Dissertação Versão Final - Igor Barros Santos
Dissertação Versão Final - Igor Barros Santos
Dissertação Versão Final - Igor Barros Santos
MACAPÁ
2021
IGOR BARROS SANTOS
MACAPÁ
2021
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca Central da Universidade Federal do Amapá
Jamile da Conceição da Silva – CRB-2/1010
BANCA AVALIADORA
MACAPÁ
2021
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, pelo dom da vida. A minha família, meu alicerce. A minha
orientadora, Helena Cristina Guimarães Queiroz Simões, pela confiança, ensinamentos,
compreensão e por todo seu comprometimento. À Dona Fátima e ao “Seu” Jairo, casal de
amigos e vocacionados servidores da FUNAI, por todo apoio, pelo exemplo de
humanidade e amor ao próximo. À coletividade indígena do Estado do Amapá e Norte do
Pará, por apoiar a ideia e pelas constantes lições de vida, sem as quais este trabalho não
seria concebido. Ao Estado do Amapá, minha primeira casa após o ingresso no serviço
público, terra de gente acolhedora e de uma cultura rica, por todas as oportunidades que
me deu de crescimento pessoal e profissional.
RESUMO
The indigenous movement has sought to expand its participation in the national political
scenario. This performance is strengthened by the initiative and engagement of its
political and community leaders. Thus, given the important role played by indigenous
leaders, this research questions how they and they were constituted in the condition of
leaders and which educational processes were decisive for their performance. Therefore,
this study sought to understand the process of formation of these leaders and analyze
which modalities influenced the development of the profile of ethnic representation and
greater political participation. Our general objective was to identify the educational
processes involved in the formation of indigenous leaders and analyze the contributions
of experiences, knowledge, school and non-school, for the formation of indigenous
people who exercise the role of spokesperson for the community. From a
methodological perspective, a narrative research was developed through semi-
structured interviews with six indigenous leaders from Amapá and northern Pará-Brazil.
Based on the narratives, the preponderance of certain educational modalities over others
was found. Informal education proved to be the species that most contributed to the
formation of leaders. Through the traditional transfer of knowledge and coexistence
with the leaders, affection for their community is built, skills and understanding of the
importance of the leader's role are consolidated. In turn, non-formal education also
contributed to the training of the indigenous leaders interviewed. Entities such as CIMI,
IEPÉ and COIAB allowed interaction between the various leaders in the country,
organized workshops and encouraged the organization of the collective. Formal
education, on the other hand, was cited as of great importance by the leaders, but the
highlights seemed to focus more on the figure of the teacher and his/her encouragement
and the development of oratory, than on the content and proposal curriculum adopted.
Thus, the importance of training leaders through formal education, or indigenous school
education, had a more relational and attitudinal influence and less on learning in
different areas of knowledge. In this way, it was possible to establish an order of
valuation among the educational models in the process of training indigenous leaders in
Amapá and Northern Pará, namely: 1) In greater magnitude, informal education, with
respect and appreciation of the knowledge and actions resulting from the experiences of
the indigenous community and the references of generations of indigenous leaders who
preceded them; 2) in a proportion equivalent to non-formal education and formal
education, insofar as the former acts connecting the indigenous with elements external
to their daily life (travels, events, extra courses, dialogue with other indigenous people,
other professionals) and, second, as relevant in itself, whose contribution would be the
communicative improvement and encouragement of teachers to act as leaders.
Keywords: Indigenous Education. Leadership. Formation. Amapá and Northern Pará.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 9
1 EDUCAÇÃO INDÍGENA: DAS MODALIDADES EDUCACIONAIS
GERAIS AO CONTEXTO HISTÓRICO E NORMATIVO .......................... 15
1.1 O Direito à Educação e as Modalidades Educacionais.................................... 16
1.2 Educação Escolar Indígena: contexto histórico e acepções ............................ 19
1.2.1 A Trajetória Histórica da Educação Escolar Indígena no Brasil ......................... 19
1.2.2 Das Modalidades de Educação Indígena ............................................................ 29
1.3 Panorama Normativo da Educação Escolar Indígena .................................... 35
2 EDUCAÇÃO INFORMAL E NÃO FORMAL INDÍGENA: SABERES E
FAZERES ............................................................................................................ 54
2.1 Educação Informal e Vida Cotidiana ............................................................... 59
2.2 Educação Não Formal e o Caráter Educativo do Movimento Social Indígena
.............................................................................................................................. 69
3 LIDERANÇAS INDÍGENAS NO AMAPÁ E NORTE DO PARÁ: VOZES
DO PROCESSO DE FORMAÇÃO ................................................................... 81
3.1 O Percurso Metodológico ................................................................................... 81
3.1.1 Do Contexto Indígena do Amapá e Norte do Pará............................................... 81
3.1.2 Da Abordagem ..................................................................................................... 84
3.1.3 Método: Pesquisa Narrativa ................................................................................. 85
3.1.4 Procedimentos e Instrumentos ............................................................................. 86
3.1.5 Da Análise de Conteúdo ...................................................................................... 89
3.2 Vozes do Processo de Formação: as Percepções das Lideranças Indígenas .. 90
3.2.1 “Ser/Considerar-se Liderança Indígena” ............................................................. 90
3.2.2 “Educação Escolar e Representatividade” ......................................................... 111
3.2.3 “Educação Informal e Formação de Liderança” ................................................ 118
3.2.4 “Tomada de Decisões e Mobilização” ............................................................... 127
3.2.5 “Educação Não Formal e Formação de Lideranças” ......................................... 131
3.2.6 “As Lideranças Indígenas do Futuro” ................................................................ 138
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 144
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 153
APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............................ 163
APÊNDICE B – Roteiro Entrevista .......................................................................... 165
APÊNDICE C – Certificado do Comitê de Ética em Pesquisa .............................. 167
9
INTRODUÇÃO
papel de liderança, né! de ter essa doação, no caso, por exemplo, enquanto eu não sou
uma liderança de comunidade que é o cacique que é os conselheiros, eu me enquadro
mais uma liderança da política indigenista”( Cecília Apalay).
Ao perceber o grau de representatividade destes líderes, as habilidades que lhes
são comuns e, também, o que lhes diferencia, delineamos o problema definido para esta
pesquisa, que indaga quais processos educacionais orientaram a formação das lideranças
indígenas e influenciaram a assumir o papel representativo de sua coletividade?
A partir deste problema estabelecemos algumas questões norteadoras como: saber
se todos passaram pela escola? Quais mediações familiares influenciaram sua atuação nos
coletivos indígenas? Houve influência de organizações externas à comunidade no seu
processo de formação? Enfim, qual o papel da Educação Formal, informal e não formal
em seu engajamento político? Objetivou-se, portanto, identificar os processos
educacionais na formação das lideranças indígenas e as origens de sua maior ou menor
influência.
O estado da arte nos revelou certa lacuna de estudos na perspectiva desta pesquisa.
Ao analisar o Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior - CAPES, utilizando as palavras-chave “Educação Indígena”,
“Formação de Lideranças” e “Amapá e Norte do Pará”, encontramos 04 dissertações e 01
tese. Destas, contribuíram com nossa pesquisa, os trabalhos de Costa (2016), Macedo
(2000) e Silva (2013) tendo em vista sua direta relação com as etnias do Amapá e Norte
do Pará bem como a abordagem específica voltada à Educação Indígena.
Partindo de uma relação com sujeitos predeterminados, conteúdo predefinido e
espaço de execução claramente delineado, a Educação Formal tradicional, geralmente,
constitui modelo de educação hierarquizado; A Educação Informal é aquela “carregada
de valores e culturas próprias, de pertencimento e sentimentos herdados.” (GOHN, 2006,
p.28); Quanto à Educação Não Formal, é normalmente oferecida e promovida por uma
instituição, mas com certa flexibilidade na medida em que seus espaços são passíveis de
novas criações (GADOTTI, 2005).
Uma distinção conceitual importante deve ser destacada quanto às modalidades
de educação com relação à Educação Indígena. De acordo com parte da literatura, o termo
“educação escolar indígena” alcançaria exclusivamente a Educação Formal e o termo
“Educação Indígena” estaria relacionado à educação informal e/ou não formal. Nesse
sentido, a compreensão sobre a Educação Indígena seria direcionada ao ciclo de vida de
um indígena que é marcado por ações comunitárias. É dizer, durante o processo de
12
1
A educação indígena intercultural, diferenciada e específica veio para atender a uma demanda antiga da
coletividade indígena. Concebida como uma forma de Educação Formal, já que tem caráter escolar, a
educação intercultural é dotada de características próprias que a desvinculam do conceito puro de
Educação Formal trazido no texto.
13
Para iniciar este estudo optamos por trazer os elementos teóricos e conceituais que
fundamentam o debate acerca da temática. Quando falamos em processos de formação de
lideranças indígenas é imperativo considerar os processos educacionais, os saberes e
fazeres que o contornam. Neste sentido, esta seção se propõe a desenvolver teoricamente
as categorias centrais da pesquisa como: Educação Formal, aqui inserida a educação
escolar, a Educação Indígena e a educação intercultural diferenciada de modo a fornecer
os elementos e definições necessárias para compreensão da formação de um(a) líder
indígena.
Aqui trataremos do direito à educação, as modalidades educacionais e
enfrentaremos questões referentes às formas de educação e sua percepção no âmbito
acadêmico. Para alicerçar tais compreensões, buscamos em Alves (2014), Brougère e
Ulmann (2012), Bruno (2014), Gadotti (2005) e Gohn (2006) o suporte necessário no
intuito de estudar a Educação Formal, não formal e informal, trazendo definições,
características e elementos distintivos que vão permitir um melhor entendimento das
diferentes modalidades educacionais e, por conseguinte, da contribuição de cada tipo na
formação dos indígenas.
No tópico denominado “Educação Escolar Indígena: Contexto Histórico e
Acepções” nos propomos a analisar a trajetória da Educação Indígena no Brasil. Lançadas
as premissas históricas, passamos a discutir as espécies de Educação Indígena e suas
distinções. Mais adiante, abordaremos o panorama normativo interno e internacional,
apresentando as normas que regiam a Educação Indígena em cada momento histórico
vivenciado pelo Estado Brasileiro até os dias atuais. Por fim, encerramos a seção
apresentando a educação intercultural, específica e diferenciada, modelo educacional
estatal adotado atualmente como paradigma para o desenvolvimento da política pública
educacional indígena. Procuramos conduzir estes estudos com base nos conhecimentos
de Bastos (2018); Bonin (2012); Ciaramello (2014), Gohn (2006), D’Angelis (2012),
Fontan (2017), Menezes (2016), Munduruku (2012), Schugurensky (2012), Silveira e
Silveira (2012) e Sobrinho, Souza e Betiol (2017).
16
seria “atrasada” e estaria em fase de desenvolvimento. Pautado pela ideia da cultura dos
povos indígenas como sendo inferior e dotada de menor complexidade, o integracionismo
tinha na promessa de desenvolvimento de cultura tradicionais a partir de as interação e
convívio com a cultura “majoritária” e “superior” presente na sociedade nacional.
(FONTAN, 2017; BELFORT, 2006; LIMA, 2008).
É partindo desses dois paradigmas iniciais, que por vezes estão associados, que se
pode analisar melhor o prisma histórico da Educação Indígena, sobretudo, que enquanto
política pública, a educação está diretamente ligada a forma como o Estado direciona,
promove a sua implementação, e estabelece seus fins.
No que se refere especificamente à Educação Indígena, sob a perspectiva
histórica, atribui-se ao processo de catequese jesuítico o marco fundador do que
futuramente se denominaria de educação escolar indígena. Essa modalidade educacional
não levava em consideração toda a cosmovisão do universo ameríndio, da sua diversidade
cultural e das práticas sociais tradicionais (FERREIRA, 2001). Portanto, o objetivo era a
conversão dos nativos ao cristianismo e a sua integração à cultura europeia colonizadora
(BITTAR; FERREIRA JUNIOR, 2004).
Sob da justificativa de defesa dos indígenas e da cidadania, a educação
catequizadora realizada pela igreja com o apoio do Estado promoveu o desrespeito à
diversidade e à autonomia dos povos indígenas (BRITO, 2012). De acordo com Fontan
(2017, p. 17), a cultura do ocidente que concentra no Estado o poder tanto econômico
quanto cultural considera que “as sociedades sem poder são a imagem daquilo que não
somos mais e de que a nossa cultura é para elas a imagem do que é necessário ser.”.
Portanto, era do interesse estatal a integração dos indígenas à sociedade “civilizada”.
O modelo escolar é praticado há muito tempo no Brasil. Os padres, em pleno
século XVI, buscavam ensinar os indígenas a ler e escrever em português. A partir de
então os processos educacionais tradicionais típicos de etnia foram colocados em segundo
plano e, gradativamente, perderam sua relevância (BERGAMASCH; SILVA, 2007). Sob
21
(sendo uma para meninos e a outra para meninas), com a finalidade de ensiná-
los/as a ler e escrever em Língua Portuguesa (CIARAMELLO, 2014, p. 112).
Nesta perspectiva, o diretório dos índios foi uma política voltada para a
proteção do território português no Brasil, em que os indígenas seriam
educados para assumir a função de “soldados de fronteira”. Como parte do
plano de racionalização administrativa, o diretório impôs aos indígenas a
lógica do trabalho e da produção econômica sistematizada, transformando-os
em trabalhadores regidos por severos princípios de conduta moral (BRITO,
2012, p.72).
