Neurociências - Evolução e Atualidade
Neurociências - Evolução e Atualidade
Neurociências - Evolução e Atualidade
EVOLUÇÃO E ATUALIDADE
UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller
Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
Profa. Jociane Stolf
Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci
616.8
H468n Heining, Otilia Lizete de Oliveira Mertins
Neurociência : evolução e atualidade / Otilia Lizete de
Oliveira Mertins Heining. Indaial : Uniasselvi, 2012.
158 p. : il
ISBN 978-85-7830-652-6
1. Neurociência - evolução.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
Otilia Lizete de Oliveira Martins Heinig
APRESENTAÇÃO.......................................................................7
CAPÍTULO 1
Neurociência: Histórico e Evolução................................... 9
CAPÍTULO 2
Neurociência: Estudos Atuais............................................. 45
CAPÍTULO 3
Aplicações dos Estudos da Neurociência para a
Compreensão da Aprendizagem da Leitura e da Escrita.. 77
CAPÍTULO 4
As Contribuições Teóricas das Neurociências e da
Psicolinguística para a Compreensão do Processo
de Ensino-Aprendizagem da Língua Escrita......................115
APRESENTAÇÃO
Caro(a) pós-graduando(a):
Bons estudos!
A autora.
C APÍTULO 1
Neurociência: Histórico e Evolução
10
Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução
Contextualização
Pare um instante e tente analisar seu jeito de andar. Você consegue
descrever seus movimentos de forma consciente?
Neste capítulo, que está organizado em três seções, temos como principal
objetivo compreender os estudos da grande área da Neurociência na linha da
história.
Considere que estas partes se articulam entre si, pois a construção de uma
casa começa com seu alicerce, muitas vezes escondido, mas que sustenta um
todo sólido, bonito e à mostra. Portanto, sua tarefa é a de um arquiteto que visa a
estudar uma edificação já pronta e buscar compreender e descrever o processo
de sua construção. Preparado(a)? Então, vamos lá.
11
Neurociências: evolução e atualidade
Agora que você já sabe qual nosso propósito geral e de que maneira nos
organizamos, convidamos você a realizar sua primeira atividade.
Atividades de Estudos:
12
Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
O que você fez até aqui foi olhar para o exterior do ser humano e, partindo
da aparência, fazer inferências sobre a organização cerebral, tendo como ponto
de referência a configuração da cabeça de cada um dos seres representados na
Figura 1. Entretanto, para que se possa saber mais acerca da organização cerebral
humana, as neurociências apresentaram contribuições muito importantes, as quais
foram construídas ao longo de milhares de anos. Para ajudar a fazer um passeio
pela história, consultamos, selecionamos e traduzimos a cronologia apresentada
em “Marcos das Pesquisas em Neurociências”, o qual foi disponibilizado pela
universidade de Washington.
http://faculty.washington.edu/chudler/hist.html
13
Neurociências: evolução e atualidade
0 d.C. a 1500
15
Neurociências: evolução e atualidade
1500 – 1600
16
Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução
1600 – 1700
17
Neurociências: evolução e atualidade
18
Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução
1700 – 1800
1784 - Benjamin Rush escreve que o álcool pode ser uma droga
que vicia.
21
Neurociências: evolução e atualidade
1800 – 1850
22
Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução
23
Neurociências: evolução e atualidade
24
Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução
1848 - Phineas Gage tem seu cérebro perfurado por uma barra
de ferro.
25
Neurociências: evolução e atualidade
1850 – 1900
26
Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução
27
Neurociências: evolução e atualidade
28
Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução
30
Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução
31
Neurociências: evolução e atualidade
1900 - 1950
33
Neurociências: evolução e atualidade
34
Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução
35
Neurociências: evolução e atualidade
Atividade de Estudos:
36
Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
Foram muitos estudos para que cada parte do todo fosse compreendida em
relação às funções de cada órgão e da relação entre eles. Entretanto, apenas
quando os aparelhos para os estudos mais detalhados do cérebro foram se
desenvolvendo é que as descobertas até então realizadas foram confirmadas,
revistas e ampliadas, pois, como você pode refletir em sua atividade anterior, a
ciência parte sempre de conhecimentos já elaborados, os quais são refutados,
reafirmados, alterados ou apenas complementados.
37
Neurociências: evolução e atualidade
Você poderá ver mais adiante que os avanços da neurociência, Com o uso de
especialmente pelo uso das neuroimagens, trouxeram detalhes sobre técnicas de
as áreas do cérebro que já vinham sendo estudadas no século XIX, neuroimagem
mas que não poderiam ser detalhadas com a especificidade que hoje funcional, ocorreu
ocorre. Uma dessas áreas, por exemplo, é a da leitura e a descoberta a possibilidade
de Dehaene (2012) dos neurônios da leitura. Com o uso de técnicas de comprovação
de neuroimagem funcional, ocorreu a possibilidade de comprovação de hipóteses
de hipóteses já aventadas, refutação de outras e revisão ou ampliação já aventadas,
de descobertas sobre como nosso cérebro funciona e quais as áreas refutação de
responsáveis por cada função (ainda que se deva pensar na intrincada outras e revisão
rede que ali ocorre), que faz de nosso cotidiano um viver simples como ou ampliação
andar, falar, ler. de descobertas
sobre como
nosso cérebro
funciona.
39
Neurociências: evolução e atualidade
Atividade de Estudos:
40
Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução
e) Magnetoencefalografia (MEG)
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
41
Neurociências: evolução e atualidade
No que tange às Como você já realizou sua pesquisa (na atividade complementar)
áreas destinadas a respeito desse método, já sabe que há uma injeção de uma dose de
à escuta de água radioativa, ainda que fraca, para mapear as regiões de atividade
palavras, leitura cerebral. No que tange às áreas destinadas à escuta de palavras,
de palavras, leitura de palavras, produção de palavras e associação de palavras,
produção de foi em 1988 que estas áreas foram evidenciadas. Você pode ver isso
palavras e melhor na figura que segue:
associação de
palavras, foi em Figura 10 - Áreas do cérebro reveladas pela primeira vez pelo
escaneamento PET (datada por Peterse et al., 1989)
1988 que estas
áreas foram
evidenciadas.
