Literatura Percurso 2019
Literatura Percurso 2019
Literatura Percurso 2019
LITERATURA
LITERATURA
ÍNDICE
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LITERATURA
ESTILOS DE ÉPOCA
História Viva, n.99,2011.
1. (Enem 2012) Com base no texto, que trata do papel do escritor José
de Alencar e da futura digitalização de sua obra,
depreende-se que
a) a digitalização dos textos é importante para que os
leitores possam compreender seus romances.
b) o conhecido autor de O guarani e Iracema foi
importante porque deixou uma vasta obra literária
com temática atemporal.
c) a divulgação das obras de José de Alencar, por meio
da digitalização, demonstra sua importância para a
história do Brasil Imperial.
d) a digitalização dos textos de José de Alencar terá
importante papel na preservação da memória
linguística e da identidade nacional.
e) o grande romancista José de Alencar é importante
porque se destacou por sua temática indianista.
3. (Enem 2012)
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quando crescer? Sou obrigado a? Posso escolher? Não Palavras do arco da velha
dá para entender. Não vou ser. Não quero ser. Vou
crescer assim mesmo. Sem ser. Esquecer. Expressão Significado
Cair nos braços de
Dormir
ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. Morfeu
Debicar Zombar, ridicularizar
A inquietação existencial do autor com a autoimagem Tunda Surra
corporal e a sua corporeidade se desdobra em Mangar Escarnecer, caçoar
questões existenciais que têm origem Tugir Murmurar
a) no conflito do padrão corporal imposto contra as Liró Bem-vestido
convicções de ser autêntico e singular. Lanche oferecido pelos
Copo d’água
amigos
b) na aceitação das imposições da sociedade seguindo
Convescote Piquenique
a influência de outros.
Bilontra Velhaco
c) na confiança no futuro, ofuscada pelas tradições e Treteiro de topete Tratante atrevido
culturas familiares. Abrir o arco Fugir
d) no anseio de divulgar hábitos enraizados,
negligenciados por seus antepassados. FLORIN, J. L. As línguas mudam. In: Revista Língua Portuguesa, n.
e) na certeza da exclusão, revelada pela indiferença de 24, out. 2007 (adaptado).
seus pares.
Na leitura do fragmento do texto Antigamente
8. (Enem 2012) TEXTO I constata-se, pelo emprego de palavras obsoletas, que
itens lexicais outrora produtivos não mais o são no
Antigamente português brasileiro atual. Esse fenômeno revela que
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amor música feita de beijos e soluços gostosos; carícia b) concebe a mulher como um ser sem linguagem e
de fera, carícia de doer, fazendo estala de gozo. questiona o poder da palavra.
c) questiona o trabalho intelectual da mulher e
AZEVEDO, A. O cortiço. São Paulo: Ática, 1983 (fragmento). antecipa a construção do verso livre.
d) propõe um modelo novo de erotização na lírica
No romance O Cortiço (1890), de Aluizio Azevedo, as amorosa e propõe a simplificação verbal.
personagens são observadas como elementos coletivos e) explora a construção da essência feminina, a partir
caracterizados por condicionantes de origem social, da polissemia de “língua”, e inova o léxico.
sexo e etnia. Na passagem transcrita, o confronto entre
brasileiros e portugueses revela prevalência do 13. (Enem 2011) Estrada
elemento brasileiro, pois
Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
a) destaca o nome de personagens brasileiras e omite o Interessa mais que uma avenida urbana.
de personagens portuguesas. Nas cidades todas as pessoas se parecem.
b) exalta a força do cenário natural brasileiro e Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente.
considera o do português inexpressivo. Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
c) mostra o poder envolvente da música brasileira, que Cada criatura é única.
cala o fado português. Até os cães.
d) destaca o sentimentalismo brasileiro, contrário à Estes cães da roça parecem homens de negócios:
tristeza dos portugueses. Andam sempre preocupados.
e) atribui aos brasileiros uma habilidade maior com E quanta gente vem e vai!
instrumentos musicais. E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um
12. (Enem 2011) Lépida e leve bodezinho manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz
Língua do meu Amor velosa e doce, dos símbolos,
que me convences de que sou frase, Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar.
que me contornas, que me vestes quase,
como se o corpo meu de ti vindo me fosse. BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar 1967.
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MELO NETO, J. C. Obras completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994 O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda
(fragmento) geração romântica, porém configura um lirismo que o
projeta para alem desse momento especifico. O
fundamento desse lirismo é
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a) a angústia alimentada pela constatação da fina e acabada. O criado esperava teso e sério. Era
irreversibilidade da morte. espanhol; e não foi sem resistência que Rubião o
b) a melancolia que frustra a possibilidade de reação aceitou das mãos de Cristiano; por mais que lhe
diante da perda. dissesse que estava acostumado aos seus crioulos de
c) o descontrole das emoções provocado pela Minas, e não queria línguas estrangeiras em casa, o
autopiedade. amigo Palha insistiu, demonstrando-lhe a necessidade
d) o desejo de morrer como alívio para a desilusão de ter criados brancos. Rubião cedeu com pena. O seu
amorosa. bom pajem, que ele queria por na sala, como um
e) o gosto pela escuridão como solução para o pedaço da província, nem o pode deixar na cozinha,
sofrimento. onde reinava um francês, Jean; foi degradado a outros
serviços.
17. (Enem 2010) Machado de Assis
ASSIS, M. Quincas Borba. In: Obra completa. V.1. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 1993 (fragmento).
Joaquim Maria Machado de Assis, cronista,
contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista,
romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio Quincas Borba situa-se entre as obras-primas do autor
de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de um e da literatura brasileira. No fragmento apresentado, a
operário mestiço de negro e português, Francisco José peculiaridade do texto que garante a universalização de
de Assis, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis, sua abordagem reside
aquele que viria a tornar-se o maior escritor do país e a) no conflito entre o passado pobre e o presente rico,
um mestre da língua, perde a mãe muito cedo e é que simboliza o triunfo da aparência sobre a
criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, que essência.
se dedica ao menino e o matricula na escola pública, b) no sentimento de nostalgia do passado devido à
única que frequentou o autodidata Machado de Assis. substituição da mão de obra escrava pela dos
imigrantes.
Disponível em: http://www.passeiweb.com. Acesso em: 1 maio 2009. c) na referência a Fausto e Mefistófeles, que
representam o desejo de eternização de Rubião.
Considerando os seus conhecimentos sobre os gêneros d) na admiração dos metais por parte de Rubião, que
textuais, o texto citado constitui-se de metaforicamente representam a durabilidade
a) fatos ficcionais relacionados a outros de caráter dos bens produzidos pelo trabalho.
realista, relativos à vida de um renomado escritor. e) na resistência de Rubião aos criados estrangeiros,
b) representações generalizadas acerca da vida de que reproduz o sentimento de xenofobia.
membros da sociedade por seus trabalhos e vida
cotidiana. 19. (Enem 2010) “Todas as manhãs quando acordo,
c) explicações da vida de um renomado escritor, com experimento um prazer supremo: o de ser Salvador
estrutura argumentativa, destacando como tema Dalí.”
seus principais feitos.
d) questões controversas e fatos diversos da vida de NÉRET, G. Salvador Dalí. Taschen, 1996.
personalidade histórica, ressaltando sua intimidade
familiar em detrimento Assim escreveu o pintor dos “relógios moles” e das
de seus feitos públicos. “girafas em chamas” em 1931. Esse artista excêntrico
e) apresentação da vida de uma personalidade, deu apoio ao general Franco durante a Guerra Civil
organizada sobretudo pela ordem tipológica da Espanhola e, por esse motivo, foi afastado do
narração, com um estilo marcado por linguagem movimento surrealista por seu líder, André Breton.
objetiva. Dessa forma, Dalí criou seu próprio estilo, baseado na
interpretação dos sonhos e nos estudos de Sigmund
18. (Enem 2010) Capítulo III Freud, denominado “método de interpretação
paranoico”. Esse método era constituído por textos
Um criado trouxe o café. Rubião pegou na visuais que demonstram imagens
xícara e, enquanto lhe deitava açúcar, ia a) do fantástico, impregnado de civismo pelo governo
disfarçadamente mirando a bandeja, que era de prata espanhol, em que a busca pela emoção e pela
lavrada. Prata, ouro, eram os metais que amava de dramaticidade desenvolveram um estilo incomparável.
coração; não gostava de bronze, mas o amigo Palha b) do onírico, que misturava sonho com realidade e
disse-lhe que era matéria de preço, e assim se explica interagia refletindo a unidade entre o consciente e
este par de figuras que aqui está na sala: um o inconsciente como um universo único ou pessoal.
