RJC 21
RJC 21
RJC 21
Financiamento
A tara do Itaú por um negão
página 8
Rebelião
Hai anos saem às ruas
contra governo imperialista
página 10
Direitos humanos
EUA torturam imigrantes hai anos,
denuncia relatório
página 11
Fim da PM já!
O que subs tuirá a polícia?
página 14
Cultura
No ajuste de contas…
ou Manifesto maximalista
Lima Barreto
página 24
Lula é o candidato
do povo negro
Nas eleições para presidente de 2022 o povo negro,
pobre e trabalhador não tem dúvida qual candidato
representa seus interesses. O ex-presidente Lula é o
verdadeiro e único candidato da classe trabalhadora
e, especialmente, dos negros do país, o qual concen-
tra na possibilidade de um novo mandato presidente a
possibilidade de melhorias concretas como redução do
desemprego, melhores salários, fim da cares a dos ali-
mentos, fim dos despejos, ou seja, melhores condições
de vida.
Lula é um trabalhador que surgiu para a polí ca no
início dos anos setenta durante as grandes greves dos
operários da região do ABC paulista, contra os desman-
dos dos patrões e que foram mobilizações fundamentais
Circulação Nacional na luta contra a ditadura militar. As greves dos operários
Edição mensal - nº 21 metalúrgicos, na qual Lula foi a principal liderança, foi a
R$20,00
Agosto de 2022
principal força mobilizadora para acabar com o regime
ditatorial que se abateu sobre o país nas décadas de 60,
Expediente: 70 e 80.
Edição: Juliano Lopes, Izadora
Dias, Eric Menezes
A candidatura de Lula representa também a luta para
Redação: Juliano Lopes, Izadora pôr fim à polí ca golpista vigente desde 2016 no gol-
Dias, Eric Menezes, Caio Tulio, Tiago pe contra a ex-presidente Dilma Rousseff e que iniciou
Pires, Carla Silva, Márcio Roberto todo um período de ataques contra a classe trabalha-
Diagramação: Secretaria Nacional dora, através de uma polí ca neoliberal de desemprego
de Agitação e Propaganda do PCO em massa, fim de programas sociais e de direitos traba-
lhistas, cares a nos alimentos, transportes e moradia,
Tiragem: Mil exemplares
priva zações e entrega do patrimônio nacional.
Telefone/Whatsapp:11-95208-8335 Os demais candidatos representam os interesses dos
e-mail: joaocandidopco@gmail.com patrões e nunca fizeram nada em favor dos trabalhado-
site: www.causaoperaria.org.br/ticao-2
facebook: coletivojoaocandido res. O povo negro e trabalhador deve estar nas ruas, se
instagram: @joaocandido.pco manifestando por Lula presidente e lutando por um go-
verno dos trabalhadores, um governo que venha a aten-
Redação: Rua Apotribu, nº 111,
Saúde, São Paulo - SP CEP: 04302-000 der às suas necessidades materiais de melhores condi-
ções de vida.
Correspondência: Todos os pedidos
de assinaturas ou de informação
sobre as publicações das Edições
Causa Operária, devem ser enviadas
para: joaocandidopco@gmail.com
Eleições: uma tribuna de
denúncia da opressão do negro
Nenhum dos grandes problemas que o
povo negro vive pode ser resolvido por meio
de eleições. A fome, o desemprego, a mora-
dia, a repressão policial e o acesso à saúde
são questões que não podem ser verdadeira-
mente mudadas por meio de um conjunto de
“propostas” de um dado candidato.
O negro é o setor mais esmagado de uma
sociedade de classes, em que uma minoria
vive sob a ditadura de uma maioria. Todos
os males do negro hoje têm a mesma raiz:
a ditadura dos bancos, dos grandes empre-
sários e dos la fundiários, que compram
parlamentares, controlam juízes e mandam
na imprensa.
Prometer a construção de um ou dois
hospitais, ou ainda leis que proíbam o “ra-
cismo” é jogar areia nos olhos da popula-
ção. É preciso, portanto, um programa de
luta de todo o povo negro trabalhador. Um
programa de reivindicações que leve a uma
mobilização contra o regime dos capitalis-
tas e inimigos do povo.
Neste sen do, as eleições devem servir
apenas como uma tribuna para esse pro-
grama. O povo negro organizado deve com-
parecer às eleições para denunciar a podri-
dão do regime polí co, incluindo a própria
farsa das eleições. É preciso denunciar que
o País vive um golpe de Estado, que as elei-
ções são um jogo de cartas marcadas, em
que só consegue fazer campanha quem
tem muito dinheiro.
As eleições devem ainda servir para de-
nunciar os impostores do movimento ne-
gro, que lançam suas candidaturas apenas
para cumprir os interesses dos banqueiros,
chegando a receber financiamento do Itaú
para isso.
