Breve Histórico Da Mudança Do Clima

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Mudança do Clima: Aspectos Socioeconômicos e Políticos

Maurício Amazonas - CDS


Disc. Mudanças Climáticas - ProfCiamb

Breve Histórico da Mudança do Clima

• 1860 - John Tyndall mediu a absorção de calor pelo dióxido de


carbono e pelo vapor d'água e foi o primeiro a indicar que as
grandes variações na temperatura média da Terra poderiam ser
devidas às variações da quantidade de dióxido de carbono na
atmosfera.

• 1896 - Svante Arrhenius constrói o primeiro modelo climático da influência do


dióxido de carbono atmosférico (CO2). Calculou que a
duplicação da quantidade de CO2 na atmosfera
aumentaria a sua temperatura de 5 °C a 6 °C.

• Década de 1920 - Era do desenvolvimento de petróleo em larga escala:


abertura dos campos de petróleo do Texas e do Golfo Pérsico.

• 1939 - Guy Callendar calculou o aquecimento devido ao aumento de CO2 pela


queima de combustíveis fósseis, ou seja, o caso especial de efeito estufa: Efeito
Callendar.
• 1958 - Charles David Keeling inicia o registro regular das concentrações de CO2
na atmosfera (Antártica e Mauna Loa, Havaí): Curva de Keeling.

• 1974 - Publicada a primeira evidência de produtos químicos de cloro


envolvidos na destruição da camada de ozônio.

• 1988 - É criado o IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudanças


Climáticas, no âmbito das Nações Unidas, por iniciativa do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e da Organização
Meteorológica Mundial (OMM). A criação se deu
com o impulso da “Toronto Conference on the
Changing Atmosphere“ e do relato do cientista
da NASA James Hansen ao Senado dos EUA
afirmando que “a tendência de aquecimento
não é uma variação natural”, e sim decorrente
do acúmulo de CO2 e outros gases por emissão.

• 1990 - 1º relatório do IPCC analisa o padrão do aquecimento passado, ao


mesmo tempo em que sinaliza o provável padrão de aquecimento futuro.

• 1992 - Conferência do Rio-92 cria a Convenção-Quadro das Nações Unidas


sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC).
• 1995 – 1ª Conferência das Partes da Mudança Climática (COP-1).

• 1996 - 2º relatório do IPCC amplia as análises sobre o aquecimento e


embasará as COPs 2 e 3 e o Protocolo de Kyoto.

• 1997 - Criado na COP-3 o Protocolo de Kyoto, visando limitar as emissões de


GEEs dos países industrializados. Os EUA, o maior emissor de GEE na época,
não aderem.

• 2001 - 3º relatório do IPCC: o aquecimento resultante das emissões de GEE


tornou-se uma realidade altamente provável.

• 2005 - Entra em vigor o Protocolo de Kyoto, após ratificação pela Rússia. Todos
os principais países industrializados (Anexo I) ratificam, exceto os EUA.

• 2006 - China se torna o maior emissor de GEE do mundo.

• 2006 – Publicado o Relatório Stern. Coordenado pelo


economista Nicholas Stern, por solicitação do governo
britânico.
• 2007 - 4º relatório do IPCC constata que os efeitos do aquecimento global
estão efetivamente ocorrendo.

• 2007 - IPCC e Al Gore dividem o Prêmio Nobel da Paz.

• 2014 - 5º relatório do IPCC confirma com maior profundidade e certeza


científica ser o aquecimento de causa antrópica.

• 2015 - Acordo de Paris, assinado por quase 200 países, incluindo os EUA e
China. Substitui o Protocolo de Kyoto.
• 2016 entra em vigor o Acordo de Paris.

• 2021 - 6º relatório do IPCC avança substancialmente em relação ao anterior,


afirmando inequivocamente ser o aquecimento decorrente da atividade
humana, e que a obtenção da meta de 1,5oC, que ainda é possível, requer
medidas agressivas, caso contrário pode-se chegar a um aumento de 5,7oC em
2100.
• 2022 – publicadas em 7 de fevereiro a segunda parte (Working Group II –
Vulnerabilidade e Adaptação) e em 4 de abril a terceira parte (Working Group
III: Mitigação) do 6º relatório do IPCC.
As Conferências das Partes - COPs

COP 1 – Berlim, Alemanha (1995)


Com representantes de 117 países, foram dados os primeiros passos de criação de
instrumentos para implementação dos objetivos traçados na Convenção-Quadro. Foi
estabelecido o Mandato de Berlim que trouxe obrigações para os países
industrializados. Os países que não fazem parte do Anexo I ficaram isentos de
compromissos.

COP 2 – Genebra, Suíça (1996)


Pela Declaração de Genebra as partes acordaram quanto à necessidade de criação de
obrigações legais de metas vinculantes de redução de emissões. Contudo, nenhum
acordo desta natureza foi criado no momento.

