Captura de Ecrã 2022-09-19 À(s) 09.44.25
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Este Blogue foi criado para ser um espaço de publicação e debate sobre o essencial do
nosso conhecimento jurídico. Este é um lugar onde a dúvida reina e inovar os conteúdos
que encontramos nos manuais que estão disponíveis é um dever, por isso, erraremos
muitas vezes, o que nos é preferível à não tentarmos.
Baseado no Livro: Direito Processual Penal – Noções Fundamentais do Prof. Vasco A. Grandão
Ramos. E nos apontamentos feitos das Aulas por ele ministradas no ano Lectivo 2011
Introdução
Este Trabalho surge como uma forma de gratificação ao Professor Grandão Ramos.
estudantes do 4.º ano de Direito em Angola um meio acessível de aceder à cidadela jurídica do
processo penal.
Este trabalho poderá conter eventuais erros e como não podia deixar de ser será periódicamente
complementado e corrigido.
Contudo, esperamos reação dos seres pensantes que a este texto acederem.
Capítulo I
Noções Gerais
Direito Penal
Como diz o Prof. Castanheira Neves, o processo penal é a forma juridicamente válida da
jurisdição criminal. Jurisdição é o poder de julgar e constitui a dimensão material do processo
penal e o processo é o momento ou a dimensão formal da jurisdição.
Sem o direito processual penal, o direito penal não poderia realizar-se e aplicar-se aos
factos concretos da vida de relação em função da qual ou para a disciplina da qual existe.
mediante o processo penal regulado pelo direito processual penal (nulla poena sine judicio nulla
poena sine processu). O monopólio estadual e da jurisdição penal e a necessidade absoluta de o
fazer mediante um processo regulado são as duas dimensões do princípio da jurisdição.
Há normas de direito processual penal cuja natureza se discute: possuem natureza mista:
simultaneamente substantiva e adjectiva e normas que estão na fronteira entre estes dois ramos de
direito.
Numa fase posterior, mas ainda primitiva, surgiu a justiça familiar, mais tarde a do clã: os
membros da família encontravam-se tão intrinsecamente ligados por laços de solidariedade,
governada por regras de trato social orais aceites tradicionalmente pelo grupo, no qual se sentiam
todos iguais, com uma origem comum responsáveis pela convivência social e pela conduta de
todos, destacando-se entre eles o patriarca ou chefe do clã que estabelecia o poder na base de uma
autoridade ético assente no prestígio ganho a custa do seu valor pessoal, da sua destreza na guerra
Sendo a sociedade, do tipo comunista primitivo, a justiça era uma tarefa simples, e as
principais ofensas consistiam em ofensa aos interesses colectivos: aos bens comuns, a morte de
um parente, etc. E as punições podiam ser a expulsão com ou sem desonra do grupo, deixando o
indivíduo socialmente desprotegido e eventualmente com pena de morte. Usava-se naquela altura
um processo presidido pelo chefe do clã, público, sumário e oral, solicitado contra o infractor à
regras costumeiras da comunidade, o qual passou a ser usado depois para faltas menos graves.
A vingança privada, porém, em prejuízo da justiça aplicada pelo chefe do clã, em função
do crescimento económico e da sociedade em geral e da passagem a novas formas de organização
social (esclavagismo) que favoreceram o enfraquecimento do poder das pequenas comunidades e
consequentemente dos seus chefes, combinado com a falta de organização das novas potências
sociais, afirmou-se como a forma habitual de reacção às ofensas sofridas. A vingança era um
direito para a vítima e a sua família e era um dever imperativo para com os seus. A vingança era
considerada justa, natural aceite pela ética. A vingança pela morte de um familiar a qual se
operava pela morte de um membro da família do ofensor ou do próprio ofensor, era chamada a
vingança de sangue.
Por solidariedade activa ou passiva a vingança tornou-se numa questão entre clãs e se não
satisfeita tempestivamente degenerava-se em guerras abertas (em que tudo valia mesmo os meios
mais reprováveis).
A vingança privada constituía uma garantia sumária de manutenção da ordem social, nas
relações entre clãs, pois que o temor a vingança prevenia o cometimento de crimes ou em alguns
casos os clãs expulsavam o seu membro ofensor ou ainda o entregavam ao clã ofendido para que
se cumpra a vingança (tida como justiça).