Mefistófeles e um Fausto. Tivesse, porém, de escolher, c) da linha inflexível da razão, dando vazão a uma
escolheria a bandeja, – primor de argentaria, execução forma de produção despojada no traço, na
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temática e nas formas vinculadas ao real. os bêbados são felizes. Curitiba os considera animais
d) do reflexo que, apesar do termo “paranoico”, possui sagrados, provê as suas necessidades de cachaça e
sobriedade e elegância advindas de uma pirão. No trivial contentavam-se com as sobras do
técnica de cores discretas e desenhos precisos. mercado.
e) da expressão e intensidade entre o consciente e a
liberdade, declarando o amor pela forma de TREVISAN, D. 35 noites de paixão: contos escolhidos. Rio de Janeiro:
BestBolso, 2009 (fragmento).
conduzir o enredo histórico dos personagens
retratados.
Sob diferentes perspectivas, os fragmentos citados são
20. (Enem 2010) Após estudar na Europa, Anita exemplos de uma abordagem literária recorrente na
Malfatti retornou ao Brasil com uma mostra que abalou literatura brasileira do século XX. Em ambos os textos,
a cultura nacional do início do século XX. Elogiada por a) a linguagem afetiva aproxima os narradores dos
seus mestres na Europa, Anita se considerava pronta personagens marginalizados.
para mostrar seu trabalho no Brasil, mas enfrentou as b) a ironia marca o distanciamento dos narradores em
duras críticas de Monteiro Lobato. Com a intenção de relação aos personagens.
criar uma arte que valorizasse a cultura brasileira, Anita c) o detalhamento do cotidiano dos personagens revela
Malfatti e outros artistas modernistas a sua origem social.
a) buscaram libertar a arte brasileira das normas d) o espaço onde vivem os personagens é uma das
acadêmicas europeias, valorizando as cores, a marcas de sua exclusão.
originalidade e os temas nacionais. e) a crítica à indiferença da sociedade pelos
b) defenderam a liberdade limitada de uso da cor, até marginalizados é direta.
então utilizada de forma irrestrita, afetando a
criação artística nacional. 22. (Enem 2010) Texto I
c) representaram a ideia de que a arte deveria copiar
fielmente a natureza, tendo como finalidade a Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza
prática educativa. toda íntima não vos seria revelado por mim se não
d) mantiveram de forma fiel a realidade nas figuras julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este
retratadas, defendendo uma liberdade artística amor assim absoluto e assim exagerado e partilhado
ligada à tradição acadêmica. por todos vos. Nós somos irmãos, nós nos sentimos
e) buscaram a liberdade na composição de suas figuras, parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos
respeitando limites de temas abordados. povoados, não porque soframos, com a dor e os
desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une,
21. (Enem 2010) Texto I nivela e agremia o amor da rua. E este mesmo o
sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que,
Logo depois transferiram para o trapiche o como a própria vida, resiste as idades e as épocas.
depósito dos objetos que o trabalho do dia lhes
proporcionava. RIO. J. A rua. In: A alma encantadora das ruas. São
Estranhas coisas entraram então para o Paulo: Companhia das Letras, 2008 (fragmento).
trapiche. Não mais estranhas, porém, que aqueles
meninos, moleques de todas as cores e de idades as Texto II
mais variadas, desde os nove aos dezesseis anos, que à
noite se estendiam pelo assoalho e por debaixo da A rua dava-lhe uma forca de fisionomia, mais
ponte e dormiam, indiferentes ao vento que circundava consciência dela. Como se sentia estar no seu reino, na
o casarão uivando, indiferentes à chuva que muitas região em que era rainha e imperatriz. O olhar cobiçoso
vezes os lavava, mas com os olhos puxados para as dos homens e o de inveja das mulheres acabavam o
luzes dos navios, com os ouvidos presos às canções que sentimento de sua personalidade, exaltavam-no ate.
vinham das embarcações... Dirigiu-se para a rua do Catete com o seu passo miúdo
e solido. [...] No caminho trocou cumprimento com as
AMADO, J. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia raparigas pobres de uma casa de cômodos da
das Letras, 2008 (fragmento). vizinhança.
[...] E debaixo dos olhares maravilhados das
pobres raparigas, ela continuou o seu caminho,
Texto II arrepanhando a saia, satisfeita que nem uma duquesa
atravessando os seus domínios.
À margem esquerda do rio Belém, nos fundos
do mercado de peixe, ergue-se o velho ingazeiro – ali BARRETO, L. Um e outro. in: Clara dos Anjos. Rio de
Janeiro: Editora Mérito (fragmento).
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Com relação à valorização, no romance regionalista este orgulho, esta cabeça baixa...
brasileiro, do homem e da paisagem de determinadas
regiões nacionais, sabe-se que Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
a) o romance do Sul do Brasil se caracteriza pela
Hoje sou funcionário público.
temática essencialmente urbana, colocando em
relevo a formação do homem por meio da mescla de Itabira é apenas uma fotografia na parede.
características locais e dos aspectos culturais Mas como dói!
trazidos de fora pela imigração europeia.
b) José de Alencar, representante, sobretudo, do ANDRADE, C. D. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova
romance urbano, retrata a temática da urbanização Aguilar, 2003.
das cidades brasileiras e das relações conflituosas Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do
entre as raças.
movimento modernista brasileiro. Com seus poemas,
c) o romance do Nordeste caracteriza-se pelo
acentuado realismo no uso do vocabulário, pelo penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou
temário local, expressando a vida do homem em poeticamente as inquietudes e os dilemas humanos.
face da natureza agreste, e assume frequentemente Sua poesia é feita de uma relação tensa entre o
o ponto de vista dos menos favorecidos. universal e o particular, como se percebe claramente
d) a literatura urbana brasileira, da qual um dos
na construção do poema Confidência do Itabirano.
expoentes é Machado de Assis, põe em relevo a
formação do homem brasileiro, o sincretismo Tendo em vista os procedimentos de construção do
religioso, as raízes africanas e indígenas que texto literário e as concepções artísticas modernistas,
caracterizam o nosso povo. conclui-se que o poema acima
e) Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz, Simões Lopes a) representa a fase heroica do modernismo, devido ao
Neto e Jorge Amado são romancistas das décadas de tom contestatório e à utilização de expressões e
30 e 40 do século XX, cuja obra retrata a usos linguísticos típicos da oralidade.
problemática do homem urbano em confronto com b) apresenta uma característica importante do gênero
a modernização do país promovida pelo Estado lírico, que é a apresentação objetiva de fatos e
Novo. dados históricos.
c) evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua
26. (Enem 2009) Confidência do Itabirano comunidade, por intermédio de imagens que
representam a forma como a sociedade e o mundo
Alguns anos vivi em Itabira. colaboram para a constituição do indivíduo.
d) critica, por meio de um discurso irônico, a posição de
Principalmente nasci em Itabira. inutilidade do poeta e da poesia em comparação
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. com as prendas resgatadas de Itabira.
e) apresenta influências românticas, uma vez que trata
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
da individualidade, da saudade da infância e do
Oitenta por cento de ferro nas almas. amor pela terra natal, por meio de recursos
E esse alheamento do que na vida é porosidade e retóricos pomposos.
[comunicação.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, Canção do vento e da minha vida
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e
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e) A realidade de atraso social, político e econômico do d) Antonio Rocco retrata de forma otimista a imigração,
Brasil Colônia está representada esteticamente no destacando o pioneirismo do imigrante.
poema pela referência, na última estrofe, à
transformação do pranto em alegria e) Oswald de Andrade mostra que a condição de vida
do imigrante era melhor que a dos ex-escravos.
31. (Enem 2007)
32. (Enem 2007) Sobre a exposição de Anita Malfatti,
em 1917, que muito influenciaria a Semana de Arte
Moderna, Monteiro Lobato escreveu, em artigo
intitulado Paranoia ou Mistificação:
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Gonçalves Dias.
MACUNAÍMA
(Epílogo)
Mário de Andrade.
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Poética
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a) condenam essa regra gramatical. (ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma Poesia.
b) acreditam que apenas os esclarecidos sabem essa Rio de Janeiro: Aguilar, 1964)
regra.
c) criticam a presença de regras na gramática. II. Quando nasci veio um anjo safado
d) afirmam que não há regras para uso de pronomes. O chato dum querubim
e) relativizam essa regra gramatical. E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
63. (Enem 1999) Já de saída a minha estrada entortou
SONETO DE FIDELIDADE Mas vou até o fim.
De tudo ao meu amor serei atento (BUARQUE, Chico. Letra e música. São Paulo:
Antes e com tal zelo, e sempre, e tanto Cia das Letras, 1989)
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento. III. Quando nasci um anjo esbelto
Desses que tocam trombeta, anunciou:
Quero vivê-lo em cada vão momento Vai carregar bandeira.