É preciso fazer das eleições uma alavanca
para o enfrentamento do povo negro com
os seus inimigos. Esse enfrentamento, por
sua vez, deve ter como espinha dorsal um
programa revolucionário, que defenda um
governo dos trabalhadores com Lula Presi-
dente, o fim do ves bular e o fim da PM.
À luta, companheiros!
Negros pagos por bancos
estão a serviço da burguesia
De acordo com o sí o do TSE, Walther Moreira Poderíamos nos estender mais e falar so-
Salles é o 8° maior doador de verbas para os candi- bre todas as polêmicas e os “direitismos” des-
datos das eleições de 2022 — todos eles, diga-se de sas pessoas que recebem o financiamento dos
passagem, são negros. Qual seria o interesse do Itaú grandes capitalistas, mas os fatos apresenta-
e de seus afiliados de financiar tantas candidaturas dos já são suficientemente esclarecedores. To-
progressistas, considerando que os bancos são gran- dos os candidatos listados têm fortes ligações
des carniceiros do povo? com a luta farsesca do negro que, assim como
O fortunato que recebeu a maior quantia de a da mulher, é uma das principais bandeiras do
Walther foi Douglas Belchior. O candidato a De- identitarismo. Isso só comprova a verdadeira
putado Federal pelo PT, na realidade, é ligado natureza dessa política, adotada por todos os
ao PSOL, não à toa sendo um dos fundadores partidos da esquerda-pequeno burguesa atual-
da reacionária Coalizão Negra por Direitos, que mente, sobretudo o PSOL.
reúne centenas de grupos menores ligados a O iden tarismo é financiado pelos bancos, tem
essa causa, caracterizando um dos maiores ex- como principal espalhador de suas ideias as cen-
poentes do identitarismo no País. Além de que, tenas, se não milhares, de ONGs espalhadas pelo
esses grupos são financiados por organizações Brasil, que são financiadas não só por um ou outro
imperialistas. empresário, mas sim por diversas organizações im-
Após Douglas Belchior, que recebeu R$ 150 mil, perialistas como a Fundação Ford, o NED, a Open So-
temos Vilma Maria Dos Santos Reis, também do PT, ciety e tantas outras.
que não só se diz atuar na frente da luta dos negros, O mo vo para isso é simples: por não ter nada a
mas também das mulheres e da comunidade LGBT ver com os reais interesses da população, uma série
— a candidata a Deputada Federal na Bahia recebeu de histéricos iden tários, esbravejando polí cas sem
uma generosa doação de R$ 100 mil para sua cam- lastro na realidade, não incomodam a burguesia.
panha. Pelo contrário, contribuem para manter o movimen-
Em terceira posição, temos Orlando Silva de to operária arrefecido.
Jesus Júnior, do PCdoB que recebeu R$ 75 mil de Mesmo assim, por estarem sempre chamando
Walther Salles. O candidato a Deputado Federal é atenção a supostos grandes problemas sociais,
um notório realizador de ataques ao PT e já pro- suas ações e falas são propagandeadas como gran-
tagonizou diversas cenas de aliança de seu partido des atitudes de luta pela população que, por al-
com o “centrão” e o apoio a propostas direitistas. gum motivo, incomodariam “os poderosos” — isso
O próximo beneficiado é uma figura polêmica: faz com que se crie uma falsa sensação de luta po-
Wesley Teixeira Silva, ex-integrante do PSOL, atual- lítica, mas que, na prática, é apenas uma estraté-
mente filiado ao PSB. Foi a pessoa que recebeu o fi- gia da burguesia para que se mantenha o controle
nanciamento de grandes empresários, em especial sob a esquerda pequeno-burguesa, levando em
do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, frente as políticas dos grandes capitalistas e do
durante as eleições de 2020. Mais uma vez financia- imperialismo.
do, Wesley recebeu R$ 70 mil de Walther para sua É por isso que vemos empresários, banqueiros e
campanha. grandes empresas apoiando as supostas causas das
A lista de financiamento contém mais alguns nomes minorias — a verdade é que o iden tarismo de nada
como Ta ana Marins Roque (PSB), que recebeu R$ 68 serve para a luta da população. Os candidatos que
mil; Marivaldo de Castro Pereira (PSOL), que recebeu propagandeiam essa polí ca não tem nada a ver, por
R$ 50 mil; Roseli Faria (PSOL) que recebeu R$ 50 mil; exemplo, com a população negra, são financiados
José Carlos Guerreiro Galiza (PSOL), que recebeu R$ 25 pela burguesia para apresentar pautas ideais e, no
mil; e, por úl mo, e nem por isso menos importante, final das contas, não levam nenhuma polí ca a favor
Carmen da Silva Ferreira (PSB), que recebeu R$ 25 mil. do povo para frente.
