Intervenção em Psicologia Escolar
Intervenção em Psicologia Escolar
Intervenção em Psicologia Escolar
Relato de Experiência
ISSN (eletrônico) 2446-922X
INTERVENÇÃO EM PSICOLOGIA
ESCOLAR: relato de experiência
com crianças de um projeto de
educação integral
DOI: 10.22289/2446-922X.V5N1A4
RESUMO
A psicologia escolar deve atuar no sentido de criar ambientes participativos e buscar a promoção
de saúde e bem-estar no ambiente escolar para professores, alunos e a equipe como um todo.
O psicólogo escolar deve ultrapassar as barreiras de uma prática individualista para uma prática
voltada aos grupos presentes na instituição, buscando trabalhar as queixas escolares a partir de
suas multicausalidades. O presente estudo tem como objetivo apresentar, por meio de um relato
de experiência, a prática de estágio em Psicologia Escolar, destacando a importância para a
formação profissional, a partir das atividades práticas e experiências pessoais então partilhadas
no contexto da escola. O projeto de intervenção foi realizado com uma turma de alunos do
Programa de Educação Integral de uma escola do município de João Pinheiro-MG. O trabalho
foi desenvolvido a partir de observações, seguido pela prática de atividades e dinâmicas com os
grupos de crianças, visando a relacionar teoria com a prática na solução dos problemas
escolares. As principais queixas relatadas pela diretora da escola acerca da turma foram a
agressividade e a vulnerabilidade social na qual se encontram os alunos. A partir da realização
do estágio, foi possível acompanhar as dificuldades enfrentadas por professores, equipe
pedagógica e alunos na escola, reafirmando a importância da atuação de um psicólogo escolar
que atue de maneira ética e dinâmica neste contexto.
ABSTRACT
School psychology should act to create participatory environments and seek the promotion of
health and well-being in the school environment for teachers, students and the team as a whole.
The school psychologist must overcome the barriers of an individualistic practice for a practice
directed at the groups present in the institution, seeking to work on school complaints from their
multi-causalities. The present study aims to present, through an experience report, the practice
of internship in School Psychology, highlighting the importance for the professional formation,
from the practical activities and personal experiences then shared in the context of the school.
The intervention project was carried out with a group of students from the Integral Education
1
Endereço eletrônico de contato: fabypsicologia90@gmail.com
Recebido em 12/05/2019. Aprovado pelo Conselho Editorial e aceito para publicação em 27/05/2019.
Program of a school in the city of João Pinheiro-MG. The work was developed from observations,
followed by the practice of activities and dynamics with the groups of children, aiming to relate
theory to practice in the solution of school problems. The principal complaints reported by the
school principal about the class were the aggressiveness and social vulnerability of the students.
After the internship, it was possible to follow the difficulties faced by teachers, pedagogical team
and students in the school, reaffirming the importance of the performance of a school psychologist
who acts ethically and dynamically in this context.
1 INTRODUÇÃO
2 MATERIAS E MÉTODOS
Deste modo, o presente trabalho foi desenvolvido a partir de observações, seguido pela
prática de atividades e dinâmicas com os grupos de crianças, buscando relacionar teoria com a
prática na solução dos problemas escolares. Por conseguinte, o trabalho apresenta, por meio de
um relato de experiência, a prática de estágio, destacando a importância para a formação
profissional em Psicologia, a partir das atividades práticas e experiências pessoais então
partilhadas no contexto da escola. O relato de experiência será escrito em primeira pessoa.
3 RELATO DA EXPERIÊNCIA
A professora relatou-me a grande dificuldade que o menino tem em interagir com a turma.
Ele vinha apresentando agressividade e, desta forma, era difícil mantê-lo engajado nas tarefas
trabalhadas na sala de aula. Prejudicando, assim, seu desenvolvimento. Ouvindo estes relatos,
é impossível não pensar em como é de fundamental necessidade a professora buscar
trazer este determinado aluno para mais perto de si e lhe dar uma significativa atenção, buscar
desenvolver tarefas que lhe proporcionem interesse em desenvolvê-la.
