Aquicultura

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17 e-Tec Brasil

Panorama da Aquicultura
Nicole Pistelli Machado

PARANÁ

Curitiba-PR
2010
Sumário

Aula 1 - Introdução 313


O que é aquicultura? 313

Aula 2 - Histórico da Aquicultura no Mundo 317


I. Teoria das Lagoas Marginais (Oxbow Theory) 317
II. Teoria do Capturar e Prender 318
(Catch-and-hold Theory) 318
III. Teoria da Concentração 319
(Concentration Theory) 319
IV. Teoria da Armadilha e Cultivo 319
(Trap-and-cropTheory) 319

Aula 3 - Histórico da Aquicultura no Brasil 323

Aula 4 - Panorama da Produção Aquícola I 327

Aula 5 - Panorama da Produção Aquícola II 331


Aquicultura Continental 333
Aquicultura Marinha 334

Aula 6 - Sistemas Produtivos em Aquicultura 337

Aula 7 - Ecologia dos Ambientes de Cultivo 343


Aspecto estrutural do ambiente de cultivo 343
Aspecto funcional do ambiente de cultivo 344

Aula 8 - Qualidade da Água na Aquicultura - I 347


A Água 347
As propriedades físicas da água 348

Aula 9 - Qualidade da Água na Aquicultura - II 351


Efeitos Térmicos da Radiação 351
As propriedades químicas da água 352
Emissões de CO2 ampliam acidificação dos oceanos 354

307 e-Tec Brasil


Aula 10 - Cultivo de Moluscos 357
Organismos cultivados 357
Sistemas de Cultivo em Malacocultura 358
Obtenção de Sementes 360
Comercialização 360
Importância Econômica 360

Aula 11 - Cultivo de Camarões - I 363


Aspectos Socioeconômicos da Carcinicultura Marinha 363
Aspectos Ambientais da Carcinicultura Marinha 364

Aula 12 - Cultivo de Camarões Marinhos - II 367


Ciclo Biológico 367
Engorda 370
Despesca 370

Aula 13 - Cultivo de Camarões de Água Doce 373


Características das Espécies nativas de interesse 374
Fases do cultivo 374
Reprodutores 374
Larvicultura 375
Berçário 375
Engorda 375
Sistemas de criação adotados na carcinicultura
de água doce 376
Monocultivo 376
Policultivo 377
Processamento e mercado 377

Aula 14 - Piscicultura de espécies de água doce - I 379


Aspectos econômicos, sociais e ambientais. 379

Aula 15 - Piscicultura de espécies de água doce II 385


Tilápias 386
Carpas 387
Truta 388
Catfish 388

e-Tec Brasil 308 Panorama da aquicultura


Aula 16 - Piscicultura Marinha 391

Aula 17 - Ranicultura - I 399


Aspectos biológicos do ciclo de vida e anatomia 399
As principais famílias de rãs comestíveis são:
Rã-manteiga 400
Rã-pimenta 401
Rã-touro 401

Aula 18 - Ranicultura - II 405


Setor de Reprodução 405
Setor de Eclosão ou desenvolvimento Embrionário 406
Setor de Girinagem e Metamorfose 407
Setor de Engorda 408

Aula 19 - Aquicultura e sustentabilidade 411

Aula 20 - Aquicultura e Desenvolvimento


(Casos de Sucesso) 415
Caso 1. Resgatando a Aquicultura: Uma história de cooperação
e liderança 415
Caso 2. O peixe que transformou a vida de um assentamento
rural 416
Caso 3. Projeto Consolidação dos Negócios Sustentáveis para a
Melhoria da Qualidade de Vida das Comunidades do Entorno
da Baía do Iguape 418

309 e-Tec Brasil


Palavra do professor-autor

O Panorama da Aquicultura é o primeiro conteúdo programático do


eixo técnico de Aquicultura e suas Tecnologias do Curso Técnico de
Aquicultura na modalidade PROEJA/EaD. Esta é uma disciplina de ca-
ráter introdutório muito importante para o processo de aprendiza-
gem do eixo tecnológico.
O presente livro servirá de apoio para seu aprendizado, foi elaborado
em uma linguagem simples, para facilitar o entendimento, contando
com informações atualizadas, para os futuros técnicos em aquicul-
tura.
Aproveitem a flexibilidade de horários para aprofundar o seu conhe-
cimento acessando os sites recomendados em algumas aulas, lendo
os textos e artigos citados e principalmente resolvendo todas as ati-
vidades propostas.
Nestes 10 encontros distribuídos em 20 aulas falaremos a respeito
dos diversos aspectos da aquicultura, definição, histórico, produção
mundial e brasileira, diferentes cultivos, sustentabilidade e casos de
sucesso.

Desejo um bom curso a todos!!!

311 e-Tec Brasil


Aula 1 - Introdução

Durante a aula, conduzirei vocês pelo mundo da aquicultura,


apresentando conceitos e definições, que são de suma impor-
tância para o real entendimento desta atividade e também para
diferenciá-la da pesca. Você, talvez, já deva ter lido publicações
a respeito ou visto reportagens na televisão. Hoje a aquicultura é
um tema que está recebendo grande destaque na mídia, principal-
mente após a criação do Ministério de Pesca e Aquicultura. Mas
será que a aquicultura é um modismo? Uma política pública do
governo? Ou uma atividade que vem como alternativa para pro-
dução de pescado já que nossos recursos pesqueiros encontram-se
escassos? São tantos questionamentos que iremos por partes.

Ao concluirmos esta aula espero que vocês compreendam o verda-


deiro significado da aquicultura e as diferenças entre esta atividade
e a pesca.

O que é aquicultura?
Segundo a FAO (1997) a aquicultura é uma atividade multidisciplinar que se
FAO: sigla em inglês de Food
refere ao cultivo de organismos aquáticos, incluindo peixes, moluscos (me- and Agriculture Organization of
the United Nations, traduzindo,
xilhão, sururu, bacucu, ostra), crustáceos (camarão, caranguejo, siri, pitu), seu significado em português é a
plantas aquáticas (algas), entre outras espécies. Organização das Nações Unidas
para Agricultura e Alimentação.

Primeiramente vamos falar sobre as diferenças entre a pesca extrativa e aqui- Uma ativdade multidisciplinar é
uma atividade que integra várias
cultura. áreas do conhecimento para a
resolução de problemas, estudo
de fenômenos etc.
A pesca extrativa é a captura/retirada de organismos aquáticos utilizados
como recursos pesqueiros da natureza sem o seu prévio cultivo, esta ativida- Recursos Pesqueiros:
produtos provenientes da pesca
de pode ocorrer em escala industrial ou artesanal. e coleta, como peixe, camarão,
lagosta, ostra, entre outros.

Tanto a aquicultura quanto a pesca extrativa baseiam-se na obtenção/comer-


cialização de organismos aquáticos de interesse comercial, mas através do
cultivo dos mesmos.

Ambas, dependendo do local em que a extração ou a produção acontece,


podem caracterizar-se como: continental ou marinha.

Aula 1 - Introdução 313 e-Tec Brasil


Figura 1.1
Pesca (A) – Pesca Artesanal no Canal da Cotinga, Paranaguá/PR – Aquicultura (B) – Cultivo de peixes marinhos, Instituto de Pesca, Ubatuba/
SP – Pesca/Aquicultura (C) – Fazenda de engorda de peixes marinhos – Região de Comachio/ Itália, peixes são atraídos do mar para o interior da
fazenda, através da manipulação de alguns parâmetros de qualidade de água, neste caso salinidade, e interceptados dentro de tanques de con-
creto. Os que apresentam tamanho comercial vão direto para despesca e, os que ainda precisam crescer permanecem em tanques até atingirem o
tamanho desejado. Fonte: Nicole Pistelli Machado

Vocês puderam perceber que a pesca difere da aquicultura principalmen-


te pelo modo como se obtém o pescado. O pescador explora organismos
aquáticos de propriedade comum, o que ele pesca pode ser comercializado
ou consumido logo após a captura. Já o aquicultor precisa cultivar a médio
ou em longo prazo seu produto, que, neste caso, não é de propriedade
comum.

A aquicultura é caracterizada por três componentes básicos:

1. O organismo produzido deve ser aquático ou ter a água como seu prin-
cipal ou mais frequente ambiente de vida;

2. O manejo para produção deve existir;

3. A criação deve ter um proprietário, porque o cultivo também implica em


propriedade individual ou corporativa dos estoques cultivados.

A ideia de propriedade é muito importante para compreendermos a evolu-


ção social ligada à obtenção/produção de recursos pesqueiros. Ser proprie-
tário de algo significa tê-lo para si de maneira exclusiva, é o direito de reter
e usufruir alguma coisa (embarcação, fazenda de cultivo de peixes, somas
de dinheiro). Este direito é reconhecido juridicamente pelas leis da sociedade
em que vivemos. A primeira vista podemos pensar que toda propriedade é
privada, pois pertence a alguém, porém em alguns casos ela não pertence a
uma pessoa ou a um grupo, mas sim a uma sociedade, estado ou país.

O Instituto Federal de Educação, por exemplo, é propriedade de todos os


brasileiros e pertence juridicamente ao Estado, logo, é considerado uma pro-
priedade pública, nenhum cidadão pode apropriar-se dela, mas todos têm
direito de utilizá-la conforme o fim que foi destinada.

e-Tec Brasil 314 Panorama da aquicultura


O peixe do mar, é uma propriedade comum, não é privada nem pública e,
ao mesmo tempo, privada e pública. Este tipo de propriedade é construído
pelo Estado, pela Sociedade e protegida pelos dois.

A pesca pode ser de subsistência, artesanal, industrial, amadora, entre ou-


tras classificações, independente do local em que ela é praticada, no conti-
A pesca de subsistência é prati-
nente ou no mar. cada para obtenção de alimento,
a artesanal para obtenção de
alimento e comercialização do
A aquicultura pode ter um caráter familiar ou industrial, mas é classificada excedente, a pesca industrial
tem caráter comercial e a ama-
considerando o ambiente de cultivo (continental ou marinha) e sistema de dora é praticada por turismo,
produção aplicado (extensiva, semi-intensiva, intensiva, super intensiva). Na lazer ou desporto.

aula 06 falaremos mais detalhadamente a respeito desta classificação.

Para refletir e debater


O homem, a princípio, obtinha seu alimento somente através da coleta ou da
caça. Tinha o comportamento nômade, isto é, encontrava-se em constante
mudança, fixava-se em locais que houvesse uma maior oferta de alimentos.
Quando estes se tornavam escassos, procurava outro local, seguindo assim
toda sua vida. Há cerca de 12.000 anos o homem passou a cultivar plantas e
animais. Isto causou uma grande transformação, a descoberta da agropecu-
ária e o desenvolvimento de tecnologias ligadas ao cultivo de alimentos, per-
mitiram ao homem colonizar, praticamente, todos os pontos do planeta.

Atualmente, na sua região a pesca apresenta a mesma produtividade


de 30 anos atrás? O que está acontecendo com os pescadores arte-
sanais do nosso país? A transição (mudança) do extrativismo (pesca)
para o cultivo (aquicultura), como está ocorrendo em muitas regiões
do país, pode trazer benefícios para estes pescadores?

Atividade de Aprendizagem
Relacione as colunas abaixo.
(1) Aquicultura
(2) Pesca

(__) É cultivo de organismos aquáticos, incluindo peixes, moluscos, crustáce-


os, plantas aquáticas, entre outras espécies.
(__) Captura de organismos aquáticos utilizados como recursos pesqueiros
da natureza sem o seu prévio cultivo.
(__) Pode ser de subsistência, artesanal, industrial ou amadora.
(__) Implica em propriedade individual ou corporativa dos estoques cultiva-
dos.

Aula 1 - Introdução 315 e-Tec Brasil


Resumo
• A aquicultura é a produção de organismos que tem na água o seu prin-
Você pode ler mais sobre o tema
consultando os sites: cipal ou mais frequente ambiente de vida (hábitat predominantemente
www.fao.org.br
www.aqi.ufsc.br
aquático), em cativeiro, em qualquer um dos seus estágios de desenvol-
www.panoramadaaquicultura.com.br vimento;
www.pesca.sp.gov.br

• A pesca difere da aquicultura principalmente pelo modo de obtenção do


pescado;

• A pesca explora organismos aquáticos de propriedade comum, já a aqui-


cultura implica em propriedade individual ou corporativa dos estoques
cultivados;

• Tanto a pesca quanto a aquicultura, dependendo do local onde é pratica-


da, podem ser classificadas como: continental ou marinha.

e-Tec Brasil 316 Panorama da aquicultura


Aula 2 - Histórico da Aquicultura no Mundo

Após esta breve introdução, iremos voltar um pouco no tempo


e conhecer como aconteceu a evolução histórica da aquicultura
no mundo e em nosso país. Como surgiu a aquicultura? Ela é tão
antiga quanto à agricultura? Em que local da Terra ela começou a
ser praticada? Todas estas questões serão respondidas nesta aula.
Espero que ao final de nossa viagem ao passado vocês consigam
entender como a aquicultura surgiu, conseguiu se desenvolver e se
difundir por todo o mundo.

O cultivo de organismos aquáticos é uma prática antiga. Manuscritos da-


tados do século V a.C. já indicavam a presença da aquicultura na China.
Todavia, existem indícios que no Egito, antes do século V, eram cultivados,
Isto significa século 5 antes de
de forma intensiva, peixes marinhos. Os romanos também desenvolveram Cristo, ou explicando melhor,
500 anos antes do nascimento
práticas de aquicultura, eles cultivavam ostras, iguarias muito apreciadas na de Cristo.
época. Neste parágrafo nos deparamos com algumas versões que tentam
explicar o surgimento da aquicultura.

Indicar com certeza como surgiu a aquicultura é um grande desafio. Existem


diversas versões que podem ser encaradas como fatos, que podem ser apli-
cados em diferentes áreas do planeta, onde a aquicultura pode ter começa-
do, mas de maneira independente uma da outra.

Até aqui pudemos constatar a presença da aquicultura na Ásia, Europa e


Norte da África. Aos poucos iremos descobrir como o cultivo de organismos
aquáticos chegou a outras regiões do globo.

Apresentamos a seguir quatro teorias que explicam o surgimento desta ati-


vidade.

I. Teoria das Lagoas Marginais


(Oxbow Theory)
Rios e riachos apresentam curvas denominadas meandros. Quando um me-
andro largo da haste principal de um rio é cortado, interrompido, forma uma
espécie de lago, também conhecido como lagoa marginal (pois se encontra
as margens do rio). Com o passar do tempo estes rios podem ter alterado
seu curso, deixando para trás estas lagoas contendo peixes e outros orga-

Aula 2 - Histórico da Aquicultura no Mundo 317 e-Tec Brasil


nismos aquáticos. A população - que vivia próximo a estes locais - percebeu
que a pesca nestas lagoas era bastante produtiva; com o período de seca
estes estoques diminuíam, mas as chuvas sazonais as reabasteciam. Alguns
indivíduos das comunidades do entorno, observando esta ocorrência co-
A sazonalidade é relativa as
estações do ano, como: verão, meçaram a modificar as lagoas marginais de forma que o reabastecimento
outono, inverno e primavera,
com certeza na sua região tem
acontecesse de maneira mais eficiente. Iniciando assim uma forma primitiva
uma época aonde chove mais. de aquicultura. Isto continuou até que gestão completa da aquicultura fosse
Monções: épocas de chuva. atingida. Bangladesh, na Ásia, é um bom exemplo de local onde a aquicul-
tura pode ter se desenvolvido desta maneira, por apresentar terrenos propí-
cios à formação de oxbows (lagoas marginais) e encontrarem-se expostos a
monções anuais e períodos de seca.

Figura 2 .1 : Diagrama da formação de uma lagoa marginal.


Fonte: http://www.dorlingkindersley-uk.co.uk

II. Teoria do Capturar e Prender


(Catch-and-hold Theory)
Desde os tempos mais antigos, organismos aquáticos eram alimentos muito
cobiçados por governantes de importantes reinos e impérios. Nesta mesma
época, era comum a construção de áreas que continham água, como fontes
para recreação e ao redor dos castelos como proteção. Estas áreas, a prin-
cípio, não eram destinadas ao cultivo de peixes, mas alguns governantes
exigiam de seus funcionários peixes nestes locais, independente da época do
ano. Devido a estas exigências, peixes eram capturados do ambiente e colo-
cados nestas áreas. Algumas espécies, como a carpa comum, conseguiram
sobreviver e se adaptar ao cativeiro; e por isso foram selecionadas para este
tipo de cultivo. Os mosteiros e palácios da Europa são exemplos de locais
onde aconteceu este desenvolvimento da aquicultura.

e-Tec Brasil 318 Panorama da aquicultura


III. Teoria da Concentração
(Concentration Theory)
Muitos lugares no planeta, localizados em áreas tropicais, são afetados por
monções, isto é, apresentam épocas com chuvas fortes ocasionando inun-
dações e depois períodos de seca. Durante o regime de chuvas, os rios fi-
cam mais largos e áreas com menor altitude são inundadas. Estas planícies
inundadas são locais propícios para o crescimento e a reprodução de peixes,
pois oferecem alimento e proteção. Quando a estação de chuva passa, a
água nestes alagados vai gradualmente diminuindo. À medida que a seca
progride, as águas vão recuando, drenando quase que todas as planícies. Os
peixes que se encontravam nestas áreas retornam para os rios. Pescadores
Escoando, retirando a água.
das comunidades do entorno perceberam que nestas planícies inundadas
havia uma grande concentração de peixes. Eles capturavam os peixes sem
levar em conta o tamanho e a espécie. Com o passar do tempo, os peixes de
tamanho pequeno ou eram deixados para trás, ou eram recolhidos e trans-
feridos para áreas de cultivo. Aqui, a aquicultura teve início com a concen-
tração de espécies de peixes em planícies inundadas. O continente africano
possui muitas áreas com estas características.

IV. Teoria da Armadilha e Cultivo


(Trap-and-cropTheory)
Até agora foram apresentadas versões do surgimento da aquicultura em
águas interiores, doce. Esta teoria fala do surgimento da aquicultura em
zonas costeiras. As áreas encontradas ao longo da costa apresentam estu-
ários, lagoas, mangues ou até mesmo locais (depressões) que são inunda-
dos periodicamente durante a maré cheia; e na durante a maré baixa, elas
são completa ou parcialmente. A população que vivia ao longo destas áreas
percebeu - que durante a maré cheia - elas eram regularmente abastecidas
naturalmente com peixes, moluscos, crustáceos e outros organismos aquáti-
cos de interesse econômico. Após esta constatação, moradores começaram
a instalar armadilhas para impedir a saída destes organismos quando a maré
baixava. Com isto pecadores podiam contar com o fornecimento regular de
recursos pesqueiros na sua mesa e também a para a venda do excedente.
Assim surgiu uma forma primitiva de maricultura. Com o passar do tem-
po estas estruturas foram sendo modificadas. Houve o desenvolvimento da
atividade através da construção de diques, terraplanagem (tornar a terra
plana), para proporcionar maior espaço de armazenamento e aumentar a
captura de organismos aquáticos que vinham com a maré. Esta tecnologia Construção que serve para
represar águas correntes; açude,
provavelmente começou na Indonésia, difundiu-se para o Brasil, Tailândia, barragem.
Malásia, Índia e outras regiões do mundo.

Aula 2 - Histórico da Aquicultura no Mundo 319 e-Tec Brasil


Todas as formas de aquicultura primitiva diferem, mesmo que pouco, das
que são praticadas atualmente. A maior diferença entre a aquicultura pri-
mitiva e a atual é que a primitiva consistia na captura de formas jovens de
peixes, crustáceos ou moluscos da natureza, transferindo os mesmos para
ambientes artificiais que apresentassem condições favoráveis ao seu cresci-
mento.

Podemos perceber que a única semelhança existente entre as teorias mos-


tradas foi a presença do manejo. A partir do momento que as comunidades
começaram a manipular o ambiente, selecionando espécies, colocando em
locais adequados para seu crescimento, fornecendo alimento, surgiu a aqui-
cultura.

A aquicultura da maneira como é praticada hoje, começou no ano de 1733,


quando um fazendeiro alemão conseguiu com sucesso coletar gametas, fer-
tilizá-los e incubá-los. Ele usou exemplares femininos e masculinos de truta.
Gameta (do grego gameta, Depois os alevinos foram colocados em tanques ou viveiros para serem cul-
“esposa”): célula sexuada de
reprodução. tivados. Inicialmente a aquicultura moderna ficou limitada à água doce. A
partir do século XX, novas técnicas foram desenvolvidas com sucesso para o
cultivo de espécies marinhas.

A aquicultura continua em constante evolução; cada dia são descobertas


novas tecnologias de produção. Hoje com as facilidades geradas pela globa-
lização, a aquicultura está conseguindo se desenvolver de forma unificada e
em alguns casos, de maneira integrada.

Na próxima aula, veremos como aconteceu o desenvolvimento da aquicul-


tura em nosso país.

Atividade de Aprendizagem
Reúna-se com os colegas e discuta como surgiu a aquicultura na sua região.
Verifique se existe algum registro histórico da atividade.

e-Tec Brasil 320 Panorama da aquicultura


Resumo
• Indicar com certeza como surgiu a aquicultura é um grande desafio, exis-
tem diversas versões que podem ser encaradas como fatos;

• Existem quatro teorias que conseguem explicar de maneira generalizada


o surgimento da atividade no mundo. São elas: teoria das lagoas margi-
nais, do capturar e prender, da concentração e da armadilha e cultivo;

• A Teoria das Lagoas Marginais baseia-se na modificação das lagoas mar-


ginais para que o abastecimento das mesmas com peixes, fosse mais
eficiente;

• A Teoria do Capturar e Prender explica o surgimento da aquicultura na


Europa através do povoamento com peixes de áreas repletas de água em
palácios e mosteiros;

• A Teoria da Concentração fala da captura de peixes que ficavam con-


centrados em planícies inundadas e transferência destes para áreas de
cultivo;

• A Teoria da Armadilha e Cultivo é a única versão dentre as quatro que


mostra o surgimento da aquicultura marinha. Os pescadores colocavam
armadilhas para impedir que os organismos aquáticos que chegavam na-
turalmente as áreas inundadas durante a maré cheia saíssem, iniciando
assim uma forma de maricultura primitiva;

• A aquicultura da maneira como é praticada hoje começou no ano de


1733, quando um fazendeiro alemão conseguiu realizar a reprodução de
trutas dentro de sua propriedade.

Aula 2 - Histórico da Aquicultura no Mundo 321 e-Tec Brasil


Aula 3 - Histórico da Aquicultura no Brasil

Na aula passada, estudamos as teorias que explicavam o surgimen-


to da aquicultura no mundo. Nesta aula, vamos estudar como a
aquicultura surgiu e se desenvolveu no Brasil. Espero que ao final
da aula, vocês estejam aptos a responder esta pergunta.

Os primeiros registros da prática da aquicultura no Brasil datam do século


XVIII, após a invasão holandesa no nordeste do país. Os holandeses constru-
íam viveiros para o cultivo de peixes próximos a costa, aproveitando a maré
que abastecia estes viveiros com peixes e outros organismos aquáticos. Era
um sistema extensivo de produção. Os peixes aprisionados naqueles locais
eram coletados, assim que atingiam o tamanho desejado.

Recordando

O tipo de cultivo praticado pelos holandeses no século XVIII, no nor-


deste do Brasil, não lembra uma das teorias que estudamos a aula
passada? Saberia dizer qual é?

Como pudemos notar, a aquicultura é uma atividade antiga no Brasil, prati-


cada há mais de três séculos. No início, a aquicultura não apresentava um ca-
ráter comercial, pois era praticada para subsistência, e durante muitos anos
ela permaneceu assim.

Em 1930, a piscicultura brasileira só ficou conhecida internacionalmente


quando o pesquisador brasileiro Rodolpho Von Ihering e sua equipe, mem-
Peixes reofílicos: são aqueles
bros da Comissão Técnica de Piscicultura do Nordeste, conseguiram desen- que necessitam do ambiente
volver uma técnica para induzir a desova de peixes reofílicos em cativeiro. lótico (água corrente) para
completarem o seu ciclo de vida.
Nesta mesma década, a piscicultura foi impulsionada pelo povoamento de Podem ser migradores ou não.
açudes públicos, construídos a princípio para o armazenamento de água, Peixamento (neologismo uti-
mas também serviam para a exploração através da pesca. O primeiro peixa- lizado na linguagem técnica ref-
erente à piscicultura): operação
mento realizado pela Comissão Técnica de Piscicultura do Nordeste aconte- que tem por fim o povoamento,
ceu em 14 de agosto de 1933, no açude “Campos da Sementeira”, municí- ou repovoamento e a estocagem
de coleções d’água, com larvas,
pio de Arcoverde em Pernambuco. pós-larvas, alevinos, juvenis e
adultos de peixes, crustáceos,
moluscos, mamíferos, etc.

Aula 3 - Histórico da Aquicultura no Brasil 323 e-Tec Brasil


Pacu Pirapitinga Tambaqui

Figura 3.1: Peixes reofílicos comumente cultivados no Brasil.


Fonte: www.curiosidadeanimal.com

No ano de 1935, foram trazidos do Canadá para o Brasil, os 300 primeiros


exemplares da espécie Rana Catesbeiana (rã-touro).

Nas décadas de 30 e 40, a tilápia e a truta arco-íris foram introduzidas no


Brasil. A fase comercial da aquicultura começou na década de 50 com a en-
trada de espécies exóticas como carpa, tilápia e truta, que começaram a ser
cultivadas em tanques de pequenas propriedades. Na década de 60, foram
importadas carpas chinesas para o Brasil.