COP 3 – Kyoto, Japão (1997)


O principal objetivo da COP 3 era estabelecer um acordo vinculativo para a redução da
emissão de GEE pelos países industrializados (países do Anexo I). O principal resultado
da Conferência foi o Protocolo de Kyoto, estabelecendo meta obrigatória para 37
países industrializados de redução de emissão de GEE em 5% em relação a 1990 até
2012. O Protocolo estabeleceu a distinção de “responsabilidades comuns porém
diferenciadas” entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, assim como três
mecanismos para atingir o resultado esperado, e apoiados na emergência de um
mercado de carbono.
• Comércio de emissões (emissions trading): permitindo aos países do Anexo I
comercializarem entre si licenças de emissão entre países que não tenham
atingido seus limites de emissões e aqueles que tenham atingido, para
cumprirem seu compromisso.
• Implementação Conjunta (Joint Implementation): países do Anexo I podem agir
em conjunto para atingirem seus objetivos do Protocolo.
• Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (Clean Development Mechanism):
definiu que países do Anexo I podem implementar projetos de redução de
emissões em países em desenvolvimento (Não-Anexo I), nestes investindo, e
depois sendo geradas reduções certificadas de emissões (CER), contabilizando
para os países do Anexo I e podendo ser negociada entre estes.

O Protocolo entrou em vigor apenas em 2005 após a ratificação pela Rússia, sendo
ratificado por 192 países. EUA e China não ratificaram.
COP 4 – Buenos Aires, Argentina (1998)
Por meio do Plano de Ação de Buenos Aires, as partes se comprometeram com a
implementação do Protocolo de Kyoto. Na ocasião, foram discutidos também
mecanismos do Protocolo e questões de financiamento e transferência de tecnologia,
entre outros.

COP 5 – Bonn, Alemanha (1999)


A COP5 marcou-se pelas discussões sobre a implementação do Plano de Ação de
Buenos Aires e o Protocolo de Kyoto, e também as discussões sobre LULUCF (Land
Use, Land-Use Change and Forestry; atividades que promovem emissões pelas
alterações no uso da terra ou a remoção de gás carbônico da atmosfera por
florestamento e reflorestamento).

COP 6 – Haia, Holanda (2000) / Bonn, Alemanha (2001)


O encontro foi marcado pela dificuldade de consenso sobre questões de mitigação. A
falta de acordo nas discussões sobre sumidouros, LULUCF, Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo, mercado de carbono e financiamento de países em
desenvolvimento levaram à suspensão das negociações, especialmente pela falta de
acordo entre a União Europeia e os Estados Unidos, que queriam permitir que áreas
agrícolas e florestais pudessem ser incluídas como sumidouros de carbono. As
negociações fracassaram e foi acordado que as negociações seriam retomadas em
conferência extraordinária em julho de 2001.
Com a retomada seis meses depois em Bonn, havia baixas expectativas, especialmente
pela recusa definitiva do Protocolo de Kyoto pelos EUA da gestão Bush, que
permaneceram na COP-6 apenas como observadores. Com esta ausência, as partes
avançaram acordos importantes em questões como definições sobre os sumidouros de
carbono e aplicação dos mecanismos de flexibilização do Protocolo de Kyoto.

COP 7 – Marrakech, Marrocos (2001)


O Acordo de Marrakech marcou-se pelo consenso quanto aos mecanismos de
flexibilização do Protocolo de Kyoto e as regras operacionais do LULUCF. Foi criado
fundo (Fundo Especial para a Mudança do Clima - SCCF) para financiamento de
projetos nos países em desenvolvimento.

COP 8 – Delhi, Índia (2002)


O encontro marcou-se pela adesão da iniciativa privada e de ONGs ao Protocolo de
Kyoto e apresenta projetos para a criação de mercados de créditos de carbono.
COP 9 – Milão, Itália (2003)
Em Milão apenas avançou-se na regulamentação dos projetos de reflorestamento
como sumidouros de carbono no MDL.

COP 10 – Buenos Aires, Argentina (2004)


Em 2004, os países começaram gradualmente a abrir discussões a respeito do que iria
acontecer quando o Protocolo de Quioto expirar, em 2012, o qual nem havia ainda
entrado em vigor. A conferência teve a maior parte de seu tempo tomado por
discussões técnicas, como sobre projetos florestais e sobre inventários de emissões.

COP 11 – Montreal, Canadá (2005)


Foi a primeira COP após o Protocolo de Kyoto ter entrado em vigor, ocorrendo assim
juntamente com a Primeira Conferência das Partes do Protocolo de Kyoto (MOP-1). O
foco de ambas as conferências esteve nas discussões sobre o que deve acontecer após
a expiração do Protocolo de Kyoto em 2012. Para tal segundo período, instituições
europeias defendiam reduções de emissão na ordem de 20% a 30% até 2030, e entre
60% e 80% até 2050. E, pela primeira vez, foi colocado em pauta o impacto do
desmatamento tropical nas emissões de GEE.

COP 12 – Nairóbi, Quênia (2006)


Continuidade dos trabalhos rumo a um novo acordo para o período pós-Kyoto: (i) as
últimos questões técnicas remanescentes relativas ao Protocolo de Kyoto foram
finalmente equacionadas; (ii) as nações assumem o compromisso de revisarem
internamente os prós e contras do Protocolo de Kyoto e; (iii) regras são estipuladas
para o financiamento de projetos de adaptação em países pobres.
Também se avançou na questão do desmatamento, abrindo-se caminho para o
desmatamento evitado como elegível para créditos de carbono, por mecanismos de
Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal (REDD), uma
proposta do governo brasileiro para promover a redução de emissões em países em
desenvolvimento.