E em seu louvor hei de espalhar meu canto Carga muito pesada pra mulher
E rir meu riso e derramar meu pranto Esta espécie ainda envergonhada.
Ao seu pesar ou ao seu contentamento.
(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro:
E assim, quando mais tarde me procure Guanabara, 1986)
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama. Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem
intertextualidade, em relação a Carlos Drummond de
Eu possa me dizer do amor (que tive) : Andrade, por
Que não seja imortal, posto que é chama a) reiteração de imagens
Mas que seja infinito enquanto dure. b) oposição de ideias
c) falta de criatividade
(MORAES, Vinícius de. ANTOLOGIA POÉTICA. d) negação dos versos
São Paulo: Cia das Letras, 1992) e) ausência de recursos
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Para João Cabral de Melo Neto, no texto literário, PRA MIM BRINCAR
Não há nada mais gostoso do que o mim
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sujeito de verbo no infinito. Pra mim brincar. As mando é no país do tempo que foi. Essa palavra
cariocas que não sabem gramática falam assim. Todos “senhor”, no meio de uma frase, ergueu entre nós um
os brasileiros deviam de querer falar como as cariocas muro frio e triste.
que não sabem gramática.
- As palavras mais feias da língua portuguesa Vi o muro e calei: não é de muito, eu juro, que
são quiçá, alhures e miúde. me acontece essa tristeza; mas também não era a vez
primeira.
(BANDEIRA, Manuel. Seleta em prosa
e verso. Org: Emanuel de Moraes. 4a ed. Rio de Janeiro, BRAGA, R. A borboleta amarela. Rio de Janeiro: Record,
José Olympio, 1986. Pág.19) 1991.
Com a orientação da professora e após o debate sobre A escolha do tratamento que se queira atribuir a
o texto de Manuel Bandeira, os alunos chegaram à alguém geralmente considera as situações específicas
seguinte conclusão: de uso social. A violação desse princípio causou um
a) Uma das propostas mais ousadas do Modernismo foi mal-estar no autor da carta. O trecho que descreve
a busca da identidade do povo brasileiro e o registro, essa violação é:
no texto literário, da diversidade das falas a) “Essa palavra, ‘senhor’, no meio de uma frase ergueu
brasileiras. entre nós um muro frio e triste”.
b) Apesar de os modernistas registrarem as falas b) “A única nobreza do plebeu está em não querer
regionais do Brasil, ainda foram preconceituosos em esconder a sua condição”.
relação às cariocas. c) “Só poderíeis ter encontrado essa senhoria nas rugas
c) A tradição dos valores portugueses foi a pauta de minha testa”.
temática do movimento modernista. d) “O território onde eu mando é no país do tempo que
d) Manuel Bandeira e os modernistas brasileiros foi”.
exaltaram em seus textos o primitivismo da nação e) “Não é de muito, eu juro, que acontece essa tristeza;
brasileira. mas também não era a vez primeira”.
e) Manuel Bandeira considera a diversidade dos falares
brasileiros uma agressão à Língua Portuguesa. 2. (Enem 2012) Pote Cru é meu pastor. Ele me guiará.
Ele está comprometido de monge.
De tarde deambula no azedal entre torsos de
TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS cachorros, trampas, trapos, panos de regra, couros,
de rato ao podre, vísceras de piranhas, baratas
E TEORIA LITERÁRIA
albinas, dálias secas, vergalhos de lagartos,
linguetas de sapatos, aranhas dependuradas em
gotas de orvalho etc. etc.
1. (Enem 2012) Leia.
Pote Cru, ele dormia nas ruínas de um convento
Foi encontrado em osso.
O senhor
Ele tinha uma voz de oratórios perdidos.
Carta a uma jovem que, estando em uma roda
BARROS, M. Retrato do artista quando coisa. Rio de
em que dava aos presentes o tratamento de você, se
Janeiro: Record, 2002.
dirigiu ao autor chamando-o “o senhor”:
Ao estabelecer uma relação com o texto bíblico nesse
Senhora:
poema, o eu lírico identifica-se com o Pote Cru porque
a) entende a necessidade de todo poeta ter voz de
Aquele a quem chamastes senhor aqui está,
oratórios perdidos.
de peito magoado e cara triste, para vos dizer que
b) elege-o como pastor a fim de ser guiado para a
senhor ele não é, de nada, nem de ninguém.
salvação divina.
c) valoriza nos percursos do pastor a conexão entre as
Bem o sabeis, por certo, que a única nobreza
ruínas e a tradição.
do plebeu está em não querer esconder sua condição,
d) necessita de um guia para a descoberta das coisas da
e esta nobreza tenho eu. Assim, se entre tantos
natureza.
senhores ricos e nobres a quem chamáveis você
e) acompanha-o na opção pela insignificância das
escolhestes a mim para tratar de senhor, e bem de ver
coisas.
que só poderíeis ter encontrado essa senhoria nas
rugas de minha testa e na prata de meus cabelos.
3. (Enem 2012) Das irmãs
Senhor de muitos anos, eis aí; o território onde eu
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c) no verso “e ser meio felizes?”, em que “meio” é expectativa e oportunidade, de insônia e submissão, de
sinônimo de metade, ou seja, no casamento, apenas silêncios e rompantes, de anulação e prepotência.
um dos cônjuges se sentiria realizado. Conhecia a palavra exata para o momento preciso, a
d) nos dois primeiros versos, em que “juntar rendas” frase picante ou obscena no ambiente adequado, o
tom humilde diante do superior útil, o grosseiro diante
indica que o sujeito poético passa por dificuldades
do inferior, o arrogante quando o poderoso em nada o
financeiras e almeja os rendimentos da mulher.
podia prejudicar. Sabia desfazer situações equivocadas,
e) no título, em que o adjetivo “médio” qualifica o e armar intrigas das quais se saía sempre bem, e sabia,
sujeito poético como desinteressante ao sexo por experiência própria, que a fortuna se ganha com
oposto e inábil em termos de conquistas amorosas. uma frase, num dado momento, que este momento
único, irrecuperável, irreversível, exige um estado de
alerta para sua apropriação.
6. (Enem 2012) RAWET, S. O aprendizado. In: Diálogo. Rio de janeiro:
Logia e mitologia GRD, 1963 (fragmentado).
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Texto II
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d) “Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas Naturalmente haveria também escolas nas gaiolas. Nas
cadeias de disciplina e amor” (ref. 4). aulas, os peixinhos aprenderiam como nadar para a
e) “Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas goela dos tubarões. Eles aprenderiam, por exemplo, a
palavras...” (ref. 5). usar a geografia para localizar os grandes tubarões
deitados preguiçosamente por aí. A aula principal seria,
17. (Enem 2009) Teatro do Oprimido é um método
teatral que sistematiza exercícios, jogos e técnicas naturalmente, a formação moral dos peixinhos. A eles
teatrais elaboradas pelo teatrólogo brasileiro Augusto seria ensinado que o ato mais grandioso e mais sublime
Boal, recentemente falecido, que visa à é o sacrifício alegre de um peixinho e que todos
desmecanização física e intelectual de seus praticantes. deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando
Partindo do princípio de que a linguagem teatral não estes dissessem que cuidavam de sua felicidade futura.
deve ser diferenciada da que é usada cotidianamente Os peixinhos saberiam que este futuro só estaria
pelo cidadão comum (oprimido), ele propõe condições garantido se aprendessem a obediência.
práticas para que o oprimido se aproprie dos meios do
fazer teatral e, assim, amplie suas possibilidades de Cada peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos
expressão. Nesse sentido, todos podem desenvolver inimigos seria condecorado com uma pequena Ordem
essa linguagem e, consequentemente, fazer teatro. das Algas e receberia o título de herói.
Trata-se de um teatro em que o espectador é
convidado a substituir o protagonista e mudar a BRECHT, B. Histórias do Sr. Keuner. São Paulo: Ed. 34,
condução ou mesmo o fim da história, conforme o
2006 (adaptado).
olhar interpretativo e contextualizado do receptor.