A partir da década de 70, em alguns estados do sul do Brasil, surgiram expe-


riências de consorciamento entre algumas espécies de peixes e a produção
de aves e suínos. Na mesma década, pequenos produtores começaram o
cultivo de camarões de água doce, de ostras e de mexilhões. Nos anos que
se seguiram, expandiu-se no país a pesca esportiva em tanques destinados
aos “pesque-pagues”, nas regiões metropolitanas e periferias de grandes
cidades incentivando a produção de alevinos e formas jovens, que depois
eram transferidos para os tanques de produção.

Em 1981, foram realizados os primeiros estudos em Santa Catarina com poli-


cultivo de tainha e camarão nativo, mas como este não suportava oscilações
de temperatura, tampouco aceitava confinamento e apresentava algumas
particularidades na sua alimentação, não tinha uma produção constante.

Finalmente, em meados dos anos 90, iniciou-se a carcinocultura marinha


baseada no L. vanamei, cuja espécie já era cultivada em outros países da
Carcinocultura ou
carcinicultura: América Latina. Alguns destes países apresentaram problemas durante a
cultivo de camarões
criação, então capitais e pacotes tecnológicos foram transferidos ao Nor-
deste Brasileiro, onde esse cultivo se expandiu, aumentando, sobretudo a
produção dirigida ao mercado externo.

Com a introdução do L. vannamei (espécie exótica) no Nordeste do Brasil,


onde apresenta uma maior produtividade, o governo de Santa Catarina in-
centivou sua implantação em fazendas em Laguna.

e-Tec Brasil 324 Panorama da aquicultura


Séc. XVIII Anos 30 Anos 40 Anos 50 Anos 60 Anos 70 Anos 80

Início da Rã-touro Truta arco-íris C. carpius Carpas L. vannamei Pesque-pague


Piscicultura O. Niloticus chinesas C. gigas Carcinicultura
Extensiva Industrial

Figura 3.2: Representação esquemática dos principais eventos e datas de introdução


das espécies mais importantes cultivadas na aquicultura brasileira.
Adaptado do livro “Estudo Setorial para a Consolidação de uma Aquicultura Sustentável no Brasil”

Com a apresentação dos marcos históricos da aquicultura no Brasil, che-


gamos ao final da nossa viagem ao passado. Na próxima aula falaremos a
respeito da produção aquícola no mundo e no Brasil.

Atividade de Aprendizagem Saiba mais sobre o assunto


Complete a palavra cruzada abaixo: estudado, lendo a obra dos
autores Antônio Ostrensky,
H: Quem introduziu a aquicultura no Brasil? José Roberto Borghetti e Doris
I: Que espécie de truta foi trazida para o Brasil na década de 40? Soto intitulada “Estudo Setorial
para a Consolidação de uma
S: A pesca esportiva ligada a aquicultura era praticada em que locais? Aquicultura Sustentável no
T: Em 1981, foram realizados os primeiros experimentos com camarões na- Brasil”

tivos e __________ em Santa Catarina.


Ó: A fase comercial da aquicultura começou na década de 50 com a intro-
dução de espécies __________ no Brasil.
R: Em 1935, foram trazidos 300 exemplares desta espécie.
I: Na década de 70, em alguns estados do sul do país, começaram cultivos
que contavam com o ______________ entre peixes e a produção de aves ou
suínos.
C: Nome dado ao cultivo de camarões.
O: Pesquisador brasileiro que desenvolveu a técnica de indução a desova em
peixes reofílicos.

* *

Aula 3 - Histórico da Aquicultura no Brasil 325 e-Tec Brasil


Resumo
• Os primeiros registros da prática da aquicultura no Brasil datam do século
XVIII, após a invasão holandesa no nordeste do país;

• No início, a aquicultura não apresentava um caráter comercial, era prati-


cada para subsistência, e durante muitos anos ela permaneceu assim;

• Em 1930, a piscicultura brasileira ficou conhecida internacionalmente


quando o pesquisador brasileiro Rodolpho Von Hiering e sua equipe con-
seguiram desenvolver uma técnica para induzir a desova de peixes reofí-
licos em cativeiro;

• No ano de 1935, foram trazidos do Canadá para o Brasil, 300 primeiros


exemplares da espécie Rana Catesbeiana (rã-touro);

• A fase comercial da aquicultura começou na década de 50 com a intro-


dução de espécies exóticas como carpa, tilápia e truta;

• A partir da década de 70, em alguns estados do sul do Brasil, surgiram


experiências de consorciamento entre algumas espécies de peixes e a
produção de aves e suínos;

• Na mesma década começaram tentativas do cultivo de camarões de água


doce, ostras e mexilhões pelos pequenos produtores;

• Nos anos subsequentes, houve uma expansão da aquicultura impulsio-


nada pela prática da pesca esportiva em “pesque-pague”;

• Finalmente, em meados de 90, iniciou-se a carcinocultura marinha base-


ada no L. vannamei.

e-Tec Brasil 326 Panorama da aquicultura


Aula 4 - Panorama da Produção Aquícola I

Nesta e na próxima aula estudaremos o panorama da produção


aquícola no mundo e no Brasil. Por que estudar a produção aquí-
cola mundial? E a brasileira? Até agora estudamos a evolução his-
tórica da atividade no Brasil e no mundo, porém é de extrema
importância que conheçamos o perfil que a aquicultura tem nos
dias de hoje. Como futuros técnicos em Aquicultura, vocês têm
que saber como é o comportamento do mercado aquícola e quais
são as possibilidades de expansão. Ao concluirmos as duas aulas,
vocês deverão saber quais são as principais espécies cultivadas, e
em que regiões do Brasil e do mundo.

A pesca possui uma indiscutível importância para segurança alimentar do


planeta, porém ela está enfrentando um sério problema: o esgotamento dos
estoques pesqueiros em nível mundial. A crise global do setor pesqueiro tem
afetado profundamente a qualidade de vida dos povos que vivem dela, mais
especificamente dos pescadores artesanais. Este fato reveste-se de gravidade
considerando-se que no mundo todo existe cerca de 10 milhões de pesca-
dores artesanais.

Sabemos que a aquicultura além de apresentar uma inegável capacidade de


Para refletir...
gerar empregos diretos e indiretos para comunidades de pescadores arte- Em sua opinião a aquicultura
pode ser considerada uma
sanais, ela ainda produz alimentos de alto teor protéico. Em princípio, esta alternativa viável para o setor
atividade pode contribuir também, e de forma bastante expressiva, para a pesqueiro?
contenção dos processos de degradação acelerada desses ecossistemas.

Nas últimas décadas, a aquicultura tem se desenvolvido simultaneamente


através da diversificação do tipo de espécies cultivadas e do incremento da
produção das principais espécies existentes.

Por estes motivos, um número cada vez maior de países vem dedicando-se
ao cultivo de organismos aquáticos de alto valor econômico.

Segundo dados da FAO (2004), o ritmo atual de crescimento desta atividade


já alcança 10% ao ano.

Aula 4 - Panorama da Produção Aquícola I 327 e-Tec Brasil


Para percebermos como este valor de crescimento é significativo vamos com-
parar com outras atividades:

• Criação de gado: a taxa de crescimento não ultrapassa 3% ao ano;

• Pesca: a captura/coleta de organismos aquáticos utilizados como recur-


sos pesqueiros, apresenta uma taxa de crescimento de 1,5% ao ano.

A partir da Segunda Guerra Mundial, as zonas pesqueiras do planeta sofre-


ram uma expansão contínua, gerando um crescimento do índice de captura
Sobrepesca:
situação em que a pesca de uma global na ordem de 6 a 7% ao ano. Porém, após 1970, devido ao fenômeno
determinada espécie ou em uma
região deixa de ser sustentável.
da sobrepesca e à extinção de algumas espécies consideradas importantes
do ponto de vista econômico, o crescimento médio anual do índice de cap-
tura caiu (1,5% ao ano).

Hoje, aproximadamente 16% da proteína animal consumida pela população


mundial são provenientes dos pescados, e mais de um bilhão de pessoas têm
o peixe como principal fonte de proteína animal.

A população mundial vem aumentando ano a ano, e isto explica o fato do


consumo de pescados ter aumentado. De 40 milhões de toneladas em 1970
subiu para 86 milhões de toneladas no ano de 1998 (Dados da FAO). Em
termos de recursos financeiros gerados, a produção aquícola triplicou, pas-
sando de US$ 13,1 bilhões/ano em 1984 para US$ 39,8 bilhões em 1994.

Na década de 60, a aquicultura tornou-se uma significante prática comercial


na Ásia onde nos primórdios era realizada principalmente em pequena esca-
la pelas comunidades locais para produção de comida, por muitos séculos.

Nos últimos anos, a produção aquícola cresceu significativamente. Em 1970


girava em torno de 4% de toda a produção de pescado comparado com
27,3% em 2000.

A Ásia é o maior produtor mundial de pescado proveniente da aquicultu-


ra. O maior número de cultivos e de produção de organismos aquáticos
encontra-se neste continente. Em 2002, mais de 70% da produção mundial
de aquicultura estava concentrada na China (FAO 2002).

Os maiores produtores mundiais são: China (28 milhões ton), Chile (550 mil
ton) e Estados Unidos (498 mil ton), respectivamente (FAO 2002).

e-Tec Brasil 328 Panorama da aquicultura


Panorama da Produção Mundial da Pesca e Aquicultura (2002)
Brasil e Principais Produtores

País Pesca (toneladas) Aquicultura (toneladas) Total (toneladas)


Brasil 822.159 246.183 1.068.342
Chile 4.271.475 545.655 4.817.130
Peru 8.766.991 8.440 8.775.431

Argentina 944.346 1.457 945.803

China 16.553.144 27.767.251 44.320.395

Outros países ... ... ...

Total mundial 93.190.654 39.803.675 132.989.225

Fonte: Food and Agriculture Organization of United Nations (www.fao.org)

Grupos de espécies mais produzidas no mundo são: carpas, ostras, salmo-


nídeos, camarões, mexilhões, vieiras e tilápias. Com um total mundial de
aproximadamente 52 milhões de toneladas (FAO 2002).

Produção Mundial da Aquicultura, por grupo de espécies


(2002)
Grupo de espécies Quantidade (toneladas) Valor (US$ 1.000)
Tilápia 1.505.804 1.800.712
Salmonídeos 1.799.383 4.925.523
Crustáceos marinhos 1.539.001 8.258.242

Crustáceos de água doce 591.983 2.580.303

Carpas 16.692.147 14.754.106

Outras espécies ... ...

Total mundial 51.385.912 59.986.655


Fonte: Food and Agriculture Organization of United Nations (www.fao.org)

E assim finalizamos a primeira parte deste tema, na próxima aula iremos


estudar a produção aquícola brasileira.

Atividade de Aprendizagem
Observando a tabela do “Panorama da Produção Mundial da Pesca e Aqui-
cultura” indique em valores aproximados de porcentagem, qual é a partici-
pação do Brasil na produção aquícola mundial.

Aula 4 - Panorama da Produção Aquícola I 329 e-Tec Brasil


Resumo
• A crise global do setor pesqueiro tem afetado profundamente a quali-
dade de vida dos povos que vivem da pesca, mais especificamente dos
pescadores artesanais;

• A aquicultura vem como uma alternativa viável para a crise no setor pes-
queiro;

• Nas últimas décadas, a aquicultura tem se desenvolvido simultaneamente


através da diversificação do tipo de espécies cultivadas e do incremento
da produção das principais espécies existentes;

• Estima-se que o ritmo atual de crescimento da aquicultura já alcança


10% ao ano;

• Em 1970, o consumo de pescados era de 40 milhões de toneladas e au-


mentou para 86 milhões de toneladas no ano de 1998;

• Em termos de recursos financeiros gerados, a produção aquícola tripli-


cou, passando de US$ 13,1 bilhões/ano em 1984 para US$ 39,8 bilhões
em 1994;

• Nos últimos anos, a produção aquícola cresceu significativamente, em


1970 girava em torno de 4% de toda a produção de pescado comparado
com 27,3% em 2000;

• Os maiores produtores mundiais são: China (28 milhões t), Chile (550 mil
t) e Estados Unidos (498 mil t);

• Grupos de espécies mais produzidas no mundo são: carpas, ostras, sal-


monídeos, camarões, mexilhões, vieiras e tilápias.

e-Tec Brasil 330 Panorama da aquicultura


Aula 5 - Panorama da Produção Aquícola II

Nesta aula, daremos continuidade à análise da produção aquícola,


todavia, iremos nos concentrar no Brasil.

Como vimos na aula passada, o Brasil apresenta um papel significativo na


produção de pescado mundial, pois em 2004, a produção aquícola e pes-
queira brasileira alcançaram um volume de 1.015.916 toneladas. Em 1994,
o Brasil, era o 32º país em produção aquícola e o 26º em termos de valores.
Em 2004, ocupava o 18º lugar no ranking mundial de produção aquícola
com 0,5% da produção mundial e o 12º em termos de receitas geradas com
1,4% do total (FAO, 2006).

O Censo Aquícola ajudará produtores a conhecer melhor a atividade

Convênio para a realização do Censo Aquícola no país foi firmado pela


Secretaria de Aquicultura e Pesca, com o Fundo das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação (FAO) e com a Agência Brasileira de Cooperação
(ABC). O acordo faz parte do Projeto de Cooperação Técnica Internacional
entre as três instituições.

O Ministro Altemir Gregolin destacou a importância do acordo, esclarecendo


que "Este acordo já vinha sendo discutido há algum tempo e fizemos algu-
mas revisões para incluirmos a maricultura da região Nordeste e a inclusão
do Censo Aquícola, pois a partir dele passaremos a ter uma coleta sistemá-
tica de dados". O objetivo do censo é mapear a atividade aquícola no país e
conhecer o cenário real, sem defasagem, para sustentar as políticas públicas
nacionais voltadas ao setor. Com essas informações, as políticas públicas
poderão ser desenvolvidas de forma mais precisa e com foco nas reais ne-
cessidades dos produtores, que terão não só conhecimento de sua realidade
como poderão se organizar melhor e, consequentemente produzir mais.

O Diagnóstico Aquícola será desenvolvido até dezembro de 2010. Entre as


ações programadas estão: o censo aquícola, o trabalho comunitário de ca-
marão, o cultivo de algas e cogestão dos recursos costeiros. O investimento
total será de US$ 5 milhões.

Fonte: Secretaria Especial de Pesca, 2009.

Aula 5 - Panorama da Produção Aquícola II 331 e-Tec Brasil


No período de 1998 até 2003, a pesca extrativa apresentou um declínio, e a
aquicultura mostrou um considerável crescimento, como podemos verificar
no gráfico abaixo.

Produção total (t) da pesca extrativa e da aquicultura em águas


marinhas e continentais, 1998 – 2004.

Fonte: IBAMA, 2004

A produção de pescado proveniente da aquicultura, no Brasil, tem crescido


acima da média mundial desde 1995. Enquanto a média mundial de cresci-
mento é de 10% ao ano, a produção aquícola brasileira cresceu em média
21% ao ano.

O Brasil é hoje o segundo produtor aquícola da América Latina, produzindo


cerca de 270.000 toneladas ano, porém encontra-se bem abaixo do Chile
que tem uma produção superior a 600.000 toneladas ano. A produção aquí-
cola brasileira começou a crescer mais rapidamente depois de 1995 com o
aumento da carcinocultura.

A produção extrativa (marítima e continental) tem se estabilizado em torno


de 700.00.000 toneladas. Pelos dados de 2004 (IBAMA, 2005), houve um
pequeno crescimento percentual da pesca extrativa e uma pequena redução
percentual da aquicultura causada pela diminuição da produção do cama-
rão L. vanamei. A aquicultura tem desempenhado um papel cada vez mais
importante na produção de peixes, crustáceos e moluscos no Brasil. Esse
aumento da participação da aquicultura tanto continental quanto marítima
deve-se, em grande parte à quase estagnação das capturas extrativas e a
investimentos maiores em estruturas produtivas, sobretudo nas de cultivo de
camarão (carcinocultura) para exportação.

e-Tec Brasil 332 Panorama da aquicultura


Participação Relativa das Regiões Brasileiras
na Aquicultura no ano de 2004.

Produção por Regiões

Ranking da produção aquícola no Brasil:


• 1º lugar: Região Nordeste
• 2º lugar: Região Sul
• 3º lugar: Região Centro-Oeste
• 4º lugar: Região Sudeste
• 5º lugar: Região Norte

Fonte: Livro “Estudo Setorial para a Consolidação de uma Aquicultura Sustentável no Brasil”, 2007.

Aquicultura Continental
A aquicultura continental de água doce tem apresentado um crescimento
contínuo nos últimos anos, passando cerca de 77.500 toneladas em 1997
para 180.730 toneladas em 2004, ou seja, um aumento de mais de 100%
no período. Em 2004, a Região Sul (carpas e tilápias) era responsável por
34% da produção, seguida pelo Nordeste (tilápias e tambaquis) com 22%,
depois Centro-Oeste (tambacu, pacu, tilápia e tambaqui), Sudeste (tilápia,
carpa, truta, tambacu e tambaqui) com 17% tendo o Norte (tambaqui) uma
participação inferior a 10% do total da aquicultura continental. (IBAMA,
2005)

As espécies exóticas representaram, em 2004, mais de 60% da produção


aquícola de água doce, destacando-se a tilápia com 70 mil toneladas, se-
guida pela carpa, com uma produção de 45 mil toneladas. O estado com
maior produção da tilápia é o Ceará, seguido pelo Paraná e Bahia. Já o Rio
Grande do Sul é o maior produtor de carpa, seguido por Santa Catarina e
São Paulo.

Em Santa Catarina predominam as pequenas propriedades rurais, onde os


suinocultores e avicultores consorciam essas atividades com a criação exten-
siva de carpas e tilápias.

Saiba mais sobre a


Nelas se aproveitam os dejetos da suinocultura e por esse consorciamento rizipiscicultura visitando o
site da Cooperativa Regional
se obtém uma redução de 50% no custo de produção de carpa. Além disso, Agropecuária do Sul Catarinense
consorcia-se a aquicultura com a rizicultura, obtendo-se, além da produção Coopersulca
(www.coopersulca.com.br)
de tilápias uma melhoria na produção de arroz.

Ainda na região Sudeste, parte do crescimento da produção de alevinos e

Aula 5 - Panorama da Produção Aquícola II 333 e-Tec Brasil


da aquicultura extensiva de peixes deve-se à grande expansão de tanques
dedicados aos “pesque-pagues”, locais de pesca esportiva.

As espécies nativas da Amazônia e do Pantanal apresentaram um crescimen-


to constante nos últimos tempos. O maior produtor de tambaqui é o Estado
do Amazonas, o de pacu e piau é o Mato Grosso.

O camarão de água doce tem sua produção concentrada, principalmente


nos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Este último produz 50% de
todo o camarão de água doce do Brasil.

Também há uma produção crescente de peixes ornamentais, sobretudo nos


Estados de Minas Gerais e São Paulo.

Aquicultura Marinha
A aquicultura praticada em água salgada e salobra foi a que apresentou o
maior crescimento dos últimos anos, e a espécie responsável por esse cresci-
mento foi o Litopenaeus vannamei (camarão cinza), colocando o Brasil como
o sexto maior produtor mundial. Em 2003, o cultivo de camarão atingiu
90.000t tendo diminuído cerca de 16% em 2004, quando a produção caiu
drasticamente para 76.000t (ABCC, 2005). Esta redução ocorreu, sobretu-
do, devido aos seguintes fatores:
ABCC: Associação Brasileira de
Criadores de Camarão.

Anti-dumping: nova empresa


• ação anti-dumping movida, nos Estados Unidos pela Southern Shrimp
que coloca o produto abaixo Alliance;
do preço de custo ou abaixo
do preço da indústria nacional,
onde pode ocorrer sobretaxação. • problemas sanitários e de enfermidades, em particular a infecção causa-
Southern Shrimp Alliance: da pelo vírus IMNV que apareceu no Brasil no último trimestre de 2003,
aliança sem fins lucrativos
formada por 8 estados do sul
espalhando se, sobretudo no Nordeste;
dos Estados Unidos com objetivo
de evitar a deterioração da
indústria camaroeira americana. • contínua desvalorização do dólar americano que perdeu quase um quar-
to de seu valor frente a moeda local nos últimos dois anos;
IMNV: vírus da micronecrose
infecciosa.
• agravada pela redução recente das importações pela União Europeia em
razão do uso excessivo de antibióticos. (FAO, 2004).

Também em razão da crise, muitas fazendas fecharam suas portas e demiti-


ram os funcionários. Em 2004, a região com maior produção e área cultivada
foi a do Nordeste, concentrados principalmente nos Estados do Rio Grande
do Norte (381 produtores), Ceará (191 produtores) e Pernambuco (98 pro-
dutores).

e-Tec Brasil 334 Panorama da aquicultura


No Estado de Santa Catarina originou-se a malacocultura comercial, exis-
tindo mais de 1.000 produtores de mexilhão e ostras, organizados em as-
Malacocultura: cultivo
sociações e cooperativas. Este Estado é responsável por 95% do total da de moluscos.
produção de mexilhões. Mitilicultura: cultivo de
mexilhões.
A mitilicultura é uma atividade em expansão. Algumas fazendas de São Pau-
lo e do Rio de Janeiro já apresentam 100 toneladas de mexilhão por hectare.
Também existem produtores individuais e cooperativas de produção de ostra
em São Paulo. Em 1999, começou a produção de moluscos pelo sistema lon-
gline (espinhel). No Ceará, também há a produção de ostras. Pernambuco
e Espírito Santo também apresentam uma produção bastante significativa
de moluscos. No Ceará e no Rio Grande do Norte existem cultivos da alga
Gracilaria. No Brasil existem poucas experiências de piscicultura marinha,
sendo que as pesquisas se concentram na tainha, no robalo, linguado, peixe
rei, garoupa e bijupirá.

Com estas duas aulas finalizamos a análise da produção aquícola no mundo


e no Brasil.

Atividade de Aprendizagem
Pesquise quais são as principais espécies aquáticas cultivadas em sua re-
gião.

Aula 5 - Panorama da Produção Aquícola II 335 e-Tec Brasil


Resumo
• O Brasil apresenta um papel significativo na produção de pescado mun-
dial;

• A produção aquícola brasileira cresce acima da média mundial, quase


21% por ano;

• O Brasil é hoje o segundo produtor aquícola da América Latina;

• Ranking da produção aquícola no Brasil: 1º região nordeste, 2º região sul,


3º região centro-oeste, 4º região sudeste e 5º região norte;

• A região sul é a maior produtora de pescado proveniente da aquicul-


tura continental, representada principalmente pela piscicultura de água
doce;

• As espécies exóticas representaram, em 2004, mais de 60% da produção


aquícola de água doce;

• A região nordeste é a maior produtora de pescado proveniente da aqui-


cultura marinha, devido o cultivo de camarão marinho;

• O Estado de Santa Catarina é responsável pela produção de 97% do total


da produção de mexilhões;

• No Brasil existem poucas experiências de piscicultura marinha, sendo que


as pesquisas se concentram na tainha, no robalo, linguado, peixe rei,
garoupa e bijupirá.

e-Tec Brasil 336 Panorama da aquicultura


Aula 6 - Sistemas Produtivos em Aquicultura

Nesta aula, estudaremos os sistemas produtivos empregados co-


mercialmente. Este conhecimento é extremamente importante
porque serão eles que influenciarão na escolha do local do empre-
endimento, na espécie a ser cultivada, na escolha da tecnologia,
na forma de manejo aplicada, na produtividade, dentre outros fa-
tores que também serão imprescindíveis para o sucesso econômico
da atividade.

Ao final desta aula, vocês estarão aptos a reconhecer os diferentes


sistemas de cultivo e a maneira como são empregados.

Classificação dos principais sistemas de produção aplicados na aqui-


cultura.

• Sistema Extensivo: realizado em viveiro drenável, onde o controle de


água pode ser incompleto, baixo adensamento, alimentação natural (nutri-
ção proveniente exclusivamente dos organismos-alimento naturais da água).
Este sistema de produção é economicamente viável somente quando a terra
é barata e os custos de produção baixos (justificados pelo uso múltiplo dos
viveiros). Usado em monocultivo ou em policultivo. Apresenta uma produti-
Estes viveiros também podem
vidade média de 500 kg/ha. servir para irrigação e bebedouro
para outros animais

Figura 6.1: Sistema extensivo de produção de peixe de


água doce, Morretes/PR.
Fonte: Nicole Pistelli Machado

Aula 6 - Sistemas Produtivos em Aquicultura 337 e-Tec Brasil


• Sistema Semi-intensivo: o viveiro pode ser drenado e abastecido à von-
tade, taxa de renovação de 5 a 7%, sofre adubações e fertilizações para
maximizar a produção de alimento natural que serve como principal fonte de
alimento, a nutrição é complementada com o fornecimento de algum tipo
de alimento como resíduos da agroindústria, restos de abatedouros e ainda
rações. A densidade de produção é maior que a aplicada no sistema exten-
sivo. Os custos de produção do semi-intensivo podem ser baixos. Apresenta
produtividade de 1.500 a 8.000 kg/ha.