Um programa do Cole vo João Cândido
Ano passado, agentes da fronteiras organizaram uma verdadeira “caça aos imigrantes”,
igual faziam os escravocratas contra os negros – Foto: AFP
Um relatório apresentado pela ONG Anis a Inter- Anis a Internacional para as Américas, Erika Guevara.
nacional ─ completamente insuspeita, uma vez que é Segundo ela, os imigrantes veram negado o acesso
financiada por órgãos ligados ao próprio Estado norte- a alimentação, atenção sanitária ou informação jurídica
-americano ─ aponta que os imigrantes hai anos que durante sua prisão nos centros de detenção erguidos
chegam nos EUA são subme dos a “torturas baseadas por Joe Biden na fronteira dos Estados Unidos com o
na raça”. México. Lá, eles sofreram todos os pos de abusos, ten-
Para chegar a essa conclusão, o estudo realizou di- do os seus pés e suas mãos atados pelos agentes.
versas entrevistas com 24 cidadãos do Hai emigra- “Os testemunhos colhidos destacam a grande dor
dos para os Estados Unidos. A culpa pelas violações psicológica e o sofrimento que isso causou em mui-
dos direitos humanos, diz o relatório, é das autorida- tos hai anos devido à associação com a escravidão
des norte-americanas. e a criminalidade”, apontou o texto da organização.
“Nossa inves gação oferece indícios abundantes Nada, porém, será feito. Tampouco pela própria
de que o racismo sistemá co está incorporado no sis- Anis a, que adora realizar grandes campanhas quan-
tema de migração norte-americano”, disse a diretora da do não são os países imperialistas os acusados.
Fim das polícias
A “democracia” e as polícias
Sob o nome democracia, se esconde das mais selvagens ditaduras e a existencia polícias bem o comprovam
Há opressão contra o corpo social quando um único de seus membros é oprimido, há opressão
contra cada um de seus membros, quando o corpo social é oprimido
A democracia, desde seu nascimento na an ga assentado no princípio fundamental da democracia
Grécia, notadamente em Atenas, por volta do sécu- moderna.
lo VI a. C., foi entendida como um regime em que Existe, para além da garan a dos direitos e da
a preponderância social no Estado cabia aos pobres, igualdade, um destaque para a resistência à opres-
contra os aristocratas (* os melhores, no significado) são, sendo temas dos ar gos da Declaração. Pode-se
ou os ricos. Aristóteles, mais profundo pensador po- ler no “Art. 34 – Há opressão contra o corpo social
lí co, dentre outros campos, da An guidade, classifi- quando um único de seus membros é oprimido. Há
cava o regime democrá co, ele que não era propria- opressão contra cada um de seus membros, quando
mente um par dário do mesmo, como um regime o corpo social é oprimido”;
em que o povo (os pobres) deveria ter supremacia E no “Art. 35 – Quanto o governo viola os direi-
de preferência aos melhores. O desenvolvimento tos do povo, a insurreição é para o povo e para cada
econômico europeu fez essa concepção renascer no porção do povo, o mais sagrado dos direitos e o mais
século XVIII, acabada no robespierrismo, na ditadura indispensável dos deveres.” Na Cons tuição de 1793,
do par do montanhês. os revolucionários preocuparam-se fundamental-
A aparente contradição se desfaz se considerar- mente com a questão, ao invés de uma força policial
mos o sen do originário do regime democrá co, ou militar destacada do povo, tornaram todo o povo
hoje totalmente encoberto pela classe dominante. membro das forças de defesa da República;
Tratava-se de garan r os direitos do povo contra No Art. 109 da Cons tuição, pode-se ler: “ Todos
os privilégios da aristocracia decadente e contra os os franceses são soldados, todos se exercitam com o
banqueiros. Com esse obje vo, os revolucionários manejo das armas”. Embora houvesse uma força pú-
jacobinos fundaram a república francesa em 1793 e blica paga, essa estava subordinada às autoridades
escreveram uma Declaração dos Direitos do Homem cons tuídas. Os revolucionários sabiam muito bem
e uma nova Cons tuição na mesma data. Aí está que o Estado é por natureza uma instrumento de
opressão poderoso e uma ameaça permanente aos lam constantemente todos os direitos de cidadania,
direitos do povo, a única maneira era dotar a massa são mesmos instrumentos de opressão contra a po-
popular dos instrumentos para defender os direitos pulação pobre e no Brasil a negra.
