Resumos de Filosofia

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Resumos de Filosofia

I - Abordagem introdutória à filosofia e ao filosofar


o O que é a filosofia?
A filosofia pode ser caracterizada como uma atividade conceptual crítica

 Atividade racional: usa a razão e o raciocínio


 Fundamentadora: procura justificar questões
 Crítica: examina a realidade

Os filósofos são os que sabem que não sabem, e amam a sabedoria. Estes devem adotar uma
postura de:

 Espanto perante a realidade


 Dúvida em relação ao saber adquirido
 Curiosidade pela descoberta
 Postura ativa face aos problemas
 Recusa da passividade

Características
gerais da filosofia

Historicidade Universalidade
Autonomia
Radicalidade Questionamento da
Métodos de análise Inquietações
Questiona as sua época comuns a todo o ser
e interpretação
próprias perguntas humano, a todas as
próprios
épocas e culturas

Senso comum Ciência Filosofia


 Grau de conhecimento  Pretende aprofundar o  Formula as questões
partilhado conhecimento das leis mais gerais e
 Não sistemático de funcionamento da fundamentais, visando a
 Acrítico realidade totalidade do real
 Subjetivo  Sistemático  Sistemático
 Metódico  Crítico
 Linguagem científica
Disciplinas da filosofia

 Ontologia (o que é o ser, o que é a realidade, o que é aquilo que é)


 Metafísica (causa primeira da realidade)
 Lógica (estrutura do pensamento)
 Filosofia da linguagem (relação entre a linguagem, o pensamento e a realidade)
 Gnosiologia (teoria do conhecimento)
 Epistemologia (conhecimento científico)
 Antropologia filosófica (o que é o ser humano)
 Axiologia (valores humanos)
 Estética (beleza)
 Filosofia da arte
 Ética (direitos e deveres)
 Filosofia política
 Filosofia da religião

o Tese, argumento, validade, verdade e solidez, quadrado da oposição

Atividade filosófica

Problematizar Argumentar
Conceptualizar
Identificar e formular Demonstrar
um problema
Elaboração de
racionalmente uma
filosófico conceitos
tese

Conceptualizar: Elaboração de conceitos

Argumentar: Demonstrar racionalmente uma tese

Termo: Conceito passado para linguagem. O termo “banco” pode exprimir dois conceitos diferentes.

Conceito: Tem maior compreensão se for mais específico, tem maior extensão se incluir um maior
número de elementos. A definição de um conceito deve apresentar as condições necessárias e
suficientes para que algo seja esse conceito. Não deve ser demasiado lata ou demasiado restrita,
aquilo que se pretende definir não pode surgir na expressão definidora, e a definição não pode ser
mais obscura do que o que se pretende definir.
Proposição: Frase declarativa com valor de verdade

Proposição condicional (Se P, então Q): A antecedente é condição suficiente para a consequente,
enquanto que a consequente é uma condição necessária para a antecedente

Proposição bicondicional (P, se e apenas se Q): Relação de equivalência: cada uma das proposições
é condição necessária e suficiente para a outra.

Proposições universais (afirmativas ou negativas)

Proposições não universais Singulares (um único indivíduo ou objeto)

Particulares (alguns indivíduos ou objetos)

Teses: Respostas possíveis aos problemas da filosofia. As teses mais importantes designam-se por
“ismos” (ex: teísmo, ateísmo,…)

Proposições consistentes: É possível que todas sejam verdadeiras

Proposições inconsistentes: Pelo menos uma das proposições é falsa

Argumento: Conjunto de proposições em que uma delas (a conclusão) é a tese defendida a partir
das restantes (premissas)

Argumento dedutivamente válido: As premissas implicam a conclusão, sendo impossível ter


premissas verdadeiras e a conclusão ser falsa.

Argumento indutivamente forte: As premissas confirmam a conclusão. É improvável que as


premissas sejam verdadeiras e a conclusão seja falsa.

Validade ou invalidade: Características próprias do argumento

Verdade ou falsidade: Características próprias das proposições

Argumento sólido: É um argumento válido que só tem premissas verdadeiras


Quadrado da oposição

Proposições contraditórias: valores de verdade opostos

Proposições contrárias: podem ser ambas falsas, mas não ambas verdadeiras

Proposições subcontrárias: podem ser ambas verdadeiras, mas não ambas falsas

Proposição subalterna: Se a universal é verdadeira, a particular é verdadeira. Se a particular é


falsa, a universal é falsa.

Lógica proposicional – Tabelas de verdade

Tautologia: As fórmulas proposicionais são sempre verdadeiras

Contingência: As fórmulas proposicionais tanto são verdadeiras como falsas

Contradições: As fórmulas proposicionais são sempre falsas

Fórmulas de inferência válidas

Modus ponens Modus tollens

Silogismo disjuntivo Silogismo hipotético

Contraposição Leis de De Morgan

Negação dupla
Falácias formais

Falácia da afirmação do consequente Negação do antecedente

Argumentos não-dedutivos

Indução

Generalização indutiva
Amostra numerosa
ou
diversificada
Previsão indutiva

Falácias informais

Generalização precipitada: Amostra Falsa relação causal: Existência de uma


demasiado reduzida falsa correlação
Amostra não representativa Ad hominem: Atacar a pessoa e não os
seus argumentos
Falsa analogia: Diferenças relevantes Apelo à ignorância: Conclui-se que uma
ignoradas proposição é falsa por não se saber é
verdadeira
Apelo à autoridade: Autoridade não é Ad populum: Conclui-se que uma
especialista proposição é verdadeira porque a
maioria das pessoas acredita nela
Petição de princípio: A conclusão está Boneco de palha: Distorcer o argumento
pressuposta nas premissas. Falácia da
circularidade
Falso dilema: Apresenta duas alternativas Derrapagem: Relações causais duvidosas
como sendo as únicas possibilidades que levam a algo terrível
II - A ação humana e os valores
o A rede conceptual da ação

Acontecimento Trabalho Ação


Satisfazer as necessidades de Produção de objetos Atividade consciente, intencional
sobrevivência (labor) não existentes no e voluntária do sujeito ou agente.
Independente da vontade mundo natural A escolha resulta de uma
deliberação consciente.
Tem de haver causalidade
intencional, ou seja, têm de ser as
crenças e desejos do agente a
desencadear o acontecimento.

Para que seja considerado uma ação, é necessário:

 Agente
 Consciência – perceção de si como autor da ação
 Intenção – Finalidade da ação (para quê)
 Motivo – justificação da ação (porquê)
 Deliberação – processo racional para ponderar os meios mais convenientes e as ações
 Decisão – manifestação da vontade do agente

Ação

Voluntária Involuntária
Ação cujo princípio reside no agente Ação cujo princípio é exterior à
(motivo intrínseco) que sabe as vontade do agente (motivo
ciscunstâncias concretas e particulares extrínseco), quer se gere por
nas quais se processa a ação. coação ou ignorância

Exclui-se a atividade metabólica e


as reações automáticas
o Determinismo e liberdade na ação humana

Condicionantes

Histórico-culturais
Físico-biológicas Características provenientes da
Características do património socialização (integração numa
genético sociedade e assimilação da sua
cultura)

o O problema do livre arbítrio

Terá o ser humano alguma liberdade genuína de decisão e de ação, ou serão estas
inteiramente determinadas por fatores que não controla?

