O Sacramento Da Eucaristia
O Sacramento Da Eucaristia
O Sacramento Da Eucaristia
Introdução
1. Tríade vocabular
sobre o cálice e " b ê n ç ã o " sobre o pão (Mt 26,26-27); Paulo usa
"acção de graças" sobre o pão ( I C o r 11,24) e " b ê n ç ã o " referente
ao cálice ( I C o r 10,16). " A n á m n e s i s " é usada p o r Paulo ( I C o r
11,24.25) e Lucas (Lc 22,19, referente ao pão).
N o uso cristão prevalece o vocábulo "eucharistia" para designar
a fracção do pão, m a n t e n d o - s e implícito o significado de "eulogía"
e de "anámnesis".
I — A n a m n e s e Pascal d o Crucificado
a) O problema
c) Tentativas de harmonização
D e u s , iniciada c o m o Ê x o d o e continuada ao l o n g o da
história.
* Dimensão presente: ao recordar a obra libertadora de Deus
ao l o n g o da história, a c e l e b r a ç ã o da páscoa p r e t e n d e
t a m b é m assegurar a presença libertadora de Deus n o m o -
m e n t o presente. A o m e s m o t e m p o que se expressa a fide-
lidade à história, exprime-se t a m b é m a fidelidade de Deus e
do P o v o ã Aliança. A Páscoa é, c o m efeito, u m a actua-
lização da Aliança sinaítica n o sangue c o m q u e Moisés
aspergiu o p o v o .
* Dimensão escatológica: A libertação d o passado e do pre-
sente encaminha-se para a grande libertação messiânica, que
a páscoa celebra antecipadamente. A celebração pascal é p r é -
a n ú n c i o e p e n h o r da páscoa escatológica, d o b a n q u e t e
messiânico e da nova aliança que os profetas anunciaram.
a) Quadro sinóptico
M A R C O S 14 M A T E U S 26
L U C A S 22 P A U L O : 1 C o r .11
b) Dupla tradição
c) Tradição comum
B — História da tradição
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• • •
• Vocábulos sacrificiais?
• Significado de SÔMA:
• Significado de 'AÎMA:
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• * *
d) peri pollôtt (Mt.; Mc/ 'uper/) ... 'uper 'umôn (ÍCor. Lc)
(pão) (pão; Lc.: cálice)
e) Sacrifício e sofrimento
• * *
• * •
• * *
B) A anamnese do Crucificado
a) O acontecimento
1. Os dados
2. Natureza do acontecimento
3. Sacrifício de oblação
b) As coordenadas circunstanciais
física t o r n a - s e s í m b o l o s e n s í v e l da sua o b l a ç ã o a g á p i c a . As
circunstâncias cruentas da sua m o r t e , vistas à luz da figura do servo
de Javé e do paralelismo c o m o "sangue da aliança", p o d e m levar-
-nos a exprimir este símbolo em linguagem sacrificial, a qual, apesar
de certa capacidade expressiva, será sempre inadequada para expri-
mir a oblação de Cristo, que ao nível agápico transcende absoluta-
m e n t e as categorias sacrificiais, na mesma medida e m que o a m o r
excede o f o r m a l i s m o ritual, frio, da oblação de dons, m e s m o
quando estes são soma (sárx) — 'aíma.
A m o r t e de Cristo é mais do q u e u m sacrifício, é o mistério do
amor. A cruz é o símbolo mais cru e radical do amor, ou da união
agápica c o m Deus.
a) Recapitulação e nexo
b) Conceitos
P r e s s u p o m o s a n o ç ã o de m i s t é r i o / s a c r a m e n t o s e g u n d o a
teologia bíblica, patrística e contemporânea, exposta em Eclesiologia
e n o capítulo sobre a noção de sacramento. Vamos, p o r é m , precisar
a noção de anamnese à luz da teologia judaico-cristã (distinguir
entre "judaico-cristão" e "judeo-cristão").
Anamnese não significa só (nem essencialmente) uma evocação
comemorativa (cultual) de pessoas ou de acontecimentos passados.