Figura 6.2: Esquema da entrada e da saída de água de um vivei-


ro com sistema semi-intensivo de produção. Pindamonhangaba/
SP.
Fonte: Nicole Pistelli Machado

• Sistema Intensivo: o viveiro possui o fluxo de água controlado para pro-


mover a renovação de água (cerca de 25%) para suportar a biomassa de
organismos cultivados, possui um maior adensamento que o sistema semi-
Monocultivo:
cultivo de uma só espécie. intensivo, geralmente utilizado em monocultivo, alimentos de alta qualidade
OD: na forma de ração. Apresenta produtividade de 5000 a 10000 kg/ha.
oxigênio dissolvido, um dos
parâmetros de qualidade de água.
• Sistema Superintensivo: possui fluxo contínuo, a área de lâmina de água
passa a não ser importante e sim a quantidade de água como fator limitante
na produção. Nesse sistema, os peixes são estocados em alta densidade em
um longo tanque que exige um contínuo fluxo de água, que garante para o
pescado um suficiente suplemento de OD, e elimina os dejetos metabólicos.
Uso de alimento artificial. Aqui tanto a densidade quanto a produtividade
é medida em m³ (volume) e não por hectare ou m² (área). A produtividade
neste sistema varia de 70 a 200 kg/m³.

e-Tec Brasil 338 Panorama da aquicultura


Figura 6.3: Foto de tanques com sistema de cultivo de fluxo contínuo, truticultu-
ra, Campos de Jordão/SP.
Fonte: Marcos Guilherme Rigolino.

Existem também os cultivos em tanque-rede que são estruturas de tela de


arame ou rede, seladas em todos os lados, que retêm os organismos, mas
permite completa troca de água e remoção de resíduos. São usualmente
colocados em lagos, reservatórios, represas, estuários, oceano e em rios não
correntosos. O cultivo pode ser intensivo ou semi-intensivo, dependendo do
adensamento. Tem uma produtividade de 50 a 300 kg/m3.

Figura 6.4: Foto de cultivo de peixes marinhos em tanque-rede, Ubatuba/SP.


Fonte: Nicole Pistelli Machado

Existem também outros sistemas de cultivo, não tão difundidos no Brasil,


como o sistema intensivo fechado ou o de reuso de água. Geralmente são
sistemas localizados em recintos fechados, e é feito um controle total do
ambiente, mantendo-se os parâmetros de qualidade de água dentro de pa-
tamares satisfatórios através do uso de filtros, biofiltros e aeração. Este siste- Biofiltros:
ma de cultivo é indicado apenas em casos em que se tenta criar uma espécie Também denominados filtros
biológicos, são dispositivos que
não adaptada às condições de um determinado local, principalmente ao eliminam uma ampla gama de
regime de temperatura, ou em casos de um suprimento muito limitado de compostos contaminantes da
água mediante um processo
água, e procura-se economizar no gasto de energia para aquecimento ou biológico.
conservação da água.

A aquicultura brasileira é baseada principalmente em sistemas de cultivo


semi-intensivo (cerca de 95%) e é sobretudo, com exceção do camarão ma-
rinho, sustentada por pequenos produtores.

Aula 6 - Sistemas Produtivos em Aquicultura 339 e-Tec Brasil


Atividade de Aprendizagem
Em sua opinião, o fato de o Brasil apresentar a maior parte de seus cultivos
aquícolas sustentados por pequenos produtores pode ser considerado um
empecilho para o sucesso econômico da atividade? Justifique sua resposta.

e-Tec Brasil 340 Panorama da aquicultura


Resumo
• Os sistemas de cultivo apresentam diferenças que vão desde o número
de animais por área, alimentação, controle da qualidade da água e espé-
cies a cultivar;

• Os principais sistemas de cultivo são: extensivo, semi-intensivo, intensivo,


superintensivo e cultivo em tanque-rede;

• Sistema Extensivo: utiliza áreas alagadas, sem controle de qualidade da


água, sem alimentação artificial e sem controle de fertilidade da água
para produção de alimento natural;

• Sistema Semi-intensivo: neste sistema o viveiro pode ser drenado e abas-


tecido a vontade, sofre renovação diária de água para repor as perdas
que ocorrem pela evaporação e infiltração, utilização de calagem, adu-
bação mineral e orgânica para maximizar a produção de alimento natural
que serve como principal fonte de alimento, a nutrição natural conta
com suplementações;

• Sistema Intensivo: com monitoramento e controle total da qualidade da


água, com alimentação artificial através de ração balanceada. Conta com
a renovação de água para remoção dos metabólitos e dos restos de ali-
mentos em decomposição;

• Sistema Superintensivo: nesse sistema os peixes são estocados em alta


densidade em um longo tanque que exige um contínuo fluxo de água,
que garante para o pescado um suficiente suplemento de oxigênio dis-
solvido e elimina os dejetos metabólicos, uso de alimento artificial;

• Cultivo em tanque-rede: os tanque-redes são estruturas de tela de arame


ou rede, seladas em todos os lados, que retêm os organismos, e permi-
tem completa troca de água e remoção de resíduos;

• A aquicultura brasileira é baseada principalmente em sistemas de cultivo


semi-intensivo (cerca de 95%) e é sobretudo, com exceção do cultivo de
camarões marinhos, sustentada por pequenos produtores.

Aula 6 - Sistemas Produtivos em Aquicultura 341 e-Tec Brasil


Aula 7 - Ecologia dos Ambientes de Cultivo

O ambiente aquático apresenta um alto grau de complexidade,


e por esta razão é de extrema importância um conhecimento
mais profundo dos componentes destes ecossistemas de cultivo
e a interação entre eles. Os ambientes de cultivo em aquicultura
apresentam componentes bióticos (peixes, microalgas, moluscos,
bactérias, etc) e componentes abióticos (água, luz, temperatura,
etc.).

Nesta aula, estudaremos os componentes bióticos de maneira su-


cinta, pois eles serão vistos no primeiro módulo do nosso curso, de
forma mais detalhada na disciplina de Biologia e Ecologia de Orga-
nismos Aquáticos. Os componentes bióticos influenciam os com-
ponentes abióticos e vice-versa, portanto, para compreendermos
o comportamento dos parâmetros fundamentais de qualidade de
água devemos conhecer os fatores bióticos de um ecossistema de
cultivo. Ao final da aula, espero que vocês consigam identificar o
papel de cada componente biótico, seja peixe, microalga, bactéria
dentro do ambiente de cultivo.

Aspecto estrutural do ambiente de cultivo

Figura 7.1: Diagrama do aspecto estrutural do ambiente de cultivo.


Fonte: http://crv.educacao.mg.gov.br

Aula 7 - Ecologia dos Ambientes de Cultivo 343 e-Tec Brasil


• Fitoplâncton

Fitoplâncton:
nos ecossistemas aquáticos, • Zooplâncton
abrange todos os seres
flutuantes e fotossintetizantes; é
representado principalmente por • Organismo Cultivado
inúmeras espécies de algas.

Zooplâncton: • Bactérias e fungos


formado pelo conjunto de seres
flutuantes heterótrofos, incluindo
protistas e animais. • Invertebrados (insetos, crus-
Macrófita aquática: táceos, etc)
são vegetais que habitam desde
brejos até ambientes totalmente
submersos (isto é, debaixo • Macrófitas Aquáticas
d’água).

• Macroalgas

Aspecto funcional do ambiente de cultivo


O aspecto funcional do cultivo está relacionado com a função que os orga-
nismos têm no ambiente de cultivo e que tipo de processo eles realizam.

Nos ecossistemas de cultivo acontecem três processos principais: a produ-


ção, o consumo e a decomposição.

A produção é realizada por organismos capazes de sintetizar matéria orgâ-


nica a partir do gás carbônico (CO2), água e sais minerais, esses organismos
são chamados produtores primários.

Os principais produtores primários são: as algas (microalgas e macroalgas),


as macrófitas aquáticas e alguns tipos de bactérias. Parte do material total
produzido (produção primária bruta) é consumida na manutenção do meta-
bolismo do produtor primário. A outra parte é transformada em biomassa
(produção primária líquida), que é a fonte de energia para as cadeias alimen-
tares de todo o ecossistema.

Existem dois tipos de produtores primários: os fototróficos e os quimio-


tróficos.

Os fototróficos utilizam a energia solar para a síntese de matéria orgânica,


desempenham papel extremamente importante nos ecossistemas aquáticos,
inclusive nos ambientes de cultivo. São exemplos de produtores primários
fototróficos as micro e macroalgas.

e-Tec Brasil 344 Panorama da aquicultura


Nem todo o organismo que faz produção primária libera oxigênio. Só
os que fazem fotossíntese.

A produção primária é a base da cadeia alimentar de um ambiente


de cultivo.

Os quimiotróficos são organismos que utilizam a energia das reações de


oxidação e redução para a síntese de matéria orgânica. São exemplos de
Bactérias nitrificantes:
produtores primários quimiotróficos as bactérias nitrificantes. capazes de fixar o nitrogênio,
vocês irão estudar mais detal-
hadamente estas bactérias nas
O consumo é realizado por organismos que obtêm energia de maneira di- disciplinas de qualidade de água
e ecologia e biologia de organis-
reta ou indireta da matéria orgânica sintetizada pelos produtores primários. mos aquáticos, quando tratarem
Os consumidores que se alimentam diretamente dos produtores primários do ciclo do nitrogênio

são classificados como herbívoros, consumidores primários ou ainda como


consumidores de primeira ordem. São exemplos de consumidores primários:
mexilhões e ostras.

Aqueles que obtêm energia a partir dos consumidores primários são classi-
ficados como carnívoros, ou consumidores secundários ou de segunda or-
dem. Temos também consumidores terciários, quaternários e assim por dian-
te. A classificação vai depender do nível que este organismo se encontra na
cadeia trófica. São exemplos de consumidores secundários: a carpa comum
e o dourado.

E para finalizarmos, a decomposição é realizada por organismos (decom-


positores) que decompõem a matéria orgânica. Ela promove a ciclagem da
matéria dentro do ambiente de cultivo. Bactérias e fungos são os principais
grupos de decompositores.

Atividade de Aprendizagem
Qual a importância dos organismos decompositores dentro dos ambientes
de cultivo?

Aula 7 - Ecologia dos Ambientes de Cultivo 345 e-Tec Brasil


Resumo
• Estrutura: organismos que compõem o ambiente de cultivo (fitoplânc-
ton, zooplâncton, organismo cultivado, bactérias, fungos, invertebrados,
macrófitas aquáticas e macroalgas);

• Função: dos organismos no ambiente de cultivo (processos);

• Os processos que ocorrem dentro do ambiente de cultivo são: produção,


consumo e decomposição;

• No processo de produção, os organismos chamados de produtores pri-


mários produzem seu próprio alimento, a partir de uma fonte de energia
e de nutrientes simples. No ambiente de cultivo, o fitoplâncton é o prin-
cipal produtor primário;

• No processo de consumo, os organismos utilizam a matéria orgânica pro-


duzida nos níveis tróficos anteriores. Os organismos que realizam este
processo são chamados consumidores;

• No processo de decomposição da matéria orgânica os fungos e bactérias


utilizam, principalmente, a matéria orgânica não viva como fonte de ali-
mento/energia. Esse processo proporcionará a ciclagem de nutrientes.

e-Tec Brasil 346 Panorama da aquicultura


Aula 8 - Qualidade da Água na Aquicultura - I

O objetivo dessa aula é fazer um apanhado geral do conteúdo


programático para que possamos dar continuidade a outras aulas,
como piscicultura, malacocultura, carcinicultura, ranicultura entre
outros cultivos. Portanto, esta aula e a têm caráter introdutório. O
conhecimento das noções fundamentais de qualidade da água os
ajudará, certamente, a compreender melhor o ambiente onde se
desenvolvem os organismos que a aquicultura cultiva.

Ao concluirmos as duas aulas, vocês deverão estar aptos a reco-


nhecer e aplicar os parâmetros básicos de qualidade da água em
aquicultura.

A Água

Figura 8.1: Diagrama da composição da molécula de água e ligação


entre elas através de pontes de hidrogênio.
Fonte: www.brasilescola.com

A água é considerada o componente abiótico de maior importância por


atuar como meio dispersante de inúmeros compostos orgânicos e inorgâ-
nicos; ser um veículo de transporte de substâncias, permitindo o contínuo
intercâmbio de moléculas e de íons entre os líquidos extra e intracelulares;
e sobretudo, no nosso caso, ser o meio onde são cultivados os organismos
produzidos pela aquicultura.

Aula 8 - Qualidade da Água na Aquicultura - I 347 e-Tec Brasil


Para o sucesso do cultivo é imprescindível uma boa qualidade de água, até
porque este pode ser um fator limitante para o aumento da produtividade.

A água é formada por um átomo de oxigênio ligado covalentemente a dois


átomos de hidrogênio, é uma molécula polar e por esta razão as moléculas
Ligação covalente: quando há
compartilhamento de elétrons. de água ligam-se umas nas outras através de pontes de hidrogênio.
Moléculas polares apresentam
força dipolo isto é, existe uma
parte da molécula que apresenta
uma predominância de carga As propriedades físicas da água
positiva e outra parte negativa, Calor específico: é a quantidade de calor, em calorias, que um corpo pre-
no caso específico da água o
oxigênio é o pólo negativo e o cisa receber para elevar em 1°C um grama de sua massa, sob condições
hidrogênio pólo positivo.
normais de pressão. A água possui calor específico de 1cal/g.°C, valor consi-
derado alto, se comparado com outros elementos. Isto faz com que a água
seja um dos elementos mais estáveis do planeta, graças a isso as flutuações
de temperatura na água ocorrem de forma gradativa.

Tensão superficial: o arranjo das moléculas de água (pontes de hidrogênio)


na camada de contato com o ar forma uma película delgada que possui
determinada tensão, chamada tensão superficial. Este filme superficial mais
compacto permite que vários organismos como insetos se locomovam sobre
ele.

A tensão superficial da água decresce com o aumento da temperatu-


ra e com a quantidade de substâncias orgânicas dissolvidas.

Densidade: é o coeficiente da razão entre massa e volume (g/l, g/cm³, g/


ml, etc). A densidade da água vai depender de sua salinidade, temperatura
e pressão, sendo a salinidade o principal fator de variação da densidade. A
densidade de fluidos aumenta quando a temperatura abaixa, porém a água
tem um comportamento anômalo quando resfriada de 0°C a 4°C. Para en-
tender melhor este comportamento leia o texto abaixo.

Aquecendo certa massa (m) de água, inicialmente a 0 °C, até a temperatura


de 100°C, verificamos que de 0 °C a 4 °C o volume diminui, pois o nível
da água no recipiente baixa, ocorrendo contração. A partir de 4 °C, conti-
nuando o aquecimento, o nível da água sobe, o que significa aumento de
volume, ocorrendo dilatação.

e-Tec Brasil 348 Panorama da aquicultura


Portanto, a água apresenta comportamento excepcional, contraindo-se
quando aquecida de 0°C a 4 °C.

A densidade (d=m/V) varia inversamente com o volume V. Então, de 0°C a


4°C a densidade da água aumenta, pois o volume diminui nesse intervalo.
Acima de 4°C, o volume da água aumenta e, portanto, a densidade diminui.
Sendo o volume da água mínimo a 4°C, nessa temperatura ela apresenta
sua densidade máxima.

O comportamento particular da água explica porque certos lagos se con-


gelam na superfície, permanecendo líquida a água no fundo. Quando cai
a temperatura do ambiente, a água se resfria por convecção: a água da
superfície, mais fria, desce, pois tem maior densidade que a do fundo, que,
sendo mais quente, sobe.

No entanto, ao ser atingida a temperatura de 4°C, a movimentação por dife-


rença de densidade não é mais possível, pois a essa temperatura a água tem
densidade máxima. Continuando o resfriamento do ambiente, a densidade
da água superficial diminui, não podendo mais descer. Assim chega a se for-
mar gelo na superfície e a água no fundo permanece líquida. No diagrama
abaixo, representa-se uma situação em que o ambiente está a -5°C e a água
no fundo está a 4°C.
Saiba mais lendo Princípios
Químicos de Qualidade de Água
em Aquicultura: Uma revisão
Adaptado do Artigo de Jack Bisker: O Milagre da Água Que Ninguém Percebe. Fonte: http://
para peixes e camarões, obra de
fernandobisker.com/?p=42 Acesso: abr. 2010. Luis Vinatea Arana. 2ª Edição –
Florianópolis: Ed. da UFSC, 2004.

Temperatura: é o parâmetro físico mais comumente observado devido à fa-


cilidade com que pode ser registrado. Atua diretamente sobre a distribuição,
a periodicidade e a reprodução dos organismos. É o principal fator limitante
na distribuição geográfica de muitas espécies de plantas e animais.

Aula 8 - Qualidade da Água na Aquicultura - I 349 e-Tec Brasil


Atividade de Aprendizagem
Quando a coluna d’água apresenta temperatura uniforme, a propagação do
calor pode ser muito eficiente. Por quê?

Resumo
• A água é uma molécula polar formada por um átomo de oxigênio e dois
de hidrogênio;

• O calor específico é a quantidade de calor, em calorias, que um corpo


precisa receber para elevar em 1°C um grama de sua massa, sob condi-
ções normais de pressão;

• O arranjo das moléculas de água (pontes de hidrogênio) na camada de


contato com o ar forma uma película delgada que possui determinada
tensão, chamada tensão superficial;

• A densidade é o coeficiente da razão entre massa e volume;

• A densidade da água vai depender de sua salinidade, temperatura e pres-


são;

• A temperatura atua diretamente sobre a distribuição, a periodicidade e a


reprodução dos organismos. É o principal fator limitante na distribuição
geográfica de muitas espécies de plantas e animais.

e-Tec Brasil 350 Panorama da aquicultura


Aula 9 - Qualidade da Água na Aquicultura - II

Na aula anterior, vimos algumas propriedades físicas da água,


como: calor específico, tensão superficial, densidade e temperatu-
ra. Durante a aula, daremos continuidade ao assunto abordando
outros aspectos da Qualidade da Água na Aquicultura.

Efeitos Térmicos da Radiação


A energia solar é a principal fonte de energia do nosso planeta. A radiação
ao ser absorvida nas primeiras camadas da coluna d’água se transforma em
energia calorífica.

O calor se propaga na água de molécula para molécula, através de


um processo considerado lento chamado condução. A principal forma
que faz com que a água tenha temperaturas “parecidas” em toda co-
luna d’água é o transporte de massa de água, que pode ocorrer pelo
vento ou aeração.

Quando a densidade é semelhante em toda coluna d’água, não há barreira


física contrária à circulação, criando uma condição denominada instabilida-
de térmica. Já quando a coluna d’água não apresenta temperatura unifor-
me, as diferenças de densidade poderão impedir a circulação total de massa
d’água, impedindo a mistura das camadas de água, caso a energia do vento
não seja forte o suficiente.

Nesse caso, o calor não se distribuirá uniformemente, criando uma condição


denominada estabilidade térmica (estratificação térmica), onde diferentes
estratos da coluna d’água são reconhecidos:

• Epilímnio: camada superior, com temperatura uniforme e quente;

• Hipolímnio: camada inferior, com temperatura mais fria;

• Metalímnio: localiza-se entre as duas camadas, é uma camada com des-


continuidade de temperatura.

Aula 9 - Qualidade da Água na Aquicultura - II 351 e-Tec Brasil


A faixa do gradiente de temperatura no metalímnio é chamada de
termoclina, a termoclina refere-se à temperatura, e não à camada
onde ela ocorre.

O raio de luz quando penetra na água tem sua intensidade atenuada pro-
gressivamente, através de duas formas distintas: absorção e dispersão. A
absorção reduz a intensidade inicial do raio solar, transformando sua energia
em calor. Já a dispersão atenua a intensidade inicial da radiação, por desviá-
la, sem causar nenhuma transformação de energia.

Turbidez: é a medida da dificuldade de um feixe de luz atravessar a água, e


está relacionada à quantidade de material em suspensão na coluna d’água.

Transparência: é a capacidade que a água tem de permitir a passagem da


radiação solar.

Quanto maior a turbidez menor será a transparência e vice-versa. Para se


medir a transparência utiliza-se o Disco de Secchi.

As propriedades químicas da água


pH (potencial hidrogeniônico): refere-se exclusivamente as concentrações
de íons de H+ em uma solução. Indica se água está: ácida (pH<7), neutra
íon: (pH=7) ou básica (pH>7). O pH é um parâmetro muito importante a ser con-
Átomo que ganhou ou perdeu siderado na aquicultura, porque ele influi no metabolismo e em processos
elétrons.
fisiológicos dos organismos aquáticos.

O pH abaixo de 4 e acima de 11 causa mortalidade dos organismos aquáti-


cos de cultivo, o intervalo entre 6,5 e 9 é ótimo para a produção.

Condutividade: é um parâmetro de qualidade, geralmente medido na água


doce. É a capacidade de uma solução conduzir corrente elétrica. Como essa
capacidade é função dos íons presentes nas soluções, de modo geral, isto
significa que as soluções que apresentam maior concentração de íons, pos-
suem maior condutividade.

Alcalinidade: é a capacidade da água captar cátions (íons de carga positi-


va). É expressa em mg de CaCO3/l, tem poder tampão (capacidade de neu-
tralizar os ácidos), isto é, uma alta alcalinidade faz com que o pH varie pouco
ao longo do dia. A alcalinidade total igual ou superior a 20 mg CaCO3/l é a
condição mínima para que ocorra produção primária.

e-Tec Brasil 352 Panorama da aquicultura


A alcalinidade não tem nada a ver com pH alcalino, não confunda!

Dureza total: refere-se à concentração de íons de cálcio e magnésio pre-


sentes na água; é expressa em miligramas por litro (mg/l) de CaCO3. Pode
apresentar relação direta com a alcalinidade, já que os cátions da dureza e os
ânions da alcalinidade são oriundos da mesma fonte (soluções de minerais
carbonatados).

Salinidade: é a concentração de sais minerais dissolvidos na água, geral-


mente expressa em mg/l; corresponde ao peso, em miligramas, dos sais pre-
sentes em 1 litro de água. É expressa também em ppt (parts per thousand,
ou seja, 1 parte por mil).

Oxigênio dissolvido: essencial para o metabolismo de todo organismo


aquático que realiza respiração aeróbia. Fontes: atmosfera e fotossíntese.

A quantidade de um gás que se dissolve na água é chamada solubilidade, e


varia dependendo do tipo de gás, pressão, temperatura e salinidade.

A concentração de oxigênio é expressa em mg/l ou em porcentagem (%) de


saturação.

Nitrogênio: é um dos elementos mais importantes no metabolismo dos


ecossistemas aquáticos de cultivo, principalmente porque participa na for-
mação das proteínas.

Principais fontes: chuva, material orgânico e inorgânico de origem externa e


fixação do nitrogênio.

Formas: nitrogênio molecular, amônia não ionizada, amônia ionizada, nitri-


to, nitrato, oxido nitroso e nitrogênio orgânico particulado.

Fosfatos: fator limitante para produtividade biológica.

O comportamento do pH no ambiente de cultivo tem uma estreita relação


com a fotossíntese. Durante o dia quando ela está sendo realizada aumenta
a concentração de oxigênio e diminuiu a de gás carbônico, e durante a noite
acontece o contrário. Esta flutuação da concentração de oxigênio e de gás
carbônico faz também o pH flutuar (quando o cultivo não tem uma alta alca-
linidade). O gás carbônico faz com que ocorram reações na água liberando
íons de H+, deixando o pH mais ácido. Dentro de um viveiro podemos con-

Aula 9 - Qualidade da Água na Aquicultura - II 353 e-Tec Brasil


trolar esta flutuação manipulando alguns parâmetros de qualidade de água,
mas no oceano, onde é praticado a maricultura, acabamos não tendo este
controle. Leia a notícia abaixo e reflita sobre como a poluição atmosférica
pode influir na aquicultura.

Emissões de CO2 ampliam acidificação dos


oceanos
“As emissões de dióxido de carbono (CO2) contribuem para um incre-
mento sem precedentes da acidificação dos oceanos, com consequên-
cias imprevisíveis a longo prazo para a vida marinha”, revela um estu-
do publicado nesta quinta-feira. A modificação química dos oceanos é
um problema mundial e crescente, destaca um relatório encomendado
pelo Congresso e realizado pelo National Research Council (NRC), com
o apoio da Academia Americana de Ciências. Sem uma redução subs-
tancial das emissões de CO2 procedentes das atividades humanas, e
sem outro tipo de controle sobre este gás que provoca o efeito estufa,
os oceanos ficarão cada vez mais ácidos, adverte o relatório. Apesar
das consequências a longo prazo da acidificação dos oceanos sobre a
vida marinha ainda serem desconhecidas, pode-se esperar a modifica-
ção de numerosos ecossistemas, destaca o NRC. Os oceanos absorvem
aproximadamente um terço das emissões de CO2 procedentes de ati-
vidades humanas, como a queima de hidrocarbonetos e de carvão, a
produção de cimento e a devastação florestal, segundo o NRC. O CO2
absorvido pelos oceanos reduz o pH da água, provocando uma série de
alterações químicas descritas como acidificação. Pesquisas com vários
organismos marinhos revelam que a redução do pH dos oceanos afeta
processos biológicos como a fotossíntese, a absorção de nutrientes e o
crescimento, a reprodução e a sobrevivência de certas espécies. Desde
o início da revolução industrial, o pH médio das águas da superfície dos
oceanos passou de 8,2 para 8,1, elevando a acidez.

Fonte: Jornal do Povo de Três Lagoas, 26/04/10, (www.jptl.com.br)

e-Tec Brasil 354 Panorama da aquicultura


Atividade de Aprendizagem
Em sua opinião como a poluição atmosférica pode influenciar no desen-
volvimento da aquicultura. Relacione sua resposta com os parâmetros de
qualidade de água.