Companhia Teatro do Oprimido. Disponível em: Como produção humana, a literatura veicula valores
www.ctorio.org.br. Acesso em: 1 jul. 2009 (adaptado). que nem sempre estão representados diretamente no
texto, mas são transfigurados pela linguagem literária e
Considerando-se as características do Teatro do podem até entrar em contradição com as convenções
Oprimido apresentadas, conclui-se que sociais e revelar o quanto a sociedade perverteu os
a) esse modelo teatral é um método tradicional de valores humanos que ela própria criou. É o que ocorre
fazer teatro que usa, nas suas ações cênicas, a na narrativa do dramaturgo alemão Bertolt Brecht
linguagem rebuscada e hermética falada mostrada. Por meio da hipótese apresentada, o autor
normalmente pelo cidadão comum. a) demonstra o quanto a literatura pode ser alienadora
b) a forma de recepção desse modelo teatral se destaca ao retratar, de modo positivo, as relações de
pela separação entre atores e público, na qual os
opressão existentes na sociedade.
atores representam seus personagens e a plateia
assiste passivamente ao espetáculo. b) revela a ação predatória do homem no mar,
c) sua linguagem teatral pode ser democratizada e questionando a utilização dos recursos naturais pelo
apropriada pelo cidadão comum, no sentido de homem ocidental.
proporcionar-lhe autonomia crítica para c) defende que a força colonizadora e civilizatória do
compreensão e interpretação do mundo em que homem ocidental valorizou a organização das
vive. sociedades africanas e asiáticas, elevando-as ao
d) o convite ao espectador para substituir o modo de organização cultural e social da sociedade
protagonista e mudar o fim da história evidencia que moderna.
a proposta de Boal se aproxima das regras do teatro
d) questiona o modo de organização das sociedades
tradicional para a preparação de atores.
e) a metodologia teatral do Teatro do Oprimido segue a ocidentais capitalistas, que se desenvolveram
concepção do teatro clássico aristotélico, que visa à fundamentadas nas relações de opressão em que os
desautomação física e intelectual de seus mais fortes exploram os mais fracos.
praticantes. e) evidencia a dinâmica social do trabalho coletivo em
que os mais fortes colaboram com os mais fracos, de
18. (Enem 2009) modo a guiá-los na realização de tarefas.
Se os tubarões fossem homens
Se os tubarões fossem homens, eles seriam mais gentis 19. (Enem 2009) Oximoro, ou paradoxismo, é uma
com os peixes pequenos? figura de retórica em que se combinam palavras de
sentido oposto que parecem excluir-se mutuamente,
Certamente, se os tubarões fossem homens, fariam
mas que, no contexto, reforçam a expressão.
construir resistentes gaiolas no mar para os peixes
pequenos, com todo o tipo de alimento, tanto animal
como vegetal. Cuidariam para que as gaiolas tivessem Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.
sempre água fresca e adotariam todas as providências
sanitárias. Considerando a definição apresentada, o fragmento
poético da obra Cantares, de Hilda Hilst, publicada em
32
LITERATURA
2004, em que pode ser encontrada a referida figura de autor explora o extrato sonoro do idioma e o uso de
retórica é: termos coloquiais na seguinte passagem:
a) “Dos dois contemplo a) “Quando um doce bardo brada a toda brida” (v. 2)
rigor e fixidez. b) “Em velas pandas, suas esquisitas rimas?” (v. 3)
Passado e sentimento c) “Que devora a voz do morto” (v. 9)
me contemplam” (p. 91). d) “lobo-bolo//Tipo pra rimar com ouro de tolo? (v. 11-
b) “De sol e lua 12)
De fogo e vento e) “Tease me, tease me outra vez” (v. 14)
Te enlaço” (p. 101).
c) “Areia, vou sorvendo TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
A água do teu rio” (p. 93). Texto I
d) “Ritualiza a matança [...] já foi o tempo em que via a convivência como
de quem só te deu vida. viável, só exigindo deste bem comum, piedosamente, o
E me deixa viver meu quinhão, já foi o tempo em que consentia num
nessa que morre” (p. 62). contrato, deixando muitas coisas de fora sem ceder
e) “O bisturi e o verso. contudo no que me era vital, já foi o tempo em que
Dois instrumentos reconhecia a existência escandalosa de imaginados
entre as minhas mãos” (p. 95). valores, coluna vertebral de toda ‘ordem’; mas não tive
sequer o sopro necessário, e, negado o respiro, me foi
20. (Enem 2009) Para o Mano Caetano imposto o sufoco; é esta consciência que me libera, é
ela hoje que me empurra, são outras agora minhas
O que fazer do ouro de tolo preocupações, é hoje outro o meu universo de
Quando um doce bardo brada a toda brida, problemas; num mundo estapafúrdio —
definitivamente fora de foco — cedo ou tarde tudo
Em velas pandas, suas esquisitas rimas?
acaba se reduzindo a um ponto de vista, e você que
Geografia de verdades, Guanabaras postiças vive paparicando as ciências humanas, nem suspeita
Saudades banguelas, tropicais preguiças? que paparica uma piada: impossível ordenar o mundo
dos valores, ninguém arruma a casa do capeta; me
A boca cheia de dentes recuso pois a pensar naquilo em que não mais acredito,
De um implacável sorriso seja o amor, a amizade, a família, a igreja, a
humanidade; me lixo com tudo isso! me apavora ainda
Morre a cada instante
a existência, mas não tenho medo de ficar sozinho, foi
Que devora a voz do morto, e com isso, conscientemente que escolhi o exílio, me bastando
Ressuscita vampira, sem o menor aviso hoje o cinismo dos grandes indiferentes [...].
NASSAR, R. Um copo de cólera. São Paulo: Companhia
[...] das Letras, 1992.
E eu soy lobo-bolo? lobo-bolo
Tipo pra rimar com ouro de tolo? Texto II
Oh, Narciso Peixe Ornamental! Raduan Nassar lançou a novela Um Copo de Cólera em
Tease me, tease me outra vez
1
1978, fervilhante narrativa de um confronto verbal
Ou em banto baiano entre amantes, em que a fúria das palavras cortantes
se estilhaçava no ar. O embate conjugal ecoava o
Ou em português de Portugal
autoritário discurso do poder e da submissão de um
De Natal Brasil que vivia sob o jugo da ditadura militar.
[...] COMODO, R. Um silêncio inquietante. IstoÉ. Disponível
em: http://www.terra.com.br. Acesso em: 15 jul. 2009.
1
Tease me (caçoe de mim, importune-me).
21. (Enem 2009) Considerando-se os textos
LOBÃO. Disponível em: http://vagalume.uol.com.br. apresentados e o contexto político e social no qual foi
Acesso em: 14 ago. 2009 (adaptado). produzida a obra Um Copo de Cólera, verifica-se que o
narrador, ao dirigir-se à sua parceira, nessa novela, tece
Na letra da canção apresentada, o compositor Lobão um discurso
explora vários recursos da língua portuguesa, a fim de a) conformista, que procura defender as instituições
conseguir efeitos estéticos ou de sentido. Nessa letra, o nas quais repousava a autoridade do regime militar
no Brasil, a saber: a Igreja, a família e o Estado.
33
LITERATURA
b) pacifista, que procura defender os ideais libertários - Aqui havia mulheres e criancinhas. Agora,
representativos da intelectualidade brasileira felizmente, só há pulgas e ratos.
opositora à ditadura militar na década de 70 do E outro:
século passado. - Amigo, tenho aqui esta mulher, este
c) desmistificador, escrito em um discurso ágil e papagaio, esta sogra e algumas baratas. Tome nota de
contundente, que critica os grandes princípios seus nomes, se quiser. Querendo levar todos, é favor...
humanitários supostamente defendidos por sua (...)
interlocutora. E outro:
d) politizado, pois apela para o engajamento nas causas - Dois, cidadão, somos dois. Naturalmente o sr.
sociais e para a defesa dos direitos humanos como não a vê. Mas ela está aqui, está, está! A sua saudade
uma única forma de salvamento para a humanidade. jamais sairá de meu quarto e de meu peito!
e) contraditório, ao acusar a sua interlocutora de
compactuar com o regime repressor da ditadura Rubem Braga. Para gostar de ler, v. 3. São
militar, por meio da defesa de instituições como a Paulo: Ática, 1998, p. 32-3 (fragmento).
família e a Igreja.
O fragmento anterior, em que há referência a um fato
22. (Enem 2009) Na novela Um Copo de Cólera, o sócio-histórico - o recenseamento -, apresenta
autor lança mão de recursos estilísticos e expressivos característica marcante do gênero crônica ao
típicos da literatura produzida na década de 70 do
século passado no Brasil, que, nas palavras do crítico a) expressar o tema de forma abstrata, evocando
Antonio Candido, aliam “vanguarda estética e imagens e buscando apresentar a ideia de uma coisa
amargura política”. Com relação à temática abordada e por meio de outra.
