Sobre o Teste de Atenção Por Canclamento
Sobre o Teste de Atenção Por Canclamento
Sobre o Teste de Atenção Por Canclamento
Natal
2012
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Natal
2012
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Natal/RN” elaborada por Rodolpho Luiz Araújo Cortez foi considerada aprovada por todos
BANCA EXAMINADORA
Agradecimentos
A Deus pela oportunidade e pela presença e força em todos os momentos; dos mais difíceis
aos mais fáceis foi Ele quem me deu forças e sabedoria para continuar e alcançar minhas
conquistas.
Aos meus avós, pelo apoio a minha carreira acadêmica e pelo exemplo de vida que admiro
hoje e sempre; em especial a Maria Terezinha Dantas Araújo (Vózinha), pelos
ensinamentos desde as tarefas de escola até os primeiros passos na universidade. Nosso
sonho continua sendo realizado.
Aos meus pais, pelo incondicional apoio nas minhas decisões, por todos os esforços sem
medidas para que eu pudesse chegar até aqui. Por serem a maior fonte de segurança sempre
que precisei e pela confiança depositada em mim; sem vocês eu não teria alcançado esse
momento.
Aos meus irmãos, Carlos, Rodrigo e Moab, por sermos os maiores fãs ocultos uns dos
outros. Pela nossa forma peculiar de dar apoio e fazer cobranças; nunca vi tanta unidade
em tanta diversidade.
À professora Izabel Hazin, por todo meu conhecimento na Neuropsicologia até então. Pelo
cuidado, apoio, dedicação e carinho desde meus primeiros passos na iniciação científica até
as conquista de hoje.
Aos meus amigos, em especial Cinthia, Cláudio, Flavinha, Adriana, Pedro, Guilherme,
Patrícia e Bruno Fernandes, pelos passos dados juntos do colégio até hoje. E pelos
momentos de compreensão e descontração que me proporcionaram durante essa jornada.
A todas as crianças que participaram desta pesquisa e aos seus responsáveis, pela
disposição, confiança e contribuição para a pela realização desta etapa.
E a todos que participaram de maneira direta ou indireta para a realização deste estudo e
contribuíram para meu crescimento profissional e acadêmico.
Sumário
Lista de Figuras
Figura Página
1. Sistema Ativador Reticular Ascendente ..................................................................... 29
Lista de Tabelas
Tabela Página
1. Distribuição absoluta e percentual dos sujeitos participantes a pesquisa por faixa
etária ............................................................................................................................... 44
ESTUDANTES DE NATAL/RN
RESUMO
A atenção pode ser definida como uma função neuropsicológica que permite ao sujeito o
processamento de quantidade limitada de estímulos provenientes do ambiente externo ou
mesmo originárias do interior do corpo. A avaliação da função atencional, por sua vez, é
considerada primordial em virtude da dependência das demais funções cognitivas em
relação ao seu bom funcionamento; fato que se torna ainda mais crítico quando aplicado ao
contexto da infância e adolescência por ser indispensável a consideração de aspectos
neurodesenvolvimentais. Dadas essas condições e a escassez de parâmetros relacionados
ao desenvolvimento dos mecanismos atencionais para crianças e adolescentes, este estudo
buscou a obtenção de dados normativos e exploratórios do desempenho no Teste de
Atenção por Cancelamento (TAC) de crianças e adolescentes de seis a 16 anos estudantes
das redes de escolas públicas e privadas da cidade de Natal/RN. Participaram da pesquisa
608 estudantes da cidade de Natal, sendo 336 estudantes do sexo feminino (55,3%) e 272
do sexo masculino (44,7%). Deste total, 283 pertenciam à rede pública de ensino (46,5%) e
325 à rede privada (53,5%). As análises estatísticas inferenciais (ANOVA) e a análise
post-hoc (Teste LSD) permitiram verificar que as variáveis: nível de escolaridade e tipo de
escola mostraram-se estatisticamente significativas (p < 0,05), enquanto a variável sexo
não apresentou relevância para diferenciação de desempenho dos estudantes. Em termos de
acurácia e velocidade em tarefas que avaliam a seletividade e sustenção, constatou-se
aumento significativo no desempenho dos estudantes até o 6º ano de escolaridade.
Entretanto, a partir do 7º ano do ensino fundamental II observa-se o estabelecimento de um
platô no desenvolvimento atencional para este contexto. Contudo, em tarefas que exigem
seletividade e alternância, constatou-se que há incremento no desempenho dos estudantes
até por volta do 8º ano, apresentando uma estabilização de resultados somente na transição
do ensino fundamental II para o ensino médio; o que demonstra continuidade no
desenvolvimento de características desenvolvimentais ao longo da adolescência. Dessa
maneira o TAC apresentou sensibilidade para a detecção de aspectos
neurodesenvolvimentais e características sócio-culturais do funcionamento cognitivo
humano.
Introdução
serviços nas áreas da saúde e educação, notadamente em virtude de sua ampla aplicação em
cognitivos e emocionais, possibilitado pela AN, têm sido evidenciados e ressaltados por
forma como tratar um paciente a curto e longo prazo. Para tanto, exige-se investigação
integram várias áreas e funções cognitivas (Bolognani, Camargo & Zuccolo, 2008).
gama de instrumentos e técnicas de exame clínico que possibilitem a investigação das funções
cognitivas, tais como a atenção, memória, praxias motoras e ideatórias, linguagem, percepção,
seja, que possibilitem a minimização ou superação dos déficits decorrentes destes quadros.