da rania e da opressão, esse é o verdadeiro signifi- São tropas completamente fora do controle po-
cado da cidadania. pular, se assemelhando aos exércitos da an ga no-
Após a derrota dos revolucionários, a burguesia breza e em nada ao ideal democrá co de cidadania
francesa e mundial, depois de um périplo de ten- em armas. A reivindicação de fim das polícias não é
ta vas, modificou completamente o sen do de de- nada mais que a exigência de cumprimento da de-
mocracia, tornando-a uma mera formalidade, um mocracia, o fato de o Estado manter um corpo arma-
conjunto de ritos. O elemento central foi, porém, do apartado da vontade do povo e que é u lizado,
completamente eliminado, isto é, a preponderância não contra um inimigo externo, mas contra a própria
dos pobres em relação aos ricos. Os ricos, a burgue- cidadania, que por sua vez é impedida de defender
sia, se apoderaram completamente desta democra- seus direitos ante essa tropa armada, só mostra o
cia formal e por meio dela oprime o pobre. O ideal grau de demagogia que se tornou a democracia para
de cidadania, isto é, de que o cidadão possa vigiar o a burguesia.
Estado e impedi-lo de usurpar o poder foi comple- Trata-se de uma verdadeira tirania contra as
tamente desmontado; a ideia de cidadão em armas massas populares, contra os negros, os pobres e
paula namente desbaratada. os trabalhadores exercida pelo Estado brasileiro,
Em seu lugar, surgiram destacamentos militares cujo braço armado desta ditadura são as polícias
completamente alheios ao povo e que o oprimem que atuam, não para garantir direitos, mas para
sistema camente, eliminando seus direitos. Vejamos eliminá-los e, em muitos casos, aos próprios cida-
o caso brasileiro, as polícias, notadamente a militar, dãos. A exigência de fim da polícia tem, portanto,
não tem nenhuma relação com o povo, que aliás foi a função de denunciar a ditadura que existe sob o
alijado completamente das armas, essa polícias vio- nome democracia.
As polícias, notadamente a militar, não tem nenhuma relação com o povo, que aliás foi alijado
completamente das armas, essa polícias violam constantemente todos os direitos de cidadania, são
mesmos instrumentos de opressão contra a população pobre e no Brasil a negra
Fim da PM já!
Em seu programa o Partido da Causa Operá- Segundo, como é uma organização criada, for-
ria (PCO) tem como um dos pontos a proposta mada e mantida pelos capitalistas que controlam
para a questão da violência que se abate sobre o Estado, inclusive através de seus funcionários
os trabalhadores: a dissolução da polícia e de (parlamentares, juízes, burocratas), ela nunca agi-
todo o aparato de repressão do qual faz parte. rá em favor dos trabalhadores, não de forma con-
Uma proposta que costuma criar polêmica com tundente, que realmente resolva os problemas de
a imprensa burguesa e com a esquerda peque- segurança, serão sempre ações de “maquiagem”,
no-burguesa. E, para estes, um dos pontos que superficiais que tanto não resolvem como, geram
gera confusão se traduz em perguntas do tipo mais violência – a qual a polícia é a maior geradora
“acabar a polícia não vai aumentar a violência?” – para justificar mais e mais repressão, leis antide-
ou “mas, se acabar a polícia não vai ter nada?” e mocráticas, prisões em massa etc.
outras na mesma linha. O PCO coloca como proposta de luta, que sejam
criados imediatamente comitês de autodefesa dos
Explicando a crítica trabalhadores, organizações que podem ter qual-
quer nome aliás, imediatamente organizações que
Começamos explicando a crí ca à concepção rea- visariam dar segurança aos bairros operários en-
cionária dos setores citados acima. Sim, reacionária frentando a violência da polícia e evitando a ocor-
porque expressa uma posição no sen do da manu- rência dos demais crimes. Devem ser organizações
tenção e da defesa das ações de uma organização populares de defesa dos trabalhadores, criadas,
que é uma verdadeira máquina de guerra que atua formadas e mantidas por trabalhadores que atuem
diariamente massacrando a classe trabalhadora, em todos os setores, nos bairros, nas unidades de
agindo com especial intensidade sobre os setores trabalho, nas escolas, nos hospitais, aonde houver
mais pobres e mais explorados. a necessidade de defender fisicamente os traba-
Ques onar que “não podemos” viver em socieda-
lhadores, deve ser formado um comitê de autode-
de sem essa corporação, que suas ações são necessá-
fesa. E isto não é “para depois da revolução” isso
rias, não é só confusão, mas sim é uma defesa da po-
é para já, para agora, pois a violência diária que os
lícia e de suas ações, ou seja, uma defesa que atende
trabalhadores sofrem não terá fim sem que essas
aos interesses do Estado burguês, do Estado que ser-
organizações existam.