à concepção narrativa da novela, o texto I b) manter-se fiel aos acontecimentos, retratando os
a) é escrito em terceira pessoa, com narrador personagens em um só tempo e um só espaço.
onisciente, apresentando a disputa entre um c) contar história centrada na solução de um enigma,
homem e uma mulher em linguagem sóbria, construindo os personagens psicologicamente e
condizente com a seriedade da temática político- revelando-os pouco a pouco.
social do período da ditadura militar. d) evocar, de maneira satírica, a vida na cidade, visando
b) articula o discurso dos interlocutores em torno de transmitir ensinamentos práticos do cotidiano para
uma luta verbal, veiculada por meio de linguagem manter as pessoas informadas.
simples e objetiva, que busca traduzir a situação de e) valer-se de tema do cotidiano como ponto de
exclusão social do narrador. partida para a construção de texto, que recebe
c) representa a literatura dos anos 70 do século XX e tratamento estético.
aborda, por meio de expressão clara e objetiva e de
ponto de vista distanciado, os problemas da 24. (Enem 2004) Cândido Portinari (1903-1962), em seu
urbanização das grandes metrópoles brasileiras. livro "Retalhos de Minha Vida de Infância", descreve os
d) evidencia uma crítica à sociedade em que vivem os pés dos trabalhadores.
personagens, por meio de fluxo verbal contínuo de
tom agressivo. Pés disformes. Pés que podem contar uma
e) traduz, em linguagem subjetiva e intimista, a partir história. Confundiam-se com as pedras e os espinhos.
do ponto de vista interno, os dramas psicológicos da Pés semelhantes aos mapas: com montes e vales,
mulher moderna, às voltas com a questão da vincos como rios. (...) Pés sofridos com muitos e muitos
priorização do trabalho em detrimento da vida quilômetros de marcha. Pés que só os santos têm.
familiar e amorosa. Sobre a terra, difícil era distingui-los. Agarrados ao solo,
eram como alicerces, muitas vezes suportavam apenas
23. (Enem 2008) São Paulo vai se recensear. O governo um corpo franzino e doente.
quer saber quantas pessoas governa. A indagação (Cândido Portinari, Retrospectiva, Catálogo
atingirá a fauna e a flora domesticadas. Bois, mulheres MASP)
e algodoeiros serão reduzidos a números e invertidos
em estatísticas. As fantasias sobre o Novo Mundo, a diversidade da
O homem do censo entrará pelos bangalôs, natureza e do homem americano e a crítica social
pelas pensões, pelas casas de barro e de cimento foram temas que inspiraram muitos artistas ao longo
armado, pelo sobradinho e pelo apartamento, pelo de nossa História. Dentre estas imagens, a que melhor
cortiço e pelo hotel, perguntando: caracteriza a crítica social contida no texto de Portinari
- Quantos são aqui? é
Pergunta triste, de resto. Um homem dirá:
34
LITERATURA
a)
b)
35
LITERATURA
36
LITERATURA
Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a RAMOS, G. Viventes das Alagoas. São Paulo: Martins
história, resistiu até o esgotamento completo. Vencido Fontes, 1962.
palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no
dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos O relatório traz a assinatura de Graciliano Ramos, na
defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: época, prefeito de Palmeira dos Índios, e é destinado
um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente ao governo do estado de Alagoas. De natureza oficial, o
dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados. texto chama a atenção por contrariar a norma prevista
para esse gênero, pois o autor
CUNHA, E. Os sertões. Rio de Janeiro: Francisco Alves, a) emprega sinais de pontuação em excesso.
1987. b) recorre a termos e expressões em desuso no
TEXTO II português.
c) apresenta-se na primeira pessoa do singular, para
Na trincheira, no centro do reduto, permaneciam conotar intimidade com o destinatário.
quatro fanáticos sobreviventes do extermínio. Era um d) privilegia o uso de termos técnicos, para demonstrar
velho, coxo por ferimento e usando uniforme da conhecimento especializado.
Guarda Católica, um rapaz de 16 a 18 anos, um preto e) expressa-se em linguagem mais subjetiva, com forte
alto e magro, e um caboclo. Ao serem intimados para carga emocional.
deporem as armas, investiram com enorme fúria. Assim
estava terminada e de maneira tão trágica a sanguinosa
3. (Enem 2015) Um dia, meu pai tomou-me pela mão,
guerra, que o banditismo e o fanatismo traziam acesa
minha mãe beijou-me a testa, molhando-me de
por longos meses, naquele recanto do território
lágrimas os cabelos e eu parti.
nacional.
Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha
instalação.
SOARES, H. M. A Guerra de Canudos. Rio de Janeiro:
Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por
Altina, 1902.
um sistema de nutrido reclame, mantido por um
diretor que de tempos a tempos reformava o
Os relatos do último ato da Guerra de Canudos fazem
estabelecimento, pintando-o jeitosamente de
uso de representações que se perpetuariam na
novidade, como os negociantes que liquidam para
memória construída sobre o conflito. Nesse sentido,
recomeçar com artigos de última remessa; o Ateneu
cada autor caracterizou a atitude dos sertanejos,
desde muito tinha consolidado crédito na preferência
respectivamente, como fruto da
dos pais, sem levar em conta a simpatia da meninada, a
a) manipulação e incompetência.
cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios.
b) ignorância e solidariedade.
O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família
c) hesitação e obstinação.
37
LITERATURA
do Visconde de Ramos, do Norte, enchia o império com b) desconstrói o discurso da filosofia a fim de
o seu renome de pedagogo. Eram boletins de questionar o conceito de dever.
propaganda pelas províncias, conferências em diversos c) resgata a metodologia da história para denunciar as
pontos da cidade, a pedidos, à substância, atochando a atitudes irracionais.
imprensa dos lugarejos, caixões, sobretudo, de livros d) transita entre o humor e a ironia para celebrar o
elementares, fabricados às pressas com o ofegante e caos da vida cotidiana.
esbaforido concurso de professores prudentemente e) satiriza a matemática e a medicina para desmistificar
anônimos, caixões e mais caixões de volumes o saber científico.
cartonados em Leipzig, inundando as escolas públicas
de toda a parte com a sua invasão de capas azuis, 5. (Enem 2015) Cântico VI
róseas, amarelas, em que o nome de Aristarco, inteiro
e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos Tu tens um medo de
esfaimados de alfabeto dos confins da pátria. Os Acabar.
lugares que os não procuravam eram um belo dia Não vês que acabas todo o dia.
surpreendidos pela enchente, gratuita, espontânea, Que morres no amor.
irresistível! E não havia senão aceitar a farinha daquela Na tristeza.
marca para o pão do espírito. Na dúvida.
No desejo.
POMPEIA, R. O Ateneu. São Paulo: Scipione, 2005. Que te renovas todo dia.
No amor.
Ao descrever o Ateneu e as atitudes de seu diretor, o Na tristeza.
narrador revela um olhar sobre a inserção social do Na dúvida.
colégio demarcado pela No desejo.
a) ideologia mercantil da educação, repercutida nas Que és sempre outro.
vaidades pessoais. Que és sempre o mesmo.
b) interferência afetiva das famílias, determinantes no Que morrerás por idades imensas.
processo educacional. Até não teres medo de morrer.
c) produção pioneira de material didático, responsável E então serás eterno.
pela facilitação do ensino.
d) ampliação do acesso à educação, com a negociação MEIRELES, C. Antologia poética, Rio de Janeiro: Record.
dos custos escolares. 1963 (fragmento).
e) cumplicidade entre educadores e famílias, unidos
pelo interesse comum do avanço social. A poesia de Cecília Meireles revela concepções sobre o
homem em seu aspecto existencial. Em Cântico VI, o eu
4. (Enem 2015) Primeiro surgiu o homem nu de cabeça lírico exorta seu interlocutor a perceber, como inerente
baixa. Deus veio num raio. Então apareceram os bichos à condição humana,
que comiam os homens. E se fez o fogo, as especiarias,
a roupa, a espada e o dever. Em seguida se criou a a) a sublimação espiritual graças ao poder de se
filosofia, que explicava como não fazer o que não devia emocionar.
ser feito. Então surgiram os números racionais e a b) o desalento irremediável em face do cotidiano
História, organizando os eventos sem sentido. A fome repetitivo.
desde sempre, das coisas e das pessoas. Foram c) o questionamento cético sobre o rumo das atitudes
inventados o calmante e o estimulante. E alguém humanas.
apagou a luz. E cada um se vira como pode, arrancando d) a vontade inconsciente de perpetuar-se em estado
as cascas das feridas que alcança. adolescente.
e) um receio ancestral de confrontar a
BONASSI, F. 15 cenas do descobrimento de Brasis. In: imprevisibilidade das coisas.