Compatibilismo Incompatibilismo
Indeterminismo
Livre-arbítrio e Livre-arbítrio e
determinismo são Ações aleatórias e determinismo são
compatíveis imprevisíveis incompatíveis

Determinismo moderado Determinismo radical Libertismo

Libertismo

Argumentos

 Mundo material e ação humana são de naturezas diferentes, e regem-se por leis
diferentes (dualismo mente-corpo)
 As nossas ações não são nem determinadas nem aleatórias
 Podíamos agir de forma diferente de como agimos
Objeções

 A ilusão de livre-arbítrio resulta do facto de termos consciência dos nossos desejos, mas
ignorarmos as causas que os determinam.
 Não explica porque é que os seres humanos são especiais em relação ao resto da
natureza
 Se existe dualismo, o físico só teria efeito sobre o físico, e o mental sobre o mental. A
parte mental não podia ter efeito sobre o físico
 O dualismo defende que há duas naturezas, e não que uma é determinista e a outra não.
Os efeitos mentais poderiam ser causados por efeitos mentais anteriores.
 Uma escolha não determinada por acontecimentos anteriores é aleatória, e não livre.

Determinismo radical

O dilema do determinismo, ou dilema de Hume:

1 – Ou o mundo é determinista ou é indeterminista

2 – Se o mundo é determinista, não temos livre-arbítrio

3 – Se o mundo é indeterminista, não temos livre-arbítrio

Logo, não temos livre-arbítrio

Argumentos Objeções
Segundo a física de Newton: causas iguais, Acreditamos que a liberdade é um facto da
em condições iguais, geram efeitos iguais experiência

A indeterminação do futuro é uma ilusão Desresponsabilização moral


(demónio de Laplace - ser que conseguia
prever o futuro)

Argumento por apelo à economia e à Parece que não somos capazes de viver, de
simplicidade: se já verificámos que um fazer escolhas, e de agir sem pressupor o
mesmo princípio explica a quase totalidade livre-arbítrio
da realidade, porquê supor que a parcela
restante escapa a esse princípio?

Indeterminismo

Argumentos Objeções
Baseado na física quântica: não podemos As leis podem existir, e estar apenas fora do
prever o comportamento de um grupo de nosso campo de conhecimento
partículas
As nossas ações são mais ou menos
prováveis, mas estão sujeitas ao acaso
Determinismo moderado

Argumentos
A vontade humana, sendo determinada, é livre quando não é constrangida

A liberdade é ausência de constrangimento: agimos porque quisemos fazê-lo

O novo compatibilismo

 Princípio das possibilidades alternativas: o agente não podia ter agido de outra forma se
teve de agir como agiu. Ou seja, o facto de termos livre-arbítrio não implica que possamos
agir de outra forma.

Exemplo: X tem um dispositivo que controla o cérebro de Y. X quer que Y roube o quadro, mas
Y rouba-o sem que X ative o dispositivo. Y foi moralmente responsável pelo roubo, mas não
poderia ter agido de outra forma.

*Objeção: Mesmo assim, o agente pode optar por tomar a decisão, ou ser forçado por X a tomá-
la (possibilidades alternativas)

o Valores e valorização – a questão dos critérios valorativos

Valores: referências para o agir; ideias construídas pelo ser humano em sociedade ao longo
dos tempos.

Hierarquia dos valores: O conjunto de valores que orienta a ação está organizado
hierarquicamente em tábuas de valores ou escalas valorativas, segundo o grau de
importância que o sujeito, singular ou universalmente, lhes atribui.

Historicidade dos valores: Os valores têm caráter histórico, desenvolvendo-se e


transformando-se de acordo com as perspetivas do indivíduo e com o desenvolvimento das
sociedades.

Juízo de valor Juízo de facto

Apreciativo da realidade (avalia-a) Descritivo da realidade


Não tem valor de verdade Tem valor de verdade
Diz-nos como as coisas devem ser Diz-nos como as coisas são
Ex: O Eduardo agiu mal. Ex: Penso que o Eduardo agiu mal
Teorias sobre os valores e juízos de valor

Objetivismo Subjetivismo/Relativismo cultural


Há uma verdade objetiva sobre os valores Os valores não são propriedades objetivas do
mundo, sendo projetados nele por sujeitos
(subjetivismo) ou por culturas (relativismo
cultural)
Os valores são propriedades objetivas do Juízos de valor são verdadeiros/ falsos em
mundo, independentes do sujeito função dos indivíduos ou culturas.
Juízos de valor são uma parte dos juízos de
facto
O objetivismo não afirma que sabemos quais
os valores verdadeiros, mas apenas que há
uma verdade objetiva acerca destes

Argumentos a favor do objetivismo Argumentos a favor do


subjetivismo/relativismo cultural
1 – Argumento das consequências 1 – Torna possível a liberdade
moralmente indesejáveis Se os juízos nos fossem impostos, isso seria
Nenhum juízo de valor deve ser rejeitado, o uma violação da nossa liberdade
que implica aceitar juízos como “É bom e
justo matar quem não concorda conosco”

2 – Argumento da capacidade explicativa 2 – Argumento da estranheza dos valores


Há aspetos mais e menos relevantes a Ninguém tem provas que os valores sejam
destacar num quadro, numa ação,…No propriedades que existem no mundo
entanto, se nenhum juízo está mais correto autonomamente. Os valores seriam
do que outro, os especialistas têm apenas a entidades bizarras.
ilusão de estarem a educar ou a discutir. O objetivista responderia que isto não é
suficiente para provar que os valores não
existem.

3 – Argumento da coincidência de valores 3 – Argumento da diversidade ou do


Há uma grande coincidência de valores, desacordo
apesar da diversidade de pessoas, culturas,… Os juízos de valor variam enormemente de
indivíduo para indivíduo e de cultura para
cultura

4 – Argumento do dissidente (contra o 4 – Argumento da tolerância


relativismo cultural) Na dúvida, optamos pela teoria que
Alguns membros de uma cultura ou promove a tolerância entre indivíduos e
comunidade são contra os valores aceites comunidades
pela comunidade e segundo os quais foram O objetivista responderia que entramos num
educados. círculo vicioso, pois teríamos de aceitar
como objetivo o juízo “Ser tolerante é bom”.
5 – O subjetivismo torna irracional o debate Como os juízos são relativos, ser tolerante
sobre questões racionais não é uma vantagem
o Os valores e o multiculturalismo

Diversidade cultural
Etnocentrismo Relativismo cultural

 Os valores de uma cultura são absolutos  Não há valores absolutos


 As culturas são comparáveis  As culturas são incomparáveis
 Os padrões de uma cultura são  Há culturas diferentes, mas não
superiores superiores
 Universaliza os padrões culturais  Particulariza os padrões culturais
 Há verdades morais absolutas  Não há verdades morais

Argumentos a favor do multiculturalismo Argumentos contra o multiculturalismo

1 – Argumento do pós-colonialismo 1 – Argumento da discriminação


Os povos colonizados perderam a sua terra e intraminorias
a sua soberania, sofrendo a escravatura e o O multiculturalismo pode estar a proteger a
quase esmagamento da sua cultura discriminação dentro das minorias.
Este passado põe em causa a legitimidade da
autoridade do estado atual
A comunidade tem uma dívida histórica que
só pode ser saldada no presente

*Objeção: O argumento pressupõe que há


uma dívida histórica, que há atualmente
alguém que tem o dever de a saldar, e
alguém a quem a retribuição é devida.
Mas, mesmo que haja uma dívida, ela é de
alguém do passado para outrem também no
passado.

2 – Argumento liberal 2 – Argumento da indiferença igualitária


O valor de cada indivíduo é superior ao da As desvantagens físicas limitam as
comunidade. O valor da cultura é elevado oportunidades e a liberdade de quem delas
pois promove valores como a autonomia e a sofre
autoestima. Quanto à cultura, embora possa limitar as
Há assim uma distinção entre graus de nossas escolhas, só a aceitamos se
responsabilidade, pois é o acaso que nos quisermos
leva a nascer numa comunidade:
Sem responsabilidade: povos colonizados Objeção: Há limitações culturais que são
(grau elevado de direitos diferenciados) difíceis de contrariar pela força de vontade
Responsabilidade parcial: imigrantes do indivíduo, pois provêm da sua educação,
(medidas de favorecimento temporário) algo que ele não escolheu

Objeção: Há quem defenda que uma boa


legislação seria suficiente para acabar com
as desigualdades.