COP 13 – Bali, Indonésia (2007)


Dois anos após a entrada em vigor do Protocolo de Kyoto, e tendo saído o 4º Relatório
do IPCC, percebeu-se que apenas haveria avanços se os países em desenvolvimento,
que se tornavam grandes emissores, também tivessem compromissos. Os EUA
bloquearam as negociações, por não aceitarem metas obrigatórias para si e que países
como China e Índia não tivessem compromissos. Os EUA e China assinaram o acordo
final, mas ao preço de um acordo ainda fraco. Foi estabelecido o “Mapa do Caminho
de Bali”, pelo qual se construiria nos próximos 2 anos as bases de um acordo mais
sólido a se levar à COP-15 em 2009. Se adotariam metas nacionais voluntárias, a
serem definidas pelos países até 2009, que fossem mensuráveis e verificáveis e para a
redução de emissões causadas por desmatamento das florestas tropicais para o acordo
que substituiria o Protocolo de Kyoto. O consentimento dos países em
desenvolvimento na questão do desmatamento abre espaço para que os Estados
Unidos deixem de bloquear o Protocolo de Kyoto.

COP 14 – Poznan, Polônia (2008)


O encontro de Poznan figurou apenas como um antecessor da esperada COP-15, e
deu continuidade ao processo de negociações estabelecido pelo “Mapa do Caminho”,
em 2007. Teve seu valor positivo não só pela injeção de esperança com o final do
governo Bush, mas também no que diz respeito à mudança oficial de postura dos
países em desenvolvimento, como Brasil, China, Índia e México, que se demonstraram
abertos para assumirem responsabilidades de redução nas emissões de GEE.

COP 15 – Copenhagen, Dinamarca (2009)


Uma enorme expectativa envolvia a COP 15, pois tinha por objetivo estabelecer o
tratado que viria a substituir o Protocolo de Kyoto. Expectativas também em relação
ao novo governo Obama nos EUA após a era Bush. Mas foi frustrada. Não se chegou a
novo tratado. EUA e China rejeitaram compromissos vinculantes. O Acordo de
Copenhague não foi aprovado pela totalidade dos 192 países membros da Convenção.
Mas avançou no reconhecimento do REDD como medida crucial. O Brasil surpreendeu
apresentando de forma unilateral e voluntária o compromisso de redução de 40%
emissões até 2020 e redução de 80% do desmatamento, inspirando demais países.

COP 16 – Cancún, México (2010)


Com o primeiro termo do Protocolo de Kyoto chegando ao fim, o encontro se deu sem
muitas expectativas, tendo-se deixado para decidir no encontro seguinte, em Durban
(África do Sul), no final de 2011, o futuro do Protocolo de Kyoto. Apesar de México,
Brasil e Reino Unido desempenharem papel na negociação de um segundo termo do
Protocolo de Kyoto, não se chegou a termo.
Foi criado o Fundo Verde para o Clima, como mecanismo financeiro da Convenção do
Clima, com previsão de US$ 30 bilhões para o período 2010-2012 e mais US$ 100
bilhões anuais a partir de 2020.
Na COP-16 o Brasil lançou sua Comunicação Nacional de Emissões de Gases de Efeito
Estufa e anunciou a Política Nacional sobre Mudança do Clima, tornando o Brasil a
primeira nação a assumir formalmente e se auto-impor metas de reduções de
emissões.

COP 17 – Durban, África do Sul (2011)


Superou-se de certo modo os impasses de Copenhagen e Cancún, tendo alcançado o
um consenso e compromisso de todos os quase 200 países signatários da Convenção-
Quadro, e não apenas os países industrializados, em se estabelecer metas de redução
de emissões de GEE, EUA e China inclusos, que voltam então à mesa de negociação.
Pela Plataforma de Durban os países concordaram em definir metas até 2015, a serem
colocadas em prática a partir de 2020, e é pactuada a prorrogação do Protocolo de
Kyoto (e não deixá-lo morrer em 2012). Se a COP 17 foi bem sucedida em obter um
amplo consenso, contudo as definições mais claras foram jogadas para Doha no ano
seguinte.

COP 18 – Doha, Qatar (2012)


Em acordo fechado às pressas ao final do encontro para evitar o fracasso, ficou
decidido que de fato o Protocolo de Kyoto se manteria até dezembro de 2020, e ainda
foi mantida a promessa de auxílio financeiro de USD $10 bilhões por ano até 2020,
definidas na COP 15. Questões importantes ficaram longe de serem resolvidas, como
os detalhes da segunda fase do Protocolo de Kyoto e a assistência financeira aos países
em desenvolvimento para lidar com o aquecimento global, num impasse Norte-Sul.

COP 19 – Varsóvia, Polônia (2013)


A COP-19 foi fundamental para tecer as bases para o futuro compromisso que veio a
ser o Acordo de Paris. As negociações se prolongaram por divergências entre países
desenvolvidos e países em desenvolvimento quanto à responsabilização e
consequentemente as metas de emissões de GEE.

COP 20 – Lima, Peru (2014)


O Chamado de Lima para a Ação Climática, aprovado na COP 20, atendeu às
exigências dos países emergentes e em desenvolvimento, e constituiu a base para o
futuro Acordo de Paris. De acordo com o Chamado, os países deveriam apresentar ao
longo do primeiro semestre os compromissos para manter o aumento das
temperaturas menores que 2°C, sendo assim o embrião das NDCs, que serão o centro
do Acordo de Paris.

