1 Renascimento e o Barroco

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TEORIA E

HISTÓRIA DA
ARQUITETURA E
URBANISMO III

Vanessa Guerini Scopell


O contexto histórico do
mundo ocidental da Idade
Moderna (Renascimento e
Barroco) e suas influências
na arquitetura
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar o contexto histórico mundial que originou o Renascimento


e o Barroco.
 Diferenciar as características dos períodos Renascentista e Barroco.
 Reconhecer as obras arquitetônicas e urbanísticas de destaque.

Introdução
A Idade Moderna foi uma época marcada por enormes e diversas trans-
formações nas sociedades. No que se refere à arquitetura, esse período
trouxe movimentos e estilos fundamentais para a área.
Neste capítulo, você vai estudar sobre os períodos denominados
Renascimento e Barroco, entendendo o contexto dessas manifestações,
suas principais características e obras que foram, e continuam sendo, um
marco desses estilos arquitetônicos.

A origem do Renascimento e do Barroco


Os períodos da Idade Moderna marcados pelos movimentos renascentista
e barroco foram de grandes transformações para a sociedade da época. A
arte renascentista nasceu entre os séculos 14 e 16, passando pelos períodos
da Idade Média e da Idade Moderna. Essa fase foi evidenciada por um mo-
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vimento econômico, político e cultural que teve origem na Itália. Segundo


Farrelly (2015, p. 42), “poucas vezes a história da arquitetura passou por
mudanças tão rápidas e fundamentais em termos de postura como as teste-
munhadas pela Itália no início do século XIV”. Esse período foi marcado
pela rejeição da escolástica medieval e por um interesse renovado pela
arquitetura clássica.

Para a geração anterior, as obras criadas no mundo clássico antigo pareciam


ter formas e complexidade inimagináveis. A nova sensibilidade buscava
compreender a arquitetura clássica com base na validação da capacidade de
raciocínio do homem e da possibilidade de entender o mundo por meio da
observação e do intelecto, deixando de lado as explicações predeterminadas
(FARRELLY, 2015, p. 42).

Com a queda do sistema feudal, que fora impulsionado com a formação


de uma nova classe social, denominada burguesia, bem como com a inten-
sificação do comércio, o Renascimento surgiu para suprir diversas lacunas.
Nesse momento, cidades da Itália como Veneza, Gênova, Florença, Roma
e outras começaram a se desenvolver e a enriquecer com o comércio no
Mediterrâneo. Esse comércio resultou em uma rica burguesia mercantil,
que passou a se dedicar às artes, à literatura e à ciência, juntamente aos
príncipes e papas. “O Renascimento pode ser entendido como um elemento
de ruptura, no plano cultural, com a estrutura medieval” (MACHADO,
2012, documento on-line).
Esse movimento foi marcado por um contexto de importantes descobertas
científicas, notadamente, nos campos da astronomia, da física, da medicina, da
matemática e da geografia. Na medicina, os conhecimentos avançaram com
trabalhos e experiências sobre circulação sanguínea, métodos de cauterização
e princípios gerais de anatomia. O movimento literário desse período deu
origem a autores conhecidos, como, por exemplo, Shakespeare, considerado
um dos maiores dramaturgos do mundo, e Luis de Camões. Já nas artes, os
principais artistas plásticos que surgiram no período do Renascimento foram
Leonardo Da Vinci, que exercia funções de pintor, escultor, matemático, físico,
inventor, anatomista e arquiteto, e Michelangelo, que tinha o humanismo como
uma marca em suas obras.

