Artigo Abordagem Policial e Abuso de Autoridade
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ASSUNTOS:BUSCA PESSOAL NO PROCESSO PENALTEORIA GERAL DA
PROVAPODER DE POLÍCIAPRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE
Além do aspecto da fundada suspeita, que é condição de legalidade estrita do
ato, a prática da busca pessoal necessita se ponderar no parâmetro da
necessidade, adequação e proporcionalidade, conforme as circunstâncias do
caso concreto.
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo precípuo fazer uma ampla
análise jurídica sobre a prática da busca pessoal pelos agentes públicos e a
relação desta com o instituto do abuso de autoridade, aspecto limitador da
atuação abusiva do poder estatal. Do mesmo modo, procura esclarecer o que
vem a ser de fato o termo fundada suspeita e quais são os critérios utilizados
para a realização da busca pessoal. Evidencia-se, também, a importância da
abordagem policial como fator preponderante na minimização dos índices da
criminalidade, e consequente melhoria na sensação de segurança e
manutenção da ordem pública ora estabelecida. Identifica a existência de
parâmetros objetivos formadores da convicção de fundada suspeita, como
condição de legalidade do ato, conforme previsão normativa do Art. 244 do
CPP. Expõe as características legais e doutrinárias da lei nº. 4.898, de 09 de
Dezembro de 1965 que trata do tema abuso de autoridade. A formação policial
é evidenciada como condição determinante para a ocorrência do excesso e do
abuso do poder. Neste aspecto, tem-se que a hipótese que se almeja é que a
busca pessoal é legal, desde que alicerçada no seu caráter preventivo, na
previsão legal e em certos elementos que fornecem condição de fundada
suspeita, sendo que os excessos desta intervenção estatal devem ser tolhidos
e minimizados por meio da formação policial de qualidade e do caráter
protetivo contra o abuso de autoridade e de outros elementos jurídicos. Na
elaboração do trabalho foi utilizado o método de argumentação dedutivo, tendo
sido realizadas pesquisas bibliográficas como principal recurso metodológico. A
justificativa para o presente trabalho se deve ao fato de o tema não ser
debatido de forma ampla pela doutrina jurídica e pelos diversos tribunais, bem
como ser de extrema importância para um especialista em ciências criminais.
Ademais, evidencia-se a carência por uma definição mais específica do termo
fundada suspeita, porquanto tornaria impossível elencar todas as situações
concretas que apontem a real necessidade da busca pessoal. Essa discussão
jurídica não se limita somente ao critério da fundada suspeita, sendo
relacionada também a questões referentes aos excessos cometidos pelos
agentes públicos e de sua devida proporcional responsabilização. Por fim,
apesar da celeuma jurídica que envolve o tema, restou provada a hipótese,
podendo-se afirmar que mesmo se tratando de um termo genérico e que
conduz à subjetividade, os agentes policiais podem utilizar de alguns critérios
de índole objetiva para se formar a convicção de fundada suspeita, como
condição legitimadora da busca pessoal, sendo, porém, a intervenção policial
limitada e disciplinada pela amplitude do termo abuso de autoridade.
1 – INTRODUÇÃO
TEXTOS RELACIONADOS
Nota-se que para grande parte da doutrina a busca pessoal somente terá
caráter legal no caso de prisão ou se houver a caracterização da fundada
suspeita, a qual se refere a uma provável condição de que alguém esteja
ocultando consigo algum objeto ilícito ou que esteja no desenvolver de uma
ação criminosa.
Os órgãos policiais devem superar a cultura do abuso que ainda está presente
na relação polícia e sociedade, haja vista que é incompatível a prática do
abuso por quem tem o dever constitucional de proteger e defender. Neste
aspecto se evidencia a importância da formação profissional moderna e de
qualidade como condição redutora dos casos de excessos por parte da polícia.
Visando limitar a ação estatal e evitar que possíveis danos sejam causados a
coletividade, a lei de abuso de autoridade (Lei nº. 4.898/65) é comumente
utilizada como escudo protetor das garantias fundamentais elencadas na
Constituição Federal.
Observa-se, deste modo que o presente estudo visa proporcionar uma visão
mais lúcida a respeito da correlação entre a ação policial na defesa da ordem
pública e a amplitude do constrangimento causado pela prática da busca
pessoal no que se refere aos direitos individuais e à dignidade da pessoa
humana. Tema este de extrema importância para um especialista em ciências
criminais.
Esse meio de prova empregado pelos órgãos de segurança não pode ser
confundido com o termo abordagem policial, pois este é amplo, abrange ações
diversas por parte da polícia como os inter-relacionamentos assistenciais,
preventivos e repressivos.