COP 21 – Paris, França (2015)


Em 2015, a Conferência chegou a um acordo histórico, envolvendo quase todos os
países do mundo, o Acordo de Paris. O Acordo, a valer a partir de 2020, estabelece a
obrigação de participação de todas as nações – e não apenas países ricos – no combate
às mudanças climáticas, com a meta de conter o aumento da temperatura do planeta
em até no máximo 2°C , idealmente 1,5°C, acima dos níveis pré-industriais. Foi
considerado o acordo mais ambicioso de todos os tempos. Porém, não se tratou de um
Protocolo, com metas vinculantes estabelecidas para o conjunto dos países, e sim um
Acordo em que as partes estabelecem metas voluntárias, para o atendimento da meta
global, as chamadas NDCs - Nationally Determined Contributions. Os pontos do
acordo serão revisados a cada 5 anos, direcionando o cumprimento da meta e dando
transparência às ações de cada país. Sobre a questão do financiamento para o sucesso
do acordo, acertou-se que países desenvolvidos irão bancar US$ 100 bilhões por ano
em medidas de combate à mudança do clima e adaptação em países em
desenvolvimento.
Em 2016, com o presidente Donald Trump, os Estados Unidos retiraram-se do Acordo.
Em 2021, logo no início da administração Biden o país regressou oficialmente ao Acordo.

COP 22 – Marrakech, Marrocos (2016)


A primeira COP após o Acordo de Paris teve por missão partir para a ação concreta,
quanto às prioridades do Acordo relacionadas a adaptação, transparência,
transferência de tecnologias, mitigação, capacitação, e perdas e danos. Diversas foram
iniciativas anunciadas. Destaque ao Climate Vulnerable Forum, constituído por um
grupo de países mais vulneráveis, especialmente africanos e estados insulares, que
tiveram maior espaço de voz.

COP 23 – Bonn, Alemanha (2017) / Fiji


COP marcada: (1) pelas discussões técnicas de regras para o funcionamento do Acordo
de Paris após 2020; (2) a saída dos EUA do Acordo, com o novo governo de Trump, e
com isso a maior liderança da China no processo.
Uma das inovações da Conferência foi a Powering Past Coal Alliance, com o objetivo
principal da eliminação do carvão como combustível fóssil até 2050.
A COP lançou os Diálogos de Talanoa, proposta de construção participativa e continua
e de envolvimento dos diferentes setores das sociedades dos diferentes países.

COP 24 – Katowice, Polônia (2018)


A COP 24, com a missão chave avançar a implementação do Acordo de Paris, teve 3
desafios: (1) criação de regras para implementação; (2) aumentar a ambição e
compromisso dos países; (3) equacionar os meios de financiamento. Avanço na
primeira, tendo por resultado um Livro de regras para o Acordo de Paris. Mas não
houve avanço nos compromissos de metas de combate às mudanças climáticas até o
fim de 2020 e nem quanto aos seriam os mecanismos de financiamento para os países
em desenvolvimento e mais vulneráveis ao aquecimento global.
Em discurso, a ativista Greta Thunberg, de apenas 15 anos, apelou à ação coletiva
urgente no combate às alterações climáticas, com grande impacto, especialmente, no
público jovem.

COP 25 – Madrid, Espanha (2019)


A COP 25 foi realizada em Madrid sob a presidência do Chile. Após a desistência do
Brasil em sediar esta COP, ela foi assumida pelo Chile, mas, em virtude da instabilidade
política com ondas de protestos no país, foi transferida para Madri de última hora.
A COP 25 foi considerada desapontadora pelo próprio Secretário Geral da ONU, com
baixo consenso e baixa ambição no texto final, sendo considerada mesmo uma
“traição” ao Acordo de Paris. Os 3 pontos principais para o acordo, (1) regulamentação
do Mercado de Carbono, (2) financiamento aos países em desenvolvimento e (3) busca
de metas mais ambiciosas (dado as atuais NDCs não se mostrarem suficientes), não
tiveram acordo e foram empurrados para a próxima COP.
Contudo, o encontro marcou-se por um aumento e participação cada vez mais
expressivo e propositivo tanto do setor privado (Pacto Global) quanto da sociedade
civil.

COP 26 – Glasgow, Reino Unido (2021)


Após a não realização em 2020 devido à pandemia de Covid-19, a COP 26 em Glasgow,
Escócia, ocorre sob a pressão tanto pelo insucesso anterior da COP 25 quanto pela
divulgação do mais recente relatório do IPCC em 2021 que trouxe resultados
alarmantes, e em um ano com eventos climáticos extremos sem precedentes.
A COP 26 enfrentou os seguintes desafios: (1) o comprometimento com a meta de
1,5oC do Acordo de Paris; (2) equacionar o financiamento aos países em
desenvolvimento; (3) regulamentação do Acordo de Paris, especialmente em relação a
i- Mercado de Cabono, ii- alinhamento das NDCs e iii- transparência. O envolvimento e
comprometimento do setor privado também se tornava fundamental. O Pacto de
Glasgow, documento final da COP, deixou a desejar quanto às ações concretas para a
meta de 1,5oC, mas reafirmou a meta. Para o alcance da meta, seria necessária até
2030 uma redução das emissões globais de carbono em 45% em relação ao nível de
2010, sendo que as NDCs então depositadas contabilizam, ao contrário, que as
emissões estarão 13,7% maiores que em 2010. Por sua vez, Glasgow foi bem sucedida
em finalmente regulamentar o Mercado de Carbono (Artigo 6 do Acordo de Paris), em
alinhar as NDCs em 5 anos e em critérios de transparência. Avançou no tema de
perdas e danos, mas a tão esperada viabilização do aporte financeiro de U$ 100
bilhões ao ano continuou sem se concretizar. Apesar disso, na COP foram anunciados
diversos montantes de financiamento independentes paralelos, tanto governamentais
quanto do setor privado, mostrando uma tendência de crescimentos deste.