3 – Argumento comunitário 3 – O multiculturalismo dificulta o diálogo


A diversidade cultural é um bem social, por intercultural, pois não permite a
isso todas as culturas devem ser valorizadas comparação de culturas
Impossibilita a existência de valores culturais
*Objeção: A diversidade será sempre um Considera que todos os comportamentos
bem? Uma cultura única, se for justa, será são cultura, e como tal, qualquer crítica é
necessariamente pior? sinónimo de desrespeito e discriminação.

Paradoxo: O multiculturalismo é um valor da


cultura ocidental. Noutras culturas, há
princípios contra a igualdade entre grupos.
Se estas viverem no meio de sociedades
multiculturalistas, serão levadas a seguir um
princípio que não é seu – o
multiculturalismo.

o A fundamentação da moral: análise de duas teorias éticas

A teoria deontológica de Kant

Ações

Boas ou legais Morais


Contrárias ao dever Ações de acordo com a Ações cujo motivo foi o
norma ou em dever e não outro
conformidade com o interesse
dever

Boa vontade: A única coisa que tem valor incondicional

Imperativo Categórico: É um mandamento que nos indica os deveres cujo cumprimento é


sempre válido. São imperativos incondicionados, objetivos, universais e absolutos.

Imperativo hipotético: Um mandamento a que devemos obedecer numa certa condição.


Imperativo Categórico de Kant

Fórmula da Lei Universal

Age de modo a que possas desejar que a máxima da tua ação se torne lei universal

Máxima: Regra ou princípio que indica o motivo do agente

 Nós próprios, agentes racionais, somos os legisladores da lei moral. Esta resulta da nossa
autonomia e da vontade própria. O fundamento da razão é a racionalidade.

Fórmula da Humanidade

Trata sempre as pessoas como fins, e nunca como meros meios (por interesse)

Críticas à ética kantiana

1 – Não resolve conflitos entre deveres

Poderíamos responder que um dos deveres em conflito deveria ser relativizado em função do
grau de gravidade. No entanto, iríamos obter um Imperativo Hipotético, e não Categórico. Por
exemplo: “Diz sempre a verdade, a menos que…”

2 – Desculpa a negligência bem-intencionada

As consequências deveriam ter um papel nos nossos juízos éticos, visto que estas ações são
consideradas como crimes por negligência

3 – Ignora o papel das emoções na moralidade

Alguns consideram a piedade e a generosidade como sentimentos morais. No entanto, Kant


defende que só praticamos o bem por dever, pois as emoções são pouco fiáveis

4 – Seres não racionais

A Fórmula da Humanidade ignora os indivíduos que não têm a capacidade de fazer escolhas
racionais e autónomas (por exemplo: bebés, pessoas com deficiência mental,…)
A teoria utilitarista de Stuart Mill

Utilitarismo

Eudemonista Hedonista Consequencialista


Teleológico
Considera a Identifica a A consequência
Define o bem em
felicidade como o felicidade como da ação é o
função de um fim
objetivo da vida um estado de critério de
único
humana prazer moralidade

Princípio da Maior Felicidade ou da Utilidade

Age sempre de modo a produzir a maior felicidade para o maior número de pessoas

 O utilitarismo não visa a felicidade própria (não se centra no prazer ou bem-estar do agente)
 A felicidade é intrinsecamente valiosa
 Dá igual importância aos interesses próprios e aos de todos os outros que serão afetados
pela sua ação
 Como tendemos a dar mais importância à nossa própria felicidade, e como não conseguimos
prever muitas das consequências dos nossos atos, devemos guiar-nos também por
princípios secundários, tais como: “Não devemos maltratar inocentes” ou “não devemos
roubar”.

O conceito de felicidade

Hedonismo quantitativo (Jeremy Bentham): A vida mais feliz é aquela que tiver uma maior
quantidade (em duração e intensidade) de prazer

Hedonismo qualitativo: Uma vida feliz é preenchida por prazeres de qualidade superior
(exercício das capacidades intelectuais e emocionais). Os prazeres de qualidade inferior são
característicos dos animais, e quem experimentou os dois prefere os primeiros. Um prazer
fecundo é aquele que tem a capacidade de, no futuro, gerar ainda mais prazer. (exemplo:
ouvir música)
Críticas à teoria utilitarista

1 – Objeção do criminoso azarento ou do herói por acaso

O utilitarista responderia que mesmo que a ação seja boa, o agente pode não ser bom.

2 – Males sem prejuízo

Fazer algo que seja contra o dever mas que não prejudique ninguém não devia ser permitido
mas, segundo o utilitarismo, o que conta são as consequências da ação.

3 – Os benefícios de sacrificar

O utilitarismo poderia levar a provocar sofrimento a alguém para a felicidade de outros, uma
vez que se alcançaria uma maior felicidade desta forma.

4 – Objeção da máquina do prazer

Seria uma vida feliz aquela de alguém ligado a uma máquina do prazer? O prazer tem valor por
advir do nosso esforço e das nossas qualidades.

5 – Os problemas do cálculo da utilidade

Não é fácil realizar o cálculo das consequências das nossas ações para saber qual delas gera a
maior felicidade para o maior número de pessoas.

6 – Críticas à prova do utilitarismo

O utilitarismo baseia-se no seguinte argumento

1 – Cada pessoa deseja a sua própria felicidade

2 – A felicidade de cada pessoa é desejável ou boa para ela mesma

3 – A felicidade geral é desejável ou boa para o conjunto de pessoas

De 1 para 2: Ainda que alguém deseje alguma coisa, isso não significa que isso seja bom ou que
seja ser desejado

De 2 para 3: Mesmo que a felicidade da pessoa seja desejável para ela mesma, daí não se segue
que a felicidade geral seja desejável para todas as pessoas

7 – Exigências excessivas

Teríamos de dedicar todo o nosso tempo e recursos para atingir o bem-estar geral, vivendo em
função dos interesses dos outros
o A organização de uma sociedade justa

Normas
Morais Jurídicas
 Não estão necessariamente escritas  Apresentam-se sob a forma de código e
 O seu cumprimento resulta da vontade leis
própria  O cumprimento é obrigatório e imposto
 A transgressão é punida com o remorso, pelo estado
a culpa e a reprovação social  A transgressão é punida com multa ou
prisão.

Direito: Conjunto de normas jurídicas que regulam as relações entre os cidadãos,


estabelecendo também as formas de punição para a violação destas normas

Estado de direito: É aquele que garante os direitos dos indivíduos

O contratualismo e a rejeição do utilitarismo

Rawls rejeita o utilitarismo porque só considera o resultado global das nossas ações, podendo
legitimar situações em que existem grandes diferenças entre as pessoas, nomeadamente a nível
de riqueza. Para Rawls, é a equidade que tem valor intrínseco, e não a felicidade.

Justificação da existência do estado

Estado de natureza: Thomas Hobbs e John Locke descrevem-no como uma situação onde
não existiriam leis impostas pelo governo, mas apenas a “lei natural”.

Porque razão os homens abdicam da liberdade do estado de natureza?

 Porque os homens são egoístas, e não haveria ninguém para fazer a cumprir a “lei natural”
 Assim, obedecemos a um poder político em troca de certos benefícios (segurança, justiça,
apoio, direitos e liberdades).Seria criado, desta forma, um contrato social.

Contrato social: Estabelece as obrigações do Estado e dos cidadãos, organizado em


sociedade civil. A base da legitimidade da autoridade do Estado é o consentimento dos
cidadãos.

Rawls queria criar um contrato social, pois ao contrário do utilitarismo:

 Queria um princípio absoluto que servisse de critério universal para a justiça


 Queria criar direitos fundamentais invioláveis
 Queria um critério de atribuição de direitos e deveres
 Queria definir a distribuição adequada dos encargos e benefícios da cooperação social
Mas como garantir a imparcialidade e a universalidade?