Nesta nova fase, a vingança manteve-se, mas passou a ser controlada pelo poder: só era
permitida em determinadas condições e determinados lugares (tendo sido definidos lugares de
asilo), reconhecida a certas pessoas, diferindo o seu regime em função da natureza voluntaria ou
involuntária da ofensa; criaram-se mecanismos para limitar legalmente a vingança.
i. A composição pecuniária –
Passava pela entrega de dinheiro ou de bens de produção pelo ofensor ao ofendido. Era o preço
acordado e pago ao vingador para renunciar a vingança. No princípio era voluntária, mas com o
tempo passou a ser tarifada e antecipadamente estabelecida, sobretudo na fase da justiça pública,
substituiu a werhgeld (vingança de sangue), por isso é tida como uma das mais importantes
instituições deste período. Atingia em certos casos, somas que o ofensor não podia pagar, facto
que incitava a manifestação da solidariedade familiar que reunia a quantia necessária.
O agressor era expulso da comunidade por decisão colectiva tomada pela família ou pelo seu
chefe com o consentimento da família, ou entregue ao grupo social a que pertencesse o ofendido,
podendo este grupo submetê-lo a escravatura ou até mesmo matá-lo, livrando assim a sua família
da vingança.
iii. O Talião –
Tida como uma das instituições mais importantes do período da vingança privada, ao lado da
composição pecuniária, pois surge para limitar a vingança à medida da ofensa, individualizando
assim a pena, facto que levou o poder a protegê-la, ainda que impondo-lhe frequentes e diversos
limites.
muitos sistemas de justiça antigos. O seu conteúdo é traduzido na expressão «olho por olho e
dente por dente».
Por esta instituição se permitia ao acusado que provasse a sua inocência por intermédio dos
amigos e familiares que juravam com ele a sua inocência e o valor da sua palavra, sendo,
entretanto variável o número de jurados: no direito franco a regra era de 24, havendo casos
v. O Combate Judiciário –
O ordálio foi um meio usado (e em alguns casos ainda é usado: em meios tradicionais), por em
todo o mundo que consistia na submissão do suspeito ou acusado a uma prova conhecida como
juízo de Deus quase sempre de resultados aleatórios que revelaria a culpa ou a inocência daquele
que a ele fosse submetido. Os ordálios variam de época em época e de região em região.
Consistiam as vezes na ingestão de bebidas venenosas ou numa prova de fogo, ou ainda pela
submersão do suspeito com as mãos e pés atados, e a sua inocência era determinada pela sua
sobrevivência da submersão, ou a ingestão do veneno ou da sua cura das queimaduras.
parte particular for relegada a um plano tão acessório que o processo penal possa correr sem que a
sua intervenção seja indispensável.[3]
A repressão criminal é uma função da sociedade e ao pena meio daquela repressão, tem
por objectivo a reparação do dano social causado a sociedade pelo crime que é por natureza e por
regulado por normas jurídicas, isto é, só através do processo é legítimo ao Estado fazer justiça:
Princípio Nulla poena sine processu.
(DESCRIÇÃO SUMÁRIA).
Com o exercício público da justiça penal ou com o exercício da justiça penal pelo Estado,
o processo penal ganhou maior relevância, pela importância atingida pelas actividades de
investigação, de recolha de provas, de determinação da culpa em fim de todas as actividades
tendentes a verificação dos pressupostos da aplicabilidade das penas realizando nos casos
identifica o processo penal permitem dividi-lo em dois tipos diferentes: o processo do tipo
acusava-o de viva voz. No princípio o acusador era o ofendido, com o passar do tempo a acusação
passou a ser feita pelo povo directamente ou por um representante seu. Nos tempos modernos o
Estado criou um órgão para este fim: o Ministério Público atribuindo-lhe a titularidade da acção
penal.
provas apresentadas por cada uma das partes: acusado e acusador estavam perante o tribunal em
posição de perfeita igualdade, e o tribunal limitava-se a ouvi-las e apreciar as provas que as partes
As partes dado o seu papel constitutivo no processo penal podiam influenciar o rumo do
processo.
O juiz era passivo e sem iniciativa em relação a investigação. O processo era quanto a
A apreciação da prova era livre e a sentença fazia caso julgado. Presumindo-se sempre a
inocência do acusado este tipo de processo, quase desconhece a prisão preventiva.