Desafio para COP-27 - Egito


Os países terão que apresentar metas muito mais ambiciosas em suas NDCs e as
estratégias concretas para alcançá-las, para se poder alcançar a meta de 1,5oC.
Garantir o financiamento, especialmente para perdas e danos e medidas de adaptação
nos países menos desenvolvidos. O compromisso de financiamento pelos países
desenvolvidos de U$ 100 bilhões ao ano precisa sair do papel...
Implementar o Livro de Regras de Paris. Por exemplo, a regulamentação do Mercado
de Carbono ainda precisa regulamentar o REDD e sua contabilização...
Regulamentar as diversas formas de financiamento no âmbito do Acordo.
Aspectos Socioeconômicos

O Relatório Stern, 2006

O Relatório Stern é um estudo encomendado pelo governo Britânico, coordenado pelo


economista britânico Nicholas Stern, da London School of Economics e ex-vice
presidente do Banco Mundial, sobre os efeitos da mudança do clima na economia
mundial, para os próximos 50 anos. É o primeiro e grande estudo de referência
realizado pela área de economia, e não por cientistas das “ciências duras”.

O relatório apresenta as seguintes conclusões:

• Os benefícios de uma ação forte e imediata para enfrentar as mudanças


climáticas ultrapassam de longe os custos de não fazer nada.
• A mudança climática afeta os elementos básicos para vida da população:
acesso à água, produção de alimentos, saúde e o ambiente.
• Usando modelos econômicos tradicionais, o custo e riscos da mudança
climática equivale a uma perda de 5-20% do PIB mundial por ano.
• Em contrapartida, agir – por meio da redução dos gases que provocam o
efeito estufa – custa apenas 1% do PIB mundial por ano.
• Os investimentos nos próximos 10-20 anos irão impactar profundamente
no clima na segunda metade do século XXI e o próximo. Nossas ações
podem criar um desequilíbrio econômico e social, similar as guerras
mundiais.
• Como é um problema mundial, a solução deve partir de um patamar
internacional.
• Se as emissões continuarem nesse ritmo, em 2035 teremos o dobro de
gases do efeito estufa do que antes da Revolução Industrial. Isto irá
aumentar a temperatura média mundial em 2°C, e no longo prazo em mais
de 5°C (com probabilidade de 50%) – essa variação equivale a de hoje com
a última era glacial.
• Essa enorme variação da temperatura mundial irá alterar a geografia
humana e física do mundo.
• Mesmo as predições mais moderadas anunciam impactos sérios na
produção, na vida humana e no ambiente mundial.
• Todas as nações serão afetadas. Os mais pobres sofrerão mais, justamente
os que menos contribuíram para esse desastre.
• Os efeitos da mudança climática não podem mais ser evitados (20-30 anos),
mas deve ser feito um esforço para adaptação, de forma que a economia e
a sociedade não sofram o impacto diretamente. Isso custará dezenas de
bilhões de dólares. Deve ser ainda mais procurada por países em
desenvolvimento.
• Os níveis de emissão de CO2e são atualmente 430ppm e cresce 2ppm/ano.
Os riscos serão reduzidos significativamente se os níveis forem mantidos
em 450-550ppm. Isso equivale a uma redução de 25%, no mínimo, até
2050. Estabilizar nos níveis atuais exigiriam uma redução de 80%.
• Esse panorama pode mudar se não for tomada nenhuma política, por
inovações tecnológicas ou efeitos combinados.
• Os países desenvolvidos devem cortar suas emissões em 60-80% até 2050.
Mas os países em desenvolvimento também devem fazer cortes
significativos.
• O mercado de carbono pode ser muito eficiente para se atingir esse
objetivo. Envolveria centenas de bilhões de dólares por ano em
investimentos em tecnologias pouco poluentes e gerariam muito emprego.
• Essa estratégia não significa: ou cortar a emissão desses gases ou
desenvolver o país. Deve-se desenvolver através de investimentos não
poluentes. Ignorar os efeitos da mudança climática é que impedirá o
desenvolvimento.
• A emissão pode ser reduzida através do aumento da eficiência energética,
mudança na demanda e adoção de tecnologia limpa para energia,
aquecimento e transporte.
• Mesmo com mudanças, o uso de energia fóssil e emissora de carbono deve
continuar a ser mais da metade da fonte energética, principalmente em
países em rápido crescimento. Por isso a necessidade de captura e
estocamento de carbono.
• Não apenas no setor energético; desflorestamento, agricultura e indústria
também devem ter suas emissões controladas.
• Mudança climática é a maior das falhas de mercado. Deve ser atacada em
três frentes:
o Valoração do carbono, por meio de taxas, impostos, comércio e
regulação.
o Desenvolvimento e inovação em tecnologias que emitem pouco
carbono.
o Remover as barreiras a eficiência energética e informar, educar
e persuadir os indivíduos de sua responsabilidade.
• O esforço deve ser coletivo e internacional. Esforços individuais são
insuficientes.
• Os elementos-chave para o futuro quadro mundial são:
o Comércio de carbono: para privilegiar aqueles que emitem
pouco e fazer crescer a inovação tecnológica não-poluente.
o Cooperação tecnológica: por acordos ou informais, o
investimento em suporte à P&D energético deveria dobrar e no
uso das novas tecnologias quintuplicar.
o Reduzir o desflorestamento: é mais importante e com mais
custo-benefício que a redução no setor de transporte.
o Adaptação: fundos internacionais, focando nos países mais
vulneráveis, que desenvolva novas culturas mais resistentes a
secas e enchentes.
IPCC – 6º Relatório (AR 6), 2021/2022

WG 1 - Base em Ciências Físicas

1) Estamos a caminho de atingir 1,5 oC de limiar de aquecimento até 2040.