42
Capítulo 1 Neurociência: Histórico e Evolução
Algumas Considerações
Pelo que você viu aqui, foi preciso muito investimento para tornar os métodos
invasivos em outros não agressivos e mais eficientes, avançando, assim, nos
estudos das neurociências. Guarde bem o que estudou até o momento, pois irá
precisar desses conhecimentos para os estudos que seguem. Afinal, descobrir
como lemos, como vemos imagens, como atribuímos significado ao que lemos
acontece em um lugar que só foi descoberto graças a tudo que estudamos até aqui.
43
Neurociências: evolução e atualidade
Referências
D’AQUILI, Eugene G. The biopsychological determinants of culture. An Addison-
Wesley Module in Anthropology. Reading, Mass.: Addison-Wesley,1972.
44
C APÍTULO 2
Neurociência: Estudos Atuais
46
Capítulo 2 Neurociência: Estudos Atuais
Contextualização
A palavra “noções” já indica que, neste capítulo, serão apresentados aspectos
introdutórios acerca das neurociências e suas áreas específicas de estudo. O que
se pretende é introduzir os estudos nas subdivisões selecionadas: molecular,
celular, comportamentais e cognitivas. Portanto, se desejar saber um pouco mais
de cada uma dessas subdivisões ou especificamente de uma delas, você poderá
ampliar seus conhecimentos fazendo pesquisas nos materiais indicados nas
referências.
Neurônios e Sinapses: a história de sua descoberta
48
Capítulo 2 Neurociência: Estudos Atuais
Atividade de Estudos:
49
Neurociências: evolução e atualidade
Atividade de Estudos:
http://www.ced.ufsc.br/men5185/trabalhos/05_eletrofisiologia/
neuronios_sinapses.htm
http://www.cerebronosso.bio.br/sinapses/
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
50
Capítulo 2 Neurociência: Estudos Atuais
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
http://www.jellinek.nl/brain/index.html.
http://www.youtube.com/
watch?v=KdFSdOrBRiM&feature=player_embedded.
Atividade de Estudos:
52
Capítulo 2 Neurociência: Estudos Atuais
http://www.youtube.com/watch?v=M00ml30wEXM
http://www.youtube.com/
watch?v=EYcv6h1pZEY&NR=1&feature=endscreen
54
Capítulo 2 Neurociência: Estudos Atuais
55
Neurociências: evolução e atualidade
A Memória
Falar em Alzheimer nos remete a questões de memória, mas o que, em
termos de neurociências, significa memória? Como ela se forma?
56
Capítulo 2 Neurociência: Estudos Atuais
Figura 14 – Hipocampo
Os biólogos
acreditavam há
muito tempo
que esse talento
para o processo
de formação de
novos neurônios
envolvia
apenas mentes
jovens, em
desenvolvimento,
e que novas
células nascem
no cérebro adulto
Fonte: Disponível em: <http://idosos.com.br/estimulado-cerebro-produz-
e-preserva-novas-celulas-nervosas/>. Acesso em: 1º dez. 2012.
– especificamente
em uma região
Na década de 90, os cientistas revolucionaram a neurobiologia
chamada
com a surpreendente notícia de que o cérebro adulto dos mamíferos
hipocampo,
seria capaz de desenvolver novos neurônios. Os biólogos acreditavam
envolvida com
há muito tempo que esse talento para o processo de formação de
aprendizado e
novos neurônios envolvia apenas mentes jovens, em desenvolvimento,
memória.
e que novas células nascem no cérebro adulto – especificamente em
uma região chamada hipocampo, envolvida com aprendizado e
memória (Figura 14).
57
Neurociências: evolução e atualidade
58
Capítulo 2 Neurociência: Estudos Atuais
Por exemplo, uma pessoa chega perto de você, cumprimenta, você lembra
o rosto, mas não consegue lembrar o nome. O telefone toca e você de imediato
lembra quem está falando, pois reconhece a voz. Está entre amigos e recorta com
detalhes um fato ocorrido. Seu filho lhe pergunta: como você aprendeu a andar de
bicicleta, mas para você, hoje, isso é um movimento natural.
59
Neurociências: evolução e atualidade
bem, isso é um pedaço bem pequeno. Tão pequeno que não se pode
ver alguma coisa do tamanho de um nanômetro a não ser que se
usem microscópios muito poderosos, como os microscópios de força
atômica.
60
Capítulo 2 Neurociência: Estudos Atuais
O primeiro tipo
de memória
é Memória
sensorial, que
tem origem
nos órgãos dos
sentidos, por isso
Fonte: Disponível em: <http://saude.hsw.uol.com.br/
pode-se falar
amnesia1.htm>. Acesso em: 1º dez. 2012.
em: memória
sensorial auditiva
A primeira operação prepara as informações sensoriais para serem
(ou ecoica), visual
armazenadas no cérebro. Traduz os dados recebidos em códigos
(ou icónica),
visuais, acústicos ou semânticos. Na etapa intermediária, a informação
olfativa... As
deve ser armazenada, o que acontece por um período variável. Cada
informações
elemento de uma memória é guardado em várias áreas cerebrais. O
obtidas pelos
processo de fixação é complexo e a informação que se armazena está
sentidos são
sempre sujeita a modificações, o que implica que, para que ela se
retidas por um
mantenha estável e permanente, seja necessário tempo. Por fim, há
curto espaço de
a recuperação, que é a fase em que se recupera, recorda, reproduz a
tempo (entre 0,2
informação já guardada.
e 2 segundos),
se for processada
Para ampliar a compreensão sobre o processamento da
passa para a
informação, é preciso compreender a função do executivo central no
MCP.
qual está a memória de curto prazo (MCP) e o arquivo no qual está a
memória de longo prazo (MLP).