De acordo com Leite e Tagliaferro (2005):
Após estes dias de estágios, vivenciando tais práticas, fica cada vez mais evidente a
importância das inter-relações, evidenciando, assim, o vasto campo de atuação do psicólogo na
escola: focando, cada vez mais, tanto no contexto familiar quanto no escolar.
Na quarta semana, ao chegar na escola, todos estavam no intervalo correndo e
brincando. As tardes, neste período, estão, de fato, mais quentes e as crianças sentem isso. A
agitação é quase incontrolável. Com um pouco de dificuldade, consegui trazê-los para sala,
porém a falação era alta. Ao serem questionados como foi a semana, as respostas sempre são
bem positivas do tipo “minha semana foi ótima”, além de estarem super empolgados com a ida
para a piscina de um clube. Diante de toda a empolgação, aguardei-os expor toda aquela euforia.
No momento certo, pedi que desenhassem a família; de imediato, não foi bem aceito, pois, como
de costume, eles queriam ir para fora da sala brincar, mas, como anteriormente havia sido
combinado que iríamos intercalar nossas tardes, uma com brincadeiras e outra com atividades
em sala de aula, seguimos o plano. E sugeri que eles recordassem nosso combinado, mas como
a turminha é bem esperta, logo, foi fácil recordar e entender as regras e assim foi cumprido. Eles
começaram a desenhar a família, uns com mais dificuldades que outros e com mais resistência.
A proposta nesta tarde era trazer conteúdos importantes, como afirma Patias e Abaid
(2014). O psicólogo escolar deve atuar em suas redes interativas e, afinal, a família reflete muito
no comportamento de cada indivíduo; com nossas crianças não seria diferente. Era preciso
entender alguns comportamentos em sala de aula e, de certa forma, conhecer de longe a história
de cada um contido naquela turma.
Na quinta semana, o cenário que encontrei ao chegar na escola não estava muito
diferente dos estágios anteriores. As crianças encontravam-se agitadas e com certa dificuldade
de retornarem à sala, mas com todos dentro, já sentados, notava-se que estavam visivelmente
ansiosos. Propus-me a ouvi-los em qualquer tipo de desejo, perguntas ou, até mesmo, o relato
de como foi a semana. As falas foram iguais: reclamações e fofocas relacionadas aos próprios
colegas e ansiosos para brincarem. Nesta tarde, levei balões com a proposta de trabalharmos a
união com a turma. Dividi a turma em dois grupos de 7 alunos cada grupo e dei um balão para
cada um. Eles não poderiam deixar os balões caírem, pois a proposta era 10 minutos para cada
grupo. Na medida em que o tempo iria passando, eu mesma ia soltando mais balões, pois eles
tinham que trabalhar em equipe para não deixar os balões caírem no chão. E assim foi realizada
a brincadeira tendo o grupo A como campeã. Ao terminar a dinâmica, foi aberto espaço para
alguns questionamentos sobre o trabalho em equipe. O que é interessante observar na turma é
que praticamente todos têm uma facilidade imensa de entendimento sobre diversos assuntos,
inclusive sobre a união eles reconhecem sua importância.
Na sexta semana, fui convidada a me juntar com as professoras para a realização da
semana das crianças, momento em que fui em um horário mais cedo para poder ajudá-las, O dia
escolhido foi o dia da gincana, no qual foram realizadas várias competições. Os alunos foram
divididos em grupos vermelho e verde. Com a gincana, diversas brincadeiras estavam sendo
realizadas, entre elas estavam: corrida do ovo na colher, corrida das vassouras, corrida do saco,
entre outras. Tendo como grupo vencedor o grupo vermelho. Desta forma, reforcei a importância
da união do grupo. Após a gincana, tivemos um momento para todos tomarem sorvetes
oferecidos pelas professoras.