Resumo
• Quando a densidade é semelhante em toda coluna d’água, não há bar-
reira física contrária à circulação, criando uma condição denominada ins-
tabilidade térmica;

• Quando a coluna d’água não apresentar temperatura uniforme, as dife-


renças de densidade poderão impedir a circulação total de massa d’água,
impedindo a mistura das camadas de água, criando uma condição deno-
minada estabilidade térmica;

• Os diferentes estratos da coluna d’água são conhecidos como: epilímnio,


metalímnio e hipolímnio;

• A turbidez é a medida da dificuldade de um feixe de luz atravessar a


água, e está relacionada à quantidade de material em suspensão na co-
luna d’água;

Aula 9 - Qualidade da Água na Aquicultura - II 355 e-Tec Brasil


• A transparência é a capacidade que a água tem de permitir a passagem
da radiação solar;

• O pH refere-se exclusivamente as concentrações de íons de H+ em uma


solução;

• A condutividade é a capacidade de uma solução conduzir corrente elé-


trica;

• A alcalinidade está relacionada à capacidade da água em manter seu


equilíbrio ácido/básico (poder tampão);

• A salinidade é a concentração de sais minerais dissolvidos na água;

• O oxigênio dissolvido (OD) é essencial para o metabolismo de todo orga-


nismo aquático que realiza respiração aeróbia;

• O nitrogênio é um dos elementos mais importantes no metabolismo dos


ecossistemas aquáticos de cultivo, principalmente porque participa na
formação das proteínas.

e-Tec Brasil 356 Panorama da aquicultura


Aula 10 - Cultivo de Moluscos

Durante as próximas aulas falaremos sobre os principais cultivos


de organismos aquáticos praticados no Brasil. Iniciaremos com
o cultivo de moluscos, também conhecido como malacocultura.
Apresentarei um panorama geral da atividade em nosso país. Ao
final desta aula, vocês deverão conhecer as principais espécies de
moluscos cultivadas e seus principais sistemas de cultivo.

Organismos cultivados
O cultivo de moluscos bivalves é uma atividade antiga no mundo, conhecida
desde a época do Império Romano. O primeiro registro de cultivo de mo-
Moluscos bivalves: classe
luscos no Brasil data do ano de 1934, porém esta atividade só assumiu seu de moluscos de corpo mole
revestido por uma concha rígida
caráter comercial a partir da década de 90. formada por duas peças laterais
simétricas.
No Brasil são cultivados os seguintes moluscos bivalves: mexilhão (Perna per-
na), ostra do pacífico (Crassostrea gigas), ostra nativa (Crassostrea rizopho-
rae), ostra do mangue (Crassostrea brasiliana) e ainda existem experimentos
para o cultivo da vieira nativa (Nodipecten nodosus).

Figura 10.1: Fotos de mexilhão, ostra do pacífico e vieiras, respectivamente.


Fonte: A autora e Revista Panorama da Aquicultura (www.panoramadaaquicultura.com.br)

Santa Catarina é o maior produtor de moluscos do Brasil. Em 2004, a pro-


dução catarinense proveniente da malacocultura representou 95% da pro-
dução nacional. A malacocultura tem um importante papel social perante as
populações pesqueiras. Durante os anos 90, a atividade gerou 5.000 empre-
gos diretos e 10.000 empregos indiretos no Estado de Santa Catarina.

Aula 10 - Cultivo de Moluscos 357 e-Tec Brasil


Sistemas de Cultivo em Malacocultura
A escolha ocorre de acordo com a espécie e com o capital disponível.

Curral
Fundo
Direto
Contato direto com o fundo

Estacas ou “bouchots”

Mesa
Suspenso Estruturas Fixas Contato com
Varal
a coluna d’água
balsa pendurados numa
Estruturas Flutuantes meia-água estrutura.
longline

Atualmente, as técnicas empregadas para o cultivo de mexilhões são relati-


vamente rudimentares e remontam à época em que foram propostas, quan-
do visavam à introdução da atividade junto às comunidades de pescadores
artesanais. O que mudou foram as condições gerais da economia brasileira
e também as condições da própria atividade, que sofreram profundas alte-
rações. A mitilicultura veio como uma alternativa para aumentar a renda do
pescador artesanal (já que a pesca encontrava-se em declínio) e trazer de
volta a sua mulher para trabalhar na comunidade. O pescador mantinha sua
atividade saindo para pescar, sua mulher e os filhos ficam responsáveis pelo
cultivo. Hoje muitos daqueles que eram pescadores atualmente dedicam-se
exclusivamente à maricultura.

Os mexilhões desempenham papel extremamente importante no desenvol-


vimento da malacocultura. Muitos produtores ingressam na atividade cul-
tivando o Perna perna. Iniciar cultivos com uma espécie rústica, ajuda no
processo de educação do maricultor, fazendo com que ele no futuro venha
buscar o cultivo de espécies com melhor preço, pois tendo obtido o sucesso,
passa a ter o conhecimento necessário para investir em uma nova espécie,
como a ostra.

Devido ao excelente desempenho zootécnico a espécie de ostra mais comu-


mente cultivada no Brasil é a Crassostrea gigas, ou ostra do pacífico, uma
espécie exótica.

Para o cultivo de moluscos, o principal sistema praticado no Estado de Santa


Catarina é o tipo suspenso, que pode ser fixo ou flutuante.

e-Tec Brasil 358 Panorama da aquicultura


Figura 10.2: Fotos de sistemas de cultivo em Santa Catarina, sistema suspenso-fixo,
sistema suspenso flutuante: balsa e espinhéis.
Fonte: Prof. Jaime F. Ferreira (Disciplina de Cultivo de Moluscos UFSC)

Exemplos

O sistema suspenso-fixo é praticado em locais com profundidades infe-


riores a três metros, com mar calmo, de fundo areno-lodoso e próximo
à costa. As estruturas empregadas neste sistema podem ser do tipo
varal, construídas com estacas de bambus enterrados no fundo e com
outras fixadas paralelas à coluna d’água; ou do tipo mesa, com madei-
ra ou tubos de PVC preenchidos com ferro armado e concreto;

O sistema suspenso flutuante é, de maneira geral, utilizado em locais


com profundidades superiores a três metros e que apresentam baixas
e médias velocidades de corrente. O cultivo flutuante pode ser feito
através de espinhéis, também chamado long-lines, e de balsas. Os es-
pinhéis são confeccionados com flutuadores amarrados em linha com
cabo na superfície do mar. As balsas são plataformas flutuantes, cons-
truídas com madeira ou bambu. Os sistemas de cultivos utilizados na
produção de ostras são basicamente os mesmos empregados nos cul-
tivos dos mexilhões.

Fonte: Livro Aquicultura no Brasil o Desafio é Crescer. Editores: Antonio


Ostrensky, José Roberto Borghetti e Doris Soto. – Brasília, 2008.

As ostras nativas também são cultivadas em nosso país, porém de forma


menos expressiva.

Aula 10 - Cultivo de Moluscos 359 e-Tec Brasil


Figura 10.3: Foto de cultivo de ostras nativas, sistema fixo.
Fonte: www.google.com.br

Obtenção de Sementes
Segundo Ferreira et al (2006, p.38) as sementes de moluscos podem ser
obtidas de três maneiras básicas:

... produção em laboratório, após fecundação induzida, e criação das


lavas até fixação, em coletores de sementes, após a captação de larvas
que estão no plâncton, originadas pela reprodução natural dos animais
silvestres de estoque naturais e/ou pelos próprios moluscos de cultivo,
extração monitorada a partir de estoques naturais.

Comercialização
Moluscos são comercializados in natura, cozidos, desconchados, enlatados,
defumados (beneficiados). O Brasil não tem a tradição de consumir pescados
em geral, ainda mais moluscos; é considerado um consumo sazonal, durante
as férias. O baixo consumo e a falta de industrialização criam problemas para
comercialização.

Importância Econômica
Atualmente o cultivo de moluscos representa a principal ou pelo menos a se-
gunda atividade em importância econômica para alguns municípios de San-
ta Catarina. Muitas pessoas conhecem as “Ostras de Florianópolis”, muito
apreciadas nos Estados do sul e sudeste. A malacocultura tem possibilitado
a integração entre cultivo, gastronomia e turismo.

e-Tec Brasil 360 Panorama da aquicultura


Alunos ganham mexilhão na merenda escolar em SC

No primeiro teste, a desconfiança de alguns. Mas, segundo a cozinhei-


ra Dulcilene Pires, a aceitação do risoto de mexilhão foi melhor que
a da ostra, pioneira no cardápio da merenda das escolas municipais
de Florianópolis (SC). "Algumas crianças não quiseram comer por não
gostarem ou porque não conheciam, mas a maioria aprovou". O mo-
lusco passou a ser servido aos alunos de 7 a 15 anos que estudam em
tempo integral, porém uma vez por mês, mais que isso pode elevar o
colesterol. Os pais com filhos alérgicos a frutos do mar foram avisados,
e seus filhos terão um cardápio alternativo. Mais de 15 mil crianças
e adolescentes da rede vão poder apreciar o molusco nos pratos da
cantina escolar. "São ótimas fontes de vitamina B, ferro, fósforo, iodo,
cálcio e magnésio", diz Cleusa Silvano, chefe do Departamento de Ali-
mentação Escolar da prefeitura. Também pesaram a valorização da cul-
tura local e o estímulo à economia, pois o Estado de Santa Catarina é
um dos maiores produtores do país. Especialistas em nutrição e culiná-
ria, no entanto, fazem ressalvas à medida da prefeitura. Na opinião de
Allan Vila Espejo, chef do restaurante Al Mare de São Paulo, “crianças
não gostam de frutos do mar; 95% nem sequer comem peixe, quanto
menos frutos do mar”. A vice-presidente da Associação Brasileira de
Nutrição, Virgínia Nascimento, concorda com o valor nutricional do
molusco, mas alerta: "O risco de contaminação exige cuidado redobra-
do com limpeza". A prefeitura diz que não há risco de contaminação,
já que o alimento é entregue congelado, poucos dias antes de ser ser-
vido. A próxima novidade a ser incluída no cardápio das crianças será
o filé de cação.

Fonte: Struck, Jean Philipi. Folha de São Paulo, Folha Cotidiano. 19 de


março de 2010 (www.1folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1903201009.
htm)

Aula 10 - Cultivo de Moluscos 361 e-Tec Brasil


Atividade de Aprendizagem
Relacione as colunas
(1) Ostra do Pacífico ( ) Perna perna
(2) Mexilhão ( ) Crassostrea gigas
(3) Ostra do mangue ( ) Crassostrea rizophorae
(4) Vieira ( ) Nodipecten nodosus

Resumo
• No Brasil, são cultivados os seguintes moluscos bivalves: mexilhão (Per-
na perna), ostra do pacífico (Crassostrea gigas), ostra nativa (Crassostrea
rizophorae), ostra do mangue (Crassostrea brasiliana). E ainda e x i s -
tem experimentos para o cultivo da vieira nativa (Nodipecten nodosus);

• A escolha do sistema de cultivo na malacocultura ocorre de acordo com


a espécie e com o capital disponível;

• Para o cultivo de moluscos, o principalmente sistema praticado no Estado


de Santa Catarina é do tipo suspenso, que pode ser fixo ou flutuante;

• As sementes podem ser obtidas de 3 maneiras básicas: produção em la-


boratório; pela instalação de coletores; ou pela extração monitorada dos
estoques naturais;

• O baixo consumo e a falta de industrialização criam problemas para co-


mercialização de moluscos;

• Atualmente o cultivo de moluscos representa a principal ou pelo menos


a segunda atividade em importância econômica para alguns municípios
de Santa Catarina.

e-Tec Brasil 362 Panorama da aquicultura


Aula 11 - Cultivo de Camarões - I

O cultivo de camarões marinhos, ou carcinicultura, foi o princi-


pal responsável pelo crescimento da aquicultura nos últimos anos,
apresentando um papel bastante significativo para o desenvolvi-
mento da atividade. O objetivo da aula é apresentar os aspectos
socioeconômicos e ambientais da carcinicultura.

Aspectos Socioeconômicos da
Carcinicultura Marinha
A carcinicultura marinha teve sua origem no sudeste asiático, onde durante
séculos eram despescados viveiros abastecidos pelas marés. No Brasil, ela
começou a ganhar destaque na década de 90, quando houve uma grande
expansão da atividade no Nordeste. A maior parte do camarão marinho cul-
tivado no país é proveniente desta região, cerca de 94% da área e 96% da
produção, sendo a espécie predominante o Litopenaeus vannamei, exótica
da costa do Pacífico do México. No ano de 2003, a exportação do camarão
cultivado gerou divisas de aproximadamente US$ 236.772.700,00, repre-
sentando 91,63% do valor das exportações de camarão do Brasil.

Segundo dados da ABCC de 2003, o Estado do Rio Grande do Norte em


2002 apresentava a maior área de cultivo com 3.591 ha e produtividade de
ABCC: Associação Brasileira de
5.152 kg/ha/ano, seguido do Ceará com 2.260 ha de cultivo e produtivida- Criadores de Camarão
de de 7.249 kg/ha/ano.

Em 2004, a região sul representava 6% da produção nacional de camarões


marinhos, conforme dados da FAO.

Os produtores de camarão são classificados da seguinte maneira:

• Pequeno produtor, aquele que cultiva menos de 10 ha, representando


75% do total dos produtores e 19% das áreas;

• Médio produtor, cultiva entre 10 e 50 ha, cerca de 19 % dos produtores


e 26% das áreas de cultivo de camarão marinho;

• Grandes produtores, acima de 50 ha de área de cultivo, representando


6% do total de produtores e 56% da área cultivada.

Aula 11 - Cultivo de Camarões - I 363 e-Tec Brasil


A carcinicultura desenvolveu-se no nordeste brasileiro por apresentar vanta-
gens comparativas em relação a outras regiões, tais como: disponibilidade
Atividade primária
Atividade relativa ao setor de extensas áreas costeiras; domínio de tecnologias para se cultivar em baixa
primário, um dos setores da
economia, este setor está
ou alta densidade, podendo se ajustar oferta e mercado; regularidade da
relacionado a agropecuária. oferta; clima favorável; com possibilidade de obtenção de 2,5 safras por ano,
APP: entre outras.
Área de Preservação
Permanente
Adução: A carcinicultura é uma das atividades primárias que mais geram empregos
fornecimento
no nordeste. Somando-se o número de empregos diretos e indiretos gera-
dos, chegamos ao valor de 3,75 empregos gerados por hectare de viveiro
cultivado.

A agricultura irrigada gera 2,14 empregos por hectare de área cultivada, um


valor bem abaixo do gerado pelo cultivo de camarões marinhos. Vale des-
tacar ainda que cerca de 84% dos empregados diretos de uma fazenda de
camarão trabalham em caráter permanente e não temporário.

Aspectos Ambientais da Carcinicultura


Marinha
Toda atividade produtiva apresenta algum potencial de poluição, e o cultivo
de camarões marinhos não foge à regra, pois utiliza partes de APPs, man-
guezais por exemplo, para a adução de água do mar para os viveiros. O uso
abusivo de rações pode causar a eutrofização do entorno, no processamento
restos de camarão podem causar impactos se não forem reaproveitados.
Por isso que a carcinicultura é uma atividade tão temida e combatida por
ambientalistas. Outro fator é a introdução de espécies exóticas nos ecossis-
temas brasileiros.

No Brasil, atualmente a integridade ambiental é resguardada por uma legis-


lação ambiental. Para a implantação de um cultivo de camarão é obrigatório
o requerimento de:

• Licença Prévia;

• Licença de Instalação;

• Licença de Operação.

A partir do ano de 2003, a carcinicultura brasileira enfrentou problemas


com o surgimento de enfermidades no nordeste e sul do país. Hoje mui-

e-Tec Brasil 364 Panorama da aquicultura


tas propriedades pararam de produzir; e o cultivo de camarões marinhos
encontra-se em crise. É sabido que a poluição, o cultivo em altas densidades
- entre outros fatores - despontam como motivos para o surgimento de tais
doenças.

Apesar de todas estas negativas devemos considerar o retorno social e eco-


nômico da atividade; por isso quando falamos de aquicultura não podemos
esquecer da sustentabilidade, assunto que será amplamente discutido em
uma aula futura.

Saiba mais
A carcinicultura é a atividade produtiva mais polêmica da aquicultura. Abai-
xo algumas sugestões que mostram opiniões diferentes sobre o desenvolvi-
mento do cultivo de camarões marinhos no Brasil.

01. Carcinicultura e Desenvolvimento na Ilha de Deus, de João Henrique de


MelloFerraz e Angelo Brás Fernandes Callou. Acesso em: http://www.alaic.
net/alaic30/ponencias/cartas/Tecnologia/ponencias/GT18_12%20de%20
Mello%20y%20Bras.pdf

02. As 13 razões para dizer não à carcinicultura, é um manifesto escrito pelo


Instituto Terramar, de Fortaleza, Ceará. (www.terramar.org.br), expondo a
opinião de alguns ambientalistas de ONGs que militam contra a expansão
da carcinicultura no Brasil.

Atividade de Aprendizagem
Indique alguns fatores que fazem o Nordeste ser o maior produtor de cama-
rão marinho do Brasil.

Aula 11 - Cultivo de Camarões - I 365 e-Tec Brasil


Resumo
• A maior parte do camarão marinho cultivado no país é proveniente da
região Nordeste;

• Os produtores de camarão são classificados como: pequeno produtor


(menos de 10 ha), médio produtor (de 10 a 50 ha) e grande produtor
(mais de 10 ha);

• A carcinicultura desenvolveu-se no Nordeste por apresentar vantagens


comparativas em relação a outras regiões;

• A carcinicultura é uma das atividades primárias que mais geram empre-


gos no Nordeste;

• O cultivo de camarões marinhos é considerado uma atividade potencial-


mente poluidora devido utilizar partes de áreas de preservação perma-
nente para a adução de água do mar para os viveiros, o uso abusivo de
rações que pode causar a eutrofização do entorno, etc.

e-Tec Brasil 366 Panorama da aquicultura


Aula 12 - Cultivo de Camarões Marinhos - II

Daremos continuidade ao assunto abordado na aula passada, po-


rém agora nos concentrando nos aspectos biológicos e zootécni-
cos das espécies de cultivo.

O conhecimento dos aspectos biológicos das espécies de cultivo auxilia so-


bremaneira na produção, pois determinam parâmetros como salinidade, fo-
toperíodo, temperatura, oxigênio dissolvido, nutrição, entres outros. Tais pa-
râmetros podem variar ao longo da vida deste animal, pois quanto maior o
domínio sobre o ciclo de vida do organismo maiores são as possibilidades de
melhorarmos a sobrevivência/produtividade desde a reprodução até a fase
de engorda.

Ciclo Biológico
Os camarões marinhos normalmente se reproduzem em alto mar. Os repro-
dutores utilizam áreas de grandes profundidades, exceto o camarão branco
que pode se reproduzir em profundidades menores que 10 metros, no inte-
rior das baías. As fêmeas desovam sucessivamente produzindo um número
considerável de ovos.

Figura 12.1: Foto de camarão marinho, L. vannamei.


Fonte: http://www.guiadapesca.com.br/wp-content/uploads/2009/12/litopenaeus-vannamei.jpg

Aula 12 - Cultivo de Camarões Marinhos - II 367 e-Tec Brasil


Os ovos destes peneídeos são livres, com densidade maior que a da água do
mar tendo a tendência de permanecerem no fundo. Destes ovos nascem os
náuplios que evoluem em 5 subestágios (N1 a N5), logo após passam para
o estágio de protozoea, que apresenta 3 sub-estágios (Z1 a Z3). No estágio
de misis as larvas apresentam 3 subestágios (M1 a M3), durante todo este
processo há mudança de hábitos alimentares.

A metamorfose do camarão marinho se completa quando a larva passa do


subestágio de misis 3 para pós-larva, onde os animais apresentam as carac-
terísticas do camarão adulto.

No ambiente as pós-larvas migram para áreas mais rasas e de menor salini-


dade, onde podem encontrar proteção e quantidade de alimento. Os estuá-
rios apresentam condições propícias para seu desenvolvimento. Nestes am-
bientes, os camarões crescem até se tornarem recrutas (12-20g), retornando
para o mar aberto, onde completam o crescimento e o ciclo reprodutivo.
Veja o esquema abaixo:

Estuários:
Lagoas, rios salgados, baías, áreas de confrontação
com água doce.

70-100 dias

Proteção e nutrição Mar Aberto



CRESCIMENTO Banco com reprodutores

30-100 m

Recrutas
Ovos
Com 12-20 g

Náuplio (I, II, II, IV, V)-> Protozoea (I, II, III)-> Misis (I, II, II)-> Pós-larva (1,2,3...,20)

O cultivo de camarão marinho (L. vannamei) compreende a produção de


pós-larvas, a fase de engorda, responsável pelo crescimento do camarão até
a idade comercial. A primeira fase é realizada em laboratórios especializados
e é subdividida em diferentes setores, que iremos estudar a seguir.

Infraestrutura das unidades em laboratório de produção de PLs de cama-


rão.
PLs:
pós-larvas
Maturação: setor responsável pelo acasalamento e desova. Devido ao fato
de o camarão branco do Pacífico só copular no final da tarde na natureza,
é que o camarão criado dentro do laboratório de produção de PLs ocorre a

e-Tec Brasil 368 Panorama da aquicultura


manipulação do fotoperíodo. Este é invertido para que os reprodutores de-
sovem quando o laboratório estiver com todos os funcionários na ativa.

Há a manipulação hormonal. A alimentação é ofertada de dia e de noite


A manipulação hormonal é feita
para repor a energia que perdem de uma desova para outra. através de um procedimento
conhecido mundialmente por
ablação do pendúnculo ocular.
A cópula é feita em água limpa e sem alimento. A fertilização é externa, de O que é isso? É o ato de retirar
uma das estruturas de sustenta-
30 a 60 minutos. Depois as fêmeas são retiradas e levadas para um local ção do globo ocular da fêmea,
mais limpo e apropriado. isto reduz a interferência do
hormônio que reprime a matura-
ção sexual das fêmeas.
Desova: as fêmeas desovam e são recolhidas; e os ovos são levados para
incubadora.

Larvicultura: veja abaixo um esquema dos estágios de desenvolvimento das


larvas até serem comercializadas.
• Náuplio 40-44h
• Protozoea 4 a 5 dias +/- 10 dias para PL1
• Misis 3 a 5 dias
PL1
Sigla para o estágio de pós-larva
PL1 – PL10 -> 10 dias, total= 20 dias.
1, este 1 significa a quantidade
de dias que houve a metamor-
A expedição para o pré-berçário - próxima fase de cultivo - ocorre com a PL fose, geralmente as pós-larvas
são comercializadas a partir do
5 no verão e PL 10 no inverno. 20º dia após a metamorfose, ou
PL20.

Pré-berçário: é o sistema de produção onde as Pls são colocadas num maior


espaço de fundo e em menor densidade, a principal vantagem deste sistema
é apresentar uma maior sobrevivência na fazenda (PL 20 é mais resistente).

Diagrama dos setores que compõem um laboratório de produção de PLs de camarão


marinho

2. Artêmia

1. Maturação
Reprodutores

3. Larvicultura
4. Microalgas

PL 10
Escritório
5. Pré-berçário
PL 20

Transporte

• 1 2 3,4 e cinco setores do laboratório.


• 2 e 4 setor de produção de alimento vivo.

Aula 12 - Cultivo de Camarões Marinhos - II 369 e-Tec Brasil


Berçário: localizado na fazenda, é um viveiro para cultivar PLs até juvenil
(2-4g), isto encurta o ciclo de produção e aumenta a taxa de sobrevivência.

Engorda
Após o berçário, faz-se a transferência para os viveiros de engorda (os culti-
vos de povoamento direto são mais utilizados: adquirem PL 20 a PL 40).

Na carcinicultura também se aplicam diferentes sistemas de produção:

• Sistema extensivo: 0,5/4 camarões/m², não usa alimento artificial;

• Sistema semi-intensivo: 6/20 camarões/m², produtividade natural do vi-


veiro e ração;

• Sistema intensivo: 20/100 camarões/m², alimento artificial.

Despesca
Os camarões a serem despescados devem estar com 10 a 16g. Não se deve
alimentar um dia antes da despesca, para que estes não fiquem com o cor-
dão fecal aparente. Deve-se baixar a água gradativamente (senão o camarão
fica empilhado, isto é, um sobre o outro, comprometendo a qualidade do
produto), e a coleta deve ser feita na comporta de drenagem (rede cônica
na saída) área de concreto. O L. vannamei é atraído pela correnteza, os ca-
marões coletados nas redes de espera são imersos, imediatamente em água
gelada com 3 a 5°C com metabissulfito que para as atividades enzimáticas,
evitando assim que o camarão mude de coloração. Depois são transportados
para a indústria onde serão beneficiados e comercializados. Podem também
ser vendidos frescos conservados apenas em gelo.

Atividade de Aprendizagem
Complete as lacunas do texto abaixo:

Os camarões marinhos normalmente se reproduzem em_______________.