Posição original: Situação hipotética de igualdade, em que estamos sob o véu da ignorância

Véu da ignorância: Situação em que desconhecemos o futuro (raça, sexo, nacionalidade,…)

Nesta situação, segundo Rawls, as pessoas escolheriam três princípios.

1 – Princípio da Liberdade

Cada pessoa tem direito ao mais vasto sistema total de liberdades básicas iguais, que seja
compatível com um sistema semelhante de liberdades para todos.

2 – Princípio da Igualdade de Oportunidades

As desigualdades económicas e sociais serão dispostas de forma que sejam consequência do


exercício de cargos e funções acessíveis a todos em circunstâncias de igualdade equitativa
de oportunidades.

Rawls aceita alguma desigualdade em termos de riqueza, desde que todos partam de uma base
igual

O igualitarismo puro levaria à estagnação social, sem que as pessoas quisessem assumir cargos
de poder

Este princípio perde prioridade para o anterior, mas sobrepõe-se ao seguinte:

3 – Princípio da Diferença

As desigualdades económicas e sociais serão dispostas de forma a serem para o maior


benefício dos mais desfavorecidos

A única razão para aceitar que alguns tenham mais é se isso funcionar como compensação para
os mais pobres.

Há fatores que produzem desigualdades económicas, mas que não são controlados pelo
indivíduo (talento artístico, força, beleza).

Devemos assim redistribuir a riqueza, criando uma situação de equidade.

A regra maximin

Na posição original, os indivíduos tentariam escolher a opção que favorecesse mais os mais
pobres, pois não sabiam qual seria a sua situação

No entanto, há quem argumente que os contratuantes poderiam querer arriscar, ou apostar,


como num jogo, esperando que lhes calhasse a situação mais favorável.
Críticas à teoria de Rawls

1 - Crítica comunitarista de Michael Sandel

Os contratuantes são seres humanos abstratos, isolados, sem família, comunidade ou história
pessoal. Mas as pessoas reais são um produto de todas estas circunstâncias, sem as quais seriam
completamente diferentes.

As conclusões baseadas no artifício hipotético do véu da ignorância não conseguem ser


transferidas para a realidade.

Para os comunitaristas, a aplicação de princípios liberais individualistas podem contribuir para


o isolamento e desagregação da sociedade.

2 – Crítica libertarista de Robert Nozick

Esta teoria defende um papel muito limitado do Estado. Este deve essencialmente garantir a
segurança das pessoas e a justiça pois, ao cobrar impostos, está a interferir indevidamente na
liberdade das pessoas.

Para cumprir o princípio da Diferença, o Estado teria de redistribuir constantemente a riqueza

Retirar às pessoas aquilo que ganharam legitimamente é, segundo Nozick, trata-las como meros
meios, o que é inaceitável na teoria de Kant

3 – Crítica do acordo

Na posição original não pode haver negociação pois não sabemos o que temos para oferecer,
nem o que vamos receber em troca

4 – Crítica das probabilidades

Rawls afirma que escolheríamos segundo a regra maximin, sem ter em conta a ponderação
riscos-benefícios, o que não corresponderia à realidade.
o Análise comparativa de duas teorias do conhecimento

Conhecimento: Correlação entre o sujeito cognisciente e o objeto cogniscível. Este surge da


interação do sujeito com a realidade. O conhecimento é inseparável de um contexto, pois
cada sujeito tem as suas experiências, vivências e reflexões. Apreender um objeto é fazer
uma representação mental deste (construí-lo).

Tipos de
conhecimento

Conhecimento por
Saber-que contacto
Saber-fazer
Conhecimento Conhecimento
Competência para
proposicional ou direto de alguma
fazer alguma tarefa
factual realidade

Linguagem e pensamento

São elementos indissociáveis, pois a linguagem, sendo a possibilidade de emitir sons articulados
e de os exprimir por escrito, permite organizar o pensamento. Além disso, a linguagem está
implicada no conhecimento do mundo, na reflexão para o conhecimento e na comunicação dos
seus resultados.

Definição tradicional de conhecimento

 Refere-se apenas ao conhecimento proposicional


 O conhecimento é uma crença verdadeira justificada por algo exterior à própria crença
 Mas nem todas as nossas crenças estão justificadas adequadamente, pois a justificação
pode ser falível
 Gettier criticou esta definição pois podem existir crenças verdadeiras justificadas
acidentalmente, não constituindo assim, conhecimento.

Fontes de conhecimento

Razão/ pensamento Experiência (sentidos)

Conhecimento a posteriori
Conhecimento a priori Não são estritamente universais
Universal Contingentes (são verdadeiros mas
Necessário (não pode ser falso) podiam ser falsos)
Tipos de juízos
(segundo Kant)

Juízos analíticos Juízos sintéticos a


O predicado está Juízos sintéticos a priori
implícito no posteriori
conceito do sujeito

Conhecimento a priori

Apenas verdades da lógica e da matemática?

Sim Não

Empirismo Racionalismo
Conhecimento a priori não nos diz Conhecimento a priori permite-nos
nada sobre a realidade conhecer a realidade, pois assenta em
O conhecimento tem o seu justificações certas e infalíveis
fundamento e os seus limites na As ideias fundamentais do conhecimento
ciência são inatas
Não há ideias inatas As ideias descobrem-se por intuição
O objeto impõe-se ao sujeito intelectual
O conhecimento constrói-se
dedutivamente
Há uma correspondência entre o
pensamento e a realidade (otimismo)
O sujeito impõe-se ao objeto

Fundacionalismo

O conhecimento deve ser fundamentado a partir de fundamentos certos e indubitáveis. As


crenças básicas suportam o sistema do saber, evitando a regressão infinita da justificação
o Possibilidade do conhecimento

É possível ao sujeito apreender de forma efetiva ou rigorosa o objeto?

Sim Não

Dogmatismo Ceticismo

Moderado Radical

Dogmatismo

Dogmatismo Otimismo Submissão, sem


ingénuo racionalista exame pessoal, a
Ausência de exame A razão pode certos princípios ou
crítico das atingir a certeza e a à autoridade de
aparências verdade que provêm

Ceticismo radical (Pirro de Élis)

Não há
É impossível
justificações
ao sujeito Suspensão
suficientes para Dúvida
do juízo
Ataraxia
apreender o
as nossas
objeto
crenças

A suspensão do juízo deve-se ao facto de que

O mesmo objeto é Os sentidos Há opiniões Para justificar uma


percecionado de enganam-nos, diferentes em crença temos de
forma difernte porque os objetos relação a vários recorrer a outra
dependendo das causam ilusões assuntos crença (regressão
pessoas ou infinita da
circunstâncias justificação)

Contradição: O ceticismo radical afirma que não é possível conhecer, expressando assim um
conhecimento.
Ceticismo mitigado (Arcesilau)

Não é possível saber se um juízo é


Impossibilidade de um
verdadeiro, mas apenas se é mais ou menos
saber rigoroso
provável

Contradição: O conceito de probabilidade pressupõe o de verdade, pois o provável é o que se


aproxima de verdadeiro.

o Racionalismo de Descartes

Método de Descartes

Evidência Análise Síntese Enumeração/


Clareza e Dividir as Resolver os problemas revisão
distinção dificuldades do menos para o mais
complexo

Intuição: Ato de apreensão direta e imediata de noções simples, evidentes e indubitáveis.

Dedução: Encadeamento de intuições, envolvendo um movimento do pensamento desde


os princípios evidentes até às consequências necessárias.

O método de Descartes consiste em recusar todas as crenças nas quais notemos a mínima
suspeita de incerteza, recorrendo à dúvida.

