Aparelho de Mudança de Via Tangencial
Aparelho de Mudança de Via Tangencial
Aparelho de Mudança de Via Tangencial
1. INTRODUÇÃO
aproximadamente 900 quilômetros. Situa-se nas regiões norte e nordeste do Brasil, liga a
ferrovia atualmente passa por um projeto de expansão e duplicação, onde está sendo
construída uma segunda linha de escoamento, assim como também um ramal ferroviário
(aproximadamente 100 quilômetros) para acesso à nova jazida de minérios do projeto S11D,
destaque também será dado às placas de apoio (sapatas) dos trilhos, como também a
ativo.
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Será abordada a metodologia para escolha do novo modelo de AMV, assim como os
altamente difundida para manutenção de trilhos, porém com pouca bibliografia disponível
para esmerilhamento de AMV, principalmente o AMV tangencial, devido este ser um ativo
novo e ainda pouco difundido entre as ferrovias. As maiores referencias deste ativo estão
nos Estados Unidos (BNSF e Union Pacific) e Austrália (Fortescue) mesmo assim as literaturas
ainda são escassas e retratam trabalhos realizados muitas vezes de forma experimental.
Este trabalho justifica-se, em razão do AMV tangencial ter sido selecionado para ser
Apresentar os motivos que levaram à escolha pelo AMV tangencial, assim como uma
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2. ELEMENTOS DA SUPERESTRUTURA
Fonte: PORTO, Telmo Giolito. PTR – 2501 Ferrovias (apostila). USP, 2004.
funcionalidades:
permanentes.
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2.1 Aparelhos de Mudança de Via
passagem dos veículos ferroviários de uma via para outra. As principais partes que integram
norma europeia UIC (Union Internationale des Chemins de fer). A figura abaixo apresenta um
Fonte: Vale SA, 2013: Manual técnico de Via permanente, página 112.
Um AMV pode ser utilizado em linha principal, em desvios ou em pátios. Porém, quando
instalado em uma ferrovia com duas ou mais linhas, o AMV que liga as mesmas (sendo
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Figura 3 – Esquemático de um travessão simples
Fonte: Vale SA, 2013: Manual técnico de Via permanente, página 114.
controle a livre alteração de rotas para qualquer uma das vias constitui-se um travessão
universal, também conhecido como TU. Abaixo a figura mostra a representação deste
elemento.
Fonte: Vale SA, 2013: Manual técnico de Via permanente, página 114.
AMV tangencial é um aparelho composto por duas agulhas tangenciais, um jacaré de ponta
móvel e duas máquinas de chave (uma instalada na agulha e outra instalada no jacaré).
As agulhas tangenciais possuem uma curvatura na agulha de desvio, com raio único em
relação ao trilho de ligação. Este modelo de agulha minimiza os esforços laterais durante a
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2.2 Placas de apoio
As placas de apoio – “PA” (ou sapatas) são geralmente utilizadas para levar a carga aplicada
São considerados elementos estruturais que devem ser colocados sob os trilhos cuja razão é
fixação, reduzir a pressão sob os dormentes (ou estrutura de suporte) e garantir a retenção
lateral dos trilhos. A figura abaixo mostra uma imagem das placas de apoio.
Uma característica importante das placas de apoio é a inclinação, no caso da EFC a razão é
1:40, isso significa uma ligeira inclinação voltada para o lado interno da bitola da ferrovia,
com o objetivo de facilitar a conformação entre o perfil do trilho e o perfil das rodas (haja
vista que as rodas são de perfil cônico e também possuem uma inclinação de 1:20). A figura
abaixo nos auxilia a entender a inclinação das placas de apoio (Vale SA, 2013).