MORICONI, I. (Org.). Os cem melhores contos do século.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. 6. (Enem 2015) a sua memória
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LITERATURA
BILAC, O. Poesias infantis. Rio de Janeiro: Francisco & em cada conto te cont
Alves, 1929. o & em cada enquanto me enca
nto & em cada arco te a
Publicado em 1904, o poema A pátria harmoniza-se barco & em cada porta m
com um projeto ideológico em construção na Primeira e perco & em cada lanço t
República. O discurso poético de Olavo Bilac ecoa esse e alcanço & em cada escad
39
LITERATURA
À garrafa
40
LITERATURA
41
LITERATURA
b) “Um Camões e outros iguais não bastaram para nos a intensa expectativa que se instala. Mas não exagere
dar para sempre uma herança de língua já feita.” na medida e suba sem demora ao quarto, libertando aí
c) “Todos nós que escrevemos estamos fazendo do os pés das meias e dos sapatos, tirando a roupa do
túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê corpo como e retirasse a importância das coisas,
vida.” pondo-se enfim em vestes mínimas, quem sabe até em
d) “Mas não falei do encantamento de lidar com uma pelo, mas sem ferir o decoro (o seu decoro, está claro),
língua que não foi aprofundada.” e aceitando ao mesmo tempo, como boa verdade
e) “Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só provisória, toda mudança de comportamento.
para que a minha abordagem do português fosse NASSAR, R. Menina a caminho. São Paulo: Cia. das Letras. 1997.
virgem e límpida.”
Em textos de diferentes gêneros, algumas estratégias
15. (Enem 2017) Essas moças tinham o vezo de afirmar argumentativas referem-se a recursos linguístico-
o contrário do que desejavam. Notei a singularidade discursivos mobilizados para envolver o leitor. No
quando principiaram a elogiar o meu paletó cor de texto, caracteriza-se como estratégia de envolvimento
macaco. Examinavam-no sérias, achavam o pano e os a
aviamentos de qualidade superior, o feitio admirável. a) prescrição de comportamentos, como em: “[...]
Envaideci-me: nunca havia reparado em tais largue tudo de repente sob os olhares a sua volta
vantagens. Mas os gabos se prolongaram, trouxeram- [...]”.
me desconfiança. Percebi afinal que elas zombavam e b) apresentação de contraposição, como em: “Mas não
não me susceptibilizei. Longe disso: achei curiosa exagere na medida e suba sem demora ao quarto
aquela maneira de falar pelo avesso, diferente das [...]”.
grosserias a que me habituara. Em geral me diziam com c) explicitação do interlocutor, como em: “[...] (espécie
franqueza que e roupa não me assentava no corpo, da qual você, milenarmente cansado, talvez se sinta
sobrava nos sovacos. um tanto excluído) [...]”.
d) descrição do espaço, como em: “Nesta sala atulhada
RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1994. de mesas, máquinas e papéis, onde invejáveis
escreventes dividiram entre si o bom-senso do
Por meio de recursos linguísticos, os textos mobilizam mundo [...]”.
estratégias para introduzir e retomar ideias, e) construção de comparações, como em: “[...]
promovendo a progressão do tema. No fragmento libertando aí os pés das meias e dos sapatos, tirando
transcrito, um novo aspecto do tema é introduzido pela a roupa do corpo como se retirasse a importância
expressão das coisas [...]”.
a) “a singularidade”.
b) “tais vantagens”. 17. (Enem 2017) A lavadeira começou a viver como
c) “os gabos”. uma serviçal que impõe respeito e não mais como
d) “Longe disso”. escrava. Mas essa regalia súbita foi efêmera. Meus
e) “Em geral”. irmãos, nos frequentes deslizes que adulteravam este
novo relacionamento, geram dardejados pelo olhar
16. (Enem 2017) severo de Emilie; eles nunca suportaram de bom grado
Aí pelas três da tarde que uma índia passasse a comer na mesa da sala,
Nesta sala atulhada de mesas, máquinas e papéis, onde usando os mesmos talheres e pratos, e comprimindo
invejáveis escreventes dividiram entre si o bom senso com os lábios o mesmo cristal dos copos e a mesma
do mundo, aplicando-se em ideias claras apesar do porcelana das xícaras de café. Uma espécie de asco e
ruído e do mormaço, seguros ao se pronunciarem repulsa tingia-lhes o rosto, já não comiam com a
sobre problemas que afligem o homem moderno mesma saciedade e recusavam-se a elogiar os pastéis
(espécie da qual você, milenarmente cansado, talvez se de picadinho de carneiro, os folheados de nata e
sinta um tanto excluído), largue tudo de repente sob os tâmara, e o arroz com amêndoas, dourado, exalando
olhares a sua volta, componha uma cara de louco um cheiro de cebola tostada. Aquela mulher, sentada e
quieto e perigoso, faça os gestos mais calmos quanto muda, com o rosto rastreado de rugas, era capaz de
os tais escribas mais severos, dê um largo “ciao” ao tirar o sabor e o odor dos alimentos e de suprimir a voz
trabalho do dia, assim como quem se despede da vida, e o gesto como se o seu silêncio ou a sua presença que
e surpreenda pouco mais tarde, com sua presença em era só silêncio impedisse o outro de viver.
HATOUM. M. Relato de um certo Oriente. São Paulo: Cia das Letras,
hora tão insólita, os que estiveram em casa ocupados 2000.
na limpeza dos armários, que você não sabia antes
como era conduzida. Convém não responder aos
olhares interrogativos, deixando crescer, por instantes,
42
LITERATURA
Ao apresentar uma situação de tensão em família, o c) censurar a falta de domínio da língua padrão em
narrador destila, nesse fragmento, uma percepção das eventos sociais.
relações humanas e sociais demarcada pelo d) despertar a preocupação da plateia com a
a) predomínio dos estigmas de classe e de raça sobre a expectativa de vida dos Cidadãos.
intimidade da convivência. e) questionar o apoio irrestrito de agentes públicos aos
b) discurso da manutenção de uma ética doméstica gestores governamentais.
contra a subversão dos valores.
c) desejo de superação do passado de escassez em prol 19. (Enem 2017) E aqui, antes de continuar este
do presente de abastança. espetáculo, é necessário que façamos uma advertência
d) sentimento de insubordinação à autoridade a todos e a cada um. Neste momento, achamos
representada pela matriarca da família. fundamental que cada um tome uma posição definida.
e) rancor com a ingratidão e a hipocrisia geradas pela Sem que cada um tome uma posição definida, não é
mudanças nas regras da casa. possível continuarmos. É fundamental que cada um
tome uma posição, seja para a esquerda, seja para a
18. (Enem 2017) Segundo quadro direita. Admitimos mesmo que alguns tomem uma
posição neutra, fiquem de braços cruzados. Mas é
Uma sala da prefeitura. O ambiente é modesto. preciso que cada um, uma vez tomada sua posição,
Durante a mutação, ouve-se um dobrado e vivas a fique nela! Porque senão, companheiros, as cadeiras do
Odorico, “viva o prefeito” etc. Estão em cena Dorotéa, teatro rangem muito e ninguém ouve nada.
Juju, Dirceu, Dulcinéa, o vigário e Odorico. Este último,
à janela, discursa. FERNANDES, M.; RANGEL, F. Liberdade, liberdade.
Porto Alegre: L&PM, 2009.
ODORICO – Povo sucupirano! Agoramente já investido
no cargo de Prefeito, aqui estou para receber a
confirmação, a ratificação, a autenticação e por que A peça Liberdade, liberdade, encenada em 1964,
não dizer a sagração do povo que me elegeu. apresenta o impasse vivido pela sociedade brasileira
em face do regime vigente. Esse impasse é
Aplausos vêm de fora. representado no fragmento pelo(a)
a) barulho excessivo produzido pelo ranger das
ODORICO – Eu prometi que o meu primeiro ato como cadeiras do teatro.
prefeito seria ordenar a construção do cemitério. b) indicação da neutralidade como a melhor opção
ideológica naquele momento.
Aplausos, aos quais se incorporam as personagens em c) constatação da censura em função do engajamento
cena. social do texto dramático.
d) conotação entre o alinhamento político e a posição
ODORICO – (Continuando o discurso:) Botando de lado corporal dos espectadores.
os entretantos e partindo pros finalmente, é uma e) interrupção do espetáculo em virtude do
alegria poder anunciar que prafrentemente vocês lá comportamento inadequado do público.
poderão morrer descansados, tranquilos e
desconstrangidos, na certeza de que vão ser sepultados 20. (Enem 2017)
aqui mesmo, nesta terra morna e cheirosa de Sucupira.
E quem votou em mim, basta dizer isso ao padre na Contranarciso
hora da extrema-unção, que tem enterro e cova de
graça, conforme o prometido. em mim
eu vejo o outro
GOMES, D. O bem amado. Rio de Janeiro: Ediouro, e outro
2012. e outro
enfim dezenas
trens passando
O gênero peça teatral tem o entretenimento como vagões cheios de gente
uma de suas funções. Outra função relevante do centenas
gênero, explícita nesse trecho de O bem amado, é a
a) criticar satiricamente o comportamento de pessoas o outro
públicas. que há em mim
b) denunciar a escassez de recursos públicos nas é você
prefeituras do interior. você
43
LITERATURA
44
LITERATURA
Naturalmente
Ela sorria
Mas não me dava trela
Trocava a roupa
Na minha frente
E ia bailar sem mais aquela
Escolhia qualquer um
Lançava olhares
Debaixo do meu nariz
Dançava colada
Em novos pares
Com um pé atrás
Com um pé a fim
Surgiram outras
Naturalmente TEXTO II
Sem nem olhar a minha cara
Tomavam banho Na sua produção, Goeldi buscou refletir seu caminho
Na minha frente pessoal e político, sua melancolia e paixão sobre os
Para sair com outro cara intensos aspectos mais latentes em sua obra, como:
Porém nunca me importei cidades, peixes, urubus, caveiras, abandono, solidão,
Com tais amantes drama e medo.