Assim, muitos são os recursos disponíveis para escolha e aplicação no contexto de avaliação,
desenvolvimento quando submetidos a tarefas que avaliem suas funções cognitivas. Em meio
virtude da dependência das demais funções cognitivas em relação ao seu bom funcionamento,
pois o primeiro ponto para a aquisição adequada de uma nova informação é a capacidade de
prestar atenção ao estímulo. Outro aspecto a ser evidenciado neste contexto é a demonstração
feita pela maioria das teorias cognitivas de que a atenção não pode ser tratada como simples
considerada como um sistema complexo que agrega domínios distintos e por vezes
(Siéroff & Piquard, 2004; Klenberg, Korkman, Lahti-Nuuttila, 2001; Mckay, Halperin,
Isto posto, a atenção pode ter como definição a capacidade do sujeito em responder de
forma predominante a um estímulo que lhe seja relevante, de forma a inibir os demais que não
esquemática, quando se toma como ponto de partida sua origem, a atenção pode ser
classificada como voluntária ou involuntária, sendo esta última suscitada por estímulos ou
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do sujeito para estímulos específicos com consequente inibição dos demais eventos que sejam
uma tarefa, muitas vezes denominado “concentração” (Dalgalarrondo, 2000; Sarter, Givens &
Bruno, 2001); atenção dividida - quando há o emprego desta função para a execução de mais
necessários (Montiel & Capovilla, 2007); alternância – que trata da possibilidade de mudança
rápida do foco atencional entre diferentes estímulos (Lezak, 1995) e; vigilância – capacidade
Dessa forma, é esperado que os instrumentos de exame que tenham por objetivo a
adolescente às relações sociais dentro de sua cultura. Neste ponto é preciso conferir destaque
mais eficientes de atenção seletiva bastante influenciados pela linguagem (Brucki & Nitrini,
Três grandes modelos de testes que avaliam os sistemas atencionais podem ser
composto por três matrizes impressas com estímulos diferentes em que o examinando tem por
Constituído por três etapas, este instrumento avalia em sua primeira parte a atenção seletiva,
assim como também em sua segunda etapa, porém com um grau de dificuldade aumentado, já
Finalmente, vale salientar que o interesse pela temática investigada neste estudo surgiu
LAPEN tem como objetivo maior realizar pesquisas e intervenções neuropsicológicas junto a
Na busca por alcançar tais objetivos, um dos maiores obstáculos identificados foi a
Nesse sentido, o presente estudo buscou contribuir para minimizar tais carências e
optou por trabalhar com os mecanismos atencionais, uma vez que estes são imprescindíveis
para o desenvolvimento e funcionamento adequado das demais funções, bem como, pela
na infância.
Tal esforçou resultou na realização de pesquisa que teve como objetivo a construção
seis a 16 anos estudantes das redes de escolas públicas e privadas da cidade de Natal/RN.
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Obtendo como fruto desta realização a publicação de dois artigos, sendo um em âmbito
As discussões e os estudos sobre atenção não são ocupações tão recentes para o campo
James já ensaiava definições e características dessa função; para ele a tomada de posse de um
estímulo dentre vários outros que bombardeiam constantemente as vias sensoriais do sujeito
poderia ser a definição de atenção. Era preciso ainda estar ciente de que para a configuração
desse estado faz-se necessária a abstenção de alguns estímulos, implicando, portanto, que
apenas alguns (os de maior interesse ao indivíduo) são apreendidos e submetidos ao devido
O interesse nesses estudos, avançados ainda por autores como James e Von
Helmholtz, sofreu uma queda significativa no século XX, por volta da década de 20, com o
advento e hegemonia da escola behaviorista. Para essa corrente, fenômenos subjetivos, tais
pesquisas sobre esse tema à área da filosofia. Assim os estudos sobre atenção só retomaram
lugar de destaque em meados dos anos 50, demandados essencialmente pelo advento da
segunda guerra mundial, que exigiu, dentre outros, a operação de torres de controle de tráfego
Diante do legado conferido pelos estudos passados, pode-se perceber que três
(Lima, 2005).
Destaca-se que nessa época, surge uma das mais influentes teorias psicológicas
físicas antes mesmo de sua identificação (Nahas & Xavier, 2004a; Braga, 2007).
acordo com Eysenck & Keane (1994) em um teste realizado por Broadbent com apresentação
simultânea de sequencias numéricas diferentes para cada ouvido, foi possível identificar que o
sujeito evocava as sequencias não pela totalidade dos números escutados em ambos os
ouvidos, mas por sequencia apresentada em cada ouvido. Isso fez com que Broadbent
chegasse a conclusão de que o filtro selecionaria o estímulo pela característica física mais
filtro atencional de Broadbent, objetivando identificar algum tipo de manifestação que não
pudesse ser explicada através desse modelo. Nessa direção, Gray e Wedderburn por volta da
década de 60, propuseram um teste de escuta dicótica no qual foram apresentadas aos sujeitos
Diante de tais resultados, a teoria do filtro atencional foi confrontada, e evidenciou-se que
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Xavier, 2004a). O que se percebe neste ponto é que mesmo refutando os achados de uma
teoria ou de outra, ambas tomam para si a ideia de uma seleção prévia dos estímulos, antes
coquetel” estudado por Cherry; nesse caso explicita-se a capacidade do indivíduo em se deter
somente ao diálogo com uma pessoa de interesse em meio ao ambiente de uma festa em que
há música, vozes de outras pessoas e demais estímulos que tendem a ser inibidos. Contudo, a
relevância semântica pode ser demonstrada quando neste mesmo caso o sujeito ouve alguém
chamar por seu nome mesmo fora daquele diálogo em destaque, ainda assim o estímulo do
nome é processado e o faz procurar por quem o chamou (Nahas & Xavier, 2004a, Lima,
2005).
Neste sentido, surgem os estudos que sugerem uma seleção tardia para o
processamento das informações, como é o caso do proposto por Deutsch e Deutsch em 1963.
