Literatura Percurso 2019

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Apostila de Exercícios

LITERATURA
LITERATURA

ÍNDICE

ESTILOS DE ÉPOCA ........................................................................2


TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS E TEORIA LITERÁRIA ......... 25
QUESTÕES RECENTES................................................................ 37
GABARITO ................................................................................... 54

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LITERATURA

ESTILOS DE ÉPOCA
História Viva, n.99,2011.

1. (Enem 2012) Com base no texto, que trata do papel do escritor José
de Alencar e da futura digitalização de sua obra,
depreende-se que
a) a digitalização dos textos é importante para que os
leitores possam compreender seus romances.
b) o conhecido autor de O guarani e Iracema foi
importante porque deixou uma vasta obra literária
com temática atemporal.
c) a divulgação das obras de José de Alencar, por meio
da digitalização, demonstra sua importância para a
história do Brasil Imperial.
d) a digitalização dos textos de José de Alencar terá
importante papel na preservação da memória
linguística e da identidade nacional.
e) o grande romancista José de Alencar é importante
porque se destacou por sua temática indianista.

3. (Enem 2012)

Com contornos assimétricos, riqueza de detalhes nas


vestes e nas feições, a escultura barroca no Brasil tem
forte influência do rococó europeu e está representada
aqui por um dos profetas do pátio do Santuário do Bom
Jesus de Matosinho, em Congonhas, (MG), esculpido
em pedra-sabão por Aleijadinho. Profundamente
religiosa, sua obra revela
a) liberdade, representando a vida de mineiros à
procura da salvação.
b) credibilidade, atendendo a encomendas dos nobres
de Minas Gerais.
c) simplicidade, demonstrando compromisso com a
contemplação do divino.
d) personalidade, modelando uma imagem sacra com
feições populares.
e) singularidade, esculpindo personalidade do reinado
nas obras divinas.

2. (Enem 2012) “Ele era o inimigo do rei”, nas palavras


de seu biógrafo, Lira Neto. Ou, ainda, “um romancista O quadro Les Demoiselles d’Avignon (1907), de Pablo
que colecionava desafetos, azucrinava D. Pedro II e Picasso, representa o rompimento com a estética
acabou inventando o Brasil”. Assim era José de Alencar clássica e a revolução da arte no início do século XX.
(1829-1877), o conhecido autor de O guarani e Essa nova tendência se caracteriza pela
Iracema, tido como o pai do romance no Brasil. Além a) pintura de modelos em planos irregulares.
de criar clássicos da literatura brasileira com temas b) mulher como temática central da obra.
nativistas, indianistas e históricos, ele foi também c) cena representada por vários modelos.
folhetinista, diretor de jornal, autor de peças de teatro, d) oposição entre tons claros e escuros.
advogado, deputado federal e até ministro da Justiça. e) nudez explorada como objeto de arte.
Para ajudar na descoberta das múltiplas facetas desse
personagem do século XIX, parte de seu acervo inédito 4. (Enem 2012)
será digitalizada. O trovador

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LITERATURA

Sentimentos em mim do asperamente


dos homens das primeiras eras... O fragmento destacado foi transcrito do Romanceiro da
As primaveras de sarcasmo Independência, de Cecília Meireles. Centralizada no
intermitentemente no meu coração arlequinal... episódio histórico da Inconfidência Mineira, a obra, no
Intermitentemente... entanto, elabora uma reflexão mais ampla sobre a
Outras vezes é um doente, um frio seguinte relação entre o homem e a linguagem:
na minha alma doente como um longo som redondo... a) A força e a resistência humanas superam os danos
Cantabona! Cantabona! provocados pelo poder corrosivo das palavras.
Dlorom ... b) As relações humanas, em suas múltiplas esferas, têm
Sou um tupi tangendo um alaúde! seu equilíbrio vinculado aos significado das palavras.
c) O significado dos nomes não expressa de forma justa
ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.) Poesias completas de Mário de e completa a grandeza da luta do homem pela vida.
Andrade. Belo Horizonte: Itatiaia, 2005.
d) Renovando o significado das palavras, o tempo
permite às gerações perpetuar seus valores e suas
Cara ao Modernismo, a questão da identidade nacional crenças.
é recorrente na prosa e na poesia de Mário de e) Como produto da criatividade humana, a linguagem
Andrade. Em O trovador, esse aspecto é tem seu alcance limitado pelas intenções e gestos.
a) abordado subliminarmente, por meio de expressões
como “coração arlequinal” que, evocando o 6. (Enem 2012) Aquele bêbado
carnaval, remete à brasilidade.
b) verificado já no título, que remete aos repentistas — Juro nunca mais beber — e fez o sinal da cruz com
nordestinos, estudados por Mário de Andrade em os indicadores. Acrescentou: — Álcool.
suas viagens e pesquisas folclóricas.
c) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões O mais, ele achou que podia beber. Bebia paisagens,
como “Sentimentos em mim do asperamente” (v. 1), músicas de Tom Jobim, versos de Mário Quintana.
“frio” (v. 6), “alma doente” (v. 7), como pelo som Tomou um pileque de Segall. Nos fins de semana
triste do alaúde “Dlorom” (v. 9). embebedava-se de Índia Reclinada, de Celso Antônio.
d) problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde
(civilizado), apontando a síntese nacional que seria — Curou-se 100% de vício — comentavam os amigos.
proposta no Manifesto Antropófago, de Oswaldo de
Andrade. Só ele sabia que andava bêbado que nem um gambá.
e) exaltado pelo eu lírico, que evoca os “sentimentos Morreu de etilismo abstrato, no meio de uma
dos homens das primeiras eras” para mostrar o carraspana de pôr do sol no Leblon, e seu féretro
orgulho brasileiro por suas raízes indígenas. ostentava inúmeras coroas de ex-alcoólatras anônimos.
5. (Enem 2012) ANDRADE, C. D. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: Record, 1991.
Ai, palavras, ai, palavras
Que estranha potência a vossa! A causa mortis do personagem, expressa no último
parágrafo, adquire um efeito irônico no texto porque,
Todo o sentido da vida ao longo da narrativa, ocorre uma
Principia a vossa porta: a) metaforização do sentido literal do verbo “beber”.
O mel do amor cristaliza b) aproximação exagerada da estética abstracionista.
Seu perfume em vossa rosa; c) apresentação gradativa da coloquialidade da
Sois o sonho e sois a audácia, linguagem.
Calúnia, fúria, derrota... d) exploração hiperbólica da expressão “inúmeras
coroas”.
A liberdade das almas, e) citação aleatória de nomes de diferentes artistas.
ai! Com letras se elabora...
e dos venenos humanos 7. (Enem 2012) Verbo ser
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil, como o vidro QUE VAI SER quando crescer? Vivem perguntando em
e mais que o aço poderosa! redor. Que é ser? É ter um corpo, um jeito, um nome?
Reis, impérios, povos, tempos, Tenho os três. E sou? Tenho de mudar quando crescer?
pelo vosso impulso rodam... Usar outro nome, corpo ou jeito? Ou a gente só
principia a ser quando cresce? É terrível, ser? Dói? É
MEIRELES, C. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985
bom? É triste? Ser: pronunciado tão depressa, e cabe
(fragmento).
tantas coisas? Repito: ser, ser, ser. Er. R. Que vou ser

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LITERATURA

quando crescer? Sou obrigado a? Posso escolher? Não Palavras do arco da velha
dá para entender. Não vou ser. Não quero ser. Vou
crescer assim mesmo. Sem ser. Esquecer. Expressão Significado
Cair nos braços de
Dormir
ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. Morfeu
Debicar Zombar, ridicularizar
A inquietação existencial do autor com a autoimagem Tunda Surra
corporal e a sua corporeidade se desdobra em Mangar Escarnecer, caçoar
questões existenciais que têm origem Tugir Murmurar
a) no conflito do padrão corporal imposto contra as Liró Bem-vestido
convicções de ser autêntico e singular. Lanche oferecido pelos
Copo d’água
amigos
b) na aceitação das imposições da sociedade seguindo
Convescote Piquenique
a influência de outros.
Bilontra Velhaco
c) na confiança no futuro, ofuscada pelas tradições e Treteiro de topete Tratante atrevido
culturas familiares. Abrir o arco Fugir
d) no anseio de divulgar hábitos enraizados,
negligenciados por seus antepassados. FLORIN, J. L. As línguas mudam. In: Revista Língua Portuguesa, n.
e) na certeza da exclusão, revelada pela indiferença de 24, out. 2007 (adaptado).
seus pares.
Na leitura do fragmento do texto Antigamente
8. (Enem 2012) TEXTO I constata-se, pelo emprego de palavras obsoletas, que
itens lexicais outrora produtivos não mais o são no
Antigamente português brasileiro atual. Esse fenômeno revela que

Antigamente, os pirralhos dobravam a língua diante a) a língua portuguesa de antigamente carecia de


dos pais e se um se esquecia de arear os dentes antes termos para se referir a fatos e coisas do cotidiano.
de cair nos braços de Morfeu, era capaz de entrar no b) o português brasileiro se constitui evitando a
couro. Não devia também se esquecer de lavar os pés, ampliação do léxico proveniente do português
sem tugir nem mugir. Nada de bater na cacunda do europeu.
padrinho, nem de debicar os mais velhos, pois levava c) a heterogeneidade do português leva a uma
tunda. Ainda cedinho, aguava as plantas, ia ao corte e estabilidade do seu léxico no eixo temporal.
logo voltava aos penates. Não ficava mangando na rua d) o português brasileiro apoia-se no léxico inglês para
nem escapulia do mestre, mesmo que não entendesse ser reconhecido como língua independente.
patavina da instrução moral e cívica. O verdadeiro e) o léxico do português representa uma realidade
smart calçava botina de botões para comparecer todo linguística variável e diversificada.
liró ao copo d’água, se bem que no convescote apenas
lambiscasse, para evitar flatos. Os bilontras é que eram 9. (Enem 2012) Desde dezoito anos que o tal
um precipício, jogando com pau de dois bicos, pelo que patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de
carecia muita cautela e caldo de galinha. O melhor era estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram
pôr as barbas de molho diante de um treteiro de grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuía para
topete, depois de fintar e engambelar os coiós, e antes a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em
que se pudesse tudo em pratos limpos, ele abria o arco. nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi?
Não. Lembrou-se das coisas do tupi, do folk-lore, das
ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de janeiro: nova Aguilar, 1983 suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua
(fragmento). alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!

O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa,


o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a
agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não
era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E,
quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que
achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa
gente? Pois ele a viu combater como feras? Pois não a
via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A
sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um
TEXTO II encadeamento de decepções.

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LITERATURA

A pátria que quisera ter era um mito; um fantasma


criado por ele no silêncio de seu gabinete.

BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. Disponível em:


www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 8 nov. 2011.

O romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima


Barreto, foi publicado em 1911. No fragmento
destacado, a reação do personagem aos
desdobramentos de suas iniciativas patrióticas
evidencia que
a) A dedicação de Policarpo Quaresma ao
conhecimento da natureza brasileira levou-o a
estudar inutilidades, mas possibilitou-lhe uma visão
mais ampla do país.
b) A curiosidade em relação aos heróis da pátria levou-
o ao ideal de prosperidade e democracia que o
personagem encontra no contexto republicano.
c) A construção de uma pátria a partir de elementos
míticos, como a cordialidade do povo, a riqueza do
solo e a pureza linguística, conduz à frustração A pintura e o poema, embora sendo produtos de duas
ideológica. linguagens artísticas diferentes, participaram do
d) A propensão do brasileiro ao riso, ao escárnio, mesmo contexto social e cultural de produção pelo fato
justifica a reação de decepção e desistência de de ambos
Policarpo Quaresma, que prefere resguardar-se em a) apresentarem um retrato realista, evidenciado pelo
seu gabinete. unicórnio presente na pintura e pelos adjetivos
e) A certeza da fertilidade da terra e da produção usados no poema.
agrícola incondicional faz parte de um projeto b) valorizarem o excesso de enfeites na apresentação
ideológico salvacionista, tal como foi difundido na pessoa e na variação de atitudes da mulher,
época do autor. evidenciadas pelos adjetivos do poema.
c) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado
10. (Enem 2012) LXXVIII (Camões, 1525?-1580) pela sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela
postura, expressão e vestimenta da moça e os
Leda serenidade deleitosa, adjetivos usados no poema.
Que representa em terra um paraíso; d) desprezarem o conceito medieval da idealização da
Entre rubis e perlas doce riso; mulher como base da produção artística,
Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa; evidenciado pelos adjetivos usados no poema.
e) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado
Presença moderada e graciosa, pela emotividade e o conflito interior, evidenciados
Onde ensinando estão despejo e siso pela expressão da moça e pelos adjetivos do poema.
Que se pode por arte e por aviso,
Como por natureza, ser fermosa; 11. (Enem 2011) Abatidos pelo fadinho harmonioso e
nostálgico dos desterrados, iam todos, até mesmo os
Fala de quem a morte e a vida pende, brasileiros, se concentrando e caindo em tristeza; mas,
Rara, suave; enfim, Senhora, vossa; de repente, o cavaquinho de Porfiro, acompanhado
Repouso nela alegre e comedido: pelo violão do Firmo, romperam vibrantemente com
um chorado baiano. Nada mais que os primeiros
Estas as armas são com que me rende acordes da música crioula para que o sangue de toda
E me cativa Amor; mas não que possa aquela gente despertasse logo, como se alguém lhe
Despojar-me da glória de rendido. fustigasse o corpo com urtigas bravas. E seguiram-se
outras notas, e outras, cada vez mas ardentes e mais
CAMÕES, L. Obra completa. Rio de janeiro: Nova Aguilar, 2008.
delirantes. Já não eram dois instrumentos que soavam,
eram lúbricos gemidos e suspiros soltos em torrente, a
correrem serpenteando, como cobras numa floresta
incendiada; eram ais convulsos, chorados em frenesi de

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LITERATURA

amor música feita de beijos e soluços gostosos; carícia b) concebe a mulher como um ser sem linguagem e
de fera, carícia de doer, fazendo estala de gozo. questiona o poder da palavra.
c) questiona o trabalho intelectual da mulher e
AZEVEDO, A. O cortiço. São Paulo: Ática, 1983 (fragmento). antecipa a construção do verso livre.
d) propõe um modelo novo de erotização na lírica
No romance O Cortiço (1890), de Aluizio Azevedo, as amorosa e propõe a simplificação verbal.
personagens são observadas como elementos coletivos e) explora a construção da essência feminina, a partir
caracterizados por condicionantes de origem social, da polissemia de “língua”, e inova o léxico.
sexo e etnia. Na passagem transcrita, o confronto entre
brasileiros e portugueses revela prevalência do 13. (Enem 2011) Estrada
elemento brasileiro, pois
Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
a) destaca o nome de personagens brasileiras e omite o Interessa mais que uma avenida urbana.
de personagens portuguesas. Nas cidades todas as pessoas se parecem.
b) exalta a força do cenário natural brasileiro e Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente.
considera o do português inexpressivo. Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
c) mostra o poder envolvente da música brasileira, que Cada criatura é única.
cala o fado português. Até os cães.
d) destaca o sentimentalismo brasileiro, contrário à Estes cães da roça parecem homens de negócios:
tristeza dos portugueses. Andam sempre preocupados.
e) atribui aos brasileiros uma habilidade maior com E quanta gente vem e vai!
instrumentos musicais. E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um
12. (Enem 2011) Lépida e leve bodezinho manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz
Língua do meu Amor velosa e doce, dos símbolos,
que me convences de que sou frase, Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar.
que me contornas, que me vestes quase,
como se o corpo meu de ti vindo me fosse. BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar 1967.

Língua que me cativas, que me enleias


A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de
os surtos de ave estranha, significados profundos a partir de elementos do
em linhas longas de invisíveis teias, cotidiano. No poema Estrada, o lirismo presente no
de que és, há tanto, habilidosa aranha... contraste entre campo e cidade aponta para
a) o desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos
[...] centros urbanos, o que revela sua nostalgia com
Amo-te as sugestões gloriosas e funestas, relação à cidade.
amo-te como todas as mulheres b) a percepção do caráter efêmero da vida,
possibilitada pela observação da aparente inércia da
te amam, ó língua-lama, ó lingua-resplendor, vida rural.
pela carne de som que à ideia emprestas c) opção do eu lírico pelo espaço bucólico como
e pelas frases mudas que proferes possibilidade de meditação sobre a sua juventude.
d) a visão negativa da passagem do tempo, visto que
nos silêncios de Amor!...
esta gera insegurança.
e) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão
MACHADO. G. In: MORICONI, I. (org). Os cem melhores poemas acerca da morte.
brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 (fragmento).
14. (Enem 2011) Quem é pobre, pouco se apega, é um
giro-o-giro no vago dos gerais, que nem os pássaros de
A poesia de Gilka Machado identifica-se com as
rios e lagoas. O senhor vê: o Zé-Zim, o melhor meeiro
concepções artísticas simbolistas. Entretanto, o texto meu aqui, risonho e habilidoso. Pergunto: - Zé-Zim. por
selecionado incorpora referências temáticas e formais que é que você não cria galinhas-d’angola, como todo o
modernistas, já que, nele, a poeta mundo faz? — Quero criar nada não... - me deu
resposta: — Eu gosto muito de mudar... [...] Belo um
a) procura desconstruir a visão metafórica do amor e dia, ele tora. Ninguém discrepa. Eu, tantas, mesmo
abandona o cuidado formal. digo. Eu dou proteção. [...] Essa não faltou também à

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LITERATURA

minha mãe, quando eu era menino, no sertãozinho de Texto II


minha terra. [...] Gente melhor do lugar eram todos
dessa família Guedes, Jidião Guedes; quando saíram de João Cabral, que já emprestara sua voz ao rio,
lá, nos trouxeram junto, minha mãe e eu. Ficamos transfere-a, aqui, ao retirante Severino, que, como o
existindo em território baixio da Sirga, da outra banda, Capibaribe, também segue no caminho do Recife. A
ali onde o de-Janeiro vai no São Francisco, o senhor autoapresentação do personagem, na fala inicial do
sabe. texto, nos mostra um Severino que, quanto mais se
define, menos se individualiza, pois seus traços
ROSA. J. G. Grande Sertão Veredas. Rio de Janeiro: José Olympio biográficos são sempre partilhados por outros homens.
(fragmento).
SECCHIN, A. C. João Cabral: a poesia do menos. Rio de Janeiro:
Na passagem citada, Riobaldo expõe uma situação Topbooks, 1999 (fragmento).
decorrente de uma desigualdade social típica das áreas
rurais brasileiras marcadas pela concentração de terras Com base no trecho de Morte e Vida Severina (Texto I)
e pela relação de dependência entre agregados e e na análise crítica (Texto II), observa-se que a relação
fazendeiros. No texto, destaca-se essa relação porque o entre o texto poético e o contexto social a que ele faz
personagem-narrador referência aponta para um problema social expresso
a) relata a seu interlocutor a história de Zé-Zim, literariamente pela pergunta “Como então dizer quem
demonstrando sua pouca disposição em ajudar seus fala/ ora a Vossas Senhorias?”. A resposta à pergunta
agregados, uma vez que superou essa condição expressa no poema é dada por meio da
graças à sua força de trabalho. a) descrição minuciosa dos traços biográficos
b) descreve o processo de transformação de um meeiro personagem-narrador.
— espécie de agregado — em proprietário de terra. b) construção da figura do retirante nordestino como
c) denuncia a falta de compromisso e a desocupação um homem resignado com a sua situação.
dos moradores, que pouco se envolvem no trabalho c) representação, na figura do personagem-narrador,
da terra. de outros Severinos que compartilham sua condição.
d) mostra como a condição material da vida do d) apresentação do personagem-narrador como uma
sertanejo é dificultada pela sua dupla condição de projeção do próprio poeta em sua crise existencial.
homem livre e, ao mesmo tempo, dependente. e) descrição de Severino, que, apesar de humilde,
e) mantém o distanciamento narrativo condizente com orgulha-se de ser descendente do coronel Zacarias.
sua posição social, de proprietário de terras.
16. (Enem 2010) Soneto
15. (Enem 2011) Texto I
Já da morte o palor me cobre o rosto,
O meu nome é Severino, Nos lábios meus o alento desfalece,
não tenho outro de pia. Surda agonia o coração fenece,
Como há muitos Severinos, E devora meu ser mortal desgosto!
que é santo de romaria,
deram então de me chamar Do leito embalde no macio encosto
Severino de Maria; Tento o sono reter!... já esmorece
como há muitos Severinos O corpo exausto que o repouso esquece...
com mães chamadas Maria, Eis o estado em que a mágoa me tem posto!
fiquei sendo o da Maria,
do finado Zacarias, O adeus, o teu adeus, minha saudade,
mas isso ainda diz pouco: Fazem que insano do viver me prive
há muitos na freguesia, E tenha os olhos meus na escuridade.
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias Dá-me a esperança com que o ser mantive!
e que foi o mais antigo Volve ao amante os olhos por piedade,
senhor desta sesmaria. Olhos por quem viveu quem já não vive!
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias? AZEVEDO, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

MELO NETO, J. C. Obras completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994 O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda
(fragmento) geração romântica, porém configura um lirismo que o
projeta para alem desse momento especifico. O
fundamento desse lirismo é