ve aos interesses da burguesia. Por isso, é esperado
Para que isto se materialize há exemplos na
que setores direi stas reajam de todas as formas à
proposta revolucionária do Par do, mas é inaceitável história a serem seguidos os quais utilizaram fer-
que a esquerda se ampare nestas posições alinhadas ramentas e formas de organização com a parti-
com os interesses da classe dominante, o patrão da cipação popular direta, criaram seus comitês de
polícia. defesa, suas milícias populares, usando para isso
conselhos populares onde há a participação maci-
O que viria depois ça e com a eleição dos integrantes dos comitês, os
quais também terão poder de decisão e fiscaliza-
Mas, voltamos à questão, pois trata-se de um pon- ção. São ferramentas democráticas, mas que po-
to importante a esclarecer para a classe trabalhadora. dem ser aperfeiçoadas ou adaptadas à realidade
Para isso, em primeiro lugar é preciso dizer que a polícia de cada comunidade.
não protege ninguém, ela não impede que os crimes Os comitês de autodefesa podem atuar em
aconteçam nem na classe trabalhadora, nem na bur- cada rua, pois naquela rua estará um morador
guesia, isso porque na verdade sua função não é prote- defendendo sua casa, sua família, seus parentes
ger ninguém, mas sim reprimir os trabalhadores e, com e vizinhos. Nos locais de trabalho, numa empre-
isso, evitar que estes se levantem, se insurjam contra a sa pública por exemplo, os próprios trabalhadores
opressão da burguesia (veja mais aqui). escolhem quais trabalhadores formarão o comitê
de defesa da instituição. A quantidade de agentes, sia, e por conseguinte as instituições do Estado
o treinamento e armamento utilizado são aspec- burguês como a polícia e o judiciário, nunca irão
tos que devem ser decididos pelo conselho dos fazer, pois esta é uma classe inimiga dos traba-
moradores ou conselho profissional. Decidir, por lhadores, exploradora, que vive e se mantém
exemplo, se um comitê de autodefesa de uma es- poderosa graças à exploração, ao esmagamento
cola infantil, de uma creche, deve estar armada ou que faz sobre os trabalhadores.
não, se deve ser feita por homens ou mulheres etc. Finalmente, é preciso superar a política pacifista
Detalhes que só os moradores e usuários destes que setores da esquerda praticam desorientando
espaços sabem avaliar e decidir. e gerando confusão entre os trabalhadores. Do
O direito à autodefesa, ao armamento do povo mesmo jeito que para acabar com a fome, com o
e sua organização são necessidades urgentes, desemprego, é preciso uma luta contra as políticas
não são “planos” para uma sociedade futura. O de destruição econômica da direita, para acabar
genocídio dos jovens negros, dos trabalhadores com a violência (a qual é fruto da exploração da
rurais, dos índios, as chacinas nas periferias so- burguesia) é preciso lutar pelo fim polícia, pelo fim
bre a parte mais pobre da população somente do aparato de repressão do Estado (leis antidemo-
terá fim com essas organizações. Com comitês cráticas, decisões judiciais ilegais e impopulares)
de autodefesa que começarão a suprir a neces- lutando já pelo armamento, organização e autode-
sidade de segurança, de proteção que a burgue- fesa dos trabalhadores.
Ar gos do New-York Daily Tribune, Die Presse e outros (1861-1865)
1. “Quem se desculpa, se acusa”. Em francês no 4. Termo técnico na filosofia de extração hegeliana, conjugado a
Notas original. par r do verbo au eben.
2. Palco da primeira batalha da Guerra Civil Americana. Resultou na 5. De fato, escravistas de estados vizinhos viajavam em massa para
vitória dos Estados Confederados. territórios recém-adquiridos como o Kansas e, fingindo ser habitantes
locais, votavam em prol da causa escravista. Essa medida foi um dos es-
3. Ambos são locais simbólicos da causa da liberdade da topins para a organização de uma resistência violenta por parte de John
opressão britânica. O Faneuil Hall, um prédio localizado na Brown contra os escravistas, iniciando a chamada Guerra do Kansas.
praça do mercado central de Boston, foi utilizado pela ala
mais radical dos revolucionários americanos, encabeçada por 6. Interjeição u lizada em um jogo de cartas famoso na época, que
Samuel Adams e James Otis, como ponto de encontro e dis- precedeu nosso truco. O que Marx está dizendo: o par do escravocrata
cussão de estratégias anticoloniais. estava jogando todas as suas cartas, pondo tudo a perder.