Começa com a fase da investigação, dirigida por um juiz, com vínculos estreitos ao
Estado, o qual representava e de quem dependia. Investigação, com frequência começava com
base numa denúncia secreta, precedia a acusação deduzida pelo juiz investigante oficiosamente, o
qual, na forma mais primitiva do processo inquisitório, sequencialmente procedia ao julgamento.
Assim as funções de investigar, instruir, acusar e julgar estavam reunidas na mesma entidade.
Desaparecia o direito de defesa, o réu não tem qualquer direito e não pode influenciar o
rumo do processo.
Quanto a forma o processo é escrito e secreto. A prova era legalmente tarifada, dando-se
maior relevância probatória a confissão, tida como rainha das provas e obtida mediante torturas e
a sentença não fazia caso julgado. A regra era a prisão preventiva, dada a mera denuncia fazer
Se atentarmos bem nas características do processo acusatório, haverá que concluir ter
sido ele o primeiro a surgir na história das instituições judiciárias, remontando a um período
anterior ao da justiça privada, momento em que a justiça era privada, tendo o poder se limitado a
estabelecer regras para a contenção e controlo da vingança privada.
princípio da acusação popular e afirmou-se no direito romano, entre o fim da república até ao
império, com as suas quaestiones que começaram a aplicar-se apenas a certos crimes, passando a
Neste tipo de processo era necessário que um cidadão (acusator) em nome do povo,
acusasse o arguido. As partes interessadas alegavam oral e publicamente e produziam provas. A
questão era decidida por uma assembleia ou júri (quaestio perpetua), presidida pelo pretor (sem
direito a voto), na base da convicção de cada um dos membros, pois o voto era secreto. Era um
sistema acusatório puro, pois havia uma manifesta separação entre a acusação, a defesa e o
julgador e a publicidade, a oralidade, e a igualdade entre acusador e réu perante um ju8iz
limites: tendo os magistrados sido equipados com poderes de instrução, com a tortura como
prática usual e geral. O processo penal romano evoluiu assim para um processo do tipo
inquisitório, cuja vigência foi suspensa aquando da conquista do império pelos povos bárbaros
(germanos, bárbaros, franceses visigodos, dentre tantos) os quais tinham um processo penal com
conquista levantada, tendo o processo do tipo inquisitório se governado de modo absoluto o auge
da idade média europeia ( séc. XVII e XVIII) e aos alvores do século XIX, por influência da igreja
relativa garantia para os acusados. Durante o Pontificado de Bonifácio VIII se transformou num
processo inquisitório puro.
obrigado a se defender às cegas. A confissão era a rainha das provas e era geralmente obtida sob
tortura extrema. O julgamento era secreto e ao réu não se reconhecia o direito de defesa, sendo
obrigado a aceitar o defensor «fantoche» que lhe era oferecido pelo tribunal.
Presumia-se a culpa do acusado o que permite a sua salvação da condenação apenas pela
impossível prova da sua inocência. Este tipo de processo influenciou decisivamente o processo
penal e serviu magnificamente aos monarcas absolutos para defenderem os seus omnímodos
poderes, como diz Prieto Morales. O processo do tipo inquisitório é ligado ao despotismo político
e ao fanatismo religioso.
Este tipo de processo reinou ao serviço do poder central e absoluto dos reis, mantendo as
suas características inalteradas: predomínio da investigação, e acusação oficiosas, acumulação das
Foi este processo que os precursores da revolução francesa propuseram como o modelo
de justiça democrática.
Entenderam, por isso, adoptar um sistema que, sem grave diminuição das garantias individuais do
acusado, maxime do direito de defesa, repelisse com êxitos as investidas contra os interesses e
valores fundamentais da nova sociedade, reduzindo o índice da criminalidade.
Surgiu, assim, incorporado no Code de Instruction criminelle de França em 1811, o sistema misto,
também denominado sistema napoleónico. Este processo era caracterizado por ser um processo do
tipo inquisitório na fase da instrução preparatória, secreta, escrita e acusatório na fase de
julgamento, pública, oral e contraditória. E as duas fases não são presididas pela mesma entidade.
É hoje o sistema dominante em quase todo mundo, incluindo em países socialistas, verbi gratia:
Cuba, como em cuba sendo apenas de realçar que nestes pela participação popular na
administração os tribunais são todos colectivos, sendo compostos por um juízes juristas e leigos.