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LITERATURA

a) a angústia alimentada pela constatação da fina e acabada. O criado esperava teso e sério. Era
irreversibilidade da morte. espanhol; e não foi sem resistência que Rubião o
b) a melancolia que frustra a possibilidade de reação aceitou das mãos de Cristiano; por mais que lhe
diante da perda. dissesse que estava acostumado aos seus crioulos de
c) o descontrole das emoções provocado pela Minas, e não queria línguas estrangeiras em casa, o
autopiedade. amigo Palha insistiu, demonstrando-lhe a necessidade
d) o desejo de morrer como alívio para a desilusão de ter criados brancos. Rubião cedeu com pena. O seu
amorosa. bom pajem, que ele queria por na sala, como um
e) o gosto pela escuridão como solução para o pedaço da província, nem o pode deixar na cozinha,
sofrimento. onde reinava um francês, Jean; foi degradado a outros
serviços.
17. (Enem 2010) Machado de Assis
ASSIS, M. Quincas Borba. In: Obra completa. V.1. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 1993 (fragmento).
Joaquim Maria Machado de Assis, cronista,
contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista,
romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio Quincas Borba situa-se entre as obras-primas do autor
de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de um e da literatura brasileira. No fragmento apresentado, a
operário mestiço de negro e português, Francisco José peculiaridade do texto que garante a universalização de
de Assis, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis, sua abordagem reside
aquele que viria a tornar-se o maior escritor do país e a) no conflito entre o passado pobre e o presente rico,
um mestre da língua, perde a mãe muito cedo e é que simboliza o triunfo da aparência sobre a
criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, que essência.
se dedica ao menino e o matricula na escola pública, b) no sentimento de nostalgia do passado devido à
única que frequentou o autodidata Machado de Assis. substituição da mão de obra escrava pela dos
imigrantes.
Disponível em: http://www.passeiweb.com. Acesso em: 1 maio 2009. c) na referência a Fausto e Mefistófeles, que
representam o desejo de eternização de Rubião.
Considerando os seus conhecimentos sobre os gêneros d) na admiração dos metais por parte de Rubião, que
textuais, o texto citado constitui-se de metaforicamente representam a durabilidade
a) fatos ficcionais relacionados a outros de caráter dos bens produzidos pelo trabalho.
realista, relativos à vida de um renomado escritor. e) na resistência de Rubião aos criados estrangeiros,
b) representações generalizadas acerca da vida de que reproduz o sentimento de xenofobia.
membros da sociedade por seus trabalhos e vida
cotidiana. 19. (Enem 2010) “Todas as manhãs quando acordo,
c) explicações da vida de um renomado escritor, com experimento um prazer supremo: o de ser Salvador
estrutura argumentativa, destacando como tema Dalí.”
seus principais feitos.
d) questões controversas e fatos diversos da vida de NÉRET, G. Salvador Dalí. Taschen, 1996.
personalidade histórica, ressaltando sua intimidade
familiar em detrimento Assim escreveu o pintor dos “relógios moles” e das
de seus feitos públicos. “girafas em chamas” em 1931. Esse artista excêntrico
e) apresentação da vida de uma personalidade, deu apoio ao general Franco durante a Guerra Civil
organizada sobretudo pela ordem tipológica da Espanhola e, por esse motivo, foi afastado do
narração, com um estilo marcado por linguagem movimento surrealista por seu líder, André Breton.
objetiva. Dessa forma, Dalí criou seu próprio estilo, baseado na
interpretação dos sonhos e nos estudos de Sigmund
18. (Enem 2010) Capítulo III Freud, denominado “método de interpretação
paranoico”. Esse método era constituído por textos
Um criado trouxe o café. Rubião pegou na visuais que demonstram imagens
xícara e, enquanto lhe deitava açúcar, ia a) do fantástico, impregnado de civismo pelo governo
disfarçadamente mirando a bandeja, que era de prata espanhol, em que a busca pela emoção e pela
lavrada. Prata, ouro, eram os metais que amava de dramaticidade desenvolveram um estilo incomparável.
coração; não gostava de bronze, mas o amigo Palha b) do onírico, que misturava sonho com realidade e
disse-lhe que era matéria de preço, e assim se explica interagia refletindo a unidade entre o consciente e
este par de figuras que aqui está na sala: um o inconsciente como um universo único ou pessoal.
Mefistófeles e um Fausto. Tivesse, porém, de escolher, c) da linha inflexível da razão, dando vazão a uma
escolheria a bandeja, – primor de argentaria, execução forma de produção despojada no traço, na

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LITERATURA

temática e nas formas vinculadas ao real. os bêbados são felizes. Curitiba os considera animais
d) do reflexo que, apesar do termo “paranoico”, possui sagrados, provê as suas necessidades de cachaça e
sobriedade e elegância advindas de uma pirão. No trivial contentavam-se com as sobras do
técnica de cores discretas e desenhos precisos. mercado.
e) da expressão e intensidade entre o consciente e a
liberdade, declarando o amor pela forma de TREVISAN, D. 35 noites de paixão: contos escolhidos. Rio de Janeiro:
BestBolso, 2009 (fragmento).
conduzir o enredo histórico dos personagens
retratados.
Sob diferentes perspectivas, os fragmentos citados são
20. (Enem 2010) Após estudar na Europa, Anita exemplos de uma abordagem literária recorrente na
Malfatti retornou ao Brasil com uma mostra que abalou literatura brasileira do século XX. Em ambos os textos,
a cultura nacional do início do século XX. Elogiada por a) a linguagem afetiva aproxima os narradores dos
seus mestres na Europa, Anita se considerava pronta personagens marginalizados.
para mostrar seu trabalho no Brasil, mas enfrentou as b) a ironia marca o distanciamento dos narradores em
duras críticas de Monteiro Lobato. Com a intenção de relação aos personagens.
criar uma arte que valorizasse a cultura brasileira, Anita c) o detalhamento do cotidiano dos personagens revela
Malfatti e outros artistas modernistas a sua origem social.
a) buscaram libertar a arte brasileira das normas d) o espaço onde vivem os personagens é uma das
acadêmicas europeias, valorizando as cores, a marcas de sua exclusão.
originalidade e os temas nacionais. e) a crítica à indiferença da sociedade pelos
b) defenderam a liberdade limitada de uso da cor, até marginalizados é direta.
então utilizada de forma irrestrita, afetando a
criação artística nacional. 22. (Enem 2010) Texto I
c) representaram a ideia de que a arte deveria copiar
fielmente a natureza, tendo como finalidade a Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza
prática educativa. toda íntima não vos seria revelado por mim se não
d) mantiveram de forma fiel a realidade nas figuras julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este
retratadas, defendendo uma liberdade artística amor assim absoluto e assim exagerado e partilhado
ligada à tradição acadêmica. por todos vos. Nós somos irmãos, nós nos sentimos
e) buscaram a liberdade na composição de suas figuras, parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos
respeitando limites de temas abordados. povoados, não porque soframos, com a dor e os
desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une,
21. (Enem 2010) Texto I nivela e agremia o amor da rua. E este mesmo o
sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que,
Logo depois transferiram para o trapiche o como a própria vida, resiste as idades e as épocas.
depósito dos objetos que o trabalho do dia lhes
proporcionava. RIO. J. A rua. In: A alma encantadora das ruas. São
Estranhas coisas entraram então para o Paulo: Companhia das Letras, 2008 (fragmento).
trapiche. Não mais estranhas, porém, que aqueles
meninos, moleques de todas as cores e de idades as Texto II
mais variadas, desde os nove aos dezesseis anos, que à
noite se estendiam pelo assoalho e por debaixo da A rua dava-lhe uma forca de fisionomia, mais
ponte e dormiam, indiferentes ao vento que circundava consciência dela. Como se sentia estar no seu reino, na
o casarão uivando, indiferentes à chuva que muitas região em que era rainha e imperatriz. O olhar cobiçoso
vezes os lavava, mas com os olhos puxados para as dos homens e o de inveja das mulheres acabavam o
luzes dos navios, com os ouvidos presos às canções que sentimento de sua personalidade, exaltavam-no ate.
vinham das embarcações... Dirigiu-se para a rua do Catete com o seu passo miúdo
e solido. [...] No caminho trocou cumprimento com as
AMADO, J. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia raparigas pobres de uma casa de cômodos da
das Letras, 2008 (fragmento). vizinhança.
[...] E debaixo dos olhares maravilhados das
pobres raparigas, ela continuou o seu caminho,
Texto II arrepanhando a saia, satisfeita que nem uma duquesa
atravessando os seus domínios.
À margem esquerda do rio Belém, nos fundos
do mercado de peixe, ergue-se o velho ingazeiro – ali BARRETO, L. Um e outro. in: Clara dos Anjos. Rio de
Janeiro: Editora Mérito (fragmento).

9
LITERATURA

c) ironia do padre a respeito da senhora, que era


A experiência urbana e um tema recorrente em perversa com as crianças.
crônicas, contos e romances do final do século XIX e d) resistência da senhora em aceitar a liberdade dos
início do XX, muitos dos quais elegem a rua para negros, evidenciada no final do texto.
explorar essa experiência. Nos fragmentos I e II, a rua é e) rejeição aos criados por parte da senhora, que
vista, respectivamente, como lugar que
preferia tratá-los com castigos.
a) desperta sensações contraditórias e desejo de
reconhecimento.
b) favorece o cultivo da intimidade e a exposição dos 24. (Enem 2009) Cárcere das almas
dotes físicos.
c) possibilita vínculos pessoais duradouros e encontros Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
casuais.
Soluçando nas trevas, entre as grades
d) propicia o sentido de comunidade e a exibição
pessoal. Do calabouço olhando imensidades,
e) promove o anonimato e a segregação social. Mares, estrelas, tardes, natureza.

23. (Enem 2010) Negrinha


Tudo se veste de uma igual grandeza
Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Quando a alma entre grilhões as liberdades
Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e Sonha e, sonhando, as imortalidades
olhos assustados. Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.
Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus
primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da
cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre Ó almas presas, mudas e fechadas
escondida, que a patroa não gostava de crianças. Nas prisões colossais e abandonadas,
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na
igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas
as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de Nesses silêncios solitários, graves,
jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, que chaveiro do Céu possui as chaves
dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa
para abrir-vos as portas do Mistério?!
senhora em suma – “dama de grandes virtudes
apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o
reverendo. CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis:
Ótima, a dona Inácia. Fundação Catarinense de Cultura / Fundação Banco do
Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha- Brasil, 1993.
lhe os nervos em carne viva.
Os elementos formais e temáticos relacionados ao
[...]
contexto cultural do Simbolismo encontrados no
A excelente dona Inácia era mestra na arte de
judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de poema Cárcere das almas, de Cruz e Sousa, são
escravos – e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o
bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime a) a opção pela abordagem, em linguagem simples e
novo – essa indecência de negro igual. direta, de temas filosóficos.
b) a prevalência do lirismo amoroso e intimista em
LOBATO, M. Negrinha. In: MORICONE, I. Os cem relação à temática nacionalista.
melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: c) o refinamento estético da forma poética e o
Objetiva, 2000 (fragmento). tratamento metafísico de temas universais.
d) a evidente preocupação do eu lírico com a realidade
A narrativa focaliza um momento histórico-social de social expressa em imagens poéticas inovadoras.
valores contraditórios. Essa contradição infere-se, no e) a liberdade formal da estrutura poética que dispensa
contexto, pela a rima e a métrica tradicionais em favor de temas do
a) falta de aproximação entre a menina e a senhora, cotidiano
preocupada com as amigas.
25. (Enem 2009) No decênio de 1870, Franklin Távora
b) receptividade da senhora para com os padres, mas defendeu a tese de que no Brasil havia duas literaturas
deselegante para com as beatas. independentes dentro da mesma língua: uma do Norte

10
LITERATURA

e outra do Sul, regiões segundo ele muito diferentes [sem horizontes.


por formação histórica, composição étnica, costumes,
modismos linguísticos etc. Por isso, deu aos romances
regionais que publicou o título geral de Literatura do E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
Norte. Em nossos dias, um escritor gaúcho, Viana é doce herança itabirana.
Moog, procurou mostrar com bastante engenho que no
Brasil há, em verdade, literaturas setoriais diversas,
refletindo as características locais. De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
CANDIDO, A. A nova narrativa. A educação pela noite e este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
outros ensaios. São Paulo: Ática, 2003.
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;

Com relação à valorização, no romance regionalista este orgulho, esta cabeça baixa...
brasileiro, do homem e da paisagem de determinadas
regiões nacionais, sabe-se que Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
a) o romance do Sul do Brasil se caracteriza pela
Hoje sou funcionário público.
temática essencialmente urbana, colocando em
relevo a formação do homem por meio da mescla de Itabira é apenas uma fotografia na parede.
características locais e dos aspectos culturais Mas como dói!
trazidos de fora pela imigração europeia.
b) José de Alencar, representante, sobretudo, do ANDRADE, C. D. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova
romance urbano, retrata a temática da urbanização Aguilar, 2003.
das cidades brasileiras e das relações conflituosas Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do
entre as raças.
movimento modernista brasileiro. Com seus poemas,
c) o romance do Nordeste caracteriza-se pelo
acentuado realismo no uso do vocabulário, pelo penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou
temário local, expressando a vida do homem em poeticamente as inquietudes e os dilemas humanos.
face da natureza agreste, e assume frequentemente Sua poesia é feita de uma relação tensa entre o
o ponto de vista dos menos favorecidos. universal e o particular, como se percebe claramente
d) a literatura urbana brasileira, da qual um dos
na construção do poema Confidência do Itabirano.
expoentes é Machado de Assis, põe em relevo a
formação do homem brasileiro, o sincretismo Tendo em vista os procedimentos de construção do
religioso, as raízes africanas e indígenas que texto literário e as concepções artísticas modernistas,
caracterizam o nosso povo. conclui-se que o poema acima
e) Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz, Simões Lopes a) representa a fase heroica do modernismo, devido ao
Neto e Jorge Amado são romancistas das décadas de tom contestatório e à utilização de expressões e
30 e 40 do século XX, cuja obra retrata a usos linguísticos típicos da oralidade.
problemática do homem urbano em confronto com b) apresenta uma característica importante do gênero
a modernização do país promovida pelo Estado lírico, que é a apresentação objetiva de fatos e
Novo. dados históricos.
c) evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua
26. (Enem 2009) Confidência do Itabirano comunidade, por intermédio de imagens que
representam a forma como a sociedade e o mundo
Alguns anos vivi em Itabira. colaboram para a constituição do indivíduo.
d) critica, por meio de um discurso irônico, a posição de
Principalmente nasci em Itabira. inutilidade do poeta e da poesia em comparação
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. com as prendas resgatadas de Itabira.
e) apresenta influências românticas, uma vez que trata
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
da individualidade, da saudade da infância e do
Oitenta por cento de ferro nas almas. amor pela terra natal, por meio de recursos
E esse alheamento do que na vida é porosidade e retóricos pomposos.
[comunicação.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, Canção do vento e da minha vida
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e

11
LITERATURA

O vento varria as folhas, Onde um tempo os gabões deixei grosseiros


O vento varria os frutos, Pelo traje da Corte, rico e fino.
O vento varria as flores...
E a minha vida ficava Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Cada vez mais cheia Os meus fiéis, meus doces companheiros,
De frutos, de flores, de folhas. Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino.
[...]
O vento varria os sonhos Se o bem desta choupana pode tanto,
E varria as amizades... Que chega a ter mais preço, e mais valia
O vento varria as mulheres... Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto.
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia Aqui descanso a louca fantasia,
De afetos e de mulheres. E o que até agora se tornava em pranto
Se converta em afetos de alegria.
O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos... Cláudio Manoel da Costa. In: Domício Proença Filho. A
O vento varria tudo! poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
E a minha vida ficava 2002, p. 78/9.
Cada vez mais cheia
29. (Enem 2008) Assinale a opção que apresenta um
De tudo.
verso do soneto de Cláudio Manoel da Costa em que o
poeta se dirige ao seu interlocutor.
BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: a) "Torno a ver-vos, ó montes: o destino" (v. 1)
José Aguilar, 1967. b) "Aqui estou entre Almendro, entre Corino," (v. 5)
c) "Os meus fiéis, meus doces companheiros," (v. 6)
27. (Enem 2009) Predomina no texto a função da d) "Vendo correr os míseros vaqueiros" (v. 7)
linguagem e) "Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto." (v. 11)
a) fática, porque o autor procura testar o canal de
comunicação. 30. (Enem 2008) Considerando o soneto de Cláudio
b) metalinguística, porque há explicação do significado Manoel da Costa e os elementos constitutivos do
das expressões. Arcadismo brasileiro, assinale a opção correta acerca
c) conativa, uma vez que o leitor é provocado a da relação entre o poema e o momento histórico de
participar de uma ação. sua produção.
d) referencial, já que são apresentadas informações
sobre acontecimentos e fatos reais. a) Os "montes" e "outeiros", mencionados na primeira
e) poética, pois chama-se a atenção para a elaboração estrofe, são imagens relacionadas à Metrópole, ou
especial e artística da estrutura do texto. seja, ao lugar onde o poeta se vestiu com traje "rico
e fino".
28. (Enem 2009) Na estruturação do texto, destaca-se b) A oposição entre a Colônia e a Metrópole, como
a) a construção de oposições semânticas. núcleo do poema, revela uma contradição
b) a apresentação de ideias de forma objetiva. vivenciada pelo poeta, dividido entre a civilidade do
c) o emprego recorrente de figuras de linguagem, como mundo urbano da Metrópole e a rusticidade da terra
o eufemismo. da Colônia.
d) a repetição de sons e de construções sintáticas c) O bucolismo presente nas imagens do poema é
semelhantes. elemento estético do Arcadismo que evidencia a
e) a inversão da ordem sintática das palavras. preocupação do poeta árcade em realizar uma
representação literária realista da vida nacional.
d) A relação de vantagem da "choupana" sobre a
"Cidade", na terceira estrofe, é formulação literária
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: que reproduz a condição histórica paradoxalmente
Torno a ver-vos, ó montes: o destino vantajosa da Colônia sobre a Metrópole.
Aqui me torna a pôr nestes outeiros,

12
LITERATURA

e) A realidade de atraso social, político e econômico do d) Antonio Rocco retrata de forma otimista a imigração,
Brasil Colônia está representada esteticamente no destacando o pioneirismo do imigrante.
poema pela referência, na última estrofe, à
transformação do pranto em alegria e) Oswald de Andrade mostra que a condição de vida
do imigrante era melhor que a dos ex-escravos.
31. (Enem 2007)
32. (Enem 2007) Sobre a exposição de Anita Malfatti,
em 1917, que muito influenciaria a Semana de Arte
Moderna, Monteiro Lobato escreveu, em artigo
intitulado Paranoia ou Mistificação:

Há duas espécies de artistas. Uma composta


dos que veem as coisas e em consequência fazem arte
pura, guardados os eternos ritmos da vida, e adotados,
para a concretização das emoções estéticas, os
processos clássicos dos grandes mestres. (...) A outra
espécie é formada dos que veem anormalmente a
natureza e a interpretam à luz das teorias efêmeras,
Um dia, os imigrantes aglomerados na amurada da
sob a sugestão estrábica das escolas rebeldes, surgidas
proa chegavam à fedentina quente de um porto, num
cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. (...). Estas
silêncio de mato e de febre amarela. Santos. - É aqui!
considerações são provocadas pela exposição da sra.
Buenos Aires é aqui! - Tinham trocado o rótulo das
Malfatti, onde se notam acentuadíssimas tendências
bagagens, desciam em fila. Faziam suas necessidades
nos trens dos animais onde iam. Jogavam-nos num para uma atitude estética forçada no sentido das
pavilhão comum em São Paulo. - Buenos Aires é aqui! - extravagâncias de Picasso & cia.
Amontoados com trouxas, sanfonas e baús, num carro
de bois, que pretos guiavam através do mato por O Diário de São Paulo, dez./1917.
estradas esburacadas, chegavam uma tarde nas
senzalas donde acabava de sair o braço escravo. Em qual das obras a seguir identifica-se o estilo de
Formavam militarmente nas madrugadas do terreiro Anita Malfatti criticado por Monteiro Lobato no artigo?
homens e mulheres, ante feitores de espingarda ao a)
ombro.

Oswald de Andrade. "Marco Zero II - Chão". Rio de


Janeiro: Globo, 1991.

Levando-se em consideração o texto de Oswald de


Andrade e a pintura de Antonio Rocco reproduzida
acima, relativos à imigração europeia para o Brasil, é
correto afirmar que
a) a visão da imigração presente na pintura é trágica e,
no texto, otimista.
b) a pintura confirma a visão do texto quanto à
imigração de argentinos para o Brasil.
c) os dois autores retratam dificuldades dos imigrantes
na chegada ao Brasil.

13
LITERATURA

b) - Quem há, como eu sou?

Gonçalves Dias.

MACUNAÍMA
(Epílogo)

Acabou-se a história e morreu a vitória.


Não havia mais ninguém lá. Dera
tangolomângolo na tribo Tapanhumas e os filhos dela
c) se acabaram de um em um. Não havia mais ninguém lá.
Aqueles lugares, aqueles campos, furos puxadouros
arrastadouros meios-barrancos, aqueles matos
misteriosos, tudo era solidão do deserto... Um silêncio
imenso dormia à beira do rio Uraricoera. Nenhum
conhecido sobre a terra não sabia nem falar da tribo
nem contar aqueles casos tão pançudos. Quem podia
d) saber do Herói?

Mário de Andrade.

