Parecer Jurídico

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PARECER JURÍDICO

PARECER JURÍDICO – No 001/2020


CONSULENTE/ INTERESSADO: NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA/ PRÁTICA DE
PROCESSO CIVIL
PARECERISTA: Lara da Silva Ribeiro
EMENTA:
COVID-19 – PANDEMIA GLOBAL – EFEITOS NA ECONOMIA – SITUAÇÃO
JURÍDICA DOS ALIMENTOS – COLISÃO DOS DIREITOS DO ALIMENTANTE
E DO ALIMENTANDO – PRISÃO DO DEVEDOR.
- A COVID-19 foi uma situação inesperada por toda população mundial, trazendo
consequências nefastas para a humanidade.
- As economias brasileira e mundial estão sofrendo sérias consequências com o fechamento
de várias atividades, comprometendo a renda de inúmeros profissionais, notadamente,
autônomos e informais.
- Diante da situação existente, deve-se verificar a colisão dos direitos do devedor dos
alimentos (alimentante) e do credor (alimentando), aplicando o direito mais preponderante.
- A prisão do devedor alimentar, em período de pandemia é possível, mas deverá ser mitigada,
de modo a não agravar ainda mais o contágio pela doença.

RELATÓRIO:
Trata-se de solicitação de parecer jurídico objetivando analisar a questão da pendência da
COVID-19, seus efeitos na economia brasileira e mundial, análise quanto a colisão dos
direitos do devedor de alimentos e do credor, levantar questões a respeito de redução,
majoração ou exoneração da obrigação alimentar, bem como se será possível suspender o
pagamento dos alimentos e não sofrer as consequências pela inadimplência, e de como deverá
proceder a execução e o cumprimento de sentença nesse período pandêmico.

FUNDAMENTAÇÃO:
O atual cenário pandêmico da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, já tem
causado grandes impactos na economia brasileira e mundial. Diante da situação existente,
inúmeros profissionais, notadamente, autônomos e informais estão sofrendo sérias
consequências decorrentes deste impacto econômico.
Estima-se que o custo da pandemia de coronavírus pode chegar a trilhões, dependendo da
evolução do surto. O impacto da Covid-19 pode ser mais brando se os governos agirem com

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eficácia para mitiga-lo. Mas não há dúvidas de que o mundo está ficando cada vez mais pobre
por causa da pandemia.
Milhões de pessoas não trabalham e não procuram ocupação devido ao isolamento, outras
milhões de pessoas foram afastadas do trabalho ou tiveram alguma redução no rendimento.
Tais perdas, foram expressivas entre os trabalhadores informais e os ocupados em serviços
essenciais. Entretanto, o auxílio emergencial tem sido essencial para cobrir parte desta perda
de rendimento. Isso significa, que metade desses trabalhadores foram contemplados com esse
benefício, uns receberam o valor de R$ 600,00 (seiscentos reais) ou R$ 1.200 (mil e duzentos
reais), dependendo do caso, ou seja, praticamente cobriu a maior parte das perdas.
Sendo assim, diversas relações jurídicas vêm sendo afetadas, como as várias indagações
quando o assunto é posicionamento alimentar, seja ele para os filhos ou até mesmo para o
cônjuge.
Assim, a perspectiva que será tratada, gira em torno da redução, majoração ou exoneração da
obrigação alimentar, gerando efeitos prolongados após o fim do isolamento social, pelo
enfraquecimento da economia como um todo.
Nos moldes do artigo 1694, §1° do Código Civil, estabelece o direito potestativo a alimentos
em relação a parentes de linha reta e colateral, até o segundo grau, em relação ao cônjuge e ao
companheiro e também consagra o que conhecemos de binômio, possibilidade-necessidade
que determina a quantidade das prestações alimentícias, ou seja, a proporção das necessidades
e dos recursos da pessoa. Entretanto, as necessidades podem variar conforme a situação de
ambas as partes. Complementando com o artigo 1695 do mesmo código, deve-se levar em
consideração não apenas o que efetivamente o devedor ganha, mas, igualmente o que ele
necessita para se manter.
O artigo 1699 também do Código Civil, dispõe que a obrigação de pagar alimentos é de
execução continuada. Havendo “mudanças na situação financeira de quem os supre, ou na de
quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstancias,
exoneração, redução ou majoração do encargo”.
Com base no artigo 15 da Lei 5.478/1968, dispõe sobre ações de alimentos e dá outras
providências, como por exemplo que a qualquer tempo a decisão judicial de alimentos poderá
ser revista em face da situação financeira dos interessados.
Já no artigo 528, §2° do Código de Processo Civil, prevê a possibilidade, de justificar a
impossibilidade de pagamento do débito no cumprimento de sentença, ou seja, dispõe desse
modo que somente justificará o inadimplemento caso a impossibilidade seja absoluta. No
entanto o §4º e 7° do mesmo artigo, caso a dívida em atraso corresponda as três últimas
prestações anteriores ao ajuizamento da execução, terá como consequência a prisão do
executado em regime fechado.
Porém, enquanto a resolução 313 do CNJ estiver em vigor, a prisão civil do devedor de
alimentos estará suspensa durante o período pandêmico e durante a sua vigência.
No caso da pandemia, ora relatada acima, existe um conflito de tais direitos, pois a renda do
alimentante está passando por uma queda significativa em razão da crise econômica em todos
os setores, impedindo-o de gerar a sua renda como de costume, tais necessidades é
visivelmente encontrada da mesma maneira em relação ao alimentando, principalmente nas
famílias de baixa

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renda, que muitas das vezes por exemplo, dependiam da merenda escolar para prover a
alimentação de seus respectivos filhos.
Assim, diante desta situação que todos nós estamos vivenciando, ambas as partes interessadas
poderão a qualquer momento procurar o Judiciário para propor a readequação do valor dos
alimentos, sendo avaliado também o padrão de vida dessas mesmas pessoas.

CONCLUSÃO:
Ao meu ver, com base na fundamentação, de fato a pensão alimentícia jamais deverá deixar
de ser paga ao alimentando, mas deverá haver um reequilíbrio mediante as necessidades
impostas por ambas as partes, ou seja, os alimentos fixados deverão abranger o indispensável
a manutenção da vida do alimentando, como por exemplo: assistência médica, sustento e
educação do filho menor ou incapaz, sendo sua prestação um dever inerente ao poder familiar
ou mútua assistência entre parentes.

Governador Valadares- MG, 30 de setembro de 2020.


Lara da Silva Ribeiro
OAB: _

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