A revolução na pintura, na escultura e na arquitetura se deve à nova visão de


mundo humanista do Renascimento (bem como à secularização associada a
ela), que celebrava a racionalidade, a individualidade e a capacidade humana
de fazer observações empíricas do mundo físico e agir com base nelas (FAZIO;
MOFFETT; WODEHOUSE, 2013, p. 305).
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O humanismo foi um movimento intelectual que se manifestou nas artes e


na filosofia do período renascentista. Os filósofos humanistas tinham o objetivo
de trazer à tona questões relacionadas ao universo humano, desvencilhando-se
definitivamente do pensamento teocêntrico da época anterior, a Idade Média.
Trata-se, portanto, de um momento de rompimento de paradigmas e de busca
por uma nova forma de enxergar o mundo.
Com a evolução do cientificismo, bem como da corrente empirista, os
renascentistas entendiam que a verdade não vinha somente de Deus, mas
também dos seres humanos, que pensam e refletem sobre sua condição no
mundo. Essa ideia veio para confrontar diversos dogmas da Igreja Católica,
que, aos poucos, foi perdendo seus fiéis, sobretudo com a Reforma Protestante.
Junto a isso, o antropocentrismo renascentista foi substituindo, aos poucos, o
teocentrismo medieval dos períodos anteriores.
O Renascimento foi marcado por três diferentes fases com características
específicas: Trecento, Quatrocento e Cinquecento.
A fase do Trecento faz referência ao século XIV, manifestando-se, inicial-
mente, na cidade de Florença, na Toscana, e foi marcada pela preparação ao
movimento, tendo como características gerais o rompimento com o imobilismo
e a hierarquia da pintura medieval, assim com a valorização do individualismo
e dos detalhes humanos.
Na fase do Quatrocento, que faz referência ao século XV, o Renascimento
espalhou-se pela península da Itália e teve como características mais fortes
a inspiração greco-romana (paganismo e línguas clássicas), o racionalismo
e o experimentalismo.
Já na fase Cinquecento, o Renascimento passou a ser um movimento uni-
versal, expandindo-se pela Europa e, após, iniciando sua decadência. “O
período foi marcado, também, pela contestação da autoridade do papa por
protestantes, alterando o equilíbrio político do continente” (MACHADO,
2012, documento on-line).
Nesse momento, houve o declínio da influência católica, surgindo novas
escolas regionais. Como o Renascimento já estava espalhado por toda a Eu-
ropa, ele ia modificando-se e diversificando-se à medida que ia incorporando
diversas influências regionais.
Em meio a esse contexto de mudanças, incertezas e uma aversão ao ca-
tolicismo, surgiu o movimento barroco. Esse estilo iniciou na Europa, em
um cenário de reformas religiosas que ocorreu mais precisamente no final
do século XVI, quando a Igreja Católica estava em decadência, pois havia
perdido seu prestígio e poder. Apesar dessa crise, o movimento católico ainda
tinha bastante influência no cenário econômico, político e religioso da Europa.
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Assim como os banqueiros e mercadores de Florença patrocinaram os artis-


tas e arquitetos do Renascimento, a Igreja Católica foi a principal patrocinadora
das artes e da arquitetura dos séculos XVII e XVIII ao redor de Roma. As
obras encomendadas pela Igreja deram origem a um novo estilo, o Barroco.

Quando o Renascimento chegou ao fim, a Igreja tinha muito poder secu-


lar, mas suas bases morais se haviam deteriorado. O título de cardeal era
vendido descaradamente; altos e baixos oficiais da Igreja tinham amantes e
buscavam benefícios para seus filhos, que eram eufemisticamente chama-
dos de “sobrinhos”; e as doações dos devotos eram gastas em projetos que
careciam totalmente de propósitos espirituais. Os papas viviam em grande
luxo, tratando o tesouro da Igreja como verba pessoal. Para financiar seus
projetos sagrados e seculares, a Igreja instituiu práticas de levantamento de
fundos questionáveis, como a venda de perdões e indulgências para poupar
o pagador – ou um parente – de passar um determinado nú mero de dias no
Purgatório (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2013, p. 359).