61
Neurociências: evolução e atualidade
O primeiro tipo de memória é Memória sensorial, que tem origem nos órgãos
dos sentidos, por isso pode-se falar em: memória sensorial auditiva (ou ecoica),
visual (ou icónica), olfativa... As informações obtidas pelos sentidos são retidas
por um curto espaço de tempo (entre 0,2 e 2 segundos), se for processada passa
para a MCP.
A informação pode ser copiada ou pode ser transferida deste depósito para
a MLP antes do término deste período. Depois deste tempo, a informação será
perdida. O conhecimento ou a experiência do tipo de conteúdo favorecem a
passagem da informação da memória de curto prazo até a de longo prazo, isso
favorece a retenção prolongada de informações. A informação que será lembrada
ou será esquecida depende de eventos antes e após. A MCP determina se a
informação é útil para o organismo e deve ser armazenada, se existem outras
informações semelhantes nos arquivos de MLP e, por último, se esta informação
deve ser descartada quando já existe ou não possui utilidade.
Atividade de Estudos:
62
Capítulo 2 Neurociência: Estudos Atuais
63
Neurociências: evolução e atualidade
64
Capítulo 2 Neurociência: Estudos Atuais
Em uma pesquisa
publicada no periódico
Neuron, o neurocientista
Hisashi Umemori,
da Universidade de
Michigan, e seus
colegas, identificaram
um mecanismo cerebral
que regula a memória,
descartando os neurônios
“menos eficientes” para
conservar os “bons”. Os cientistas focaram o estudo na conexão
entre o hipocampo – crucial para a aprendizagem e a memória
– e o córtex cerebral, área chave da percepção e da consciência
e descobriam que o processo de escolha dos melhores neurônios
aperfeiçoa o desenvolvimento cerebral.
65
Neurociências: evolução e atualidade
Sistemas Comportamentais e
Cognitivos: Alguns Conhecimentos
Um dos objetivos que apresentamos no início deste capítulo foi: perceber
como diferentes sistemas trabalham em conjunto para produzir comportamentos
integrados. Vamos, então, conhecer um pouco mais a respeito de como
nosso cérebro opera e quais as consequências sobre o sistema cognitivo e
comportamental quando do uso, por exemplo, de álcool e drogas. Poderíamos
ampliar essa subseção, mas acreditamos que esses dois pontos são suficientes
66
Capítulo 2 Neurociência: Estudos Atuais
para despertar seu interesse e você poderá, se desejar, pesquisar para sabe mais
sobre esse tema: sistemas comportamentais e cognitivos. Para tal, consulte as
referências que se encontram ao final deste capítulo.
Você pode estar se perguntando: por que estudar este tema? Ele é de
fundamental importância para compreendermos problemas de aprendizagem
que são encontrados nas escolas. No capítulo 4, iremos estudar o diagnóstico de
problemas de aprendizagem de leitura e escrita, para tal, considerar a gestação
de cada aprendiz, suas relações familiares, se se tratar de criança, ou se
considerarmos o consumo de álcool entre os adolescentes, esse estudo irá nos
ajudar a compreender as questões ambientais e cognitivas.
Atividade de Estudos:
67
Neurociências: evolução e atualidade
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
É certo que todos têm um ponto de vista sobre o uso de álcool e drogas,
mas aqui iremos conversar um pouco mais acerca deste assunto e trazer as
contribuições dos estudos das neurociências.
Atividades de Estudos:
68
Capítulo 2 Neurociência: Estudos Atuais
69
Neurociências: evolução e atualidade
http://www.youtube.com/watch?v=N5mEVhR3_ts&feature=related;
http://www.youtube.com/watch?v=vywUOQFo0JI&feature=related
72
Capítulo 2 Neurociência: Estudos Atuais
73
Neurociências: evolução e atualidade
Algumas Considerações
Neste capítulo você pode aprender um pouco mais sobre neurociências.
Como dissemos no início, foram apenas noções. Quisemos colocar você em
contato com estudos da área da neurociência molecular, da neurociência celular e
dos sistemas comportamentais e cognitivos.
Você pode, ao final, fazer uma síntese dos assuntos que mais lhe
interessaram, a fim de guardar em sua memória de longo prazo as aprendizagens
construídas. Mas como há sempre novidades nesta áreas, aconselhamos que
continue lendo e pesquisando sobre isso e acrescentando novos conhecimentos
a esses aqui apresentados.
74
Capítulo 2 Neurociência: Estudos Atuais
Referências
BARROS MARTÍ, D. Discutindo alguns fatores que interferem no processo
de aprendizado e memória. In: CONGRESO INTERNACIONAL SOBRE
INVESTIGACIÓN EN LA DIDÁCTICA DE LAS CIENCIAS. 8., 2009, [S.l.]. Anais...
2009. p. 653-6.
SQUIRE, L. R. (1987). Memory and brain. New York: Oxford University Press.
SQUIRE, L.R.; COHEN, N.J. Human memory and amnesia. In: LYNCH, G.;
McGAUGH, J.L.; WEINGARTEN, N.M., eds. Neurobiology of learning and
memory. New York, Guilford Press, 1984. p.3-64.
75
Neurociências: evolução e atualidade
76
C APÍTULO 3
Aplicações dos Estudos da
Neurociência para a Compreensão da
Aprendizagem da Leitura e da Escrita
78
Aplicações dos Estudos da Neurociência
Capítulo 3 para a Compreensão da Aprendizagem
da Leitura e da Escrita
Contextualização
Este capítulo abordará aspectos da leitura e da escrita que só puderam
ser construídos com base em pesquisas na área da psicolinguística e das
neurociências. Você até aqui já leu muito sobre neurociências, mas agora iremos
apresentar as descobertas mais recentes na área da leitura e suas contribuições
para os avanços em outras áreas, entre elas a psicolinguística. A associação
dessas duas ciências tem trazido impactos sobre as questões da aprendizagem
da leitura e da escrita e sobre a aquisição da fala, o que pode contribuir para uma
nova postura pedagógica.