Será realizada quando “houver fundada suspeita de que alguém oculte consigo
arma proibida” ou outros objetos. É realizada na pessoa (incluindo
bolsas,malas etc.) e em veículos que estejam em sua posse (automóveis,
motocicletas etc). (CAPEZ, 2009, p. 341)
Ao passo que a busca pessoal tem um caráter mais restrito, sendo considerada
uma etapa do gênero abordagem, consistente no ato do policial revistar o
cidadão, suas vestimentas e seu corpo, com o objetivo de encontrar objetos ou
instrumentos de delito, ou seja, possui relação especifica com a prática
processual penal.
...
...
f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder,
quando haja suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à
elucidação do fato;
...
Já para a fundamentação legal da busca pessoal, além de ter que ser realizada
com base no parâmetro de fundada suspeita, impõe-se por parte do policial, a
observação acerca das garantias individuais de prescrição genérica, as quais
estão estabelecidas na Constituição Federal, a saber, o respeito à intimidade, à
vida privada e à integridade física e moral do indivíduo, e principalmente o não
constrangimento ou ato atentório ao direito fundamental da dignidade da
pessoal humana.
A dignidade da pessoa humana não pode ser limitada pelo uso da busca
pessoal, mas sim, necessita ser garantida e protegida por esta, através da
ação proporcional e razoável por parte da polícia.
Verifica-se que sempre que possível, a busca em mulheres deve ser realizada
por uma policial feminina. Entretanto, para não retardar ou prejudicar a
diligência, o policial masculino pode executar a mesma, com o devido respeito
e discrição, preferencialmente em lugar reservado, de maneira a não expor a
pessoa que está sendo abordada.
Em relação à busca veicular, aquela realizada no veículo do cidadão que está
sendo alvo de uma determinada abordagem policial, deve-se inicialmente
verificar o requisito da fundada suspeita, a qual se refere tanto a busca pessoal
quanto a veicular, haja vista que esta se trata de uma extensão da prática da
busca pessoal.
...
A referência que se faz acerca da Polícia possui tantas conotações, pela sua
própria condição constitucional de estar diuturnamente agindo na manutenção
da ordem pública, de maneira ostensiva, fácil percepção, permanecendo,
assim, presente na realidade social.
Nota-se que a Polícia Militar pode ser considerada eclética ou mista, porque
atua tanto preventivamente, quanto repressivamente, com base na sua
condição de polícia de segurança e, em casos pontuais, pelo próprio poder de
polícia administrativa.
Entretanto, é oportuno ressaltar que embora seja uma polícia que atua de
modo preventivo, a Polícia Militar também age repressivamente quando se
depara com a ocorrência de ilícito penal que não conseguiu evitar, na chamada
“repressão imediata”, visando o restabelecimento da ordem pública violada e
evitar o surgimento de novos danos.
A ordem pública, contudo, sendo violada em razão de ilícito penal, deve ser
restabelecida de imediato e automaticamente pelo órgão de polícia
administrativa que tenha a competência constitucional de preservação da
ordem pública. Cuida-se da repressão imediata, que tem o seu fundamento no
art. 144, § 5º, da vigente Constituição da República, porque, se não se
conseguiu preservar a ordem pública, o órgão policial que detém a
exclusividade dessa competência constitucional deve restabelecê-la imediata e
automaticamente. (LAZZARINI, 2003, p. 97)
Quando a lei se refere a fundadas razões exige que haja um fato concreto
autorizador da formação da suspeita. A busca somente será legítima se,
efetivamente, houver um dado objetivo, um dado concreto, um fato da vida que
autorize os agentes realizarem a busca e apreensão. O simples olhar do
policial, entendendo tratar-se de um carro suspeito ou de uma pessoa suspeita,
por exemplo, não pode autorizar a busca e apreensão, sem que haja um dado
objetivo impulsionando sua conduta. (RANGEL, 2010, p. 157)
Não pode ser considerada legal a solicitação do policial para que o condutor de
um veículo saia do mesmo para se submeter à busca pessoal, quando não
ficar vislumbrado aspectos de fundada suspeita, de que este mesmo condutor
esteja ocultando algo ilícito, ou até mesmo, tenha praticado alguma conduta
ilegal que exige a necessidade da busca.
Por esse motivo, a persecução penal e toda e qualquer ação estatal estão
rigorosamente disciplinadas por regras jurídicas previamente definidas e
estabelecidas, não podendo seus agentes agir simplesmente com aquilo que
considerem certo, cabível e de interesse da sociedade, sob pena de serem
responsabilizados.
2.3– DA BUSCA DOMICILIAR
a) prender criminosos;
Essa modalidade de busca deve ser realizada por meio do respectivo mandado
judicial, conforme previsão legal, exceto se o morador consentir que o agente a
realize sem maiores formalidades.
Não obstante, para que haja uma maior transparência na ação estatal é
necessário que após a realização da busca no domicílio, os executores
confeccionem o respectivo Auto Circunstanciado e o assinem juntamente com
outras duas testemunhas, conforme previsão normativa do Art. 245 do Código
de Processo Penal:
A supremacia de força policial precisa ser aplicada, a polícia não deve estar em
desvantagem numérica no momento da busca, pois formalmente é ela que tem
o poder/dever de manter a ordem pública e de confrontar possíveis ameaças.