Segundo Fazio, Moffett e Wodehouse (2013), a corrupção da Igreja originou


pedidos de uma reforma religiosa. A reação mais influente veio do monge Mar-
tinho Lutero, que, no ano de 1517, pregou às portas da Igreja de Todos os Santos,
dando início ao movimento que ficaria conhecido como Reforma Protestante.
Até ali, “a Igreja enfrentara os desafios propostos por desgarrados de seu próprio
exército, geralmente, declarando-os hereges e destruindo-os com a força. Dessa
vez, porém, o descontentamento era generalizado demais para que os métodos
da inquisição funcionassem” (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2013, p. 35).
A resposta da Igreja aos protestos foi a Contrarreforma Católica, um pro-
grama que envolvia mudanças no interior das Igrejas e uma campanha para
trazer as pessoas de volta às crenças do catolicismo. O Concílio de Trento se
reuniu em 1545 e concluiu que a arte era uma ferramenta essencial para aumen-
tar o prestígio e os ensinamentos da Igreja. Todas as artes foram empregadas
nessa iniciativa de relações públicas e o estilo artístico criado para reafirmar
os ensinamentos católicos tradicionais ficou conhecido como Barroco.
Os resultados eram abertamente propagandistas e extremamente emocio-
nais, pois apelavam aos sentidos. Baseado em uma elaboração das formas
clássicas, já bastante individualizadas pelos artistas e arquitetos do início do
século XVI, o Barroco foi um estilo didático, teatral, dinâmico e exuberante.
Críticos posteriores atacaram os gestos exagerados, a ornamentação exces-
siva e o sentimentalismo patente. No contexto, porém, as obras eclesiásticas
barrocas devem ser vistas como projetos que visavam envolver diretamente
as pessoas e os ideais religiosos.
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O Barroco apareceu nesse contexto expressando o contraste do período,


como a espiritualidade e o teocentrismo da Idade Média e o racionalismo e o
antropocentrismo do Renascimento. Os artistas barrocos foram patrocinados
pelos burgueses, monarcas e pelo clero (SILVA, 2018).
Além disso, o Barroco foi um período literário caracterizado pelos contras-
tes, oposições e dilemas. O homem dessa fase da história buscava a salvação
e, ao mesmo tempo, queria aproveitar os prazeres mundanos. Bernardes (2018)
destaca que esse período foi fruto de uma atitude espiritual complexa, que
levou o homem a se expressar artisticamente de uma forma bastante particular.

O humanismo foi um movimento de glorificação do homem e da natureza humana


que surgiu na Itália em meados do século XIV.
O homem, a obra mais perfeita do Criador, era capaz de compreender, modificar e
até dominar a natureza. O pensamento humanista provocou uma reforma no ensino
das universidades, com a introdução de disciplinas como poesia, história e filosofia.
Os humanistas buscavam interpretar o cristianismo, utilizando escritos de autores
da Antiguidade, como Platão. Esse estudo dos textos antigos despertou o gosto pela
pesquisa histórica e pelo conhecimento das línguas clássicas, como o latim e o grego.
A partir do século XIV, ao mesmo tempo que os renascentistas se dedicavam ao
estudo das línguas clássicas, diferentes dialetos davam origem às línguas nacionais.
Gestado nessa época, o humanismo se tornou referência para muitos pensadores
nos séculos seguintes, inclusive para os filósofos iluministas do século XVIII.
Fonte: Diana (2018).

Características do Renascimento e do Barroco


A arquitetura renascentista foi desenvolvida entre os séculos XIV e perma-
neceu até o século XVI. Esse novo estilo se contrapôs aos modelos medievais
e da arquitetura gótica, inspirando-se nas artes clássicas e tornando-se um
estilo próprio. Esse gênero de arquitetura apresentava uma visão voltada ao
classicismo e ao humanismo. Seus conceitos romperam bruscamente com a
produção artística que vinha sendo feita na Idade Média.
Conforme destaca Pereira (2011), diferentemente do estilo gótico, essa
arquitetura renascentista se baseava em duas premissas fundamentais. A
primeira foi o uso de figuras geométricas elementares e de relações matemá-
ticas simples; a segunda foi a reutilização das ordens clássicas das tradições
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grega e romana. Assim, o Renascimento estabeleceu uma oposição entre o


velho e o antigo: entre as arquiteturas medievais entendidas como variáveis
e a arquitetura clássica entendida como categórica.
Com relação aos planos e volumes das edificações, a arquitetura renascen-
tista levava em consideração a simetria e a proporcionalidade, marcada por
linhas centrais (Figura 1). As naves das igrejas eram divididas em pequenas
partes com o intuito de parecerem maiores. Suas torres eram uniformes e
também simétricas, e os telhados eram arredondados em virtude da influência
clássica. Além disso, arcadas semicirculares predominavam nas fachadas, em
geral, com linhas clássicas.