Estes autores defenderam uma proposta que ficou conhecida como teoria atencional da
resposta do indivíduo, a depender do seu estado de alerta geral (Van der Heijden, 1992;
Braga, 2007). Nessa perspectiva, a atenção é concebida como resultante da relação entre a
arquivamento na memória ou outro tipo de atividade eferente, que não a percepção (Nahas &
Xavier, 2004a).
engarrafamento no processamento das informações, mesmo que esse seja identificado mais
próximo ao sistema de processamento eferente. É neste ponto que o modelo recebe a maior
parte de suas críticas, justamente por não levar em consideração a capacidade limitada do
sistema em processar as informações; visto que não é tão aceitável a ideia de processar todos
os estímulos que chegam às vias sensoriais. Adentra-se, dessa forma, no “paradoxo da seleção
inteligente” proposto por Palmer (1999) em que se busca o entendimento de como selecionar
informação. Ainda assim, mesmo apresentando divergências em alguns pontos, tanto a teoria
selecionador. Estando a teoria do filtro dentro da chamada seleção inicial e a teoria da seleção
da resposta dentro da seleção tardia (Nahas & Xavier, 2004a; Braga, 2007).
Em oposição às teorias que pregam uma seleção tardia das informações, Treisman
propôs por volta de 1960 a teoria do filtro atenuador. Para esta autora, haveria um filtro que
seleciona informações com as mesmas propriedades do proposto por Broadbent, contudo não
haveria um completo bloqueio daquelas que não fossem atendidas. Assim o sistema poderia
intuito de investigar o efeito de estímulos supostamente não atendidos, mas que tinham
eventos investigados neste sentido. As conclusões posteriores é que essas tarefas parecem
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alguns estudos buscaram entender um pouco mais sobre os mecanismos de seleção das
com apresentação de efeitos distratores foi fundamental para o alcance da conclusão de que
quando as tarefas concorrem pelas mesmas funções há uma clara interferência no desempenho
do indivíduo. Outro fator importante é que o grau dessa interferência varia de acordo com o
treinamento prévio da tarefa em específico, ou seja, quanto mais treino a tarefa torna-se
Diante do exposto, percebe-se que o histórico dos estudos sobre atenção atravessa
único para cada tipo de descoberta. O que se evidencia é a evolução dos conceitos e a junção
de conhecimento que contribui para que atualmente este construto tenha definição tão
complexa e características bastante específicas de cada processo como será visto mais adiante.
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Definição de atenção
Muitos autores tem tentado definir a atenção, mas não se observa ainda um consenso.
Há divergências não só nos termos utilizados para alcançar tal objetivo, mas também na
própria definição do conceito, uma vez que ora a atenção é concebida como capacidade de
mental. Mesmo o ser humano sendo responsivo tanto ao ambiente externo quanto ao interno,
a maioria dos estudos sobre atenção gira em torno da análise direcionada ao ambiente externo;
fato ocasionado pela maior facilidade de identificação e controle dos estímulos apresentados
sensoriais que incidem sobre o sujeito é o que se denomina atenção. Ainda para esta autora,
esta é uma função que parece estar ligada a muitas outras atividades mentais. Percebe-se
executar duas tarefas simultâneas, ressaltando-se que uma delas tem sempre o caráter
automático internalizado.
dos demais. Para tanto, o sistema nervoso é capaz de manter de forma contínua o contato
seletivo dos órgãos sensoriais com o estímulo comportamentalmente relevante. Assim, o ato
que seleciona os estímulos que devem ocupar o centro da atividade consciente, ao passo que
disponível, com o intuito de alcançar uma impressão clara e vívida. Assim, o indivíduo deve
organizada.
conservando apenas as essenciais para a realização de sua atividade. Dando ênfase ao caráter
seletivo da atenção, Luria reflete acerca da necessidade deste mecanismo atencional para o
aferente seria tão grande e desorganizada que impossibilitaria também o acesso a qualquer
pensamento organizado.
informações dentre a grande quantidade de estímulos disponíveis pelos órgãos sensoriais, por
situações; buscando relações com fatores da memória e das sensações e sendo capaz de gerar
dando ênfase principalmente ao seu caráter seletivo, ativo e que possibilita a organização dos
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estímulos para que sejam processados de forma propícia à geração de respostas, sejam estas
Montiel & Capovilla, 2007; Nahas & Xavier, 2004a; García-Ogueta, 2001). Ressalta-se por
fim que a divisão da atenção é basicamente esquemática, uma vez que a atividade cognitiva
realização são combinados com os efeitos inibidores das tarefas concorrentes (Muszkat, 2008;
caráter de processamento automático e não requer controle intencional (Montiel & Capovilla,
2007; Lima, 2005). Pode ser definida também como uma mudança súbita e não programada
do foco atencional provocada pela presença de um estímulo externo que esteja em conflito
atenção. Para um melhor entendimento dessa proposição este autor sugeriu uma divisão em
dois grupos que asseguram o caráter seletivo da função atencional, a saber, um grupo de
fatores que abarcam a estrutura dos estímulos externos e outro referente à atividade do próprio
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sujeito. Dentro do grupo da estrutura dos estímulos externos há dois fatores principais, são
estes:
b) novidade do estímulo – quando dentre estímulos bem conhecidos surge algum que se
destaque acentuadamente dos demais, nesse caso a atenção se volta sempre para o que
é novo mesmo muitas vezes apresentando a mesma força física; são exemplos para
este última caso a ocorrência de uma cruz dentre muitos círculos ou mesmo a
evolução biológica dos animais percebe-se que o gato focaliza mais sua atenção e reage de
forma mais viva aos ruídos de um rato do que o barulho de folhas de papel, assim o mesmo
pode se encaixar para homem, mas com a consideração de que suas necessidades, interesses e
(Luria, 1981).