Características da dúvida Justificações da dúvida


Metódica e provisória: É um meio para Preconceitos e juízos precipitados da infância
atingir a certeza e a verdade, não
Ilusão dos sentidos
constituindo um fim em si mesma
Não distinguimos o sono da vigília
Hiperbólica: Rejeita tudo aquilo em que se
Algumas pessoas podem ter-se enganado nas
note a mínima suspeita de incerteza
demonstrações matemáticas
Universal e radical: Incide sobre os
Existência de um deus enganador ou génio
fundamentos e raízes do conhecimento
maligno
Se duvido, então
Penso, logo existo Cogito, ergo sum
penso

Características do cogito

 Depende Daquele que é o princípio de toda a realidade: Deus


 Princípio evidente e indubitável
 Obtém-se por intuição
 Crença básica que fornece o critério de verdade
 Serve de alicerce ao sistema do saber
 Apresenta a condição da dúvida e uma exceção à sua universalidade: Podemos duvidar
de tudo exceto da nossa existência
 Revela a natureza ou essência do sujeito: o pensamento ou alma

Provas da existência de Deus

1 – Argumento ontológico

 Na ideia de ser perfeito estão incluídas todas as perfeições


 A existência é uma delas
 Logo, Deus existe

2 – Argumento da marca impressa

 Temos em nós a ideia de ser perfeito, que é uma ideia que representa uma substância
infinita
 A causa dessa ideia não pode ser o ser pensante, porque é finito, e a ideia também não
pode vir do nada
 Logo, a causa dessa ideia é Deus.

 O sujeito pensante não é a sua própria causa, pois ter-se-ia criado com as perfeições de
que tem ideia. Além disso, não possui o poder de se conservar no seu próprio ser.
 Logo, Deus é o criador de tudo, sendo também causa sui (causa de si mesmo)

Críticas às provas da existência de Deus concebidas por Descartes

Contradição: Círculo Cartesiano

Deus existe porque concebemos clara e distintamente a sua existência

Tudo o que concebemos clara e distintamente é verdadeiro porque Deus existe


Em relação à 3ª prova: pode contestar-se a ideia de que algo menos perfeito não pode criar algo
mais perfeito. Podemos formar a ideia de perfeito por oposição à ideia de imperfeito

Em relação à 1ª prova: a existência não é uma propriedade

o O ceticismo mitigado de Hume

Perceções : São os conteúdos


da nossa mente

Impressões
São as nossas sensações Ideias
externas (visuais, auditivas,...) e São as perceções que
os nossos sentimentos. São constituem o nosso
mais vívidas do que as ideias pensamento. São as
representações das impressões

Simples Complexas

Complexas
Simples
Podem derivar ou
Derivam de não de impressões
impressões simples complexas

Segundo Hume, não há ideias inatas, pois, segundo o princípio da cópia:

“Todas as nossas ideias são cópias das nossas impressões”

Tipos de conhecimento
Relação de ideias Questões de facto
 Conhecimento a priori  Conhecimento a posteriori
 Raciocínio dedutivo  Raciocínio indutivo, baseado na relação
 Não nos diz nada sobre a realidade de causalidade
 São juízos analíticos  São juízos sintéticos
Princípios de associação de ideias

Causalidade
Semelhança Contiguidade no tempo e no
espaço (causa e efeito)

Logo, o conhecimento
A relação de causa-efeito não é acerca dos factos futuros é
Há apenas uma
uma conexão necessária, pois
conjunção apenas uma suposição ou
não temos qualquer impressão
constante entre probabilidade. Tem como
relativa à ideia de conexão entre
dois fenómenos fundamento psicológico o
fenómenos
hábito ou costume.

O eu, o mundo e Deus (a perspetiva metafísica)

O eu

 Não podemos justificar o “eu” a partir de intuição imediata, como fez Descartes
 As ideias e impressões têm um caráter mutável
 Sendo assim, a crença na identidade, unidade e permanência do “eu” é um produto da
imaginação. Não é possível afirmar que o “eu” é uma substância distinta das impressões e
ideias.

O mundo

 Só podemos considerar real o mundo exterior se as coisas forem independentes das nossas
impressões (ex: uma flor existir independentemente do facto de estarmos a olhar para ela)
 A coerência e a constância de algumas perceções levam-nos a acreditar que há coisas
externas, dotadas de uma existência contínua e independente

Deus

 Em relação ao argumento ontológico: não existe um ser cuja existência esteja à partida
demonstrada
 Em relação ao princípio da causalidade: parte das impressões para chegar a Deus, mas Deus
não é objeto de qualquer impressão
Fenomenismo: A realidade reduz-se aos fenómenos, àquilo que se aparece ou se mostra. Não
encontramos qualquer princípio ou fundamento suscetível de conferir unidade e conexão às
perceções (não temos provas de que há uma realidade exterior ou uma substância pensante)

Críticas de Hume ao ceticismo cartesiano e ao ceticismo radical

Ceticismo cartesiano: Como coloca em questão a nossa faculdade de racionar, não pode ir
para além do cogito.

Ceticismo pirrónico: É impraticável pois, devido à nossa natureza, acreditamos que o mundo
exterior é real e uniforme.

O fundamento do conhecimento, segundo Hume, é a experiência. É a crença básica de que


se está a ter uma experiência que justifica todas as outras crenças obtidas através dela.

o Natureza do conhecimento
Realismo Idealismo
O sujeito, no ato de conhecer, capta um objeto que O objeto não existe
lhe é exterior e independente independentemente do sujeito.
Ingénuo Crítico Não é uma realidade exterior e
Não distingue a A perceção é sempre uma transcendente, mas sim interior e
perceção do objeto interpretação/ imanente.
percebido (as coisas construção das coisas (o
são tal e qual como as conhecimento não é uma
captamos) reprodução exata da
realidade)

o O estatuto do conhecimento científico


Conhecimento vulgar/senso comum Conhecimento científico
Conjunto de crenças e opiniões subjetivas, Tem em vista uma explicação sistemática e
suposições, pressentimentos e ideias controlável pela experiência
feitas. Visa captar as leis de natureza, para
Crenças amplamente partilhadas cuja explicar fenómenos muito diversos a partir
justificação decorre da experiência coletiva de poucas leis.
e acumulada dos seres humanos
 Confia nos sentidos  Desconfia dos sentidos
 É sensitivo  É objetivo, problematizador e racional
 Atitude dogmática  Atitude crítica face ao real
 É prático  Pretende descrever, explicar e prever
 É imetódico e assistemático os fenómenos
 Linguagem vulgar  Linguagem específica (científica) e
 É superficial e pouco aprofundado rigorosa
 Apreensão sensorial espontânea e  Parte de pesquisas e investigações,
imediata apoiados em procedimentos coerentes
 Conhecimento quase imutável  Resulta da formulação de hipóteses
 É constituído por um conjunto de
teorias (hipóteses já comprovadas)
 Procura leis, para prever os fenómenos
 É revisível (sujeito a alterações)
 É provisório (até surgir uma teoria mais
eficaz e mais próxima da realidade)

A conceção indutivista do método científico

Critério da verificabilidade

Uma teoria é científica se for verificável, ou seja, se for possível verificar empiricamente
aquilo que ela propõe.

A verificabilidade é a característica daquelas proposições que admitem uma comprovação


conclusiva pela experiência

Problema da indução: As teorias científicas incluem proposições universais, que não podem
ser comprovadas pela experiência. (Ex: Todos os pássaros têm asas.)

Critério da confirmabilidade

Uma teoria é científica se é possível mostrar, recorrendo à observação, que ela é,


provavelmente, verdadeira.

A confirmabilidade é a característica daquelas proposições que admitem uma confirmação


indutiva ou probabilística pela experiência
As teorias científicas podem ser confirmadas pela observação?