33. (Enem 2007) A leitura comparativa dos dois textos


indica que
a) ambos têm como tema a figura do indígena
brasileiro apresentada de forma realista e heroica,
como símbolo máximo do nacionalismo romântico.
b) a abordagem da temática adotada no texto escrito
em versos é discriminatória em relação aos povos
indígenas do Brasil.
c) as perguntas "- Quem há, como eu sou?" (10. texto)
e "Quem podia saber do Herói?" (20. texto)
e) expressam diferentes visões da realidade indígena
brasileira.
d) o texto romântico, assim como o modernista, aborda
o extermínio dos povos indígenas como resultado do
processo de colonização no Brasil.
e) os versos em primeira pessoa revelam que os
indígenas podiam expressar-se poeticamente, mas
foram silenciados pela colonização, como demonstra
a presença do narrador, no segundo texto.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


Texto I
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Agora Fabiano conseguia arranjar as ideias. O
O CANTO DO GUERREIRO
que o segurava era a família. Vivia preso como um
Aqui na floresta novilho amarrado ao mourão, suportando ferro
Dos ventos batida, quente. Se não fosse isso, um soldado amarelo não lhe
Façanhas de bravos pisava o pé não. (...) Tinha aqueles cambões
Não geram escravos, pendurados ao pescoço. Deveria continuar a arrastá-
Que estimem a vida los? Sinha Vitória dormia mal na cama de varas. Os
Sem guerra e lidar. meninos eram uns brutos, como o pai. Quando
- Ouvi-me, Guerreiros, crescessem, guardariam as reses de um patrão
- Ouvi meu cantar.
invisível, seriam pisados, maltratados, machucados por
Valente na guerra, um soldado amarelo.
Quem há, como eu sou? Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo: Martins, 23ª
Quem vibra o tacape ed., 1969, p. 75.
Com mais valentia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
- Guerreiros, ouvi-me;

14
LITERATURA

d) linguagem formal com recursos retóricos próprios do


Texto II texto literário em prosa, para analisar determinado
momento da literatura brasileira.
Para Graciliano, o roceiro pobre é um outro, e) linguagem regionalista, para transmitir informações
sobre literatura, valendo-se de coloquialismo, para
enigmático, impermeável. Não há solução fácil para
facilitar o entendimento do texto.
uma tentativa de incorporação dessa figura no campo
da ficção. É lidando com o impasse, ao invés de fáceis 36. (Enem 2006)
soluções, que Graciliano vai criar Vidas Secas, NAMORADOS
elaborando uma linguagem, uma estrutura romanesca,
uma constituição de narrador em que narrador e O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
criaturas se tocam, mas não se identificam. Em grande - Antônia, ainda não me acostumei com o seu
medida, o debate acontece porque, para a [corpo, com a sua cara.
intelectualidade brasileira naquele momento, o pobre, A moça olhou de lado e esperou.
- Você não sabe quando a gente é criança e de
a despeito de aparecer idealizado em certos aspectos,
[repente vê uma lagarta listrada?
ainda é visto como um ser humano de segunda A moça se lembrava:
categoria, simples demais, incapaz de ter pensamentos - A gente fica olhando...
demasiadamente complexos. O que "Vidas Secas" faz é, A meninice brincou de novo nos olhos dela.
com pretenso não envolvimento da voz que controla a O rapaz prosseguiu com muita doçura:
narrativa, dar conta de uma riqueza humana de que - Antônia, você parece uma lagarta listrada.
essas pessoas seriam plenamente capazes. A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In: Teresa. São O rapaz concluiu:
Paulo: USP, nº 2, 2001, p. 254. - Antônia, você é engraçada! Você parece louca.

Manuel Bandeira. Poesia completa & prosa. Rio de


Janeiro: Nova Aguilar, 1985.
34. (Enem 2007) A partir do trecho de "Vidas Secas"
(texto I) e das informações do texto II, relativas às No poema de Bandeira, importante representante da
concepções artísticas do romance social de 1930, avalie poesia modernista, destaca-se como característica da
as seguintes afirmativas. escola literária dessa época
a) a reiteração de palavras como recurso de construção
I. O pobre, antes tratado de forma exótica e folclórica de rimas ricas.
pelo regionalismo pitoresco, transforma-se em b) a utilização expressiva da linguagem falada em
situações do cotidiano.
protagonista privilegiado do romance social de 30. c) a criativa simetria de versos para reproduzir o ritmo
II. A incorporação do pobre e de outros marginalizados do tema abordado.
indica a tendência da ficção brasileira da década de d) a escolha do tema do amor romântico,
30 de tentar superar a grande distância entre o caracterizador do estilo literário dessa época.
intelectual e as camadas populares. e) o recurso ao diálogo, gênero discursivo típico do
III. Graciliano Ramos e os demais autores da década de Realismo.
30 conseguiram, com suas obras, modificar a
posição social do sertanejo na realidade nacional. 37. (Enem 2006)
ERRO DE PORTUGUÊS
É correto apenas o que se afirma em Quando o português chegou
a) I. Debaixo de uma bruta chuva
b) II. Vestiu o índio
c) III. Que pena!
d) I e II. Fosse uma manhã de Sol
e) II e III.
O índio tinha despido
35. (Enem 2007) No texto II, verifica-se que o autor O português.
utiliza
a) linguagem predominantemente formal, para Oswald de Andrade. Poesias reunidas. Rio de
problematizar, na composição de "Vidas Secas", a Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
relação entre o escritor e o personagem popular.
b) linguagem inovadora, visto que, sem abandonar a O primitivismo observável no poema anterior, de
linguagem formal, dirige-se diretamente ao leitor. Oswald de Andrade, caracteriza de forma marcante
c) linguagem coloquial, para narrar coerentemente a) o regionalismo do Nordeste.
uma história que apresenta o roceiro pobre de
b) o concretismo paulista.
forma pitoresca.
c) a poesia Pau-Brasil.

15
LITERATURA

d) o simbolismo pré-modernista. convive com marcas de regionalismo e de


e) o tropicalismo baiano. coloquialismo no vocabulário. Pertence à variedade do
padrão formal da linguagem o seguinte trecho:

38. (Enem 2006) No poema "Procura da poesia",


Carlos Drummond de Andrade expressa a concepção a) "Não se conformou: devia haver engano" (ref. 1).
estética de se fazer com palavras o que o escultor b) "e Fabiano perdeu os estribos" (ref. 2).
Michelangelo fazia com mármore. O fragmento a seguir c) "Passar a vida inteira assim no toco" (ref. 3).
exemplifica essa afirmação. d) "entregando o que era dele de mão beijada!" (ref. 4).
e) "Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou" (ref. 5).
"(...)
Penetra surdamente no reino das palavras. 40. (Enem 2005) Leia o texto e examine a ilustração:
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
(...) ÓBITO DO AUTOR
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma (....) expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira
tem mil faces secretas sob a face neutra do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de
e te pergunta, sem interesse pela resposta, Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e
pobre ou terrível, que lhe deres: prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos
trouxeste a chave?" contos e fui acompanhado ao cemitério por onze
amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas
Carlos Drummond de Andrade. A rosa do povo. nem anúncios. Acresce que chovia - peneirava - uma
Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 13-14. chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão
triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a
Esse fragmento poético ilustra o seguinte tema intercalar esta engenhosa ideia no discurso que
constante entre autores modernistas: proferiu à beira de minha cova: -"Vós, que o
conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo
a) a nostalgia do passado colonialista revisitado. que a natureza parece estar chorando a perda
b) a preocupação com o engajamento político e social irreparável de um dos mais belos caracteres que tem
da literatura. honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do
c) o trabalho quase artesanal com as palavras, céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como
despertando sentidos novos. um crepe funéreo, tudo isto é a dor crua e má que lhe
d) a produção de sentidos herméticos na busca da rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é
perfeição poética. um sublime louvor ao nosso ilustre finado." (....)
e) a contemplação da natureza brasileira na
perspectiva ufanista da pátria. (Adaptado. Machado de Assis. Memórias póstumas de
Brás Cubas. Ilustrado por Cândido Portinari. Rio de
39. (Enem 2006) No romance Vidas Secas, de Janeiro: Cem Bibliófilos do Brasil, 1943. p.1.)
Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano encontra-se com
o patrão para receber o salário. Eis parte da cena:
1
Não se conformou: devia haver engano. (...) Com
certeza havia um erro no papel do branco. Não se
2 3
descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar
4
a vida inteira assim no toco, entregando o que era
dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar
como negro e nunca arranjar carta de alforria?
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom
que o vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda.
5
Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem.
Não era preciso barulho não.
a
Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91 ed. Rio de
Janeiro: Record, 2003.
Compare o texto de Machado de Assis com a ilustração
No fragmento transcrito, o padrão formal da linguagem
de Portinari.

16
LITERATURA

É correto afirmar que a ilustração do pintor adaptações).

a) apresenta detalhes ausentes na cena descrita no Na construção da personagem "velha Totonha", é


texto verbal. possível identificar traços que revelam marcas do
b) retrata fielmente a cena descrita por Machado de processo de colonização e de civilização do país.
Assis. Considerando o texto acima, infere-se que a velha
c) distorce a cena descrita no romance. Totonha
d) expressa um sentimento inadequado à situação.
e) contraria o que descreve Machado de Assis. a) tira o seu sustento da produção da literatura, apesar
de suas condições de vida e de trabalho, que
41. (Enem 2005) As dimensões continentais do Brasil denotam que ela enfrenta situação econômica
são objeto de reflexões expressas em diferentes muito adversa.
linguagens. Esse tema aparece no seguinte poema: b) compõe, em suas histórias, narrativas épicas e
realistas da história do país colonizado, livres da
"(...) influência de temas e modelos não representativos
Que importa que uns falem mole descansado da realidade nacional.
Que os cariocas arranhem os erres na garganta c) retrata, na constituição do espaço dos contos, a
Que os capixabas e paroaras escancarem as [vogais?] civilização urbana europeia em concomitância com a
Que tem se o quinhentos réis meridional representação literária de engenhos, rios e florestas
Vira cinco tostões do Rio pro Norte? do Brasil.
Junto formamos este assombro de misérias e d) aproxima-se, ao incluir elementos fabulosos nos
[grandezas], contos, do próprio romancista, o qual pretende
Brasil, nome de vegetal! (...)" retratar a realidade brasileira de forma tão
grandiosa quanto a europeia.
(Mário de Andrade. Poesias completas. 6a ed. e) imprime marcas da realidade local a suas narrativas,
São Paulo: Martins Editora, 1980.) que têm como modelo e origem as fontes da
literatura e da cultura europeia universalizada.
O texto poético ora reproduzido trata das diferenças
brasileiras no âmbito TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
a) étnico e religioso. Leia estes poemas.
b) linguístico e econômico.
c) racial e folclórico. Texto 1 - AUTO-RETRATO
d) histórico e geográfico.
e) literário e popular. Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
42. (Enem 2005) A velha Totonha de quando em vez Pernambucano a quem repugna
batia no engenho. E era um acontecimento para a A faca do pernambucano;
meninada... Que talento ela possuía para contar as suas Poeta ruim que na arte da prosa
histórias, com um jeito admirável de falar em nome de Envelheceu na infância da arte,
todos os personagens, sem nenhum dente na boca, e E até mesmo escrevendo crônicas
com uma voz que dava todos os tons às palavras! Ficou cronista de província;
Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e Arquiteto falhado, músico
forca e adivinhações. E muito da vida, com as suas Falhado (engoliu um dia
maldades e as suas grandezas, a gente encontrava Um piano, mas o teclado
naqueles heróis e naqueles intrigantes, que eram Ficou de fora); sem família,
sempre castigados com mortes horríveis! O que fazia a Religião ou filosofia;
velha Totonha mais curiosa era a cor local que ela Mal tendo a inquietação de espírito
punha nos seus descritivos. Quando ela queria pintar Que vem do sobrenatural,
um reino era como se estivesse falando dum engenho E em matéria de profissão
fabuloso. Os rios e florestas por onde andavam os seus Um tísico* profissional.
personagens se pareciam muito com a Paraíba e a (Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de
Mata do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor de Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)
engenho de Pernambuco.
(*) tísico = tuberculoso
José Lins do Rego. Menino de Engenho. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1980, p. 49-51 (com

17
LITERATURA

Texto 2 - POEMA DE SETE FACES novo domínio conquistado,


onde busque nossa paixão
Quando eu nasci, um anjo torto libertar-se por todo lado...
desses que vivem na sombra
Onde a alma possa descrever
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
suas mais divinas parábolas
sem fugir à forma do ser,
As casas espiam os homens por sobre o mistério das fábulas.
que correm atrás de mulheres. (Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de
A tarde talvez fosse azul, Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)
não houvesse tantos desejos.
(....) 45. (Enem 2005) A definição de dança, em linguagem
Meu Deus, por que me abandonaste de dicionário, que mais se aproxima do que está
se sabias que eu não era Deus expresso no poema é
se sabias que eu era fraco. a) a mais antiga das artes, servindo como elemento de
Mundo mundo vasto mundo, comunicação e afirmação do homem em todos os
se eu me chamasse Raimundo momentos de sua existência.
seria uma rima, não seria uma solução. b) a forma de expressão corporal que ultrapassa os
Mundo mundo vasto mundo limites físicos, possibilitando ao homem a liberação
mais vasto é o meu coração. de seu espírito.
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de c) a manifestação do ser humano, formada por uma
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 53.) sequência de gestos, passos e movimentos
desconcertados.
d) o conjunto organizado de movimentos do corpo,
43. (Enem 2005) No verso "Meu Deus, por que me com ritmo determinado por instrumentos musicais,
abandonaste" do texto 2, Drummond retoma as ruídos, cantos, emoções etc.
palavras de Cristo, na cruz, pouco antes de morrer. Esse e) o movimento diretamente ligado ao psiquismo do
recurso de repetir palavras de outrem equivale a indivíduo e, por consequência, ao seu
a) emprego de termos moralizantes. desenvolvimento intelectual e à sua cultura.
b) uso de vício de linguagem pouco tolerado.
c) repetição desnecessária de ideias. 46. (Enem 2005) O poema "A Dança e a Alma" é
d) emprego estilístico da fala de outra pessoa. construído com base em contrastes, como
e) uso de uma pergunta sem resposta. "movimento" e "concentração". Em uma das estrofes,
o termo que estabelece contraste com solo é:
44. (Enem 2005) Esses poemas têm em comum o fato a) éter.
de b) seiva.
a) descreverem aspectos físicos dos próprios autores. c) chão.
b) refletirem um sentimento pessimista. d) paixão.
c) terem a doença como tema. e) ser.
d) narrarem a vida dos autores desde o nascimento.
e) defenderem crenças religiosas. 47. (Enem 2004)

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


A DANÇA E A ALMA

A DANÇA? Não é movimento,


súbito gesto musical.
É concentração, num momento,
da humana graça natural. Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no
No solo não, no éter pairamos, Universo...
nele amaríamos ficar. Por isso minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque sou do tamanho do que vejo
A dança - não vento nos ramos;
E não do tamanho da minha altura...
seiva, força, perene estar. (Alberto Caeiro)
Um estar entre céu e chão,

18
LITERATURA

A tira "Hagar" e o poema de Alberto Caeiro (um dos


heterônimos de Fernando Pessoa) expressam, com 49. (Enem 2003) Pequenos tormentos da vida
linguagens diferentes, uma mesma ideia: a de que a De cada lado da sala de aula, pelas janelas altas, o
compreensão que temos do mundo é condicionada, azul convida os meninos,
essencialmente, as nuvens desenrolam-se, lentas como quem vai
inventando
preguiçosamente uma história sem fim...
a) pelo alcance de cada cultura. Sem fim é a aula: e nada acontece,
b) pela capacidade visual do observador. nada... Bocejos e moscas. Se, ao menos, pensa
c) pelo senso de humor de cada um. Margarida, se ao menos um
d) pela idade do observador. avião entrasse por uma janela e saísse por outra!
e) pela altura do ponto de observação.
(Mário Quintana, Poesias)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Brasil Na cena retratada no texto, o sentimento do tédio:
a) provoca que os meninos fiquem contando histórias.
O Zé Pereira chegou de caravela
b) leva os alunos a simularem bocejos, em protesto
E preguntou pro guarani da mata virgem contra a monotonia da aula.
- Sois cristão? c) acaba estimulando a fantasia, criando a expectativa
de algum imprevisto mágico.
- Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte d) prevalece de modo absoluto, impedindo até mesmo
Teterê tetê Quizá Quizá Quecê! a distração ou o exercício do pensamento.
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu! e) decorre da morosidade da aula, em contraste com o
movimento acelerado das nuvens e das moscas.
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu 50. (Enem 2003) Eu começaria dizendo que poesia é
uma questão de linguagem. A importância do poeta é
- Sim pela graça de Deus
que ele torna mais viva a linguagem. Carlos Drummond
- Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum! de Andrade escreveu um dos mais belos versos da
E fizeram o Carnaval língua portuguesa com duas palavras comuns: cão e
cheirando.
(Oswald de Andrade)
Um cão cheirando o futuro
48. (Enem 2004) Este texto apresenta uma versão (Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP,
24/05/1988. adaptação)
humorística da formação do Brasil, mostrando-a como
uma junção de elementos diferentes. Considerando-se O que deu ao verso de Drummond o caráter de
esse aspecto, é correto afirmar que a visão inovador da língua foi:
apresentada pelo texto é
a) o modo raro como foi tratado o "futuro".
a) ambígua, pois tanto aponta o caráter desconjuntado b) a referência ao cão como "animal de estimação".
da formação nacional, quanto parece sugerir que esse c) a flexão pouco comum do verbo "cheirar" (gerúndio).
processo, apesar de tudo, acaba bem. d) a aproximação não-usual do agente citado e a ação
b) inovadora, pois mostra que as três raças formadoras de "cheirar".
- portugueses, negros e índios - pouco contribuíram e) o emprego do artigo indefinido "um" e do artigo
para a formação da identidade brasileira. definido "o" na mesma frase.
c) moralizante, na medida em que aponta a
precariedade da formação cristã do Brasil como 51. (Enem 2003) A velha Totonha de quando em vez
causa da predominância de elementos primitivos e batia no engenho. E era um acontecimento para a
pagãos. meninada. (..) andava léguas e léguas a pé, de engenho
d) preconceituosa, pois critica tanto índios quanto a engenho, como uma edição viva das histórias de Mil e
negros, representando de modo positivo apenas o Uma Noites (..) era uma grande artista para dramatizar.
elemento europeu, vindo com as caravelas. Tinha uma memória de prodígio. Recitava contos
e) negativa, pois retrata a formação do Brasil como inteiros em versos, intercalando pedaços de prosa,
incoerente e defeituosa, resultando em anarquia e como notas explicativas. (..) Havia sempre rei e rainha,
falta de seriedade. nos seus contos, e forca e adivinhações. O que fazia a

19
LITERATURA

velha Totonha mais curiosa era a cor local que ela é a:


punha nos seus descritivos. (..) Os rios e as florestas por a) infantilidade do ser humano.
onde andavam os seus personagens se pareciam muito b) destruição da natureza.
com o Paraíba e a Mata do Rolo. O seu Barba-Azul era c) exaltação da violência.
um senhor de engenho de Pernambuco. d) inutilidade do trabalho.
e) brevidade da vida.
A cor local que a personagem velha Totonha colocava 54. (Enem 2002) Érico Veríssimo relata, em suas
em suas histórias é ilustrada, pelo autor, na seguinte memórias, um episódio da adolescência que teve
passagem: influência significativa em sua carreira de escritor.
a) "O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de
Pernambuco". "Lembro-me de que certa noite - eu teria uns quatorze
b) "Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca anos, quando muito - encarregaram-me de segurar
e adivinhações". uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de
c) "Era uma grande artista para dramatizar. Tinha uma operações, enquanto um médico fazia os primeiros
memória de prodigio". curativos num pobre-diabo que soldados da Polícia
d) "Andava léguas e léguas a pé, como uma edição viva Municipal haviam "carneado". (...) Apesar do horror e
das Mil e Uma Noites". da náusea, continuei firme onde estava, talvez
e) "Recitava contos inteiros em versos, intercalando pensando assim: se esse caboclo pode aguentar tudo
pedaços de prosa, como notas explicativas". isso sem gemer, por que não hei de poder ficar
segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: costurar esses talhos e salvar essa vida? (...)
Epígrafe* Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-
me animado até hoje a ideia de que o menos que o
Murmúrio de água na clepsidra** gotejante, escritor pode fazer, numa época de atrocidades e
Lentas gotas de som no relógio da torre, injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer
luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que
Fio de areia na ampulheta vigilante,
sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos
Leve sombra azulando a pedra do quadrante*** assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a
Assim se escoa a hora, assim se vive e morre... despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma
Homem, que fazes tu? Para que tanta lida, lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou,
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça? em último caso, risquemos fósforos repetidamente,
Procuremos somente a Beleza, que a vida como um sinal de que não desertamos nosso posto."
É um punhado infantil de areia ressequida,
(VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I.
Um som de água ou de bronze e uma sombra que Porto Alegre: Editora Globo, 1978.)
passa...
(Eugênio de Castro. "Antologia pessoal da poesia Neste texto, por meio da metáfora da lâmpada que
portuguesa") ilumina a escuridão, Érico Veríssimo define como uma
das funções do escritor e, por extensão, da literatura,
(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto mais alto; a) criar a fantasia.
tema. b) permitir o sonho.
(**) Clepsidra: relógio de água. c) denunciar o real.
d) criar o belo.
(***) Pedra do quadrante: parte superior de um relógio
e) fugir da náusea.
de sol.
55. (Enem 2002)
52. (Enem 2003) A imagem contida em "lentas gotas Miguilim
de som" (verso 2) é retomada na segunda estrofe por
meio da expressão: "De repente lá vinha um homem a cavalo. Eram dois.
a) tanta ameaça. Um senhor de fora, o claro de roupa. Miguilim saudou,
b) som de bronze. pedindo a bênção. O homem trouxe o cavalo cá bem
c) punhado de areia. junto. Ele era de óculos, corado, alto, com um chapéu
d) sombra que passa. diferente, mesmo.
e) somente a Beleza. - Deus te abençoe, pequenino. Como é teu nome?
- Miguilim. Eu sou irmão do Dito.
53. (Enem 2003) Neste poema, o que leva o poeta a - E o seu irmão Dito é o dono daqui?
questionar determinadas ações humanas (versos 6 e 7)

20
LITERATURA

- Não, meu senhor. O Ditinho está em glória. principalmente, efeitos de


O homem esbarrava o avanço do cavalo, que era a) esvaziamento de sentido.
zelado, manteúdo, formoso como nenhum outro. b) monotonia do ambiente.
Redizia: c) estaticidade dos animais.
- Ah, não sabia, não. Deus o tenha em sua guarda... d) interrupção dos movimentos.
Mas que é que há, Miguilim? e) dinamicidade do cenário.
Miguilim queria ver se o homem estava mesmo
sorrindo para ele, por isso é que o encarava.
- Por que você aperta os olhos assim? Você não é limpo 57. (Enem 2001) No trecho abaixo, o narrador, ao
de vista? Vamos até lá. Quem é que está em tua casa? descrever a personagem, critica sutilmente um outro
- É Mãe, e os meninos... estilo de época: o romantismo.
Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos. O senhor
alto e claro se apeou. O outro, que vinha com ele, era "Naquele tempo contava apenas uns quinze ou
um camarada. O senhor perguntava à Mãe muitas dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da
coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo: - nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não
'Miguilim, espia daí: quantos dedos da minha mão você digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as
está enxergando? E agora?" mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em
que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às
(ROSA, João Guimarães. Manuelzão e sardas e espinhas; mas também não digo que lhe
Miguilim. 9a ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.) maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era
bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia
Esta história, com narrador observador em terceira daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo
pessoa, apresenta os acontecimentos da perspectiva de passa a outro indivíduo, para os fins secretos da
Miguilim. O fato de o ponto de vista do narrador ter criação."
Miguilim como referência, inclusive espacial, fica
explicitado em: (ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de
a) "O homem trouxe o cavalo cá bem junto." Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson, 1957.)
b) "Ele era de óculos, corado, alto (...)"
c) "O homem esbarrava o avanço do cavalo, (...)" A frase do texto em que se percebe a crítica do
d) "Miguilim queria ver se o homem estava mesmo narrador ao romantismo está transcrita na alternativa:
sorrindo para ele, (...)" a) ... o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às
e) "Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos" sardas e espinhas...
b) era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça...
56. (Enem 2002) "Narizinho correu os olhos pela c) Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia
assistência. Não podia haver nada mais curioso. daquele feitiço, precário e eterno, ...
Besourinhos de fraque e flores na lapela conversavam d) Naquele tempo contava apenas uns quinze ou
com baratinhas de mantilha e miosótis nos cabelos. dezesseis anos ...
Abelhas douradas, verdes e azuis, falavam mal das e) ... o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins
vespas de cintura fina - achando que era exagero secretos da criação.
usarem coletes tão apertados. Sardinhas aos centos
criticavam os cuidados excessivos que as borboletas de 58. (Enem 2001)
toucados de gaze tinham com o pó das suas asas. O mundo é grande
Mamangavas de ferrões amarrados para não O mundo é grande e cabe
morderem. E canários cantando, e beija-flores beijando Nesta janela sobre o mar.
flores, e camarões camaronando, e caranguejos O mar é grande e cabe
caranguejando, tudo que é pequenino e não morde, Na cama e no colchão de amar.
pequeninando e não mordendo." O amor é grande e cabe
No breve espaço de beijar
(LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. ANDRADE, Carlos Drummond de.
São Paulo: Brasiliense, 1947.) Poesia e prosa. Rio de Janeiro. Nova Aguilar 1983.
Neste poema, o poeta realizou uma opção estilística: a
No último período do trecho, há uma série de verbos reiteração de determinadas construções e expressões
no gerúndio que contribuem para caracterizar o linguísticas, como o uso da mesma conjunção para
ambiente fantástico descrito. estabelecer a relação entre as frases. Essa conjunção
Expressões como "camaronando", "caranguejando" e estabelece, entre as ideias relacionadas, um sentido de
"pequeninando e não mordendo" criam, a) oposição.