Destaca Fontan (2017, p. 20) que “foi a partir de 1970 que os povos indígenas
brasileiros começaram a reivindicar o seu reconhecimento étnico, passando a lutar pela
reconquista de territórios e por uma educação diferenciada.”.
Com a substituição do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) na década de sessenta
pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI) houve também uma modificação na dinâmica
educacional. A Autarquia Indigenista formalizou convênios com a Summer Institute of
Linguistcs (SIL), a agência missionária norte-americana que se instalou com o fim de
promover a Educação Formal dos povos indígenas como o aprendizado das línguas,
produção materiais didáticos e estudo bíblico (MENEZES; FAUSTINO; NOVAK, 2019).
Ciaramello (2014) afirma que a proposta da Summer Institute of Linguistic (SIL),
era promover a domesticação dos povos indígenas. Apesar de não negar o direito desses
povos se expressarem em suas próprias línguas, havia a imposição da obrigação de adotar
normas e sistemas ortográficos da civilização.
Nessa linha, informam Bergamaschi e Medeiros (2010, p. 58):
escolares tradicionais. Não obstante, também ganham corpo as reivindicações pelos seus
direitos, originários principalmente dos movimentos indígenas (COHN, 2005, p. 488).
Por ser um fenômeno político estatal, a educação escolar possui no seu íntimo toda
uma estrutura preestabelecida e encampa a ideologia do Estado (FONTAN, 2017).
“A alfabetização e a educação escolar tiveram um papel importante nessas relações.
Jesuítas se esmeravam na catequese dos índios, preparando gramáticas da língua do gentio
e encerrando crianças em seminários.” (COHN, 2005, p. 485). As mais diversas ordens
religiosas católicas estruturaram suas escolas para alunos indígenas, como os salesianos
e os capuchinhos.
Sabendo que a educação escolar segue a chamada modalidade formal de educação,
naturalmente que seguirá os mesmos graus de hierarquia, divisão de funções e espaço
previamente determinado. Ela é “transmitida por professores, responsáveis pela formação
do aluno em conhecimentos gerais e específicos. O domínio dos conhecimentos próprios
do mundo cultural indígena não é ensinado pela escola dos brancos, sobretudo a escola
formal.” (FONTAN, 2017, p. 65).
Enquanto corresponsável pelo processo de transmissão de conhecimentos
tradicionais, a educação escolar indígena ambiciona objetivos mais amplos. Em que pese
críticas a perspectiva integracionista, é na escola que toda a juventude indígena é
municiada com os saberes e conhecimentos de outras comunidades indígenas, outras
etnias e do próprio conhecimento produzido pela sociedade envolvente 2 não indígena
(D’ANGELIS, 2012). “A escola deve ampliar os conhecimentos dos alunos, com a
finalidade de prepará-los para a vida intra e extra-comunidade.” (SILVEIRA; SILVEIRA,
2012, p. 55).
Portanto, nessa perspectiva, o instituto da educação escolar indígena e a própria
escola indígena devem ser valorizados como instrumentos aptos a permitir que se
compreenda a vida fora da aldeia bem como que se tome conhecimento das ferramentas
e tecnologias que lhes sejam úteis.
2
Expressão utilizada por D’angelis (2012), Luciano (2006, p. 52), Dias Neto (2019) e pelo manual de
perguntas e repostas intitulado Trabalho Social Com Famílias Indígenas Na Proteção Social Básica do
Ministério do Desenvolvimento Social de 2017 (de livre acesso ao público por meio do sítio eletrônico:
https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/perguntas_e_respostas/Familias_In
dígenas.pdf) para designar a sociedade não indígena.
33
das séries iniciais, alcançando quase todas as aldeias indígenas. Isso não
significa que não persistam problemas (LUCIANO, 2013, p.03).
Ainda no que pertine aos desafios, cabe destacar a codificação pela qual a escola
institui seus valores e conhecimento, a escrita. Trata-se de uma dificuldade prática na
medida em que a ampla maioria dos povos indígenas tem sua cultura baseada na
oralidade. Há certa dificuldade em se converter a língua falada em texto ou código.
Conforme Kurroschi, Sousa e Venzon (2012), essa tradução pode comprometer ou
empobrecer a diversidade e a riqueza dos modos de expressão alicerçados em formas
orais.
Outro prejuízo nessa tradução das lógicas indígenas para a lógica ocidental é a
percepção da alteridade. Em um contexto onde existe a tendência a considerar
determinada cultura superior a outra, as culturas diversas do padrão ocidental passam a
ser analisadas como despidas de estrutura ou de menor complexidade (BASTOS, 2018;
BONIN, 2012; D’ANGELIS, 2012; MENEZES; FAUSTINO; NOVAK, 2019).
Para o bom funcionamento das escolas indígenas é necessário pensar uma política
pública pautada na gestão democrática e no planejamento participativo. A articulação
com os povos indígenas para a construção dos projetos educacionais diferenciados é um
direito e representa garantia da manutenção da concepção de educação comunitária
(SILVEIRA; SILVEIRA, 2012, p. 39).
Apresentada a política de educação escolar sob a perspectiva histórica e
conceitual, passamos a análise do seu panorama normativo geral.
Assim, a Carta Cidadã de 1988 promoveu uma “virada conceitual que alterou
significativamente as relações do Estado com os povos indígenas, e essa mudança de
perspectiva exigiu que se reformulassem as leis específicas sobre educação” para adequá-
la aos princípios gerais. Portanto, a regulamentação da educação específica, diferenciada
e bilíngue, direito conferido à coletividade indígena, tem seu início em 1988 e vem sendo
aprimorada desde então (BONIN, 2012, p. 37).
Por meio do Decreto nº 26 de 1991, o Estado Brasileiro promoveu a transferência
da competência de coordenar as ações referentes à Educação Indígena da Fundação
Nacional do Índio - FUNAI para o Ministério da Educação. Assim, dispõe o Decreto nº
26 de 1991 que “fica atribuída ao Ministério da Educação a competência para coordenar
as ações referentes à Educação Indígena, em todos os níveis e modalidades de ensino,
ouvida a FUNAI.” (art. 1º). A despeito de promover a transferência da competência
educacional, a referida norma conferiu competência consultiva à Fundação Nacional do
Índio.
Com a retirada da incumbência exclusiva da Autarquia Indigenista no sentido de
conduzir a educação escolar indígena junto as respectivas comunidades,
“a responsabilidade em coordenar essas ações passou a ser do Ministério da Educação,
enquanto a execução das políticas foi atribuída aos estados e municípios, respeitando o
princípio federativo que confere autonomia a cada um dos sistemas educacionais.” (BONIN,
2012, p. 37).
Desta feita, conquanto tenha o ocorrido essa alteração funcional, na confecção dos
planos e efetivação da política de maneira articulada e cooperativa entre o Ministério da
Educação, as Secretarias de Educação estaduais e as Secretarias de Educação municipais,
assegurou-se a participação da FUNAI. Ainda nesse período foi editada a Portaria
Interministerial nº 559/1991 que estabelecia que a educação escolar indígena deixaria de
ter caráter integracionista.
Conforme Luciano (2006), a educação escolar indígena no Brasil tem uma história
fracionada em dois períodos, sendo a Constituição Federal de 1988 um divisor de águas.
44
Durante o primeiro período que vai do descobrimento até antes da Constituição de 1988,
a escola tinha a missão de integrar os nativos à comunhão nacional, sendo suas línguas,
tradições e valores perseguidos, negados e proibidos.
Assim, a atual Constituição Federal trata dos direitos dos povos indígenas de
forma transversal, ampla e inovadora, ao reconhecer que reside na diversidade
cultural e não na incapacidade civil a necessidade de proteção jurídica especial
destinada aos povos indígenas, o que possibilitou a elaboração, nos anos que
se seguiram, de farta legislação infraconstitucional indigenista, contemplando
essas minorias com o direito à diversidade étnica, linguística e cultural, sem
prejuízo de suas prerrogativas como cidadãos brasileiros (MUNDURUKU,
2012, p. 37).
45
Segundo este novo modelo de educação escolar indígena, a escola deve ser
comunitária, intercultural, bilíngue, específica e diferenciada (BRASIL, 1998).
Comunitária porque a participação da comunidade em todo o processo
pedagógico é fundamental para a construção da escola: na definição dos
objetivos, dos conteúdos curriculares, do calendário escolar, da pedagogia, dos
espaços e momentos da educação escolar. Intercultural pois a escola deve
reconhecer e manter a diversidade cultural e linguística de sua comunidade,
além de promover uma situação de comunicação entre experiências sócio-
culturais, linguísticas e históricas diferentes. Bilíngüe visto que deve ensinar o
português, para possibilitar o diálogo com o mundo não indígena que os rodeia,
mas, principalmente, a língua materna da comunidade indígena – para garantir
a sua manutenção e, sobretudo, porque é por meio da língua originária que se
expressa e se manifesta a cultura. Específica e diferenciada porque deve ser
concebida e planejada como reflexo das aspirações particulares de cada povo
indígena e com autonomia em relação à construção de sua escola.
formação do povo brasileiro. Fica evidente que o eixo central, aqui, é a cultura
e a identidade nacional, mas este dispositivo contribui para a produção de
outras redes de informações, outros conhecimentos, que possibilitem à
sociedade uma compreensão mais contextualizada e plural das culturas
indígenas (BONIN, 2012, p. 39).
Por fim, ainda quanto à Lei de Diretrizes e Bases Nacional, como um consectário
lógico de toda a mudança paradigmática e normativa citada, cabe ressaltar que no
processo educacional assegurou-se às comunidades indígenas, também, a utilização das
respectivas línguas maternas, conforme seu art. 35-A, § 3º.
Em junho de 2014, o Brasil, através da Lei nº 13.005, regulamentou o Plano
Nacional de Educação com vigência por 10 (dez) anos, a contar da sua publicação. Por
intermédio do referido diploma legal, determinou-se que os entes federados devem
estabelecer em seus respectivos planos de educação estratégias que:
Art. 8º [....]
§ 1º [....]
I – assegurem a articulação das políticas educacionais com as demais políticas
sociais, particularmente as culturais;
II – considerem as necessidades específicas das populações do campo e das
comunidades indígenas e quilombolas, asseguradas a equidade educacional e
a diversidade cultural;
III – garantam o atendimento das necessidades específicas na educação
especial, assegurado o sistema educacional inclusivo em todos os níveis, etapas
e modalidades;
IV – promovam a articulação interfederativa na implementação das políticas
educacionais (BRASIL, 2014).
E nesse sentido, o PNEDH dispõe que no fomento para que grupos sociais reflitam
sobre os processos históricos, sua função na sociedade e condições de vida, os
movimentos sociais e entidades civis em sentido amplo praticam Educação Não Formal.
Barros e Santos (2010, p. 6) entendem que
Nessa linha, com base também em estudo realizado por Marques e Freitas (2017),
buscaremos, nesta seção, aprimorar as características e os fatores de categorização da
Educação Informal e não formal. Tal distinção mostra-se necessária diante dos
posicionamentos dissidentes apresentados bem como trazer clareza técnica na definição
e consequente enquadramento dos processos educacionais.
Como se verifica acima existe divergência sobre a inserção da educação popular
em Educação Informal ou não formal. Da mesma maneira o enquadramento da educação
ou do processo educacional realizado em museus e experiências turísticas e de visitação
de cunho histórico.
cujo fim último não é o aprendizado, ainda que este ocorra despretensiosamente; e a
Educação Não Formal, que se caracteriza como um modelo de educação em espaços
comunitários e de socialização.
Essas modalidades acompanharam, cada uma a sua maneira, a trajetória da
Educação Indígena no Brasil, cuja cultura desta população ora se aproximava de um
modelo, ora dele se distanciava, gerando em certa medida uma perda da tradição indígena
na transmissão de conhecimentos, como veremos a seguir.
Cabe ressaltar, conforme Brandão (1985, p.47) que “a educação do homem existe
por toda parte e, muito mais do que a escola, é o resultado da ação de todo o meio
sociocultural sobre seus participantes.”. Desde o manuseio de determinado instrumento,
sua adaptação para determinadas finalidades até o processo de descoberta e inovação, a
aprendizagem vai além do que se repassa em circunstância escolar ou formal (LIMA et
al, 2019).
Para uma melhor percepção do instituto faz-se necessário que educadores e
pesquisadores analisem realidade sem rótulos e de modo a se desvencilhar de concepções
prefixadas. Isso se deve ao fato de a Educação Informal ser marcada por amplitude e uma
dinâmica que pode variar conforme o cenário. Assim, a experiência do dia a dia reflete
sobre o indivíduo e da mesma forma a mídia e a religião (BRUNO, 2014; GASPAR,
1992).
Permeado de sentimentos, emoções, fatores hereditários, legados e culturas
próprias, o modelo educacional informal tem um vínculo inafastável com o processo de
convivência e socialização. Noções e valores do que é “certo ou errado”, divisão e união,
empatia e cooperação são ensinados por meio do exemplo e da repetição. Nesse contexto
também se instituem os freios morais e sociais. Para além dos limites, por meio da
Educação Informal reforça-se o sentimento de pertencimento e integração do indivíduo a
uma coletividade ou grupamento (GOHN, 2006).