Sim Não

Indutivismo Falsificacionismo

Método indutivista
1 – Observação neutra, objetiva e imparcial
2 – Formulação de hipóteses (descoberta da relação entre os fenómenos)
3 – Elaboração de teorias mediante um processo de generalização indutiva
4 – Tentativa de encontrar confirmações adicionais para a teoria e usá-la para descobrir
generalizações indutivas mais vastas

Críticas ao indutivismo
1 – A observação não é o ponto de partida do método científico
Ainda que o cientista recorra à observação, ela não é totalmente neutra e isenta. Além disso,
algumas teorias referem objetos que ainda não tinham sido observados.
O cientista tem expetativas teóricas, aceita certas teorias, recorre a instrumentos baseados
em determinadas teorias científicas, logo, a observação não é objetiva.

2 – O raciocínio científico não confere o rigor lógico necessário (problema da indução)


1 – As inferências indutivas baseiam-se no princípio da indução
2 – Este princípio não pode ser justificado a priori
3 – Este princípio não pode ser justificado a posteriori
4 – Logo, nenhuma inferência indutiva é justificável
3 – O critério de verificabilidade é autorrefutante, pois o mesmo não pode ser verificado
pela experiência
O princípio da indução não é uma verdade necessária, pois a natureza poderia ser caótica.
Podemos alegar que a natureza é uniforme porque, pelo que observámos até hoje, as
regularidades observadas continuam posteriormente. Mas este argumento é ele próprio
uma indução, que pretende justificar a indução, sendo assim uma petição de princípio.
O falsificacionismo de Karl Popper

Critério de falsificabilidade

Uma teoria é científica somente se é falsificável, ou seja, se pode ser refutada pela
experiência.

Graus de falsificabilidade

Conteúdo empírico: A informação que uma proposição nos dá sobre o mundo que
observamos

Quando mais elevado é o grau de falsificabilidade de uma teoria, maior é o seu


conteúdo empírico, logo, melhor é a teoria científica.

O método das conjeturas e refutações (método hipotético-dedutivo ou conjetural)

1 – Os problemas são o ponto de partida da investigação científica

Os problemas surgem num determinado contexto

2 – Formulação da hipótese ou conjetura

Momento criativo que resulta numa explicação provisória. Uma boa teoria é uma conjetura
ousada, pois tem um elevado grau de falsificabilidade. A hipótese resulta de um raciocínio
abdutivo (criativo) e não da observação.

3 – Experimentação

 Tentar refutar a teoria e identificar os problemas novos que ela cria


 É preciso deduzir previsões empíricas e confrontá-las com a observação
 Se as previsões se revelarem incorretas, a teoria é refutada
 Se a teoria superar as tentativas de refutação, está corroborada (e não confirmada ou
verificada)
 O cientista continua a tentar refutar a sua teoria e a descobrir novos problemas

Critérios objetivos de
escolha de teorias

Sucesso em testes Capacidade de prever


independentes Capacidade explicativa novos fenómenos
O crescimento do conhecimento

Segundo Popper, a ciência progride em direção à verdade por tentativa e erro, ou seja, pela
proposta de teorias conjeturais e pela eliminação das teorias que são refutadas.

Como a ciência é conjetural, ela não atinge a verdade, apenas se aproxima dela. Por isso, apenas
podemos mostrar que uma teoria é verosímil.

Dissolução do problema da indução

Popper afirma que resolve o problema da indução no sentido em que dissolve este problema.
Ou seja, mostrou que a injustificabilidade da indução não é um embaraço para a ciência, pois o
raciocínio indutivo não desempenha qualquer papel na investigação científica.

Críticas ao falsificacionismo

1 – O processo de refutação não é o mais comum entre os cientistas

Os cientistas não deixam de investigar num certo sentido devido a uma observação
falsificadora. Além disso, focam-se mais nas previsões bem-sucedidas do que naquelas que sõa
um fracasso.

2 – Considerando a história da ciência, não parece que ela possa evoluir por um processo
baseado nas refutações.

3 – O falsificacionismo torna irracional a nossa confiança nas teorias

Se as teorias não estiverem confirmadas, é irracional confiar nelas. Assim, não seria razoável
presumir que as pontes, aviões, etc., vão comportar-se como esperamos.

4 – Nem todas as teorias são falsificáveis

o Os paradigmas de Thomas Kuhn

Paradigma: É uma forma de fazer ciência, centrada numa teoria que proporciona problemas
e soluções exemplares a uma certa comunidade de investigadores. Um paradigma inclui
regras para aplicar a teoria à realidade, para usar instrumentos e para avaliar explicações.

Da ciência normal à mudança de paradigma

Ciência normal Anomalia


Pré-ciência Fase da atividade científica que Enigmas
ocorre no âmbito de um dado persistentes, a que
Período que
paradigma aceite pela comunidade o paradigma não
antecede a
científica. Os cientistas aprofundam consegue
ascensão de um
o estudo dos fenómenos, responder. O
determinado
resolvendo os enigmas de acordo cientista tenta
campo de
com a aplicação dos princípios, assimilar o novo
investigação
regras e conceitos do paradigma facto e resolver a
vigente anomalia.
Ciência extraordinária
Fase de questionamento Revolução
Crise
dos pressupostos e científica
Tomada de consciência
fundamentos do Fase de mudança
da insuficiência do
paradigma vigente. e aceitação do
paradigma. Clima de
Debate sobre a novo paradigma
insatisfação e
manutenção do pela comunidade
insegurança.
paradigma ou a escolha científica
de um novo.

A incomensurabilidade dos paradigmas

 É impossível comparar os paradigmas objetivamente. Os cientistas são incapazes de


oferecer uma justificação completamente racional para a decisão de mudar de paradigma.
 A mudança de um paradigma para outro não é cumulativa, mas corresponde a um modo
qualitativamente diferente de olhar o real.
 As mudanças de paradigma não envolvem uma aproximação à verdade. A verdade das
teorias depende do paradigma em que se inserem: aquilo que é verdadeiro num paradigma
pode não o ser no outro.

Critérios objetivos de escolha de teorias

Exatidão Consistência Alcance Simplicidade Fecundidade


Previsões Ausência de Abrangência da Não depende de Impulsionar
corretas contradições e teoria muitas leis para novas
compatibilidade relativamente à explicar os descobertas
com outras teorias quantidade de fenómenos
do paradigma fenómenos que é
capaz de explicar

 Segundo Kuhn, é impossível a tradução entre paradigmas (diferentes termos científicos)


 A escolha de teorias envolve fatores subjetivos importantes: económicos, ideológicos e
políticos
 Os critérios são vagos, portanto, a sua aplicação é muito subjetiva
 Ex: Os cientistas podem discordar, por exemplo, sobre qual das teorias é mais
consistente
 Quando os critérios entram em conflito, a resolução do conflito é muito subjetiva
 Ex: Um cientista pode valorizar a simplicidade, e outro a fecundidade

Críticas à conceção Kuhniana de ciência

1 – Não consegue explicar como é que as previsões são cada vez mais rigorosas

Teríamos de dizer que o paradigma geocêntrico não está mais longe da verdade do que o
paradigma heliocêntrico.

2 – O critério de adesão a um novo paradigma ocorre por conversão quase religiosa

Levanta entraves à questão do valor da ciência, pois faz parecer a atividade científica como
algo quase irracional.

3 – O novo paradigma resolve as anomalias do anterior, logo, não são incomensuráveis.