Na sétima e última semana, antes do período de férias, levei uma proposta para a turma
para, juntos, fazermos cartazes em homenagem ao dia dos professores e, desta forma, seguimos
a nossa tarde engajados na tarefa. Em alguns momentos, foi necessário estar reforçando a
importância da união da turma, pois infelizmente os xingamentos são frequentes e a desunião
em muitos momentos prevalecem. A proposta inicial era para que todos fizessem apenas um
cartaz, mas não foi possível, então, foram confeccionados três cartazes. Durante a confecção,
foi possível perceber criatividade e dedicação da turma.
Após o período das férias, do final de ano, retornaram as aulas e, consequentemente,
voltei com meu estágio. Diante de muita expectativa e ansiedade para revê-los e obter novas
experiências, propus-me a levar algo para a turma que não fosse forçá-los a qualquer atividade
que pudesse reforçar momentos de agitação. Pensando nisso, na tarde de sexta-feira, fui até a
escola e fui recebida com muitos abraços e atenciosamente já esperavam pela minha chegada,
de início, esperei aquela euforia passar, em especial as perguntas sobre diversos assuntos,
sobre o dia internacional da mulher, entre outros. Alguns me mostraram atividades que foram
desenvolvidas e que levariam às mães ou irmãs. Enfim, houve muitas indagações aleatórias e,
como de costume, deixei que ficassem à vontade por um tempinho. Comentei que também
estava ansiosa para vê-los, apresentei-me para algumas carinhas novas na turma e lamentei a
ausência de outros que não permaneceram mais na turma.
E, desta forma, comecei a falar de uma música que, naquele fim de tarde, era para todos
nós relaxarmos um pouco. Afastamos as cadeiras, colocamos alguns tapetes e pedi que todos
se deitassem sem conversas altas e que, ao som da música, com volume baixo, eles fechassem
os olhos e pensassem em uma cachoeira: a água caindo, eles pisando em uma grama verdinha,
pensassem em coisas boas. Levei um coração de pelúcia e deixei que a imaginassem fluíssem
no sentido de algo bom e que fossem passando devagar para o coleguinha do lado.
Logo após este momento, começamos um diálogo sobre as férias. De início, foi um
pouquinho complicado manter a turma calma. Duas crianças não quiseram de forma alguma
entrar na brincadeira, então, deixei à vontade para que ficassem em suas cadeiras. Alguns se
mantiveram relaxados, entraram na brincadeira, outros, por sua vez, fingiam dormir. Mas acredito
que boa parte da turma aproveitou realmente a minha proposta. Finalizei com uma mensagem
agradecendo por eles terem me recebido com carinho e que o ano letivo estava iniciando e que
desejava que a turma aproveitasse o máximo de aprendizagem com as professoras e eu só tinha
a desejar que o ano deles fosse cheinho de coisas boas e estava feliz por poder estar com eles
novamente. Reafirmei que na próxima sexta estaria de volta para podermos criarmos algo juntos.
Nesta segunda semana após as férias, fui convidada a me juntar à turma para uma tarde
comemorativa referente ao aniversário de uma das alunas do projeto. Todos contribuíram com
algo ou quantia para comprar o bolo e refrigerantes. Juntamente com a professora,
ornamentamos a sala com balões e tentamos aproveitar o momento e confraternizar sem brigas
entre os alunos.
O momento foi de muita descontração, mas, em alguns momentos, ainda houve algumas
intrigas e confusões envolvendo dois alunos que são considerados problema. As competições e
brigas na turma vêm sendo observadas desde semestre passado. A turma vem apresentando
sinais de agressividade e, constantemente, precisa ser chamada à atenção. Apesar destes
momentos conflituosos, cantamos os parabéns para coleguinha e de uma forma engraçada e
divertida cada um a abraçou e lhe deu os parabéns. Desta forma, finalizei meu estágio desta
tarde.
Neste terceiro encontro de estágio, foi uma tarde que classifico como produtiva, para a
qual fui com um único objetivo de ensinar os alunos a importância do próximo e de se ajudar e
de pedir ajuda para que todos possam alcançar objetivos. Neste sentido, levei pirulitos e acredito,
que desta forma, incentivaria a dinâmica. Usei pirulitos variados e embalados, sendo um para
cada participante.