No entanto, o objetivo dessa supremacia não é coagir e nem constranger as
pessoas a serem abordadas, mas fornecer uma condição segura e adequada
para a prática da busca.
Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à prisão em
flagrante ou à determinada por autoridade competente, o executor e as
pessoas que o auxiliarem poderão usar dos meios necessários para defender-
se ou para vencer a resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também
por duas testemunhas.
Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional não poderá
ser conduzido ou transportado em compartimento fechado de veículo policial,
em condições atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua
integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade.
Visando limitar a ação estatal e evitar que possíveis danos sejam causados a
coletividade, a lei de abuso de autoridade é comumente utilizada como escudo
protetor das garantias fundamentais elencadas na Constituição Federal, haja
vista que pela sua força normativa, minimiza a prática de abusos por parte das
autoridades públicas.
A lei de Abuso de Autoridade (Lei nº. 4.898/65) tem com escopo proteger os
cidadãos dos abusos praticados pelas autoridades públicas ou por seus
agentes, que possam comprometer direitos e garantias constitucionais como:
liberdade de locomoção, sigilo de correspondência, inviolabilidade domiciliar,
incolumidade física etc.
Assim, percebe-se que o policial por exercer notadamente cargo público, está
tipicamente englobado na Lei de Abuso de Autoridade e, deste modo, caso
exceda no emprego de sua atividade pública estará sujeito a possíveis sanções
administrativas, civis e penais.
Quando o abuso de autoridade for praticado por policial, seja civil ou militar,
poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o acusado
exercer funções de natureza policial ou militar no município da culpa, por prazo
de um a cinco anos, conforme Art. 6º, § 5º, lei nº Lei 4.898/65.
Seja como for, tem prevalecido mesmo o entendimento de que crime militar é
apenas aquele previsto no CPM. Daí por que os crimes previstos em leis
especiais, como, por exemplo, o abuso de autoridade, os delitos de tortura, de
sonegação fiscal, de tóxicos, cometidos contra o consumidor e etc., não são
considerados crimes militares e escapam à competência da justiça castrense.
(MACHADO, 2009, p. 314)
Assim, quando o agente público age de modo excessivo está utilizando o poder
da administração pública de forma abusiva e por consequência, de maneira
ilegal, minimizando o interesse do Estado que é o bem estar social e a
intervenção razoável, para agir em interesse próprio.
Pode-se dizer que o abuso de poder não tem a sua existência limitada somente
ao campo administrativo, sendo também utilizado no âmbito penal para
caracterizar algumas condutas de abuso de autoridade, as quais são muito
mais amplas do que o simples excesso ou desvio de poder, pois abarcam
outras condutas ilegais do agente público tipificadas na lei de abuso de
autoridade.
A autoridade policial deve agir estritamente dentro dos limites legais, mesmo
que a vítima a desrespeite, devendo, neste caso, efetuar sua prisão, autuando-
a pelo crime de desacato, e não investir contra a sua integridade corporal, em
atitude que corporifica o delito de abuso de autoridade (art. 3º, “i”, da Lei
4.898/95)” (TACRIM– SP – 13ª Câm. - AC 918.777/7- Rel. Roberto Mortari – j.
21.02.1995).
Deste modo, o que se busca evitar é que o desrespeito de uma das partes
possa influir a mesma atitude pela outra parte, virando um círculo vicioso que
atinge, notadamente, os direitos fundamentais da pessoa humana e o bom
nome e a imagem da administração pública, principalmente no que diz respeito
à conduta por parte do agente público.
A formação policial no Brasil é alvo de variadas críticas, haja vista seu caráter
tipicamente tradicional, onde predomina a atonia e o atraso técnico-científico.
Algumas academias de polícia se estruturam nos moldes da formação
hierarquizada do Exército, baseando o ensino em técnicas tipicamente
militares. Para Kant de Lima (2007, p. 73): “É comum, quando se questiona o
desempenho das polícias, relacionar o mau desempenho com despreparo, e
atribuir o despreparo à má formação”.
5– CONCLUSÃO
O presente trabalho teve como finalidade demonstrar a legalidade da prática da
busca pessoal, conforme previsão normativa do Art. 244 do CPP e o aspecto
limitador gerado pela lei de abuso de autoridade.
A intervenção policial deve ser realizada com base na proteção aos interesses
coletivos. Evidencia-se a necessidade da realização da busca pessoal pelo seu
aspecto preventivo na defesa da ordem social, e que a existência de eventuais
critérios objetivos para a caracterização da fundada suspeita, aliado a sua
previsão normativa é que fornece de fato a condição de legalidade desse
instrumento de ordem processual.