A questão da objetividade da ciência

Popper Kuhn
O cientista é um sujeito ativo, criativo e O cientista é um sujeito condicionado e
crítico, mas comprometido com ideias, contextualizado.
valores e princípios.
As teorias científicas são uma leitura objetiva A verdade é relativa ao paradigma vigente.
da realidade.
A ciência é independente do contexto e de A escolha de teorias depende de fatores
quem a produz. objetivos e subjetivos.
Os princípios lógicos garantem o rigor e a O conhecimento científico não é objetivo
objetividade do conhecimento científico.
o A criação artística e a obra de arte

Estética: Conhecimento das sensações e do modo como as sentimos

Experiência
estética

Empática
Atenta Desinteressada Diálogo com o Ativa
Desligada da objeto
utilidade do objeto

Subjetivismo estético Objetivismo estético


A beleza depende dos sentimentos de prazer A beleza depende das propriedades do
ou desprazer que acompanham a objeto independentemente do que sente o
contemplação desinteressada do objeto observador.
estético.

Necessidade
de expressar
os
sentimentos e
emoções

Existência de
O público O que é um artista
recria a arte e que
reinterpreta-a a arte? transfigura a
realidade

Linguagem
polissémica
(pluralidade
de
significados)
Arte

Valor
Natureza Critério
Porque a
Características O que a distingue
apreciamos

A definição de arte tornou-se um dos problemas centrais da filosofia devido à estranheza


crescente das entidades apresentadas pelos artistas, e aceites pelo público como arte.

Definições essencialistas

As obras de arte partilham um conjunto de características necessárias e suficientes para que


algo tenha o estatuto de arte. Procura a essência da arte.

1 – A teoria da arte como representação/imitação

Platão e Aristóteles defenderam que a arte consiste num certo modo de imitação da natureza.
Esta teoria é também conhecida como teoria mimética.

A arte é pensada de acordo com o grau de fidelidade à realidade retratada, seja ela um objeto
físico ou os comportamentos humanos.

Baseia-se no prazer que o ser humano retira das imitações (pinturas, peças de teatro,…), às vezes
superior ao prazer da contemplação da própria realidade.

Críticas à teoria da arte como imitação

1 – Artes não imitativas

As obras de música ou arquitetura não costumam representar a realidade.

2 – O reduzido valor da melhor imitação

Redução ao absurdo - a melhor arte é a eu leva a tal nível essa imitação que consegue enganar
as pessoas. Mas na realidade, não é essa a arte mais valorizada.

3 – Problemas com a noção de representação

O realismo na representação não pode consistir numa simples correspondência de


propriedades. Porque a arte é sempre uma transfiguração da realidade.
2 - Teoria expressivista

Lev Tolstoi e R.G. Collingwood defenderam que a verdadeira obra é algo puramente mental, que
o artista pode concretizar fisicamente, projetando-a sobre a forma de um objeto estético.

O público deve exercitar a sua imaginação sobre o objeto, de modo a recriar na ssua mente a
emoção inicial do artista. A obra é um elo de ligação comunicativa e sentimental entre ambos
os sujeitos.

Críticas à teoria expressivista

1 – Propriedades não intencionadas

Alguns intérpretes descobrem, numa obra, propriedades ou sentidos não intencionados por
parte do autor, por isso não podem fazer parte da obra.

O que fazer quando essas propriedades são fundamentais para o valor da obra?

2 – Inacessibilidade dos estados mentais do artista

É considerado artisticamente valioso o facto de uma obra permitir interpretações diferentes.

3 – O artista tem de sentir sempre o que uma obra exprime?

Os artistas não sentem sempre tudo o que as suas obras exprimem no momento em que as
concebem.

4 – Arte inexpressiva

Alguma arte é apreciada por outras qualidades estéticas valiosas que não são do tipo expressivo.

3 – A teoria formalista

Friedrich Schiller, Eduard Hanslick e Clive Bell afirmaram que o que faz de algo uma obra de arte
é o facto de possuir uma forma que pode ser apreciada esteticamente: a forma significante.

O que é artístico numa obra não é a sua capacidade para gerar emoções, mas sim as relações
entre as suas qualidades formais: na pintura, as cores e o equilíbrio; na poesia, os sons, as
repetições e cadências de palavras; na música, as harmonias e os ritmos; na dança, os
movimentos e as figuras.

O estatuto de arte passa a depender não de fatores demasiado subjetivos, mas de propriedades
objetivas e autónomas da própria obra.

Críticas à teoria formalista

1 – Vagueza do conceito de forma

O conceito de forma significante pode ser aplicado a quase tudo: qualquer objeto tem uma
forma e relaciona diferentes elementos entre si. Além disso, em certas artes, é difícil saber em
que consiste a forma significante.
2 – Forma e conteúdo são inseparáveis

Dizer que só os aspetos formais contam torna o conteúdo irrelevante, sendo este um defeito da
obra. No entanto, ignorar o conteúdo pode impedir-nos de compreender a obra (ex: na poesia,
o sentido das palavras é importante)

3 – Se o prazer estético depende da perceção correta das formas só as pessoas com elevada
sensibilidade, ou educação estética, como os críticos de arte, podem ter experiências estéticas.

Teorias não-essencialistas

O conceito de arte não tem essência

1 – Anti-essencialismo

Morris Weitz e Ludwig Wittgenstein defenderam que a arte é um conceito aberto, que está em
constante mutação, até porque alguns artistas veem como um dos objetivos das suas obras
precisamente pôr em causa o conceito de arte vigente.

É, de certa forma, uma desistência de procurar uma definição.

2 – A teoria institucional

Geoge Dickie e Arthur Danto afirmaram que a arte depende não da qualidade das obras, mas
sim do contexto convencional ou institucional que as rodeia, e na relação que os seus autores
pretendem estabelecer entre o que criam e o mundo da arte.

Uma obra de arte é um artefacto com um conjunto de aspetos ao qual foi conferido o estatuto
de candidato para apreciação pelo mundo da arte.

Críticas à teoria institucional

1 – Arte adventícia

Pessoas sem relação nenhuma com a arte também produzem objetos considerados como arte

2 – Circularidade e falta de informatividade

Define o conceito de arte utilizando o mesmo conceito na noção de mundo da arte

3 – Arbitrariedade ou critérios ocultados

O representante do mundo da arte vê numa obra certas propriedades que a destacam e


merecem apreciação, o que sugere que a arte tem uma essência (ou seja, tem características
que a distinguem)
3 – A teoria histórico-intencional

Uma obra de arte é um objeto acerca do qual uma pessoa que seja a proprietária dele tenha a
intenção duradoura de que ele seja visto como uma obra de arte, ou seja, visto como foram as
obras de arte anteriores.

Críticas à teoria histórico-intencional

1 – O direito de propriedade

Se um artista usar materiais que acredita erradamente serem sua propriedade, as pinturas em
que os usou não são obras de arte?

2 – Intencionalidade

O artista podia não ter pensado que a sua obra ficaria para a posterioridade.

3 – O problema da “primeira arte”

Os primeiros artistas não podiam contar com um modo de ver obras de arte no passado.

O aparecimento da arte teria sido originado por propriedades não históricas.

4 – Excesso de inclusividade

No retrato em pintura, o objetivo é ver a imagem da pessoa retratada, o que também acontece
com a fotografia tipo passe, ainda que esta não seja considerada arte.

Há, assim, práticas que continuam um aspeto de uma tradição de ver algo como arte, mas que
não são consideradas como arte.
o Religião, razão e fé

Religião

Relação entre o ser humano e o sagrado.

É constituída por uma dimensão pessoal (crença), uma dimensão pública e social (cultos e
ritos) e po uma noção de tempo sagrado (feriados religiosos).

Divide a realidade em dois planos:

Plano do sagrado Plano do profano


Plano de realidade sobrenatural Realidade natural comum e histórica dos
Pode ser visto como transcendente seres humanos
(existência do divino para além dos limites do Plano de existência natural e social humana
mundo e da compreensão humana) ou Plano onde se manifestam as hierofanias
imanente (ser não exterior ao mundo
natural).
Hierofania é uma manifestação do
sobrenatural, que tem caráter ambivalente
(bem e mal).