21
LITERATURA

b) comparação. itens do ideário modernista, que é o de firmar a feição


c) conclusão. de uma língua mais autêntica, "brasileira", ao
d) alternância. expressar-se numa variante de linguagem popular
e) finalidade. identificada pela(o):
a) escolha de palavras como cio, peitaria, vergonha.
59. (Enem 2001) OXÍMORO (ou PARADOXO) é uma b) emprego da pontuação.
construção textual que agrupa significados que se c) repetição do adjetivo bastante.
excluem mutuamente. Para Garfield, a frase de d) concordância empregada em “assim está escrito.”
saudação de Jon (tirinha a seguir) expressa o maior de e) escolha de construção do tipo “precisa-se gentes.”
todos os oxímoros.

61. (Enem 2000) "Poética", de Manuel Bandeira, é


quase um manifesto do movimento modernista
brasileiro de 1922. No poema, o autor elabora críticas e
propostas que representam o pensamento estético
predominante na época.

Poética

Estou farto do lirismo comedido


Nas alternativas a seguir, estão transcritos versos Do lirismo bem comportado
retirados do poema "O operário em construção". Pode- Do lirismo funcionário público com livro de ponto
se afirmar que ocorre um oxímoro em expediente protocolo e
a) "Era ele que erguia casas [manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Onde antes só havia chão."
b) "... a casa que ele fazia Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no
Sendo a sua liberdade dicionário
Era sua escravidão." [o cunho vernáculo de um vocábulo
c) "Naquela casa vazia Abaixo os puristas
Que ele mesmo levantara .........................................................................................
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava." Quero antes o lirismo dos loucos
d) "... o operário faz a coisa O lirismo dos bêbedos
E a coisa faz o operário." O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
e) "Ele, um humilde operário O lirismo dos clowns de Shakespeare
Um operário que sabia
Exercer a profissão." - Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
(MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:
Companhia das Letras, 1992.) (BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa.
Rio de Janeiro. Aguilar, 1974)
60. (Enem 2000) "Precisa-se nacionais sem
nacionalismo, (...) movido pelo presente mas estalando Com base na leitura do poema, podemos afirmar
naquele cio racial que só as tradições maduram! (...). corretamente que o poeta:
Precisa-se gentes com bastante meiguice no a) critica o lirismo louco do movimento modernista.
sentimento, bastante força na peitaria, bastante b) critica todo e qualquer lirismo na literatura.
paciência no entusiasmo e sobretudos, oh! sobretudo c) propõe o retorno ao lirismo do movimento clássico.
bastante vergonha na cara! d) propõe o retomo ao lirismo do movimento
(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim está escrito no romântico.
anúncio vistoso de cores desesperadas pintado sobre o e) Propõe a criação de um novo lirismo.
corpo do nosso Brasil, camaradas."
62. (Enem 2000) O uso do pronome átono no início das
(Jornal "A Noite", São Paulo, 18/12/1925 apud frases é destacado por um poeta e por um gramático
LOPES, Telê Porto Ancona. Mário de Andrade: ramais e nos textos a seguir.
caminho São Paulo: Duas Cidades, 1972)
PRONOMINAIS
No trecho acima, Mário de Andrade dá forma a um dos

22
LITERATURA

Dê-me um cigarro A palavra mesmo pode assumir diferentes significados,


Diz a gramática de acordo com a sua função na frase. Assinale a
Do professor e do aluno alternativa em que o sentido de mesmo equivale ao
0 a
E do mulato sabido que se verifica no 3 . verso da 1 estrofe do poema de
Vinícius de Moraes.
Mas o bom negro e o bom branco a) "Pai, para onde fores, /irei também trilhando as
da Nação Brasileira mesmas ruas..." (augusto dos Anjos)
Dizem todos os dias b) "Agora, como outrora, há aqui o mesmo contraste
Deixa disso camarada da vida interior, que é modesta, com a exterior, que
Me dá um cigarro é ruidosa." (Machado de Assis)
c) "Havia o mal, profundo e persistente, para o qual o
(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos. São remédio não surtiu efeito, mesmo em doses
Paulo: Nova Cultural, 1988) variáveis." (Raimundo Faoro)
d) "Vamos de qualquer maneira, mas vamos mesmo."
"Iniciar a frase com pronome átono só é lícito na (Aurélio)
conversação familiar, despreocupada, ou na língua
escrita quando se deseja reproduzir a fala dos 64. (Enem 1999) Quem não passou pela experiência de
personagens ( .. )." estar lendo um texto e defrontar-se com passagens já
lidas em outros? Os textos conversam entre si em um
(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima diálogo constante. Esse fenômeno tem a denominação
gramática da língua portuguesa. São Paulo: Nacional, de intertextualidade. Leia os seguintes textos:
1980)
I. Quando nasci, um anjo torto
Comparando a explicação dada pelos autores sobre Desses que vivem na sombra
essa regra, pode-se afirmar que ambos: Disse: Vai Carlos! Ser "gauche" na vida

a) condenam essa regra gramatical. (ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma Poesia.
b) acreditam que apenas os esclarecidos sabem essa Rio de Janeiro: Aguilar, 1964)
regra.
c) criticam a presença de regras na gramática. II. Quando nasci veio um anjo safado
d) afirmam que não há regras para uso de pronomes. O chato dum querubim
e) relativizam essa regra gramatical. E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
63. (Enem 1999) Já de saída a minha estrada entortou
SONETO DE FIDELIDADE Mas vou até o fim.

De tudo ao meu amor serei atento (BUARQUE, Chico. Letra e música. São Paulo:
Antes e com tal zelo, e sempre, e tanto Cia das Letras, 1989)
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento. III. Quando nasci um anjo esbelto
Desses que tocam trombeta, anunciou:
Quero vivê-lo em cada vão momento Vai carregar bandeira.
E em seu louvor hei de espalhar meu canto Carga muito pesada pra mulher
E rir meu riso e derramar meu pranto Esta espécie ainda envergonhada.
Ao seu pesar ou ao seu contentamento.
(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro:
E assim, quando mais tarde me procure Guanabara, 1986)
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama. Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem
intertextualidade, em relação a Carlos Drummond de
Eu possa me dizer do amor (que tive) : Andrade, por
Que não seja imortal, posto que é chama a) reiteração de imagens
Mas que seja infinito enquanto dure. b) oposição de ideias
c) falta de criatividade
(MORAES, Vinícius de. ANTOLOGIA POÉTICA. d) negação dos versos
São Paulo: Cia das Letras, 1992) e) ausência de recursos

23
LITERATURA

a) a linguagem do texto deve refletir o tema, e a fala do


65. (Enem 1999) E considerei a glória de um pavão autor deve denunciar o fato social para
ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo determinados leitores.
imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que b) a linguagem do texto não deve ter relação com o
aquelas cores todas não existem na pena do pavão. tema, e o autor deve ser imparcial para que seu
Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas texto seja lido.
d'água em que a luz se fragmenta, como em um c) o escritor deve saber separar a linguagem do tema e
prisma. O pavão é um arco-íris de plumas. a perspectiva pessoal da perspectiva do leitor.
Eu considerei que este é o luxo do grande artista, d) a linguagem pode ser separada do tema, e o escritor
atingir o máximo de matizes com o mínimo de deve ser o delator do fato social para todos os
elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu leitores.
grande mistério é a simplicidade. e) a linguagem está além do tema, e o fato social deve
Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! Minha ser a proposta do escritor para convencer o leitor.
amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece 67. (Enem 1998) Texto 1
e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo
a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,
magnífico. Quando a teus pés um homem terno e curvo
jurar amor, chorar pranto de sangue,
(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. 20a Não creias, não, mulher: ele te engana!
ed.) As lágrimas são gotas da mentira
E o juramento manto da perfídia.
O poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu assim (Joaquim Manoel de Macedo)
sobre a obra de Rubem Braga:
Texto 2
O que ele nos conta é o seu dia, o seu expediente de
homem, apanhado no essencial, narrativa direta e Teresa, se algum sujeito bancar o
econômica. (...) É o poeta do real, do palpável, que se sentimental em cima de você
vai diluindo em cisma. Dá o sentimento da realidade e E te jurar uma paixão do tamanho de um
o remédio para ela. bonde
Se ele chorar
Em seu texto, Rubem Braga afirma que "este é o luxo Se ele ajoelhar
do grande artista, atingir o máximo de matizes com o Se ele se rasgar todo
mínimo de elementos". Afirmação semelhante pode Não acredite não Teresa
ser encontrada no texto de Calos Drummond de É lágrima de cinema
Andrade, quando, ao analisar a obra de Braga, diz que É tapeação
ela é Mentira
a) uma narrativa direta e econômica. CAI FORA
b) real, palpável. (Manuel Bandeira)
c) sentimento de realidade.
d) seu expediente de homem. Os autores, ao fazerem alusão às imagens da lágrima
e) seu remédio. sugerem que:
a) há um tratamento idealizado da relação
66. (Enem 1999) Leia o que disse João Cabral de Melo homem/mulher.
Neto, poeta pernambucano, sobre a função de seus b) há um tratamento realista da relação
textos: homem/mulher.
c) a relação familiar é idealizada.
"FALO SOMENTE COMO O QUE FALO: a linguagem d) a mulher é superior ao homem.
enxuta, contato denso; FALO SOMENTE DO QUE FALO: e) a mulher é igual ao homem.
a vida seca, áspera e clara do sertão; FALO SOMENTE
POR QUEM FALO: o homem sertanejo sobrevivendo na 68. (Enem 1998) A discussão sobre gramática na classe
adversidade e na míngua. FALO SOMENTE PARA QUEM está "quente". Será que os brasileiros sabem
FALO: para os que precisam ser alertados para a gramática? A professora de Português propõe para
situação da miséria no Nordeste." debate o seguinte texto:

Para João Cabral de Melo Neto, no texto literário, PRA MIM BRINCAR
Não há nada mais gostoso do que o mim

24
LITERATURA

sujeito de verbo no infinito. Pra mim brincar. As mando é no país do tempo que foi. Essa palavra
cariocas que não sabem gramática falam assim. Todos “senhor”, no meio de uma frase, ergueu entre nós um
os brasileiros deviam de querer falar como as cariocas muro frio e triste.
que não sabem gramática.
- As palavras mais feias da língua portuguesa Vi o muro e calei: não é de muito, eu juro, que
são quiçá, alhures e miúde. me acontece essa tristeza; mas também não era a vez
primeira.
(BANDEIRA, Manuel. Seleta em prosa
e verso. Org: Emanuel de Moraes. 4a ed. Rio de Janeiro, BRAGA, R. A borboleta amarela. Rio de Janeiro: Record,
José Olympio, 1986. Pág.19) 1991.

Com a orientação da professora e após o debate sobre A escolha do tratamento que se queira atribuir a
o texto de Manuel Bandeira, os alunos chegaram à alguém geralmente considera as situações específicas
seguinte conclusão: de uso social. A violação desse princípio causou um
a) Uma das propostas mais ousadas do Modernismo foi mal-estar no autor da carta. O trecho que descreve
a busca da identidade do povo brasileiro e o registro, essa violação é:
no texto literário, da diversidade das falas a) “Essa palavra, ‘senhor’, no meio de uma frase ergueu
brasileiras. entre nós um muro frio e triste”.
b) Apesar de os modernistas registrarem as falas b) “A única nobreza do plebeu está em não querer
regionais do Brasil, ainda foram preconceituosos em esconder a sua condição”.
relação às cariocas. c) “Só poderíeis ter encontrado essa senhoria nas rugas
c) A tradição dos valores portugueses foi a pauta de minha testa”.
temática do movimento modernista. d) “O território onde eu mando é no país do tempo que
d) Manuel Bandeira e os modernistas brasileiros foi”.
exaltaram em seus textos o primitivismo da nação e) “Não é de muito, eu juro, que acontece essa tristeza;
brasileira. mas também não era a vez primeira”.
e) Manuel Bandeira considera a diversidade dos falares
brasileiros uma agressão à Língua Portuguesa. 2. (Enem 2012) Pote Cru é meu pastor. Ele me guiará.
Ele está comprometido de monge.
De tarde deambula no azedal entre torsos de
TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS cachorros, trampas, trapos, panos de regra, couros,
de rato ao podre, vísceras de piranhas, baratas
E TEORIA LITERÁRIA
albinas, dálias secas, vergalhos de lagartos,
linguetas de sapatos, aranhas dependuradas em
gotas de orvalho etc. etc.
1. (Enem 2012) Leia.
Pote Cru, ele dormia nas ruínas de um convento
Foi encontrado em osso.
O senhor
Ele tinha uma voz de oratórios perdidos.
Carta a uma jovem que, estando em uma roda
BARROS, M. Retrato do artista quando coisa. Rio de
em que dava aos presentes o tratamento de você, se
Janeiro: Record, 2002.
dirigiu ao autor chamando-o “o senhor”:
Ao estabelecer uma relação com o texto bíblico nesse
Senhora:
poema, o eu lírico identifica-se com o Pote Cru porque
a) entende a necessidade de todo poeta ter voz de
Aquele a quem chamastes senhor aqui está,
oratórios perdidos.
de peito magoado e cara triste, para vos dizer que
b) elege-o como pastor a fim de ser guiado para a
senhor ele não é, de nada, nem de ninguém.
salvação divina.
c) valoriza nos percursos do pastor a conexão entre as
Bem o sabeis, por certo, que a única nobreza
ruínas e a tradição.
do plebeu está em não querer esconder sua condição,
d) necessita de um guia para a descoberta das coisas da
e esta nobreza tenho eu. Assim, se entre tantos
natureza.
senhores ricos e nobres a quem chamáveis você
e) acompanha-o na opção pela insignificância das
escolhestes a mim para tratar de senhor, e bem de ver
coisas.
que só poderíeis ter encontrado essa senhoria nas
rugas de minha testa e na prata de meus cabelos.
3. (Enem 2012) Das irmãs
Senhor de muitos anos, eis aí; o território onde eu

25
LITERATURA

“varreção”. Mas estou com medo de que os mineiros


os meus irmãos sujando-se da roça façam troça de mim porque nunca os vi falar de
na lama “varrição”. E se eles rirem de mim não vai me adiantar
e eis-me aqui cercada mostrar-lhes o xerox da página do dicionário com a
de alvura e enxovais “varroa” no topo. Porque para eles não é o dicionário
que faz a língua. É o povo. E o povo, lá nas montanhas
eles se provocando e provando de Minas Gerais, fala “varreção” quando não
do fogo “barreção”. O que me deixa triste sobre esse amigo
e eu aqui fechada oculto é que nunca tenha dito nada sobre o que eu
provendo a comida escrevo, se é bonito ou se é feio. Toma a minha sopa,
não diz nada sobre ela, mas reclama sempre que o
eles se lambuzando e arrotando prato está rachado.
na mesa
e eu a temperada ALVES, R. Mais badulaques. São Paulo: Parábola, 2004
servindo, contida (fragmento)

os meus irmãos jogando-se De acordo com o texto, após receber a carta de um


na cama amigo “que se deu ao trabalho de fazer um Xerox da
e eis-me afiançada página 827 do dicionário” sinalizando um erro de
por dote e marido grafia, o autor reconhece
a) A supremacia das formas da língua em relação ao
QUEIROZ, S. O sacro ofício. Belo Horizonte: seu conteúdo.
Comunicação, 1980. b) A necessidade da norma padrão em situações
formais de comunicação escrita.
O poema de Sonia Queiroz apresenta uma voz lírica c) A obrigatoriedade da norma culta da língua, para a
feminina que contrapõe o estilo de vida do homem ao garantia de uma comunicação efetiva.
modelo reservado a mulher. Nessa contraposição, ela d) A importância da variedade culta da língua, para a
conclui que preservação da identidade cultural de um povo.
a) a mulher deve conservar uma assepsia que a e) A necessidade do dicionário como guia de
distingue de homens, que podem se jogar na lama. adequação linguística em contextos informais
b) a palavra “fogo” é uma metáfora que remete ao ato privados.
de cozinhar, tarefa destinada às mulheres.
c) a luta pela igualdade entre os gêneros depende da 5. (Enem 2012) O sedutor médio
ascensão financeira e social das mulheres.
d) a cama, como sua “alvura e enxovais”, é um símbolo Vamos juntar
da fragilidade feminina no espaço doméstico. Nossas rendas e
e) os papéis sociais destinados aos gêneros produzem expectativas de vida
efeitos e graus de autorrealização desiguais. querida,
o que me dizes?
4. (Enem 2012) Sou feliz pelos amigos que tenho. Um Ter 2, 3 filhos
deles muito sofre pelo meu descuido com o vernáculo. e ser meio felizes?
Por alguns anos ele sistematicamente me enviava
missivas eruditas com precisas informações sobre as VERISSIMO, L. F. Poesia numa hora dessas?! Rio de
regras da gramática, que eu não respeitava, e sobre a Janeiro: Objetiva, 2002.
grafia correta dos vocábulos, que eu ignorava. Fi-lo
sofrer pelo uso errado que fiz de uma palavra num
desses meus badulaques. Acontece que eu, No poema O sedutor médio, é possível reconhecer a
acostumado a conversar com a gente das Minas Gerais, presença de posições críticas
falei em “varreção” – do verbo “varrer”. De fato, trata- a) nos três primeiros versos, em que “juntar
se de um equívoco que, num vestibular, poderia me expectativas de vida” significa que, juntos, os
valer uma reprovação. Pois o meu amigo, paladino da cônjuges poderiam viver mais, o que faz do
língua portuguesa, se deu ao trabalho de fazer um casamento uma convenção benéfica.
Xerox da página 827 do dicionário, aquela que tem, no b) na mensagem veiculada pelo poema, em que os
topo, a fotografia de uma “varroa” (sic!) (você não sabe valores da sociedade são ironizados, o que é
o que é uma “varroa”?) para corrigir-me do meu erro. E acentuado pelo uso do adjetivo “médio” no título e
confesso: ele está certo. O certo é “varrição” e não
do advérbio “meio” no verso final.

26
LITERATURA

c) no verso “e ser meio felizes?”, em que “meio” é expectativa e oportunidade, de insônia e submissão, de
sinônimo de metade, ou seja, no casamento, apenas silêncios e rompantes, de anulação e prepotência.
um dos cônjuges se sentiria realizado. Conhecia a palavra exata para o momento preciso, a
d) nos dois primeiros versos, em que “juntar rendas” frase picante ou obscena no ambiente adequado, o
tom humilde diante do superior útil, o grosseiro diante
indica que o sujeito poético passa por dificuldades
do inferior, o arrogante quando o poderoso em nada o
financeiras e almeja os rendimentos da mulher.
podia prejudicar. Sabia desfazer situações equivocadas,
e) no título, em que o adjetivo “médio” qualifica o e armar intrigas das quais se saía sempre bem, e sabia,
sujeito poético como desinteressante ao sexo por experiência própria, que a fortuna se ganha com
oposto e inábil em termos de conquistas amorosas. uma frase, num dado momento, que este momento
único, irrecuperável, irreversível, exige um estado de
alerta para sua apropriação.
6. (Enem 2012) RAWET, S. O aprendizado. In: Diálogo. Rio de janeiro:
Logia e mitologia GRD, 1963 (fragmentado).