A celebração pascal dos j u d e u s recordava u m acontecimento
passado, que se projectava pelos tempos fora; que se actualizava em
cada m o m e n t o da história do p o v o . O j u d e u , o n d e quer que se
encontrasse, sentia-se libertado do Egipto j u n t a m e n t e c o m os seus
antepassados e via nessa libertação a fonte de todas as libertações,
d u m m o d o particular da libertação messiânica.
A Páscoa, c o m efeito, celebra a libertação passada, actual e
futura do indivíduo e da c o m u n i d a d e .
Pois bem, nesta linha, a eucaristia c o m o anamnese pascal do
c r u c i f i c a d o , a l é m de c o m e m o r a r u m a c o n t e c i m e n t o h i s t ó r i c o
passado, celebra u m a c o n t e c i m e n t o p e r m a n e n t e m e n t e actual, u m
ephápax-acontecimento que se torna tangível e experienciável nela e
na comunidade. Este ephápax significa perenidade total e efectiva.
O Crucificado existe c o m o realidade acessível e m cada m o m e n t o da
história. (Este o p o n t o de partida para a compreensão da presença
real de Cristo na eucaristia).
O q u e é que, e f e c t i v a m e n t e , se torna presente (anamnes-
ticamente) na eucaristia?
c) O Mistério de Cristo
d o C r u c i f i c a d o - G l o r i f i c a d o na q u a l i d a d e de " E s p í r i t o v i v i f i -
c a n t e " ( " P n e u m a z o o p o i o n " , I C o r 15,45). Esta "vida" gera u m a
nova humanidade, a "Ekklesia tou T h e o u " , que é o " S o m a tou
Christou", o "Pleroma tou Christou", o "Mysterion tou
T h e o u " ( " t o u Christou"). E m última análise, o a c o n t e c i m e n t o total
da salvação c o n d e n s a - s e na C o m u n i d a d e , e n t e n d i d a c o m o c o -
m u n h ã o efectiva entre os irmãos " e m Cristo" e, " e m Cristo" Filho
U n i g é n i t o de Deus, c o m o Pai.
Portanto, o acontecimento que se c o m e m o r a anamnesticamente
na Eucaristia e nela se realiza efectivamente é o Cristo que gera a
C o m u n h ã o , o Cristo elo de c o m u n h ã o , o Cristo c o m u n h ã o filial e
fraterna. N e s t e plano, a eucaristia é o m i s t é r i o / s a c r a m e n t o da
c o m u n h ã o ; celebra e realiza a c o m u n h ã o , a Igreja; auto-celebra-se e
auto-realiza-se c o m o c o m u n h ã o eclesial.
Invertendo a perspectiva, diríamos q u e a eucaristia celebra-
realiza a c o m u n h ã o eclesial dando expressão sensível à c o m u n h ã o
pneumática estabelecida entre os crentes e Cristo e, n o seu Espírito
de Filiação, c o m o Pai e, dessa forma, c o m e m o r a anamnesticamente
todos os m o m e n t o s da história da salvação, de u m m o d o m u i t o
particular o a c o n t e c i m e n t o culminante: a pessoa, o destino e a
oblação de Jesus Cristo (incarnação, vida, m o r t e , ressurreição e
geração da Igreja).
A esta totalidade refere-se Santo Agostinho q u a n d o afirma que
a eucaristia celebra o Christus totus. Agostinho serve-se d o tríplice
significado da expressão " C o r p u s Christi" para o explicar. C o m
efeito, o "Christus totus" engloba:
• O Corpus Christi terreno, crucificado e ressuscitado;
• O Corpus Christi eclesial;
• O Corpus Christi eucarístico.
B — Rito e linguagens
a) Linguagem anamnéstico-sacrificial
b) Linguagem convivial
2.1. Questão
B — Berengário de Tours
C — Os Reformadores
O s R e f o r m a d o r e s n e g a m u n a n i m e m e n t e a transformação subs-
tancial e o carácter sacrificial da eucaristia. Divergem, entre si, a
respeito da presença real de Cristo.
Lutero m a n t é m a fé na presença real de Cristo in usu. Para ele
não se verifica u m a transformação substancial, mas apenas u m a
coexistência do corpo e do sangue c o m o pão e o vinho.