Seu cultivo compreende basicamente duas fases: a produção de pós-larvas
e a ________, responsável pelo crescimento do camarão até a idade comer-
cial.

e-Tec Brasil 370 Panorama da aquicultura


Resumo
• Os camarões marinhos normalmente se reproduzem em alto mar, em
grandes profundidades;

• No desenvolvimento larval, os camarões passam por diversos estágios até


completar sua metamorfose no estágio de pós-larva;

• A pós-larva migra para águas interiores onde encontra maior proteção e


disponibilidade de alimento. Quando atinge o tamanho de recruta, retor-
na para alto mar finalizando seu crescimento e ciclo de vida;

• O cultivo de camarões compreende basicamente duas fases: a produção


de pós-larvas e a engorda;

• Produção de pós-larvas: maturação, desova, larvicultura e pré-berçário;


o berçário é utilizado em propriedades que não fazem o povoamento
direto de seus viveiros;

• A engorda pode ser realizada em diferentes sistemas de produção, e o


camarão é comercializado quando atingem de 10 a 16 gramas de mas-
sa;

• Podem ser beneficiados na indústria ou comercializados frescos.

Aula 12 - Cultivo de Camarões Marinhos - II 371 e-Tec Brasil


Aula 13 - Cultivo de Camarões de Água Doce

Estes organismos representam uma grande importância econômi-


ca em algumas regiões do nosso país, principalmente no Norte e
Nordeste. O cultivo de camarões de água doce é uma atividade
recente no Brasil e de pouca expressão econômica. O objetivo des-
sa aula é que você conheça os conceitos básicos do cultivo destes
organismos.

O Brasil é líder mundial da pesca e exportação destes crustáceos do gênero


Macrobrachium (conhecidos também como pitu). São capturados por ano
cerca de 12.000 toneladas.

Figura 13.1: Foto de Camarão de Água Doce do gênero Macrobrachium, Pólo da


APTA, Pindamonhangaba/SP.
Fonte: Nicole Pistelli Machado.

A espécie mais cultivada no nosso país é o M. rosenbergii, conhecido como


Camarão Gigante da Malásia. É uma espécie exótica, e foi trazida em 1977
pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e em 1982, a Empresa de
Pesquisa Agropecuária de Pernambuco (IPA) implantou um laboratório de re-
produção de pós-larvas, difundindo pelo país o cultivo desta espécie. Estima-
se que hoje o Brasil tenha uma área de 400 hectares de cultiva e produza por
ano cerca de 650 toneladas.

Atualmente, a carcinicultura de água doce é praticada de diversas formas e


apresenta uma grande variedade de sistemas produtivos. Estes organismos

Aula 13 - Cultivo de Camarões de Água Doce 373 e-Tec Brasil


podem ser cultivados em viveiros escavados, tanques de alvenaria, gaiolas
flutuantes, em diferentes temperaturas, salinidades, densidades, etc.

Características das Espécies nativas de interesse


M. acanthurus: 17,5 cm, 60g.
M.carcinus: 26,5cm, 340g.
M. amazonicum: 10 cm, 12g.

Estes crustáceos habitam águas interiores como riachos, rios, lagoas, que
tenham comunicação com o mar, apresentam fase larval de 20 a 60 dias em
água salobra, estuário (a exceção do M. amazonicum - período de larvicul-
tura de 20 dias).

As pós-larvas retornam para água doce, e lá se desenvolvem até a fase re-


produtiva.

Fases do cultivo
O cultivo de camarões de água doce apresenta três fases distintas: a larvicul-
tura, o berçário e a engorda.

A larvicultura compreende a etapa onde as larvas se desenvolvem até com-


pletarem a metamorfose em pós-larvas. Na fase de berçário as pós-larvas
são estocadas em viveiros até atingirem o estágio de juvenil, na engorda os
juvenis são introduzidos em viveiros de água doce até atingirem o tamanho
comercial.

A seguir, veremos o passo a passo do cultivo de camarões de água doce.

Reprodutores
É comum dentro das fazendas de camarão de água doce a coleta de fêmeas
grávidas de dentro dos viveiros de crescimento e terminação. Poucas são as
propriedades brasileiras que mantêm reprodutores selecionados em isola-
mento.

As fêmeas grávidas são eurialinas, e a eclodibilidade dos ovos aumenta em


água salobra.
Eurialinas:
Suportam uma grande variação
de salinidade.
A incubação dos ovos dura de 20 a 23 dias em uma temperatura de 26 a
Eclodibilidade: 28°C.
% ovos eclodidos / ovos
incubados

e-Tec Brasil 374 Panorama da aquicultura


Larvicultura
Esta é uma etapa caracterizada pelo sistema intensivo, as larvas são esto-
cadas em tanques de 1 a 10 m³, contendo água salobra (12 a 16 ppm). As
condições de cultivo são bastante controladas. Nesta etapa, pode-se esco-
lher entre o sistema aberto ou fechado de circulação de água. A vantagem
do sistema fechado é que este não envolve trocas de água mantendo as
O sistema fechado dinâmico ba-
condições do meio estável, garantindo condições favoráveis para o desen- seia-se na circulação constante
da água do tanque através de
volvimento das larvas. A maioria das larviculturas usa o método de águas um filtro biológico, propiciando
claras, sem uso de fertilizantes. A temperatura é mantida entre 28 e 30°C, a um processo contínuo de nitrifi-
cação. Isto garante níveis baixos
densidade é de 30-50 larvas/l e depois de 10-20 pós-larvas/l. de amônia e nitrito o tempo
todo.

Berçário
Os berçários podem ser realizados em viveiros de fundo natural, cobertos ou
não por estufa, em tanques internos ou em tanques-rede instalados sobre
os próprios viveiros de engorda (VALENTI, 2002, p. 2). O berçário é uma fase
intermediária que permite o uso mais racional da onerosa infraestrutura dos
viveiros e, consequentemente, aumenta a produtividade.

A fase de berçário pode ser subdividida em:


• Berçário primário
• Berçário secundário

A maior parte das propriedades brasileiras de cultivo de camarões de água


doce não aplica o berçário primário por ser uma etapa onerosa. As pós-
larvas permanecem nestes viveiros até atingirem o peso de 0,8-1,5g.

A temperatura é um dos fatores de maior influência no crescimento destes


animais. Para o M. rosenbergii a temperatura ideal gira em torno de 28 a
31°C.

Nesta fase, dois aspectos importantes são verificados: o canibalismo entre os


animais e o acentuado Crescimento Heterogêneo Individual (CHI), caracteri-
zado pela distribuição desigual do tamanho corporal.

Engorda
A fase de crescimento final ou terminação geralmente é realizada no siste-
ma semi-intensivo, 5-10% de troca do volume de água por dia e aeração
de emergência em algumas propriedades. A duração do cultivo vai de 4 a 8
meses dependendo da região.

Aula 13 - Cultivo de Camarões de Água Doce 375 e-Tec Brasil


Os camarões de água doce são coprófagos, não existe uma ração balance-
ada para eles. Muitos produtores usam rações comerciais fabricadas para
Coprófagos:
Animais que se alimentam de outras espécies e nos sistemas semi-intensivos usa-se a produção natural do
excrementos.
viveiro como suplemento a dieta.

Sistemas de criação adotados na carcinicul-


tura de água doce
a) Sistema monofásico (baixa tecnologia): é caracterizado por apenas
um tipo de viveiro, de terra, usado na recria. Os viveiros são povoados
com pós-larvas recém-metamorfoseadas, na proporção que varia de 8 a
10 pós-larvas/m2. O ciclo tem duração média de 6 meses sem qualquer
transferência. A sua produtividade fica entre 1.000 a 1.500 kg/ha/ano.

b) Sistema bifásico (média tecnologia): trata-se da manutenção das pós-


larvas recém-metamorfoseadas em viveiros-berçário, também de terra.
As pós-larvas permanecem nestes berçários durante aproximadamen-
te dois meses, em densidades que variam de 70 a 200 pós-larvas/m2.
Em seguida, os juvenis com peso médio de aproximadamente 2,0 g são
transferidos para os viveiros de engorda. Ali permanecem por mais qua-
tro meses aproximadamente, em densidades de 8 a 10 juvenis/m2, sendo
despescados com peso médio de 25 a 30 g. Tal sistema permite alcançar
produtividades próximas de 2.000 kg/ha/ano.

c) Sistema trifásico (alta tecnologia): semelhante ao anterior, diferen-


ciando apenas pela consideração de uma fase inicial realizada em berçá-
rios primários. Neles, as pós-larvas recém-metamorfoseadas são estoca-
das em altas densidades (4 a 8 pós-larvas/litro) em tanques de concreto,
alvenaria, fibra de vidro, etc. Esta fase tem duração de 15 a 20 dias; seus
organismos com peso médio de 0,05g são transferidos para os berçários
secundários, seguindo o manejo descrito no sistema bifásico. As produ-
tividades estão entre 2.500 a 3.000 kg/ha/ano. No entanto, estima-se
que em um futuro próximo, as tecnologias disponíveis permitirão atingir
produtividade de até 9.000 kg/ha/ano.
Fonte: Estudo Setorial para consolidação de uma Aquicultura Sustentável no Brasil, de Antonio Ostrensky, José Roberto
Borghetti e Doris Soto. Curitiba, 2007.

Monocultivo
O monocultivo pode ser realizado em propriedades de pequeno, médio e
grande porte. Em viveiros escavados, tanques de alvenaria ou tanques-rede,
a densidade varia de 5 a 14 juvenis por m². Em regiões com boas condições
climáticas, podem-se obter índices econômicos bastante atrativos.

e-Tec Brasil 376 Panorama da aquicultura


Na região Sul e Sudeste o ciclo de produção pode durar de 6 a 8 meses. Ao
passo que no Norte e Nordeste, este tempo é reduzido para 5 a 7 meses por
causa da temperatura.

Policultivo
O policultivo consiste na criação de duas ou mais espécies em um mesmo
viveiro. Representa a ocupação eficiente do espaço físico aproveitando os
diferentes nichos alimentares do viveiro. Os camarões de água doce podem
ser cultivados junto com algumas espécies de peixe, sendo a tilápia do Nilo
a espécie mais utilizada.

Processamento e mercado
O cultivo de camarões de água doce enfrenta algumas dificuldades na co-
mercialização, como: desconhecimento do camarão de água doce no Sul;
relação cabeça-abdômen desfavorável em relação ao camarão marinho; e
perda da textura da musculatura abdominal em poucos dias de gelo.

Com esta aula finalizamos o estudo do cultivo de camarões, tanto marinho


quanto de água doce, nas próximas aulas falaremos da piscicultura.

Atividade de Aprendizagem
Aponte duas semelhanças e duas diferenças entre cultivo de camarões de
água doce e marinho.

Aula 13 - Cultivo de Camarões de Água Doce 377 e-Tec Brasil


Resumo
• O Brasil é líder mundial da exportação de camarões do gênero Macro-
brachium;

• Assim como na carcinicultura marinha, a espécie mais cultivada é a exó-


tica M. rosenbergii ou Camarão Gigante da Malásia;

• O cultivo de camarões de água doce apresenta três fases distintas: a lar-


vicultura, o berçário e a engorda;

• A larvicultura compreende a etapa onde as larvas se desenvolvem até


completarem a metamorfose em pós-larvas;

• Na fase de berçário, as pós-larvas são estocadas em viveiros até atingirem


o estágio de juvenil;

• Na engorda, os juvenis são introduzidos em viveiros de água doce até


atingirem o tamanho comercial.

e-Tec Brasil 378 Panorama da aquicultura


Aula 14 - Piscicultura de espécies de água doce - I

Trataremos de uma das atividades mais diversificadas da aquicul-


tura, a piscicultura continental. Este assunto será dividido em duas
partes, a piscicultura de espécies nativas e a de espécies exóticas
de água doce. Hoje estudaremos os aspectos econômicos, sociais
e ambientais do cultivo de espécies nativas, bem como as prin-
cipais espécies cultivadas no Brasil. Nestes capítulos usaremos o
termo espécie nativa para agrupar espécies autóctones e espécies
alóctones. Ao final desta e da próxima aula espera-se que o aluno
Autóctones:
tenha uma visão geral da atividade e dos aspectos que a ela estão no caso da piscicultura, peixes
originários da mesma bacia
relacionados. hidrográfica.

Alóctones:
Aspectos econômicos, sociais e ambien- no caso da piscicultura, peixes
tais. originários de diferentes bacias
hidrográficas.
O Brasil possui diversas espécies nativas com potencial para piscicultura. Po-
pacotes teconógicos: con-
rém a grande maioria delas ainda precisa de um maior número de estudos junto de procedimentos para o
para atingir um patamar de viabilidade zootécnica e econômica. Enquanto cultivo de espécies de interesse
para aquicultura.
isso a piscicultura brasileira é dominada pelo cultivo de espécies exóticas.

Dentro deste contexto Zaniboni Filho (2004, p. 337), afirma:

A utilização do termo “espécie nativa” traz consigo algumas dúvidas


quanto à origem da espécie, podendo estar fazendo referência a uma
determinada bacia hidrográfica, uma região ou até mesmo um país.
Nesse aspecto, alguns autores têm sugerido uma terminologia mais
adequada e que não permita dúvidas, sendo utilizado o termo “es-
pécie exótica” para aquela originária de outra região biogeográfica, e
“espécie autóctone” que corresponde aos peixes de uma mesma bacia
hidrográfica.

Grande parte da aquicultura no nosso país se desenvolveu com a compra de


pacotes tecnológicos prontos, vindos do exterior e, adaptados à realidade
brasileira. Exemplos disso são:

• A carcinicultura marinha que cultiva o camarão branco do Pacífico;

• A ostreicultura onde sua maior produção é a de ostras do Pacífico;

Aula 14 - Piscicultura de espécies de água doce - I 379 e-Tec Brasil


• A carcinicultura de água doce, com o Camarão Gigante da Malásia;

• E o carro chefe da piscicultura continental, a tilápia, espécie proveniente


da África, representa 25,6% de toda produção nacional de aquicultura,
contra 9,4% do tambaqui, 4% do tambacu (híbrido do tambaqui e do
pacu) e modestos 3,3% do pacu.

Uma espécie nativa que tenha hábitos alimentares semelhantes ao da espé-


cie exótica irá sofrer concorrência, ou ainda, peixes menores e menos resis-
tentes podem virar presas fáceis, ocorrendo o desequilíbrio do ecossistema
natural.

A legislação ambiental brasileira está ficando cada vez mais restritiva, pois
a obtenção de licenças para o cultivo de espécies exóticas fica mais difí-
cil a cada dia. Órgãos de Licenciamento tentam desestimular a produção
de espécies exóticas exigindo uma série de procedimentos para licenciar os
cultivos, gerando uma grande despesa para o pequeno produtor, às vezes,
inviabilizando o projeto.

As principais espécies nativas cultivadas em nosso país são: tambaqui, pacu,


curimbatá, pintado e o híbrido tambacu.
Saiba mais lendo o artigo
Aquicultura e Biodiversidade:
precaução ou exagero? - editado
pela Revista Panorama da
Tambaqui (Colossoma macropomum)
Aquicultura, p. 30, vol. 19, nº
116, Novembro/Dezembro 2009,
escrito por Antonio Ostrensky,
professor da UFPR.

Figura 14.1: Tambaqui (Colossoma macropomum).


Fonte: http://portalamazonia.locaweb.com.br/sites/portaldaciencia/noticia.php?idN=13228

Principal espécie amazônica cultivada no Brasil; segundo maior peixe de es-


cama da Bacia Amazônica (na natureza peixes de até 30 kg); facilidade na
produção de alevinos e rápido crescimento; temperaturas abaixo de 17°C
podem causar a morte dos animais, por isso o cultivo concentra-se na região

e-Tec Brasil 380 Panorama da aquicultura


Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país; possuem boa aceitação no merca-
do.

Esta espécie é cultivada apenas na América Latina, e o Brasil é líder da pro-


dução mundial deste peixe. No ano de 2004, a produção de tambaqui re-
presentou 9,4% da produção total nacional de aquicultura. Esta espécie é
cultivada em quase todos os Estados, e o maior produtor nacional é o Estado
do Amazonas.

Pacu (Piaractus mesopotamicus)

Figura 14.2: Pacu (Piaractus mesopotamicus).


Fonte: http://www.clebertoledo.com.br/blogs/pescador/notas.php?l=&FrmChave=&FrmDataInicial=&FrmDataFinal=&pg
=13

Originário da Bacia do Paraguai e do Prata; na natureza chega a alcançar 20


kg; apresenta relativa facilidade de produção de alevinos; também é um dos
peixes mais apreciados em pesque-pagues do país; o consumo é mais restri-
to a região Centro-Oeste, no entanto a disponibilidade do pacu oriundo de
pisciculturas pode popularizar o consumo deste em outras regiões.

A região Centro-Oeste é responsável por 80% da produção desta espécie.


Em 2004, a produção de pacu representou 3,3% da produção total da aqui-
cultura nacional.

Aula 14 - Piscicultura de espécies de água doce - I 381 e-Tec Brasil


Curimbatá (Prochilodus lineatus)

Figura 14.3: Curimbatá (Prochilodus lineatus).


Fonte: http://www.pesca.sp.gov.br/img_up/img_1080675675.jpg

Esta espécie pode ser naturalmente encontrada em diversas bacias hidro-


gráficas brasileiras. Sempre foi um peixe com grande representatividade na
pesca comercial. O curimbatá é produzido somente na América do Sul, sen-
do o Brasil líder absoluto de produção, e Sergipe, o maior produtor nacional
desta espécie.

Pintado (Pseudoplatystoma corruscans)

Figura 14.4: Pintado (Pseudoplatystoma corruscans).


Fonte: http://www.pesca.sp.gov.br/img_up/img_1080676065.jpg

O pintado é um dos mais apreciados peixe de água doce. É peixe nobre


da Bacia do Pantanal. Possui excelente qualidade de carne com uma pe-
quena presença de espinhos e, além disso, o rendimento de filé é bastante
alto. Devido a grande captura, atualmente esta espécie encontra-se com seu
estoque pesqueiro bastante reduzido. A produção concentra-se na região
Centro-Oeste, sendo o Estado do Mato Grosso do Sul o maior produtor
nacional.

e-Tec Brasil 382 Panorama da aquicultura


Tambacu: híbrido, cruzamento de fêmeas de tambaqui e machos de
pacu.

Aqui chegamos ao final da nossa pequena introdução ao cultivo de peixes


Híbrido
nativos de água doce, ou seja, vimos somente as principais espécies. Existem cruzamento de duas espécies
diferentes
outras espécies nativas cultivadas no Brasil, mas isso será estudado mais de-
talhadamente durante a disciplina de Piscicultura.

Atividade de Aprendizagem
Primeiramente troque ideias com os colegas, e depois cite ao menos duas
espécies de peixes nativos de água doce que são cultivadas no seu Estado.

Saiba mais sobre o cultivo de


espécies nativas lendo:
Zaniboni Filho, Evoy. Piscicultura das
Espécies Nativas de Água Doce. POLI
C. R; POLI A. T. B.; ANDREATTA, A. &
BELTRAME, E. (Editores) Aqüicultura
Experiências Brasileiras. 1ª ed. p337-
368 Florianópolis: Multitarefa, 2004.

Resumo

• O Brasil possui diversas espécies nativas com potencial para piscicultura,


porém, devido à falta de estudos na área, a nossa piscicultura é domina-
da pelo cultivo de espécies exóticas;

• As principais espécies nativas cultivadas são: tambaqui, pacu, curimbatá,


pintado e o híbrido tambacu.

Aula 14 - Piscicultura de espécies de água doce - I 383 e-Tec Brasil


Aula 15 - Piscicultura de espécies de água doce II

Nesta aula continuaremos tratando da piscicultura de espécies de


água doce, mas com ênfase nas espécies exóticas. Vocês viram, na
aula passada, que a piscicultura brasileira é liderada pela produção
de espécies exóticas como a tilápia.

Ao final desta aula, espera-se que o aluno reconheça as principais


espécies exóticas de peixes de água doce cultivadas no Brasil.

Primeiramente vamos reforçar o que se entende por espécie exótica ou


alóctone, pois é de extrema importância o conhecimento desta definição,
principalmente quando interpretamos leis relacionadas ao licenciamento de
empreendimentos aquícolas. Segundo Arana (2004, p.189):

Entendem-se como exóticas ou alóctones espécies não existentes num


determinado país ou aquelas que, dentro do país, são transportadas
Alóctone:
para fora da bacia hidrográfica de origem. no caso da piscicultura, peixes
originários de diferentes bacias
hidrográficas.
Exemplos

Tilápia: espécie exótica em nosso país, pois é proveniente da África;

Tucunaré: espécie nativa da Bacia Amazônica, porém se introduzida, por


exemplo, na Bacia do Uruguai será considerada uma espécie alóctone, ou
exótica naquela área.

Nesta aula, estudaremos especificamente espécies consideradas exóticas por


não serem naturais do nosso país.

De acordo com estatísticas providas pelo IBAMA, em 2005, foram cultivadas


114 mil toneladas de peixes exóticos e 58 mil toneladas de peixes nativos,
respectivamente, 64% e 33% da produção da piscicultura no Brasil.

As espécies exóticas de peixes de água doce mais cultivadas em nosso país


são as tilápias e carpas.

Aula 15 - Piscicultura de espécies de água doce - II 385 e-Tec Brasil


Tilápias
As tilápias são peixes nativos do continente africano e da Palestina. Existem
cerca de 75 espécies utilizadas há muito tempo na piscicultura, desde a an-
tiguidade, por volta de 2000 a.C.

No Brasil, a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) foi introduzida em 1971,


a.C:
Antes de cristo proveniente da Costa do Marfim e cultivada no Nordeste.
Desova:
Liberação dos ovócitos da fêmea O grupo das tilápias é hoje o segundo grupo de peixes mais cultivados no
Fecundidade: mundo, principalmente por sua rusticidade, rápido crescimento, carne de
Capacidade de produzir ótima qualidade e boa aceitação no mercado consumidor. Por sua vez, ca-
descendentes
racterísticas reprodutivas da tilápia do Nilo, como alta capacidade de re-
Rusticidade:
Boa resistência a variações em
produção, maturidade sexual precoce, fecundidade relativamente elevada e
seu ambiente de cultivo desova frequente têm levado a uma das principais dificuldades encontradas
pelos piscicultores, que é a superpopulação dentro dos viveiros de cultivo,
prejudicando a taxa de crescimento dos indivíduos.

As tilápias fêmeas possuem a peculiaridade de incubar os ovos na boca (cui-


dado parental), o que provoca uma grande redução em sua alimentação diá-
ria, além de converter grande parte do alimento consumido na formação das
gônadas. Esses fatos contribuem para o baixo desenvolvimento de carcaça
das fêmeas em relação aos machos.
Saiba mais sobre este assunto,
lendo O uso da Metiltestosterona
na masculinização de tilápias – um
desafio nas mãos do MPA, autoria
de Fernando Kubitza e publicado na
revista Panorama da Aquicultura,
p.14, volume 19, nº116, Novembro/
Dezembro 2009.

As tilápias fêmeas
atingem a maturidade sexual Figura 14.1: Tilápia incubando seus ovos na boca (cuidado parental).
antes de muitas espécias de Fonte: www.fotosdepesca.com.br
peixes, em torno de 4 meses de
idade já conseguem repoduzir.
Como os machos apresentam
um maior rendimento de A precocidade de maturação sexual das fêmeas também pode acarretar pre-
carcaça é comumo cultivo juízos devido à superpopulação dos viveiros. Estes fatos justificam o uso de
somente se machos da espécie.
populações monossexo no cultivo de tilápias.

A reversão sexual de tilápias, ou masculinização, é feita através do


uso de um hormônio conhecido como metiltestosterona na ração que
alimenta as larvas em seus primeiros dias de vida. O uso do metiltes-
tosterona é bastante polêmico.

e-Tec Brasil 386 Panorama da aquicultura


Carpas

Figura 14.2: Carpa Comum.


Fonte: http://www.pesca.tur.br/wp-content/carpa_089.jpg

As carpas são consideradas exóticas em nosso país por terem origem na Ásia
e na Europa Oriental, são utilizadas na piscicultura por volta de 3000 anos.
É a espécie de peixe de água doce mais cultivada no mundo. Seu cultivo,
no Brasil, teve origem na colonização do sul do país por italianos e alemães,
que praticavam uma piscicultura de subsistência alimentando as carpas com
restos de grãos e dejetos de animais.

Existe uma grande variedade de espécies e carpas, por isso, são divididas em
três grandes grupos:

• Carpa comum;

• Carpa chinesa: carpa capim (Ctenopharyngodon idella), carpa prateada


(Hypophthalmicthys molitrix) e carpa cabeça grande (Aristichthys nobi-
lis);

• Carpas indianas.

O cultivo de carpas no Brasil é elaborado de forma primitiva. São raras as


propriedades onde os produtores utilizem exclusivamente ração. Este proce-
dimento é comum em policultivos.

A produção de carpas vem se mantendo estável, não apresentando um


crescimento significativo na aquicultura mundial. No entanto, o mercado
de carpas vem perdendo espaço para espécies que apresentam uma menor
quantidade de espinhos na musculatura.

Aula 15 - Piscicultura de espécies de água doce - II 387 e-Tec Brasil


Catfish

Figura 14.3: Catfish.


Fonte: http://animaldiversity.ummz.umich.edu/site/resources/usfws/channelcatfish2.jpg/medium.jpg

O catfish é conhecido como bagre americano ou também como bagre-de-


canal (Ictalarus punctatus). É uma espécie originária dos Estados Unidos.
Sua produção não é tão representativa quanto à de tilápias e carpas, mas o
catfish desempenha um papel importante na aquicultura brasileira, princi-
palmente por sua utilização em pesque-pagues.

Truta

Figura 14.4: Truta arco-íris.