Implementada de maneira espontânea, o traço distintivo e notável desse modo de
educar é a inexistência de premeditação, isto é, sua não intencionalidade. Não se promove
61
Ela é tomada entre dois extremos que convém evitar se se quiser deles se servir.
De um lado, a vida cotidiana remeter ao mais banal, às rotinas, às repetições
da vida, àquilo de que se tentaria fugir e que seria difícil considerar portador e
uma aprendizagem qualquer. Em contrapartida, tudo seria vida cotidiana a
pretexto de que tudo se desdobra, de um modo ou de outro, no cotidiano.
A socialização passa, sem dúvida, por essa maestria da vida cotidiana que leva
a saber agir nos diferentes momentos da vida em conformidade com as
expectativas dos outros. A infância é aquele tempo essencial da aprendizagem
da vida cotidiana familiar, mas hoje também da de uma família de acolhida ou
da creche. O mesmo vale para qualquer entrada numa instituição ou num
grupo: neles eu aprendo, sem me dar conta disso, as lógicas cotidianas, as
maneiras de fazer (de saudar, de interagir, de organizar as produções comuns
etc.). (BROUGÈRE; ULMANN, 2012, p. 15)
ingênuo ou folclore (SANTA ROSA, 2020; SILVA, 2002). “Ou seja, as narrativas de
heróis míticos, de conflitos entre pessoas e animais eram vistas com desdém pelos
cientistas, como algo carente de significado, um contrassenso.” (ROSA, 2012, p. 97).
Conhecer, entender e levar nossa história aos mais jovens é a única maneira de
ensinar, garantir a continuidade e a permanência de nosso povo. É por meio de
nossa mitologia, transmitida oralmente pelos antigos, que valorizam os
conhecimentos tradicionais (CLAUDINO, 2012, p. 113).
Destaca Silva (2002) que é nas situações de intenso contato com os contextos
nacionais que se percebe o contraste de identidades. A introdução espontânea de
elementos estranhos às sociedades indígenas surge da simples interação, mas isso, por si
só, não desconstitui a mitologia e especificidade cultural das comunidades indígenas, pelo
contrário.
Essa relação acaba por reforçar o perfil de resistência e permitir também a
ampliação da complexidade cultural existente na medida em que não há um pensamento
homogêneo ou uma cultura “pura”. Portanto, há uma desconstrução da ideia
preconceituosa de “aculturação” quando se entende essa complexidade cultural e se afasta
a noção de cultura como algo pronto e acabado (SOUZA, 2012; SILVA, 2013).
Segundo Claudino (2012, p. 113), no que pertine ao assunto,
[....] surgiram outras lideranças novas – porém não com aquele poder dos
antigos. Eles dominavam a escrita, o português, já eram mais flexíveis nas
decisões. Isso em parte era bom, mas em alguma medida enfraquecia o
movimento indígena. Porque não existia mais aquele poder dos caciques
antigos tinham de dizer: “Nós queremos isso e ponto”; “isso é mais importante
para o nosso povo”. As novas lideranças, por serem mais flexíveis, podem cair
em uma armadilha que é fatal na hora de negociar. Muitas vezes as lideranças
não estão preparadas para uma negociação com o governo, com relação à
ocupação regional, ao desenvolvimento no entorno das Terras Indígenas, as
infraestruturas que serão implantadas dentro das comunidades.
Apesar de todo esse tempo, essas categorias dos sistemas educativos estão
distantes de ser considerados termos estabilizados ou gozar de consenso. Ante a
71
polissemia mencionada, existe certa dificuldade para delimitar e distinguir uns dos outros,
especificamente a Educação Formal, informal e não formal, podendo ser encontradas,
inclusive, variações terminológicas usadas. Ressalte-se que esses conceitos dialogam, de
modo que os diferentes modos educativos interagem, não são estáticos e podem variar
seu conteúdo conforme o caso (MARQUES; FREITAS, 2017; MARANDINO, 2017;
PASSOS; ARRUDA; ALVES, 2012).
Corroborando com o entendimento, afirma Marandino (2017, p. 814) que
Não era o fato de o cacique ostentar tal condição que gerava o respeito e admiração
e sua aldeia. Por seu comportamento, postura, projeção vocal e clareza de suas decisões,
ideias e objetivos, conseguiram ter não uma boa relação internamente a sua comunidade
e também, tiveram uma relação exitosa e amistosa junto ao governo militar, forças
armadas, instituições não estatais e com políticos.
Percebe-se, com base no relato de Domingos Santa Rosa (2020), que essas
assembleias com a presença de lideranças das etnias locais e de fora contribuiu para a
formação e aprimoramento dos caciques e lideranças que participavam. Nessa linha, nota-
se que não apenas por meio da interação e participação se promovia um processo
educativo.
Relevante em seu relato a ideia de observação da postura e das qualidades dos
presentes. Percebe-se, então, que no seio do movimento social indígena os ensinamentos
comportamentais podem ser diretos ou indiretos, de modo que o exemplo e a admiração
acabam por forjar novas lideranças na medida em que permitem a reprodução de um
comportamento que julgam relevante e indispensável para a defesa das demandas da
coletividade indígena e na interação com o poder público e demais entidades situadas fora
do contexto indígena (BASTOS, 2018; SANTA ROSA, 2020).
Sem prejuízo da importância da Educação Indígena em sua acepção informal e
não formal, conforme Santa Rosa (2020), Bonin (2012) e Silva (2002), apresenta-se
importante a associação de que todo o conhecimento tradicional indígena seja relacionado
a saberes não indígena. Os saberes não indígenas geralmente repassados por meio do
ensino formal também podem ser transferidos por meio da convivência, exemplo e
interação.
76
3.1.2 Da Abordagem
somente aquelas que os participantes contam, mas aquelas também dos pesquisadores.”
(CLANDININ; CONNELLY, 2011, p. 18).
Partindo da ideia de que é do interesse do pesquisador promover a captação dos
detalhes das experiências de vida e histórias de um único indivíduo ou de um número
pequeno de indivíduos, sustenta Creswell (2014) que a pesquisa narrativa é a melhor
alternativa dada a autonomia que fornece ao sujeito da pesquisa. Os interessados em
promover a pesquisa narrativa fazem uso de percepções e definições fornecidas pelos
participantes, de maneira que as narrativas permitem a compreensão da experiência vivida
dos participantes da pesquisa (VASSALO; TELLES, 2008). “A relação do pesquisador
com a história em andamento do participante configura a natureza dos textos de campo e
estabelece seu status epistemológico.” (CLANDININ; CONNELLY, 2011, p. 136).
Na área da educação, percebe-se a pesquisa narrativa como uma possibilidade
metodológica de produção do conhecimento sobre histórias de vida, seja em contextos
escolares seja em não-escolares, que podem delimitar a dimensão desses ambientes na
formação das pessoas. A vida é preenchida de fragmentos narrativos, marcados em
momentos históricos no espaço e no tempo, portanto, o estudo dialógico entre o que fui,
o que sou e como me tornei pode nos fornecer respostas sobre formas de ensino e de
aprendizagem, especialmente em comunidade tradicionais (CLANDININ; CONNELLY,
2011).
Munido dos relatos, estes foram transcritos na totalidade. Passou-se então à leitura
flutuante da narrativas, e categorização das aproximações e diferenças no processo de
formação de cada líder indígena. Nos coube estabelecer um processo de reorganização
dos relatos de maneira a organizar um entendimento claro sobre o contexto de vida, sobre
a percepção do indivíduo e quais os elementos fornecidos que possibilitaram responder
ao problema da pesquisa (CRESWELL, 2014).
[....] o que nos traz aqui é que nós estamos representando os povos indígenas
do Tumucumaque e Paru D’ste, né! Conforme a decisão das lideranças
indígenas, inclusive confiança deles, né! Também e inclusive através de
indicação deles é por isso que nós estamos aqui nessas instâncias para que
possamos lutar em prol dos direitos indígenas e mais também com apoio da
nossa instituição do nível Amazônia da Coordenação das organizações
indígenas da Amazônia brasileira e quanto à articulação dos povos indígenas
do Brasil, é assim que nós estamos “se” considerando como liderança
indígena aqui no estado.
[....] uma das coisas superimportantes para se dizer que é uma liderança, uma,
eu vejo muito envolvimento, né! Então eu já venho de um período aí, não tão
curto, de atividade junto ao meu povo, e também essa responsabilidade
também de ser mulher indígena, então é que assim a gente tem sempre um
diálogo muito próximo com todas as lideranças da minha região, e também de
todas as lideranças do Amapá e norte do Pará. Então isso me dá a liberdade
de acreditar que eu sou uma liderança mulher indígena (Simone Karipuna).
e aptidão para tal função já faziam parte de sua personalidade, sendo algo que foi
aflorando com o tempo. A despeito de muitas críticas que sofreu por ser mulher, inclusive
das próprias mulheres de sua etnia, a indígena optou por participar de maneira próxima
de sua comunidade.
Diferentemente do Indígena Kutanã Waiana, que só se considerou liderança muito
tempo depois de sua comunidade já o respaldar, a entrevistada 06 já partia da premissa
de que internamente seria uma porta-voz ou representante de seu povo. Segundo ela, o
elemento complementar da liderança, ou seja, o fator externo de respeito e credibilidade
diante de seu povo não foi algo intuitivo e automático. Assim,
[....] apesar de ter várias críticas, né! da própria minha comunidade. Como
eu falei anteriormente, que não aceitavam, imaginaram muita coisa, falaram
muitas coisas, que eu... falavam que não era mulher, que estava, continuava
dizendo que eu estava influenciando as mulheres para não respeitarem
marido, né! (Cecília Apalay)
Infere-se que embora os filhos ou netos de cacique sejam seus sucessores naturais,
os relatos demonstram que eles precisam se consolidar na comunidade. Há incentivo e
cobrança, mas não se tem garantia da preservação do status de seus ancestrais. A
hereditariedade, apesar de ter relevância, por si só não gera o respaldo necessário dentro da
comunidade para uma atuação de maneira autônoma e que goze de respeito ante a
coletividade.
Assim, os entrevistados entendem que são lideranças, não porque se julgam aptos
ou superiores aos seus parentes, mas porque estes os indicaram, isto é, legitimaram suas
atuações e enxergam em suas pessoas os sujeitos ideais para intermediar o diálogo e fazer
valer a vontade deliberada pela comunidade.
Já no que pertine o segundo questionamento (“como e quando iniciou sua atuação
representando seu povo?”), foram ouvidas as 06 lideranças e percebe-se, inicialmente,
que há uma pluralidade de pontos de partida bem como contextos sociais.
Por meio do acompanhamento dos mais velhos, incentivo de professores e
familiares, do trabalho com jovens, da articulação junto ao poder público, do aprendizado
e oficinas fornecidas por entes não estatais, as lideranças entrevistadas seguiram de
maneira singular um percurso que gradativamente as aproximou da posição de regência
e direcionamento de sua coletividade.
Cinco dos entrevistados tiveram como forma preponderante de ingresso no
movimento social indígena o incentivo de familiares ou parentes da mesma etnia. Infere-
94
se que não foi um incentivo isolado que deu ensejo a sua participação e engajamento junto
aos povos indígenas.
Em verdade, a despeito da relevância desse incentivo, ele está associado a outros
elementos, corroborado com a modelagem de comportamentos, espelhamento, busca por
referências ou a própria necessidade e carência de representantes daquela comunidade
que acaba por exigir desses sujeitos o protagonismo e a ocupação de um espaço.
Constata-se que as modalidades educacionais permeiam o cotidiano indígena e, a
sua medida, cada uma contribuiu para o ingresso ou avanço dentro dessa trajetória. Nota-
se, ainda, que, o incentivo de pais, professores, parentes em geral impediu a evasão ou
desistência da participação dos indígenas no seio do movimento social, o que veio a
permitir que se consolidassem como lideranças.
Assim, informa Janina dos Santos, que sua participação começou na juventude
por influência paterna que, na época, era cacique na aldeia, “então eu comecei a trabalhar
com um grupo de jovens aqui na minha comunidade mesmo, reunindo , debatendo alguns
assuntos importantes com eles, fazendo palestra. Assim, organizando os jovens dentro da
comunidade. Aí eu comecei no movimento indígena”.
A entrevistada declara, ainda, que no desempenho de suas funções ela representa
a sua comunidade participando “das assembleias, participo de reuniões, faço parte de
algumas organizações indígenas, né! também sou professora. Então, eu represento a
minha comunidade aqui dentro e fora também”. Assim, percebe-se que o caráter do
exercício de sua liderança é preponderantemente comunitário.
Na mesma linha, o Indígena Kutanã Waiana teve seu início no período de
transição da adolescência para a fase adulta de sua vida. Apesar de mencionar exemplos
e aprendizados quando adolescente, foi perto a maioridade que intensificou sua atuação
em nome de seu povo. Segundo o entrevistado:
linguísticos até preconceito por seus traços indígenas. Ele possui o seguinte
entendimento: “eu concluí essa administração, onde ela trouxe várias experiências.
Como é que eu poderia dirigir associação, como é que eu poderia dirigir institucional e
tudo mais, como é que eu poderia fazer representar”.
