID 157605631):
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De início, convém o registro de que esta representação foi ajuizada em 13.5.2022
pelo Partido dos Trabalhadores (PT), data anterior, portanto, à oficialização da Federação
Partidária denominada Brasil da Esperança (FE BRASIL), integrada pela referida agremiação,
cuja formalização se deu em 24.5.2022, por ocasião do julgamento do RFP nº 0600228-48/DF,
por este Tribunal Superior.
Feito o registro, afasto a preliminar suscitada pelo representado Deltan Martinazzo
Dallagnol de ilegitimidade ativa de Diretório Nacional de partido político para ajuizar esta
representação.
Nos exatos termos dos arts. 96 da Lei nº 9.504/1997 e 3º da Res.-TSE nº
23.608/2019, “as representações, as reclamações e os pedidos de direito de resposta poderão,
observada a respectiva legitimidade, ser feitos por qualquer partido político, federação de
partidos, coligação, candidata e candidato”.
Na verdade, quando a representação versar alegada prática de propaganda eleitoral
antecipada nas eleições presidenciais, o respectivo ajuizamento, nesta Corte Superior, deve ser
promovido pelo diretório nacional das agremiações partidárias, entendimento
multiplamente aplicado nestas eleições de 2022 (Rp nº 060015491, de minha relatoria, DJe
de 30.3.2022; Rp nº 0600064-83/DF, rel. Min. Raul Araújo, DJe de 11.2.2022; e Rp nº 0600007-
87/DF, de minha relatoria, DJe de 30.3.2022).
Para além disso, nos termos da inicial, o representante busca proteger interesses de
seu próprio filiado e pré-candidato à presidência da República, sendo certo que, em tal contexto
prévio, qualquer dano à esfera jurídica do futuro postulante refletirá, direta ou indiretamente, na
esfera jurídica da respectiva agremiação, sendo evidente, assim, a pertinência subjetiva para a
ação.
No mérito, o que se sustenta é que o vídeo publicado em 11.4.2022 pelos
representados na Internet - contendo trechos extraídos de depoimentos prestados por Antônio
Palocci e Leo Pinheiro no contexto da denominada ‘Operação Lava Jato’, além de falas e
imagens em que Luiz Inácio Lula da Silva se manifesta sobre o coronavírus e sobre a política de
repressão a atos infracionais cometidos por adolescentes, tudo isso encaixado no conhecido
jingle de campanha “Lula Lá” – configuraria propaganda eleitoral antecipada negativa, ante
seu conteúdo supostamente ofensivo à honra e à imagem do futuro postulante, denotando
pedido explícito de não voto.
Transcrevo a degravação na íntegra do vídeo impugnado, postado ainda em abril
de 2022, que tem como som de fundo o conhecido jingle “Lula Lá” (ID 157534306):
Depoimento do Sr. Antônio Palocci: o Dr. Emílio Odebrecht fez uma espécie de
pacto de sangue com o Presidente Lula. Ele procurou o Presidente Lula nos últimos
dias do seu mandato e levou um pacote de propinas para o Presidente Lula, que
envolvia: esse terreno no estudo, que já estava comprado, que o Sr. Emílio
apresentou ao presidente Lula; o sítio para uso da família do Presidente Lula (que já
estava fazendo a reforma em fase final) e ele disse ao Presidente Lula que o sítio já
estava pronto e também disse ao Presidente Lula que ele tinha à disposição dele,
para o próximo período, para fazer as atividades políticas dele, trezentos milhões de
reais.
Depoimento do Sr. Léo Pinheiro: o apartamento era do Presidente Lula desde o dia
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que me passaram para estudar os empreendimentos da Bancoop. Já foi me dito que
era para o Presidente Lula e sua família; que eu não comercializasse e tratasse
aquilo como uma coisa de propriedade do [...].