Cultura
No ajuste de contas…
ou Manifesto maximalista
11 de maio de 1918
Lima Barreto
A nossa burguesa finança governamental só sabem, melhor que o imperador Vespasiano, que o
conhece dois remédios para equilibrar os orça- dinheiro não tem cheiro. Partem desse postulado
mentos: aumentar os impostos e cortar lugares de que lhes remove muito obstáculo e muitas dificul-
amanuenses e serventes. Fora desses dois palia- dades e chegam até às latrinas, como aconteceu o
tivos, ela não tem mais beberagem de feiticeiro ano passado.
para curar a crônica moléstia do déficit. Essa pesada massa de impostos, geralmente
Quanto ao cortar lugares, é engraçado o que se sobre gêneros de primeira necessidade, devendo
passa na nossa administração. Cada ministro, e ser democraticamente igual para todos, vem ver-
quase anualmente, arranja uma autorização para dadeiramente recair sobre os pobres, isto é, sobre
reformar o seu ministério. De posse dela, um, por a quase totalidade da população brasileira, que é
exemplo, o da Guerra, realiza a sua portentosa de necessitados e pobríssimos, de forma que as
obra e vem cá para fora taxas dos Colberts
blasonar que fez uma da nossa represen-
economia de sessenta tação parlamentar
e nove contos, enquan- “Desde que o governo da conseguem esta coi-
to o do Exterior, por sa maravilhosa, com
exemplo, com a sua au- República ficou entregue as suas medidas fi-
mentou as despesas de nanceiras: arranham
sua pasta em mais de à voracidade insaciável superficialmente os
cem contos. ricos e apunhalam
Cada secretário do
presidente concebe
dos polí cos de São mortalmente os po-
bres. Pais da pátria!
que governo é só e uni-
camente o seu respec-
Paulo, observo que o Desde que o go-
verno da República
tivo ministério e cada
qual puxa a brasa para
seu desenvolvimento ficou entregue à vo-
racidade insaciável
a sua sardinha.
Cabia ao presidente
econômico é guiado pela dos políticos de São
Paulo, observo que
coordenar estes mo-
vimentos desconexos,
seguinte lei: tornar mais o seu desenvolvi-
mento econômico é
ajustá-los, conjugá-los;
mas ele nada faz, não
ricos os ricos; e fazer guiado pela seguinte
lei: tornar mais ricos
intervém nas reformas
e deixa correr o mar-
mais pobres os pobres” os ricos; e fazer mais
pobres os pobres.
fim, para não perder São Paulo tem
o precioso tempo que muita razão e pro-
tem de empregar em satisfazer os hipócritas ma- cede coerentemente com as suas pretensões; mas
nejos dos caixeiros da fradalhada obsoleta ou em devia ficar com os seus propósitos por lá e deixar-
pensar nas coisas de sua politiquinha de aldeola. -nos em paz. Eu me explico. Os políticos, os jorna-
Enquanto as reformas com as hipotéticas eco- listas e mais engrossadores das vaidades paulistas
nomias são em geral obra dos ministros, o aumen- não cessam de berrar que a capital de São Paulo
to de imposto parte, em geral, dos nossos finan- é uma cidade europeia; e é bem de ver que uma
ceiros parlamentares. Eles torram os miolos para cidade europeia que se preza não pode deixar de
encontrar meios e modos de inventar novos; e, oferecer aos forasteiros o espetáculo de miséria
como bons burgueses que são, ou seus prepostos, mais profunda em uma parte de sua população.
São Paulo trabalha para
isso, a fim de acabar a sua
flagrante semelhança com
Londres e com Paris; e po-
dem os seus eupátridas
estar certos que ficaremos
muito contentes quando
for completa, mas não
se incomodem conosco,
mesmo porque, além de
tudo, nós sabemos com
Lord Macaulay que, em
toda a parte, onde exis u
oligarquia, ela abafou o
desenvolvimento do gê-
nio.
Entretanto, não atribui-
rei a todos os financeiros
parlamentares que têm
proposto novos impostos
e aumento dos existentes;
não atribuirei a todos eles,
dizia, tenções malévolas
ou desonestas. Longe de
mim tal coisa. Sei bem que
muitos deles são levados a
empregar semelhante pa-
naceia, por mero vício de
educação, por fatalidade
mental que não lhes per-
mite encontrar os remé-
dios radicais e infalíveis
para o mal de que sofre a
economia da nação.
Quando se tratou aqui
da abolição da escrava-
tura negra, deu-se fenô-
meno semelhante. Houve
homens que por sua gene-
rosidade pessoal, pelo seu
procedimento liberal, pelo
conjunto de suas virtudes
privadas e públicas e al-
guns mesmo pelo seu san-
gue, deviam ser abolicio-
nistas; entretanto, eram
escravocratas ou queriam
a abolição com indeniza-
ção, sendo eles mais res-
peitáveis e temíveis inimi-
gos da emancipação, por
não se poder suspeitar
da sua sinceridade e do
seu desinteresse.