Fonte: http://www.pesca.tur.br/wp-content/truta_arco094.jpg

Existem diferentes espécies de trutas, e são provenientes da Europa, da


América do Norte e da Ásia. A espécie que mais se adaptou as condições
de cultivo no Brasil foi a truta arco-íris (Oncorhyncus mykiss). A maioria das
propriedades que cultivam trutas são de pequeno porte e, localizam-se em
regiões montanhosas, pois precisam de água em abundância, com baixas
temperaturas e quantidade de oxigênio dissolvido.

Com estas aulas finalizamos a piscicultura de água doce, na próxima aula


trataremos do cultivo de peixes marinhos.

e-Tec Brasil 388 Panorama da aquicultura


Atividade de Aprendizagem
Escolha um espécie mencionada nesta aula e crie um jogo das sete pistas,
dando dicas e características da espécie exótica de peixe de água doce a que
você está se referindo, e faça seu colega de classe adivinhar.

Resumo
• A piscicultura brasileira é liderada pela produção de espécies exóticas;

• As principais espécies cultivadas são as carpas e tilápias;

• Na tilapicultura, devido o grande rendimento de carcaça dos machos, é


comum o cultivo de populações monossexo;

• O cultivo de carpas no Brasil é feito principalmente de forma extensiva, é


raro encontrar propriedades que utilizem rações para a alimentação dos
animais;

• Outras espécies exóticas de peixes de água doce cultivadas no Brasil são


o catfish e a truta.

Aula 15 - Piscicultura de espécies de água doce - II 389 e-Tec Brasil


Aula 16 - Piscicultura Marinha

Até aqui falamos sobre o cultivo de peixes de água doce. A partir


de agora trataremos exclusivamente do cultivo de espécies mari-
nhas de peixes.

Estudamos na aula 03 o histórico da aquicultura no Brasil. Vimos


que o marco inicial da aquicultura em nosso país foi a piscicultura
marinha realizada durante a invasão holandesa no século XVIII.
Apesar da extensa costa brasileira e do grande potencial para o
desenvolvimento desta atividade, a piscicultura marinha encontra-
se ainda hoje restrita a laboratórios de pesquisa e tentativas de
cultivos comerciais.

Ao final desta aula, o aluno conhecerá as principais espécies culti-


vadas no mundo e a situação da piscicultura marinha no Brasil.

Segundo dados da FAO 2009, a piscicultura marinha no ano de 2006 con-


tribuiu com 3% de toda produção aquícola mundial, o equivalente a 20
Que os peixes diádromos são
milhões de toneladas. aqueles que realizam migrações
entre as águas continentais e
as marinhas? Que os peixes
A piscicultura marinha abrange o cultivo de peixes diádromos e peixes exclu- anádromos são aqueles que
vivem no mar e se reproduzem
sivamente marinhos. em água doce? E que os peixes
catádromos são aqueles que
vivem em águas continentais e
A maioria dos peixes cultivados é carnívora e precisa de um alto nível de se reproduzem no mar?
proteína em sua dieta, o que encarece o cultivo, porque rações com maior
quantidade de proteína são mais caras.

A piscicultura marinha encontra-se bem desenvolvida no Sudeste Asiático,


A maior parte do organismo é
no Mediterrâneo, na Noruega, nos Estados Unidos, no Canadá, no Chile e constituída de água e proteínas.
no Caribe. As proteínas são moléculas
orgânicas fundamentais sob
todos os aspectos da estrutura e
função celulares.
Na Ásia, são cultivadas espécies como: Diferentes tipos de proteína
ajudam a formar a pele, os
músculos e o sangue.
• Chanos chanos, popularmente conhecido como peixe-leite;

• Lates calcarifer, popularmente conhecido como robalo asiático;

Aula 16 - Piscicultura Marinha 391 e-Tec Brasil


• Seriola quinquerradiata, popularmente conhecido como olhete;

• Pagrus major, popularmente conhecido como pargo japonês;

• Paralichthys olivaceus, popularmente conhecido como linguado japo-


nês;

• Entre outras.

Entre os peixes diádromos destacam-se os salmonídeos. O Chile durante a


década de 90 apresentou um grande crescimento na produção de salmão
Peixe pertencente a família dos
salmonídeos, exemplo salmão. do atlântico e do pacífico (Salmo salar, Oncorhynchus kisutch), chegando ao
segundo lugar na produção mundial deste peixe, ficando atrás apenas da
Noruega. Também são produtores de salmão os Estados Unidos e Canadá.

Figura 16.1: Fazenda marinha de cultivo de salmão, cidade de El Ranco, Chile.


Fonte: http://www.elranco.cl/2009/12/senado-modifica-clausuras-laborales-y-aprueba-rescate-a-industria-salmonera/

Na Itália, Dinamarca e Países Baixos da Europa são os maiores produtores da


Enguia Europeia (Anguilla anguilla). Estes peixes são migradores, reprodu-
zem-se no Mar de Sargaço e passam um longo período da vida nos rios.

O mar de sargaço fica localizado


ao norte do Oceano Atlântico, Na Itália, as enguias são capturadas na desembocadura do Rio Pó através da
encontra-se entre os Estados construção de canais que possibilitam a atração desta espécie para dentro
Unidos e a Europa. O mar de
Sargaço tem este nome devido das fazendas. Também na Itália encontramos o cultivo de outras espécies
a grande quantidade de algas
marinhas flutuantes de cor como a dourada (Sparus aurata) e o robalo europeu (Dicentrarchus labrax).
marrom presentes neste local, as
algas são do gênero Sargassum,
por isso a origem do nome.

e-Tec Brasil 392 Panorama da aquicultura


Figura 16.2: Tanques de engorda, fazenda de cultivo de enguia europeia; Figu-
ra 16.3: Canal de água proveniente do mar; Figura 16.4: Construção do canal de
atração das enguias para o interior da fazenda; Figura 16.5: Canal de água doce;
Figura 16.6: Despesca automática de enguias; Figura 16.7: Canais que conduzem
as enguias despescadas para o beneficiamento, a fazenda conta com somente 3
funcionários por ser toda mecanizada. Fotos da Fazenda de Cultivo de Enguias
Europeias na Região do Delta do Pó, Itália.
Fonte: Nicole Pistelli Machado

No mundo, outra espécie bastante cultivada é o Rachycentron canadum po-


pularmente conhecido como cobia, beijupirá ou bijupirá. No ano de 2007,
a produção mundial de bijupirá atingiu 40,34 mil toneladas (Bijupirá News,
2010), mostrando um crescimento de 493% no período de 1998 a 2007.

A China e Taiwan são os principais produtores desta espécie. Outros países


que também cultivam comercialmente o cobia são: Bahamas, Belize, Repú-
blica Dominicana, México, Filipinas, Porto Rico, Estados Unidos da América,
Vietnam e Brasil.

O Brasil iniciou suas tentativas de desenvolvimento da piscicultura marinha


com trabalhos experimentais sobre cultivo de tainha Mugil platanus no Ins-
tituto de Pesca de São Paulo.

Figura 16.8: Vista de um tanque com linguados (FURG).


Fonte: http://www.aquicultura.furg.br/

Aula 16 - Piscicultura Marinha 393 e-Tec Brasil


No Laboratório de Piscicultura Marinha da Universidade Federal de Santa Ca-
tarina, em 1994, começaram a produção experimental de alevinos de robalo
peva (Centropomus parallelus). Devido aos avanços tecnológicos, o número
de alevinos de robalo produzidos cresceu significativamente, de 4.000 no
ano de 1994 para 134.000 em 2002. Dentro do LAPMAR (Laboratório de
Piscicultura Marinha da UFSC) também são realizadas pesquisas com ou-
tras espécies de peixes marinhos de interesse comercial como: robalo-flecha
(Centropomus undecimalis), linguado (Paralichthys orbignyanus e Parali-
chthys patagonicus), caranha (Lutjanus griseus), caranho-vermelho (Lutjanus
analis), garoupa (Epinephelus marginatus) e badejo-branco (Mycteroperca
microlepis).

Figura 16.9: Roba-flecha (Centropomus undecimalis)


Fonte: http://eptv.globo.com/terradagente/0,0,2,102%3B5,robalo-flecha.aspx

Outra Instituição de Ensino que realiza um trabalho pioneiro no ramo da


piscicultura marinha é a Fundação Universidade do Rio Grande (FURG) que
estuda várias espécies, entre elas o linguado, a tainha, a corvina (Micropogo-
nias furnieri), o pampo (Trachinotus marginatus) e o peixe-rei (Odontesthes
argentinensis). O Instituto de Pesca de São Paulo, importante instituição ci-
tada anteriormente por seu pioneirismo na aquicultura, realiza trabalhos de
desenvolvimento de pesquisas e tecnologia na área de reprodução de peixes
marinhos através da crioconservação de sêmen de garoupas.

A criconservação , neste
caso, é um processo onde o No Nordeste do Brasil, encontramos também várias linhas de pesquisa e
sêmen é preservado através do
congelamento a temperaturas
desenvolvimento de tecnologias para o cultivo de peixes marinhos. No Ins-
muito baixas. tituto de Ciências do Mar (LABOMAR) da Universidade Federal do Ceará
são realizados experimentos com a cioba (Lutjanus purpureus) e o bijupirá
(Rachycentron canadum), sendo que alevinos de bijupirá já são produzidos
em escala comercial na região.

e-Tec Brasil 394 Panorama da aquicultura


No Estado de Pernambuco, a Fazenda Aqualíder é o maior empreendimento
aquícola de produção de peixes marinhos. No ano de 2009 despescou 60
Saiba mais sobre a
toneladas de bijupirá. crioconservação de sêmen de
garoupa acessando o site www.
pesca.sp.gov.br ou lendo o
A Universidade Federal Rural de Pernambuco também contribui para o de- artigo “Crioconservação do
sêmen da garoupa-verdadeira
senvolvimento da piscicultura marinha no Brasil. Epinephelus marginatus”, de
Eduardo Gomes Sanches, Idili da
Rocha Oliveira e Pedro Carlos da
O texto abaixo explica o importante papel desta instituição na criação de Silva Serralheiro, disponível no
site http://www.puc-campinas.
novas alternativas de renda para comunidades de pescadores artesanais em edu.br/centros/ccv/Bioikos/
Pernambuco. artigos/v22n2a2.pdf.

Pescadores vão virar fazendeiros do mar

Setenta pescadores artesanais de Brasília Teimosa, Piedade e Barra de


Jangada vão produzir bijupirá em fazendas no alto mar. O projeto é
capitaneado pela UFRPE e está orçado em R$ 2 milhões.

Felipe Lima
27 de junho de 2010

O cação de escama, como é conhecido popularmente o bijupirá, não se


encontra fácil na costa brasileira. Pescado nobre, bem aceito no mer-
cado e de grande potencial gastronômico, passou a ser mais comum
nas gôndolas de supermercados e mesas de restaurantes orientais do
Estado depois que a empresa pernambucana Aqualíder passou a criar
a espécie em grandes “fazendas” instaladas em alto mar, no ano pas-
sado. Agora é a vez de 70 pescadores artesanais, de Brasília Teimosa,
no Recife, e Piedade e Barra de Jangada, em Jaboatão dos Guararapes,
terem a oportunidade de produzir o bijupirá através da técnica de pis-
cicultura marinha. Um projeto capitaneado pela Universidade Federal
Rural de Pernambuco (UFRPE), batizado não por acaso de Cação de
Escama, vai colocar a 10 quilômetros da praia de Boa Viagem, quatro
estruturas circulares com capacidade para produzirem entre 40 e 50
toneladas por ano do peixe.

O projeto começou a ser idealizado há um ano e deve mostrar seus pri-


meiros resultados em março de 2011, quando será retirada a primeira
leva de peixes criados em alto mar. Orçado em R$ 2 milhões, contou
com recursos do Ministério da Pesca e Aquicultura (R$ 1,5 milhão) e da
Petrobras (R$ 500 mil). As estruturas utilizadas na criação dos bijupirás

Aula 16 - Piscicultura Marinha 395 e-Tec Brasil


foram adquiridas no Chile e estão sendo montadas no Porto do Recife.
Depois dessa etapa, será feito um processo licitatório para compra dos
alevinos (peixes recém-nascidos). A escolha pelo cação de escama foi
quase que natural. Com o know how adquirido a partir do projeto da
Aqualíder, a espécie mostrou ser a mais viável financeiramente, pois
cresce mais rápido que outras, além de ter boa adaptação às condições
ambientais da costa pernambucana.

De acordo com o gerente do projeto da UFRPE, Santiago Hamilton, o


preço do quilo do bijupirá produzido pelos pescadores pernambucanos
vai girar em torno de R$ 11. Quando forem despescados (retirados do
mar), podem render até R$ 550 mil. Inicialmente, foram inscritos 120
pescadores no projeto. O número parece grande, mas é pouco. Apesar
de se mostrar rentável, a piscicultura ainda é uma atividade vista com
desconfiança por aqueles que viveram vidas inteiras na dependência
das incertezas do mar, que em um dia dá lucro e no outro não garante
nem o sustento.

Os 70 pescadores que acreditaram e seguiram adiante no projeto,


além de terem sido capacitados sobre como trabalhar na criação de
peixes em alto mar, receberam aulas de cooperativismo do Sebrae-PE,
parceiro da UFRPE. A ideia é dar autonomia para que eles se tornem
verdadeiros empreendedores marinhos. A iniciativa abre as portas tam-
bém para pesquisa e popularização dos conhecimentos na atividade. A
universidade vai utilizar por três anos uma área de 12 hectares na costa
do Estado para estudar o desenvolvimento dos peixes, a composição
ideal para ração e o tratamento de doenças.

Dessa forma, as técnicas de cultivo em alto mar serão divulgadas e in-


crementadas, favorecendo o desenvolvimento da atividade promovida
com pioneirismo no Brasil por Pernambuco.

Fonte: Site da Universidade Federal Rural de Pernambuco. http://www.


ufrpe.br/ruralnamidia_ver.php?idConteudo=7552/

Com a aula 16, encerramos a introdução à piscicultura tanto de água doce


quanto a marinha. O cultivo de peixes ornamentais será tratado na disciplina
de piscicultura. No nosso próximo encontro falaremos sobre ranicultura.

e-Tec Brasil 396 Panorama da aquicultura


Atividade de Aprendizagem
Pesquise na internet e identifique a espécie de peixe marinho que aparece na
foto abaixo. (dica: foi citado em nossa aula).

Resposta:

Figura 16.10
Fonte: http://www.flmnh.ufl.edu/fish/gallery/Descript/Cobia/Cobia.html

Resumo
• A piscicultura marinha no Brasil, ainda hoje, se encontra restrita a labora-
tórios de pesquisa e tentativas de cultivos comerciais;

• A piscicultura marinha abrange o cultivo de peixes diádromos e peixes


exclusivamente marinhos;

• A maioria dos peixes cultivados é carnívora; eles precisam de um alto


nível de proteína em sua dieta;

• Na produção mundial da piscicultura marinha entre os peixes diádromos


destacam-se os salmonídeos, sendo o Chile e a Noruega os maiores pro-
dutores de salmão do mundo;

• O cultivo do cobia ou bijupirá ou bijupirá apresentou um crescimento de


498% no período de 1998 a 2007 mostrando seu grande potencial para
aquicultura;

• O Brasil tem desenvolvido pesquisas com algumas espécies de peixes de


interesse para piscicultura marinha como o robalo (peva e flecha), lingua-
do, garoupa, cioba, entre outros;

• Atualmente, a espécie marinha produzida em escala comercial no Nor-


deste é o bijupirá.

Aula 16 - Piscicultura Marinha 397 e-Tec Brasil


Aula 17 - Ranicultura - I

No encontro de hoje, estudaremos um animal que tem a água


como o seu meio mais frequente de vida: o cultivo de rãs. Conhe-
ceremos alguns anfíbios que apresentam certas diferenças dentro
do seu ciclo de vida e que influenciam diretamente na sua forma
de cultivo. Espera-se que ao final desta aula, o aluno compreenda
os aspectos biológicos e ciclo de vida destes animais.

A ranicultura teve seu início no Brasil em 1935, quando os 300 primeiros


animais da espécie Rana Catesbeiana (rã-touro) foram trazidos do Canadá.

Segundo o IBAMA (2005), a produção da rã-touro gigante em 2004 foi de


631 toneladas gerando quatro milhões de dólares em receitas. O Sudeste
lidera a produção nacional de rã, sendo responsável por 69% do total pro-
duzido no país. A produção é praticamente toda absorvida pelo mercado
interno, somente 5% da produção brasileira é exportada.

Pode-se dizer que a rã-touro gigante (Rana catesbeiana) é a única espécie


utilizada nos ranários comerciais brasileiros, por apresentar características
interessantes para o cultivo, como:

• Precocidade (crescimento rápido);

• Prolificidade (alto número de ovos por postura);

• Rusticidade (facilidade de manejo).

Como vocês já sabem, a rã-touro é uma espécie exótica, e existem tentativas


de cultivo de espécies de rãs nativas como a rã-manteiga e a rã-pimenta.
Mas quando comparadas a rã-touro estas apresentam um menor desempe-
nho produtivo, sendo “comercialmente desinteressantes”.

Anfíbios
Aspectos biológicos do ciclo de vida e ana- Este nome foi dado ao grupo
devido a maioria de seus repre-
tomia sentantes possuírem a fase larval
As rãs são anfíbios (do grego amphi - dos dois lados + bios = vida) e por isso aquática (lembre-se dos girinos)
e uma fase adulta que habita o
possuem características distintas daquelas apresentadas por todos os outros meio terrestre úmido

Aula 17 - Ranicultura - I 399 e-Tec Brasil


animais de cultivo que falamos até agora. Ela apresenta, dentro do seu ciclo
de vida, uma fase exclusivamente aquática e outra, terrestre. São perten-
centes à ordem anura (animais destituídos de cauda e portadores de quatro
patas) como os sapos e pererecas.

Saiba Mais

Vocês sabem a diferença entre sapo, rã e perereca? Nem pensem que a


rã é mulher do sapo e que os dois são pais da perereca! Para entendermos a
ranicultura primeiramente precisamos conhecer as seguintes diferenças.

1. Rãs: possuem a pela lisa e brilhante; não possuem glândulas de vene-


no; apresentam as patas posteriores mais longas; têm hábitos aquáticos,
nadam muito bem, dão grandes saltos; liberam seus ovos em massas
gelatinosas.

2. Sapos: possuem a pele fosca e rugosa; possuem glândulas de veneno;


apresentam patas posteriores mais curtas; apesar de terem hábitos ter-
restres dependem da água para se reproduzir; dão pequenos saltos; libe-
ram seus ovos dentro de grandes cordões gelatinosos.

3. Perereca: geralmente são bem menores e coloridas; possuem ventosas


em todos os dedos.

Fonte: Dra. Cláudia Maris Ferreira, Mestrado em Pesca e Aquicultura. Instituto de Pesca de São Paulo, 2006.

As principais famílias de rãs comestíveis


são:
• Família: Leptodactylidae

Rã-manteiga

Figura 17.1: Foto rã-manteiga (Leptodactylus ocellatus).


Fonte: http://eptv.globo.com/terradagente/0,0,2,301%3B2,ra-manteiga.aspx

e-Tec Brasil 400 Panorama da aquicultura


Rã-pimenta

Figura 17.2: Rã-pimenta (Leptodactylus pentadactylus).


Fonte: http://www.bio.fsu.edu/chorusfrog/images/Ecuador/10_Leptodactylus_pentadactylus_D_DSC_1260.JPG

• Família: Ranidae

Rã-touro

Rã-touro (Rana Catesbeiana).


Fonte: http://www.batraciens-reptiles.com/rana_catesbeiana.jpg

As rãs nativas brasileiras, rã-manteiga e rã-pimenta, também utilizadas na


ranicultura diferem morfologicamente da rã-touro principalmente por não
apresentarem membranas interdigitais nos membros posteriores.

Entre os dedos
As rãs dependem da água para: realizar a reprodução, manter seu equilíbrio
hídrico, para se defenderem, eliminarem excretas e a pele velha.

Como já falamos anteriormente, a rã-touro é um animal exótico proveniente


dos Estados Unidos e Canadá, onde vivem em baixas temperaturas.

Proveniente dos Estados Unidos e Canadá, a rã-touro vive em baixas tempe-


raturas. Em solo brasileiro, no entanto, adaptou-se muito bem ao clima que
apresenta maiores temperaturas, favorecendo seu desempenho zootécnico,
ou seja, para o cultivo, principalmente nas etapas de reprodução e engorda.
Em nosso país, a rã-touro atinge seu peso de abate em torno de sete meses
a um ano de cultivo.

Aula 17 - Ranicultura - I 401 e-Tec Brasil


A primeira parte do ciclo de vida de uma rã é dentro da água. Nesta fase são
denominados girinos. Logo após a metamorfose (etapa onde estes girinos
sofrem transformações fisiológicas e anatômicas), passam a viver na terra.
Vejamos abaixo um esquema com o ciclo de vida destes anfíbios (Figura
17.4).

Figura 17.4: Ciclo de vida rã.


Fonte: Dra. Cláudia Maris Ferreira, Mestrado em Pesca e Aquicultura. Instituto de Pesca de São Paulo, 2006.

Durante o ciclo de vida, as rãs mudam de hábito alimentar e de respiração


como podemos visualizar no quadro abaixo.

Girinos Rãs Adultas e Imagos

O girino é onívoro (consome alimentos de origem Os imagos e as rãs adultas são carnívoras
animal e vegetal), tem respiração cutânea e princi- (alimentam-se de carne) e caçadoras, apresentam
palmente branquial. respiração pulmonar e cutânea.

A respiração cutânea é aquela realizada por células superficiais da pele. Nos


anfíbios, ela serve de auxílio para obtenção do oxigênio para a respiração.
Durante a fase de girino, eles apresentam a respiração branquial (realizada
por brânquias para “respiração aquática”) por viver dentro da água. Após
a metamorfose, com hábito de vida terrestre, eles apresentam a respiração

e-Tec Brasil 402 Panorama da aquicultura


pulmonar. Por precisarem do auxílio da respiração cutânea em toda sua vida
possuem a pele bastante vascularizada e sempre umedecida.

Com isso finalizamos a primeira parte da ranicultura, onde foram vistos os


aspectos biológicos e o ciclo de vida destes anfíbios.

Atividade de Aprendizagem
Discuta com seus colegas como o fato das rãs apresentarem uma fase de
vida exclusivamente aquática e outra terrestre pode influenciar em sua for-
ma de cultivo.

Resumo
• Pode-se dizer que a rã-touro gigante, espécie exótica, é a única utilizada
nos ranários comerciais brasileiros, por apresentar um melhor desempe-
nho zootécnico que as espécies de rãs nativas;

• Existem tentativas de cultivo de espécies de rãs nativas como a rã-man-


teiga e a rã-pimenta;

• As rãs possuem características distintas por apresentar, dentro do seu


ciclo de vida, uma fase exclusivamente aquática e outra terrestre.

• As rãs dependem da água para: realizar a reprodução, manter seu equilí-


brio hídrico, para se defenderem, e eliminarem excretas e a pele velha.

Aula 17 - Ranicultura - I 403 e-Tec Brasil


Aula 18 - Ranicultura - II

Daremos continuidade ao assunto abordando as diferentes fases e


tecnologias de cultivo.

Ao final desta aula, espera-se que o aluno conheça as diferentes


fases e tecnologias de cultivo relacionadas à ranicultura.

A maioria dos cultivos comerciais de rãs é constituída por setores como:


reprodução, desenvolvimento embrionário, girinagem, metamorfo-
se e engorda.

Para a implantação de ranários sugerem-se locais que apresentem tempera-


turas mais elevadas (média 26°) ou o uso de estufas, pois a rãs apresentam
um melhor desempenho zootécnico em temperaturas mais altas.

Figura 18.1: Vista do ranário do pólo regional da APTA de Pindamonhangaba, SP.


Fonte: Nicole Pistelli Machado

Setor de Reprodução
O setor de reprodução é local, com a permanência dos reprodutores durante
as épocas mais quentes do ano para o repouso sexual. Estes são mantidos
em baias de mantença separados por sexo e tamanho.

Um bom reprodutor deve possuir uma massa corporal acima de 250g, ter
até 3 anos de idade e sem apresentar danos externos.

Aula 18 - Ranicultura - II 405 e-Tec Brasil


Em regiões subtropicais com clima mais ameno, as desovas ocorrem entre as
estações primavera e verão. Já em locais com temperaturas mais elevadas, a
desova pode ocorrer durante todo o ano.

O setor de reprodução possui um tanque principal com uma ilha central utili-
zada para a alimentação, a postura dos ovos ocorre nos tanques de postura,
estruturas que vocês podem observar abaixo (Figura 18.2).

Figura 18.2: (A) Tanque principal com ilha central. (B) Tanques de postura. Ranário do
Pólo Regional da APTA, Pindamonhangaba, SP.
Fonte: Nicole Pistelli Machado.

A cópula das rãs acontece dentro da água, e geralmente ocorre no período


da noite. Para a coleta dos ovos são usados baldes, recipientes de plástico
e puçás.

É muito importante que este setor não sofra sombreamento.

Setor de Eclosão ou desenvolvimento Em-


brionário
Para evitar oscilações bruscas de temperatura, este setor é construído em
um galpão.

Os ovos são incubados dentro de tanques os quais possuem formato qua-


drado, construídos em madeira, e cobertos com tela de náilon para permitir
uma melhor oxigenação dos ovos já que eles ficam na superfície. O tempo
de permanência nas incubadoras é de 5 a 7 dias.

e-Tec Brasil 406 Panorama da aquicultura


Figura 18.4: Incubadoras de ranário. Pólo Regional da APTA Pindamonhangaba, SP.
Fonte: Dra. Cláudia Maris Ferreira, Mestrado em Pesca e Aquicultura, Instituto de Pesca de São Paulo.