Sabendo da importância de conviver com outras lideranças e extrair experiências
e saberes por meio da observação comportamental, o indígena desafiou-se e intensificou
seu engajamento perante o movimento social. Segundo ele:
Lá conheci e aprendi com eles o que era política indígena, na realidade, tinha
muitos parentes que era coordenador das instituições antigas, tinha os
parentes que já eram vereadores, então tudo mais, os jovem, e aí conhecia
essas pessoas, foi a partir daí que eu comecei mais me aprofundar na questão
de política, onde na época, eu comecei a falar um pouco sobre a questão de
problemas do Parque Tumucumaque, a questão de territorialidade, e aí
falando sobre desmatamento e invasão do território indígena tudo mais. A
partir daí, nós seguimos para território indígena, para o povo Canela, e lá
conheci um pouco também como é que era a articulação deles, como é que
eles iam lutar com o seu povo pela garantia dos direitos, né! a partir daí que
eu conheci o direito indígenas, porque que nós estávamos lutando, porque que
havia “vários reuniões”, havia vários eventos maiores dos indígenas, a partir
96
daí que eu conheci que era importante a luta conjunta dos povos indígenas do
Brasil sobre o direito indígena (Kutanã Waiana).
[....] inclusive eu aprendi com esse movimento social, né! Eu não vou dizer que
“ah! Que esse movimento social não é escola, não” essa é uma coisa muito
importante pra vida do ser humano, ne! Pra mim foi muito importante,
inclusive eu aprendi no movimento social, pra eu estar aqui nesse momento,
eu aprendi olhando as pessoas lutando, como é que eles falavam, ne! Como é
que eles começam a iniciar as suas falas, finalizar e tudo mais, pontuar
algumas coisas, né! E aí, a partir daí, que eu aprendi, e aprendi falar, aprendi
também a aprender como se comportar como liderança indígena, eu acho que
é na movimentação indígena a gente aprende muitas coisas. [....] Olha o que
eu aprendi mesmo é participando só, né! Participando, por exemplo, eu
aprendi muito isso aí, com esse movimento social em Brasília, na ATL, aí eu
ia, eu “tava” fazendo essa capacitação também, na época CNPI, com todos
outros ONG´S. É que na época, eu “tava” vendo os parentes mais atuante no
movimento indígena, ou mais antigos falando, ne! e eu observando lá, na
primeiro discussão eu não tinha nenhuma ideia, como é que eu poderia
conversar, né! falar com ele no público, mas ouvindo eles, vendo
comportamento, vendo a criatividade de fazer essa atividade deles, né!
“olha se você tem que falar alguma coisa, você tem que falar dando uma
volta”, assim como é que chama? Antropologicamente, né! tem que, você vai
falando essas coisas, para que você não fala coisas muito pesadas para as
pessoas. Então assim, vocês dando essa volta, aí você vai trazer todas as
informações bonitas, as informações que pode tocar essas pessoas, entendeu?!
E aí é assim, eu fui aprendendo, é uma falando, outras pessoas falando aquilo,
e aí juntando essas informações, e aí parece que aprendeu numa universidade,
especificamente, sobre politica indígena, mas eu fui aprendendo desse jeito.
[....] a minha trajetória ela inicia muito quando eu ainda era criança, numa
fase de pré adolescente, que eu acompanhava meu pai, meu avô, e muita das
vezes, a minha mãe. Várias agendas, né! Em várias reuniões, cursos, oficinas,
e aí a gente foi aprendendo; como tínhamos que dar uma parada para estudar,
porque dentro do meu território não tinha ainda oferta de educação, né! Não
tinha, a gente tinha que sair para fora da nossa aldeia para buscar
conhecimento, buscar estudar! A gente deu uma pequena parada, mas aí,
também não se acostumou com a ideia de morar fora do território, e pra selar
mesmo o envolvimento de entrar na causa, e não deixar nunca mais, eu fui
trabalhar na Funai, como indígena eventual na época, nessa linha de atuação,
e eu fui para lá, e como a gente conseguiu desenvolver um trabalho,
envolvimento em sintonia com tudo, eu fui convidada pela organização, na
época muito forte que era a Associação dos povos indígenas do Oiapoque
chamava – APIO, eu fui chamada para coordenar todos os projetos ambientais
da organização e eu fui trabalhar com projeto super interessante que era
formação dos agentes ambientais indígenas, na época tinha 25 agentes
ambientais e também tem vários outros projetos, que é extração de produtos
naturais, né! Como o óleo de andiroba, essas outras coisas, né! Então era
muito importante o que eu fazia, né! Então com isso, eu me envolvi
grandemente nisso, e de lá nunca mais saí.
Bom, eu sou neta de uma grande liderança da minha região que era o cacique,
e ao mesmo tempo, também era o pajé da minha Aldeia. E nas agendas que a
gente acompanhava, nós éramos, nós tínhamos interesse, mas quando a gente
ia para as grandes reuniões, nós ficávamos sempre quietinha ao lado do meu
avô ou do lado da minha mãe ou do meu pai, é observando... e assim, achando
aquilo maravilhoso, né! Tocava... sabe aquela sensação quando eu falo com
você eu lembro do que eu tô falando e tudo, né! Aprendendo esse inicio, né!
Esse olhar, as avaliações feitas pelas lideranças dos diferentes temas que eram
colocados. Então tudo isso ajudou muito para formação, sabe! Não só a
formação digamos, dessa estrutura que é muito necessária e que é posto, né,
dentro das escolas, de tudo! Mas essa daí é algo que a gente não recebe
certificado, mas que ajuda muito para a nossa formação enquanto liderança
indígena.
No tocante as impressões do Indígena Demétrio Tiriyo, ele relata que sua atuação
dentro do movimento social indígena começa em 1993. A partir do relato de que
participou dos diálogos e mobilizações da época, ele entende que forneceu sua parcela de
contribuição dando início ao seu papel de liderança. Cuida-se de uma percepção
individual dele, já que, conforme seu relato, a conquista de seu espaço perante sua
coletividade foi algo gradativo.
Segundo o Indígena Demétrio Tiriyo:
[....] eu sou uma liderança também, eu começo desde 1993. Vocês sabem, a
terra Indígena foi demarcada em 93, terra indígena Tumucumaque, não foi
fácil nossa luta, juntamente com as lideranças, eu era o único jovem que lutava
juntamente com os caciques, as lideranças indígenas, então eu fui escolhido
primeiro como tradutor, porque vocês sabem, Tiriyó tem dificuldade de falar
português. Eu ajudei as lideranças indígenas primeiro, então ainda não tinha
movimento, não tava entrando dentro do movimento indígena. Durante 2004,
eu fiquei como eu tenho aqui, eu participei da reunião da APITIKATY, é eu
consegui entrar no movimento indígena juntamente com COIAB, APIN, com
APITIKATY e as lideranças indígenas, e nossa luta era para melhorar nossa
terra, territórios, né! porque cada terra Indígena é um território, então nós
lutamos sobre educação, saúde, nossas regiões, território, né! Porque vocês
sabem, nossa terra é pequeno, mas para nós indígenas, é grande. Porque nós,
povo indígena, dependemos da floresta e rios, porque quem sempre quem tá
criando nossa alimentação é as florestas e rios, eu caço peixe, outros animais,
eu caço porco, mutum, nós dependemos, por isso, nós conseguimos valorizar
nossa terra, melhorar.
Por sua vez, a Indígena Cecília Apalay iniciou seu envolvimento muito cedo, já
na adolescência. Sua participação não era tão contundente, tendo como foco o interesse
em aprender e observar os mais velhos. Por ser jovem, mulher e inexperiente foi muito
criticada e, em um primeiro momento, passou por grandes dificuldades, sem o apoio de
100
familiares. Em verdade, depreende-se por sua fala que foi um processo de desconstrução
gradativo das concepções de sua família e da própria comunidade, tanto que, com o
tempo, começou a contar com o apoio de seu pai de modo intenso.
Conforme a indígena:
há muitos anos atrás, né! quando era jovem ainda, eu sempre... assim,
primeiramente, eu, para minha comunidades, eu era diferente das
comunidades né, eu digo assim das mulheres, porque antigamente, nós
mulheres, Aparaí e Wayana inclusive Aparaí, ne! e não tinha como se
expressar, né! Os antigos “mulheres” não tinha direito de voz e o trabalho
das mulheres era mais em casa, cuidando das crianças, fazendo comida, né!
meu pai me conta que quando eu era pequena ainda, eu sempre estava no meio
de lideranças mais velhos, né! E eles “achava” estranho, eu não era mulher
indígena que eles queria perto, né! aí depois de, mais ou menos 15 anos, eu
continuava aí, conversando com os mais velhos, né! e todo mundo achava que
eu estava, assim, saindo fora da nossa cultura, ne! na época eu fui a primeira
mulher a ser assim, interagir com mais velhos, né! Principalmente com os
caciques, né! não era permitido na minha região, na minha comunidade, e eu
comecei aprendendo com eles, com os mais velhos.
Minha neta, minha neta, você é muito diferente das mulheres daqui né! Aí eu
falava, não, eu só igual a elas, aí ele, você não quer trabalhar comigo para
você conhecer mais um pouco sobre a história dos seus antepassados e a
mitologia? aí eu falei – sim eu aceito! Aí eu comecei a trabalhar, aí comecei a
conhecer um pouco a realidade das comunidades, aí eu digo Wayana Apalai,
principalmente Apalaí. Aí foi assim, né! e mais eu tinha esse dialogo, assim
todo tempo com as comunidades, né! eu gostava de diversão, era diferente,
ne! eu pulava, gritava, brincava, as mulheres olhavam assim – será que a
Cecilia ta doida? será que ela tá influenciada pela sociedade não indígena,
eu acho que ela é maluca! E eu recebi muito essas criticas, né! Porque eu era
diferente mesmo pra eles
[....] eu acho que as lideranças indígenas elas têm um papel fundamental hoje.
Em cada comunidade tem uma liderança indígena pra sua organização,
principalmente interna, mas também pra lutar pelos seus direitos, pra lutar
pelo seu povo e pra assim, pra unir forças, ne! As lideranças têm que unir
forças pra ta sempre buscando o melhor pro seu povo, eu acho que as
lideranças indígenas são fundamentais, principalmente num governo genocida
que a gente está vivendo hoje na retirada de direitos. Então tudo que a gente
tem hoje a gente conseguiu por causa das nossas lideranças, ne! E nossa
demarcação de terra. Tudo que a gente tem nas nossas comunidades, questão
de direito, questão de organização, questão de tudo em si, foram as lideranças
que conseguiram, com suas lutas, com suas assembleias, com as suas
reinvindicações, ne ! Com seu movimento indígena. Então as lideranças são
fundamentais pros povos indígenas.
primeiras lideranças, eles eram rígidos, bem rígidos. Ate aqui na minha
comunidade a gente não tem nenhum não indígena vivendo entre a gente.
Então eles tinham essa proibição que a gente fala, ne! mas só que era uma
questão coletiva, toda comunidade aceitava e eu acho isso muito importante,
porque quem não tem uma postura pra estar a frente de uma comunidade, tudo
desanda, as comunidade hoje são bem grandes, então tem que ter pulso firme
e tem que ta la na frente mesmo, tem que colocar ordem de alguma forma.
Por sua vez, Simone Karipuna destaca que se busca a harmonia no processo de
tomada de decisão. Essa harmonia se reflete na implementação de uma interação próxima
e empática sem imposição de vontades, mas sim a consideração das diversas opiniões e
interesses presentes na comunidade. Não se visa gerar a unanimidade, contudo construir
algo legítimo e que seja cumprido por todos.
Consoante seu entendimento:
[....] liderança importante para nós, né! porque ele que vai coordenar sua
comunidade, por isso muito importante! Ele que vai ter que fazer plano - como
utilizar terra, plano como viver dentro comunidade, por exemplo!. Em Junho,
o cacique vai reunir todo mundo e vai falar “olha, ta chegando hora pra fazer
roça”, então precisa quem vai começar, como nós “vamo” fazer roça, o que
nos vamos plantar, onde que nós vamos buscar tudo isso! Então, quem está
coordenando a equipe “é” as lideranças indígenas.
Em sua narrativa, Demétrio Tiriyo acaba por fazer uma distinção entre lideranças
e cacique, o que permite concluir que a liderança não necessariamente precisa ser o
cacique da aldeia, mas gozar de legitimidade diante de seu povo. Conforme o
entrevistado:
exemplo, então quando cacique não foi la, cacique tem que sentar e aprovar
se vai dar tudo certo, e não ficam discutindo durante a reunião de liderança
indígena, é isso! Por isso liderança indígena, muito, muito importante. Porque
eles vão encaminhar planos do que precisa ser utilizado na comunidade.
Existem pautas que a liderança tem abertura para tratar na comunidade visando o
bem comum. Segundo Demétrio Tiriyo, a liderança deve possuir um plano objetivando a
melhoria da vida de seu povo. Assim, mostra-se importante também pelo fato de ser o
sujeito responsável pelas decisões mais difíceis e que, muitas vezes, são impopulares.