A temperatura subiu 1,1 oC até agora, e já estamos vendo um aumento de desastres


naturais como enchentes, furacões e outros eventos.

O IPCC estabeleceu cinco cenários, conhecidos como caminhos socioeconômicos


compartilhados, nos quais destaca as consequências de se tomar medidas drásticas
agora e o que aconteceria se nenhuma ação fosse tomada. Seguindo o caminho de alto
carbono, o pior dos cenários, as temperaturas globais subiriam mais de 4,4 oC até o
final do século.
2) Limitar o aquecimento global a 1,5°C até o final do século ainda está ao alcance,
mas requer mudanças transformadoras.

Limitar os efeitos perigosos das mudanças climáticas exige que o mundo alcance
emissões líquidas zero de CO2 (net-zero CO2) e faça grandes cortes em gases não-
CO2, como o metano. A remoção de carbono pode ajudar a compensar as emissões
mais difíceis de reduzir, como por meio de abordagens naturais, como plantio de
árvores ou abordagens tecnológicas, como captura e armazenamento direto do ar.

No entanto, o IPCC observa que o sistema climático não responderá imediatamente à


remoção de carbono. Alguns impactos, como o aumento do nível do mar, não serão
reversíveis por pelo menos vários séculos, mesmo após a queda das emissões.

Embora atingir a meta de 1,5°C seja difícil e exija o gerenciamento de compensações,


também oferece uma grande oportunidade: a transformação pode levar a empregos
de melhor qualidade, benefícios de saúde e meios de subsistência. Governos,
corporações e outros atores estão lentamente reconhecendo esses benefícios, mas
precisamos de ações maiores e mais rápidas.

3) Nossa compreensão da ciência climática – incluindo a ligação com o clima extremo


– está mais forte do que nunca.

Na última vez que o IPCC publicou sua atualização climática havia uma ligação entre a
atividade humana e as mudanças climáticas. Desta vez, o grupo conclui que tem alta
confiança de que os humanos são os principais impulsionadores de questões como
ondas de calor mais intensas, derretimento de geleiras e aquecimento dos oceanos.
Estudos mostraram que eventos como a onda de calor na Sibéria em 2020 e o calor
extremo observado na Ásia em 2016 provavelmente não teriam acontecido se os
humanos não tivessem queimado tanto combustível fóssil.
De fato, o relatório do IPCC 2022 diz: “É inequívoco que a influência humana aqueceu
a atmosfera, o oceano e a terra”.

4) As mudanças que já estamos vendo são sem precedentes na história recente e


afetarão todas as regiões do globo.

5) Cada fração de grau de aquecimento leva a impactos mais perigosos e caros.

A 3 oC e 5 oC, respectivamente, as projeções sugerem uma eventual perda quase


completa do manto de gelo da Groenlândia (que contém gelo suficiente para elevar o
nível do mar em 7,2 metros ou 23,6 pés) e perda completa do manto de gelo da
Antártida Ocidental (que contém gelo equivalente a 3,3 metros ou 10,8 pés de
elevação do nível do mar). O derretimento desse nível redefinirá as costas em todos os
lugares.
Nossos preciosos sumidouros de carbono – terra e oceanos – estão em grande risco.
Eles atualmente realizam um serviço notável – absorvendo mais da metade do dióxido
de carbono que o mundo emite – mas se tornam menos eficazes na absorção de CO2
à medida que as emissões aumentam. Em alguns cenários estudados pelo IPCC, o
sumidouro acaba se transformando em uma fonte, emitindo CO2 em vez de sugá-lo.

6) Estamos perto de atingir pontos de inflexão irreversíveis (tipping points).

Se não for feito o suficiente, o mundo está perto de atingir pontos de inflexão nas
mudanças climáticas, teremos ido além do ponto em que os danos podem ser
reparados. Dois exemplos importantes:
1. As florestas podem começar a morrer, à medida que as temperaturas continuam
a subir. Isso teria consequências desastrosas para o meio ambiente;
2. O nível do mar continuará subindo: À medida que o aquecimento global ocorre,
as calotas polares derretem em ritmo acelerado, o que significa que o nível do mar
aumenta, e as cidades ao redor das áreas costeiras correm o risco de serem
engolidas pelos oceanos. Uma pesquisa publicada no Nature Journal sugere que, se
nada for feito, o nível do mar poderá subir mais de um metro até 2100 e 15 metros
nos próximos 500 anos.
Pela primeira vez, o IPCC dedicou um capítulo em seu relatório às forças climáticas de
curta duração, incluindo aerossóis, metano e material particulado. A edição anterior
do relatório do IPCC delineou níveis seguros de metano, dos quais já superamos bem
neste ponto. De fato, os níveis de metano, que são em grande parte causados pela
agricultura, operações de petróleo e gás e minas de carvão abandonadas, estão em
seu nível mais alto em 800.000 anos.
WG 2 - Vulnerabilidade e Adaptação

O relatório do IPCC de 2022 também detalha quais abordagens de adaptação ao clima


são mais eficazes e viáveis, bem como quais grupos de pessoas e ecossistemas são
mais vulneráveis.