Os humanistas estavam certos de que a ordem cósmica divina poderia ser


expressa na terra por meio de tais proporções matemáticas, que estavam ine-
vitavelmente relacionadas às medidas do corpo humano. Os arquitetos re-
nascentistas mantiveram o interesse pela geometria que tanto influenciara a
arquitetura medieval. Em vez de usar as complexas transformações geométricas
dos mestres-pedreiros medievais, valorizaram especialmente formas “ideais”,
como o quadrado e o círculo (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2013, p. 306).

Figura 1. Características da arquitetura renascentista.


Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2013).
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Dentre os aspectos gerais da arquitetura renascentista, pode-se destacar:

 retomada dos modelos clássicos;


 visão humanista e racionalista;
 uso da matemática e da geometria na formulação das plantas;
 busca da perfeição e da beleza;
 preocupação com a proporção;
 formas equilibradas e harmoniosas;
 busca da simetria e da ordem;
 estilo formal e individual;
 temas religiosos, mitológicos e da natureza;
 uso dos arcos, abóbodas, cúpulas e colunas;
 predomínio das linhas horizontais.

Já a arquitetura barroca apresentou-se de uma forma mais rebuscada e


detalhista, introduzindo uma nova estética às edificações do período. A ideia
era fazer transparecer na arquitetura o poder e a grandeza do catolicismo.
Assim, esse estilo é mais evidente nas igrejas, nos monastérios e nas catedrais
da época. Segundo Pereira (2011), esse estilo estava voltado para três aspectos
diferentes:

[...] em primeiro lugar, a um mundo cósmico, cuja ideia de universo implica


a mecanização e atomização; em segundo lugar, a um mundo artístico, no
qual a luz e a modelagem das formas, junto ao jogo de escalas, conduzem
ao cenário; e em terceiro lugar, a um mundo de formas arquitetônicas, a um
estilo propriamente dito, denominado “barroco”. Os grandes temas em torno
dos quais se fixa a atenção do mundo artístico do Barroco durante mais de um
século são três: o movimento, a luz e o ilusionismo cenográfico (PEREIRA,
2011, p. 159).

Conforme destaca Fazio, Moffett e Wodehouse (2011), em geral, a arqui-


tetura barroca é caracterizada por complexidade e drama espaciais criados
pela luz que vem de fontes ocultas. Seus efeitos eram obtidos por meio do jogo
dinâmico de formas côncavas e convexas, da preferência por espaços axiais
e centralizados expressos principalmente em elementos elípticos ou ovais, ao
mesmo tempo axiais e centralizados. Esses efeitos ainda se originavam da
integração criativa entre pintura, escultura e arquitetura para criar ilusões
e dissolver as fronteiras físicas. O ilusionismo ótico, derivado dos binômios
forma-luz e forma-cor, tem sua tradução particular no caráter cenográfico
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da arquitetura barroca ao qual nos referimos anteriormente. Para Pereira


(2011), o estilo barroco se manifesta:

[...] tanto nos elementos como no conjunto do edifício. Nos elementos


arquitetônicos, a nota essencial é a liberdade com que são tratados, dis-
cordando das normas renascentistas pelo desejo obsessivo de movimento:
os entablamentos se curvam e os frontões se partem e descrevem curvas,
contracurvas e espirais. Esse amor desenfreado pelo curvilí neo triunfa na
coluna salomônica, exemplo emblemático desse estilo. Mas o novo estilo não
apenas altera os elementos como transforma a concepção geral de um edifício
(PEREIRA, 2011, p. 158).