atencional sobre um estímulo ou sobre uma tarefa em realização, assim como fatores que são
capazes de desviar nosso foco atencional de maneira súbita, Entretanto, tal divisão da atenção
ainda é insatisfatória sendo exigida nova subdivisão, agora orientada por sua
de direcionamento do foco atencional com simultânea inibição dos estímulos que não são de
interesse é o que se denomina atenção seletiva (Miranda, 2008; Muszkat, 2008; Nahas &
Xavier, 2005; Tortella, 2008; Lima, 2005; García-Ogueta, 2001; Ollari, 2001). Para tal
direcionamento do foco atencional, duas vias são possíveis, a saber, a bottom-up, de baixo
para cima, refere-se à atenção direcionada aos estímulos externos ou internos que atingem os
órgãos sensoriais de maneira difusa; e a via top down, de cima para baixo, que se inicia no
Mesmo com a maioria dos autores a definindo da forma descrita acima, outros apontam que
essa definição confunde-se com a própria definição de atenção em geral; defendendo por
exemplo que o termo “atenção seletiva” seria uma redundância em virtude do caráter seletivo
da atenção como um todo. Porém alguns autores defendem a utilização desta expressão sob o
atenção em geral seria somente o termo genérico para expressão da função como um todo
tempo. Pode ser definida também como estado de prontidão para a detecção e resposta de
certas alterações no campo de estimulação. Essa capacidade pode variar em função da faixa
2008; Muszkat, 2008, Lima, 2005, Nahas & Xavier, 2005; García-Ogueta, 2001). É
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caso da atenção sustentada, que é por vezes utilizada como sinônimo de vigilância ou alerta.
Contudo, Estes termos possuem diferenças em suas definições, uma vez que o termo
enquando a atenção sustentada tem duração de segundos a minutos (Nahas & Xavier, 2005).
capacidade limitada de processamento da atenção, é esperado que uma das tarefas, ou até
mesmo as duas, sofram prejuízo em sua realização. Assim, nota-se que o processamento de
como o exemplo de dirigir e manter um diálogo ao mesmo tempo, quando o ato de dirigir se
forma como se processa o mecanismo atencional da divisão ainda não é totalmente clara, pois
não se sabe ao certo se há uma separação dos recursos para o processamento dos pontos
processamento se daria ora para uma tarefa ora pra outra (Miranda, 2008; Muszkat, 2008,
Lima, 2005, Nahas & Xavier, 2005; Nahas & Xaiver, 2004a; García-Ogueta, 2001).
estímulos de forma consecutiva. Um fator importante neste tipo de atenção é que para uma
efetiva alternância é preciso ter plena condição de desengajar o foco de um estímulo para
assim apreender o próximo estímulo de forma clara e que possibilite uma manifestação ou
resposta esperada (Montiel & Capovilla, 2008; Lima, 2005; Lezak, 1995).
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A complexidade dos mecanismos atencionais não pode ser considerada como produto
de apenas uma região cerebral, mas também não pode ser encarada como processo global do
rede neurais corticais e subcorticais que garantem, em sua forma mais elementar e
generalizada, um estado propício de alerta ou vigília e o devido tônus cortical para a recepção
de estímulos que chegam através dos órgãos sensoriais (Muszkat, 2008; Lima, 2005).
saber, uma rede atencional na região cortical posterior, responsável pela atenção involuntária
e uma rede na região cortical anterior, responsável por mencanismos voluntários da atenção
(Mirsky, Anthony, Duncan, Ahearn, & Kellam,1991; Posner & Petersen, de 1990; Knudsen,
2007).
A rede posterior constitui-se como rede bottom-up dirigida ao ambiente e inclui áreas
parietais posteriores e estruturas do mesencéfalo. Por sua vez, o sistema anterior apresenta
impulsos oriundos das vias colaterais específicas com excitação proveniente de vários orgãos
dos sentidos. Além de controlar o nível da vigília (alternância sono-vigília), este sistema
também regula formas mais generalizadas da atenção, as quais são determinadas pela
corporal.
Contudo não é apenas a via ascendente que garante o tônus cerebral e o estado de
vigília do córtex. Assim como ressaltado por Luria (1981), existe uma via descendente cujos
filamentos partem do córtex, mais especificamente de regiões mediais dos lobos frontais e
temporais, que se dirigem aos componentes dos núcleos do tronco cerebral. Assim o trabalho
excitação ou inibição que surgem no córtex e são fruto de formas superiores de atividade
ativos, modulando-os tanto em sua maneira mais elementar (biológicas) como as mais
atenção, Muszkat (2008) propõe uma divisão em grandes sistemas funcionais, orientados pela
com estruturas subcorticais do tronco encefálico como a formação reticular, que possui
estímulo de forma contínua; para isso estão envolvidas duas regiões diferentes do cérebro, o
estímulos).
mecanismo pelo qual pode-se acessar estímulos não familiares e ao mesmo tempo relacionar
límbico estão ligadas à detecção de novidades, enquanto o núcleo acumbente parece estar
que dispõe nossa ação relacionada aos objetivos a curto e longo prazo. Estão envolvidas neste
denominado de executivo central, intimamente ligado aos processos inibitórios que dependem
específicos, como visto nas questões relacionadas à orientação em que as lesões em partes do
como a ocorrida na síndrome de Balint, em que o indivíduo não consegue prestar atenção em
indivíduos impulsivos e propensos a atividades com recompensa imediata, sem avaliação dos
(Muszkat, 2008).
visual são mais adequados para discussão aprofundada neste projeto, uma vez que o
instrumento de avaliação proposto por este estudo prima pela utilização desta modalidade de
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atenção. Nesse sentido, destacam-se aqui as redes neurais investigadas pelas teorias da
direcionamento da atenção para estímulos visuais, são estas: a) o córtex parietal posterior; b)
atenção visual é preciso demonstrar um fator importante para a percepção visual de estímulos
estímulo visual preciso. Através dos movimentos sacádicos dos olhos (movimentos rápidos
dos olhos como “pulos” entre um ponto e outro de uma cena visual) é possível posicionar o
estímulo visual na fóvea, região da retina com maior acuidade visual e assim tornar a imagem
formas com que os movimentos sacádicos podem ocorrer: a sacada viso-guiada e a sacada
ou dois objetos, exigindo foco atencional e alternância. Para a ocorrência da sacada voluntária
localizado na parte posterior do tálamo, tem relação direta com o engajamento da atenção;
córtex parietal posterior, por sua vez, tem relação no processamento espacial alocêntrico,
importante destacar ainda os casos de negligência unilateral que podem ocorrer em lesões no
córtex parietal posterior, quadro em que o sujeito ignora completamente o campo visual
contralateral a sua lesão, nestes casos os indivíduos chegam a barbear somente metade do
rosto ou mesmo desenhar metades de tarefas propostas, fato que pode influenciar também no
atenção por representar uma desatenção ao lado contrário a lesão (Nahas & Xavier, 2004b).