ZULIETTI, L. F. Goeldi: da melancolia ao inevitável.
[...] Revista de Arte, Mídia e Política. Acesso em: 24 abr.
2017 (adaptado).
Com tantos filmes
Na minha mente
É natural que toda atriz O gravador Oswaldo Goeldi recebeu fortes influências
Presentemente represente de um movimento artístico europeu do início do século
Muito para mim XX, que apresenta as características reveladas nos
traços da obra de
CHICO BUARQUE. Carioca. Rio de Janeiro: Biscoito Fino,
2006 (fragmento).
45
LITERATURA
b)
46
LITERATURA
e) veículo de produção de fatos da realidade. milho. A galinha continuou a bicar o chão desorientada.
Atirou ainda mais, com paciência, até que ela se
28. (Enem 2016) A partida de trem fartasse. Mas não conseguiu com o gasto de milho, de
que as outras se aproveitaram, atinar com a origem
Marcava seis horas da manhã. Angela Pralini pagou o daquela desorientação. Que é que seria aquilo, meu
táxi e pegou sua pequena valise. Dona Maria Rita de Deus do céu? Se fosse efeito de uma pedrada na
Alvarenga Chagas Souza Melo desceu do Opala da filha cabeça e se soubesse quem havia mandado a pedra,
e encaminharam-se para os trilhos. A velha bem- algum moleque da vizinhança, aí... Nem por sombra
vestida e com joias. Das rugas que a disfarçavam saía a imaginou que era a cegueira irremediável que
forma pura de um nariz perdido na idade, e de uma principiava.
boca que outrora devia ter sido cheia e sensível. Mas
que importa? Chega-se a um certo ponto – e o que foi Também a galinha, coitada, não compreendia nada,
não importa. Começa uma nova raça. Uma velha não absolutamente nada daquilo. Por que não vinham mais
pode comunicar-se. Recebeu o beijo gelado de sua filha os dias luminosos em que procurava a sombra das
que foi embora antes do trem partir. Ajudara-a antes a pitangueiras? Sentia ainda o calor do sol, mas tudo
subir no vagão. Sem que neste houvesse um centro, ela quase sempre tão escuro. Quase que já não sabia onde
se colocara do lado. Quando a locomotiva se pôs em é que estava a luz, onde é que estava a sombra.
movimento, surpreendeu-se um pouco: não esperava
que o trem seguisse nessa direção e sentara-se de GUIMARAENS, J. A. Contos e novelas.
costas para o caminho. Rio de Janeiro: Imago, 1976 (fragmento).
Angela Pralini percebeu-lhe o movimento e perguntou:
— A senhora deseja trocar de lugar comigo?
Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza, disse Ao apresentar uma cena em que um menino atira
que não, obrigada, para ela dava no mesmo. Mas milho às galinhas e observa com atenção uma delas, o
parecia ter-se perturbado. Passou a mão sobre o narrador explora um recurso que conduz a uma
camafeu filigranado de ouro, espetado no peito, passou expressividade fundamentada na
a mão pelo broche. Seca. Ofendida? Perguntou afinal a a) captura de elementos da vida rural, de feições
Angela Pralini: peculiares.
— É por causa de mim que a senhorita deseja trocar de b) caracterização de um quintal de sítio, espaço de
lugar? descobertas.
c) confusão intencional da marcação do tempo,
LISPECTOR, C. Onde estivestes de noite. centrado na infância.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980 (fragmento). d) apropriação de diferentes pontos de vista,
incorporados afetivamente.
e) fragmentação do conflito gerador, distendido como
A descoberta de experiências emocionais com base no apoio à emotividade
cotidiano é recorrente na obra de Clarice Lispector. No
fragmento, o narrador enfatiza o(a) 30. (Enem 2016) Em casa, Hideo ainda podia seguir fiel
ao imperador japonês e às tradições que trouxera no
a) comportamento vaidoso de mulheres de condição navio que aportara em Santos. [...] Por isso Hideo exigia
social privilegiada. que, aos domingos, todos estivessem juntos durante o
b) anulação das diferenças sociais no espaço público de almoço. Ele se sentava à cabeceira da mesa; à direita
uma estação. ficava Hanashiro, que era o primeiro filho, e Hitoshi, o
c) incompatibilidade psicológica entre mulheres de segundo, e à esquerda, Haruo, depois Hiroshi, que era
gerações diferentes. o mais novo. [...] A esposa, que também era mãe, e as
d) constrangimento da aproximação formal de pessoas filhas, que também eram irmãs, aguardavam de pé ao
desconhecidas. redor da mesa [...]. Haruo reclamava, não se cansava
e) sentimento de solidão alimentado pelo processo de de reclamar: que se sentassem também as mulheres à
envelhecimento. mesa, que era um absurdo aquele costume. Quando se
casasse, se sentariam à mesa a esposa e o marido, um
29. (Enem 2016) em frente ao outro, porque não era o homem melhor
Galinha cega que a mulher para ser o primeiro [...]. Elas seguiam de
pé, a mãe um pouco cansada dos protestos do filho,
O dono correu atrás de sua branquinha, agarrou-a, lhe pois o momento do almoço era sagrado, não era hora
examinou os olhos. Estavam direitinhos, graças a Deus, de levantar bandeiras inúteis [...].
e muito pretos. Soltou-a no terreiro e lhe atirou mais
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LITERATURA
NAKASATO, O. Nihonjin. São Paulo: Benvirá, 2011 tentativa de purificação contra a partícula invasora.
(fragmento). Com uma paciência de fundo de mar, a ostra profanada
continua seu trabalho incansável, secretando por anos
Referindo-se a práticas culturais de origem nipônica, o a fio o nácar que aos poucos se vai solidificando. É
narrador registra as reações que elas provocam na dessa solidificação que nascem as pérolas.
família e mostra um contexto em que
a) a obediência ao imperador leva ao prestígio pessoal. As pérolas são, assim, o resultado de uma
b) as novas gerações abandonam seus antigos hábitos. contaminação. A arte por vezes também. A arte é
c) a refeição é o que determina a agregação familiar. quase sempre a transformação da dor. [...] Escrever é
d) os conflitos de gênero tendem a ser neutralizados. preciso. É preciso continuar secretando o nácar, formar
e) o lugar à mesa metaforiza uma estrutura de poder. a pérola que talvez seja imperfeita, que talvez jamais
seja encontrada e viva para sempre encerrada no fundo
31. (Enem 2016) do mar. Talvez estas, as pérolas esquecidas, jamais
PINHÃO sai ao mesmo tempo que BENONA entra. achadas, as pérolas intocadas e por isso absolutas em si
BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer mesmas, guardem em si uma parcela faiscante da
falar com você. eternidade.
EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá
fora, mas não quero falar com ele. SEIXAS, H. Uma ilha chamada livro.
BENONA: Mas Eurico, nós lhe devemos certas Rio de Janeiro: Record, 2009 (fragmento).
atenções.
EURICÃO: Você, que foi noiva dele. Eu, não!
BENONA: Isso são coisas passadas. Considerando os aspectos estéticos e semânticos
EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuízo foi meu. presentes no texto, a imagem da pérola configura uma
Esperava que Eudoro, com todo aquele dinheiro, se percepção que
tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um a) reforça o valor do sofrimento e do esquecimento
patrimônio a mais. E o peste me traiu. Agora, parece para o processo criativo.
que ouviu dizer que eu tenho um tesouro. E vem louco b) ilustra o conflito entre a procura do novo e a rejeição
atrás dele, sedento, atacado de verdadeira hidrofobia. ao elemento exótico.
Vive farejando ouro, como um cachorro da molest’a, c) concebe a criação literária como trabalho
como um urubu, atrás do sangue dos outros. Mas ele progressivo e de autoconhecimento.
está enganado. Santo Antônio há de proteger minha d) expressa a ideia de atividade poética como
pobreza e minha devoção. experiência anônima e involuntária.
e) destaca o efeito introspectivo gerado pelo contato
SUASSUNA, A. O santo e a porca. com o inusitado e com o desconhecido.
Rio de Janeiro: José Olympio, 2013 (fragmento).