Os alunos formaram um círculo com certo espaço entre eles. Todos deviam segurar o
pirulito com a mão direita, com o braço esticado para frente, podendo movimentá-lo para direita
e para a esquerda, e o braço esquerdo para baixo. Ao meu comando, os alunos deviam retirar o
pirulito da embalagem (para isso podem usar a mão esquerda, desde que o braço direito não
seja dobrado). Depois, o braço esquerdo não poderia mais ser utilizado.
Feito isso, o próximo comando era chupar o pirulito sem dobrar o braço direito! Aos
poucos, os alunos iam percebendo que isso só seria possível se eles oferecerem o pirulito que
estão segurando para o colega do lado, já que só podem movimentar o braço para a direita e
para a esquerda. Esta prática fez com que eles percebessem o quanto precisam do outro para
alcançar metas e que ninguém consegue fazer nada sozinho.
No início, quando comecei explicando como seria a dinâmica nesta tarde, alguns não
aceitaram muito bem, pois preferiam brincar de queimada. Contudo, após alguns minutos de
brincadeira, as gargalhadas, o empenho para chupar o pirulito foi envolvendo toda a turma. Ao
finalizar meu horário, percebi algo interessante: eles estavam finalmente trocando ideias entre
eles e planejando brincar na próxima sexta. Desta forma, terminei minha tarde de estágio.
Nesta quarta tarde de estágio, iniciei meu estágio falando um pouquinho sobre a
importância da amizade, companheirismo e união. Pensando nisso e percebendo como foi
interessante a dinâmica do pirulito, resolvi trazer uma caixa de bombons e folhas de jornais. A
dinâmica do dia se chama “Ilha do Tesouro”, a qual motiva e melhora a relação entre os
coleguinhas.
Com a ajuda de alguns alunos, comecei a organizar nossa dinâmica. Primeiramente,
posicionei uma folha de jornal aberta na extremidade da sala e coloquei a caixa de bombons em
cima do que seria a “Ilha do Tesouro”. Do outro lado, abri uma folha de jornal para cada dupla,
então, pedi para que eles se organizassem em duplas. Tivemos um pouco de dificuldades, já
que alguns se recusavam fazer dupla, mas, com muitas dificuldades, eles formaram duplas.
Finalmente, pedi para ficar uma ao lado da outra.
Cada dupla teria que permanecer em pé, em cima da sua folha de jornal, e precisaria
chegar até a “Ilha”, mas sem tocar os pés no chão fora da folha de jornal. Expliquei que o jornal
poderia ser movido, mas não pode ser rasgado ao meio. Estipulei um tempo máximo para que a
“Ilha” fosse alcançada. Se alguém colocasse os pés no chão ou rasgasse a folha, seria
desclassificado da atividade. E caso mais de uma dupla chegasse ao destino final, eles deviam
dividir entre si a caixa de bombons.
Ao final da dinâmica, foi possível perceber que a turma parecia estar mais madura e
percebendo a importância da ajuda do outro. Vejo que, com as dinâmicas consecutivas, eles
parecem fixar melhor a importância de união e companheirismo. Logo após o fim da dinâmica,
duas duplas conseguiram chegar ao objetivo final e a divisão dos bombons foi feita de maneira
tranquila. Desta forma, é importante reforçar a importância das interações. Nestas últimas
semanas, venho trabalhando em cima disso: focando, principalmente, nas interações sociais,
volte”. Alguns foram mais carinhosos que outros, mas aqueles que não falaram se expressaram
com abraços e olhares afetuosos.
Isso tudo me fez refletir sobre este período com estas crianças e, em consequência disso,
peguei-me com vários questionamentos. Dentre os inúmeros motivos sobre a psicologia escolar,
ao analisar toda esta trajetória, sinto a sensação que o profissional da psicologia tem uma área
linda, que pode ser vista com outros olhos. Vivenciei que o trabalho dentro da escola traz, acima
de tudo, uma aprendizagem muito grande e que nós precisamos, cada vez mais, trabalhar muito
mais aquele campo que, na minha concepção, é valiosíssimo, pois estas crianças são o futuro
de um mundo melhor.
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