movimentação da atenção para o novo algo e do núcleo pulvinar para o engajamento do novo
Desenvolvimento da atenção
ao nascimento. Nos primeiros meses de vida, a atenção do bebê é primariamente voltada aos
alerta, já podem ser percebidos nestes estágios, uma vez que estão relacionadas à atuação das
límbico.
mês após o nascimento eles são capazes de fixar o olhar, uma vez que as camadas mais
profundas do córtex já se desempenham a função de ativar a via inibitória que permite fixação
Entre os três a seis meses de idade, após terem adquirido a capacidade de fixar o olhar
em estímulos, as crianças passam para um estágio no qual fixam longamente o olhar nos
dificuldade para desengajar a atenção de estímulos sensoriais, como faces familiares, luzes ou
O período de obligatory looking se encerra por volta dos quatro meses de idade,
passando as crianças a controlar sua orientação para novos estímulos (Nahas & Xavier,
imaturidade de eferências corticiais dirigidas aos gânglios da base, causando uma supressão
responsável pelo desengajamento atencional) ocorre por volta dos 3 a 6 meses de idade.
ocorre mais efetivamente a partir dos 6 meses para estímulos visuais; e em comparações de
crianças de 6 a 10 anos com adultos percebe-se que após os 7 anos existe pouca diferença no
tempo de reação e ocorrência de erros. Dessa forma é possível concluir que o a habilidade de
direcionar a atenção para pistas exógenas difere pouco entre crianças a partir dos 7 anos e
desengajar o foco parece evoluir com o tempo. Fato que demonstra também a transição do
Luria (1981) atenta para pontos de relação entre o ambiente de relações sociais da
ressaltando que seria incorreto pensar que essa orientação da atenção como descrita nos
estudos acima pode ser vista como uma forma superior da atenção. Para este autor essa forma
estável de atenção arbitrária auto-reguladora da criança. Nesse caso, Luria afirma que
somente por volta dos dois anos as instruções verbais do adulto são capazes de orientar
internalizados e percebem-se falhas em pontos que organizam tarefas mais complexas, tais
ligação entre dois elementos distintos. Assim, como é perceptível a incapacidade da repressão
seletiva como caráter arbitrário e endógeno, como vontade subjetiva do sujeito é produto de
extremamente complexo e influente em toda a vida psíquica do sujeito (Leite & Tuleski,
em teste de cancelamento como o apresentado neste estudo. Uma vez que o processo
maturação em diferentes idades. Sofrendo ainda forte influência das relações sociais que se
apresentam das mais variadas formas em contextos socioeconômicos tão distintos como os
encontrados no Brasil, tendo por exemplo as conjunturas das escolas públicas e particulares.
sociais estabelecidas entre a criança e os outros da cultura na qual esta se encontra inserida,
(Brucki & Nitrini, 2008; Muszkat, 2008). Por outro lado, este mesmo instrumento deve ser
De acordo com Montiel & Capovilla (2008), podem-se identificar três grandes
previamente.
dividida através da realização de tarefas em que o sujeito tem como meta escolher
2003; Montiel & Capovilla, 2007). São exemplos de duplicação de tarefas instrumentos como
o Teste de Trilhas e o Teste de Stroop (Alberto, 2003; Montiel & Capovilla, 2007).
em tarefas de cancelamento podem avaliar tanto a atenção seletiva – uma vez constituídos por
(Montiel & Capovilla, 2007). Em sua maioria, utilizam o formato de papel e lápis e
Lezak, 1995; Montiel & Capovilla, 2007;). O número de estímulos-alvo certos ou errados, e
omissões identificadas, juntamente com o tempo para completar a tarefa são utilizados na
avaliação do desempenho do indivíduo (Brucki & Nitrini, 2008; Montiel & Capovilla, 2007).
Nos seus formatos mais básicos, os testes de cancelamento possuem em média 50 linhas, e o
realização também varia, nos testes em que os estímulos são letras, o intervalo de tempo fica
entre 100 e 120 segundos e; nos testes em que os estímulos são dígitos e símbolos o intervalo
desempenho nas etapas inicial e final da realização do teste. A variável tempo também pode
facilidade pela população sem lesões e/ou disfunções neurológicas, praticamente sem a
presença de erros provocados por equívocos ou omissões. No entanto, tais tarefas são
sensíveis a lesões cerebrais e a natureza das dificuldades pode ser associada ao hemisfério
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comprometido. Sendo assim, indivíduos com lesões no hemisfério esquerdo tendem a cometer
poucos erros, mas o dispêndio de tempo é grande, o que ocasiona uma redução importante no
número total de acertos. Por sua vez, sujeitos com lesões cerebrais no hemisfério direito
costumam desempenhar a tarefa rapidamente, mas cometem grande número de erros por
partir de dados obtidos através da administração do Teste de Atenção por Cancelamento TAC
(Montiel & Capovilla, 2007), em estudantes do ensino fundamental I e II, da rede pública e
O Teste de Atenção por Cancelamento (TAC) foi desenvolvido por Montiel &
Capovilla (2007). Este instrumento tem como objetivo avaliar a atenção, sendo composto de
três partes, cada uma delas com uma matriz diferente, apresentando seis tipos de estímulos
variados de cor preta em fundo branco. A tarefa consiste em assinalar os estímulos iguais ao
selecionar e assinalar com um traço o estímulo alvo (um círculo apresentado na parte superior
da folha) dentre os demais estímulos distratores. Nesta etapa, o teste apresenta uma matriz
com 300 estímulos de seis tipos (círculo, quadrado, triângulo, cruz, estrela, traço) distribuídos
em 15 linhas cada uma com 20 figuras. Cada um dos seis estímulos aparece 50 vezes de
A segunda parte avalia igualmente a atenção seletiva, porém, com maior grau de
dificuldade; nesta etapa são apresentados na parte superior da folha dois estímulos alvos que
devem ser assinalados sempre que aparecerem na mesma seqüência (um quadrado seguido de
linhas, cada uma com 20 figuras. Nesta etapa as figuras estão dispostas de forma diferente da
matriz anterior e apenas 7 estímulos alvos devem ser assinalados. O tempo máximo para a
41
execução da tarefa também é de 1 minuto e o escore máximo que pode ser atingido é de sete
pontos.