O SACRAMENTO DA EUCARISTIA 39
D — Teologia tradicional
2) As fórmulas da instituição:
toûto estin tò soma mou
toûto estin tò 'aima mou
3) I C o r 11 e 10:
1) O significado de estín:
J . D U P O N T (Ceci est mon corps, ceci est mon corps, in NRTh 80,
1958) d e f e n d e q u e , a l é m de o estín n ã o c o n s t a r na f ó r m u l a
aramaica, esta, compreendida à luz da mentalidade semita e bíblica,
não implica identidade; corresponderia à seguinte: "isto significa
(representa) o m e u c o r p o " . Paralela a outras expressões bíblicas, tais
c o m o : " e u sou o aprisco"; " e u sou a v i d a " . " A b a n d o n e m o s ,
portanto — conclui D u p o n t — , sem hesitar u m a r g u m e n t o sim-
plista que não prova nada".
B E N O I T é do m e s m o parecer. C h a m a a atenção para a lin-
guagem das parábolas: " o campo é o m u n d o " ( c f . Lumière et vie
31,1957).
B O I S M A R D afirma: " E m si a frase poderia entender-se rigo-
r o s a m e n t e n u m sentido p u r a m e n t e c o m p a r a t i v o , c o m o q u a n d o
Cristo afirma: eu sou a videira, vós sois os sarmentos"(Lumière et
vie, 31, 1957).
Portanto, a partir da análise filológica da expressão, não é lícito
f u n d a m e n t a r u m a compreensão fisicista da presença de Cristo na
eucaristia (corpo e sangue físicos).
B — Presença pessoal
C — Presença dinâmica
D — Presença pneumático-sensível
E — Presença permanente
F— Conclusão
1. A questão
O Concílio de T r e n t o define:
E m resumo, o Concílio:
2. Tentativas de explicação
A — Explicação hilemóifica
q u e p e r t e n c e m à m a s s a da m a t é r i a c o n s a g r a d a , os á t o m o s , as
m o l é c u l a s , os iões, os c o m p l e x o s m o l e c u l a r e s , os microcristais, e m
s u m a , t o d o o c o n j u n t o das substâncias q u e c o n s t i t u e m o p ã o e o
v i n h o , d e i x a m d e ser e c o n v e r t e m - s e n o c o r p o e n o sangue de
C r i s t o . P e r m a n e c e m p e l o c o n t r á r i o os a c i d e n t e s p e r t e n c e n t e s a
todas estas substâncias: a e x t e n s ã o , a massa, as cargas eléctricas, c o m
todas as energias p o t e n c i a i s e actuais m a g n é t i c a s , eléctricas, c i n é -
ticas, q u e daí d e r i v a m , e p o r t a n t o t o d o s os efeitos ópticos, acús-
ticos, t e r m o d i n â m i c o s , e l e c t r o m a g n é t i c o s , q u e estas talvez possam
p r o d u z i r ; e t o d o s estes c o n j u n t a m e n t e c o n s t i t u e m as e s p é c i e s
eucarísticas, isto é o c o n j u n t o dos f e n ó m e n o s d i r e c t a m e n t e e x p e r i -
m e n t a i s " (II conceito di sostanza nel dogma eucarístico in relazione alia
física moderna, i n Gregorianum 3 0 ( 1 9 4 9 ) ; o u t r o s escritos d e Selvaggi:
La sostanza nella física dei quanti, 1952; Realtà física e sostanza sensibile
nella dottrina eucarística, 1956; Ancora intorno ai concetti di sostanza
sensibile e realtà física, 1957).
Este t e x t o está c h e i o d e absurdos:
B — Explicação antropológica
Charles Davis
O pão é u m a realidade humana. A sua substância c o m o pão é
antropológica. O pão c o m o alimento só é concebível em relação ao
h o m e m , c o m efeito é fabricado pelo h o m e m e para o h o m e m ;
portanto é u m a unidade substancial humana. Esta substância é uma
realidade q u e está para além da sua constituição fisico-química.
N a transubstanciação é esta substância antropológica que se
transforma n o sacramento do corpo e do sangue de Cristo.
3. Sentido da Transubstanciação
J O S É DE F R E I T A S FERREIRA