Com a característica das curvas, as paredes externas das edificações dei-


xam de ser retas e passam a se cruzar de forma ortogonal, o que influencia
os espaços internos, que não mais são quadrados ou retangulares. Segundo
Pereira (2011), ao oferecer abundantes planos oblíquos para o olhar ao mesmo
tempo que produzem a sensação de movimento, essas novas plantas criam
belos efeitos de luz.
Nesse sentido, pode-se destacar como característica do estilo barroco o
contraste entre tons claros e escuros, técnica que intensifica a expressão dos
sentimentos, bem como o predomínio da emoção em detrimento da razão. A
pintura desse estilo, encontrada no interior da igreja, é bastante realista e com
temas que vão desde a mitologia até a própria religião, tudo representado em
forma de retratos e cenas.
Na escultura desse movimento, também presente nas edificações arquitetô-
nicas desse estilo, é possível perceber as expressões de sofrimento, alegria e dor.
Essa arte exprime movimentos e cenas dramáticas e tem como características
o predomínio da linha curva, o uso da cor dourada e o efeito drapeado das
vestes. As principais características do movimento barroco são:

 o rebuscamento e o exagero nas cenas, figuras e nos detalhes


arquitetônicos;
 a valorização e o excesso dos detalhes;
 o jogo de contrastes realizados a partir dos tons das cores e dos efeitos
de luz e sombra;
 a valorização das cores e dos contrastes nas obras;
 a apresentação de movimento nas artes;
 os principais temas representados são as passagens bíblicas, a história
da humanidade e mitologia;
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 as cenas representadas pelos artistas se referem à vida da nobreza e


também ao cotidiano da classe burguesa;
 alguns artistas do estilo barroco se utilizavam da técnica da perspectiva
para decorar o interior das igrejas;
 tanto na escultura quanto na arquitetura, havia o predomínio da cor
dourada, os relevos e as curvas.

O estilo barroco, a partir de sua arte, tinha por intuito converter, conven-
cer e catequizar a população. Nesse sentido, praticamente todas as criações
artísticas do movimento eram voltadas para o ensino dos valores da religião
católica. O estilo ressalta a oposição entre o céu e o inferno e a contraposição
entre o antropocentrismo e o teocentrismo, apresentando alguns conflitos
entre os valores renascentistas, presentes no período anterior ao barroco,
e a ética cristã, evidenciada nesse movimento. A representação nesse es-
tilo barroco demonstra a incerteza e a fragilidade humanas comparadas à
segurança e ao poder da Igreja Católica, além do conflito entre o corpo
e a alma e o questionamento entre aguardar a eternidade ou aproveitar
a vida efêmera.

Renascimento e barroco: obras de destaque


A partir do importante período da arquitetura renascentista e barroca, surgiram
diversas obras que se tornaram marcos para arquitetura mundial e que, ainda
hoje, são referência desses estilos. Segundo Farrelly (2015), um dos símbolos
mais marcantes do Renascimento italiano é a cúpula de Santa Maria del Fiore
(Figura 2), em Florença, projetada por Filippo Brunelleschi.

Nela, a necessidade de cobrir um vão de 42 metros exigiu uma solução sem


precedentes na história, levando Brunelleschi a elaborar um método criativo
para amarrar a base da cúpula com uma corrente de ferro gigantesca, de modo
a resistir aos enormes empuxos para fora. Além de adaptar a linguagem da
planta baixa das igrejas góticas para produzir uma arcada semicircular que se
apoiava nas colunas clássicas da Basílica de Santa Maria do Espírito Santo,
Brunelleschi usou uma forma semelhante na arcada extremamente delicada
na fachada do Hospital dos Órfãos, em Londres. Assim, ele reinterpretou a
linguagem clássica de maneira criativa, modificando os precedentes encon-
trados na arquitetura clássica e adaptando-os às tipologias de edificações
contemporânea (FARRELLY, 2015, p. 43).
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Figura 2. Catedral Santa Maria del Fiore.


Fonte: Betoni (2018, documento on-line).

Outra obra significante do período do Renascimento é a Piazza del Cam-


pidoglio (Figura 3), na cidade de Roma, que foi projetada por Michelangelo
como um pátio em forma elíptica. Além da praça, o artista projetou, também,
duas edificações ao redor da mesma, dando a sensação de aumento de perspec-
tiva. “A Piazza del Campidoglio possui uma estátua equestre centralizada do
imperador romano Marco Aurélio. A praça de Michelangelo reúne geometria,
percursos arquitetônicos e monumentos em um exemplo coerente de projeto
urbano” (FARRELLY, 2015, p. 44).