Meu coração No conto, o autor retrata criticamente a habilidade do


personagem no manejo de discursos diferentes
de mil e novecentos e setenta e dois
segundos a posição do interlocutor na sociedade. A
Já não palpita fagueiro crítica à conduta do personagem está centrada
sabe que há morcegos de pesadas olheiras a) Na imagem do títere ou fantoche em que o
que há cabras malignas que há personagem acaba por se transformar, acreditando
cardumes de hienas infiltradas dominar os jogos de poder na linguagem.
no vão da unha da alma b) Na alusão à falta de articulações e reflexos do
um porco belicoso de radar personagem, dando a entender que ele não possui o
e que sangra e ri manejo dos jogos discursivos em todas as situações.
e que sangra e ri c) No comentário, feito em tom de censura pelo autor,
a vida anoitece provisória sobre as frases obscenas que o personagem emite
em determinados ambientes sociais.
centuriões sentinelas
d) Nas expressões que mostram tons opostos nos
do Oiapoque ao Chuí. discursos empregados aleatoriamente pelo
personagem em conversas com interlocutores
CACASO. Lero-lero. Rio de Janeiro: 7Letras; São Paulo: variados.
Cosac & Naify,2002. e) No falso elogio à originalidade atribuída a esse
personagem, responsável por seu sucesso no
O título do poema explora a expressividade de termos aprendizado das regras de linguagem da sociedade.
que representam o conflito do momento histórico
vivido pelo poeta na década de 1970. Nesse contexto, é 8. (Enem 2012)
correto afirmar que Labaredas nas trevas
Fragmentos do diário secreto de
a) o poeta utiliza uma série de metáforas zoológicas
Teodor Konrad Nalecz Korzeniowski
com significado impreciso.
b) “morcegos”, “cabras”, e “hienas” metaforizam as
20 DE JULHO [1912]
vítimas do regime militar vigente.
Peter Sumerville pede-me que escreva um artigo sobre
c) o “porco” , animal difícil de domesticar, representa
Crane. Envio-lhe uma carta: “Acredite-me, prezado
os movimentos de resistência.
senhor, nenhum jornal ou revista se interessaria por
d) o poeta caracteriza o momento de opressão através
qualquer coisa que eu, ou outra pessoa, escrevesse
de alegorias de forte poder de impacto.
sobre Stephen Crane. Ririam da sugestão. [...]
e) “centuriões” e “sentinelas” simbolizam os agentes
Dificilmente encontro alguém, agora, que saiba quem é
que garantem a paz social experimentada.
Stephen Crane ou lembre-se de algo dele. Para os
jovens escritores que estão surgindo ele simplesmente
7. (Enem 2012) E como manejava bem os cordéis de
não existe”.
seus títeres, ou ele mesmo, títere voluntário e
consciente, como entregava o braço, as pernas, a
20 DE DEZEMBRO [1919]
cabeça, o tronco, como se desfazia de suas articulações
Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal. Sou
e de seus reflexos quando achava nisso conveniência.
reconhecido como o maior escritor vivo da língua
Também ele soubera apoderar-se dessa arte, mais
inglesa. Já se passaram dezenove anos desde que Crane
artifício, toda feita de sutilezas e grosserias, de

27
LITERATURA

morreu, mas eu não o esqueço. E parece que outros do vaqueiro.


também não. The London Mercury resolveu celebrar os
vinte e cinco anos de publicação de um livro que, BARROS, M. Memórias inventadas: a infância. São
segundo eles, foi “um fenômeno hoje esquecido” e me Paulo: Planeta, 2003.
pediram um artigo.
No texto, o autor desenvolve uma reflexão sobre
FONSECA, R. Romance negro e outras histórias. São diferentes possibilidades de uso da língua e sobre os
Paulo: Companhia das Letras, 1992 (fragmentado). sentidos que esses usos podem produzir, a exemplo
das expressões “voltou de ateu”, “desilimina esse” e
Na construção de textos literários, os autores recorrem “eu não sei a ler”. Com essa reflexão, o autor destaca
com frequência a expressões metafóricas. Ao empregar
o enunciado metafórico “Muito peixe foi embrulhado
pelas folhas de jornal”, pretendeu-se estabelecer, entre
dois fragmentos do texto em questão, uma relação a) os desvios linguísticos cometidos pelos personagens
semântica de do texto.
a) Causalidade, segundo a qual se relacionam as partes b) a importância de certos fenômenos gramaticais para
de um texto, em que uma contém a causa e a outra, o conhecimento da língua portuguesa.
a consequência. c) a distinção clara entre a norma culta e as outras
b) Temporalidade, segundo a qual se articulam as variedades linguísticas.
partes de um texto, situando no tempo o que é d) o relato fiel de episódios vividos por Cabeludinho
relatado nas partes em questão. durante as suas férias.
c) Condicionalidade, segundo a qual se combinam duas e) a valorização da dimensão lúdica e poética presente
partes de um texto, em que uma resulta ou depende nos usos coloquiais da linguagem.
de circunstâncias apresentadas à outra.
d) Adversidade, segundo a qual se articulam duas 10. (Enem 2012)
partes de um texto em que uma apresenta uma LXXVIII (Camões, 1525?-1580)
orientação argumentativa distinta e oposta à outra.
e) Finalidade, segundo a qual se articulam duas partes Leda serenidade deleitosa,
de um texto em que uma apresenta o meio, por Que representa em terra um paraíso;
exemplo, para uma ação e a outra, o desfecho da Entre rubis e perlas doce riso;
mesma. Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa;

9. (Enem 2012) Cabeludinho Presença moderada e graciosa,


Onde ensinando estão despejo e siso
Quando a Vó me recebeu nas férias, ela me apresentou Que se pode por arte e por aviso,
aos amigos: Este é meu neto. Ele foi estudar no Rio e Como por natureza, ser fermosa;
voltou de ateu. Ela disse que eu voltei de ateu. Aquela
preposição deslocada me fantasiava de ateu. Como Fala de quem a morte e a vida pende,
quem dissesse no Carnaval: aquele menino está Rara, suave; enfim, Senhora, vossa;
fantasiado de palhaço. Minha avó entendia de Repouso nela alegre e comedido:
regências verbais. Ela falava de sério. Mas todo-mundo
riu. Porque aquela preposição deslocada podia fazer de Estas as armas são com que me rende
uma informação um chiste. E fez. E mais: eu acho que E me cativa Amor; mas não que possa
buscar a beleza nas palavras é uma solenidade de Despojar-me da glória de rendido.
amor. E pode ser instrumento de rir. De outra feita, no
meio da pelada um menino gritou: Disilimina esse, CAMÕES, L. Obra completa. Rio de janeiro: Nova
Cabeludinho. Eu não disilimei ninguém. Mas aquele Aguilar, 2008.
verbo novo trouxe um perfume de poesia a nossa
quadra. Aprendi nessas férias a brincar de palavras
mais do que trabalhar com elas. Comecei a não gostar
de palavra engavetada. Aquela que não pode mudar de
lugar. Aprendi a gostar mais das palavras pelo que elas
entoam do que pelo que elas informam. Por depois
ouvi um vaqueiro a cantar com saudade: Ai morena,
não me escreve / que eu não sei a ler. Aquele a
preposto ao verbo ler, ao meu ouvir, ampliava a solidão

28
LITERATURA

Do que um pássaro sem voos.


Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.

MACHADO, G. In: MORICONI, I. (org.). Os cem melhores


poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva,
2001.

A memória é um importante recurso do patrimônio


cultural de uma nação. Ela está presente nas
lembranças do passado e no acervo cultural de um
povo. Ao tratar o fazer poético corno uma das maneiras
de se guardar o que se quer, o texto

a) ressalta a importância dos estudos históricos para a


construção da memória social de um povo.
b) valoriza as lembranças individuais em detrimento
das narrativas populares ou coletivas.
A pintura e o poema, embora sendo produtos de duas c) reforça a capacidade da literatura em promover a
linguagens artísticas diferentes, participaram do subjetividade e os valores humanos.
mesmo contexto social e cultural de produção pelo fato d) destaca a importância de reservar o texto literário
de ambos àqueles que possuem maior repertório cultural.
a) apresentarem um retrato realista, evidenciado pelo e) revela a superioridade da escrita poética como
unicórnio presente na pintura e pelos adjetivos forma ideal de preservação da memória cultural.
usados no poema.
b) valorizarem o excesso de enfeites na apresentação 12. (Enem 2011) Texto I
pessoa e na variação de atitudes da mulher,
evidenciadas pelos adjetivos do poema. O meu nome é Severino,
c) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado não tenho outro de pia.
pela sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela Como há muitos Severinos,
postura, expressão e vestimenta da moça e os que é santo de romaria,
adjetivos usados no poema. deram então de me chamar
d) desprezarem o conceito medieval da idealização da Severino de Maria;
mulher como base da produção artística, como há muitos Severinos
evidenciado pelos adjetivos usados no poema. com mães chamadas Maria,
e) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado fiquei sendo o da Maria,
pela emotividade e o conflito interior, evidenciados do finado Zacarias,
pela expressão da moça e pelos adjetivos do poema. mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
11. (Enem 2011) por causa de um coronel
Guardar que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. senhor desta sesmaria.
Em cofre não se guarda coisa alguma. Como então dizer quem fala
Em cofre perde-se a coisa à vista. ora a Vossas Senhorias?
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. MELO NETO, J. C. Obras completa. Rio de Janeiro:
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por Aguilar, 1994 (fragmento)
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro

29
LITERATURA

Texto II pirão. No trivial contentavam-se com as sobras do


mercado.
João Cabral, que já emprestara sua voz ao rio,
transfere-a, aqui, ao retirante Severino, que, como o TREVISAN, D. 35 noites de paixão: contos escolhidos.
Capibaribe, também segue no caminho do Recife. A Rio de Janeiro: BestBolso, 2009 (fragmento).
autoapresentação do personagem, na fala inicial do
texto, nos mostra um Severino que, quanto mais se Sob diferentes perspectivas, os fragmentos citados são
define, menos se individualiza, pois seus traços exemplos de uma abordagem literária recorrente na
biográficos são sempre partilhados por outros homens.
literatura brasileira do século XX. Em ambos os textos,
SECCHIN, A. C. João Cabral: a poesia do menos. Rio de a) a linguagem afetiva aproxima os narradores dos
Janeiro: Topbooks, 1999 (fragmento). personagens marginalizados.
b) a ironia marca o distanciamento dos narradores em
Com base no trecho de Morte e Vida Severina (Texto I) relação aos personagens.
e na análise crítica (Texto II), observa-se que a relação c) o detalhamento do cotidiano dos personagens revela
entre o texto poético e o contexto social a que ele faz
referência aponta para um problema social expresso a sua origem social.
literariamente pela pergunta “Como então dizer quem d) o espaço onde vivem os personagens é uma das
fala/ ora a Vossas Senhorias?”. A resposta à pergunta marcas de sua exclusão.
expressa no poema é dada por meio da e) a crítica à indiferença da sociedade pelos
a) descrição minuciosa dos traços biográficos
marginalizados é direta.
personagem-narrador.
b) construção da figura do retirante nordestino como
um homem resignado com a sua situação. 14. (Enem 2009) Os melhores críticos da cultura
c) representação, na figura do personagem-narrador, brasileira trataram-na sempre no plural, isto é,
de outros Severinos que compartilham sua condição. enfatizando a coexistência no Brasil de diversas
d) apresentação do personagem-narrador como uma
culturas. Arthur Ramos distingue as culturas não
projeção do próprio poeta em sua crise existencial.
e) descrição de Severino, que, apesar de humilde, europeias (indígenas, negras) das europeias
orgulha-se de ser descendente do coronel Zacarias. (portuguesa, italiana, alemã etc.), e Darcy Ribeiro fala
de diversos Brasis: crioulo, caboclo, sertanejo, caipira e
13. (Enem 2010) Texto I de Brasis sulinos, a cada um deles correspondendo uma
cultura específica.
Logo depois transferiram para o trapiche o
depósito dos objetos que o trabalho do dia lhes
proporcionava. MORAIS, F. O Brasil na visão do artista: o país e sua
Estranhas coisas entraram então para o cultura. São Paulo: Sudameris, 2003.
trapiche. Não mais estranhas, porém, que aqueles
meninos, moleques de todas as cores e de idades as
mais variadas, desde os nove aos dezesseis anos, que à Considerando a hipótese de Darcy Ribeiro de que há
noite se estendiam pelo assoalho e por debaixo da vários Brasis, a opção em que a obra mostrada
ponte e dormiam, indiferentes ao vento que circundava
representa a arte brasileira de origem negro-africana é:
o casarão uivando, indiferentes à chuva que muitas
vezes os lavava, mas com os olhos puxados para as a)
luzes dos navios, com os ouvidos presos às canções que
vinham das embarcações...

AMADO, J. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia


das Letras, 2008 (fragmento).

Texto II

À margem esquerda do rio Belém, nos fundos


do mercado de peixe, ergue-se o velho ingazeiro – ali
os bêbados são felizes. Curitiba os considera animais
sagrados, provê as suas necessidades de cachaça e

30
LITERATURA

b) ao corpo, em analogia a uma religião, assistimos hoje


ao surgimento de novo universo: a corpolatria.
CODO, W.; SENNE, W. O que é corpo(latria). Coleção
Primeiros Passos. Brasiliense, 1985 (adaptado).
Sobre esse fenômeno do homem contemporâneo
presente nas classes sociais brasileiras, principalmente,
na classe média, a corpolatria
a) é uma religião pelo avesso, por isso outra religião;
inverteram-se os sinais, a busca da felicidade eterna
antes carregava em si a destruição do prazer, hoje
implica o seu culto.
c) b) criou outro ópio do povo, levando as pessoas a
buscarem cada vez mais grupos igualitários de
integração social.
c) é uma tradução dos valores das sociedades
subdesenvolvidas, mas em países considerados do
primeiro mundo ela não consegue se manifestar
porque a população tem melhor educação e senso
crítico.
d) tem como um de seus dogmas o narcisismo,
significando o “amar o próximo como se ama a si
mesmo”.
d) e) existe desde a Idade Média, entretanto esse
acontecimento se intensificou a partir da Revolução
Industrial no século XIX e se estendeu até os nossos
dias.

16. (Enem 2009)


A partida
1
Acordei pela madrugada. A princípio com
tranquilidade, e logo com obstinação, quis novamente
dormir. Inútil, o sono esgotara-se. Com precaução,
2
acendi um fósforo: passava das três. Restava-me,
portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às
e) cinco. Veio-me então o desejo de não passar mais nem
4
uma hora naquela casa. Partir, sem dizer nada, deixar
quanto antes minhas cadeias de disciplina e de amor.
Com receio de fazer barulho, dirigi-me à cozinha, lavei
o rosto, os dentes, penteei-me e, voltando ao meu
3
quarto, vesti-me. Calcei os sapatos, sentei-me um
instante à beira da cama. Minha avó continuava
5
dormindo. Deveria fugir ou falar com ela?
Ora, algumas palavras... Que me custava acordá-la,
dizer-lhe adeus?
LINS, O. A partida. Melhores contos. Seleção e prefácio
15. (Enem 2009) Nunca se falou e se preocupou tanto de Sandra Nitrini. São Paulo: Global, 2003.
com o corpo como nos dias atuais. É comum ouvirmos No texto, o personagem narrador, na iminência da
anúncios de uma nova academia de ginástica, de uma partida, descreve a sua hesitação em separar-se da avó.
Esse sentimento contraditório fica claramente expresso
nova forma de dieta, de uma nova técnica de no trecho:
autoconhecimento e outras práticas de saúde
a) “A princípio com tranquilidade, e logo com
alternativa, em síntese, vivemos nos últimos anos a obstinação, quis novamente dormir” (ref.1).
redescoberta do prazer, voltando nossas atenções ao b) “Restava-me, portanto, menos de duas horas, pois o
nosso próprio corpo. Essa valorização do prazer trem chegaria às cinco” (ref. 2).
individualizante se estrutura em um verdadeiro culto c) “Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da
cama” (ref. 3).

31
LITERATURA

d) “Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas Naturalmente haveria também escolas nas gaiolas. Nas
cadeias de disciplina e amor” (ref. 4). aulas, os peixinhos aprenderiam como nadar para a
e) “Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas goela dos tubarões. Eles aprenderiam, por exemplo, a
palavras...” (ref. 5). usar a geografia para localizar os grandes tubarões
deitados preguiçosamente por aí. A aula principal seria,
17. (Enem 2009) Teatro do Oprimido é um método
teatral que sistematiza exercícios, jogos e técnicas naturalmente, a formação moral dos peixinhos. A eles
teatrais elaboradas pelo teatrólogo brasileiro Augusto seria ensinado que o ato mais grandioso e mais sublime
Boal, recentemente falecido, que visa à é o sacrifício alegre de um peixinho e que todos
desmecanização física e intelectual de seus praticantes. deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando
Partindo do princípio de que a linguagem teatral não estes dissessem que cuidavam de sua felicidade futura.
deve ser diferenciada da que é usada cotidianamente Os peixinhos saberiam que este futuro só estaria
pelo cidadão comum (oprimido), ele propõe condições garantido se aprendessem a obediência.
práticas para que o oprimido se aproprie dos meios do
fazer teatral e, assim, amplie suas possibilidades de Cada peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos
expressão. Nesse sentido, todos podem desenvolver inimigos seria condecorado com uma pequena Ordem
essa linguagem e, consequentemente, fazer teatro. das Algas e receberia o título de herói.
Trata-se de um teatro em que o espectador é
convidado a substituir o protagonista e mudar a BRECHT, B. Histórias do Sr. Keuner. São Paulo: Ed. 34,
condução ou mesmo o fim da história, conforme o
2006 (adaptado).
olhar interpretativo e contextualizado do receptor.

Companhia Teatro do Oprimido. Disponível em: Como produção humana, a literatura veicula valores
www.ctorio.org.br. Acesso em: 1 jul. 2009 (adaptado). que nem sempre estão representados diretamente no
texto, mas são transfigurados pela linguagem literária e
Considerando-se as características do Teatro do podem até entrar em contradição com as convenções
Oprimido apresentadas, conclui-se que sociais e revelar o quanto a sociedade perverteu os
a) esse modelo teatral é um método tradicional de valores humanos que ela própria criou. É o que ocorre
fazer teatro que usa, nas suas ações cênicas, a na narrativa do dramaturgo alemão Bertolt Brecht
linguagem rebuscada e hermética falada mostrada. Por meio da hipótese apresentada, o autor
normalmente pelo cidadão comum. a) demonstra o quanto a literatura pode ser alienadora
b) a forma de recepção desse modelo teatral se destaca ao retratar, de modo positivo, as relações de
pela separação entre atores e público, na qual os
opressão existentes na sociedade.
atores representam seus personagens e a plateia
assiste passivamente ao espetáculo. b) revela a ação predatória do homem no mar,
c) sua linguagem teatral pode ser democratizada e questionando a utilização dos recursos naturais pelo
apropriada pelo cidadão comum, no sentido de homem ocidental.
proporcionar-lhe autonomia crítica para c) defende que a força colonizadora e civilizatória do
compreensão e interpretação do mundo em que homem ocidental valorizou a organização das
vive. sociedades africanas e asiáticas, elevando-as ao
d) o convite ao espectador para substituir o modo de organização cultural e social da sociedade
protagonista e mudar o fim da história evidencia que moderna.
a proposta de Boal se aproxima das regras do teatro
d) questiona o modo de organização das sociedades
tradicional para a preparação de atores.
e) a metodologia teatral do Teatro do Oprimido segue a ocidentais capitalistas, que se desenvolveram
concepção do teatro clássico aristotélico, que visa à fundamentadas nas relações de opressão em que os
desautomação física e intelectual de seus mais fortes exploram os mais fracos.
praticantes. e) evidencia a dinâmica social do trabalho coletivo em
que os mais fortes colaboram com os mais fracos, de
18. (Enem 2009) modo a guiá-los na realização de tarefas.
Se os tubarões fossem homens
Se os tubarões fossem homens, eles seriam mais gentis 19. (Enem 2009) Oximoro, ou paradoxismo, é uma
com os peixes pequenos? figura de retórica em que se combinam palavras de
sentido oposto que parecem excluir-se mutuamente,
Certamente, se os tubarões fossem homens, fariam
mas que, no contexto, reforçam a expressão.
construir resistentes gaiolas no mar para os peixes
pequenos, com todo o tipo de alimento, tanto animal
como vegetal. Cuidariam para que as gaiolas tivessem Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.
sempre água fresca e adotariam todas as providências
sanitárias. Considerando a definição apresentada, o fragmento
poético da obra Cantares, de Hilda Hilst, publicada em

32
LITERATURA

2004, em que pode ser encontrada a referida figura de autor explora o extrato sonoro do idioma e o uso de
retórica é: termos coloquiais na seguinte passagem:
a) “Dos dois contemplo a) “Quando um doce bardo brada a toda brida” (v. 2)
rigor e fixidez. b) “Em velas pandas, suas esquisitas rimas?” (v. 3)
Passado e sentimento c) “Que devora a voz do morto” (v. 9)
me contemplam” (p. 91). d) “lobo-bolo//Tipo pra rimar com ouro de tolo? (v. 11-
b) “De sol e lua 12)
De fogo e vento e) “Tease me, tease me outra vez” (v. 14)
Te enlaço” (p. 101).
c) “Areia, vou sorvendo TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
A água do teu rio” (p. 93). Texto I
d) “Ritualiza a matança [...] já foi o tempo em que via a convivência como
de quem só te deu vida. viável, só exigindo deste bem comum, piedosamente, o
E me deixa viver meu quinhão, já foi o tempo em que consentia num
nessa que morre” (p. 62). contrato, deixando muitas coisas de fora sem ceder
e) “O bisturi e o verso. contudo no que me era vital, já foi o tempo em que
Dois instrumentos reconhecia a existência escandalosa de imaginados
entre as minhas mãos” (p. 95). valores, coluna vertebral de toda ‘ordem’; mas não tive
sequer o sopro necessário, e, negado o respiro, me foi
20. (Enem 2009) Para o Mano Caetano imposto o sufoco; é esta consciência que me libera, é
ela hoje que me empurra, são outras agora minhas
O que fazer do ouro de tolo preocupações, é hoje outro o meu universo de
Quando um doce bardo brada a toda brida, problemas; num mundo estapafúrdio —
definitivamente fora de foco — cedo ou tarde tudo
Em velas pandas, suas esquisitas rimas?
acaba se reduzindo a um ponto de vista, e você que
Geografia de verdades, Guanabaras postiças vive paparicando as ciências humanas, nem suspeita
Saudades banguelas, tropicais preguiças? que paparica uma piada: impossível ordenar o mundo
dos valores, ninguém arruma a casa do capeta; me
A boca cheia de dentes recuso pois a pensar naquilo em que não mais acredito,
De um implacável sorriso seja o amor, a amizade, a família, a igreja, a
humanidade; me lixo com tudo isso! me apavora ainda
Morre a cada instante
a existência, mas não tenho medo de ficar sozinho, foi
Que devora a voz do morto, e com isso, conscientemente que escolhi o exílio, me bastando
Ressuscita vampira, sem o menor aviso hoje o cinismo dos grandes indiferentes [...].
NASSAR, R. Um copo de cólera. São Paulo: Companhia
[...] das Letras, 1992.
E eu soy lobo-bolo? lobo-bolo
Tipo pra rimar com ouro de tolo? Texto II
Oh, Narciso Peixe Ornamental! Raduan Nassar lançou a novela Um Copo de Cólera em
Tease me, tease me outra vez
1
1978, fervilhante narrativa de um confronto verbal
Ou em banto baiano entre amantes, em que a fúria das palavras cortantes
se estilhaçava no ar. O embate conjugal ecoava o
Ou em português de Portugal
autoritário discurso do poder e da submissão de um
De Natal Brasil que vivia sob o jugo da ditadura militar.
[...] COMODO, R. Um silêncio inquietante. IstoÉ. Disponível
em: http://www.terra.com.br. Acesso em: 15 jul. 2009.
1
Tease me (caçoe de mim, importune-me).
21. (Enem 2009) Considerando-se os textos
LOBÃO. Disponível em: http://vagalume.uol.com.br. apresentados e o contexto político e social no qual foi
Acesso em: 14 ago. 2009 (adaptado). produzida a obra Um Copo de Cólera, verifica-se que o
narrador, ao dirigir-se à sua parceira, nessa novela, tece
Na letra da canção apresentada, o compositor Lobão um discurso
explora vários recursos da língua portuguesa, a fim de a) conformista, que procura defender as instituições
conseguir efeitos estéticos ou de sentido. Nessa letra, o nas quais repousava a autoridade do regime militar
no Brasil, a saber: a Igreja, a família e o Estado.

