Sociologia Contemporânea
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Sociologia Contemporânea
CONTEMPORÂNEA
Introdução
Na sociedade contemporânea, pelas mais diversas razões, indivíduos
que não correspondem ao padrão podem ser estigmatizados, marcados
de forma pejorativa e deficitária. Além disso, tendem a ser discrimina-
dos por viverem em condições desiguais. A desigualdade, por sua vez,
normalmente associada com a economia, também deve ser analisada
enquanto produção social. A discriminação e o estigma associam-se com
o ódio e com crimes contra identidades culturais diversas, promovendo
violência e morte. Para que possam usufruir dos mesmos direitos e viver
com qualidade, diversos grupos culturais minoritários organizam-se e, de
forma coletiva, resistem e conquistam seu espaço de afirmação identitária
no Brasil e no mundo.
Neste capítulo, você vai estudar a estigmatização, a discriminação, a
desigualdade e a resistência proposta pelos grupos diversos da norma.
Também vai conhecer dados sobre as diferenças nas relações de poder
existentes no Brasil e ver como a violência tem perpassado a sociedade.
Além disso, você vai conhecer alguns dos movimentos sociais que atuam
hoje no Brasil: movimento feminista, movimento Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Transexuais e Travestis (LGBTT), saúde mental e movimento negro.
2 Minorias sociais
Desigualdade, estigmatização,
discriminação e resistência
Antes de estudar esses conceitos tão importantes para a análise sociológica
contemporânea, você deve conhecer outro conceito. Ele servirá de base para
você entender o funcionamento do mundo e a produção de conceitos e modos
de vida no interior das sociedades. É o conceito de cultura. O termo cultura
pode ser utilizado “[...] para se referir a tudo o que seja característico sobre
o ‘modo de vida’ de um povo, de uma comunidade, de uma nação ou de um
grupo social [...]” (HALL, 2016, p. 19). Essa definição é importante porque
envolve os mais variados aspectos antropológicos e sociológicos presentes
na cultura, não a restringindo unicamente a “[...] um conjunto de coisas —
romances e pinturas ou programas de TV e histórias em quadrinhos — mas
sim um conjunto de práticas [...]” (HALL, 2016, p. 20).
Logo, os indivíduos que partilham da mesma cultura tendem a apresentar
uma interpretação de mundo semelhante, uma leitura de sentido sobre as coisas
pertinente, pois aprenderam, no interior das práticas cotidianas de sua cultura,
sobre esses conceitos e seus sentidos. São facilmente perceptíveis, por exemplo,
nas atitudes de uma criança, os traços de comportamento “aprendidos” ao
conviver com seus pais ou irmãos, não é mesmo?
Mas qual é o problema com a questão cultural? O problema é quando existe
um posicionamento monoculturalista, ou seja, quando uma única cultura
se define como a melhor e como aquela que deve ser ensinada a todos. Isso
normalmente é feito de forma imposta e violenta, como você pode perceber
nos processos coloniais no Brasil e em boa parte do mundo. Os mecanismos
coloniais brasileiros estabeleceram uma relação entre cor e raça que, além
de ser utilizada para classificar as populações, serve também para operar a
“[...] inferiorização de grupos humanos não europeus, do ponto de vista da
produção da divisão racial do trabalho, do salário, da produção cultural e dos
conhecimentos [...]” (OLIVEIRA; CANDAU, 2010, p. 16).
Assim, sempre que uma cultura se considera superior, apresenta uma relação
de poder assimétrica. No caso dos conquistadores europeus em relação aos
colonizados ou explorados ao extremo (escravos), foram realizadas tentativas
de produção de certo tipo de pessoa ideal para habitar os territórios. Você pode
perceber que esse padrão historicamente esteve associado com as seguintes
características:
homem;
branco;
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heterossexual;
cristão;
de classe social elevada.
genocídio;
etnocídio;
violência de gênero;
violência sexual.