Todavia, tais decisões devem ser esclarecidas, explicadas a seu povo. Como exemplo, ele
cita o tempo em que seu pai foi cacique:
[....] meu pai lá ele proibiu bebida, ele proibiu! mas porque bebida, meu pai é
muito contra isso porque causa problema, entendeu! bebida tradicionais ele
proibiu, álcool, ne! bebidas da cidade e nem cigarro, é proibido lá. É regra
dele, entendeu! então ele sempre falava “olha eu não quero que vocês tomem
bebida forte, tem que ser equilibrado, porque se você aumentar a bebida você
não vai pensar, seu trabalho! Tu vai querer todo dia beber, então meu pai não
gosta isso, isso também eu pesquisei, será que meu pai ta falando a verdade?
aconteceu problema dentro da sua comunidade, então ele me chamou e falou
- tu viu o que aconteceu agora ? se todo mundo tivesse bem ia acontecer isso?
O que ta causando problema é bebida, ai eu falei “ah pai, agora eu sei! entao
eu to apoiando ele, vocês podem beber, mas não pode beber muito, tem que
equilibrar pra não ficar tanto porre, porque isso também papel de liderança
indígena, aconselhar a comunidade, isso.
[....]aí nesse caso eu posso falar um pouco mais mesmo a nível pessoal, é que
em determinados temas quando eu me posicionava, não só como liderança
indígena mas como coordenador regional, que na época que exerci durante o
período, a minha fala ela tinha um peso porque realmente, além de ter o meu
comprometimento com a minha comunidade, de estar ali defendendo o melhor,
o que seria o melhor para a população indígena, eu também conhecia tinha e
domínio sobre aquela temática que eu estava tratando, conhecendo
principalmente, aí o que a gente vai falar dos saberes externos da terra
indígena é que nesse sentido, muitas vezes, eles é mais valorizado do que o os
saberes próprios, mas eu não sei se eu vou divagar muito da tua temática
(Paulo Negreiros).
Nesse sentido, por estar se formando em Direito, Paulo Negreiros entende que
goza de credibilidade perante sua comunidade para abordar a temática referente aos
aspectos legais e jurídicos. Segundo o entrevistado:
[....] Então para você ter educação, você precisa mandar a pessoa ir para fora
estudar, ne! Ter o conhecimento, se formar como professor, né! Fazer uma
licenciatura na Universidade, e aí, realmente, é um conhecimento não indígena.
É nesse sentido que eu digo que a questão da valorização, então eu saio da
minha comunidade, estudo, por exemplo, venho e faço uma licenciatura, eu
volto e vou ter na minha fala o domínio sobre aquela determinada área temática
da educação, e com isso eu posso dizer que a minha fala vai se sobressair,
quando você for fazer uma questão de valoração, entre vezes uma opinião ou
outra, enquanto eu formado na área uma formação não indígena do
conhecimento não indígena, vou ser bem mais conceituado do que uma pessoa
que não tem essa mesma formação. Bom, aí eu posso trazer um exemplo mais
prático que eu, por exemplo, eu sou estudante do curso de direito, e tem outros
indígenas e parentes da minha etnia que também fazem e que no momento em
que se posicionam falando e defendendo a questão dos direitos indígenas, no
momento que você demonstra que você tem um conhecimento um pouco maior
a respeito das leis, ne!
Deve, portanto, estar “disposto a cumprir esse papel de liderança, né! de ter essa
doação, no caso, por exemplo, enquanto eu não sou uma liderança de comunidade que é
o cacique que é os conselheiros, eu me enquadro mais uma liderança da política
indigenista”. No corpo de sua fala, ganha destaque essa distinção entre lideranças
comunitárias e políticas, onde cada espécie tem determinados assuntos e matérias que são
de sua alçada, gozando de amplo respaldo para sustentar posicionamentos.
Na presente categoria, entendemos que também estaria inserido o oitavo
questionamento que se referia à percepção dos indígenas acerca do caminho a ser trilhado
por um líder. Quando questionados acerca do percurso para se tornar uma liderança
indígena (“quais os caminhos que o indígena precisa seguir se quiser ser um líder de seu
povo, assim como você?”), as 06 lideranças trouxeram elementos diversos, mas que se
complementam.
Em todos os casos, explícita ou implicitamente, vem a noção de respeito, amor ou
apreço pelo seu povo. A liderança não constitui um fim em si mesma, sendo construída
em razão de uma coletividade que dela necessita, bem como a legitima.
Das narrativas coletadas e analisadas depreendemos a inexistência de um roteiro
estático e livre de influências externas. Não há um modelo ou projeto prévio, mas um
grupo de comportamentos, atitudes e vivências que contribuem nesse percurso.
Tratar de modo linear e encadeado acaba por esvaziar a complexidade e a
profundidade de todo o processo de formação da liderança. Ganha destaque a o binômio
107
[....] para as pessoas que precisam ser líder, eles têm que confiar e ganhar a
confiança do seu povo, ganhar confiança e respeitar seu povo, respeitar todos
os protocolos, né! do seu povo, e também respeitar os parceiros, ne! Seguir a
orientação dos amigos do movimento indígena, e também não contrariar a
nossa representante de nível Nacional, a PIBI. Não contrariar a nossa
representante de nível Amazônia, COIAB, ne! é assim que eu “foi” me
desenvolvendo, ne! e também aqui pra ser líder, essa pessoa tem que lutar,
defendendo seu povo, sempre acompanhando, por exemplo, se o liderança está
aí, ajudar ele, passar a informação para ele, vai ser assim... então tudo assim!
eu comecei desse jeito, né! mas hoje eu tô aqui, sempre como eu falei com o
pessoal, ne! eu hoje eu sou uma pessoa bem ocupado, né! Cada dia eu tenho
aquela reunião, tem outro dia né, pra mim isso é importante, ne! Eu queria
essa reunião todo dia para mim, grande importância, ne! Porque esse papel
que eu tenho aqui nesse mundo, eu acho que Deus que me deu, né! então eu
não posso dizer que não vou participar, entendeu?!.
[....] primeiro, princípios, né! Porque assim, porque toda vez eu fico falando
princípios, porque se não tiver isso a pessoa se perde no meio do caminho,
porque muitos tentam complicar lideranças, você tem que ter, ser
determinado, é... você tem que ter, tem que ser, sempre pensar no coletivo,
sempre pensar. Eu acho que um dos meus grandes erros da minha vida é
sempre pensar no coletivo. E isso aí isso não é uma virtude não, isso é um
defeito! Eu coloco assim, que seja um defeito mesmo. Muitas das vezes eu já
tive falas assim, a gente tem muita gente e eu sempre falei que eu “tô” no
movimento indígena porque eu amo que eu faço, tá na minha pele, tá no meu
sangue e isso para mim é muito forte! por isso que eu disse que ser liderança
não é algo que a gente aprende numa escola, e aí eu posso “ta” sendo, talvez,
até sendo ignorante tá falando isso, mas é algo que você sente, é algo que
move, é algo que te provoca, te instiga pra “ta” nisso, sabe! é um pouco isso,
é um monte coisas, é diferente falar isso (Simone Karipuna).
a liderança não existe por si só, mas em razão do movimento social ou da comunidade
envolvida. É no seu interesse que deve atuar pautado(a) pelo respeito, capacidade de
dialogar e estar aberto ao novo.
Por fim, ela traz uma observação pessoal de que:
Outro aspecto deve ser ressaltado no tocante à fala do Indígena Demétrio Tiriyo.
Segundo a liderança, o interessado deve pautar-se pelo caminho da presteza, isto é,
mostrar-se presente, ocupar gradativamente espaços onde o coletivo permita a discussão
ou possa contribuir e interessar-se genuinamente pelas demandas de seu povo. Nesse
mesmo sentido opinam os indígenas Paulo Negreiros e Cecília Apalay.
Conclui Paulo Negreiros que, no contexto indígena, é indispensável que em seu
percurso entenda a necessidade de construir consenso. Diferentemente de outros sistemas,
no trato dentro do movimento social indígena e da comunidade não se concebe a decisão
de caráter unilateral, o líder deve ouvir os demais membros daquele coletivo.
Ao tratar do questionamento, para além de um caminho ou trajeto a ser seguido,
os entrevistados ressaltam que intimamente ao percurso está ligado o desenvolvimento de
competências. Não haveria um trajeto linear, a existência de um roteiro fixo esvaziaria a
complexidade e a profundidade necessárias à formação da liderança. Como ponto central
está a proatividade e a participação. Vincula-se a ideia de luta à construção do perfil do
líder. Nesse sentido, a liderança é constituída em movimento e no próprio trajeto,
incorporando a sua personalidade elementos e ferramentas de acordo com as necessidades
que surgirem.
110
Quanto a indagação acerca da contribuição escolar (“a escola contribuiu para seu
interesse em representar sua etnia? Você estudou ou aprendeu algo que te incentivasse a
ser uma liderança indígena ou conheceu alguém na escola que influenciou você?”) foram
ouvidas as 06 lideranças e, apesar de todas afirmarem ser um instituto importante de
maneira geral, apenas 04 entendem de modo expresso que foi relevante para formação de
lideranças.
Extraimos dos relatos que para todos(as) os(as) indígenas houve uma contribuição
em suas formações na escola. Ainda que não seja decisiva, a educação escolar somou-se
às demais modalidades educacionais vivenciadas na constituição do perfil e das
habilidades da liderança. Pelo que se verifica das narrativas, as lideranças afirmam que
Educação Formal foi valiosa para a sua formação, representando uma ferramenta a
serviço da coletividade indígena, constituindo instrumento que possibilita um diálogo
verdadeiro e claro com a sociedade envolvente.
A educação escolar indígena passou por amplos processos de transformação e
atualmente é reconhecida pela legislação vigente e estruturada de modo a ser específica,
diferenciada, intercultural, bilíngue e comunitária. Segundo Medeiros (2012, p. 3),
Cada povo deve ter o direito de pensar a sua escola. Diferente do que
historicamente aconteceu na escolarização indígena e mesmo na ocidental, que
sempre buscou homogeneizar as pessoas, a escola indígena específica e
diferenciada vem com uma proposta inovadora de respeito às diferenças.
[....] olha! na época, o meu professor falecido me disse assim: olha você tem
que ser... alguém de vocês tem que ser líder para representar vocês, ele sempre
falava para a gente, na época quando eu era bem jovem, ele disse assim para
a gente: olha, eu não quero que os não indígenas sejam resto da vida de vocês
professor de vocês, como é que chama? os enfermeiros, eu quero que a partir
daqui, vocês vão ter que estudar, escolher a área de vocês, representar povos
de vocês, eu quero que você se torne Professor formado tudo mais né, e aí
quem me incentivou mais para “mim” chegar aqui, primeiro foi meu pai né,
ele disse: olha você tem que ser assim, você não pode, na época ele explicou
para mim, na época eu tinha oportunidade, o pessoal da FAB queria me levar
pra formação, para “mim” estudar, mas seu avô não permitiu para eu estudar,
113
então hoje eu estou nessa situação, e eu vou te dar essa liberdade para você
aprender, eu sei que você vai passar várias dificuldades mas eu quero que o
resultado vai ser bem melhor para nós, né!
[....] não tinha uma discussão para que houvesse o ensino diferenciado para
dentro do território. Hoje não, hoje graças a deus através de muitas lutas já
tem esse olhar, a gente já consegue contemplar professores indígenas, a aula
é em nossa língua, ne! Tem toda uma questão e eu atribuo a minha liderança,
muito a esse aprendizado que eu tive com o meu avô, com a minha mãe, meu
pai, eu atribuo muito a isso. Logico que houve, de certa forma, contribuições
trazidas dentro desse contexto escolar, mas eu atrelo isso ao meu início de
acompanhamento dos meus líderes.
Porque, digamos assim, nada vale o conhecimento científico se ele não tem
um reflexo sobre o dia a dia, ne! sobre a atividade prática da comunidade.
Então, não adianta, por exemplo, eu estudar química ou física, se eu não
conseguir utilizar isso no meu dia a dia, durante a minha pesca, durante a
minha caça, durante a minha roça. Então a escola por si só, dentro de uma
comunidade, ela não faz sentido se não for pra um projeto, posso dizer, um
projeto maior de integração, busca de conhecimento, e nesse mesmo contexto
de ocupação de espaços, por exemplo, hoje a gente tem escolas em
praticamente todas as comunidades indígenas, ne!
[....] Então você falar de educação na construção da liderança, ela, ao me ver,
é apenas um gatilho, digamos assim, é apenas um estímulo para que, você ali
muitas vezes, você pega e se inspira, por exemplo, a partir da visão de um
professor, da forma como ele fala, principalmente a questão da oralidade, que
num contexto indígena é algo realmente super valorizado, e aí no sentido
115
realmente bom da palavra, não que a oralidade seja ruim, muito pelo
contrário, há uma grande valorização da questão da oralidade,
principalmente na construção da liderança indígena, hoje ela se dá através da
oralidade, então no ambiente escolar você ter realmente esses espaços, não só
para adquirir conhecimentos do contexto não indígena, mas do contexto da
própria comunidade.
principalmente na oferta das séries iniciais, alcançando quase todas as aldeias indígenas”.
Isso não significa que não persistam problemas (LUCIANO, 2013, p. 3).
Nesse ponto, destaque-se que a educação escolar indígena tem sua parcela de
contribuição. “É importante que o processo educativo da escola indígena seja orientado
por educadores que conheçam a cultura do povo” com o fim de evitar que saberes
tradicionais ou especificidades da comunidade sejam desconsiderados nesse processo,
sobretudo os processos anteriormente vivenciados pelas crianças e jovens que foram
inseridos no contexto escolar (SILVEIRA; SILVEIRA, 2012, p. 55).