A religião parte da busca pelo sentido da existência

Significado da existência Orientação para a existência Valor da existência


Porque existe tudo isto? Quem sou? Qual é o valor da vida?
Qual o significado de um Para que vivemos? Vale a pena lutar pelos
acontecimento? Para que fazemos isto ou objetivos que definimos?
aquilo?

O teísmo

Conceito teísta de Deus

Único

Supremamente
Omnisciente bom

Deus

Omnipotente Perfeito
Argumentos sobre a existência de Deus

1º - Argumento cosmológico (a posteriori) – Santo Agostinho

1. Tudo o que existe tem uma causa.

2. O Universo começou a existir, logo tem uma causa.

3. A cadeia de causas não pode regredir infinitamente.

4. Então existe uma primeira causa.

Qualquer coisa finita é causada por algo diferente de si mesma: neste caso, Deus.

Críticas ao argumento cosmológico

1 – Qual foi a causa de Deus?

Deus teria de ser a causa de si mesmo. Mas teria de existir para se gerar. E, se já existia, não
precisava de se gerar.

Se tudo o que existe tem uma causa, Deus, que existe, também tem.

2 – O Universo poderia ser incriado e eterno

Ainda que todos os acontecimentos tenham uma causa, não significa que exista uma primeira
causa. A série de causas e efeitos poderia estender-se ao longo de um tempo sem fim, quer na
direção do passado, quer do futuro.

Por exemplo, as séries numéricas são infinitas em qualquer uma das direções.

3 – Mesmo que haja uma causa primeira, isso não prova que essa causa seja Deus.

4 – Se Deus é a primeira causa, como se explica a existência do mal?

2º - Argumento teleológico (a posteriori) – Santo Agostinho

Analogia do relojoeiro: ao observar um relógio damo-nos conta da complexidade da sua


maquinaria, concluindo que essa complexidade é um indício da existência de um criador
inteligente.

Da mesma forma, ao olharmos para a natureza, vemos que tem uma grande complexidade,
sendo que todas aas partes e funções são necessárias. Logo, tem um criador, Deus.

Críticas ao argumento teleológico

1 – Trata-se de uma analogia fraca

A semelhança é vaga e não permite conclusões certas

2 – Ignora a Teoria da Evolução das Espécies

O facto de os animais e as plantas estarem bem adaptados às suas funções poderia ser
explicado pela seleção natural, proposta por Darwin.
3 – Limitações da prova

Memso que a analogia prove que algo inteligente criou o Universo, não demonstra a existência
do Deus do teísmo: omnipotente, omnisciente, bondoso, infinito…, ou até que foi apenas um
ser a criar o Universo.

3º - Argumento ontológico (a priori) – Anselmo de Cantuária

Argumento por redução ao absurdo

1. Sendo Deus, por definição, um ser perfeito.

2. Dado que um ser perfeito tem todas as perfeições.

3. Dado que existir na mente é menos perfeito do que existir na mente e fora dela.

4. Dado que a existência é uma das qualidades da perfeição.

5. Logo, Deus existe e é o Ser mais perfeito de todos.

Críticas ao argumento ontológico

1 – A existência não é uma propriedade.

2 – Este argumento permitiria demonstrar a existência de algo a partir da sua definição.

Ex.1: Se eu imaginasse uma ilha perfeita, ela teria de existir.

Ex. 2: A proposição “Um triângulo tem três lados.” Manifesta uma necessidade lógica, e não diz
que três ângulos são absolutamente necessários. Diz apenas que, se existir um triângulo, ele
tem que ter três ângulos.

Razão e fé

Razão e fé

Razão não se mistura Fé e razão são Suspende o juízo sobre


com a fé compatíveis fé e razão

Ateísmo
A razão tem a primazia. Teísmo Agosticismo
Nega a existência de
Deus.

Fideísmo
A fé tem a primazia.
O fideísmo de Pascal

Acreditar em Deus com base em provas racionais e argumentos é errado, no sentido em que
não é verdadeira fé religiosa. A verdadeira fé consiste em acreditar de uma maneira cega, algo
que parte do nosso sentimento.

Críticas ao fideísmo

1 – Quando temos algum conhecimento sobre algo contrário à existência de Deus, teríamos
que forçar a mente a acreditar em algo que é o oposto daquilo que pensamos.

2 – Será possível escolher qual a faculdade que usamos para acreditar que algo é verdade?

Se a razão é um meio para chegar à proposição “Deus existe.”, porque devemos ignorá-la? Até
porque a razão costuma ser mais fiável do que a fé. Por que não podemos acreditar com base
em ambos os meios?

3 – Se o sentimento interior é o único guia em matéria religiosa, todas as religiões têm razão
acerca das suas crenças, o que não é possível, visto terem crenças contraditórias.

4 – A fé cega é o oposto da ponderação, imparcialidade e espírito crítico característicos da


atitude filosófica. A recusa do debate pode até levar ao fanatismo e ódio religioso.

A aposta de Pascal

Deus existe Deus não existe


Acreditar que Deus Ganha-se a vida eterna: ganho Perda de tempo em atos
existe infinito religiosos e perda de alguns
prazeres mundanos: perda
finita
Não acreditar que Deus Perde-se a possibilidade da Liberdade de gozar os prazeres
existe vida eterna, e corre-se o risco da vida, sem temer o castigo
de condenação eterna: perda divino: ganho finito
infinita.

Críticas à aposta de Pascal

1 – Talvez Deus perdoe a todos.

2 – Deus pode decidir em função do comportamento, e não da crença e do culto.

3 – Acreditar em função da contabilização de lucros e prejuízos parece hipócrita, podendo até


contar como algo negativo aos olhos de Deus.
o Deus e o argumento do mal

1 – O mal natural e o mal moral existem.

Isto é incompatível com:

2 – A existência de um Deus omnipotente, omnisciente e supremamente bom.

 Se Deus é omnipotente, poderia ter criado um mundo com menos sofrimento.


 Se Deus é omnisciente, conhece o mal.
 Se Deus é sumamente bom, não pode querer que o mal e o sofrimento existam.

Teodiceia: resposta ao argumento do mal

A justificação do mal moral: livre-arbítrio

Se não pudéssemos fazer o mal, não seríamos livres, nem moralmente bons ou maus.

Pressupõe que o determinismo radical é falso, e que somos de facto, livres.

Supõe também que:

A) O livre-arbítrio rege a possibilidade do mal moral.

B) Um mundo com mal moral mas com livre-arbítrio é melhor do que um mundo sem mal moral
e sem livre-arbítrio.

Críticas à justificação do mal moral

1 – Em relação a A)

Podíamos ter a capacidade de escolher diferentes ações, sem que nenhuma originasse o mal.

Deus podia-nos ter criado para pensarmos sempre bem do ponto de vista moral, e assim, nunca
quereríamos fazer o mal.

*Pode-se pensar que em nenhuma das situações há livre-arbítrio genuíno.

2 – Em relação a B)

O livre-arbítrio seria um preço pequeno a pagar por um mundo sem sofrimento.

Deus podia até criar os seres humanos com a ilusão de serem livres.

3 – Será o livre-arbítrio compatível com um Deus omnisciente, que já conhece as nossas


opções ainda antes de nascermos?
A justificação do mal natural

Leibniz defende que Deus criou o melhor Universo possível.

Isto não põe em causa a omnipotência de Deus, pois ele não pode fazer algo logicamente
impossível (Ex: Fazer com que 2+2 seja 5). Qualquer outro Universo teria tanto ou mais mal do
que este.

Críticas à justificação do mal natural

1 – É uma suposição aparentemente sem fundamento, que pode até envolver a


impossibilidade de Deus escolher as leis naturais.

2 – Parte do princípio que Deus é bom e omnipotente para justificar que este tem de ser o
melhor Universo possível. Mas a hipótese de que Deus é bom e omnipotente é o que está a
ser discutido. O argumento entra, assim, em petição de princípio.

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