Após a eclosão dos ovos, as larvas atingem o estágio de nado livre e, então,
são transferidas para tanques chamados start (pois é onde inicia o cresci-
mento). O período de permanência nestes tanques é de 15 dias.

Caso ocorra excessiva produção de girinos além do que os tanques podem


comportar, ou caso a época não seja propícia, ou mesmo que não se tenha
conseguido a metamorfose de grande parte dos girinos, existe duas opções:
vender ou estocar.

Devido a estes fatos, alguns ranários possuem o setor de estocagem, local


que fica ao ar livre com proteção contra chuvas e predadores. Neste setor
impede-se a metamorfose controlando a temperatura, densidade e alimen-
tação.

Setor de Girinagem e Metamorfose


Neste setor, os tanques possuem um grande espelho d’água, porém com
pouca profundidade, sem comprometer o aquecimento da água e a quan-
tidade de oxigênio dissolvido. É nesta fase que ocorre a transformação do
girino para imago.

Figura 18.5: (A) Girinos. (B) Imago; Ranário do Pólo Regional da APTA Pindamonhan-
gaba, SP.
Fonte: Nicole Pistelli Machado.

Aula 18 - Ranicultura - II 407 e-Tec Brasil


Os tanques possuem uma rampa com uma canaleta de 20 cm de lâmina
d’água, mantendo assim a pele do imago úmida. O tempo de permanência
no setor de girinagem e metamorfose é de 3 meses durante a primavera e
o verão.

Após a metamorfose acontece também uma mudança de hábitos alimenta-


res. Os girinos que eram onívoros transformam-se em imagos carnívoros. A
partir daqui são necessárias triagens porque começa ocorrer o canibalismo.

As rãs são caçadoras por isso precisam de um indutor biológico para consu-
mir a ração. Em alguns casos são utilizadas larvas de moscas misturadas à ra-
ção (larvas produzidas na propriedade, em um local denominado moscário).
Outra estratégia é o uso de cochos vibratórios, dando a sensação de que o
alimento está em movimento.

Outro setor que pode ser encontrado em ranários é o da pré-engorda ou


seleção fenotípica. Esta fase pode otimizar o cultivo porque o objetivo é se-
lecionar os animais que tenham potencial de crescimento. Geralmente eles
Seleção de características que
irão proporcionar um melhor ficam neste setor por 30 dias, é onde ocorre o maior crescimento, de 4g
desempenho zootécnico.
passa para 30g.

Existem duas linhas de manejo aplicadas a este setor:

1. Sem triagem: processo de seleção natural dos imagos;

2. Com triagem: a cada 10 dias, separação por tamanho.

Setor de Engorda
Este setor representa 70% da área total das instalações de um ranário, e é
destinado a obter o crescimento e a engorda até o tamanho comercial, para
serem abatidos pelo criador.

A tecnologia de cultivo da ranicultura brasileira, na fase da engorda, foi mu-


dando ao longo das décadas:

I. Na década de 70, eram utilizados tanques múltiplos, alimento -> carca-


ças em decomposição. Esta tecnologia caiu em desuso, pois as carcaças de
animais propiciavam a proliferação de larvas e moscas provocando cheiro
desagradável e causando um impacto negativo;

e-Tec Brasil 408 Panorama da aquicultura


II. Posteriormente começaram a utilizar os denominados tanques-ilha: es-
cavados na terra com uma ilha central, tanques com tamanho médio de
50 m²;

III. Em 1984, o sistema de confinamento foi implantado com tanques de


10m² em média, cobertos e construídos em alvenaria, utilizados até hoje;

IV. Anfigranja alterou a posição de cochos, abrigos e piscinas nas instalações


de engorda. Eles são construídos em alvenaria com telhas de amianto, tam-
bém utilizados até hoje;

V. Sistema de gaiolas, desenvolvido pelo Instituto de Pesca de São Paulo, com


objetivo de diminuir o canibalismo e aumentar a produtividade por área, mas
sem grande sucesso;

VI. Ranabox, sistema de andares, muito similar ao sistema de gaiolas, desen-


volvido por uma empresa privada e colocado no mercado no ano de 1990;

VII. Sistema climatizado (1993). Segundo estudos de rentabilidade feitos pelo


Instituto de Pesca de São Paulo sobre as tecnologias de cultivo utilizadas,
perceberam um melhor desempenho no cultivo com a utilização de estufas
agrícolas. Ranários da região subtropical do Brasil utilizam este sistema;

VIII. Com um espírito empreendedor, muitos ranicultores experimentavam


diversas tecnologias de cultivo, através de adaptações, cujos sistemas são
chamados híbridos, porque baseavam-se em misturas de sistemas;

IX. No ano de 1995, o sistema inundado) criado em Taiwan foi trazido para
o Brasil. Este sistema conta com tanques de grande espelho d’água e uma
profundidade média de 5 cm. Aqui, as rãs capturam o alimento que é joga-
do a lanço.

O mercado é um ponto crítico para produção de rãs. A ranicultura brasilei-


ra enfrenta sérios problemas em relação ao escoamento de sua produção.
O preço elevado da carne inibe a compra que por consequência diminui a
demanda (exemplo: preço da carne para o consumidor R$25,00/kg; preço
das coxas R$45,00/kg). Outro fator é o comércio da carne in natura, sem
nenhum tipo de beneficiamento, o que obviamente não atrai o consumidor.
Existe certo preconceito com a carne rã, é animal visto com algumas restri-
ções.

Aula 18 - Ranicultura - II 409 e-Tec Brasil


Atividade de Aprendizagem
Discuta com seus colegas de classe e proponha diferentes formas de comer-
cialização da carne de rã objetivando aumentar a atratividade deste produto
para o consumidor.

Resumo
• A maioria dos cultivos comerciais de rãs é constituída por setores como:
reprodução, desenvolvimento embrionário, girinagem, metamorfose e
engorda;

• O setor de reprodução é local e permanência dos reprodutores;

• O setor de eclosão e desenvolvimento embrionário é onde ocorre a incu-


bação dos ovos e o início do crescimento dos girinos;

• O setor de girinagem e metamorfose são locais onde ocorre a transfor-


mação do girino para imago;

• A engorda é o setor destinado a obter o crescimento e a engorda, até o


tamanho comercial;

• Exemplo de tecnologias de engorda no cultivo de rãs: tanques múltiplos,


tanque-ilha, confinamento, anfigranja, gaiolas, ranabox, climatizado,
inundado e híbrido.

e-Tec Brasil 410 Panorama da aquicultura


Aula 19 - Aquicultura e sustentabilidade

Queridos alunos, durante toda nossa caminhada falamos sobre a


atividade aquícola e sua sustentabilidade, nesta aula trataremos
mais diretamente deste assunto. Mas afinal o que é sustentabi-
lidade? Qual sua importância para a aquicultura? Estes e outros
questionamentos serão vistos em aula. Ao final desta aula, espera-
se que o aluno compreenda o que é sustentabilidade e qual sua
importância para o desenvolvimento e continuidade da atividade
aquícola.

Vamos começar com algumas definições relativas à sustentabilidade e de-


senvolvimento.

O desenvolvimento é a capacidade de suprimento das necessidades huma-


nas e a melhoria da qualidade de vida (IBAMA, 2001). Já as preocupações
ambientais, econômicas e sociais consideradas no seu conjunto e visando a
conclusão de diferentes objetivos, ao mesmo tempo, chama-se sustentabili-
dade (Sato, 2000).

O que isso quer nos dizer? Que a aquicultura para ser sustentável deve
produzir organismos aquáticos de maneira rentável, promovendo o bem-
estar social sem prejudicar o meio ambiente, suprindo as necessidades da
população sem comprometer as necessidades das populações futuras.

Tudo isso se baseia no equilíbrio entre o econômico, social e ambiental.

Exemplo

Valorização desequilibrada dos aspectos econômicos

Visando um maior lucro, o produtor intensifica seu cultivo aumentando a


densidade de estocagem, procurando assim atingir uma maior produtivida-
de. A médio e longo prazo, esta atitude pode causar prejuízos. Não podemos
esquecer que a aquicultura está diretamente ligada a qualidade do ambiente
onde ela é praticada. Uma baixa qualidade ambiental pode acarretar doen-
ças, perdas na produtividade, alta taxa de mortalidade, etc.

Aula 19 - Aquicultura e sustentabilidade 411 e-Tec Brasil


Atualmente questões ambientais estão sendo muito discutidas, reforçadas
pelo fato que durante muitos anos as atividades produtivas não apresenta-
ram esta preocupação, comprometendo seriamente a qualidade ambiental
do planeta em que vivemos.

Este fato influencia diretamente o desenvolvimento da aquicultura no Brasil.


A legislação brasileira, tentando amenizar a degradação do meio ambiente,
passou a priorizar as ações restritivas, em favor da preservação dos recursos
naturais.

É um caminho perigoso ver a aquicultura somente como uma atividade po-


tencialmente poluidora; esquecendo que - se for aplicada de maneira sus-
tentada - esta atividade pode ser uma ferramenta de desenvolvimento para
diversas comunidades.

Não podemos nos esquecer que com o aumento da população mundial, da


pobreza, e com a produção da pesca quase atingindo seu limite, teremos
que encontrar alternativas que consigam suprir a necessidade de proteína
animal desta população. A aquicultura é com certeza uma das alternativas
para superarmos este desafio, pois ela não só gera empregos como é capaz
de garantir a segurança alimentar mundial (produzindo proteína animal de
qualidade).

Apesar das diversas comparações com a agricultura, a aquicultura desenvol-


veu-se mais lentamente, devido às particularidades apresentadas pelos orga-
nismos e ambientes de cultivo, que ainda não são totalmente conhecidas.

Após a Segunda Guerra Mundial, a aquicultura começou a receber atenção


como uma potente atividade de larga escala industrial.

Hoje podemos falar em Revolução Azul. Assim como aconteceu com a


agricultura no último século, após a Revolução Verde, a aquicultura está
se transformando em um modo industrial de produção de alimento, o que
implica no desenvolvimento de novas tecnologias de produção e de indus-
trialização.

Assim como existem outras formas intensivas de produção de alimento, a


aquicultura em escala industrial pode gerar custos ambientais significativos.
Inovação tecnológica, investimento e exploração de recursos naturais reno-
váveis são comuns na aquicultura moderna, principalmente nos ambientes

e-Tec Brasil 412 Panorama da aquicultura


costeiros. A corrida tecnológica e o livre acesso aos recursos aquáticos em
alguns países provocaram uma severa sobrecarga no ecossistema, resultan-
do numa deterioração acelerada da qualidade ambiental da costa.

O advento da aquicultura - como forma industrial de produção - também é


fonte de preocupação social. Assim como acontece com o ambiente natu-
ral, os impactos da aquicultura podem atingir a estrutura social das regiões
onde esta tecnologia é aplicada. Entre os impactos mais importantes desta
categoria, destacam-se os conflitos originados na disputa pelo acesso e uso
dos recursos, tanto entre os produtores que se encontram envolvidos nas
atividades de cultivo como entre aqueles dedicados a outras atividades eco-
nômicas, como a pesca, turismo, atividade portuária, entre outros.

A mecanização na agricultura gerou desemprego no campo. Alguns países


que praticam a aquicultura em escala industrial já mostram que quanto mais
intensiva a forma de produção, menores são as ofertas de empregos.

Recentemente, o governo de diversos países com representantes das indús-


trias não têm poupado esforços para combater a “aquicultura insustentá-
vel”. Eles perceberam que o desenvolvimento da aquicultura precisa ser sus-
tentável a longo prazo tanto na questão ambiental quanto social.

Um trabalho de referência para guiar a sustentabilidade da aquicultura é


o “Code of Conduct for Responsible Fisheries – art. 9°Aquaculture Deve-
lopment” (FAO, 1995). Este código prevê não apenas o desenvolvimento
da aquicultura sob jurisdição nacional, como também as questões que en-
volvem o nível de produção e o uso dos recursos genéticos de organismos
Código de Conduta para uma
aquáticos. Pesca Responsável – Desenvolvi-
mento da Aquicultura.

Existem inúmeras alternativas para o desenvolvimento da aquicultura que


podem apresentar soluções sustentáveis, tais como: aquicultura ecológica,
aquicultura orgânica, policultivo, uso de sistemas fechados de circulação de
água, entre outros.

Aqui terminamos nossa aula com uma importante lição, preocupação com
o que iremos deixar apara as gerações futuras, pensem nisso, vocês tem um
importante papel como futuros técnicos em aquicultura, além do desenvol-
vimento da atividade a sustentabilidade da mesma.

Aula 19 - Aquicultura e sustentabilidade 413 e-Tec Brasil


Atividade de Aprendizagem
Analise a sustentabilidade da atividade aquícola praticada em sua região.

Resumo
• A aquicultura para ser sustentável deve produzir organismos aquáticos
de maneira rentável, promovendo o bem-estar social sem prejudicar o
meio ambiente, suprindo as necessidades da população sem comprome-
ter as necessidades das populações futuras.

• A Revolução Azul é um modo industrial de produção de alimento que


implica no desenvolvimento de novas tecnologias de produção e de in-
dustrialização.

e-Tec Brasil 414 Panorama da aquicultura


Aula 20 - Aquicultura e Desenvolvimento
(Casos de Sucesso)

Prezados alunos, chegamos ao nosso último encontro, espero que


este tempo que passamos juntos tenha sido proveitoso. Nesta últi-
ma aula, falaremos da aquicultura como ferramenta de desenvol-
vimento para muitas comunidades.

A aquicultura está sendo responsável por uma verdadeira revolução na vida


de pescadores, comunidades tradicionais e de pequenos produtores rurais.
Ao final desta aula, vocês irão conhecer alguns casos de sucesso e perseve-
rança da aquicultura brasileira.

Caso 1. Resgatando a Aquicultura: Uma his-


tória de cooperação e liderança

SEBRAE

Cachoeiras de Macacu – Rio de Janeiro

Em uma cidade onde a maioria das famílias era sustentada por mulheres,
com renda proveniente de empregos formais, como professoras e funcioná-
rias públicas, e onde os homens enfrentavam a falta de emprego, era neces-
sário encontrar uma alternativa de renda para esta comunidade.

Diversos fatores contribuem para o desenvolvimento da aquicultura na re-


gião: é rica em volume de água; a temperatura é ideal para o cultivo de rãs;
detém 51% de cobertura florestal de Mata Atlântica; é região prevalente-
mente agrícola; é propícia ao ecoturismo e turismo de aventura devido ao
grande número de cachoeiras.

No passado, por causa da Estrada de Ferro Leopoldina que ligava o municí-


pio a outras cidades, Cachoeiras de Macacu era considerada um importante
canal de escoamento da produção agrícola. Após o fechamento desta fer-
rovia, a cidade passou por um longo período de estagnação econômica. A
população enfrentou grandes dificuldades para encontrar alternativas para
geração e renda.

Aula 19 - Aquicultura e sustentabilidade 415 e-Tec Brasil


Em 1995, dezenas de empreendedores de Cachoeiras de Macacu, município
das Baixadas Litorâneas do Estado do Rio de Janeiro, decidiram dedicar-se
a aquicultura, mais precisamente ao cultivo de rãs e tilápias. Foi criada uma
cooperativa onde os produtores compartilhariam as instalações de abate
dos animais, a comercialização e distribuição da produção beneficiada. Com
isso, tornar-se-iam competitivos e obteriam maiores lucros. Em seus primei-
ros anos de funcionamento, por problemas de gestão administrativa, a co-
operativa teve dificuldade de honrar os compromissos com os cooperados.
Consequentemente muitos deixaram de fornecer seus produtos, havendo a
dispersão dos mesmos.

No ano de 1997, com ampliação da área de atuação e novos objetivos tra-


çados (desenvolver três eixos principais, mercado, gestão e produto), os ra-
nicultores da região fundaram uma nova cooperativa Coopercrãmma. Em
2001, firmaram parceria com a Associação de Piscicultores do Vale do Ma-
cacu. Com isso a cooperativa incluiu o peixe em seu portfólio, fazendo au-
mentar o mercado e diminuindo investimentos com marketing, uma vez que
o peixe apresentava maior aceitação que a carne de rã.

No último levantamento feito em 2005, constatou-se que o abatedouro ti-


nha capacidade de processar 1600 kg de peixe por dia e 600 kg de rã. Hoje,
a Coopercrãmma produz 1200 kg de polpa de tilápia por mês, e vende a
R$9,00/kg para a Prefeitura de Cachoeiras de Macacu, cuja polpa é destina-
da à merenda escolar.

Caso 2. O peixe que transformou a vida de


um assentamento rural

SEBRAE

São Luiz do Anauá – Roraima

No ano de 1982, ocorreu uma grande migração para o Estado de Rorai-


ma, de pessoas provenientes dos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná
e principalmente Maranhão, atrás da abundância de terras férteis e pelas
oportunidades de desenvolvimento. No entanto, se depararam com sérios
problemas, como a falta de infraestrutura, dificuldades tanto para escoar a
produção agrícola quanto a ter acesso à tecnologia.

Por volta do final dos anos 90, os assentados organizados pelo INCRA (Assen-

e-Tec Brasil 416 Panorama da aquicultura


tamento Vicinal 18), sem recursos e sem políticas públicas que priorizassem
o desenvolvimento, decidiram tomar a iniciativa de mudar sua realidade.

No início, estes pequenos produtores plantavam para a subsistência, utiliza-


vam métodos ultrapassados de plantio (queimadas e desmatamento desor-
denado) contribuindo para a degradação do meio ambiente. Mais de 50%
da população do assentamento eram analfabetos; eles não tinham acesso
ao crédito, à saúde, à educação. Também as estradas encontravam-se em
condições lastimáveis.

Com o programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil, cujo
objetivo era financiar atividades que não agredissem o meio ambiente, os
agricultores se organizaram e elaboraram um projeto de desenvolvimento
da piscicultura e preservação das nascentes dos rios e submeteram ao PPG7.
A princípio os assentados pensaram que os peixes se alimentariam com as
frutas da região e com isso eles teriam um baixíssimo custo de produção.
Mas logo perceberam que para serem competitivos no mercado seus peixes
teriam que consumir ração específica para eles.

Foram construídas no assentamento 6 represas, cada uma com 12 mil m²,


onde os produtores rurais trabalhavam em regime de associativismo. A pri-
meira aquisição, em 1998, de tambaquis custou R$ 30.000, investimento
este que foi perdido devido à falta de experiência dos piscicultores. Em 1999,
eles retomaram a atividade; em 2000, após várias tentativas frustradas, con-
seguiram produzir 20 toneladas de peixe.

A administração dos recursos financeiros da associação era feita por meio de


processo participativo. Depois de transpor o obstáculo da produção, os pisci-
cultores se depararam com outro problema: o transporte. Eram obrigados a
vender a produção para atravessadores por um preço menor do que aquele
pago na capital do Estado, Boa Vista.

Hoje, a associação financia a compra de ração e alevinos. Depois da venda


cada produtor paga seu empréstimo. Por não requerer dedicação integral, os
assentados continuam a fazer sua horta de subsistência. A piscicultura trou-
xe um incremento de 20% na renda das famílias que praticam a atividade.

Aula 19 - Aquicultura e sustentabilidade 417 e-Tec Brasil


Caso 3. Projeto Consolidação dos Negócios
Sustentáveis para a Melhoria da Qualidade
de Vida das Comunidades do Entorno da
Baía do Iguape

Instituto para o Desenvolvimento do Baixo Sul – IDES

Baixo Sul - Bahia

Desde 2003, o Programa de Desenvolvimento Integrado Sustentável do Bai-


xo Sul tem realizado ações que promovem a sustentabilidade através de
educação rural de qualidade, conservação do meio ambiente, aumento das
oportunidades de trabalho e renda, acesso à cidadania das comunidades do
Baixo Sul da Bahia, nos municípios de: Tancredo Neves, Valença, Taperoá,
Cairu, Nilo Peçanha, Ituberá, Igrapiúna, Piraí do Norte, Ibirapitanga, Cama-
mu e Maraú.

Estas ações contam com a participação da população (sociedade civil), ini-


ciativa pública e privada. O IDES tem o papel de coordenador-executivo do
IDES: Instituto para
desenvolvimento do Baixo Sul – programa na região coordenando e integrando cooperativas e instituições
Bahia- Brasil.
locais para realização de diversos projetos promovendo o desenvolvimento
IDH: Índice de desenvolvimento sustentável.
humano.

Os municípios do Baixo Sul da Bahia eram responsáveis pelo abastecimento


da recém-fundada capital da colônia – Salvador. Durante os séculos XVI e
XVII até o início do século XX, esta relação comercial entre o Baixo Sul e a
capital manteve-se muito ativa, porém o medo de um novo conflito - surgi-
do após a 2ª Guerra Mundial - fez com que a construção da BR 116 (antiga
estrada Rio - Bahia) tivesse seu traçado distante do litoral. Com isso houve
uma desorganização da produção agrícola e a economia da região entrou
em crise. A consequência de tudo isso foi um aumento significativo da misé-
ria, fazendo com que o Baixo Sul apresentasse péssimos indicadores sociais,
como: alta taxa de analfabetismo, chegando a atingir 58,2% da população
do município de Maraú (taxa de analfabetismo média do país – 16%); baixa
renda per capita (R$60,82 em Piraí do Norte), cerca de 3,5 vezes menor que
a média nacional; e baixo IDH (0,592, na cidade de Nilo Peçanha).

A renda destas comunidades era proveniente do estuário, pesca e marisca-


gem. Esta renda não era suficiente para garantir uma boa qualidade de vida
para população, nem para suprir o básico em relação à alimentação, vestu-
ário e moradia adequada.

e-Tec Brasil 418 Panorama da aquicultura


Em agosto de 1999, a decisão dos técnicos (IDES e Fundação Odebrecht)
foi quase unânime, a piscicultura era uma das atividades a ser desenvolvida.
Mas para que essa tomada de decisão fosse legitimada era necessário o en-
volvimento da comunidade. O município de Cairu foi o que apresentou uma
melhor abertura para a implantação do projeto. As propostas apresentadas
foram: carcinicultura, ostreicultura, mitilicultura e a piscicultura. Porém, as
atividades escolhidas foram piscicultura e ostreicultura.

O peixe escolhido pelos técnicos foi a tilápia nilótica (Oreochromis niloticus),


devido já possuir um pacote tecnológico desenvolvido. Além disso, as rações
para esta espécie contavam com um bom nível de qualidade, proporcionan-
do uma boa conversão alimentar. O problema era adaptar a tilápia na água
do estuário, já que esta espécie era cultivada em água doce.

Em 2001, a proposta foi aprovada, e os experimentos tiveram início com a


adaptação da espécie em estuário. No princípio, devido à salinidade estu-
arina, a tilápia apresentou um alto índice de mortalidade (cerca de 60%).
Outro fator limitante, no começo, foi a resistência de alguns pescadores e
marisqueiros que não acreditavam que poderiam ganhar dinheiro com o
cultivo de peixes. Como era um campo desconhecido, o medo assolava os
novos produtores, o descrédito foi combatido por membros da comunida-
de, agentes inovadores que apostaram na piscicultura e motivaram outros
pescadores. Neste cenário de mudança foi fundado em 2003, a Cooperativa
Mista dos Marisqueiros, Pescadores e Aquicultores do Baixo Sul da Bahia
(Coopermar), com 48 associados. Com a fundação da Cooperativa, foram
superadas dificuldades como a compra de insumos, o beneficiamento e a
comercialização.

Os jovens eram os principais agentes agregadores e repassadores dentro das


unidades-família. Em 2007, a cooperativa tinha 91 associados.

Os desafios a serem superados não eram só transmitir a tecnologia do culti-


vo de tilápia em tanques-rede e organizar grupos, era também o de formar
jovens empresários rurais. Tarefa nada fácil, porque mudar do extrativismo
para o cultivo é um processo de transformação demorado. A capacitação
dos jovens foi feita por meio da Casa Familiar do Mar, que trabalha com
a pedagogia de alternância, mesclando aulas práticas e teóricas e depois
aplicação na propriedade. O foco principal da capacitação era formar um
gestor com atuação empreendedora e profissional na cadeia produtiva da
piscicultura.