Conforme Bergamaschi e Medeiros (2010, p. 62):
um caráter instrumental. Também se nota seu papel na preservação dos registros culturais
específicos de cada etnia.
As lideranças também destacam que seus professores foram grandes
incentivadores no engajamento e participação política, reforçando a necessidade de
assumir o papel de comando ou ao menos o valor de contribuir com sua coletividade. Esse
incentivo, ao que se infere das narrativas, era algo episódico e despido de qualquer
formalidade.
De maneira complementar, extrai-se da educação escolar indígena sua função
pedagógica relacional e atitudinal. O espelhamento e modelagem da postura e atitude do
professor permitiram a construção de um perfil próprio de atuação de cada liderança. A
admiração e prestígio dos quais a figura do professor ou da professora goza diante da
comunidade indígena são fatores que ganham relevo quando se busca referências e
exemplos de modos de atuação.
Essa posição de destaque dos professores e professoras indígenas, consoante as
narrativas, permitem a gestão e administração dentro do núcleo escolar bem como
atribuem credibilidade e seriedade a sua fala e argumentação diante da comunidade
legitimando seus discursos e posicionamentos.
[....] a minha família me influencia bastante, ne! Como eu falei antes, meu pai
foi uma liderança aqui da comunidade, então ele foi cacique durante uns dez
anos, ele trabalhava na saúde, então ele sempre teve muito assim, ele sempre
foi uma liderança ativa aqui dentro da minha comunidade, minha mãe também
é professora, ela é professora há uns 30 anos, umas das primeiras professoras
aqui da minha comunidade, então me incentivou bastante também. Minha avó
materna foi uma grande liderança com relação ao movimento de mulheres da
minha região. Então eles me incentivaram bastante, principalmente ela, pelo
fato de, nas nossas comunidades, eram muito poucas lideranças mulheres,
sempre foram homens, ne! Sempre foram espaços, assim, dominados por
homem. Então eu tive muito incentivo, sim, da minha família.
[....] meu pai era o fundador da Aldeia, junto com meu avô, e ele era vice
Cacique. E aí ele assumiu a presidência da associação na época, e ele me
incentivou, aí teve problema de gestão, na época, que não indígena fez
problema, né! A partir daí que ele disse para mim “olha, tivemos problema na
associação, eu quero que você estude para que nunca aconteça mais com
nossa associação, futuramente, né! E por isso, que hoje nós temos, eu acho
que 10/11 anos, eu estou com 10/11 anos dentro da associação agora, aí nunca
mudou, nem tive problema, e meu pai sempre falava, é isso que eu te falei, eu
tenho orgulho de você, porque até agora a associação não tem nenhum
problema, aí fiquei muito assim, né! aí partir daí, o povo também tem essa
credibilidade, olha essas pessoas levaram muito em diante a associação,
quero que vocês continuem tudo mais, então é assim né, mas tem outros
parentes que querem assumir também, mas quem delibera mesmo, quem é
soberano, é a assembleia né, unidades indígenas.
120
Olha... o que eu assim tento trazer muito na minha atuação, é que o meu avô
era irreverente, ele era uma pessoa que tentava fazer com que, por mais que
houvesse dificuldade, né! ele fazia as pessoas rirem, ne! ele gostava de fazer
o ambiente ser apropriado para que ocorresse o diálogo, para que as coisas
fluíssem, sabe! Eu lembro que no início eu, no início, eu ficava pensando...
muita das vezes meu avô chegava e tirava, falava umas coisas e as pessoas
riam, sabe! E aí eu ficava chateada porque eu achava que eles estavam rindo
do meu avô, ou “tava” achando que não “tavam” levando ele a sério. Assim,
eu observo isso pra mim, que eu coloquei pra mim enquanto liderança, às
vezes, quando eu vejo que ta muito tenso, eu puxo uma brincadeira, e eu sei
que essa dinâmica da certo! eu aprendi com meu avô (Simone Karipuna).
Ela relata que sua família foi muito importante em sua formação, mas que a
contribuição do movimento social indígena foi decisiva e inegável. Conforme seu relato:
[....] meu pai falou “ tu vai ter que engolir todos os problemas, depois isso não
vai fugir problema pois você foi escolhido para resolver isso, então meu pai
falava sempre isso para mim, então é muito importante para ser uma
121
liderança, porque se você vai ficar como criança, falar coisas besteira como
“nossa” governo tá falando agora, né! presidente ele é igual criança, falar
coisa tipo “gripezinho” isso não pode ser liderança, tu não pode falar
qualquer coisa, você é uma liderança muito importante. Então se alguém falar
alguma coisa, melhor não falar nada! Pense primeiro para poder responder a
resposta, o que a comunidade quer, entendeu?!, durante briga tu não pode
responder, você tem que ficar calma “olha, não, cancela agora a reunião! Eu
posso te responder amanhã, outro dia” isso vai também... você vai ser muito
importante, porque a comunidade você parece como um pai, entendeu!? para
tudo, entendeu! assim me tornei liderança, isso muito importante, ali eles não
podem ficar insatisfeitos rápido, entendeu! A liderança vai engolir todos os
“problema” e depois resolver, então se você conseguir resolver isso você vai
ser boa liderança, assim meu pai falava. [....] isso é importante as pessoas
ouvirem também para se tornar líder
Meu pai é forte, ele é muito forte! quando eu vejo meu pai falando, eu aprendi
também com ele, é verdade, meu pai falou isso... ele tá correto, as lideranças
indígenas fala assim, então, eu copiei isso também, como falar, né! então isso
é muito importante, porque aprendi que tudo isso é líder!
[....] o meu avô foi uma liderança, um dos fundadores da aldeia Manga que é
a maior aldeia da terra indígena do Oiapoque, aldeia da comunidade Estrela
que é a aldeia com a qual eu me identifico. E assim, todo esse caminhar dele
sempre foi muito rememorado, muito valorizado, né! está em livros, então
querendo ou não, acaba não só influenciando, né! sobre também a nossa
vontade de continuar com essa trajetória e a concretizar os planos que foram
iniciados por eles, como também de maneira reflexa, digamos assim, aqui toda
caminhada dele refletiu sobre a sua descendência, os filhos, os netos, e hoje
assim tô falando dos parentes no sentido estrito, é meio complicado, meu avô
teve 22 filhos, então só de tio eu tenho tios que eu nem conheço, alguns são
caciques hoje, são lideranças também e não deixam de ser uma inspiração,
um estímulo, digamos assim, para a gente continuar com essa caminhada
[....] a minha tia que a Creuza dos Santos, que é cacique da Aldeia Ahumã,
meu tio, Luciano dos Santos, que é ex cacique da aldeia Manga também são
pessoas que, no momento em que eu retornei para trabalhar aqui na minha
região, foram pessoas que me valorizam, não apenas como coordenador,
servidor da FUNAI, mas me valorizaram enquanto indígena, enquanto
liderança, e através deles os outros cacique, as outras lideranças passaram a
122
[....] no meu regresso, devido essa questão da minha longa ausência, não só
de dentro da comunidade, mas devido a morar em Macapá a alguns anos, e
mais essa minha não participação das reuniões do movimento indígena em si,
ela causou estranheza no momento do meu regresso, inclusive, pôs em dúvida
a minha etnicidade. Então quando eu falo que essas lideranças foram
importantes, foi porque foram pessoas que realmente estavam do meu lado ali,
afirmavam, né! reconheciam sim, falavam é meu sobrinho, eu conheço e sei
que ele fará um trabalho comprometido, então a partir desse laço familiar
direto, ele acabou se irradiando para outras lideranças.
[....] meu pai ficava preocupado na época, minha mãe também, principalmente
minha mãe, que não aceitava minha interação com mais velhos né! mas eu
gostava! aí depois, quando eu já tinha 12 anos, meu pai começou a conversar
comigo, porque era estranho, né! pra eles. Só que eu continuei, né! e aí depois,
1984, meu pai me incentivou para que eu estudasse, né! Para que eu possa ter
esse conhecimento “científica” que não é nossa cultura, né! porque a nossa
cultura nós temos também, aí ele falava assim “minha filha, você tem que
estudar porque no futuro vai ser diferente para nós, né! não vai ser como hoje
em dia, hoje em dia nós temos ainda o apoio da FUNAI, assistencialismo né!
ele falava isso! não sei da onde ele tirava esses conhecimentos; até hoje eu
fico me perguntando: onde será que que meu pai teve essa ideia? e meu pai,
ele me incentivava, não só eu, meus irmãos também. Meus irmãos mais velhos,
só que na época o estudo não era tão importante pra mais velhos, ne! Só que
meu pai, que na época ele se preocupava, na época ele foi criticado pelo
cacique geral (Cecília Apalay).
Essa Educação Informal se caracteriza justamente por ser pouco visível inserindo-
se espontaneamente na rotina da coletividade, neste caso, a indígena. Saliente-se que a
aprendizagem informal está associada à prática e ao fazer, de modo que as noções de
participação e pertencimento se mostram como elementos constantes desse contexto de
aprendizado (ARANHA, 2007; BROUGÈRE, 2012).
Nela é inexistente a ideia de finalidade anteriormente projetada, enquadrando-se
na percepção de um processo permanente que acontece dentro de relações interpessoais,
situando-se no campo dos sentimentos, do pertencimento e do rito de socialização como
resultado de uma rede de troca de saberes universal (BRANDÃO, 1985; GOHN, 2006).
Assim, é de se constatar como é marcante a manifestação e a influência da
Educação Informal dentro do contexto indígena e o quanto ela é valorizada por esta
coletividade. O repasse espontâneo e cotidiano de saberes agrega valores e atitudes aos
potenciais líderes, bem como reforça os laços com sua coletividade.
Ampliando a indagação, na oportunidade também se questionou aos indígenas
acerca da existência de referências além da família (“Outras pessoas da comunidade
foram importantes para sua participação como representante de sua etnia?”). Buscamos,
portanto, referências sobre a Educação Informal comunitária. Ouvidas as 06 lideranças,
todas apresentaram relatos que envolvem indivíduos alheios ao seio familiar que
contribuiram em sua trajetória como líderança.
Percebe-se pela dinâmica estabelecida que é comum os mais velhos/experientes
observarem atentamente os perfis e personalidades na comunidade e, a partir dessa
percepção, incentivar a construção de um perfil de líder. Esse incentivo é acompanhado
de conselhos e do reforço acerca da necessidade de continuidade da mobilização. Em
todas as falas é comum que se toque na ideia de “representar seu povo”, “continuar o
trabalho” e “lutar por sua comunidade”.
Portanto, para além das relações diretas de parentesco, Janina dos Santos informa
que:
[....] várias lideranças que hoje, maioria deles já morreu, alguns que não
participam mais, mas lideranças antigas como eu falei, eu citei a minha avó
ela era uma das mulheres que chegava numa assembleia, pegava um turbante
e falava na frente, ne! um ancião nosso daqui o finado Iaparrá e outras
anciãos de outras comunidades,ne! O Sr Luciano ele foi uma grande liderança
da aldeia do Manga, eu gostava de ouvir as palavras dele falando na frente.
O padre Nelo também que sempre participou das nossas assembleias. Então,
são várias pessoas, o Sr Lodi da aldeia Galibi, então esses anciões são muito
importantes; e outras lideranças mulheres, tipo dona Verônica que é uma
liderança mulher, dona Creusa, que foram umas das primeiras mulheres
lideranças, então elas me incentivam bastante (Janina dos Santos).
[....] inclusive eu aprendi com esse movimento social, né! Eu não vou dizer que
“ah! Que esse movimento social não é escola, não” essa é uma coisa muito
importante pra vida do ser humano, ne! Pra mim foi muito importante,
inclusive eu aprendi no movimento social, pra eu estar aqui nesse momento,
eu aprendi olhando as pessoas lutando, como é que eles falavam, ne! Como é
que eles começam a iniciar as suas falas, finalizar e tudo mais, pontuar
algumas coisas, né! E aí, a partir daí, que eu aprendi, e aprendi falar, aprendi
também a aprender como se comportar como liderança indígena, eu acho que
é na movimentação indígena a gente aprende muitas coisas(Kutanã Waiana).
A Indígena Simone Karipuna cita uma série de pessoas que contribuíram para sua
formação seja com conselhos seja por desempenhar determinado papel em algum caso
específico que serviu de paradigma para os demais. Segundo ela:
são muitas pessoas que eu que eu tenho assim, que eu tenho como uma
inspiração pra poder caminhar, o Mandela, lógico, meu avô, minha mãe. Eu
venho de uma região, sabe! Uma região muito pequena, uma aldeia pequena
e aí também, por eu vim de lá, também tendo esse legado, né! Eu tenho meu
avô, minha mãe, meus tios, minhas irmãs, né! Eu tenho uma irmã que ela teve
um marco muito forte, inclusive na discussão do concurso público específico
para os povos indígenas, que ela teve nessa frente, e eu chego a uma pessoa
que contribuiu muito pra minha vida, que foi a Estela caripuna, ela era, foi
uma pessoa que eu tenho muito, muito respeito, muita admiração por ela.
125
Também a Priscila Karipuna, são pessoas que eu tenho no meu círculo, né!