79
Neurociências: evolução e atualidade
80
Aplicações dos Estudos da Neurociência
Capítulo 3 para a Compreensão da Aprendizagem
da Leitura e da Escrita
No Homo habilis,
há dois milhões
Precisar a época em que os homens começaram a falar é uma de anos, foram
tarefa difícil e quase impossível. É consenso que há cerca de trinta encontradas
mil anos, aproximadamente, os homens já se comunicavam de forma indicações de
bem próxima a atual e de forma primitiva anteriormente. No Homo desenvolvimento
habilis, há dois milhões de anos, foram encontradas indicações na área
de desenvolvimento na área do cérebro associada à produção da do cérebro
linguagem verbal. associada à
produção da
linguagem verbal.
Atividade de Estudos:
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
82
Aplicações dos Estudos da Neurociência
Capítulo 3 para a Compreensão da Aprendizagem
da Leitura e da Escrita
Atividade de Estudos:
83
Neurociências: evolução e atualidade
b) Ler é atribuir:
a. O mesmo texto pode provocar em cada leitor e em cada leitura uma visão
diferente da realidade.
Agora que você já aprendeu um pouco mais sobre o que significa ler,
podemos aprofundar os conhecimentos científicos. Mas, antes disso, atente a
este desafio (alguns até já devem ter tido acesso nas redes sociais).
84
Aplicações dos Estudos da Neurociência
Capítulo 3 para a Compreensão da Aprendizagem
da Leitura e da Escrita
Atividade de Estudos:
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
85
Neurociências: evolução e atualidade
Você já tem alguma hipótese de como isso ocorre, mas é preciso ir além.
Então, entraremos, agora, na compreensão do processamento que ocorre
conosco quando lemos. Todas essas informações foram consultadas na obra “Os
neurônios da leitura”, de Dehaene (2012), a qual recomendamos como leitura
para que você avance em seus estudos.
STANISLAS DEHAENE
86
Aplicações dos Estudos da Neurociência
Capítulo 3 para a Compreensão da Aprendizagem
da Leitura e da Escrita
87
Neurociências: evolução e atualidade
http://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/Marcia/marcia.htm
O modelo de
dupla via, que
pressupõe uma
escrita alfabética, O modelo de dupla via (cuja explicação aparece a seguir,
ajuda a entender inclusive com ilustração) discute grande parte das observações sobre
o processo o funcionamento da leitura em condições normais, que é o caso aqui.
que se deseja O modelo de dupla via, que pressupõe uma escrita alfabética, ajuda
analisar e será a entender o processo que se deseja analisar e será apresentado a
apresentado seguir em uma versão simplificada, proposta por Castro e Gomes
a seguir em (2000, p. 121).
uma versão
simplificada.
88
Aplicações dos Estudos da Neurociência
Capítulo 3 para a Compreensão da Aprendizagem
da Leitura e da Escrita
89
Neurociências: evolução e atualidade
90
Aplicações dos Estudos da Neurociência
Capítulo 3 para a Compreensão da Aprendizagem
da Leitura e da Escrita
91
Neurociências: evolução e atualidade
Mas, e depois que a palavra “entra” em nosso olho, o que mais ocorre?
Qual o processo para decodificar? Como as letras são “recebidas” por nosso
cérebro e onde isso ocorre? Segundo Dehaene (2012, p. 82), “[...] a visão de
uma palavra escrita ativa as regiões occipitais bilaterais, que são associadas
às etapas precoces da visão”. Analisando a figura que segue, especialmente a
última imagem, pode-se perceber que, na região visual ventral, há detectores
especializados para objetos, palavras escritas, rostos. Essa ordenação é igual em
todas as pessoas, o que nos permite compreender que independente da língua,
92
Aplicações dos Estudos da Neurociência
Capítulo 3 para a Compreensão da Aprendizagem
da Leitura e da Escrita
todos acionam a mesma região para ler. Observe, na imagem, a palavra escrita
se situa no entremeio entre os objetos e os rostos. É importante destacar que
ao lermos uma palavra o hemisfério esquerdo tem papel preponderante e, ao
vermos uma imagem, isso ocorre no hemisfério direito. Observando as imagens
à esquerda da figura, vemos em destaque uma parte de nosso cérebro. É que
há um lugar determinado do cérebro para a leitura: o sistema de reconhecimento
visual das palavras.
Para entender a parte, vamos antes conhecer o todo. Na figura que segue,
observe os números e acompanhe, assim, o processo que ocorre quando lemos.
93
Neurociências: evolução e atualidade
94
Aplicações dos Estudos da Neurociência
Capítulo 3 para a Compreensão da Aprendizagem
da Leitura e da Escrita
uma letra alterada na mesma posição, mas também percebemos a alteração entre
a posição ainda que a letra seja a mesma, como ocorre em “alta” e “lata”.
Mas, como o próprio Dehaene (2012, p. 35) questiona: “como nosso sistema
visual resolve o problema do reconhecimento invariante das palavras?” Vamos,
então, a mais essa compreensão.
Fonte: A autora.
95
Neurociências: evolução e atualidade
Aprender a Ler
Retomando a figura 24, todas as áreas ali numeradas podem ser ativadas
pela língua falada e já estão posicionadas na criança antes de aprender a ler.
Podem ser acompanhadas sendo ativadas, em muitos casos, mesmo numa
criança de apenas poucos meses. O que é especializado para a leitura é a área
número 2, como uma interface entre o sistema visual e o sistema existente para
a linguagem verbal. Importante lembrar que a reciclagem dos neurônios é
fundamental para que a aprendizagem da leitura ocorra.