Na terceira e última parte, o teste avalia a atenção alternada. Em uma matriz também
com 15 linhas, cada uma contendo 20 figuras. Esta parte do teste apresenta 300 estímulos
distribuídos de forma diferente das apresentadas anteriormente. O estímulo alvo muda a cada
linha da folha de resposta (variando de duas a seis vezes) e a figura inicial, apresentada em
cada linha, determina qual estímulo deve ser assinalado. Para a realização desta etapa,
Para analisar critérios de correção para o TAC, Montiel & Capovilla (2008)
de sujeitos no teste. A amostra foi constituída por 150 sujeitos, de ambos os sexos, com idade
particular do interior do estado de São Paulo. Os dois critérios comparados foram obtidos; a) a
da pontuação geral gerada pela subtração entre o número total de acertos e o número total de
erros (soma dos estímulos não-alvo assinalados – erro, com os estímulos-alvo não assinalados
- omissões). Os resultados demonstraram, assim como esperado para uma população sem
encontrou correlação positiva bastante significativa entre os dois critérios para as três partes
do teste. Fato que permite concluir que ambas as formas de correção são semelhantes e
instrumentos para este fim, bem como a realização de estudos normativos e exploratórios para
forma, o Teste de Atenção por Cancelamento TAC (Montiel & Capovilla, 2007) vem
alternância.
43
Objetivos
Objetivo geral
Obter dados para a normatização do Teste de Atenção por Cancelamento TAC em
Objetivos específicos
Verificar se existem diferenças estatisticamente significativas entre o nível de
Método
Participantes
Participaram da pesquisa 608 estudantes de ambos os sexos com idade entre seis e 16
anos. Em suas categorias, a amostra foi constituída por 336 estudantes do sexo feminino
(55,3%) e 272 do sexo masculino (44,7%); sendo 283 da rede pública de ensino (46,5%) e
325 da rede privada (53,5%) da cidade de Natal. Os critérios de inclusão para a participação
10 a 11 anos 140 23
12 a 13 anos 96 15,8
Tabela 1: Distribuição absoluta e percentual dos sujeitos participantes a pesquisa por faixa etária
45
Sexo
Total
Feminino Masculino
Tabela 2: Distribuição das crianças e adolescentes segundo sexo e escolaridade de estudantes de escola pública
46
Sexo
Total
Feminino Masculino
Tabela 3: Distribuição das crianças e adolescentes segundo sexo e escolaridade de estudantes de escola
particular
Procedimento
As aplicações foram feitas de forma coletiva e individual. Para crianças de seis e sete
anos, a aplicação foi feita de modo individual; para os demais estudantes, as aplicações foram
coletivas, com no máximo 10 participantes por aplicação. A opção por realizar a avaliação
individual de crianças com seis e sete anos teve como objetivo garantir que as mesmas
compreendessem as instruções contidas nas folhas iniciais, uma vez que tais crianças estão em
compreensão das instruções por parte dos sujeitos mais jovens, em detrimento do controle
salas isoladas e com espaço físico adequado, nas instalações das escolas em horário regular de
estudantes foram instruídos a não fazer uso de borracha; caso houvesse a percepção de um
erro, os estudantes deveriam circulá-lo, a fim de que não fosse contabilizado em sua
receberam, antes da realização de cada parte do instrumento, uma folha de instrução contendo
O desempenho dos estudantes no TAC foi avaliado separadamente para cada uma das
três partes que compõem o instrumento. Para o presente estudo, foi utilizado o critério de
correção e pontuação baseado no número total de acertos. Tal escolha foi tomada com base
nos resultados, anteriormente discutidos, evidenciados pelo estudo de Montiel & Capovilla
(2008) que identificou tal critério como adequado para a correção do TAC, notadamente em
uso do Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 17. A análise inferencial buscou
verificar a influência das variáveis tipo de escola, escolaridade e sexo (bem como estes em
interação) sobre o desempenho dos estudantes no Teste de Atenção por Cancelamento. Para
este fim, foi utilizada a Análise de Variância multi-variada (n-ANOVA) e análise post-hoc
(Teste LSD).
48
Resultados
Teste de Atenção por Cancelamento em relação à escolaridade dos participantes sem distinção
de tipo escola. Uma vez que em estudo realizado com o TAC, Montiel & Capovilla (2008)
encontraram que a consideração apenas do valor dos acertos é construto válido para correção
do teste.