De espelho de pessoas que tem uma reputação, tem toda uma história que me
faz tufar o peito assim, sabe! Igual “aqueles” passarinhos, assim, tentando me
bater e sentir que aquelas pessoas me orgulham (Simone Karipuna).
No que pertine aos relatos dos indígenas Demétrio Tiriyo e Paulo Negreiros,
constatamos a contribuição de lideranças de outras terras indígenas no Pará, mas também
o incentivo de servidores da Fundação Nacional do Índio e organizações não
governamentais. Em verdade, não foram propriamente ensinamentos técnicos, mas
conselhos informais e breves orientações.
Quanto ao relato de Cecília Apalay acerca de influências fora do contexto familiar:
[....] tinha um senhorzinho, não sei se você chegou a conhecer ele, pai do
Macaraputi, né! Ele faleceu, faz muito tempo não, mais ou menos 4 anos que
ele faleceu. Ele que cuidou do meu pai quando ele era pequeno ainda, jovem,
ne! Um dia ele veio, quando eu assumi associação ele conversou comigo, ele
disse assim: minha filha, agora você... eu não aceitava conselho dele, eu
sempre coloco isso pros futuros jovens que vão ser lideres, ne! ele falou assim
um dia na festa, porque eu gostava de pular, dançar, gritar, era muito... agora
eu to mais ou menos, aí ele falou assim “minha filha, agora você é liderança,
você agora tem que se comportar como liderança” ele falou assim mesmo.
Segundo ela, ele dizia “‘eu vejo você como criança, filha’ e eu não era, eu já era
adulto já, eu acho que eu tinha trinta e poucos anos, 35 anos já. Aí ele falava, ele falou
isso uma vez, você tem que se comportar como líderes, você agora é uma liderança”. Ele
insistia que a entrevistada era, agora, “representante do seu povo, ele falou isso! ele tinha
mais de 80 anos, 80 90 anos, ele tinha vários conhecimentos”.
Prossegue seu relato explicitando que não queria dar ouvidos àquela liderança que
a orientava:
Aí eu não queria ouvir, aí um dia eu pedi para minhas colegas, falava assim,
falei assim para mulheres: mulheres, vem cá, dá bebida pra aquele senhor
porque ele disse que eu tô pulando, to parecendo doida, aí as mulheres foram
lá e deram bebida pra ele, né! e depois me arrependi, eu não deveria fazer
aquilo lá, né! mas ele não desistiu de mim, no outro dia ele conversou comigo
de novo, ele sabia que foi eu que mandei dar bebida pra ele, ele dançou aquele
dia, aí ele voltou e me chamou la, minha filha, vem ca, vem conversar comigo!
ai eu fui lá. Foi você que mandou dar caxiri pra mim mas lembra, um dia você
vai lembrar que é importante você amadurecer; assim você nunca vai ser
representativo, aí falou assim mesmo pra mim. Só depois, quando ele morreu,
eu lembrei a mensagem que ele me deu. Realmente para ser líder, você tem
que começar a se comportar, ter uma postura, né! porque você já é uma
liderança, né! mas eu não queria aceitar, mas depois eu aceitei, tranquilo! é
isso! e aqui no meio também teve muita gente que me ajudou para eu me
comportar como ser líder, ne! sempre no final de semana, eu com minhas
irmãs “gostava” de tomar uma cervejinha, né! Não pode ficar tanto tempo
preso.
126
comprometer com algo que não é de sua competência”). O fato de tais conhecimentos ou
experiências serem baseados no senso comum das lideranças anteriores não desvaloriza
ou desmerece tais saberes. Ao contrário, fortalece a ancestralidade que aproxima as
gerações.
Nessa medida, inferimos que para além de ouvir os membros do grupo, o que
ocorre, efetivamente, é o debate e o esclarecimento acerca de cada tópico inserido como
objeto ou pauta da assembleia. Notamos que, por mais natural e necessária que seja a
deliberação coletiva, ela é marcada por organização e levada a sério pelos povos indígenas
de maneira a permitir, substancialmente, a participação e a busca por uma solução da
demanda que considere as diversas visões de mundo existentes no seio da terra indígena.
129
[....] A minha aldeia... hoje ela é uma das aldeias exemplos da região, de meu
Cacique, Cacique Silva. Ainda não encontrei ninguém que tenha saído da
minha aldeia, que tenha saído de lá, porque que ela acolhe, ela tenta dar ao
máximo de atenção, até para algumas pessoas que vão para alguma atividade.
Então assim, a coletividade sempre fala muito, orgulho da minha Aldeia.
As demandas vão chegando... tem algo que é uma decisão que a gente tem que
tomar pra algo que vai beneficiar a comunidade, né! E aí todo mundo reúne
para poder fazer, tomar decisão, se vai ser partilha, se não vai. Mas tem
também outras situações “ah, quebrou aqui e tem que se comprar, pagar o
conserto” a gente se reúne em comunidade, todo mundo, para poder contribuir
e resolver a situação, então é muito assim (Simone Karipuna).
Bom, no contexto específico lá, não só do Oiapoque, mas outros povos têm
esse mesmo modo de construção, mas no Oiapoque geralmente você tem os
caciques que são as lideranças da comunidade mesmo, diretamente, e você
tem aquelas outras lideranças e aí é aquilo que eu te falei, né! São os
professores, os profissionais da área da saúde, os profissionais de outras áreas
que no momento em que se está discutindo algum tipo de problema, um
determinado assunto, estão ali dando a sua opinião e assim cada
posicionamento, cada opinião é levado em consideração na construção entre
os caciques. Então eu chego lá, por exemplo, me posiciono, e assim cada
liderança vai criando o seu convencimento, né! e a partir do convencimento,
das discussões que são feitas lá os caciques tentam chegar a uma unanimidade
sobre determinado tema, se sim ou se não, geralmente, se consegue na
verdade, lógico unanimidade não no sentido exato da palavra, né! Mas
geralmente a maioria dos caciques conseguem convencer a minoria a aceitar
ou recusar aquela determinada proposta, então a decisão final parte da
liderança da comunidade, mas as lideranças políticas, posso dizer dessa
forma, como é a forma que eu me considero, estão ali para opinar e subsidiar
as lideranças da comunidade a tomarem essas decisões [....].
Em relação ao Oiapoque a gente pode dizer dessa forma, porque a construção
deles é nesse sentido, apesar de lá serem quatro povos e três terras indígenas,
eles sempre consideraram aquilo como um povo só, uma terra indígena só, e
as decisões têm que ser tomadas em conjunto, diferentemente de algumas
outras etnias, no caso dos waiãpi, em que cada cacique toma decisão sobre a
sua região (Paulo Negreiros).
[....] Olha, a questão do movimento indígena, nessa construção, acho que ela
é mais uma influência, lógico, uma influência direta e que você aprende na
vivência mesmo. Então, quando você começa a participar do movimento
indígena, você vai vendo outras lideranças, a forma como se fala, como se
posiciona, aprende muito sobre a questão dos direitos, né! Principalmente
essa parte da oralidade, como eu falei, que é realmente muito presente e
importante no contexto indígena. Você vai construindo o seu caráter a sua
formação a partir da visão dos outros, né! então nesse sentido, os movimentos
sociais eles realmente são sim importantes para essa construção, muitas vezes
determinante, ne!
Olha, a gente cresceu com atuação do CIMI muito forte na minha região.
Acompanhei minha mãe em algumas unidades ofertadas pelo CIMI, a COIAB
contribuiu, eu inclusive, participei de um curso que era, que formava
lideranças para coordenar organizações, era um curso de 6 meses intensivo.
Então contribuiu muito também, tive ONGs também, e caso, na época a TNC
(The Nature Conservancy), que também contribuiu para tá tendo essa
formação que eu tenho hoje, assim de luta e de entendimento também.
Nessa formação que eu tive, que era das lideranças indígenas da Amazônia
brasileira, eu fiz no Maranhão, em Imperatriz, Maranhão. Ela reuniu grandes
lideranças e foi lá que eu conheci a Sônia Guajajara, que até então não era,
não tinha essa figura forte que é hoje. Conheci várias outras lideranças de
expressão também nesse curso, então nós, durante esse curso, a gente... foi o
salto, sabe! tinha indígenas do Mato Grosso, para você ver que era uma
abrangência que tinha até indígenas Chiquitano que é um povo que “tava”
quase em extinção, ne! Então foi uma coisa super interessante, nós tínhamos
professores de vários lugares, né! que tinha determinadas, é como é que eu
posso dizer, vários temas que a gente dialogava, e ai assim, a gente ficou no
Hotel Fazenda e aí a gente, para além das atividades que a gente tinha dentro
de sala de aula, a gente tinha as trocas de experiência durante os finais de
semana, e isso justamente fortalecia a nossa formação lá dentro.
mesmo, pessoas não quis que IEPÉ entrasse, então quem ajudou a entrar IEPÉ
é o Tiriyó, antes Apalai não quis, mas Tiriyós aceitou apoio do iepé. Então
realmente aconteceu trocar apoio mesmo com Iepé, por exemplo, hoje eles
estão apoiando com saúde durante enfrentamento de Covid, quem apoiou?
Iepé!.Salvou a vida dos povos indígenas, por isso nossa confiança com
parceiro Iepé é muito grande, muito grande mesmo. Depois temos também o
chamado ACT Amazônia (Amazon Conservation Team Brasil- ACT Brasil)
que também apoiou, né! Apoiou durante a pandemia aqui na cidade, os idosos
ficaram aqui na cidade preso e não conseguiram mais voltar para sua aldeia,
então, também apoiou com transporte, levaram todos indígenas na sua aldeia,
missão Tiriyó, Apalaí, Kuxaré os dois lados; então são mais dois que estão
interessados para apoiar povo indígenas, na nossa saúde, com certeza, sem
falta, a FUNAI colaborou alguma coisa, com alimentação, cesta básica.
Santa Rosa (2020) entende que tal abordagem foi muito importante para a
preservação e homologação das terras indígenas do Amapá, em especial na região de
Oiapoque, considerando que a compreensão do rito da demarcação e dos órgãos
competentes permitiu a cobrança por parte das lideranças da delimitação e da conclusão
efetiva do procedimento demarcatório.
Ainda enfatizando o eixo Não Formal da educação, o Indígena Paulo Negreiros
destaca o papel do CIMI e do IEPÉ. Segundo ele “na região específica de Oiapoque,
houve, por exemplo, toda essa construção que hoje se tem da consciência do caráter
coletivo das decisões”. Cuida-se de uma atuação que é voltada ao protagonismo indígena,
para que “construam sua própria opinião e tenham condições e subsídios para manifestar
ela diante de todos, ou defender tanto para essa comunidade, quanto para o meio não
indígena”.
E prossegue:
Além de seu destaque para a Educação Informal no seio familiar, ela enfatiza
elementos que se vinculam à denominada Educação Não Formal. Enfatizando a
relevância do movimento social, Janina dos Santos ressalta que:
Constitui, assim, uma via de mão dupla, caracterizada por uma aprendizagem
recíproca e dialógica. Conforme 03 (três) dos indígenas entrevistados, o Conselho
Indigenista Missionário incentivou a interação com lideranças de outras etnias visando a
construção de uma rede de contatos e, ao mesmo tempo, o aprendizado pela convivência
nos eventos organizados pelo movimento social indígena.
Nessa linha, afirma Santa Rosa (2020, p. 44) que:
situam em terras indígenas fora do Amapá e Norte do Pará compareciam para promover
a troca de experiências, contribuir com a luta pela terra e fortalecimento da organização
das comunidades (BASTOS, 2018).
No cenário referente às terras indígenas do Amapá e Norte do Pará o CIMI e o
IEPÉ tiveram esse papel que, por meio da Educação Indígena Não Formal, permitiram a
realização de oficinas e reuniões que contribuíram no aprimoramento desse coletivo.
Assim, nas terras indígenas situadas na delimitação territorial mencionada, pelo
que se apresenta até o momento, o Conselho Indigenista Missionário – CIMI e o Instituto
de Pesquisa e Formação Indígena -IEPÉ foram entidades atuantes e necessárias para a
construção do senso de movimento social e de coletivo organizado por parte dos povos
indígenas.
Percebemos que as narrativas convergem para a noção conceitual construída a
partir de Gohn (2014) referente à Educação Não Formal. Segundo a autora, o conceito
adotado para educação não-formal.
Não seria algo inato ou inerente a interação rotineira, mas algo edificado diante
de condições e opções, partindo-se de uma escolha intencional e não naturalizado.
Constrói-se um aprendizado compartilhado marcado por processos com propostas
delimitadas (GOHN, 2014; BROUGÈRE; ULMANN, 2012).
Quando tratamos da Educação Não Formal é importante lembrar que a expressão
propriamente dita começou a ser utilizada no final dos anos de 1960 em um contexto
propício, onde as práticas sociais e o panorama político se mostravam abertos a novas
abordagens para além da escola formal. Na aprendizagem Não Formal, o método e o
processo têm como ponto de partida a cultura dos indivíduos e dos grupos (GOHN, 2006;
MARQUES; FREITAS, 2017; GADOTTI, 2005).
Enquanto experiência sistematizada e didática fora do contexto formal da escola,
ela se concretiza em ecossistemas interativos e coletivos alicerçando sua implementação
na participação intencional individual e coletiva que permite a transmissão de
conhecimento (GOHN, 2006; SILVA; PERRUDE, 2013).