96
Aplicações dos Estudos da Neurociência
Capítulo 3 para a Compreensão da Aprendizagem
da Leitura e da Escrita
Atividade de Estudos:
97
Neurociências: evolução e atualidade
98
Aplicações dos Estudos da Neurociência
Capítulo 3 para a Compreensão da Aprendizagem
da Leitura e da Escrita
100
Aplicações dos Estudos da Neurociência
Capítulo 3 para a Compreensão da Aprendizagem
da Leitura e da Escrita
Atividades de Estudos:
101
Neurociências: evolução e atualidade
102
Aplicações dos Estudos da Neurociência
Capítulo 3 para a Compreensão da Aprendizagem
da Leitura e da Escrita
Aprendizagem da Escrita e as
Contribuições da Psicolinguística
103
Neurociências: evolução e atualidade
A escrita
apareceu muito
recentemente,
este sistema
surgiu há
5.000 anos e
os sistemas
alfabéticos ainda
mais tarde.
Figura 29 – Pergaminho
A folha de
A folha de papel surgiu com os chineses: um chinês chamado
papel surgiu com
T´sai Lun, um mandarino do palácio do imperador Ho, em 105 d.C.,
os chineses.
acabou revolucionando o curso da história, inventando um material
fabricado inicialmente de fibras têxteis (seda, rami e cânhamo), que
misturadas à água e cola vegetal, formavam a folha de papel, depois de eliminado
o excesso de água sobre um bastidor de seda e bambu. Usado inicialmente em
cerimônias religiosas devido ao seu valor sagrado, o papel tornou-se, durante
cinco séculos, propriedade exclusiva dos chineses.
http://www.youtube.com/watch?v=BAzeoLfQerM&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=AVKOCSU8zqI&feature=related
historia da escrita parte 1
http://www.youtube.com/watch?v=GC8ClPNWv3k&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=uF9kNYH1EQg&feature=related
Quanto à leitura e à escrita, isso não acontece, pois aprender a ler depende
de muitos fatores: condições reais para que as crianças se tornem motivadas;
experiência funcional prévia com material impresso; exposição a contextos
narrativos; contexto de ensino-aprendizagem onde possam construir em conjunto
o letramento. Portanto, é preciso, quando se fala em ensino-aprendizagem do
sistema escrito, ter claro que aprender a ler não é fácil porque falar é fácil. 107
Neurociências: evolução e atualidade
A discreção das
A discreção das unidades gráficas alfabéticas é outro aspecto
unidades gráficas
que merece atenção quando se pensa nos dois sistemas de forma
alfabéticas é
distinta. As pistas acústicas, através das quais os traços fonéticos
outro aspecto que
são percebidos numa dada língua por um ouvinte, constituem um
merece atenção
continuum no qual não existem limites contrastivos entre palavras,
quando se pensa
morfemas, sílabas, fonemas. O mesmo é verdade para o movimento
nos dois sistemas dos articuladores. Entretanto, existem algumas pausas e contornos
de forma distinta. finais que assinalam o término dos enunciados, mas não coincidem com
a distribuição dos pontos e vírgulas. Assim como há muitas pausas e
hesitações que ocorrem no discurso oral para planejamento ou busca de itens
lexicais. Os sistemas alfabéticos modernos apresentam contrastes discretos,
não somente as palavras são separadas por espaço em branco, mas também as
letras contrastam entre si.
Atividade de Estudos:
Entretanto, ler e escrever não ocorrem nessa mesma direção, pois exigem um
109
Neurociências: evolução e atualidade
110
Aplicações dos Estudos da Neurociência
Capítulo 3 para a Compreensão da Aprendizagem
da Leitura e da Escrita
Lemle (2001), nas duas últimas capacidades, não faz distinção entre
discriminação e percepção, mas é importante fazê-lo. Quanto aos sons, a
criança ao nascer discrimina quaisquer categorias que possam ser discriminadas
em qualquer língua e produz quaisquer sons também, mas isso ainda não é
fonológico, não é percepção, ainda não é linguístico, especificamente falando.
Assim, no caso da alfabetização, o problema não é discriminação, mas percepção.
Ainda, independente das infinitas possibilidades de realização dos traços que
diferenciam as letras, o que interessa é o percepto que distingue uma letra da
outra, e não a discriminação de inúmeras possibilidades de produzir a letra.
111
Neurociências: evolução e atualidade
Atividade de Estudos:
112
Aplicações dos Estudos da Neurociência
Capítulo 3 para a Compreensão da Aprendizagem
da Leitura e da Escrita
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
Algumas Considerações
No início deste capítulo, nos propomos a aprimorar os conhecimentos sobre
leitura e escrita dentro das novas descobertas das neurociências. Você aprendeu
que há uma região especialmente destinada para a leitura de palavra escrita, a
qual foi descrita pelo principal autor consultado para a primeira parte do capítulo,
o neurocientista francês, Dahaene. Também com base em seus estudos, foi
possível descrever o processo de leitura com base nos estudos recentes sobre os
neurônios da leitura.
Por fim, com auxílio dos estudos da psicolinguística, foi possível relacionar
as questões de aprendizagem da leitura e da escrita, fazendo uma ponte com
o que já se havia apresentado na área das neurociências. Isso nos possibilitou
compreender que para ler a criança passa por três etapas, que antes de aprender
a decodificar, faz-se necessária a reciclagem dos neurônios, o desenvolvimento
da consciência metalinguística e a compreensão da organização do sistema de
escrita e sua ortografia, mas isso é assunto para o próximo capítulo.
Referências
CASTRO, São Luís; GOMES, Inês. Dificuldades de aprendizagem da língua
materna. Lisboa: Universidade Aberta, 2000.
LEMLE, Miriam. Guia teórico do alfabetizador. 15. ed. São Paulo: Ática, 2001.
_____. Método Scliar de alfabetização: guia para o professor. Projeto Ler &
Ser: Combatendo o Analfabetismo Funcional, 2012. (NO PRELO)
116
As Contribuições Teóricas das Neurociências e da
Capítulo 4 Psicolinguística para a Compreensão do Processo
de Ensino-Aprendizagem da Língua Escrita
Contextualização
No capítulo anterior, você estudou muito sobre leitura, inclusive seus
conceitos. Compreendeu como se dá a aprendizagem da leitura, quais as
implicações maturacionais, entre elas, a reciclagem dos neurônios. Aprendeu,
também, sobre a escrita, conheceu parcialmente a sua história relacionada aos
suportes e sistema que surgiram. Entre eles está o nosso: o alfabético.