1. Os impactos climáticos já são mais generalizados e severos do que o esperado.

2. Estamos presos a impactos ainda piores das mudanças climáticas no curto prazo.

Mesmo que o mundo se descarbonize rapidamente, os gases de efeito estufa já na


atmosfera e as tendências atuais de emissões tornarão inevitáveis alguns impactos
climáticos muito significativos até 2040. O IPCC estima que, somente na próxima
década, as mudanças climáticas levarão 32 a 132 milhões de pessoas a condições
pobreza. O aquecimento global comprometerá a segurança alimentar, bem como
aumentará a incidência de mortalidade relacionada ao calor, doenças cardíacas e
desafios de saúde mental.

3. Os riscos aumentarão rapidamente com temperaturas mais altas, muitas vezes


causando impactos irreversíveis das mudanças climáticas.

4. Desigualdade, conflito e desafios de desenvolvimento aumentam a


vulnerabilidade aos riscos climáticos.

No momento, 3,3 bilhões a 3,6 bilhões de pessoas vivem em países altamente


vulneráveis aos impactos climáticos, com focos globais concentrados em Pequenos
Estados Insulares em Desenvolvimento, Ártico, Sul da Ásia, América Central e do Sul
e grande parte da África Subsaariana.
Desigualdades, conflitos e desafios de desenvolvimento, como pobreza, governança
fraca e acesso limitado a serviços básicos, como saúde, não apenas aumentam a
sensibilidade aos perigos, mas também restringem a capacidade das comunidades de
se adaptar às mudanças climáticas. Em nações altamente vulneráveis, por exemplo, a
mortalidade por secas, tempestades e inundações em 2010-2020 foi 15 vezes maior do
que em países com vulnerabilidade muito baixa.

5. A adaptação é crucial. Já existem soluções viáveis, mas mais apoio deve chegar às
comunidades vulneráveis.

O IPCC estima que as necessidades de adaptação chegarão a US$ 127 bilhões e US$
295 bilhões por ano somente para os países em desenvolvimento até 2030 e 2050,
respectivamente. No momento, a adaptação responde por apenas 4-8% do
financiamento climático monitorado, que totalizou US$ 579 bilhões em 2017-18.
A boa notícia é que as opções de adaptação existentes podem reduzir os riscos
climáticos se forem suficientemente financiadas e implementadas mais rapidamente.
O relatório do IPCC de 2022 inova ao analisar a viabilidade, eficácia e potencial de
várias medidas de adaptação climática para fornecer benefícios, como melhores
resultados de saúde ou redução da pobreza.

WG 3 – Mitigação

1. As emissões globais de GEE continuaram a aumentar, mas em caminhos que


limitam o aquecimento a 1,5°C, atingem o pico antes de 2025.

2. Não há espaço para a construção de novas infraestruturas de combustíveis fósseis.


O IPCC mostra que em caminhos que limitam o aquecimento a 1,5 oC (sem overshoot
ou com overshoot limitado), apenas 510 Gt líquidos de CO2 ainda podem ser emitidos
antes que as emissões de CO2 atinjam net-zero em 2050-2055. No entanto, as
emissões futuras de CO2 da infraestrutura de combustível fóssil existente e planejada
podem chegar a 850 Gt – 340 Gt a mais do que esse limite.