138
[....] assim como incentivo eles, eu incentivo meus alunos em sala de aula, pra
que eles, quando crescerem, queiram lutar pela nossa comunidade. Para que
eles queiram melhoria para nossa comunidade, pra que nosso movimento
nunca pare.
Então eu acho muito importante, nós como lideranças jovens, a gente ter esse
papel de ta atualizando nossas lideranças mais velhas, de ta ajudando nossas
lideranças mais velhas e sempre que, outra liderança esta precisando numa
comunidade, a gente ta sempre pronto a ajudar. Então eu acho que isso é
importante hoje, e é importante que nós, lideranças, continuemos a avançar
sempre junto, ne! Já basta o que ta brigando a com a gente la fora, então eu
acho que aqui dentro a gente tem que ta sempre de mãos dadas, ne! Sempre
andando unidos. No mais é isso! (Janina dos Santos).
Olha, eu tô falando pro meu filho mais velho, né! Eu sempre falo para ele -
tem que estudar primeiro e depois seguir os passos que eu fiz, né! Mas se você
quiser se formar para ajudar seu povo, de forma diferente, é bom! Mas assim,
é como eu falei, tinha um cacique, que ele faleceu, ele era muito sábio! Ele
disse para mim assim “olha, cada um tem seu papel, por exemplo, seu papel,
140
o que você pensa para ser? ele me perguntou! como é que você queria? eu
queria ser um cara, um professor, dar aula, essas coisas pra mim ganhar
dinheiro um pouco, ajudar minha família. Isso era teu sonho, mas quem te deu
esse trabalho desse mundo para você, para seu povo, é Deus! talvez é o
destino, isso que ele falou para mim! E aí eles, que eu sempre falo com meus
filhos, “olha, minha filha, você estuda! pra você não ser igual eu, para você
não passar o que eu passei, mas sempre olhando para o seu povo” aí ela disse,
não, tudo bem! aí hoje eu to sem ideia ainda, mas eu quero ajudar meu povo
futuramente, né! É isso que é importante pra mim, ponto positivo,ne! eu nunca
incentivei meus filhos “ ah você vai estudar isso aqui, ali, vai ficar aqui na
cidade” não! pelo contrário, você estudar, você vai ter que voltar pra sua
aldeia, isso não significa que você voltar logo pra morar de vez, você vai voltar
ao trabalho. Por exemplo, na parte da saúde, da educação, ou talvez um líder
igual nós, ne! então quem sabe eles vão poder seguir nossos passos.
Já a Indígena Simone Karipuna informa que sua filha é pessoa com deficiência e
teria certas limitações para desempenhar o papel. Segundo ela “eu tenho uma filha, minha
filha tem 24 anos. Minha filha é especial, ela adora ver eu tá fazendo as atividades, ela
queria muito, mas ela tem limitações, mas eu acho que se ela não tivesse algumas
limitações”.
Afirma, ainda, que “se não fossem as limitações, ela poderia participar
tranquilamente, é porque, assim, a minha casa é uma casa de passagem, a minha casa é
uma casa de apoio indígena, então a minha filha fica todo tempo”. Crescendo nesse
ambiente e mantendo os laços com o seu “território”, sua filha persiste envolvida com
todas as demandas e elementos culturais.
Demétrio Tiriyo entende importante incentivar seus 05 filhos para assumir o papel
de líder, bem como buscar uma formação superior. Conforme sua narrativa:
Ainda sobre o nono questionamento, apesar de ainda não ter filhos, Paulo
Negreiros, além de fazer planos para futuramente ampliar sua família, tem total interesse
no incentivo e que seus filhos participem ativamente do movimento social indígena.
Segundo ele, “de certa forma, eu me sinto privilegiado por poder ter esse convívio com
o meio indígena, poder proporcionar isso aos meus filhos, se um dia eu tiver”.
141
Isso para mim é muito claro, que no momento em que eu tiver filhos, eu quero
que ele cresça nesse contexto, que ele participe desse meio, né! e estimular a
ter interesse sobre a questão da causa indígena, e poder ser mais uma pessoa
defender os interesses dos povos indígenas
No que pertine à fala da Indígena Cecília Apalay, ela afirma que incentiva
fortemente suas filhas a assumir o papel de liderança dentro do movimento, convida para
acompanhar e dá constantes conselhos. Todavia, a entrevistada já constatou certa
resistência e desinteresse diante da ampla gama de responsabilidades e atribuições, bem
como a vida marcada por renúncia e voltada para atender aos interesses de sua
coletividade.
Acerca desses valores e do panorama indígena local, apresentamos Domingos
Santa Rosa, liderança indígena Amapaense de Oiapoque, especificamente da etnia Galibi
Marworno, que traz suas impressões pessoais sobre o assunto. Nascido na aldeia
Kumarumã, ele morou no local até os 05 (cinco) anos e até os 07 (sete) na aldeia Kumenê,
também situada na terra indígena da região (SANTA ROSA, 2020).
Com 09 anos mudou-se para Belém-PA, acompanhando seu pai que iria se
apresentar no Ministério da Agricultura. Já adulto e atuando como servidor da Fundação
Nacional do Índio, regressou a sua terra natal e com o tempo tornou-se uma respeitada
liderança local.
Conforme Santa Rosa (2020, p. 30):
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
da coletividade. Pode ser que uma liderança indígena exerça os dois papéis, mas um
desses perfis será prevalente.
Quanto a contribuição da Educação Não Formal, observamos que a partir da
presença constante de entidades privadas em terra indígena há uma interação ampla que
vai além da mera convivência. Constatamos, por intermédio dos relatos, que há certa
diversidade de organizações não governamentais atuantes em terra indígena, sendo duas
de maior destaque: o Conselho Indigenista Missionário – CIMI e o Instituto de Pesquisa
e Formação Indígena - IEPÉ. De modo complementar, duas lideranças mencionam, ainda,
a COIAB e outras duas a TNC.
A despeito do aconselhamento, financiamento, oficinas e reuniões promovidas
pelas entidades não governamentais que contribuíram para a ampliação dos contatos entre
cada povo bem com promoveram a formação necessária à manutenção da constante
articulação do movimento social indígena, foi no seio familiar ou perante membros de
sua coletividade, alimentado pela tradição indígena, que a maioria dos entrevistados
aprendeu como desempenhar a função de liderança.
Por meio do repasse de saberes tradicionais e pelo próprio processo de
socialização entenderam a necessidade de desenvolver afeto pelo seu povo,
compreendendo que na gestão de grupo deve-se despir de vaidade e abandonar interesses
próprios. Construir um laço de fidelidade e confiança perante seu povo por meio da
participação ativa e interesse genuíno pelas pautas de sua coletividade e assim entender
que a liderança não existe por si só, mas em razão do movimento social ou da comunidade
que lhe dá origem e que a sustenta.
Quanto ao caminho ou trajeto a ser seguido, notamos, a partir da perspectiva dos
entrevistados, que o percurso é processual, contínuo, progressivo, é uma construção. Não
haveria um trajeto linear, isto é, a existência de um roteiro fixo, único. Aliás, se assim o
fosse esvaziaria a complexidade e a profundidade necessárias à formação da liderança
indígena. Como ponto central está o interesse e a ação participativa, vinculada à ideia de
luta para a construção do perfil do líder. Nesse sentido, a liderança é constituída em
movimento e no próprio trajeto, incorporando à sua atuação elementos e estratégias na
medida das necessidades que surgirem.
Ouvir os mais velhos e espelhar-se nos exemplos de sua comunidade foi a postura
narrada como ponto de partida, mas apenas a consolidação como liderança se deu com a
demonstração de interesse e participação de cada indígena. Os pontos comuns das
narrativas de cada líder indicam a observação, o interesse, o afeto pela coletividade, a
150
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Você está sendo convidado(a) para participar do projeto de pesquisa referente uma
dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação intitulada “Lideranças
indígenas No Norte Amazônico: Vozes do Processo de Formação”. A Pesquisa está sob minha
responsabilidade, Igor Barros Santos, e orientada pela Professora Dra. Helena Cristina Guimarães
Queiroz Simões. Nesta pesquisa busco conhecer o processo de formação junto às lideranças
indígenas do Amapá e Norte do Pará.
O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido será obtido pelo pesquisador: Igor Barros
Santos, portador do RG 2002006003596/AL, mestrando no Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Amapá, sob matrícula 2019100962, orientado pela
Professora Dra. Helena Cristina Guimarães Queiroz Simões.
A coleta de dados será realizada, a princípio, por meio de 01 (um) encontro com cada
liderança indígena para as entrevistas semi estruturadas, por videoconferência ou outro meio a ser
designado pelo(a) entrevistado, onde serão coletadas todas as informações através da gravação de
áudio.
Na sua participação você será submetido(a) a uma única etapa que consiste em uma
entrevista narrativa para a coleta de dados relevantes para a pesquisa. Todos os áudios serão
gravados a fim de possibilitar o posterior trabalho de análise dos dados pelo pesquisador. Os dados
gravados serão transcritos e textualizados para uso na pesquisa e em publicações e o áudio original
será mantido em sigilo.
Esta pesquisa não tem fins lucrativos e seu objetivo é exclusivamente de divulgação
acadêmica e científica.
Com a pesquisa objetivamos identificar os processos educacionais na formação das
lideranças indígenas e as origens de sua maior ou menor influência. A presente pesquisa poderá
ser base de novos estudos não só na academia, mas para além dos muros da universidade,
contribuindo, também, para a valorização das lideranças indígenas e sua atuação em benefício da
comunidade.
No tocante aos riscos, existe a possibilidade do(a) entrevistado(a) não se sentir à
vontade ou constrangido(a), nestes casos a entrevista será suspensa a critério do(a)
interessado(a). Demais disso, a qualquer momento o(a) entrevistado(a) poderá paralisar sua
participação se entender necessário.
Uma via deste termo será encaminhada para cada associação indígena das etnias
envolvidas nesta pesquisa juntamente com um expediente onde comunicar-se-á à
coletividade respectiva acerca da pesquisa e do envolvimento do(a) entrevistado(a).
O(a) entrevistado(a) não terá nenhum gasto ou ganho financeiro por participar da
pesquisa, sendo livre para deixar de participar a qualquer momento sem nenhum prejuízo ou
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coação. Qualquer dúvida a respeito da pesquisa e sobre os pontos que a permeiam pode e deve
ser respondida pelo pesquisador no momento em que o(a) entrevistado(a) desejar. Neste caso,
disponibilizamos os seguintes contatos para os devidos esclarecimentos: Igor Barros Santos
(pesquisador), telefone contato/whatsApp (82) 99613-41443, endereço de e-mail:
igorbsantos@hotmail.com e o professora Dra. Helena Cristina Guimarães Queiroz Simões
(orientadora), simoeshcg@gmail.com.
Este termo de consentimento encontra-se impresso em duas vias originais, sendo que uma
será arquivada pelo pesquisador responsável e a outra será fornecida a você. Os dados coletados
na pesquisa ficarão arquivados com o pesquisador responsável por um período de 5 (cinco) anos,
e após esse tempo serão destruídos. O pesquisador tratará a sua identidade com padrões
profissionais, atendendo as legislações brasileiras (Resoluções Nº 510/16 e Nº 466/12 do
Conselho Nacional de Saúde), utilizando as informações somente para os fins acadêmicos e
científicos, mediante o disposto no art. 9º da Resolução 510/16 CNS que dispõe que “são direitos
dos participantes: V – decidir se sua identidade será divulgada e quais são, dentre as informações
que forneceu, as que podem ser tratadas de forma pública”.
Declaro que concordo em participar da pesquisa, que me foi dada à oportunidade
de ler e esclarecer as minhas dúvidas e que minha identidade e as narrativas sobre minhas
experiências escolares e não escolares, bem como outros detalhes da minha vida pessoal que
tenham relação direta ou indireta com meu processo de formação, enquanto liderança
indígena, poderão ser divulgadas.
Declaro, ainda, que recebi uma via original deste termo de consentimento livre e
esclarecido e me foi dada à oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.
________________________________________________________________
Igor Barros Santos
Assinatura do Pesquisador
Eu aceito participar do projeto citado acima, voluntariamente, após ter sido devidamente
esclarecida.
________________________________________________________________
Assinatura do(a) Entrevistado(a)
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1. Você se considera uma liderança indígena? O que te permite concluir dessa maneira?
3. A escola contribuiu para seu interesse em representar sua etnia? Você estudou ou aprendeu algo que
te incentivasse a ser uma liderança indígena ou conheceu alguém na escola que influenciou você?
5. Outras pessoas da comunidade foram importantes para sua participação como representante de sua
etnia?
6. Há reuniões, mobilizações, encontros em sua aldeia? Como são tomadas decisões importantes para
toda a comunidade?
7. Existe alguma Organização Não Governamental que oferece cursos de formação ou capacitação na
sua comunidade? Você já participou destes cursos?
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8. Quais os caminhos que o indígena precisa seguir se quiser ser um líder de seu povo, assim como
você?
9. Como incentivar seus(suas) filhos(as) a atuar e se envolver na representação dos interesses de sua
comunidade?
10. Na sua opinião, qual a importância da liderança para a coletividade indígena? Quais as qualidades
que mais se destacam?
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