Michelangelo aproximou a arquitetura do ornamental e do ilusório; sua


obra era projetada com o intuito de evocar emoções e um sentimento de
teatralidade. Durante esse período, o renascimento da arquitetura clássica
adotou o Maneirismo (um estilo caracterizado pelas distorções em escala e
perspectiva, bem como pelo uso de cores vibrantes) e, por fim, aproximou-
-se da opulência e da decadência do Rococó, criando edificações e espaços
cívicos descritos como panos de fundo teatrais para os eventos urbanos
(FARRELLY, 2015, p. 45).
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Figura 3. Piazza del Campidoglio.


Fonte: Civatis (2018, documento on-line).

No período barroco, um dos marcos da arquitetura se dá com a construção


do Palácio de Versalhes (Figura 4). Cheio de detalhes e ornamentos em dourado,
essa edificação passou por ampliações até chegar à sua planta final, no ano de
1661. Elaborado por arquitetos e paisagistas, ele conecta a edificação e seus
jardins de modo impressionante, unindo o interior e o exterior por meio de
vistas e eixos considerados com cuidado.

Figura 4. Palácio de Versalhes.


Fonte: Lorenzi (2015, documento on-line).
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Outro marco da arquitetura barroca é a Catedral de Saint Paul (Figura 5),


em Londres, construída após a destruição da anterior no grande incêndio de
Londres. A cúpula da Catedral se destaca na silhueta da cidade e é uma carac-
terística e referência visual importantíssima para a paisagem.

Figura 5. Catedral de Saint Paul.


Fonte: Lorenzi (2018, documento on-line).

BERNARDES, L. Barroco. 2018. Disponível em: <https://www.todoestudo.com.br/historia/


barroco>. Acesso em: 05 out. 2018.
BETONI, S. O Duomo de Florença: a catedral de Santa Maria del Fiore. 2018. Disponível
em: <https://www.oguiademilao.com/o-duomo-de-florenca-a-catedral-de-santa-
-maria-del-fiore/>. Acesso em: 03 out. 2018.
CIVATIS. Piazza Campidoglio. 2018. Disponível em: <https://www.tudosobreroma.com/
piazza-campidoglio>. Acesso em: 03 out. 2018.
FARRELLY, L. Fundamentos de arquitetura. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2015.
FAZIO, M.; MOFFETT, M.; WODEHOUSE, L. A história da arquitetura mundial. 3. ed. Porto
Alegre: Penso, 2013.
O contexto histórico do mundo ocidental da Idade Moderna (Renascimento e Barroco)... 13

LORENZI, G. Catedral de São Paulo em Londres. 2018. Disponível em: <https://www.


dicadelondres.com.br/2015/06/catedral-de-sao-paulo-em-londres-inglaterra.html#>.
Acesso em: 05 out. 2018.
LORENZI, G. Palácio de Versalhes na França: visita ao Palácio e jardins de Versalhes. 2015.
Disponível em: <https://www.dicasparis.com.br/2015/06/palacio-de-versalhes-em-
-paris-franca.html#>. Acesso em: 03 out. 2018.
MACHADO, L. A evolução da indumentária pela visão dos grandes mestres da pintura:
do Gótico ao Impressionismo. 2012. Disponível em: <https://lilimachado.wordpress.
com/2012/05/05/contexto-historico-do-renascimento/>. Acesso em: 05 out. 2018.
PEREIRA, J. R. A. Introdução à história da arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2011.
SILVA, D. Barroco. 2018. Disponível em: <https://www.estudopratico.com.br/barroco/>.
Acesso em: 05 out. 2018.

Leituras recomendadas
DIANA, D. Renascimento: características e contexto histórico. 2018. Disponível em: <ht-
tps://www.todamateria.com.br/renascimento-caracteristicas-e-contexto-historico/>.
Acesso em: 05 out. 2018.
YAGO, R. Características gerais da arquitetura renascentista. 2015. Disponível em: <http://
molequeslisos.blogspot.com/2015/06/caracteristicas-gerais-da-arquitetura.html>.
Acesso em: 03 out. 2018.
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