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eleitorais, ambiente em cujo contexto os eleitores podem se informar sobre
candidaturas e plataformas, qualidades e defeitos dos concorrentes, pressuposto
necessário à própria liberdade de escolha pelos cidadãos.
5. Nos termos do art. 36-A da Lei nº 9.504/97, e desde que não haja pedido
explícito de voto, são lícitos comportamentos como falar de si e de possíveis
qualidades pessoais, falar da política, dos problemas coletivos, divulgar pré-
candidatura, pedir “apoio político”, anunciar projetos futuros, objetivos, propostas
e ações políticas a serem desenvolvidas, externar posições pessoais sobre os
temas que afetam a comunidade.
(...)
10. Ainda que o pedido explícito de voto possa ser extraído de outras palavras, as
chamadas “palavras mágicas”, como “vote”, “eleja”, “tecle a urna”, ou “derrote”, “não
eleja”, “não vote”, a interpretação do que deve ser entendido como pedido explícito
de voto, para fins de incidência da vedação legal, não pode esvaziar a literalidade
dos inúmeros comportamentos expressamente permitidos durante a pré-campanha
pelo art. 36-A da Lei nº 9.504/97, cuja interpretação deve se dar de forma sempre
maximizadora, sob pena de criação de um modelo eleitoral em que o prazo oficial de
campanha é excessivamente curto e no qual não há margem razoável de
apresentação de futuros postulantes em período anterior, com claro
comprometimento da competitividade eleitoral e da renovação política.
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“Agora, o conjunto da obra, tudo junto aqui, eu perguntaria só uma questão: aqui
estamos analisando campanha antecipada; se nós tirarmos o “antecipada”
campanha e trouxermos para agora, a campanha que vem sendo realizada é
exatamente igual à que foi realizada nesse período, exatamente igual” (Ministro
Alexandre de Moraes);
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e de televisão durante a fase oficial de campanha, a revelar, assim, “queimada de largada”
pelos representados, que, antes do período oficial, compartilharam clara propaganda eleitoral
negativa, em contexto revelador de pedido de não voto, o que viola a jurisprudência desta
Corte Superior para as presentes eleições.
Nos dizeres do Ministro Alexandre de Moraes acima transcritos, “se nós tirarmos o
“antecipada” e trouxermos para agora, a campanha que vem sendo realizada é exatamente
igual à que foi realizada nesse período, exatamente igual”, a revelar propaganda antecipada.
Por outro lado, afasto a alegada irregularidade de matéria jornalística veiculada
pela empresa Terra Notícias Brasil, que se limitou a noticiar a existência do referido vídeo e de
seu compartilhamento em perfis de rede social, alertando tratar-se de uma edição do jingle ‘Lula
lá’. Reproduzo o conteúdo da matéria publicada:
Jingle Lula lá
A reedição do jingle “Lula lá”, foi apresentada por Janja, noiva do ex-presidente,
durante o lançamento, neste sábado 7, da pré-campanha de Lula e Alckmin à
Presidência. Janja disse que o vídeo era o seu presente de casamento para o
petista.
Como lembrou o site Poder 360, a versão original de “Sem Medo de Ser Feliz” foi
apresentada pela 1ª vez com as vozes de Chico Buarque, Gilberto Gil e Djavan.
Agora, o jingle foi protagonizado por artistas como Pablo Vittar, Chico César, Duda
Beat e Paulo Miklos. Há alterações na letra, como a substituição dos trechos “cresce
a esperança” por “renasce a esperança”, e “com toda a certeza para você” por “o
Brasil merece outra vez”.
i) https://twitter.com/PauloMartins10/status/1523144155534266368?s=20&t=aEY3Pu
8v38fosylBT4ObTg;
ii) https://www.instagram.com/p/CdbCMSqFQ1F/
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normativo previsto no art. 17, § 1º-B, da Res.-TSE n º 23.608/2019.
Publique-se.
Brasília, 27 de setembro de 2022.
Relatora
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