É que eles se haviam convencido desde meni- têm um palmo de terra para fincar quatro paus e
nos, tinham como artigo de fé que a propriedade erguer um rancho de sapê, cultivando nos fundos
é inviolável e sagrada; e, desde que o escravo era uma quadra de aipim e batata-doce.
uma propriedade, logo… As fazendas, naturalmente, estarão abandona-
Ora, os fundamentos da propriedade têm sido das; por muito favor, ele ou seus caixeiros permi-
revistos modernamente por toda a espécie de tirão que os desgraçados locais lá se aboletem,
pensadores e nenhum lhe dá esse caráter no in- mas estes pobres roceiros que nelas vegetam, não
divíduo que a detém. Nenhum deles admite que se animam a desenvolver plantações, a limpá-las
ela assim seja nas mãos do indivíduo, a ponto de do mato, do sapê, da vassourinha, do carrapicho,
lesar a comunhão social, permitindo até que meia porque, logo que o fizerem, o dono vendê-las-á a
dúzia de sujeitos espertos e sem escrúpulos, em bom preço e com bom lucro sobre a hipoteca com
geral fervorosos católicos, monopolizem as terras que a obteve, sendo certo que o novo proprietário
de uma província inteira, títulos de dívida de um expulsá-los-á das terras por eles beneficiadas.
país, enquanto o Estado esmaga os que nada têm Na Idade Média e, mesmo no começo da Idade
com os mais atrozes impostos. Moderna, os camponeses de França tinham contra
A propriedade é social e o indivíduo só pode e semelhantes proprietários perversos que deixa-
deve conservar, para ele, de terras e outros bens, vam as suas terras en friche, o recurso do haro, e
tão-somente aquilo que precisar para manter a mesmo se apossavam delas para cultivá-las; mas a
sua vida e de sua família, devendo todos trabalhar nossa doce e resignada gente da roça não possui
da forma que lhes for mais agradável e o menos essa energia, não tem mesmo um acendrado amor
possível, em benefício comum. à terra e aos trabalhos agrícolas e procedem como
Não é possível compreender que um tipo bron- se tivessem lido o artigo XVII da Declaração dos
co, egoísta e mau, residente no Flamengo ou em Direitos do Homem.
São Clemente, num casarão monstruoso e que não O que se diz com relação à propriedade imóvel,
sabe plantar um pé de couve, tenha a proprieda- pode-se dizer para a móvel. Creio que é assim que
de de quarenta ou sessenta fazendas nos estados os financistas denominam as apólices, moedas, tí-
próximos, muitas das quais ele nem conhece nem tulos, etc.
as visitou, enquanto, nos lugares em que estão O povo, em geral, não conhece esta engrenagem
tais latifúndios, há centenas de pessoas que não de finanças e ladroeiras correlativas de bancos,
companhias, hipotecas, cauções, etc.; e quando, e ir ainda uma vez levá-lo em pessoa ao Senhor
como atualmente, se sente esmagado pelo preço Venceslau Brás.
dos gêneros de primeira necessidade, atribui todo O caso das apólices é muito semelhante ao da
o mal ao taverneiro da esquina. escravatura na geração anterior à nossa. É um
Ele, o povo, não se pode capacitar de que a atu- ônus que, em geral, herdamos das gerações passa-
al alta estrondosa do açúcar é obra pura e simples das. Não garanto; mas, parece-me que ainda paga-
do Zé Bezerra e desse Pereira Lima que parece ter mos juros de apólices emitidas em 1867; e mesmo
sido discípulo dos jesuítas, com a agravante de que que isto não seja inteiramente verdade, deve ser
o primeiro foi e o segundo é ainda ministro de Es- aproximadamente, porquanto, de onde em onde,
tado, cargo cuja natureza exige de quem o exer- o governo, por isso ou aquilo, as substitui por ou-
ce o dever de velar, na tras, continuando,
sua esfera de ação, pelo as novas, a serem
bem público e para a fe-
licidade da comunhão. “Não é possível virtualmente as ve-
lhas que aquelas
Não estará tal coisa
nas leis ou nos regula- compreender que um po substituíram.
Mirabeau, res-
mentos; mas, eviden-
temente, se contém na bronco, egoísta e mau, pondendo às obje-
ções feitas a refor-
essência de tal função mas radicais que
administrativa. residente no Flamengo ou rompiam totalmen-
Bastiat, nas suas te com o passado,
Mélanges d’Économie em São Clemente, num teve na Assembleia
Politique, tem um inte- Constituinte de 89,
ressante capítulo, inti- casarão monstruoso e que uma comparação
tulado – “O que se vê e eloquentíssima. Se
o que não se vê”. Pouco não sabe plantar um pé de todos os nossos an-
ou nada se relaciona tepassados, dizia
com o nosso assunto; couve, tenha a propriedade ele, ocupassem com
mas citei-o, porque foi os seus túmulos a
a sua leitura que me fez de quarenta ou sessenta superfície total da
considerar e analisar Terra, nós, os atuais
melhor certos fatos e fazendas nos estados habitantes, teríamos
não ficar como o grosso todo o direito de de-
do povo preso “ao que próximos, (...), enquanto, senterrar os seus os-
se vê”, sem procurar a sos, para cultivar os
verdadeira explicação nos lugares em que campos, criar gado,
no “que não se vê”. tirar da terra, enfim,
É difícil imaginar, estão tais la fúndios, há a nossa subsistên-
para quem se atém cia.