33
LITERATURA

b) pacifista, que procura defender os ideais libertários - Aqui havia mulheres e criancinhas. Agora,
representativos da intelectualidade brasileira felizmente, só há pulgas e ratos.
opositora à ditadura militar na década de 70 do E outro:
século passado. - Amigo, tenho aqui esta mulher, este
c) desmistificador, escrito em um discurso ágil e papagaio, esta sogra e algumas baratas. Tome nota de
contundente, que critica os grandes princípios seus nomes, se quiser. Querendo levar todos, é favor...
humanitários supostamente defendidos por sua (...)
interlocutora. E outro:
d) politizado, pois apela para o engajamento nas causas - Dois, cidadão, somos dois. Naturalmente o sr.
sociais e para a defesa dos direitos humanos como não a vê. Mas ela está aqui, está, está! A sua saudade
uma única forma de salvamento para a humanidade. jamais sairá de meu quarto e de meu peito!
e) contraditório, ao acusar a sua interlocutora de
compactuar com o regime repressor da ditadura Rubem Braga. Para gostar de ler, v. 3. São
militar, por meio da defesa de instituições como a Paulo: Ática, 1998, p. 32-3 (fragmento).
família e a Igreja.
O fragmento anterior, em que há referência a um fato
22. (Enem 2009) Na novela Um Copo de Cólera, o sócio-histórico - o recenseamento -, apresenta
autor lança mão de recursos estilísticos e expressivos característica marcante do gênero crônica ao
típicos da literatura produzida na década de 70 do
século passado no Brasil, que, nas palavras do crítico a) expressar o tema de forma abstrata, evocando
Antonio Candido, aliam “vanguarda estética e imagens e buscando apresentar a ideia de uma coisa
amargura política”. Com relação à temática abordada e por meio de outra.
à concepção narrativa da novela, o texto I b) manter-se fiel aos acontecimentos, retratando os
a) é escrito em terceira pessoa, com narrador personagens em um só tempo e um só espaço.
onisciente, apresentando a disputa entre um c) contar história centrada na solução de um enigma,
homem e uma mulher em linguagem sóbria, construindo os personagens psicologicamente e
condizente com a seriedade da temática político- revelando-os pouco a pouco.
social do período da ditadura militar. d) evocar, de maneira satírica, a vida na cidade, visando
b) articula o discurso dos interlocutores em torno de transmitir ensinamentos práticos do cotidiano para
uma luta verbal, veiculada por meio de linguagem manter as pessoas informadas.
simples e objetiva, que busca traduzir a situação de e) valer-se de tema do cotidiano como ponto de
exclusão social do narrador. partida para a construção de texto, que recebe
c) representa a literatura dos anos 70 do século XX e tratamento estético.
aborda, por meio de expressão clara e objetiva e de
ponto de vista distanciado, os problemas da 24. (Enem 2004) Cândido Portinari (1903-1962), em seu
urbanização das grandes metrópoles brasileiras. livro "Retalhos de Minha Vida de Infância", descreve os
d) evidencia uma crítica à sociedade em que vivem os pés dos trabalhadores.
personagens, por meio de fluxo verbal contínuo de
tom agressivo. Pés disformes. Pés que podem contar uma
e) traduz, em linguagem subjetiva e intimista, a partir história. Confundiam-se com as pedras e os espinhos.
do ponto de vista interno, os dramas psicológicos da Pés semelhantes aos mapas: com montes e vales,
mulher moderna, às voltas com a questão da vincos como rios. (...) Pés sofridos com muitos e muitos
priorização do trabalho em detrimento da vida quilômetros de marcha. Pés que só os santos têm.
familiar e amorosa. Sobre a terra, difícil era distingui-los. Agarrados ao solo,
eram como alicerces, muitas vezes suportavam apenas
23. (Enem 2008) São Paulo vai se recensear. O governo um corpo franzino e doente.
quer saber quantas pessoas governa. A indagação (Cândido Portinari, Retrospectiva, Catálogo
atingirá a fauna e a flora domesticadas. Bois, mulheres MASP)
e algodoeiros serão reduzidos a números e invertidos
em estatísticas. As fantasias sobre o Novo Mundo, a diversidade da
O homem do censo entrará pelos bangalôs, natureza e do homem americano e a crítica social
pelas pensões, pelas casas de barro e de cimento foram temas que inspiraram muitos artistas ao longo
armado, pelo sobradinho e pelo apartamento, pelo de nossa História. Dentre estas imagens, a que melhor
cortiço e pelo hotel, perguntando: caracteriza a crítica social contida no texto de Portinari
- Quantos são aqui? é
Pergunta triste, de resto. Um homem dirá:

34
LITERATURA

a)

b)

Considerando que símbolos e sinais são utilizados


geralmente para demonstrações objetivas, ao serem
incorporados no poema "Epithalamium - II",
c)
a) adquirem novo potencial de significação.
b) eliminam a subjetividade do poema.
c) opõem-se ao tema principal do poema.
d) invertem seu sentido original.
e) tornam-se confusos e equivocados.

26. (Enem 2003) Do pedacinho de papel ao livro


impresso vai uma longa distância. Mas o que o escritor
d) quer, mesmo, é isso: ver o seu texto em letra de forma.
A gaveta é ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz
amadurecer o texto da mesma forma que a adega faz
amadurecer o vinho. Em certos casos, a cesta de papel
é melhor ainda.
O período de maturação na gaveta é necessário, mas
não deve se prolongar muito. 'Textos guardados
e) acabam cheirando mal', disse Silvia Plath, (...) que, com
esta frase, deu testemunho das dúvidas que
atormentam o escritor: publicar ou não publicar?
guardar ou jogar fora?

(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)

Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa imagens para


25. (Enem 2004) O poema a seguir pertence à poesia refletir sobre uma etapa da criação literária. A ideia de
concreta brasileira. O termo latino de seu título que o processo de maturação do texto nem sempre é o
significa "epitalâmio", poema ou canto em homenagem que garante bons resultados está sugerida na seguinte
aos que se casam. frase:
a) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria criativa."
b) "Em certos casos, a cesta de papel é melhor ainda."
c) "O período de maturação na gaveta é necessário,
(...)."
d) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o seu
texto em letra de forma."
e) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto da mesma
forma que a adega faz amadurecer o vinho."

35
LITERATURA

27. (Enem 2002) lavar o rosto no orvalho


Miguilim e o pão preserve aquele branco
sabor de alvorada.
"De repente lá vinha um homem a cavalo. Eram dois.
Um senhor de fora, o claro de roupa. Miguilim saudou, A natureza me assusta.
pedindo a bênção. O homem trouxe o cavalo cá bem Com seus matos sombrios suas águas
junto. Ele era de óculos, corado, alto, com um chapéu suas aves que são como aparições
diferente, mesmo. me assusta quase tanto quanto
- Deus te abençoe, pequenino. Como é teu nome? esse abismo
- Miguilim. Eu sou irmão do Dito. de gases e de estrelas
- E o seu irmão Dito é o dono daqui? aberto sob minha cabeça.
- Não, meu senhor. O Ditinho está em glória.
O homem esbarrava o avanço do cavalo, que era (GULLAR, Ferreira.Toda poesia. Rio de Janeiro:
zelado, manteúdo, formoso como nenhum outro. José Olympio Editora, 1991)
Redizia:
- Ah, não sabia, não. Deus o tenha em sua guarda... Embora não opte por viver numa pequena cidade, o
Mas que é que há, Miguilim? poeta reconhece elementos de valor no cotidiano das
Miguilim queria ver se o homem estava mesmo pequenas comunidades. Para expressar a relação do
sorrindo para ele, por isso é que o encarava. homem com alguns desses elementos, ele recorre à
- Por que você aperta os olhos assim? Você não é limpo sinestesia, construção de linguagem em que se
de vista? Vamos até lá. Quem é que está em tua casa? mesclam impressões sensoriais diversas. Assinale a
- É Mãe, e os meninos... opção em que se observa esse recurso.
Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos. O senhor a) "e o pão preserve aquele branco / sabor de
alto e claro se apeou. O outro, que vinha com ele, era alvorada."
um camarada. O senhor perguntava à Mãe muitas b) ainda que lá se possa de manhã / lavar o rosto no
coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo: - orvalho'
'Miguilim, espia daí: quantos dedos da minha mão você c) "A natureza me assusta. / Com seus matos sombrios
está enxergando? E agora?" suas águas"
d) "suas aves que são como aparições / me assusta
(ROSA, João Guimarães. Manuelzão e quase tanto quanto"
Miguilim. 9a ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.) e) "me assusta quase tanto quanto / esse abismo/ de
gases e de estrelas"
Esta história, com narrador observador em terceira
pessoa, apresenta os acontecimentos da perspectiva de 29. (Enem 1999) Quem não passou pela experiência de
Miguilim. O fato de o ponto de vista do narrador ter estar lendo um texto e defrontar-se com passagens já
Miguilim como referência, inclusive espacial, fica lidas em outros? Os textos conversam entre si em um
explicitado em: diálogo constante. Esse fenômeno tem a denominação
de intertextualidade. Leia os seguintes textos:
a) "O homem trouxe o cavalo cá bem junto."
b) "Ele era de óculos, corado, alto (...)" I. Quando nasci, um anjo torto
c) "O homem esbarrava o avanço do cavalo, (...)" Desses que vivem na sombra
d) "Miguilim queria ver se o homem estava mesmo Disse: Vai Carlos! Ser "gauche" na vida
sorrindo para ele, (...)"
e) "Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos" (ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma Poesia.
Rio de Janeiro: Aguilar, 1964)
28. (Enem 2000) Ferreira Gullar, um dos grandes
poetas brasileiros da atualidade, é autor de "Bicho II. Quando nasci veio um anjo safado
urbano", poema sobre a sua relação com as pequenas e O chato dum querubim
grandes cidades. E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
Bicho urbano Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim.
Se disser que prefiro morar em Pirapemas
ou em outra qualquer pequena cidade do país (BUARQUE, Chico. Letra e música. São Paulo:
estou mentindo Cia das Letras, 1989)
ainda que lá se possa de manhã

36
LITERATURA

III. Quando nasci um anjo esbelto d) esperança e valentia.


Desses que tocam trombeta, anunciou: e) bravura e loucura.
Vai carregar bandeira.
Carga muito pesada pra mulher
Esta espécie ainda envergonhada. 2. (Enem 2015) Exmº Sr. Governador:
Trago a V. Exa. um resumo dos trabalhos realizados
(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928.
Guanabara, 1986) [...]
ADMINISTRAÇÃO
Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem Relativamente à quantia orçada, os telegramas
intertextualidade, em relação a Carlos Drummond de custaram pouco. De ordinário vai para eles dinheiro
Andrade, por considerável. Não há vereda aberta pelos matutos que
a) reiteração de imagens prefeitura do interior não ponha no arame,
b) oposição de ideias proclamando que a coisa foi feita por ela; comunicam-
c) falta de criatividade se as datas históricas ao Governo do Estado, que não
d) negação dos versos precisa disso; todos os acontecimentos políticos são
e) ausência de recursos badalados. Porque se derrubou a Bastilha - um
telegrama; porque se deitou pedra na rua - um
telegrama; porque o deputado F. esticou a canela - um
Questões Recentes telegrama.
Palmeira dos Índios, 10 de janeiro de 1929.
1. (Enem 2015) TEXTO I GRACILlANO RAMOS

Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a RAMOS, G. Viventes das Alagoas. São Paulo: Martins
história, resistiu até o esgotamento completo. Vencido Fontes, 1962.
palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no
dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos O relatório traz a assinatura de Graciliano Ramos, na
defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: época, prefeito de Palmeira dos Índios, e é destinado
um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente ao governo do estado de Alagoas. De natureza oficial, o
dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados. texto chama a atenção por contrariar a norma prevista
para esse gênero, pois o autor
CUNHA, E. Os sertões. Rio de Janeiro: Francisco Alves, a) emprega sinais de pontuação em excesso.
1987. b) recorre a termos e expressões em desuso no
TEXTO II português.
c) apresenta-se na primeira pessoa do singular, para
Na trincheira, no centro do reduto, permaneciam conotar intimidade com o destinatário.
quatro fanáticos sobreviventes do extermínio. Era um d) privilegia o uso de termos técnicos, para demonstrar
velho, coxo por ferimento e usando uniforme da conhecimento especializado.
Guarda Católica, um rapaz de 16 a 18 anos, um preto e) expressa-se em linguagem mais subjetiva, com forte
alto e magro, e um caboclo. Ao serem intimados para carga emocional.
deporem as armas, investiram com enorme fúria. Assim
estava terminada e de maneira tão trágica a sanguinosa
3. (Enem 2015) Um dia, meu pai tomou-me pela mão,
guerra, que o banditismo e o fanatismo traziam acesa
minha mãe beijou-me a testa, molhando-me de
por longos meses, naquele recanto do território
lágrimas os cabelos e eu parti.
nacional.
Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha
instalação.
SOARES, H. M. A Guerra de Canudos. Rio de Janeiro:
Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por
Altina, 1902.
um sistema de nutrido reclame, mantido por um
diretor que de tempos a tempos reformava o
Os relatos do último ato da Guerra de Canudos fazem
estabelecimento, pintando-o jeitosamente de
uso de representações que se perpetuariam na
novidade, como os negociantes que liquidam para
memória construída sobre o conflito. Nesse sentido,
recomeçar com artigos de última remessa; o Ateneu
cada autor caracterizou a atitude dos sertanejos,
desde muito tinha consolidado crédito na preferência
respectivamente, como fruto da
dos pais, sem levar em conta a simpatia da meninada, a
a) manipulação e incompetência.
cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios.
b) ignorância e solidariedade.
O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família
c) hesitação e obstinação.

37
LITERATURA

do Visconde de Ramos, do Norte, enchia o império com b) desconstrói o discurso da filosofia a fim de
o seu renome de pedagogo. Eram boletins de questionar o conceito de dever.
propaganda pelas províncias, conferências em diversos c) resgata a metodologia da história para denunciar as
pontos da cidade, a pedidos, à substância, atochando a atitudes irracionais.
imprensa dos lugarejos, caixões, sobretudo, de livros d) transita entre o humor e a ironia para celebrar o
elementares, fabricados às pressas com o ofegante e caos da vida cotidiana.
esbaforido concurso de professores prudentemente e) satiriza a matemática e a medicina para desmistificar
anônimos, caixões e mais caixões de volumes o saber científico.
cartonados em Leipzig, inundando as escolas públicas
de toda a parte com a sua invasão de capas azuis, 5. (Enem 2015) Cântico VI
róseas, amarelas, em que o nome de Aristarco, inteiro
e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos Tu tens um medo de
esfaimados de alfabeto dos confins da pátria. Os Acabar.
lugares que os não procuravam eram um belo dia Não vês que acabas todo o dia.
surpreendidos pela enchente, gratuita, espontânea, Que morres no amor.
irresistível! E não havia senão aceitar a farinha daquela Na tristeza.
marca para o pão do espírito. Na dúvida.
No desejo.
POMPEIA, R. O Ateneu. São Paulo: Scipione, 2005. Que te renovas todo dia.
No amor.
Ao descrever o Ateneu e as atitudes de seu diretor, o Na tristeza.
narrador revela um olhar sobre a inserção social do Na dúvida.
colégio demarcado pela No desejo.
a) ideologia mercantil da educação, repercutida nas Que és sempre outro.
vaidades pessoais. Que és sempre o mesmo.
b) interferência afetiva das famílias, determinantes no Que morrerás por idades imensas.
processo educacional. Até não teres medo de morrer.
c) produção pioneira de material didático, responsável E então serás eterno.
pela facilitação do ensino.
d) ampliação do acesso à educação, com a negociação MEIRELES, C. Antologia poética, Rio de Janeiro: Record.
dos custos escolares. 1963 (fragmento).
e) cumplicidade entre educadores e famílias, unidos
pelo interesse comum do avanço social. A poesia de Cecília Meireles revela concepções sobre o
homem em seu aspecto existencial. Em Cântico VI, o eu
4. (Enem 2015) Primeiro surgiu o homem nu de cabeça lírico exorta seu interlocutor a perceber, como inerente
baixa. Deus veio num raio. Então apareceram os bichos à condição humana,
que comiam os homens. E se fez o fogo, as especiarias,
a roupa, a espada e o dever. Em seguida se criou a a) a sublimação espiritual graças ao poder de se
filosofia, que explicava como não fazer o que não devia emocionar.
ser feito. Então surgiram os números racionais e a b) o desalento irremediável em face do cotidiano
História, organizando os eventos sem sentido. A fome repetitivo.
desde sempre, das coisas e das pessoas. Foram c) o questionamento cético sobre o rumo das atitudes
inventados o calmante e o estimulante. E alguém humanas.
apagou a luz. E cada um se vira como pode, arrancando d) a vontade inconsciente de perpetuar-se em estado
as cascas das feridas que alcança. adolescente.
e) um receio ancestral de confrontar a
BONASSI, F. 15 cenas do descobrimento de Brasis. In: imprevisibilidade das coisas.
MORICONI, I. (Org.). Os cem melhores contos do século.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. 6. (Enem 2015) a sua memória

A narrativa enxuta e dinâmica de Fernando Bonassi mil


configura um painel evolutivo da história da e
humanidade. Nele, a projeção do olhar contemporâneo mui
manifesta uma percepção que tos
a) recorre à tradição bíblica como fonte de inspiração out
para a humanidade. ros

38
LITERATURA

ros projeto, na medida em que


tos a) a paisagem natural ganha contornos surreais, como
sol o projeto brasileiro de grandeza.
tos b) a prosperidade individual, como a exuberância da
pou terra, independe de políticas de governo.
coa c) os valores afetivos atribuídos à família devem ser
pou aplicados também aos ícones nacionais.
coa d) a capacidade produtiva da terra garante ao país a
pag riqueza que se verifica naquele momento.
amo e) a valorização do trabalhador passa a integrar o
meu conceito de bem-estar social experimentado.

ANTUNES, A. 2 ou + corpos no mesmo espaço. São 8. (Enem 2015) Aquarela


Paulo: Perspectiva, 1998.
O corpo no cavalete
Trabalhando com recursos formais inspirados no é um pássaro que agoniza
Concretismo, o poema atinge uma expressividade que exausto do próprio grito.
se caracteriza pela As vísceras vasculhadas
a) interrupção da fluência verbal, para testar os limites principiam a contagem
da lógica racional. regressiva.
b) reestruturação formal da palavra, para provocar o No assoalho o sangue
estranhamento no leitor. se decompõe em matizes
c) dispersão das unidades verbais, para questionar o que a brisa beija e balança:
sentido das lembranças. o verde - de nossas matas
d) fragmentação da palavra, para representar o o amarelo - de nosso ouro
estreitamento das lembranças. o azul - de nosso céu
e) renovação das formas tradicionais, para propor uma o branco o negro o negro
nova vanguarda poética.
CACASO. In: HOLLANDA, H. B (Org.). 26 poetas hoje. Rio
7. (Enem 2015) A pátria do Janeiro: Aeroplano, 2007.

Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!