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Figura 6 – Inclinação das placas de apoio
Fonte: DNIT, 2015: Placa de apoio de ferro fundido modular. Disponível em dnit.gov.br/ferrovias
Porém, quando falamos de AMV’s, há uma transição de inclinação, passando para 1:80 e
logo após, para inclinação zero. Ou seja, a placa de apoio é plana, mantendo-se assim o
trilho. Este fato faz com as forças de contato sejam intensificadas nos extremos da bitola,
(bitola).
Fonte: Os autores
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3. INOVAÇÕES E USO DO AMV TANGENCIAL
Segundo a RTA, Rail Tie Association (2016), os altos custos dispendidos na manutenção de
AMV tem forçado ferrovias e fabricantes a buscarem alternativas mais viáveis. Tais avanços
vem gerando redesenhos na geometria dos AMV em prol de melhorar a dinâmica deste ativo
na interação com os veículos ferroviários. Um dos avanços conquistados com estes estudos
foram os AMV tangenciais, ativos que possuem significativas reduções nos ângulos de
entrada, tanto nos jacarés quanto nas agulhas. Os benefícios vindouros destes avanços são:
do AMV;
Segundo Oswald (2016?), as reduções das forças dinâmicas no AMV tangencial em relação
ao AMV tradicional (reta secante) são consideráveis e podem sem apresentadas nos gráficos
abaixo.
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Fonte: Oswald (2016?): Turnout Geometry Optimization with Dynamic Simulation of Track and Vehicle.
Fonte: Oswald (2016?): Turnout Geometry Optimization with Dynamic Simulation of Track and Vehicle.
Segundo Koehler (2012), a utilização de AMV tangencial além de permitir a redução nas
caso, 80 Km/h.
A figura a seguir mostra um gráfico com a velocidade média de tráfego dos trens na Estrada
de Ferro Carajás. A linha vermelha mostra a velocidade do trem carregado, a linha verde a
AMV AREMA (58 Km/h). Percebe-se que na grande maioria das situações o trem carregado
consegue alcançar velocidades maiores que 58 km/h, porém são limitados pela restrição de
velocidade no AMV em reverso. Desta forma, o AMV tangencial apresenta forte potencial de
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Figura 10 – Gráfico de velocidade de trens na Estrada de Ferro Carajás
Fonte: Koehler, 2012: Análise do atual projeto de AMV do programa de duplicação da EFC
Outro aspecto relevante para análise é o custo operacional do AMV tangencial, definido
abaixo como “advanced”. Segundo o TTCI – Transportation Technology Center Inc (2008) à
Fonte: GOD, 2009: Estudo de LCC para AMV JPM e JPF da EFC
Estudos realizados por GOD (2009) mostraram que o AMV tangencial apresenta mais um
benefício em relação ao AREMA, o custo operacional do ativo. Este custo considera aquisição
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e manutenção do ativo. Estudos realizados para a Estrada de Ferro Carajás apontaram uma
redução de 21% nos custos, quando comparado ao AMV AREMA em linha dupla, com
dormentes de concreto.
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4. ESMERILHAMENTO DE TRILHOS E AMV
SROBA e RONEY (2009) afirmam que com o passar das décadas, o esmerilhamento de trilhos
(Rolling Contact Fatigue – fadiga por contato). A remoção destas fadigas tem objetivo
desde que este esmerilhamento seja aplicado em intervalos regulares e controlados. A figura
Fonte: Sroba e Roney (2009): Rail Grinding best pratices, página 48.
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Com o passar do tempo e as melhorias nas tecnologias dos equipamentos, assim como
redução de trincas, aumento na vida útil dos trilhos e também a otimização das forças
esmerilhamento de AMV:
Um ponto importante merece ser relembrado, a questão das placas de inclinação que são
montadas sob os trilhos. Mencionamos que na linha principal, tangentes e curvas, existe
uma placa com inclinação 1:40 e nos aparelhos de mudança de via, as placas de apoio
variam entre inclinação 1:80 e sem inclinação. Estes fatores fazem com que as fadigas
útil deste ativo. A figura abaixo mostra um caso de defeito superficial em consequência da
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Figura 14 – Fadiga concentrada na bitola do AMV
Fonte: Os autores
esmerilhamento que é o aumento da vida útil dos AMV. O esmerilhamento de AMV deve ser
planejado em prol de atender aos componentes mais críticos, podendo ser ordenados da
seguinte forma:
surgimento de RCF;
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2) AMV com RCF em condição inicial (leve) – resgatando a condição de superfície sem
defeito superficial;
ativo.