49
Escolaridade TAC 1 TAC 2 TAC 3 TAC 1 TAC 2 TAC 3 TAC 1 TAC 2 TAC 3
1º Ano 26,74 0,97 12,65 26,83 0,85 11,21 12,46 1,26 16,21
Mínimo 2 0 0 2 0 0 6 0 2
Máximo 47 4 28 47 4 28 47 4 28
2º Ano 31,23 1,69 19,11 31,4 1,27 16,42 31,62 2,05 21,47
Mediana 31 2 20 31 1 18 32 2 24
Mínimo 2 0 0 2 0 0 2 0 0
Máximo 50 6 39 50 6 33 50 6 39
3º Ano 35,53 2,42 22,39 33,93 2,06 16,44 38,32 2,66 25,24
Mínimo 3 0 0 2 0 0 2 0 0
Máximo 50 6 39 50 4 27 50 6 39
Mediana 37 3 31 37 1 28 38 3 32,5
Mínimo 15 0 0 15 0 0 15 0 5
Máximo 50 6 48 50 6 41 49 5 48
5º Ano 34,49 2,86 33,48 34,49 2,42 29,83 38,72 3,24 36,65
Mínimo 4 0 3 4 0 3 16 0 23
Máximo 50 6 52 50 5 52 50 6 52
Escolaridade TAC 1 TAC 2 TAC 3 TAC 1 TAC 2 TAC 3 TAC 1 TAC 2 TAC 3
6º Ano 39,23 3,38 36,36 39,23 2,81 30,96 43,03 3,8 40,37
Mediana 43 4 37 43 3 33 46 4 41
Mínimo 2 0 0 2 0 0 29 0 27
Máximo 50 7 52 50 7 49 50 7 52
7º Ano 44,46 4,05 38,08 44,46 4,05 37,4 43,5 3,92 38,5
Mediana 49 4 40 49 4 40 49 4 40,5
Mínimo 5 0 0 5 0 4 5 0 0
Máximo 50 7 52 50 7 52 50 6 51
8º Ano 43,42 4,12 42,72 43,42 4,12 40,72 44,5 4,39 45,5
Mediana 48 4 43 48 4 42 48,5 5 47
Mínimo 9 0 11 0 0 11 9 2 33
Máximo 50 7 52 50 7 52 50 6 52
9º Ano 45,90 4,6 45,87 45,9 4,6 47,5 46,18 4,77 45,27
Mínimo 24 0 33 24 0 41 24 0 33
Máximo 50 7 52 50 7 52 50 7 52
Escolaridade TAC 1 TAC 2 TAC 3 TAC 1 TAC 2 TAC 3 TAC 1 TAC 2 TAC 3
1º Ano EM 46,16 5,28 46,91 45,38 4,88 45,50 46,53 5,47 47,24
Mediana 50 5 48 50 4,50 47 50 6 48
Mínimo 21 2 32 31 4 32 32 2 36
Máximo 50 7 48 50 7 52 50 7 52
2º Ano EM 47,43 4,83 46,91 49,36 4,36 47,36 45,67 5,25 46,50
Mediana 50 5 50 50 5 50 50 5 50
Mínimo 16 2 27 48 2 34 16 4 27
Máximo 50 7 52 50 7 52 50 6 52
Tabela 6: Médias de acertos no TAC Partes 1, 2 e 3 de estudantes do Ensino Médio para a os participantes da
população geral e das escolas pública e particular.
Assim, percebe-se uma curva de incremento nos acertos da parte 1 do teste à medida
que se avança a escolaridade dos estudantes. É notório também que essa curva ascendente
torna-se menos acentuada a partir do sétimo ano do ensino fundamental, demonstrando certo
nivelamento com discreto aumento nos acertos. Quando observados os dados referentes aos
ensino fundamental II para o ensino médio, fato que parece estar ligado ao estabelecimento de
descrição abaixo.
50
45
Média de acertos
40
35
30
Parte 1
25
20
Parte 2
15
10
Parte 3
5
0
Nível de escolaridade
Quando o sexo é o critério base para análise descritiva dos dados de desempenho dos
desempenho discretamente maior para os acertos nas três partes do teste. Assim como
sexo feminino e masculino caminham de forma bastante aproximada, não revelando maior
40
35
Média de acertos 30
25
20 Feminino
15 Masculino
10
5
0
Parte 1 Parte 2 Parte 3
Figura 6: Médias de acertos no TAC (Partes 1, 2 e 3) por sexo
apresentam melhor desempenho em todos os aspectos das três partes do Teste de Atenção por
parte 3. Através do gráfico 4, pode-se perceber o maior distanciamento entre a linha que
representa o desempenho dos estudantes das escolas privadas em relação a dos estudantes das
escolas públicas.
45
40
Média de acertos
35
30
25
Pública
20
Privada
15
10
5
0
Parte 1 Parte 2 Parte 3
Figura 7: Médias de acertos no TAC (Partes 1,2 e 3) por tipo de escola
variável “nível de escolaridade” sobre o desempenho dos estudantes nas três partes
componentes do TAC. A análise post-hoc (Teste LSD) dos contrastes entre padrões de
54
EM. Finalmente, os 7º, 8º, 9º, 1º do EM e 2º do EM aparecem como um grupo sem contrastes
1º Ano 2º Ano 3º Ano 4º Ano 5º Ano 6º Ano 7º Ano 8º Ano 9º Ano 1º Ano
EM EM
1º Ano
2º Ano p=
0,006
3º Ano p< p=
0,001
0,06
4º Ano p< p= p=
0,001 0,004 0,342
5º Ano p< p= p= p=
0,001
0,02 0,98 0,28
Tabela 7: Contrastes encontrados nos desempenhos dos sujeitos-participantes na Parte 1 do TAC entre os níveis
de escolaridade (teste post-hoc LSD) (células em cinza referentes a contrastes não-significativos – p > 0.05).