O Processamento da Leitura e da
Escrita
Antes de iniciarmos o estudo sobre este tema, gostaríamos de fazer uma
breve revisão de aspectos teóricos que estão nos outros capítulos. Para isso,
convidamos você a retomar o texto todo e construir um glossário dos termos que
irá necessitar para a leitura desta unidade.
Atividade de Estudos:
1) Construindo um glossário
Memória:_____________________________________________
_____________________________________________________
117
Neurociências: evolução e atualidade
Leitura: ______________________________________________
_____________________________________________________
Descodificação:________________________________________
_____________________________________________________
Escrita: ______________________________________________
_____________________________________________________
Via semântica:_________________________________________
_____________________________________________________
118
As Contribuições Teóricas das Neurociências e da
Capítulo 4 Psicolinguística para a Compreensão do Processo
de Ensino-Aprendizagem da Língua Escrita
119
Neurociências: evolução e atualidade
Além disso, nesse modelo, o leitor utiliza três fontes de informação: grafo-
fonêmica, sintática e semântica. O modelo deste autor tem início no momento em
que o leitor passa os olhos pelo papel, linha por linha, da esquerda para direita.
Os olhos do leitor se fixam no estímulo grafêmico, permitindo a focalização. A
partir daí, inicia-se o processo de seleção dos indícios textuais. Aqui, a imagem
perpectual começa a se formar, sendo usados os indícios selecionados e os
antecipados. Tem início, então, o processo de antecipação ou “adivinhação”.
120
As Contribuições Teóricas das Neurociências e da
Capítulo 4 Psicolinguística para a Compreensão do Processo
de Ensino-Aprendizagem da Língua Escrita
Atividade de Estudos:
121
Neurociências: evolução e atualidade
124
As Contribuições Teóricas das Neurociências e da
Capítulo 4 Psicolinguística para a Compreensão do Processo
de Ensino-Aprendizagem da Língua Escrita
Atividade de Estudos:
125
Neurociências: evolução e atualidade
126
As Contribuições Teóricas das Neurociências e da
Capítulo 4 Psicolinguística para a Compreensão do Processo
de Ensino-Aprendizagem da Língua Escrita
Por último, será apresentado o modelo de Meurer (1997, p. 14-28), que leva
em consideração tanto os aspectos linguísticos como os sociocognitivos do ato
de escrever. Este modelo está organizado em módulos interligados dos quais
fazem parte: fatos/realidade; história discursiva individual, discursos institucionais
e práticas sociais; parâmetros de textualização; representação mental de fatos/
realidade por parte do escritor; monitor.
127
Neurociências: evolução e atualidade
Você já sabe, mas não custa relembrar: A escrita propriamente dita surgiu no
Oriente Médio e na China há cerca de 6.000 anos. Destes dois focos principais, a
escrita se irradiou para diversas outras partes da Eurásia. Vários povos investiram
tempo e pesquisa (a seu modo) para a elaboração de um sistema de escrita.
128
As Contribuições Teóricas das Neurociências e da
Capítulo 4 Psicolinguística para a Compreensão do Processo
de Ensino-Aprendizagem da Língua Escrita
129
Neurociências: evolução e atualidade
130
As Contribuições Teóricas das Neurociências e da
Capítulo 4 Psicolinguística para a Compreensão do Processo
de Ensino-Aprendizagem da Língua Escrita
131
Neurociências: evolução e atualidade
+obstruinte -son
p t k
-cont (surdas)
b d g (galo)
(oclusivas) +son
-Obstruinte
m n ր(vinho)
+nasal
(+vocálico) ʎ (velha)
+lateral
l
-lateral
r(caro)
-cons
(semivogais) j (pai) w (teu)
Modos de articulação:
Lugares de articulação:
133
Neurociências: evolução e atualidade
• Anterior: “os sons anteriores são produzidos com uma obstrução na parte
anterior do trato vocal, numa região situada entre os lábios e a arcada
alveolar.” (MORI, 2001, p. 164) [+ant]: [p,b,f,v,m, t,d,s,z,n,l, r].
Vozeamento:
A conversão
A autora desdobra as regras de descodificação em quatro
dos grafemas
subgrupos: as regras de correspondência grafo-fonêmica independentes
em fonemas é
do contexto; as regras de correspondência grafo-fonêmica dependentes
feita pelo leitor
do contexto grafêmico; as regras dependentes da metalinguagem e/ou
levando em conta
do contexto textual morfossintático e semântico; valores imprevisíveis
sua variedade
para o grafema “x” e a leitura de “muito”.
sociolinguística
e este aspecto
O primeiro subgrupo é constituído de grafemas que correspondem,
não pode ser
independente da posição em que ocorrem na palavra, ao mesmo
desconsiderado
fonema. Na tabela abaixo (SCLIAR-CABRAL, 2003b, p. 44), são
por quem está
apresentados quais os valores dos grafemas que se incluem neste
envolvido no
subgrupo.
processo de
ensinar a ler.
134
As Contribuições Teóricas das Neurociências e da
Capítulo 4 Psicolinguística para a Compreensão do Processo
de Ensino-Aprendizagem da Língua Escrita
135
Neurociências: evolução e atualidade
Atividade de Estudos:
136
As Contribuições Teóricas das Neurociências e da
Capítulo 4 Psicolinguística para a Compreensão do Processo
de Ensino-Aprendizagem da Língua Escrita
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
138
As Contribuições Teóricas das Neurociências e da
Capítulo 4 Psicolinguística para a Compreensão do Processo
de Ensino-Aprendizagem da Língua Escrita
A última regra desse subgrupo aborda a grafia das vogais nasalizadas sob
três aspectos: o uso do til em “ã” e “õ”; a nasalização da vogal, em final de sílaba
não final de vocábulo, na qual se explica a grafia de “m” diante das consoantes [+
ant, -cor] como em “tempo”; a nasalização das vogais em final de vocábulo, por
exemplo, “ruim”, “batons”.