O equipamento esmerilhador de AMV possui uma alcance de atuação de +60° (na região da
bitola) até -20° (na região do campo), isso significa que a capacidade de atuação do
uma maior capacidade de remoção dos defeitos mais comuns em AMV, no caso, defeitos em
verificar em qual ponto a esmerilhadora de linha paralisou suas atividades e então iniciar o
/ esmerilhamento de AMV). Não se recomenda deixar nenhum trecho sem ser esmerilhado.
Lembrando que este artigo trata de AMV tangencial, ativo este que possui Jacaré de Ponta
móvel (JPM), este tipo de jacaré possui cota de salvaguarda que permite a passagem do
na região do jacaré. No caso de utilização de jacarés AREMA (ponta fixa) recomenda-se fazer
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as medições das cotas de salvaguarda e compara-las com as especificações do equipamento
Agulhas AREMA: também conhecidas como retas secantes. Neste modelo as forças
laterais são maiores e o desgaste na região de bitola também é elevado. Neste caso,
laterais e auxiliar em uma curvatura “suave” dos veículos ferroviários. Este modelo
de agulha pode ser esmerilhado, mas recomenda-se inspeção prévia, haja vista que
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Figura 16 – Agulha padrão AREMA (reta-secante)
As agulhas também podem ser classificadas quanto ao tipo de ponta, as principais são:
Ponta de agulha convencional: Mais utilizada na EFC. Este modelo de ponta de agulha
(usinagem) nos trilhos de encosto, fator este que faz com que as forças laterais sejam
encosto, o esmerilhamento dos mesmos não pode ser excessivo a ponto de deixar as
pontas das agulhas expostas, tal fator fragilizaria estas pontas aumentando o risco de
usinados em prol de acomodarem a ponta da agulha. Esta usinagem tem por objetivo
proteger a ponta, reduzir os esforços laterais e aumentar a vida útil dos ativos. Como
Na EFC, os AMV estão localizados em tangentes e locais planos. Este tipo de geometria
permite ao trem um deslocamento centrado, o que faz com que este tipo de perfil de
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Figura 17 – Perfis de esmerilhamento, perfil CPC
Fonte: Os autores
parte central do trilho, isso nos indicará que este será o ponto onde as rodas dos veículos
Vale lembrar que o esmerilhamento deve compensar o fator das chapas de apoio dos trilhos
terem inclinação 0 (zero), conforme apresentado anteriormente. Este fator faz com que as
rodas tendenciem a tocar o lado de bitola dos trilhos. Desta forma, uma atenção extra deve
assimétrico, onde o perfil CPC será aplicado ao trilho e também será feito o passe de alívio
de bitola. Por fim, o esmerilhamento deve seguir as recomendações que podem ser vistas na
próxima figura.
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Figura 18 – Perfil CPC, com alívio de bitola
Fonte: Os autores
perfil aplicado foi o CPC, porém na região de bitola (25º a 60º) foi iniciado um passe de
alívio. Este alívio deve ser na ordem de 0,3mm e pode ser verificado com a ajuda de um
caliper (filler gage), ou então através de perfil próprio já contemplando este alívio (star
gage).
finalização destes testes e validação dos mesmos, a confecção destes perfis será executada e
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5. RESULTADOS
promissores. Com o projeto de duplicação, que está em andamento na EFC, existe a previsão
que toda a linha principal seja composta por Travessões Universais (TU) e
consequentemente, compostos por AMV tangenciais. Desta forma, após a validação dos
toneladas brutas transportadas (MTBT). Na região de AMV, este ciclo representa 90 a 120
dias. Após a implantação do perfil de teste, foram feitas inspeções mensais no AMV. A foto a
seguir nos mostra a situação dos trilhos 60 dias após os mesmos serem esmerilhados:
Fonte: Os autores
A figura 19 nos ajuda a visualizar que a banda de rolagem (contato entre a roda e o trilho)
está localizada na parte central dos trilhos, isso nos garante que o perfil CPC fora atingido.