avalia a seletividade em maior grau de dificuldade quando comparada à parte 1 do teste, visto
primeira parte e de forma específica (um ao lado do outro e na mesma ordem). Em tal análise
diferentes séries do Ensino Fundamental, de modo ainda mais expressivo quando comparado
com o desempenho dos sujeitos do primeiro ano e segundo ano sistematicamente inferior às
demais séries dos níveis fundamental I e II. Observam-se ainda contrastes estatisticamente
significativos entre os desempenhos dos participantes dos 3º, 4º, 5º e do 6º anos em relação
identifica-se platô de desempenho nos últimos anos do Ensino Fundamental e Ensino Médio:
1º Ano
2º Ano p=
0,002
3º Ano p< p=
0,001
0,004
4º Ano p< p= p=
0,001 0,004
0,925
Tabela 8: Contrastes encontrados nos desempenhos dos sujeitos-participantes na Parte 2 do TAC entre os níveis
de escolaridade (teste post-hoc LSD) (células em cinza referentes a contrastes não-significativos – p > 0.05)
A análise do desempenho dos estudantes na parte 3 do TAC (Tabela 5), que avalia a
Igualmente às outras partes do teste, foi observada estabilização, porém apenas na transição
1º Ano 2º Ano 3º Ano 4º Ano 5º Ano 6º Ano 7º Ano 8º Ano 9º Ano 1º Ano
EM EM
1º Ano
2º Ano p<
0,001
3º Ano p< p=
0,001
0,02
Tabela 9: Contrastes encontrados nos desempenhos dos sujeitos-participantes na Parte 3 do TAC entre os níveis
de escolaridade (teste post-hoc LSD) (células em cinza referentes a contrastes não-significativos – p > 0.05)
desempenho dos estudantes no TAC não detectou efeito isolado estatisticamente significativo
59
para as partes um, dois e três do instrumento, o que foi confirmado por verificação de
teste t-Student (TAC-Parte 1, t=0.68, 522 g.l., p >0,05 (bi-caudal); TAC-Parte 2, t=-1,35,
522 g.l., p >0,05 (bi-caudal); TAC-Parte 3, t=0.6, 522 g.l., p >0,05 (bi-caudal) . No entanto, a
variável independente tipo de escola mostrou efeito isolado estatisticamente significativo para
variáveis sexo e tipo de escola no que diz respeito ao desempenho nas partes 1, 2 e 3 do TAC.
60
Discussão
Inicialmente destaca-se que nas três partes que compõem o teste, não houve diferença
significativa no desempenho dos estudantes em função da variável sexo. Tais resultados são
condizentes com dados da literatura que indicam que na população geral de crianças, a
variável idade influencia mais que a variável sexo o desempenho em tarefas de atenção
desempenhos dos estudantes em função das variáveis tipo de escola e nível de escolaridade.
desempenho obtido pelos estudantes das escolas particulares em todas as partes do teste. Por
outro lado, verificou-se aumento no desempenho dos estudantes em função do maior nível de
em diferentes estudos que concluem que crianças com baixo nível socioeconômico e que
apresentado pelas crianças das escolas privadas (Nogueira & colaboradores, 2005; Picolini &
colaboradores, 2010; Rosselli, Matute & Ardila, 2006). Tais dados são de grande relevância e
habilidades de atenção, uma vez que a atenção sustentada e a vigilância, quando alteradas,
desenvolvimento e a aprendizagem.
Piquard, 2004; Klenberg, Korkman, Lahti-Nuuttila, 2001; Mckay, Halperin, Schwartz &
seletiva e alternada (Dalgalarrondo, 2000; Sarter, Givens & Bruno, 2001), apresentam notório
aprimoramento com o passar dos anos, estando tal melhora associada a maior
sustentada, bem como em tarefas visuais e auditivas, parece haver acelerado desenvolvimento
até os 10 anos de idade, quando a diferença de rendimento entre as crianças torna-se pouco
seletiva e sustentada.
Ainda nesta direção, em estudo publicado por Brucki & Nitrini (2008) foi considerada
a possibilidade dos testes de atenção por cancelamento serem influenciados por fatores como
a idade e o nível de escolaridade. Semelhante aos resultados aqui obtidos, o estudo destaca
que indivíduos com escolaridade mais elevada e com maior idade foram mais hábeis na
estratégias para a execução da tarefa, bem como a maior familiaridade com elementos
através da leitura e da escrita (Geldmacher, 1998; Lezak, 1995; Schneider & Shiffrin, 1977).
ano do ensino fundamental. Salienta-se que o primeiro ano corresponde à entrada formal no
sistema educacional brasileiro, o que para muitas crianças corresponde ao início do contato
com material gráfico, com manuseio de lápis e com atividades preparatórias para as
difere das demais partes do TAC. Tal resultado parece associar-se à natureza executiva da
parte três: uma vez que se sabe que a maturação do lobo frontal e, conseqüentemente, o
desenvolvimento das funções executivas, dentre elas a atenção alternada, só atinge o pleno
desenvolvimento na idade adulta (Mello, 2008; Malloy-Diniz, Sedo, Fuentes & Leite, 2008).
estímulos concorrentes, estando a região do giro cingulado anterior envolvida neste processo.
Além desta região, outras regiões dos lobos frontais estão envolvidas na sustentação,
mais prolongado (Mello, 2008; Malloy-Diniz, Sedo, Fuentes & Leite, 2008).
63
posterior ao que ocorre no âmbito da seletividade vem contribuir com questões apontadas por
Dias (2009) que ressalta os “os picos de desenvolvimento” das funções executivas. De forma
mais específica observa-se o surto de desenvolvimento que ocorre por volta dos 13 anos de
pleno desenvolvimento das regiões dos lobos frontais do cérebro (principalmente o córtex
pré-frontal) como sendo as últimas porções cerebrais a atingirem total avanço. Apesar da leve
divergência entre a exata idade do último pico de desenvolvimento das funções executivas, os
Por fim, verificou-se que a primeira e a terceira partes do teste são mais sensíveis à
discriminação das interferências das variáveis nível de escolaridade e tipo de escola sobre o
desempenho dos estudantes no TAC. A parte dois do teste, possivelmente por apresentar
baixo número de estímulos-alvo, bem como a hipótese, levantada a partir do grande número
Considerações Finais
(Montiel & Capovilla, 2007), bem como a verificação de diferenças de desempenho dos
baixo efetivo de estudantes em algumas séries do ensino fundamental I. Por sua vez, o
percentual de pontuações zero nas partes II e III do teste merecem maior investigação, pois
diferentes grupos clínicos, uma vez que é escassa a disponibilidade de testes que investigam
diferentes mecanismos atencionais e que sejam compostos por estímulos com estruturas
compatíveis com o desenvolvimento infantil nos seus primórdios, bem como com subgrupos
Por fim, espera-se que o presente estudo tenha trazido contribuições importantes para
saúde. A oferta de dados normativos para o TAC vem somar-se a diversas iniciativas na
65
peculiares de cada região do país, contribuindo assim para uma avaliação mais precisa e uma
adolescentes.
66
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