Atividades de Estudos:
EMERGÊNCIA
- Bom dia...
- Como assim?
139
Neurociências: evolução e atualidade
Mas o pior está por vir. De repente ele ouve uma misteriosa voz
descarnada. Olha para todos os lados para descobrir de onde sai a
voz.
- Odeio a rotina. Aposto que você diz isso para todos. Ai meu
santo.
140
As Contribuições Teóricas das Neurociências e da
Capítulo 4 Psicolinguística para a Compreensão do Processo
de Ensino-Aprendizagem da Língua Escrita
- O quê?!
- Calma, cavalheiro.
141
Neurociências: evolução e atualidade
a) /k/ __________________________________________________
b) /g/ __________________________________________________
c) / ʒ /__________________________________________________
d) /l/___________________________________________________
e) /s/___________________________________________________
f) /∫/___________________________________________________
g) /r/___________________________________________________
h) /R/__________________________________________________
142
As Contribuições Teóricas das Neurociências e da
Capítulo 4 Psicolinguística para a Compreensão do Processo
de Ensino-Aprendizagem da Língua Escrita
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
Até aqui você aprendeu que há situações como em “pata” que não temos
problemas algum para escolher que grafemas irá representar qual fonema, pois
para representar o fonema /p/ existe apenas o grafema “p”. Depois, você estudou
que há situações em que não é necessário decorar a grafia das palavras, pois
há uma regra que pode generalizar a situação. Um exemplo disso é a grafia de
deixa com “x” e não “ch” para representar o fonema /∫/. Agora, iremos entrar na
parte mais complexa da grafia: os contextos competitivos, ou seja, situações
em que um mesmo fonema pode ser representado por dois ou mais grafemas, o
que acarreta a dúvida na grafia.
143
Neurociências: evolução e atualidade
Atividade de Estudos:
144
As Contribuições Teóricas das Neurociências e da
Capítulo 4 Psicolinguística para a Compreensão do Processo
de Ensino-Aprendizagem da Língua Escrita
145
Neurociências: evolução e atualidade
a) Instrumentos de diagnóstico
Uma das primeiras ações é conhecer mais sobre a infância do aluno analisado
e suas relações familiares, especialmente no que tange ao contato com material
escrito, tarefas escolares, desempenho em anos anteriores, momento em que
entrou na escola, situação na educação infantil. Para isso, pode-se elaborar um
questionário que pode ser aplicado em uma visita domiciliar, a fim de conversar
com a família.
Aqui se fará uma breve descrição dos testes que compõem a referida bateria,
mas aconselhamos que você consulte a obra referendada, a fim de ter acesso a
todo o matéria: cartelas de aplicação, detalhamento das condições de aplicação,
fichas de anotação e orientação de análise de resultados. Vamos, então, a um
panorama: ao todo são nove testes a serem aplicados os quais são apresentados
nesta ordem:
146
As Contribuições Teóricas das Neurociências e da
Capítulo 4 Psicolinguística para a Compreensão do Processo
de Ensino-Aprendizagem da Língua Escrita
147
Neurociências: evolução e atualidade
A discriminação das formas: “As letras, para quem ainda não se alfabetizou,
são risquinhos pretos na página branca. O aprendiz precisa ser capaz de entender
que cada um daqueles risquinhos vale como símbolo de um som da fala. Assim
sendo, o aprendiz deve poder discriminar as formas das letras. As letras do nosso
alfabeto têm formas bastante semelhantes e, por isso, a capacidade de distingui-
las exige refinamento de percepção”. (LEMLE, 1998, p. 8). A autora dá exemplo
das letras: p/b; b/d; n/m; l/a/o. Aqui podem ser recuperados os estudos sobre
fenômeno da rotação discutidos na área de psicolinguística e neurociências.
“[...] Só será capaz de escrever aquele que tiver a capacidade de perceber as
unidades sucessivas de sons da fala utilizadas para enunciar as palavras e de
distingui-las conscientemente uma das outras. [...] a análise [...] é bem sutil: ela
deve ter consciência dos pedacinhos que compõem a corrente da fala e perceber
as diferenças de som pertinentes à diferença de letras”. (LEMLE, 1998, p. 9). Na
bateria de testes, os testes 7 e 8 são contemplados com palavras que permitem
148
As Contribuições Teóricas das Neurociências e da
Capítulo 4 Psicolinguística para a Compreensão do Processo
de Ensino-Aprendizagem da Língua Escrita
149
Neurociências: evolução e atualidade
b) chama atenção para o fenômeno sândi que pode ser externo ou interno o
qual pode ser observado no teste de leitura em voz alta. “A alocação errada
de fronteiras vocabulares onde não existe acontece, por exemplo, com palavras
femininas que começam com [a] – minha miga, em vez de minha amiga – ou com
palavras masculinas que começam com [u] – o niverso, em vez de o universo.”
(SCLIAR-CABRAL, 2003b, p.10-11). o alfabetizando também deve reconhecer
sentenças que são representadas por letra maiúscula para indicar o início e
o ponto, o término. Mas isso não precisa acontecer logo no início, “[...] pois o
aprendiz pode aprender a tomar consciência dessa unidade no decorrer de suas
primeiras leituras.”(SCLIAR-CABRAL, 2003b, p. 2).
A organização da página escrita: desde o início do trabalho de
alfabetização, deve ficar estabelecida a compreensão da organização espacial da
página: “[...] a ideia de que a ordem significativa das letras é da esquerda para
a direita na linha, e que a ordem significativa das linhas é de cima para baixo
na página.”(SCLIAR-CABRAL, 2003b, p. 12). Isso é primordial, “[...] pois dessa
compreensão decorre uma maneira muito particular de efetuar os movimentos
dos olhos na leitura”. Ler um texto é diferente de olhar uma gravura, e isso é novo
para o alfabetizando.
• Transcrição fonética: pode ser também descrita como aluno escreve como
fala, o que revela que este se encontra no processo inicial de alfabetização.