Percebe-se também que a parte interna dos trilhos (bitola) está preservada e com nenhuma
(ou poucas) marcas de contato. Isso nos faz concluir que também o alívio de bitola almejado
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fora obtido com sucesso. Desta forma, podemos assegurar que o esmerilhamento sendo
conseguirá prolongar a vida útil do ativo. Sendo assim, o mesmo não será substituído
esmerilhamento do componente.
A validação final dos testes nos mostra que o esmerilhamento pode ser executado
Fonte: Os autores
A figura 20 mostra, também, uma região de desgaste excessivo na região interna do trilho
(bitola). A figura à esquerda mostra este desgaste, assim como uma trinca decorrente do
apresenta a mesma região 40MTBT após esmerilhado. Percebe-se que a área de bitola está
preservada, mostrando que o contato não está mais presente nesta região e a região da
trinca não mais progrediu, evitando-se assim a substituição desta peça do AMV.
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6. CONCLUSÕES
No decorrer deste artigo pudemos descrever os motivos que levaram à escolha do AMV
custos operacionais.
objetivo implementar na superfície do AMV um perfil ideal, de forma que seja reduzida a
tensão de contato entre os trilhos do AMV e as rodas. Visa também, remover os defeitos
superficiais provindos de RCF (Rolling Contact Fatigue – fadiga por contato), assim como
internacionais nos mostram que esta prática pode auxiliar no aumento da vida útil deste
além de que, vale ressaltar que o AMV é a interligação entre as linhas da ferrovia e a
manutenção deste ativo, na maioria dos casos, implica na paralização da circulação de trens.
Desta forma, a manutenção preventiva do ativo, aliada ao aumento da vida útil do mesmo,
implica em maior disponibilidade da ferrovia para a operação. Logo, podemos concluir que
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7. AGRADECIMENTOS
aos principais contribuidres para este trabalho: José Ribamar Santos (especialista em trilhos
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] NEW SOUTH WALES: TRANSPORT DEPARTMENT, Revised plans for tangential turnouts
[3] IHHA INTERNATIONAL HEAVY HAUL ASSOCIATION, Guidelines to best practices for heavy
haul railway operations: Management of the wheel and rail interface. Simons Boardman
[5] NRC NATIONAL RAILWAY CONCIL, Rail grinding specification for switch grinding: Vale
para inspeção de material: placa de apoio de ferro fundido nodular. PIM-005 DNIT. 2015.
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[7] W. SCHOECH. Controlling RCF in switches and crossings. Speno International SA. Maio de
2013.
julho de 2016.
[9] VALE SA. Manual técnico de Via permanente. Acervo técnico Vale SA. 2013.
[10] PORTO, Telmo Giolito. PTR – 2501 Ferrovias (apostila). USP, 2004.
[12] OSWALD. Turnout Geometry Optimization with Dynamic Simulation of Track and
[14] GOD, Diogo. Estudo de LCC para AMV JPM e JPF da EFC. Acervo técnico Vale SA. 2009.
[15] SROBA, Peter e RONEY, Mikey. Rail Grinding best pratices. 2009.
[16] LORAM Maintenance of Way Inc. Esmerilhadora de Trilhos série L. Acervo técnico Vale
SA. 2009.
[17] MRS Logística SA e CHVidon Ltda. AMV Conceitos básicos e melhores práticas. 2012.
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