419 e-Tec Brasil


Como é comum em toda atividade nova, desconhecida, a produtividade da
piscicultura foi baixa, não causou uma mudança substancial na renda das
Para conhecer um pouco mais
sobre as histórias contadas nesta famílias envolvidas, os cooperados perderam a motivação e alguns até pen-
aula, leia:
saram em desistir. Então, a forte influência dos agentes inovadores, aqueles
1. Piscicultura, renda e que motivaram e incentivaram os colegas, foi crucial para que o projeto
educação no Baixo Sul da Bahia
(2007), e História de sucesso: continuasse. As técnicas de manejo foram aprimoradas, o processo de capa-
agronegócios: aquicultura e citação e o acompanhamento de técnicos foram intensificados, aumentando
pesca. Escritos por Renata
Barbosa de Araújo Duarte a produção. Porém, a limpeza dos tanques não era feita com a frequência
(Sebrae, Brasília, 200p).
necessária. Para resolver o problema, a Cooperativa criou o Prêmio Produ-
2. O peixe que transformou a tividade Coopermar com objetivo de incentivar as boas práticas de manejo
vida de um assentamento rural.
(2004). Histórias de sucesso: aumentando a produtividade e reduzindo os custos de produção. Com a
experiências empreendedoras. persistência de alguns cooperados, atualmente a renda média mensal gera-
Organizado por Renata Barbosa
de Araújo Duarte. Sebrae, da é cerca de RS 600,00.
Brasília, 412 p.
Os casos descritos acima foram retirados da revista Histórias de Sucesso do SEBRAE.
3. Resgatando a Aquicultura:
uma história de cooperação
e liderança. (2006). Histórias
de sucesso: mulheres Como vocês puderam ver, a aquicultura é muito mais que uma atividade
empreendedoras. . Organizado
por Renata Barbosa de Araújo multidisciplinar referente à criação de organismos, que têm a água como
Duarte, e Clarice Veras. Sebrae,
Brasília, 224 p.
principal ou mais frequente meio de vida. A aquicultura está pouco a pouco
transformando a realidade de milhares de brasileiros.
Conheça outros casos de
sucesso relacionados à
aquicultura lendo o artigo Chegamos ao final do nosso primeiro conteúdo programático. Nestes encon-
Fazendas de Água, de Leonardo
Sakamoto. Disponível no site tros vocês conheceram o panorama da aquicultura no Brasil e no mundo.
http://www.reporterbrasil.org.
br/exibe.php?id=3

Atividade de Aprendizagem
Formem grupos (de três a quatro colegas) para analisar, selecionar e descre-
ver um empreendimento aquícola que vocês consideram um caso de suces-
so. Justificar a escolha.

Resumo
• A aquicultura está sendo responsável por uma verdadeira revolução na
vida de pescadores, comunidades tradicionais e de pequenos produtores
rurais;

• Vimos casos de sucesso da aquicultura em alguns locais do nosso país.

e-Tec Brasil 420 Panorama da aquicultura


Referências

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do Paraná: Projeto Gestão Integrada da Zona Costeira do Paraná com ênfase na Área
Marinha; Programa Nacional de Meio Ambiente - PNMA II; CASTELLA, R.M.B. CASTELLA,
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da Aquicultura. Rio de Janeiro: v. 19, nº 116, 30-35 p. Nov/Dez. 2009.

Referências 423 e-Tec Brasil


Atividades Autoinstrutivas
1. Sobre a aquicultura, é correto afirmar:
a) Retirada de organismos aquáticos utilizados como recursos pesqueiros
da natureza sem o seu prévio cultivo.
b) É uma atividade multidisciplinar que se refere ao cultivo de organismos,
e que tem a água como principal ou mais frequente ambiente de vida,
incluindo peixes, moluscos, crustáceos, plantas aquáticas, entre outras
espécies.
c) Comercializa bens de propriedade comum.
d) Pode ser classificada como de subsistência, artesanal, industrial ou ama-
dora.
e) Nenhuma das alternativas.

2. (FEC/Concurso MPA2010) “O mar, decididamente, não está para


peixe. Castigada pela poluição e pela pesca predatória abusiva, a
natureza dá o troco: o estoque pesqueiro marinho mundial tem caído
de forma alarmante nos últimos 20 anos. (...) A meta de aumentar a
produção passa mesmo é pela aquicultura. (...) A criação em cativeiro
já representa praticamente metade da produção pesqueira global. No
Brasil, ela não chega a 30% da produção total, apesar de o Ibama
indicar um crescimento assombroso da atividade entre 1990 e 2005
1.017%.”. O otimismo do governo justifica-se por que o Brasil
apresenta diversas características propícias ao desenvolvimento da
aquicultura, EXCETO:
a) grande disponibilidade de recursos hídricos.
b) elevado consumo interno médio de pescado .
c) clima favorável.
d) disponibilidade de grãos para a fabricação de ração animal.
e) mão de obra abundante.

3. O surgimento da aquicultura no mundo é explicado, principalmente,


por algumas teorias, são elas:
a) Teoria das Lagoas Marginais, Teoria dos Lagos Profundos, Teoria do Cap-
turar e Prender e Teoria da Concentração.
b) Teoria da Armadilha e Cultivo, Teoria do Capturar e Prender, Teoria da
Concentração e Teoria da Dispersão e Difusão.
c) Teoria das Lagoas Marginais, Teoria do Capturar e Prender, Teoria da
Concentração e Teoria da Armadilha e Cultivo.
d) Teoria dos Lagos Profundos, Teoria da Dispersão e Difusão, Teoria da
Armadilha e Cultivo, e Teoria das Inundações.
e) Teoria das Lagoas Marginais, Teoria das Inundações, Teoria do Capturar
e Prender, e Teoria da Concentração.

e-Tec Brasil 424 Panorama da aquicultura


4. O marco inicial da aquicultura moderna aconteceu quando:
a) no século V a.C. os chineses começaram a cultivar carpas.
b) grandes imperadores de Roma incentivaram o cultivo de ostras.
c) no norte da África, mais precisamente no Egito, foi iniciado, pelos fara-
ós, o cultivo de peixes marinhos de maneira intensiva.
d) por volta de 1500, os colonizadores europeus chegaram a América e
presenciaram a reprodução de peixes feitas em ambientes controlados
pelos índios.
e) Em 1733, um fazendeiro alemão conseguiu realizar a reprodução de
trutas em sua propriedade.

5. A piscicultura brasileira ficou conhecida internacionalmente, em


1930, devido à:
a) pesca esportiva praticada nos pesque-pagues.
b) descoberta de uma técnica de indução a desova de peixes reofílicos por
um pesquisador brasileiro chamado Robin Van Hausen.
c) descoberta de uma técnica de indução a desova de peixes reofílicos por
um pesquisador brasileiro chamado Rodolpho Von Hiering.
d) venda de pacotes tecnológicos de criação de pacu, desenvolvidos no
Brasil, para Europa.
e) criação de uma técnica inovadora de cultivo, que era baseada no consor-
ciamento de peixes com a produção de aves e suínos.

6. Atualmente a pesca encontra-se:


a) em contínuo crescimento; os estoques pesqueiros aumentam 10% a
cada ano;
b) enfrentando o sério problema do esgotamento dos estoques pesqueiros
em nível mundial;
c) extinta. Com a redução drástica do pescado, a pesca deixou de ser pra-
ticada em muitas partes do mundo.
d) igual ao longo dos anos, não mostrando diferença nas capturas da pesca
continental e marinha.
e) nenhuma das alternativas.

7. A aquicultura pode ser considerada uma alternativa viável para


crise no setor pesqueiro por:
a) Apresentar uma inegável capacidade de gerar empregos diretos e indire-
tos; por produzir alimentos de alto teor protéico e também por auxiliar
na contenção dos processos de degradação acelerada dos ecossistemas
aquáticos.
b) Ser uma atividade praticada somente em escala industrial.
c) Ter as mesmas características da pesca extrativa, não precisando de pré-
vio cultivo e capturar bens de propriedade comum.

Atividades autoinstrutivas 425 e-Tec Brasil


d) Ter caráter tradicional, sendo uma atividade praticada pelos povos indí-
genas, antes mesmo do descobrimento do Brasil.
e) Apresentar resultados em curto prazo, resolvendo o problema do setor
pesqueiro rapidamente.

8. A aquicultura tornou-se uma prática comercial na Ásia a partir da:


a) Década de 20.
b) Década de 30.
c) Década de 40.
d) Década de 60.
e) Década de 80.

9. O país que apresenta a maior produção de pescado do mundo é:


a) Estados Unidos.
b) Itália.
c) China.
d) Tailândia.
e) Brasil.

10. Assinale a alternativa que completa a frase: A maior região


produtora de pescado proveniente da aquicultura é o ________________,
devido ao cultivo de ____________.
a) Sul - peixes marinhos.
b) Centro-Oeste - peixes de água doce.
c) Sul - ostras.
d) Nordeste - rãs.
e) Nordeste - camarão marinho.

11. Os principais sistemas de produção em aquicultura são classificados


em:
a) Extensivo, semi-intensivo, intensivo e superintensivo.
b) Extensivo, superextensivo e fluxo aberto.
c) Semi-intensivo e intensivo.
d) Superextensivo, intensivo e de fluxo contínuo de água.
e) Extensivo, superintensivo e de fluxo estacionário.

12. A aquicultura brasileira é baseada principalmente em sistemas de


cultivo:
a) Extensivo.
b) Superintensivo.
c) Intensivo.
d) Fechado.
e) Semi-intensivo.

e-Tec Brasil 426 Panorama da aquicultura


13. (UFSCar-SP) Nos sistemas de água doce em geral, os principais
organismos produtores são representados por:
a) Bentos.
b) Zooplâncton.
c) Fitoplâncton.
d) Nécton.
e) Vegetação marginal.

14. (UERJ-Adapatada)

A vida leva e traz,


A vida faz e refaz,
Será que quer achar
Sua expressão mais simples?

Os versos de autoria de José Miguel Wisnik podem ser traduzidos no âmbito


da Biologia, para os diversos ecossistemas existentes, no caso da aquicultura,
o ecossistema de cultivo. Nele, os seres vivos ocupam diferentes nichos, par-
ticipando do ciclo da matéria. Dentre os seres abaixo relacionados, aqueles
que devolvem a matéria à sua expressão mais simples para reiniciar o ciclo,
são os:

a) Produtores.
b) Herbívoros.
c) Decompositores.
d) Consumidores de 3ª ordem.
e) Consumidores de 2ª ordem.

15. São propriedades físicas da água:


a) dureza total, OD e alcalinidade;
b) calor específico, alcalinidade e densidade;
c) densidade, tensão superficial e calor específico;
d) hipolímnio, dureza total e pH;
e) alcalinidade, acidez e OD.

16. Quando o cultivo está em estabilidade térmica, os estratos das


camadas da coluna d’água são conhecidos como:
a) polímero, epilímnio e hipolímnio;
b) alímnio, epilímnio e metalímnio;
c) polímero, alímnio e hipolímnio;
d) epilímnio, metalímnio e hipolímnio;
e) n.d.a.

Atividades autoinstrutivas 427 e-Tec Brasil


17. Um pH é considerado ácido quando:
a) é igual a 7;
b) é maior que 7;
c) é menor que 7;
d) é igual a 13;
e) n.d.a.

18. O oxigênio dissolvido no ambiente de cultivo é importante por:


a) Ser essencial para o metabolismo de todo organismo aquático que rea-
liza respiração aeróbia;
b) Ser essencial para o metabolismo de todo organismo aquático que reali-
za respiração anaeróbia;
c) Por participar somente da formação das proteínas;
d) Determinar a quantidade de sais dissolvidos na água;
e) Ser um fator limitante para entrada de luz no viveiro.

19. As principais espécies utilizadas na malacocultura são:


a) Crassostrea gigas, L. vanamei, O. niloticus, Rana catesbeiana e Perna
perna;
b) Perna perna, C. carpius, C. gigas, Crassostrea rizophorae e Crassostrea
brasiliana;
c) C. brasiliana, C.gigas, C. rizophorae, Perna perna e Nodipecten nodo-
sus;
d) L. vanamei, O. niloticus, Rana catesbeiana, Nodipecten nodosus e Cras-
sostrea brasiliana;
e) Perna perna, C. carpius, C. rizophorae, Perna perna e Nodipecten nodo-
sus.

20. Assinale a alternativa que identifica o principal tipo de sistema de


cultivo de moluscos praticado em Santa Catarina.
a) Suspenso, que pode ser fixo ou flutuante;
b) Fundo, que pode ser o de curral ou direto;
c) Estacas ou “bouchots”;
d) Mesa e curral;
e) Direto de fundo e longline.

21. FEC/ Concurso MPA 2010) “O desenvolvimento econômico do país


associado às mudanças no hábito alimentar da população têm sido
responsáveis pela crescente demanda por peixes no Brasil e no
mundo. A aquacultura continua a crescer mais rapidamente que todos
os outros setores da produção animal. Atualmente, a produção
mundial de pescado está em torno de 140 milhões de toneladas,
porém ainda existe uma demanda adicional de consumo de peixe. (...)

e-Tec Brasil 428 Panorama da aquicultura


Pesquisas na área de reprodução, nutrição, genética e produção estão
sendo realizadas a fim de melhor explorar os recursos naturais
disponíveis, contribuindo para o desenvolvimento de novas
tecnologias para o setor aquícola brasileiro.” A aquicultura brasileira
tem crescido. Alguns setores, como a carcinicultura marinha e a
ostreicultura, chegaram a ampliar suas produções em mais de 50%,
de 2000 para 2001 (SEAP, 2007). CREPALDI et all (A situação da
Aquacultura e da pesca no Brasil e no mundo, Rev Bras Reprod Anim,
Belo Horizonte, v.30, n.3/4, p.81-85, jul./dez. 2006, disponível em
http://www.cbra.org.br/pages/publicacoes/rbra/download)
Segundo o texto, os camarões marinhos têm sua maior produção concen-
trada na região:

a) Norte.
b) Nordeste.
c) Sul.
d) Sudeste.
e) Centro-Oeste.

22. Assinale a alternativa que identifica as licenças necessárias para a


implantação de uma fazenda de camarão.
a) Provisória e permanente;
b) Instalação, operação e permanente;
c) Instalação e permanente;
d) Prévia, instalação e operação;
e) Operação e prévia.

23. O setor responsável pelo acasalamento e desova dentro de um


laboratório de produção de pós-larvas de camarão marinho é:
a) maturação;
b) larvicultura;
c) engorda;
d) pré-berçário;
e) berçário.

24. São estágios do desenvolvimento larval de camarões marinhos:


a) náuplio, protozoéa e misis;
b) trocófora, protozoéa e misis;
c) metazoéa, protozoéa e misis;
d) náuplio, trocófora e misis;
e) n.d.a.

Atividades autoinstrutivas 429 e-Tec Brasil


25. Assinale a alternativa que identifica a vantagem do uso de pré-
berçários no cultivo de camarões marinhos.
a) Aumentar a mortalidade na fazenda;
b) Apresentar uma maior sobrevivência na fazenda;
c) Diminuir os custos com transporte;
d) Diminuir o manejo na fase de engorda;
e) Aumentar o tempo de cultivo.

26. As fases de cultivo de camarões de água doce são basicamente:


a) Maturação, larvicultura e berçário;
b) Larvicultura, berçário e engorda;
c) Pré-berçário, berçário e engorda;
d) Engorda, despesca e processamento;
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

27. As espécies nativas de interesse para a carcinicultura de água doce


são:
a) M. amazonicum, M. acanthurus e M.carcinus;
b) M. amazonicum, M. acanthurus e M. rosenbergii;
c) L. vannamei, M. acanthurus e M.carcinus;
d) Perna perna, L. vannamei e M. acanthurus;
e) M. amazonicum, M. acanthurus e Pseudoplatystoma corruscans.

28. São sistemas de criação adotados na carcinicultura de água doce:


a) Sistema quaternário, bifásico e monofásico;
b) Sistema simples, híbrido e trifásico;
c) Sistema monofásico, bifásico e trifásico;
d) Sistema híbrido, bifásico e trifásico;
e) Nenhuma das alternativas.

29. (FEC/ Concurso MPA 2010) Encontrado nas principais bacias


hidrográficas sul-americanas, o surubim (Pseudoplatystoma sp) é um
peixe da família Pimelodidae (...). De grande importância econômica,
é considerado um dos peixes de água doce de maior valor comercial.
A diminuição dos estoques naturais vem impulsionando sua produção
em cativeiro.
São características importantes para que uma espécie de peixe seja conside-
rada adequada à aquicultura:

a) produzir grande número de alevinos e ser carnívora.


b) ter ampla distribuição geográfica e reproduzir-se em cativeiro.
c) ter boa aceitação de mercado e ser autóctone.
d) possuir hábito noturno e piscívoro.
e) ter rápido crescimento e ser resistente ao manejo.

e-Tec Brasil 430 Panorama da aquicultura


30. São peixes nativos de água doce, EXCETO:
a) Pacu;
b) Tambaqui,
c) Truta,
d) Pintado;
e) Pirarucu.

31. A definição para espécie exótica de peixe de água doce é:


a) Espécies exóticas ou alóctones são as não existentes num determinado
país ou aquelas que, dentro do país, são transportadas para fora da ba-
cia hidrográfica de origem.
b) Espécies exóticas ou autóctones são as não existentes num determinado
país ou aquelas que, dentro do país, são transportadas para fora da ba-
cia hidrográfica de origem.
c) Espécies exóticas ou alóctones são as existentes num determinado país
ou aquelas que, dentro do país, são pertencentes a uma determinada
bacia hidrográfica.
d) Espécies exóticas ou alóctones são as não existentes num determinado
país ou aquelas que não conseguem se reproduzir em ambiente natu-
ral;
e) Nenhuma está correta.

32. (CENTEC/CE 2009) O hormônio utilizado na reversão sexual das


tilápias é um derivado do (a):
a) Testosterona;
b) Endrógeno;
c) Ocitocina;
d) Cortisol;
e) Nenhuma está correta.

33. Os peixes exóticos de água doce, mais cultivados no Brasil, são:


a) Truta e tambaqui;
b) Pacu e tilápia;
c) Carpa e tilápia;
d) Catfish e pirarucu;
e) Carpa e pintado.

34. Entre os peixes salmonídeos utilizados na piscicultura marinha


podemos citar:
a) Cobia;
a) Tainha;
a) Peixe-rei
a) Salmão;
a) Garoupa.

Atividades autoinstrutivas 431 e-Tec Brasil


35. No Brasil, a piscicultura marinha ainda hoje se encontra restrita a
laboratórios de pesquisa e a tentativas pontuais de cultivos comerciais.
Assinale a alternativa que corresponde aos principais peixes utilizados
pela piscicultura marinha no Brasil (produção e pesquisa):
a) Catfish, robalo e pacu;
b) Salmão, enguia europeia e garoupa;
c) Robalo, bijupirá e linguado;
d) Garoupa, pargo e salmão;
e) Pargo, pirarucu e tambaqui.

36. A introdução da rã-touro gigante no Brasil ocorreu no ano de:


a) 1990
b) 2008
c) 1935
d) 1940
e) 1800

37. A região que lidera a produção nacional de rã é:


a) Sudeste
b) Nordeste;
c) Sul;
d) Norte;
e) Centro-oeste.

38. Sobre o ciclo de vida das rãs, é correto afirmar:


a) A primeira parte do ciclo de vida das rãs é terrestre e após a metamorfo-
se passam a viver na água;
b) A primeira parte do ciclo de vida das rãs é dentro da água, logo após a
metamorfose passam a viver na terra;
c) A primeira parte do ciclo de vida das rãs é no estuário, logo após a me-
tamorfose passam a viver na terra.
d) A primeira parte do ciclo de vida das rãs é em alto mar, logo após a me-
tamorfose passam a viver na terra.
e) A primeira parte do ciclo de vida das rãs é na terra, logo após a meta-
morfose passam a viver em alto mar.

39. A maioria dos cultivos comerciais de rãs é constituída por setores


como:
a) Reprodução, desenvolvimento embrionário, girinagem, metamorfose e
engorda;
b) Reprodução, desenvolvimento embrionário, berçário, metamorfose e
engorda;
c) Reprodução, desenvolvimento embrionário, girinagem, pré-berçário e
engorda;

e-Tec Brasil 432 Panorama da aquicultura


d) Reprodução, desenvolvimento embrionário, larvicultura, metamorfose e
engorda;
e) Nenhuma está correta.

40. A tecnologia de cultivo da ranicultura brasileira, na fase da


engorda, foi mudando ao longo das décadas, são exemplos destas
tecnologias:
a) Tanques múltiplos, anfigranja, híbrido, ranabox e seco;
b) Anfigranja, híbrido, ranabox, inundado e confinado;
c) Climatizado, híbrido, ranabox e aberto;
d) Anfigranja, gaiolas, ranabox, inundado e seco;
e) Seco, inundado, gaiolas e tanques-ilha.

41. Entende-se por sustentabilidade:


a) Preocupações ambientais, econômicas e sociais consideradas no seu con-
junto, e que visa a conclusão de diferentes objetivos ao mesmo tempo;
b) Preocupações ambientais e sociais, consideradas no seu conjunto, e que
visa a conclusão de diferentes objetivos ao mesmo tempo;
c) Preocupações ambientais, econômicas e lucrativas, consideradas no seu
conjunto, e que visa a conclusão de diferentes objetivos ao mesmo tem-
po;
d) Preocupações ambientais e territoriais consideradas no seu conjunto, e
que visa a conclusão de diferentes objetivos ao mesmo tempo;
e) Nenhuma está correta.

42. Marque a opção correta que identifica os princípios da aquicultura


sustentável.
a) Produzir organismos aquáticos de maneira rentável, promovendo o lucro
e retorno financeiro sem preocupações com o meio ambiente, suprindo
as necessidades dos aquicultores.
b) Produzir organismos aquáticos promovendo o bem-estar social sem pre-
judicar o meio ambiente, suprindo as necessidades da população sem
comprometer as necessidades das populações futuras, sem preocupa-
ções econômicas.
c) Produzir organismos aquáticos de maneira rentável, promovendo o bem-
estar social, suprindo as necessidades da população sem comprometer
as necessidades das populações futuras.
d) Produzir organismos aquáticos de maneira rentável, promovendo o bem-
estar social sem prejudicar o meio ambiente, suprindo as necessidades da
população sem comprometer as necessidades das populações futuras.
e) Produzir organismos aquáticos, suprindo as necessidades da população
sem comprometer as necessidades das populações futuras.

Atividades autoinstrutivas 433 e-Tec Brasil


43. O advento da aquicultura como forma industrial de produção é
conhecida como:
a) Revolução verde;
b) Revolução azul;
c) Revolução da água;
d) Revolução aquícola;
e) Revolução amarela.

44. São alternativas sustentáveis para o desenvolvimento da


aquicultura:
a) Aquicultura ecológica, aquicultura orgânica, policultivo, uso de sistemas
fechados de circulação de água, entre outros;
b) Cultivo intensivo de salmões com uso de antibióticos apresentando alta
lucratividade;
c) Fazendas de camarões construídas sobre o mangue;
d) Sistemas de cultivo intensivos sem tratamento de efluentes;
e) Nenhuma das alternativas.

45. A expansão da aquicultura na forma industrial pode gerar impactos


de ordem social, dentre eles podemos citar:
a) Disputa pelo acesso e uso dos recursos, tanto entre os produtores que se
encontram envolvidos nas atividades de cultivo como entre aqueles de-
dicados a outras atividades econômicas, como pesca, turismo, atividade
portuária, entre outros;
b) Disputa pelo acesso a financiamentos e tecnologias inovadoras;
c) Disputa pelo uso dos recursos e falta de mão de obra;
d) Conflitos entre empreendimentos públicos e privados;
e) N.d.a.

46. A Teoria que explica o surgimento da aquicultura em zonas


costeiras é a:
a) Teoria da Armadilha e Cultivo.
b) Teoria das Lagoas Marginais.
c) Teoria do Capturar e Prender.
d) Teoria da Concentração.
e) Teoria das Áreas Litorâneas.

47. A introdução da aquicultura e o início de sua fase comercial no


Brasil aconteceram, respectivamente:
a) No século XVIII e XX.
b) No século XVII e XIX.
c) No século XVI e na década de 50.
d) No século XVIII e na década de 30.
e) No século XVII e XX.

e-Tec Brasil 434 Panorama da aquicultura


48. Assinale a alternativa que identifica a espécie trazida do Canadá
para o Brasil em 1935.
a) O. niloticus
b) C. gigas
c) L. vanamei
d) Rana catesbeiana
e) C. carpius

49. Assinale a alternativa que identifica a espécie utilizada na


carcinicultura.
a) L. vanamei, C. carpius, C. gigas, Crassostrea rizophorae e Crassostrea
brasiliana;
b) Crassostrea gigas, L. vanamei, O. niloticus, Rana catesbeiana e Perna
perna;
c) M. amazonicum, M. acanthurus , M.carcinus e L. vanamei;
d) M. amazonicum, M. acanthurus, L. vanamei e Rana catesbeiana;
e) Perna perna, M. acanthurus, M.carcinus e L. vanamei;

50. Assinale a alternativa que identifica a espécie utilizada na


piscicultura.
a) Rachycentron canadum, Lutjanus purpureus e L. vanamei;
b) Ctenopharyngodon idella, Aristichthys nobilis e Oreochromis niloticus;
c) Rachycentron canadum, M. acanthurus e Oreochromis niloticus;
d) Perna perna, Ctenopharyngodon idella e Aristichthys nobilis;
e) Chanos chanos, Rana catesbeiana e Pseudoplatystoma corruscans.

Atividades autoinstrutivas 435 e-Tec Brasil


Currículo do professor-autor

Nicole Pistelli Machado - Graduada em Engenharia de Aquicultura pela


Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC em 2006. Concluiu mes-
trado em Políticas Ambientais e Territoriais para Sustentabilidade e Desen-
volvimento Local pela Faculdade de Economia da Universidade de Ferrara –
Itália em 2009. Participou e desenvolveu projetos nos Estados Unidos, Itália,
Chile e Brasil. É autora de livros como: “Arcipelago Raganello” – Strategie
di sviluppo locale per la Valle del Raganello (Itália); “Quando o Remanso do
Guará emerge, a mata envolve, produz e faz crescer” - Estratégias de de-
senvolvimento local sustentável para a região norte da Baía de Paranaguá,
município de Guaraqueçaba (Brasil) e “Valparaíso no sólo 1 Patrimonio” -
Taller Colaborativo para el Bicentenario, Proyecto Borde Membrana (Chile).
Atualmente é professora do Curso Técnico de Aquicultura do IFPR, Campus
Paranaguá.

437 e-Tec Brasil

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