Criança! não verás nenhum país como este! Situado na vigência do Regime Militar que governou o
Olha que céu! que mar! que rios! que floresta! Brasil, na década de 1970, o poema de Cacaso edifica
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa, uma forma de resistência e protesto a esse período,
É um seio de mãe a transbordar carinhos. metaforizando
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos! a) as artes plásticas, deturpadas pela repressão e
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos! censura.
Vê que grande extensão de matas, onde impera, b) a natureza brasileira, agonizante como um pássaro
Fecunda e luminosa, a eterna primavera! enjaulado.
Boa terra! jamais negou a quem trabalha c) o nacionalismo romântico, silenciado pela
O pão que mata a fome, o teto que agasalha... perplexidade com a Ditadura.
d) o emblema nacional, transfigurado pelas marcas do
Quem com o seu suor a fecunda e umedece, medo e da violência.
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece! e) as riquezas da terra, espoliadas durante o
aparelhamento do poder armado.
Criança! não verás país nenhum como este:
Imita na grandeza a terra em que nasceste! 9. (Enem 2015) Casa dos Contos

BILAC, O. Poesias infantis. Rio de Janeiro: Francisco & em cada conto te cont
Alves, 1929. o & em cada enquanto me enca
nto & em cada arco te a
Publicado em 1904, o poema A pátria harmoniza-se barco & em cada porta m
com um projeto ideológico em construção na Primeira e perco & em cada lanço t
República. O discurso poético de Olavo Bilac ecoa esse e alcanço & em cada escad

39
LITERATURA

a me escapo & em cada pe A reflexão acerca do fazer poético é um dos mais


dra te prendo & em cada g marcantes atributos da produção literária
rade me escravo & em ca contemporânea, que, no poema de José Paulo Paes, se
da sótão te sonho & em cada expressa por um(a)
esconso me affonso & em a) reconhecimento, pelo eu lírico, de suas limitações no
cada cláudio te canto & e processo criativo, manifesto na expressão “Por
m cada fosso me enforco & translúcida pões”.
b) subserviência aos princípios do rigor formal e dos
ÁVILA, A. Discurso da difamação do poeta. São Paulo: cuidados com a precisão metafórica, como se
Summus, 1978. observa em “prisão da forma”.
c) visão progressivamente pessimista, em face da
O contexto histórico e literário do período barroco- impossibilidade da criação poética, conforme
árcade fundamenta o poema Casa dos Contos, de 1975. expressa o verso “e te estilhaces, suicida”.
A restauração de elementos daquele contexto por uma d) processo de contenção, amadurecimento e
poética contemporânea revela que transformação da palavra, representado pelos
a) a disposição visual do poema reflete sua dimensão versos “numa explosão / de diamantes”.
plástica, que prevalece sobre a observação da e) necessidade premente de libertação da prisão
realidade social. representada pela poesia, simbolicamente
b) a reflexão do eu lírico privilegia a memória e resgata, comparada à “garrafa” a ser “estilhaçada”.
em fragmentos, fatos e personalidades da
Inconfidência Mineira. 11. (Enem 2015)
c) a palavra “esconso” (escondido) demonstra o
desencanto do poeta com a utopia e sua opção por
uma linguagem erudita.
d) o eu lírico pretende revitalizar os contrastes
barrocos, gerando uma continuidade de
procedimentos estéticos e literários.
e) o eu lírico recria, em seu momento histórico, numa
linguagem de ruptura, o ambiente de opressão
vivido pelos inconfidentes.

10. (Enem 2015)

À garrafa

Contigo adquiro a astúcia


de conter e de conter-me.
Teu estreito gargalo
é uma lição de angústia.

Por translúcida pões As formas plásticas nas produções africanas


o dentro fora e o fora dentro conduziram artistas modernos do início do século XX,
para que a forma se cumpra como Pablo Picasso, a algumas proposições artísticas
e o espaço ressoe. denominadas vanguardas. A máscara remete à

Até que, farta da constante


prisão da forma, saltes a) preservação da proporção.
da mão para o chão b) idealização do movimento.
e te estilhaces, suicida. c) estruturação assimétrica.
d) sintetização das formas.
numa explosão e) valorização estética.
de diamantes.

PAES, J. P. Prosas seguidas de odes mínimos. São Paulo:


Cia. das Letras, 1992. 12. (Enem 2015)

40
LITERATURA

ASSIS, M. A causa secreta. Disponível em:


www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 9 out. 2015.

No fragmento, o narrador adota um ponto de vista que


acompanha a perspectiva de Fortunato. O que
singulariza esse procedimento narrativo é o registro
do(a)
a) indignação face à suspeita do adultério da esposa.
b) tristeza compartilhada pela perda da mulher amada.
c) espanto diante da demonstração de afeto de Garcia.
d) prazer da personagem em relação ao sofrimento
alheio.
e) superação do ciúme pela comoção decorrente da
morte.

14. (Enem 2017)


Declaração de amor

Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa


Ela não é fácil. Não é maleável. [...] A língua portuguesa
é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo
O Surrealismo configurou-se como uma das vanguardas para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a
artísticas europeias do início do século XX. René primeira capa de superficialismo.
Magritte, pintor belga, apresenta elementos dessa
vanguarda em suas produções. Um traço do Às vezes ela reage diante de um pensamento mais
Surrealismo presente nessa pintura é o(a) complicado. Às vezes se assusta com o imprevisível de
uma frase. Eu gosto de manejá-la – como gostava de
a) justaposição de elementos díspares, observada na estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às
imagem do homem no espelho. vezes a galope. Eu queria que a língua portuguesa
b) crítica ao passadismo, exposta na dupla imagem do chegasse ao máximo em minhas mãos. E este desejo
homem olhando sempre para frente. todos os que escrevem têm. Um Camões e outros
c) construção de perspectiva, apresentada na iguais não bastaram para nos dar para sempre uma
sobreposição de planos visuais. herança de língua já feita. Todos nós que escrevemos
d) processo de automatismo, indicado na repetição da estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma
imagem do homem. coisa que lhe dê vida.
e) procedimento de colagem, identificado no reflexo do
livro no espelho. Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do
encantamento de lidar com uma língua que não foi
13. (Enem 2017) Garcia tinha-se chegado ao cadáver, aprofundada. O que recebi de herança não me chega.
levantara o lenço e contemplara por alguns instantes as Se eu fosse muda e também não pudesse escrever, e
feições defuntas. Depois, como se a morte me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu
espiritualizasse tudo, inclinou-se e beijou-a na testa. Foi diria: inglês, que é preciso e belo. Mas, como não nasci
nesse momento que Fortunato chegou à porta. Estacou muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro
assombrado; não podia ser o beijo da amizade, podia para mim que eu queria mesmo era escrever em
ser o epílogo de um livro adúltero [...]. português. Eu até queria não ter aprendido outras
línguas: só para que a minha abordagem do português
Entretanto, Garcia inclinou-se ainda para beijar outra fosse virgem e límpida.
LISPECTOR. C. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro Rocco, 1999
vez o cadáver, mas então não pôde mais. O beijo (adaptado).
rebentou em soluços, e os olhos não puderam conter
as lágrimas, que vieram em borbotões, lágrimas de O trecho em que Clarice Lispector declara seu amor
amor calado, e irremediável desespero. Fortunato, à pela língua portuguesa, acentuando seu caráter
porta, onde ficara, saboreou tranquilo essa explosão de patrimonial e sua capacidade de renovação, é:
dor moral que foi longa, muito longa, deliciosamente
longa. a) “A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para
quem escreve.”

41
LITERATURA

b) “Um Camões e outros iguais não bastaram para nos a intensa expectativa que se instala. Mas não exagere
dar para sempre uma herança de língua já feita.” na medida e suba sem demora ao quarto, libertando aí
c) “Todos nós que escrevemos estamos fazendo do os pés das meias e dos sapatos, tirando a roupa do
túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê corpo como e retirasse a importância das coisas,
vida.” pondo-se enfim em vestes mínimas, quem sabe até em
d) “Mas não falei do encantamento de lidar com uma pelo, mas sem ferir o decoro (o seu decoro, está claro),
língua que não foi aprofundada.” e aceitando ao mesmo tempo, como boa verdade
e) “Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só provisória, toda mudança de comportamento.
para que a minha abordagem do português fosse NASSAR, R. Menina a caminho. São Paulo: Cia. das Letras. 1997.
virgem e límpida.”
Em textos de diferentes gêneros, algumas estratégias
15. (Enem 2017) Essas moças tinham o vezo de afirmar argumentativas referem-se a recursos linguístico-
o contrário do que desejavam. Notei a singularidade discursivos mobilizados para envolver o leitor. No
quando principiaram a elogiar o meu paletó cor de texto, caracteriza-se como estratégia de envolvimento
macaco. Examinavam-no sérias, achavam o pano e os a
aviamentos de qualidade superior, o feitio admirável. a) prescrição de comportamentos, como em: “[...]
Envaideci-me: nunca havia reparado em tais largue tudo de repente sob os olhares a sua volta
vantagens. Mas os gabos se prolongaram, trouxeram- [...]”.
me desconfiança. Percebi afinal que elas zombavam e b) apresentação de contraposição, como em: “Mas não
não me susceptibilizei. Longe disso: achei curiosa exagere na medida e suba sem demora ao quarto
aquela maneira de falar pelo avesso, diferente das [...]”.
grosserias a que me habituara. Em geral me diziam com c) explicitação do interlocutor, como em: “[...] (espécie
franqueza que e roupa não me assentava no corpo, da qual você, milenarmente cansado, talvez se sinta
sobrava nos sovacos. um tanto excluído) [...]”.
d) descrição do espaço, como em: “Nesta sala atulhada
RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1994. de mesas, máquinas e papéis, onde invejáveis
escreventes dividiram entre si o bom-senso do
Por meio de recursos linguísticos, os textos mobilizam mundo [...]”.
estratégias para introduzir e retomar ideias, e) construção de comparações, como em: “[...]
promovendo a progressão do tema. No fragmento libertando aí os pés das meias e dos sapatos, tirando
transcrito, um novo aspecto do tema é introduzido pela a roupa do corpo como se retirasse a importância
expressão das coisas [...]”.
a) “a singularidade”.
b) “tais vantagens”. 17. (Enem 2017) A lavadeira começou a viver como
c) “os gabos”. uma serviçal que impõe respeito e não mais como
d) “Longe disso”. escrava. Mas essa regalia súbita foi efêmera. Meus
e) “Em geral”. irmãos, nos frequentes deslizes que adulteravam este
novo relacionamento, geram dardejados pelo olhar
16. (Enem 2017) severo de Emilie; eles nunca suportaram de bom grado
Aí pelas três da tarde que uma índia passasse a comer na mesa da sala,
Nesta sala atulhada de mesas, máquinas e papéis, onde usando os mesmos talheres e pratos, e comprimindo
invejáveis escreventes dividiram entre si o bom senso com os lábios o mesmo cristal dos copos e a mesma
do mundo, aplicando-se em ideias claras apesar do porcelana das xícaras de café. Uma espécie de asco e
ruído e do mormaço, seguros ao se pronunciarem repulsa tingia-lhes o rosto, já não comiam com a
sobre problemas que afligem o homem moderno mesma saciedade e recusavam-se a elogiar os pastéis
(espécie da qual você, milenarmente cansado, talvez se de picadinho de carneiro, os folheados de nata e
sinta um tanto excluído), largue tudo de repente sob os tâmara, e o arroz com amêndoas, dourado, exalando
olhares a sua volta, componha uma cara de louco um cheiro de cebola tostada. Aquela mulher, sentada e
quieto e perigoso, faça os gestos mais calmos quanto muda, com o rosto rastreado de rugas, era capaz de
os tais escribas mais severos, dê um largo “ciao” ao tirar o sabor e o odor dos alimentos e de suprimir a voz
trabalho do dia, assim como quem se despede da vida, e o gesto como se o seu silêncio ou a sua presença que
e surpreenda pouco mais tarde, com sua presença em era só silêncio impedisse o outro de viver.
HATOUM. M. Relato de um certo Oriente. São Paulo: Cia das Letras,
hora tão insólita, os que estiveram em casa ocupados 2000.
na limpeza dos armários, que você não sabia antes
como era conduzida. Convém não responder aos
olhares interrogativos, deixando crescer, por instantes,

42
LITERATURA

Ao apresentar uma situação de tensão em família, o c) censurar a falta de domínio da língua padrão em
narrador destila, nesse fragmento, uma percepção das eventos sociais.
relações humanas e sociais demarcada pelo d) despertar a preocupação da plateia com a
a) predomínio dos estigmas de classe e de raça sobre a expectativa de vida dos Cidadãos.
intimidade da convivência. e) questionar o apoio irrestrito de agentes públicos aos
b) discurso da manutenção de uma ética doméstica gestores governamentais.
contra a subversão dos valores.
c) desejo de superação do passado de escassez em prol 19. (Enem 2017) E aqui, antes de continuar este
do presente de abastança. espetáculo, é necessário que façamos uma advertência
d) sentimento de insubordinação à autoridade a todos e a cada um. Neste momento, achamos
representada pela matriarca da família. fundamental que cada um tome uma posição definida.
e) rancor com a ingratidão e a hipocrisia geradas pela Sem que cada um tome uma posição definida, não é
mudanças nas regras da casa. possível continuarmos. É fundamental que cada um
tome uma posição, seja para a esquerda, seja para a
18. (Enem 2017) Segundo quadro direita. Admitimos mesmo que alguns tomem uma
posição neutra, fiquem de braços cruzados. Mas é
Uma sala da prefeitura. O ambiente é modesto. preciso que cada um, uma vez tomada sua posição,
Durante a mutação, ouve-se um dobrado e vivas a fique nela! Porque senão, companheiros, as cadeiras do
Odorico, “viva o prefeito” etc. Estão em cena Dorotéa, teatro rangem muito e ninguém ouve nada.
Juju, Dirceu, Dulcinéa, o vigário e Odorico. Este último,
à janela, discursa. FERNANDES, M.; RANGEL, F. Liberdade, liberdade.
Porto Alegre: L&PM, 2009.
ODORICO – Povo sucupirano! Agoramente já investido
no cargo de Prefeito, aqui estou para receber a
confirmação, a ratificação, a autenticação e por que A peça Liberdade, liberdade, encenada em 1964,
não dizer a sagração do povo que me elegeu. apresenta o impasse vivido pela sociedade brasileira
em face do regime vigente. Esse impasse é
Aplausos vêm de fora. representado no fragmento pelo(a)
a) barulho excessivo produzido pelo ranger das
ODORICO – Eu prometi que o meu primeiro ato como cadeiras do teatro.
prefeito seria ordenar a construção do cemitério. b) indicação da neutralidade como a melhor opção
ideológica naquele momento.
Aplausos, aos quais se incorporam as personagens em c) constatação da censura em função do engajamento
cena. social do texto dramático.
d) conotação entre o alinhamento político e a posição
ODORICO – (Continuando o discurso:) Botando de lado corporal dos espectadores.
os entretantos e partindo pros finalmente, é uma e) interrupção do espetáculo em virtude do
alegria poder anunciar que prafrentemente vocês lá comportamento inadequado do público.
poderão morrer descansados, tranquilos e
desconstrangidos, na certeza de que vão ser sepultados 20. (Enem 2017)
aqui mesmo, nesta terra morna e cheirosa de Sucupira.
E quem votou em mim, basta dizer isso ao padre na Contranarciso
hora da extrema-unção, que tem enterro e cova de
graça, conforme o prometido. em mim
eu vejo o outro
GOMES, D. O bem amado. Rio de Janeiro: Ediouro, e outro
2012. e outro
enfim dezenas
trens passando
O gênero peça teatral tem o entretenimento como vagões cheios de gente
uma de suas funções. Outra função relevante do centenas
gênero, explícita nesse trecho de O bem amado, é a
a) criticar satiricamente o comportamento de pessoas o outro
públicas. que há em mim
b) denunciar a escassez de recursos públicos nas é você
prefeituras do interior. você

43
LITERATURA

e você c) repercute as manifestações do sincretismo religioso.


d) descreve a gênese da formação do povo brasileiro.
assim como e) promove inovações no repertório linguístico.
eu estou em você
eu estou nele 22. (Enem 2017) Sítio Gerimum
em nós Este é o meu lugar [...]
e só quando Meu Gerimum é com g
estamos em nós Você pode ter estranhado
estamos em paz Gerimum em abundância
mesmo que estejamos a sós Aqui era plantado
E com a letra g
LEMINSKI, P. Toda poesia. São Paulo: Cia. das Letras. Meu lugar foi registrado.
2013.
OLIVEIRA, H. D. Língua Portuguesa. n. 88. fev. 2013
A busca pela identidade constitui uma faceta da (fragmento)
tradição literária, redimensionada pelo olhar
contemporâneo. No poema, essa nova dimensão revela Nos versos de um menino de 12 anos, o emprego da
a palavra “Gerimum" grafada com a letra “g” tem por
a) ausência de traços identitários. objetivo
b) angústia com a solidão em público. a) valorizar usos informais caracterizadores da norma
c) valorização da descoberta do “eu” autêntico. nacional.
d) percepção da empatia como fator de b) confirmar o uso da norma-padrão em contexto da
autoconhecimento. linguagem poética.
e) impossibilidade de vivenciar experiências de c) enfatizar um processo recorrente na transformação
pertencimento. da língua portuguesa.
d) registrar a diversidade étnica e linguística presente
21. (Enem 2017) O farrista no território brasileiro.
e) reafirmar discursivamente a forte relação do falante
Quando o almirante Cabral com seu lugar de origem.
Pôs as patas no Brasil
O anjo da guarda dos índios 23. (Enem 2017) O mundo revivido
Estava passeando em Paris.
Quando ele voltou de viagem Sobre esta casa e as árvores que o tempo
O holandês já está aqui. esqueceu de levar. Sobre o curral
O anjo respira alegre: de pedra e paz e de outras vacas tristes
“Não faz mal, isto é boa gente, chorando a lua e a noite sem bezerros.
Vou arejar outra vez.”
O anjo transpôs a barra, Sobre a parede larga deste açude
Diz adeus a Pernambuco, onde outras cobras verdes se arrastavam,
Faz barulho, vuco-vuco, e pondo o sol nos seus olhos parados
Tal e qual o zepelim iam colhendo sua safra de sapos.
Mas deu um vento no anjo,
Ele perdeu a memória... Sob as constelações do sul que a noite
E não voltou nunca mais. armava e desarmava: as Três Marias,
o Cruzeiro distante e o Sete-Estrelo.
MENDES. M. História do Brasil. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira. 1992 Sobre este mundo revivido em vão,
a lembrança de primos, de cavalos,
de silêncio perdido para sempre.
A obra de Murilo Mendes situa-se na fase inicial do
Modernismo, cujas propostas estéticas transparecem, DOBAL, H. A província deserta. Rio de Janeiro:
no poema, por um eu lírico que Artenova, 1974.
a) configura um ideal de nacionalidade pela integração
regional. No processo de reconstituição do tempo vivido, o eu
b) remonta ao colonialismo assente sob um viés lírico projeta um conjunto de imagens cujo lirismo se
iconoclasta. funda menta no

44
LITERATURA

a) inventário das memórias evocadas afetivamente.


b) reflexo da saudade no desejo de voltar à infância. 25. (Enem 2017)
c) sentimento de inadequação com o presente vivido. TEXTO I
d) ressentimento com as perdas materiais e humanas.
e) lapso no fluxo temporal dos eventos trazidos à cena.

24. (Enem 2017)


As atrizes

Naturalmente
Ela sorria
Mas não me dava trela
Trocava a roupa
Na minha frente
E ia bailar sem mais aquela
Escolhia qualquer um
Lançava olhares
Debaixo do meu nariz
Dançava colada
Em novos pares
Com um pé atrás
Com um pé a fim
Surgiram outras
Naturalmente TEXTO II
Sem nem olhar a minha cara
Tomavam banho Na sua produção, Goeldi buscou refletir seu caminho
Na minha frente pessoal e político, sua melancolia e paixão sobre os
Para sair com outro cara intensos aspectos mais latentes em sua obra, como:
Porém nunca me importei cidades, peixes, urubus, caveiras, abandono, solidão,
Com tais amantes drama e medo.
ZULIETTI, L. F. Goeldi: da melancolia ao inevitável.
[...] Revista de Arte, Mídia e Política. Acesso em: 24 abr.
2017 (adaptado).
Com tantos filmes
Na minha mente
É natural que toda atriz O gravador Oswaldo Goeldi recebeu fortes influências
Presentemente represente de um movimento artístico europeu do início do século
Muito para mim XX, que apresenta as características reveladas nos
traços da obra de
CHICO BUARQUE. Carioca. Rio de Janeiro: Biscoito Fino,
2006 (fragmento).

Na canção, Chico Buarque trabalha uma determinada


função da linguagem para marcar a subjetividade do eu
lírico ante as atrizes que ele admira. A intensidade
dessa admiração está marcada em:

a) “Naturalmente/ Ela sorria/ Mas não me dava trela”.


b) “Tomavam banho/ Na minha frente/ Para sair com
outro cara”.
c) “Surgiram outras/ Naturalmente/ Sem nem olhar a
minha cara”.
d) “Escolhia qualquer um/ Lançava olhares/ Debaixo do
meu nariz”. a)
e) “É natural que toda atriz/ Presentemente
represente/ Muito para mim”.

45
LITERATURA

26. (Enem 2017)

b)

A obra de Rubem Valentim apresenta emblema que,


baseando-se em signos de religiões afro-brasileiras, se
c) transformam em produção artística. A obra Emblema
78 relaciona-se com o Modernismo em virtude da
a) simplificação de formas da paisagem brasileira.
b) valorização de símbolos do processo de urbanização.
c) fusão de elementos da cultura brasileira com a arte
europeia.
d) alusão aos símbolos cívicos presentes na bandeira
nacional.
e) composição simétrica de elementos relativos à
miscigenação racial.

27. (Enem 2016) Bons dias!


14 de junho de 1889

Ó doce, ó longa, ó inexprimível melancolia dos jornais


d) velhos! Conhece-se um homem diante de um deles.
Pessoa que não sentir alguma coisa ao ler folhas de
meio século, bem pode crer que não terá nunca uma
das mais profundas sensações da vida, – igual ou quase
igual à que dá a vista das ruínas de uma civilização. Não
é a saudade piegas, mas a recomposição do extinto, a
revivescência do passado.

ASSIS. M. Bons dias! (Crônicas 1885-1839).


Campinas Editora da Unicamp, São Paulo: Hucitec,
1590.
e)
O jornal impresso é parte integrante do que hoje se
compreende por tecnologias de informação e
comunicação. Nesse texto, o jornal é reconhecido
como
a) objeto de devoção pessoal.
b) elemento de afirmação da cultura.
c) instrumento de reconstrução da memória.
d) ferramenta de investigação do ser humano.