Dentro dessa categoria, podem ser encontrados problemas como:
–– O aluno escreve i em vez de e, porque fala [i] e não [e]; por exemplo:
dipois, eli, di. Vale destacar que a tonicidade explica este fenômeno,
uma vez que a troca ocorre geralmente em final de palavra cuja sílaba
é átona. A mesma explicação pode ser atribuída em casos em que
o aprendiz escreve u em vez do o, pois fala [u] e não [o], por exemplo,
abraçu, bisnetus, titiu, brincando.
–– O aluno escreve duas vogais em vez de uma, por usar na sua pronún
cia um ditongo; por exemplo: rapais (rapaz) feis (fez). Neste último
exemplo, além do problema de ditongação, pode-se observar o uso do “S”
em contexto competitivo.
150
As Contribuições Teóricas das Neurociências e da
Capítulo 4 Psicolinguística para a Compreensão do Processo
de Ensino-Aprendizagem da Língua Escrita
–– Não escreve o r por não haver som correspondente na sua fala; por
exemplo: mulhe (mulher) lava (lavar). Aqui também é preciso ficar
atento e verificar se não se trata de um caso de morfologia verbal ou é
uma variedade sociolinguística. O mesmo raciocínio pode ser aplicado em
casos nos quais o aluno não escreve s, por exemplo: vamu (vamos).
–– Escreve r em vez de l, pois faz essa troca quando fala; por exemplo:
praneta (planeta). Casos com este podem ser explicados consultando a
tabela das consoantes. Entretanto, antes de decidir que tipo de problema
existe neste caso, vale a pena considerar outras duas hipóteses: par
mínimo ou variedade sociolinguística.
–– Escreve li ao invés de lh, por dizer [li] e não [l]; por exemplo: almadilia
(armadilha) ou coelio (coelho). Observando a tabela de consoantes já
estudada, é importante considerar que esse tipo de erro não é gratuito,
há uma relação com a seu modo e/ou ponto de articulação, pois /l/; /r/; //;
/j/;/w/ são (+vocálico), + lateral, -lateral, -cons.
151
Neurociências: evolução e atualidade
152
As Contribuições Teóricas das Neurociências e da
Capítulo 4 Psicolinguística para a Compreensão do Processo
de Ensino-Aprendizagem da Língua Escrita
Ainda no que diz respeito à compreensão do que é uma palavra, muitas vezes,
a criança transcreve sua pronúncia da juntura intervocabular; por exemplo:
vaibora (vai embora); aínsima (ai em cima). Para complementar casos dessa
natureza, vale considerar que os grupos tonais do falante, ou conjuntos de
sons ditos em determinadas alturas, é um dos critérios que a criança utiliza
para dividir a sua escrita. Por fim, devido à acentuação tônica das palavras,
pode ocorrer uma segmentação indevida, ou seja, uma separação na escrita
que ortograficamente está incorreta; por exemplo: A gora (agora); A fundou
(afundou). Independente de se tratar de juntura ou segmentação, o trabalho do
educador é levar a criança a compreender que: não se escreve como se fala; a
palavra é uma unidade independente de seu tamanho.
• Sinais de pontuação: Estes sinais também não são ensinados logo no início
e raramente ocorrem nos textos espontâneos. Às vezes, alguns alunos usam
sinais como ponto ou travessão para isolar palavras: “Era. uma. Vez.” ou “Era-
153
Neurociências: evolução e atualidade
Por fim, vale resgatar o que foi apresentado sobre codificação, a fim de
verificar que problemas de escrita ou erros são decorrentes da não internalização
das regras dependentes do contexto grafêmico. São exemplos disso: camdiã,
tamto; limgua, tenpo; segidore, queigo, consege; arenpendida; deicha.
154
As Contribuições Teóricas das Neurociências e da
Capítulo 4 Psicolinguística para a Compreensão do Processo
de Ensino-Aprendizagem da Língua Escrita
Atividade de Estudos:
Texto 2: Num belo dia goao plantou uma arvore e depois plantou
mas uma.
155
Neurociências: evolução e atualidade
156
As Contribuições Teóricas das Neurociências e da
Capítulo 4 Psicolinguística para a Compreensão do Processo
de Ensino-Aprendizagem da Língua Escrita
Algumas Considerações
Se você retomar aos objetivos apresentados no início deste capítulo,
irá perceber que conseguimos alcançá-los, pois realizamos a descrição do
processamento da língua falada e escrita. Isso permitiu compreender como as
palavras faladas e escritas são processadas e que elas se aproximam quanto ao
processo de recepção (ouvir e ler) e ao de produção (falar e escrever). Também
estudamos as bases linguísticas e psicolinguísticas da organização do sistema
alfabético do português do Brasil, o qual está organizado de forma distinta para
a leitura (sendo esta mais transparente) e para a escrita. Nesse caso, é preciso
ter claro em que situações a aprendizagem sistemática deve ocorrer, a fim de
que as regras da língua escrita sejam depreendidas. Outro tópico apresentado
foi o das contribuições dos estudos psicolinguísticos para detectar problemas
de processamento, para tal, apresentamos instrumentos de coleta de dados
e categorias de análise. Assim, os erros não serão colocados todos dentro de
um mesmo balaio, mas organizados conforme sua especificidade. Isso facilita o
desenvolvimento de atividades para solucionar problemas de codificação. Por fim,
você foi convidado a aplicar os conhecimentos adquiridos para a compreensão de
um caso de dificuldade de aprendizagem de escrita.
Referências
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizacao & linguística. São Paulo : Scipione, 2001.
GOUGH, Philip B. One second of reading. In: RUDDELL, Robert B.; RUDDEL,
Martha Rapp; SINGER, Harry. (Ed). Theoretical models and process of
reading. 4. ed. Newark: International Reading Association, 1994. p. 509-535.
157
Neurociências: evolução e atualidade
LEMLE, Miriam. Guia teórico do alfabetizador. 13. ed. São Paulo: Ática, 1998.
(Série Princípios).