[5]
autoridade do Estado e a importância reconhecida aos cidadãos dentro do Estado. Quanto mais a
autoridade do Estado se reforço maior é a tendência inquisitória do processo penal. E, quanto
maior a importância do cidadão para o Estado, maior será a tendência acusatória do processo
penal.
Contudo, o processo do tipo inquisitório é um instrumento perfeito para a defesa dos
processo misto reflectem também, a maneira como o Estado se organiza, e o papel que os
consoante se atribua maior relevância para os interesses totalitários do Estado ou aos direitos
fundamentais do cidadão. Com a democratização do mundo, nas últimas décadas, há uma
tendência cada vez maior, da adopção de sistemas mistos com tendência acusatória, mas com
largos poderes de investigação concedidos quer na fase inicial aos agentes de instrução, quer aos
instrução preparatória, ou ainda da formação do corpo de delito, complementada por uma subfase
de instrução contraditória.
Uma fase de julgamento, presidida pelo Juiz, a que corresponde o processo principal, na qual se
Na fase de instrução preparatória, presidida pelo Ministério público (…), é secreta, escrita.
integrada no Ministério do interior (Lei nº 12/78), salvo no que toca a resolução de questões sobre
A fase da instrução do processo pode ser dividida em duas sub-fases: fase da instrução
preparatória ou corpo de delito e a fase da instrução contraditória.
basta com a simples suspeita da existência da infracção. Sendo assim, este conhecimento, a base
de um Juízo de suspeita, de que se cometeu um crime e de certa pessoa o cometeu. O Juízo de
realizadas no sentido de confirmar a suspeita inicial e reunir provas sobre a existência do crime e a
identidade do seu agente e a sua forma de participação no crime. Se a por falta ou insuficiência de
prova a suspeita não se confirma, o processo fica a aguardar pela produção de melhor prova ou
arquivado.
Acusação esta, que é uma manifestação de um juízo de probabilidade. Através dela o processo é
introduzido em juízo e assume a natureza de processo judicial, tão logo o juiz confirme o juízo de
probabilidade, pronunciando o acusado.
real do crime e da pessoa do arguido e põe termo a fase da instrução (art. 365º CPP).
probabilidade em juízo de certeza, através de uma decisão, que considerando a verificação ou não
da infracção penal, aplique ao réu a sanção prevista na lei.
A essa decisão pode se recorrer para uma instância judicial superior, gerando uma nova fase, a
fase dos recursos.
[4]O processo penal inglês, possui duas partes, uma de cada lado, em situação de
absoluta igualdade, que discutem contraditoriamente a lide perante um juiz passivo, mas
atento. A acção penal é do povo, sendo exercida pela polícia, agindo como um simples
particular. Mesmo se passa nos Estados Unidos de América , sendo apenas de realçar
que naquele país , a acção penal é pública, sendo exercida pelos attorneys, que
representam o Estado (A. Barreiros, Ob. Cit. Página 104 e Seguintes.
[5] Para maiores desenvolvimentos sobre o sistema do tipo socialista vide Direito
27 comentários:
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Dandara Baçã 19 de agosto de 2016 às 18:21
Muito bom poder ver que o direito processual angolano se assemelha tanto ao brasileiro.
Muito bom poder ter essa proximidade processual
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Os meus cumprimentos.
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Métson 23 de novembro de 2020 às 20:37
Eu preciso do material completo. Será que é possível fazer a gentileza de publicá-lo?
Por favor.
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Acerca de mim
Macklion Waters Chimuco
Luanda, Luanda, Angola
Armindo Moisés Kasesa Chimuco Telemóveis: +244926237411, +244914252974 E-mail:
kasesachimuco@gmail.com Mestre em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de
Coimbra de 2013 a 2015. Licenciado em Direito no Ano Lectivo 2012 pela Faculdade de Direito
da Universidade Agostinho Neto em Luanda Secundário em Ciências Sociais, pelo Colégio
Adventista do Sétimo Dia do Huambo; Curso Básico de informática na óptica do Utilizador Domina:
Português: Falado e Escrito Fluentemente Inglês: Falado e Escrito Fluentemente Umbundu:
Escrito e Falado Fluentemente Francês: Conhecimentos Básicos É Advogado-Estagiário; Foi
Docente na Universidade José Eduardo dos Santos em regime de colaboração; Colaborador do Centro
de Pesquisa em Políticas Públicas e Governação Local da Universidade Agostinho Neto; Foi Paralegal
da Ckadvogados de Setembro de 2011 a Março de 2013.
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