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LITERATURA

e) veículo de produção de fatos da realidade. milho. A galinha continuou a bicar o chão desorientada.
Atirou ainda mais, com paciência, até que ela se
28. (Enem 2016) A partida de trem fartasse. Mas não conseguiu com o gasto de milho, de
que as outras se aproveitaram, atinar com a origem
Marcava seis horas da manhã. Angela Pralini pagou o daquela desorientação. Que é que seria aquilo, meu
táxi e pegou sua pequena valise. Dona Maria Rita de Deus do céu? Se fosse efeito de uma pedrada na
Alvarenga Chagas Souza Melo desceu do Opala da filha cabeça e se soubesse quem havia mandado a pedra,
e encaminharam-se para os trilhos. A velha bem- algum moleque da vizinhança, aí... Nem por sombra
vestida e com joias. Das rugas que a disfarçavam saía a imaginou que era a cegueira irremediável que
forma pura de um nariz perdido na idade, e de uma principiava.
boca que outrora devia ter sido cheia e sensível. Mas
que importa? Chega-se a um certo ponto – e o que foi Também a galinha, coitada, não compreendia nada,
não importa. Começa uma nova raça. Uma velha não absolutamente nada daquilo. Por que não vinham mais
pode comunicar-se. Recebeu o beijo gelado de sua filha os dias luminosos em que procurava a sombra das
que foi embora antes do trem partir. Ajudara-a antes a pitangueiras? Sentia ainda o calor do sol, mas tudo
subir no vagão. Sem que neste houvesse um centro, ela quase sempre tão escuro. Quase que já não sabia onde
se colocara do lado. Quando a locomotiva se pôs em é que estava a luz, onde é que estava a sombra.
movimento, surpreendeu-se um pouco: não esperava
que o trem seguisse nessa direção e sentara-se de GUIMARAENS, J. A. Contos e novelas.
costas para o caminho. Rio de Janeiro: Imago, 1976 (fragmento).
Angela Pralini percebeu-lhe o movimento e perguntou:
— A senhora deseja trocar de lugar comigo?
Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza, disse Ao apresentar uma cena em que um menino atira
que não, obrigada, para ela dava no mesmo. Mas milho às galinhas e observa com atenção uma delas, o
parecia ter-se perturbado. Passou a mão sobre o narrador explora um recurso que conduz a uma
camafeu filigranado de ouro, espetado no peito, passou expressividade fundamentada na
a mão pelo broche. Seca. Ofendida? Perguntou afinal a a) captura de elementos da vida rural, de feições
Angela Pralini: peculiares.
— É por causa de mim que a senhorita deseja trocar de b) caracterização de um quintal de sítio, espaço de
lugar? descobertas.
c) confusão intencional da marcação do tempo,
LISPECTOR, C. Onde estivestes de noite. centrado na infância.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980 (fragmento). d) apropriação de diferentes pontos de vista,
incorporados afetivamente.
e) fragmentação do conflito gerador, distendido como
A descoberta de experiências emocionais com base no apoio à emotividade
cotidiano é recorrente na obra de Clarice Lispector. No
fragmento, o narrador enfatiza o(a) 30. (Enem 2016) Em casa, Hideo ainda podia seguir fiel
ao imperador japonês e às tradições que trouxera no
a) comportamento vaidoso de mulheres de condição navio que aportara em Santos. [...] Por isso Hideo exigia
social privilegiada. que, aos domingos, todos estivessem juntos durante o
b) anulação das diferenças sociais no espaço público de almoço. Ele se sentava à cabeceira da mesa; à direita
uma estação. ficava Hanashiro, que era o primeiro filho, e Hitoshi, o
c) incompatibilidade psicológica entre mulheres de segundo, e à esquerda, Haruo, depois Hiroshi, que era
gerações diferentes. o mais novo. [...] A esposa, que também era mãe, e as
d) constrangimento da aproximação formal de pessoas filhas, que também eram irmãs, aguardavam de pé ao
desconhecidas. redor da mesa [...]. Haruo reclamava, não se cansava
e) sentimento de solidão alimentado pelo processo de de reclamar: que se sentassem também as mulheres à
envelhecimento. mesa, que era um absurdo aquele costume. Quando se
casasse, se sentariam à mesa a esposa e o marido, um
29. (Enem 2016) em frente ao outro, porque não era o homem melhor
Galinha cega que a mulher para ser o primeiro [...]. Elas seguiam de
pé, a mãe um pouco cansada dos protestos do filho,
O dono correu atrás de sua branquinha, agarrou-a, lhe pois o momento do almoço era sagrado, não era hora
examinou os olhos. Estavam direitinhos, graças a Deus, de levantar bandeiras inúteis [...].
e muito pretos. Soltou-a no terreiro e lhe atirou mais

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LITERATURA

NAKASATO, O. Nihonjin. São Paulo: Benvirá, 2011 tentativa de purificação contra a partícula invasora.
(fragmento). Com uma paciência de fundo de mar, a ostra profanada
continua seu trabalho incansável, secretando por anos
Referindo-se a práticas culturais de origem nipônica, o a fio o nácar que aos poucos se vai solidificando. É
narrador registra as reações que elas provocam na dessa solidificação que nascem as pérolas.
família e mostra um contexto em que
a) a obediência ao imperador leva ao prestígio pessoal. As pérolas são, assim, o resultado de uma
b) as novas gerações abandonam seus antigos hábitos. contaminação. A arte por vezes também. A arte é
c) a refeição é o que determina a agregação familiar. quase sempre a transformação da dor. [...] Escrever é
d) os conflitos de gênero tendem a ser neutralizados. preciso. É preciso continuar secretando o nácar, formar
e) o lugar à mesa metaforiza uma estrutura de poder. a pérola que talvez seja imperfeita, que talvez jamais
seja encontrada e viva para sempre encerrada no fundo
31. (Enem 2016) do mar. Talvez estas, as pérolas esquecidas, jamais
PINHÃO sai ao mesmo tempo que BENONA entra. achadas, as pérolas intocadas e por isso absolutas em si
BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer mesmas, guardem em si uma parcela faiscante da
falar com você. eternidade.
EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá
fora, mas não quero falar com ele. SEIXAS, H. Uma ilha chamada livro.
BENONA: Mas Eurico, nós lhe devemos certas Rio de Janeiro: Record, 2009 (fragmento).
atenções.
EURICÃO: Você, que foi noiva dele. Eu, não!
BENONA: Isso são coisas passadas. Considerando os aspectos estéticos e semânticos
EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuízo foi meu. presentes no texto, a imagem da pérola configura uma
Esperava que Eudoro, com todo aquele dinheiro, se percepção que
tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um a) reforça o valor do sofrimento e do esquecimento
patrimônio a mais. E o peste me traiu. Agora, parece para o processo criativo.
que ouviu dizer que eu tenho um tesouro. E vem louco b) ilustra o conflito entre a procura do novo e a rejeição
atrás dele, sedento, atacado de verdadeira hidrofobia. ao elemento exótico.
Vive farejando ouro, como um cachorro da molest’a, c) concebe a criação literária como trabalho
como um urubu, atrás do sangue dos outros. Mas ele progressivo e de autoconhecimento.
está enganado. Santo Antônio há de proteger minha d) expressa a ideia de atividade poética como
pobreza e minha devoção. experiência anônima e involuntária.
e) destaca o efeito introspectivo gerado pelo contato
SUASSUNA, A. O santo e a porca. com o inusitado e com o desconhecido.
Rio de Janeiro: José Olympio, 2013 (fragmento).
33. (Enem 2016)
Nesse texto teatral, o emprego das expressões “o Lições de motim
peste” e “cachorro da molest’a” contribui para
a) marcar a classe social das personagens. DONA COTINHA –– É claro! Só gosta de solidão quem
b) caracterizar usos linguísticos de uma região. nasceu pra ser solitário. Só o solitário gosta de solidão.
c) enfatizar a relação familiar entre as personagens. Quem vive só e não gosta da solidão não é um solitário,
d) sinalizar a influência do gênero nas escolhas é só um desacompanhado. (A reflexão escorrega lá pro
vocabulares. fundo da alma.) Solidão é vocação, besta de quem
e) demonstrar o tom autoritário da fala de uma das pensa que é sina. Por isso, tem de ser valorizada. E não
personagens. é qualquer um que pode ser solitário, não. Ah, mas não
é mesmo! É preciso ter competência pra isso. (De
32. (Enem 2016) Pérolas absolutas súbito, pedagógica, volta-se para o homem.) É como
poesia, sabe, moço? Tem de ser recitada em voz alta,
Há, no seio de uma ostra, um movimento – ainda que que é pra gente sentir o gosto. (FAZ UMA PAUSA.) Você
imperceptível. Qualquer coisa imiscuiu-se pela fissura, gosta de poesia? (O HOMEM TORNA A SE DEBATER. A
uma partícula qualquer, diminuta e invisível. Venceu as VELHA INTERROMPE O DISCURSO E VOLTA A LHE DAR
paredes lacradas, que se fecham como a boca que tem AS COSTAS, COMO SEMPRE, IMPASSÍVEL. O HOMEM,
medo de deixar escapar um segredo. Venceu. E agora MAIS UMA VEZ, CANSADO, DESISTE.) Bem, como eu ia
penetra o núcleo da ostra, contaminando-lhe a própria dizendo, pra viver bem com a solidão temos de ser
substância. A ostra reage, imediatamente. E começa a proprietários dela e não inquilinos, me entende? Quem
secretar o nácar. É um mecanismo de defesa, uma é inquilino da solidão não passa de um abandonado. É

48
LITERATURA

isso aí. d) uma máquina, levando em consideração a relevância


do discurso técnico-científico pós-Revolução
ZORZETFI, H. Lições de motim. Goiânia: Kelps. 2010 Industrial.
(adaptado). e) um tecido, visto que sua composição depende de
elementos intrínsecos ao eu lírico.
Nesse trecho, o que caracteriza Lições de motim como
texto teatral? 35. (Enem 2016)
a) O tom melancólico presente na cena. Soneto VII
b) As perguntas retóricas da personagem.
c) A interferência do narrador no desfecho da cena. Onde estou? Este sítio desconheço:
d) O uso de rubricas para construir a ação dramática. Quem fez tão diferente aquele prado?
e) As analogias sobre a solidão feitas pela personagem. Tudo outra natureza tem tomado;
E em contemplá-lo tímido esmoreço.
34. (Enem 2016)
Antiode Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado:
Poesia, não será esse Ali em vale um monte está mudado:
o sentido em que Quanto pode dos anos o progresso!
ainda te escrevo:
Árvores aqui vi tão florescentes,
flor! (Te escrevo: Que faziam perpétua a primavera:
flor! Não uma Nem troncos vejo agora decadentes.
flor, nem aquela
flor-virtude – em Eu me engano: a região esta não era;
disfarçados urinóis). Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera!
Flor é a palavra
flor; verso inscrito COSTA, C. M. Poemas. Disponível em:
no verso, como as www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 jul. 2012.
manhãs no tempo.
No soneto de Cláudio Manuel da Costa, a
Flor é o salto contemplação da paisagem permite ao eu lírico uma
da ave para o voo: reflexão em que transparece uma
o salto fora do sono a) angústia provocada pela sensação de solidão.
quando seu tecido b) resignação diante das mudanças do meio ambiente.
se rompe; é uma explosão c) dúvida existencial em face do espaço desconhecido.
posta a funcionar, d) intenção de recriar o passado por meio da paisagem.
como uma máquina, e) empatia entre os sofrimentos do eu e a agonia da
uma jarra de flores. terra.

MELO NETO, J. C. Psicologia da composição. 36. (Enem 2016)


Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento).
Você pode não acreditar
A poesia é marcada pela recriação do objeto por meio
da linguagem, sem necessariamente explicá-lo. Nesse Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que
fragmento de João Cabral de Melo Neto, poeta da os leiteiros deixavam as garrafinhas de leite do lado de
geração de 1945, o sujeito lírico propõe a recriação fora das casas, seja ao pé da porta, seja na janela.
poética de A gente ia de uniforme azul e branco para o grupo, de
a) uma palavra, a partir de imagens com as quais ela manhãzinha, passava pelas casas e não ocorria que
pode ser comparada, a fim de assumir novos alguém pudesse roubar aquilo.
significados. Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que
b) um urinol, em referência às artes visuais ligadas às os padeiros deixavam o pão na soleira da porta ou na
vanguardas do início do século XX. janela que dava para a rua. A gente passava e via aquilo
c) uma ave, que compõe, com seus movimentos, uma como uma coisa normal.
imagem historicamente ligada à palavra poética. Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que
você saía à noite para namorar e voltava andando pelas

49
LITERATURA

ruas da cidade, caminhando displicentemente, DURAS, M. O amante. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
sentindo cheiro de jasmim e de alecrim, sem olhar para 1985.
trás, sem temer as sombras.
Você pode não acreditar: houve um tempo em que as Na imagem e no texto do romance de Marguerite
pessoas se visitavam airosamente. Chegavam no meio Duras, os dois autorretratos apontam para o modo de
da tarde ou à noite, contavam casos, tomavam café, representação da subjetividade moderna. Na pintura e
falavam da saúde, tricotavam sobre a vida alheia e na literatura modernas, o rosto humano deforma-se,
voltavam de bonde às suas casas. destrói-se ou fragmenta-se em razão
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que a) da adesão à estética do grotesco, herdada do
o namorado primeiro ficava andando com a moça romantismo europeu, que trouxe novas
numa rua perto da casa dela, depois passava a namorar possibilidades de representação.
no portão, depois tinha ingresso na sala da família. Era b) das catástrofes que assolaram o século XX e da
sinal de que já estava praticamente noivo e seguro. descoberta de uma realidade psíquica pela
Houve um tempo em que havia tempo. psicanálise.
Houve um tempo. c) da opção em demonstrarem oposição aos limites
estéticos da revolução permanente trazida pela arte
SANTANNA, A. R. Estado de Minas, 5 maio 2013 moderna.
(fragmento). d) do posicionamento do artista do século XX contra a
negação do passado, que se torna prática dominante
Nessa crônica, a repetição do trecho “Você pode não na sociedade burguesa.
acreditar: mas houve um tempo em que...” configura- e) da intenção de garantir uma forma de criar obras de
se como uma estratégia argumentativa que visa arte independentes da matéria presente em sua
a) surpreendem leitor com a descrição do que as história pessoal.
pessoas faziam durante o seu tempo livre
antigamente. 38. (Enem 2016)
b) sensibilizar o leitor sobre o modo como as pessoas Primeira lição
se relacionavam entre si num tempo mais aprazível.
c) advertir o leitor mais jovem sobre o mau uso que se Os gêneros de poesia são: lírico, satírico, didático,
faz do tempo nos dias atuais. épico, ligeiro.
d) incentivar o leitor a organizar melhor o seu tempo O gênero lírico compreende o lirismo.
sem deixar de ser nostálgico. Lirismo é a tradução de um sentimento subjetivo,
e) convencer o leitor sobre a veracidade de fatos sincero e pessoal.
relativos à vida no passado. É a linguagem do coração, do amor.
O lirismo é assim denominado porque em outros
37. (Enem 2016) tempos os versos sentimentais eram declamados ao
Texto I som da lira.
O lirismo pode ser:
a) Elegíaco, quando trata de assuntos tristes, quase
sempre a morte.
b) Bucólico, quando versa sobre assuntos campestres.
c) Erótico, quando versa sobre o amor.
O lirismo elegíaco compreende a elegia, a nênia, a
endecha, o epitáfio e o epicédio.
Elegia é uma poesia que trata de assuntos tristes.
Nênia é uma poesia em homenagem a uma pessoa
morta.
Era declamada junto à fogueira onde o cadáver era
incinerado.
Endecha é uma poesia que revela as dores do coração.
Texto II Epitáfio é um pequeno verso gravado em pedras
tumulares.
Tenho um rosto lacerado por rugas secas e profundas, Epicédio é uma poesia onde o poeta relata a vida de
sulcos na pele. Não é um rosto desfeito, como acontece uma pessoa morta.
com pessoas de traços delicados, o contorno é o
mesmo mas a matéria foi destruída. Tenho um rosto CESAR, A. C. Poética, São Paulo: Companhia das Letras,
destruído. 2013.

50
LITERATURA

No poema de Ana Cristina Cesar, a relação entre as d) compreender a autonomia do corpo no contexto da
definições apresentadas e o processo de construção do obra.
texto indica que o(a) e) destacar o corpo do artista em contato com o
a) caráter descritivo dos versos assinala uma concepção espectador.
irônica de lirismo.
b) tom explicativo e contido constitui uma forma 40. (Enem 2018)
peculiar de expressão poética.
c) seleção e o recorte do tema revelam uma visão TEXTO I
pessimista da criação artística.
d) enumeração de distintas manifestações líricas Também chamados impressões ou imagens
produz um efeito de impessoalidade. fotogramáticas [...], os fotogramas são, numa definição
e) referência a gêneros poéticos clássicos expressa a genérica, imagens realizadas sem a utilização da
adesão do eu lírico às tradições literárias. câmera fotográfica, por contato direto de um objeto ou
material com uma superfície fotossensível exposta a
39. (Enem 2018) uma fonte de luz. Essa técnica, que nasceu junto com a
fotografia e serviu de modelo a muitas discussões
TEXTO I sobre a ontologia da imagem fotográfica, foi
profundamente transformada pelos artistas da
vanguarda, nas primeiras décadas do século XX.
Representou mesmo, ao lado das colagens, foto
montagens e outros procedimentos técnicos, a
incorporação definitiva da fotografia à arte moderna e
seu distanciamento da representação figurativa.

COLUCCI, M. B. Impressões fotogramáticas e


vanguardas: as experiências de Man Ray. Studium, n. 2,
2000.

TEXTO II

TEXTO II

A body art põe o corpo tão em evidência e o submete a


experimentações tão variadas, que sua influência
estende-se aos dias de hoje. Se na arte atual as
possibilidades de investigação do corpo parecem
ilimitadas – pode-se escolher entre representar,
apresentar, ou ainda apenas evocar o corpo – isso
ocorre graças ao legado dos artistas pioneiros.

SILVA, P. R. Corpo na arte, body art, body modification;


fronteiras. II. Encontro de História da Arte: IFCH-
Unicamp. 2006 (adaptado). No fotograma de Man Ray, o “distanciamento da
Nos textos, a concepção de body art está relacionada à representação figurativa” a que se refere o Texto I
intenção de manifesta-se na
a) estabelecer limites entre o corpo e a composição. a) ressignificação do jogo de luz e sombra, nos moldes
b) fazer do corpo um suporte privilegiado de expressão. surrealistas.
c) discutir políticas e ideologias sobre o corpo como b) imposição do acaso sobre a técnica, como crítica à
arte. arte realista.

51
LITERATURA

c) composição experimental, fragmentada e de TEXTO I


contornos difusos.
d) abstração radical, voltada para a própria linguagem
fotográfica.
e) imitação de formas humanas, com base em
diferentes objetos.

41. (Enem 2018)

TEXTO II

Stephen Lund, artista canadense, morador em Victoria,


capital da Colúmbia Britânica (Canadá), transformou-se
em fenômeno mundial produzindo obras de arte
virtuais pedalando sua bike. Seguindo rotas traçadas
com o auxílio de um dispositivo de GPS, ele calcula ter
percorrido mais de 10 mil quilômetros.
Disponível em: www.booooooom.com. Acesso em: 9 dez. 2017
(adaptado).
O grupo O Teatro Mágico apresenta composições
autorais que têm referências estéticas do rock, do pop Os textos destacam a inovação artística proposta por
e da música folclórica brasileira. A originalidade dos Stephen Lund a partir do(a)
seus shows tem relação com a ópera europeia do a) deslocamento das tecnologias de suas funções
século XIX a partir da habituais.
a) disposição cênica dos artistas no espaço teatral. b) perspectiva de funcionamento do dispositivo de GPS.
b) integração de diversas linguagens artísticas. c) ato de guiar sua bicicleta pelas ruas da cidade.
c) sobreposição entre música e texto literário. d) análise dos problemas de mobilidade urbana.
d) manutenção de um diálogo com o público. e) foco na promoção cultural da sua cidade.
e) adoção de um enredo como fio condutor.

42. (Enem 2018)

52
LITERATURA

43. (Enem 2018)

TEXTO I

TEXTO II

As duas imagens são produções que têm a cerâmica


como matéria-prima. A obra Estrutura vertical dupla se
distingue da urna funerária marajoara ao
a) evidenciar a simetria na disposição das peças.
b) materializar a técnica sem função utilitária.
c) abandonar a regularidade na composição.
d) anular possibilidades de leituras afetivas.
e) integrar o suporte em sua constituição.

53
LITERATURA

GABARITO
ESTILOS DE ÉPOCA

1. D 62. E
2. D 63. C
3. A 64. A
4. D 65. A
5. B 66. A
6. A 67. A
7. A 68. A
8. E
9. C TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS E TEORIA
10. C LITERÁRIA
11. C
12. E 1. A
13. B 2. E
14. D 3. E
15. C 4. B
16. D 5. B
17. E 6. D
18. A 7. A
19. B 8. B
20. A 9. E
21. D 10. C
22. D 11. C
23. D 12. C
24. C 13. D
25. C 14. A
26. C 15. A
27. E 16. E
28. D 17. C
29. A 18. D
30. B 19. D
20. D
31. C
21. C
43. D
22. D
44. B
23. E
45. B
24. E
46. A
25. A
47. A
48. A 26. B
49. C 27. A
50. A 28. A
51. A 29. A
52. B
53. E QUESTÕES RECENTES
54. C
1. E
55. A
2. E
56. E
3. A
57. A
4. D
58. A
5. A
59. B
6. D
60. E
7. B
61. E
8. D
9. E

54
LITERATURA

10. D
11. D
12. A
13. D
14. B
15. D
16. C
17. A
18. A
19. D
20. D
21. B
22. E
23. A
24. E
25. A
26. C
27. C
28. E
29. D
30. E
31. B
32. C
33. D
34. A
35. E
36. B
37. B
38. B
39. B
40. C
41. B
42. A
43. B

55

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