O termo “genocídio” não existia antes de 1944 e surgiu a partir dos horrores
da Segunda Guerra Mundial, principalmente daqueles cometidos contra os judeus
e todos aqueles que eram diferentes da identidade germânica idealizada e vista
como superior. Segundo o dicionário de Significados (2018, documento online),
“Genocídio significa a exterminação sistemática de pessoas tendo como principal
motivação as diferenças de nacionalidade, raça, religião e, principalmente, diferen-
ças étnicas. É uma prática que visa a eliminar minorias étnicas em determinada
região [...]”. Como você pode perceber, durante a Segunda Guerra Mundial, os
crimes cometidos pela Alemanha, conhecidos como holocausto, envolveram o
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genocídio, bem como o etnocídio, que é quando a motivação para cometer tais
assassinatos implica uma etnia diferente da idealizada pela cultura da população.
Os crimes de etnocídio ainda existem na atualidade e incidem sobre alguns
grupos étnicos específicos de forma mais recorrente no Brasil. É o caso dos crimes
cometidos contra os indígenas, normalmente associados à disputa por terras que
constituem seu direito originário e realizados por latifundiários que exploram tais
áreas. Segundo dados do Centro Indigenista Missionário (CIMI, 2017), no “Rela-
tório Violência contra os Povos Indígenas no Brasil: dados de 2017”, a violência
relacionada aos índios no Brasil se distribui como mostra o Quadro 1, a seguir.
Tentativa de assassinato 27
Homicídio culposo 19
Ameaça de morte 14
Ameaças várias 18
Violência sexual 16
Abuso de poder 8
Assassinatos 110
Por sua vez, a violência de gênero se relaciona com papéis e status diferentes
para homens e mulheres. Como você sabe, historicamente, o gênero masculino
teve maior prestígio e poder, relegando ao gênero feminino o segundo plano. Essa
situação tem sido bandeira de luta do movimento feminista e, na atualidade, no
Brasil, já existe uma boa rede de amparo a casos de violência contra a mulher.
Embora existam esforços por parte do Governo Federal para combater
a violência de gênero, os casos de feminicídio têm aumentado no País. Para
entender como essa situação é grave no Brasil, veja a seguir alguns dados
estatísticos do Ligue 180 — Central de Atendimento a Mulher, canal criado
pelo Governo Federal para combater a violência contra as mulheres e facilitar
a realização de denúncias. Segundo o relatório semestral de 2018 que con-
densa os dados de 1º de janeiro a 30 de junho, foram realizados os registros
de denúncias listados no Quadro 2 (BRASIL, 2018).
Discriminação 837
Negligência 80
Violência sexual 23
Considerando que nem todos aqueles que são agredidos pela sua orientação
sexual prestam queixa ou fazem uso de canais como o Disque 100, você pode
notar que a situação é séria e precisa ser administrada para coibir tais práticas.
Você já ouviu falar na teoria queer? Ela se originou de um movimento social que tinha
como objetivo a positivação do termo queer, que designa um insulto utilizado para
ofender a comunidade LGBTT e pode ser traduzido como “estranho” ou “bizarro”.
A teoria queer se refere a uma pessoa que não adere em sua vida à divisão binária
(masculino/feminino) utilizada tradicionalmente para caracterizar os gêneros.
Caso você queira aprender mais sobre as ações afirmativas que são fruto da luta do
movimento negro pela positivação e pela equiparação dos prejuízos históricos no
Brasil, acesse o link a seguir. Nele, você vai encontrar uma animação que apresenta
alguns dos principais fundamentos de tais ações.
https://goo.gl/tDaCmw
BRASIL. Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010. Institui o Estatuto da Igualdade Racial; altera
as Leis nos 7.716, de 5 de janeiro de 1989, 9.029, de 13 de abril de 1995, 7.347, de 24 de
julho de 1985, e 10.778, de 24 de novembro de 2003.Disponível em: <http://www.
seppir.gov.br/portal-antigo/Lei%2012.288%20-%20Estatuto%20da%20Igualdade%20
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