33. (Enem 2016)
Nesse texto teatral, o emprego das expressões “o Lições de motim
peste” e “cachorro da molest’a” contribui para
a) marcar a classe social das personagens. DONA COTINHA –– É claro! Só gosta de solidão quem
b) caracterizar usos linguísticos de uma região. nasceu pra ser solitário. Só o solitário gosta de solidão.
c) enfatizar a relação familiar entre as personagens. Quem vive só e não gosta da solidão não é um solitário,
d) sinalizar a influência do gênero nas escolhas é só um desacompanhado. (A reflexão escorrega lá pro
vocabulares. fundo da alma.) Solidão é vocação, besta de quem
e) demonstrar o tom autoritário da fala de uma das pensa que é sina. Por isso, tem de ser valorizada. E não
personagens. é qualquer um que pode ser solitário, não. Ah, mas não
é mesmo! É preciso ter competência pra isso. (De
32. (Enem 2016) Pérolas absolutas súbito, pedagógica, volta-se para o homem.) É como
poesia, sabe, moço? Tem de ser recitada em voz alta,
Há, no seio de uma ostra, um movimento – ainda que que é pra gente sentir o gosto. (FAZ UMA PAUSA.) Você
imperceptível. Qualquer coisa imiscuiu-se pela fissura, gosta de poesia? (O HOMEM TORNA A SE DEBATER. A
uma partícula qualquer, diminuta e invisível. Venceu as VELHA INTERROMPE O DISCURSO E VOLTA A LHE DAR
paredes lacradas, que se fecham como a boca que tem AS COSTAS, COMO SEMPRE, IMPASSÍVEL. O HOMEM,
medo de deixar escapar um segredo. Venceu. E agora MAIS UMA VEZ, CANSADO, DESISTE.) Bem, como eu ia
penetra o núcleo da ostra, contaminando-lhe a própria dizendo, pra viver bem com a solidão temos de ser
substância. A ostra reage, imediatamente. E começa a proprietários dela e não inquilinos, me entende? Quem
secretar o nácar. É um mecanismo de defesa, uma é inquilino da solidão não passa de um abandonado. É
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LITERATURA
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LITERATURA
ruas da cidade, caminhando displicentemente, DURAS, M. O amante. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
sentindo cheiro de jasmim e de alecrim, sem olhar para 1985.
trás, sem temer as sombras.
Você pode não acreditar: houve um tempo em que as Na imagem e no texto do romance de Marguerite
pessoas se visitavam airosamente. Chegavam no meio Duras, os dois autorretratos apontam para o modo de
da tarde ou à noite, contavam casos, tomavam café, representação da subjetividade moderna. Na pintura e
falavam da saúde, tricotavam sobre a vida alheia e na literatura modernas, o rosto humano deforma-se,
voltavam de bonde às suas casas. destrói-se ou fragmenta-se em razão
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que a) da adesão à estética do grotesco, herdada do
o namorado primeiro ficava andando com a moça romantismo europeu, que trouxe novas
numa rua perto da casa dela, depois passava a namorar possibilidades de representação.
no portão, depois tinha ingresso na sala da família. Era b) das catástrofes que assolaram o século XX e da
sinal de que já estava praticamente noivo e seguro. descoberta de uma realidade psíquica pela
Houve um tempo em que havia tempo. psicanálise.
Houve um tempo. c) da opção em demonstrarem oposição aos limites
estéticos da revolução permanente trazida pela arte
SANTANNA, A. R. Estado de Minas, 5 maio 2013 moderna.
(fragmento). d) do posicionamento do artista do século XX contra a
negação do passado, que se torna prática dominante
Nessa crônica, a repetição do trecho “Você pode não na sociedade burguesa.
acreditar: mas houve um tempo em que...” configura- e) da intenção de garantir uma forma de criar obras de
se como uma estratégia argumentativa que visa arte independentes da matéria presente em sua
a) surpreendem leitor com a descrição do que as história pessoal.
pessoas faziam durante o seu tempo livre
antigamente. 38. (Enem 2016)
b) sensibilizar o leitor sobre o modo como as pessoas Primeira lição
se relacionavam entre si num tempo mais aprazível.
c) advertir o leitor mais jovem sobre o mau uso que se Os gêneros de poesia são: lírico, satírico, didático,
faz do tempo nos dias atuais. épico, ligeiro.
d) incentivar o leitor a organizar melhor o seu tempo O gênero lírico compreende o lirismo.
sem deixar de ser nostálgico. Lirismo é a tradução de um sentimento subjetivo,
e) convencer o leitor sobre a veracidade de fatos sincero e pessoal.
relativos à vida no passado. É a linguagem do coração, do amor.
O lirismo é assim denominado porque em outros
37. (Enem 2016) tempos os versos sentimentais eram declamados ao
Texto I som da lira.
O lirismo pode ser:
a) Elegíaco, quando trata de assuntos tristes, quase
sempre a morte.
b) Bucólico, quando versa sobre assuntos campestres.
c) Erótico, quando versa sobre o amor.
O lirismo elegíaco compreende a elegia, a nênia, a
endecha, o epitáfio e o epicédio.
Elegia é uma poesia que trata de assuntos tristes.
Nênia é uma poesia em homenagem a uma pessoa
morta.
Era declamada junto à fogueira onde o cadáver era
incinerado.
Endecha é uma poesia que revela as dores do coração.
Texto II Epitáfio é um pequeno verso gravado em pedras
tumulares.
Tenho um rosto lacerado por rugas secas e profundas, Epicédio é uma poesia onde o poeta relata a vida de
sulcos na pele. Não é um rosto desfeito, como acontece uma pessoa morta.
com pessoas de traços delicados, o contorno é o
mesmo mas a matéria foi destruída. Tenho um rosto CESAR, A. C. Poética, São Paulo: Companhia das Letras,
destruído. 2013.
50
LITERATURA
No poema de Ana Cristina Cesar, a relação entre as d) compreender a autonomia do corpo no contexto da
definições apresentadas e o processo de construção do obra.
texto indica que o(a) e) destacar o corpo do artista em contato com o
a) caráter descritivo dos versos assinala uma concepção espectador.
irônica de lirismo.
b) tom explicativo e contido constitui uma forma 40. (Enem 2018)
peculiar de expressão poética.
c) seleção e o recorte do tema revelam uma visão TEXTO I
pessimista da criação artística.
d) enumeração de distintas manifestações líricas Também chamados impressões ou imagens
produz um efeito de impessoalidade. fotogramáticas [...], os fotogramas são, numa definição
e) referência a gêneros poéticos clássicos expressa a genérica, imagens realizadas sem a utilização da
adesão do eu lírico às tradições literárias. câmera fotográfica, por contato direto de um objeto ou
material com uma superfície fotossensível exposta a
39. (Enem 2018) uma fonte de luz. Essa técnica, que nasceu junto com a
fotografia e serviu de modelo a muitas discussões
TEXTO I sobre a ontologia da imagem fotográfica, foi
profundamente transformada pelos artistas da
vanguarda, nas primeiras décadas do século XX.
Representou mesmo, ao lado das colagens, foto
montagens e outros procedimentos técnicos, a
incorporação definitiva da fotografia à arte moderna e
seu distanciamento da representação figurativa.
TEXTO II
TEXTO II
51
LITERATURA
TEXTO II
52
LITERATURA
TEXTO I
TEXTO II
53
LITERATURA
GABARITO
ESTILOS DE ÉPOCA
1. D 62. E
2. D 63. C
3. A 64. A
4. D 65. A
5. B 66. A
6. A 67. A
7. A 68. A
8. E
9. C TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS E TEORIA
10. C LITERÁRIA
11. C
12. E 1. A
13. B 2. E
14. D 3. E
15. C 4. B
16. D 5. B
17. E 6. D
18. A 7. A
19. B 8. B
20. A 9. E
21. D 10. C
22. D 11. C
23. D 12. C
24. C 13. D
25. C 14. A
26. C 15. A
27. E 16. E
28. D 17. C
29. A 18. D
30. B 19. D
20. D
31. C
21. C
43. D
22. D
44. B
23. E
45. B
24. E
46. A
25. A
47. A
48. A 26. B
49. C 27. A
50. A 28. A
51. A 29. A
52. B
53. E QUESTÕES RECENTES
54. C
1. E
55. A
2. E
56. E
3. A
57. A
4. D
58. A
5. A
59. B
6. D
60. E
7. B
61. E
8. D
9. E
54
LITERATURA
10. D
11. D
12. A
13. D
14. B
15. D
16. C
17. A
18. A
19. D
20. D
21. B
22. E
23. A
24. E
25. A
26. C
27. C
28. E
29. D
30. E
31. B
32. C
33. D
34. A
35. E
36. B
37. B
38. B
39. B
40. C
41. B
42. A
43. B
55