3. Precisamos de transformações rápidas em todos os sistemas para evitar os piores


impactos climáticos.
As emissões de GEE aumentaram em todos os principais sistemas desde a última
avaliação. O IPCC considera que reverter o curso exigirá que os tomadores de decisão
do governo, da sociedade civil e do setor privado priorizem as seguintes ações, muitas
das quais se pagam ou custam menos de US$ 20 por tonelada de CO2e:
• Ampliar a energia limpa. Toda a geração de eletricidade deve ser de baixo carbono
até 2050, enquanto a geração total deve crescer para permitir a eletrificação de usos
finais como HVAC, transporte, maquinário industrial e muito mais. Os caminhos que
mantêm o aquecimento a 1,5°C (sem ou com excesso limitado) dependem de redes
predominantemente alimentadas por energias renováveis e armazenamento,
complementadas por um mix de energia nuclear, uma pequena quantidade de
combustíveis fósseis. Os transportadores alternativos de energia, como hidrogênio e
amônia, devem substituir os combustíveis fósseis em setores onde a eletrificação será
difícil, como indústria e transporte pesado. A boa notícia é que os custos unitários de
tecnologias de baixo carbono, como a energia fotovoltaica, caíram até 85% na última
década.
• Dobrar a inovação para descarbonizar a indústria. Melhorar a eficiência energética,
reduzir a demanda de materiais por meio de soluções de economia circular e mudar
para novos processos industriais de baixa e zero emissões são necessários para
produzir materiais como aço, cimento, plástico, celulose e papel e produtos químicos.
No entanto, o IPCC afirma que isso exigirá de 5 a 15 anos de “inovação intensiva,
comercialização e política” – juntamente com investimentos imediatos em tecnologias
já existentes – para reduzir os custos e alcançar a absorção necessária.
• Incentivar construções verdes. Desde o Quinto Relatório de Avaliação do IPCC em
2014, um número crescente de edifícios com zero carbono foi construído em quase
todas as zonas climáticas. Aquecimento elétrico, eletrodomésticos e iluminação mais
eficientes e o uso circular de materiais têm sido fundamentais. No entanto, o
progresso deve acelerar rapidamente para modernizar edifícios mais antigos e garantir
que essas tecnologias e abordagens aprimoradas sejam incorporadas a uma parcela
crescente de novos projetos de construção. Diretrizes de construção verde para
construção e uso, bem como códigos de energia de construção, podem impulsionar
ainda mais o progresso.
• Redesenhar as cidades e mudar para o transporte de zero e baixo carbono. Sem
uma mudança na trajetória, as emissões de CO2 do setor de transporte devem
aumentar em até 50% até 2050. O mundo precisa de um conjunto de ações para evitar
essa tendência. O IPCC descobriu que as cidades podem reduzir seu consumo de
combustível relacionado ao transporte em cerca de um quarto por meio de
combinações de uso do solo mais compacto e fornecimento de infraestrutura livre de
carros, como faixas de pedestres e ciclovias. Essas mudanças em direção a um design
urbano de baixo carbono e altamente acessível também melhoram o bem-estar,
reduzindo o congestionamento e a poluição do ar. Simultaneamente, opções de
eletromobilidade, como veículos elétricos a bateria (o segmento de crescimento mais
rápido da indústria automobilística) e ferrovias elétricas carregadas por energia limpa,
já reduziram os GEEs relacionados ao transporte e devem continuar a acelerar. Para
sistemas de transporte difíceis de descarbonizar, como transporte e aviação,
biocombustíveis avançados, amônia e combustíveis sintéticos estão surgindo como
opções viáveis, mas exigem mais financiamento e apoio político.
• Conservar os ecossistemas e melhorar os sistemas alimentares. O IPCC conclui que
proteger, restaurar e gerenciar de forma sustentável ecossistemas ricos em carbono,
como florestas e turfeiras – bem como reduzir a intensidade de GEE da produção de
alimentos, conter o desperdício de alimentos e mudar para dietas mais sustentáveis –
pode mitigar 8-14 GtCO2e por ano de agora até 2050 a custos relativamente baixos.
(Observe que outras pesquisas encontram potenciais de mitigação mais limitados para
várias práticas agrícolas incluídas nesta estimativa.) A interrupção da conversão de
ecossistemas pode desempenhar um papel descomunal, já que o desmatamento
sozinho responde por 45% das emissões do setor de terras. No entanto, muito desse
potencial geral existe em países em desenvolvimento, onde instituições fracas, direitos
de terra inseguros e financiamento escasso dificultam a implementação.

4. As mudanças no estilo de vida e nos comportamentos têm um papel significativo a


desempenhar na mitigação das mudanças climáticas.

Em todo o mundo, as famílias com renda no decil superior, que inclui grande parte
das famílias nos países desenvolvidos, são responsáveis por 36-45% do total de
emissões de GEE, enquanto as famílias com renda nos 50% inferiores respondem por
apenas 13-15%.
Alcançar o acesso universal à energia moderna para os mais pobres do mundo,
segundo o IPCC, não afetaria significativamente as emissões globais.
Mas mudar os padrões de consumo, principalmente entre os mais ricos do mundo,
pode reduzir as emissões de GEE em 40-70% até 2050, quando comparado com as
atuais políticas climáticas. Caminhar ou andar de bicicleta, evitar voos de longa
distância, mudar para dietas baseadas em vegetais, cortar o desperdício de alimentos
e usar energia de forma mais eficiente em edifícios estão entre as opções mais eficazes
de mitigação do lado da demanda.

5. Limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C será impossível sem a remoção


de carbono.

O IPCC descobriu que todos os caminhos que limitam o aquecimento a 1,5 oC (sem ou
com excesso limitado) dependem da remoção de carbono. Essas abordagens podem
incluir tanto soluções naturais, como sequestrar e armazenar carbono em árvores e
solo, quanto tecnologias que extraem CO2 diretamente da atmosfera.

6. O financiamento climático para mitigação deve ser 3 a 6 vezes maior até 2030 para
limitar o aquecimento abaixo de 2 oC.

O financiamento público e privado anual para mitigação e adaptação às mudanças


climáticas aumentou em até 60% de 2013 a 2020. No entanto, esses ganhos
desaceleraram nos últimos anos e, para piorar a situação, o IPCC descobriu que o
financiamento para combustíveis fósseis ainda supera o financiamento para ação
climática.
Esse desalinhamento do capital global resultou em um déficit substancial entre os
níveis atuais de financiamento climático e os necessários para mitigar as mudanças
climáticas, que persistem em todas as regiões e todos os setores. Essa lacuna é maior
nos países em desenvolvimento, particularmente naqueles que já enfrentam dívidas,
classificações de crédito ruins e encargos econômicos da pandemia do COVID-19. A
tendência dos investidores de canalizar maiores parcelas de capital para seus próprios
países, bem como a subvalorização sistêmica dos riscos climáticos, representam
desafios adicionais para ampliar o financiamento privado nessas nações.

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