unicamente “ao que se centenas de pessoas que Cito de memória;
vê”, como esse negócio mas, julgo não ter
de apólices é o cancro não têm um palmo de terra deturpado o pen-
do orçamento e a fon- samento do grande
te de todos os nossos
males, provocados pelo
para fincar quatro paus e conde de Mirabeau,
o qual vem esclare-
critério supersticioso
que têm os nossos fi-
erguer um rancho de sapê” cer o meu, quando
não quero aceitar
nancistas sobre a pro- uma carga injusta
priedade privada. dos nossos pais e lembro que essa obrigação her-
Poderia encher isto aqui de algarismos, obtidos dada por nós de pagar prêmios de apólices de
nos relatórios pantafaçudos ou nas tabelas do or- empréstimos de que as gerações passadas abu-
çamento, para provar o que digo; mas deixo essa saram, deve cessar inteiramente, pois é tal verba
difícil exibição sabichona para o Senhor Oto Pra- orçamentária que nos esmaga de impostos e faz a
zeres, a fim de que ele possa fazer mais um livro nossa atual vida dificílima, mais ainda do que os
estancos de Limas Pereiras, Bezerras e caterva. valor dessas apólices, pediria fossem elas cance-
No próprio ponto de vista dos usurários e trucu- ladas e não continuassem a vencer prêmios e a
lentos capitalistas, a apólice é um mal, é um capital vultosa quantia empregada no pagamento deles,
imobilizado que não concorre para o desenvolvi- cerca de sessenta mil contos, sendo suprimida do
mento do país; pois quem tem poucas, guarda-as, orçamento, serviria para aligeirar os impostos que
para receber juros como achego; e quem tem mui- oneram a carne-seca e outras utilidades indispen-
tas, guarda-as também, para não fazer nada e vi- sáveis à vida de quase a totalidade dos habitantes
ver do rendimento. do país.
Contaram-me que há uma senhora que é pos- Outra medida que se impõe, é o confisco dos
suidora de duas mil apólices de conto de réis; tem bens de certas ordens religiosas, bens que repre-
ela, portanto, a cinco por cento, o rendimento sentam dádivas e ofertas da piedade, ou quer que
anual de cem contos de réis. Vive na Europa e não seja, de várias gerações de brasileiros e agora es-
vem ao Brasil, há perto de trinta anos. Não gas- tão em mãos de estranhos, porque os nacionais
ta aqui um tostão, não dá aqui uma esmola, não não querem ser mais frades. Voltem à comunhão
paga um criado aqui e recebe quase tanto quanto os bens.
o presidente da República, sem contar com a verba Pode-se admitir que os conventos sejam asilos
“representação”, aliás, sempre aumentada. de crentes de ambos os sexos que se desgostaram
Se o povo “visse”, se o povo soubesse, como no com o mundo. Admito, na minha tolerância que
caso da senhora, que nós já pagamos em juros o quisera bem ser renaniana; mas os estatutos des-
sas ordens não deixam perceber isso. Para os
conventos de freiras, para as próprias irmãs de
São Vicente de Paula (sei que não são freiras),
não se entra sem um dote em dinheiro, sem
um caríssimo enxoval, e, afora exigências de
raça, de sangue e família.
Só se desgosta com o mundo, só tem ânsia
de ser esposa de Jesus ou praticar a profunda
caridade vicentina, as damas ricas e brancas,
como a Nossa Senhora da Aparecida, de São
Paulo. É mesmo católica essa religião?
Nos mosteiros de frades, é a mesma coisa e,
sabido como todos eles são ricos, não se apre-
ende para que exigem tanta despesa dos novi-
ços, criando dificuldades para iniciação monás-
tica, quando o interesse da religião estava em
facilitá-la. Há quem suspeite que esse dinheiro
todo, os santos monges pretendem empregá-
-lo para a nossa desunião… O tempo nos dirá o
que for verdade…
Um governo enérgico e oriundo do povo que
surgir tem o dever de confiscar esses bens, de
retalhar as suas imensas fazendas, de aprovei-
tar os seus grandes edifícios para estabeleci-
mentos públicos e vender, assim como as ter-
ras divididas, os prédios de aluguel que essas
ordens possuem, em hasta pública.
A confiscação desses bens obriga, para ser a
medida completa, o governo a suprimir intei-
ramente todos os colégios de religiosos de am-
bos os sexos, sobretudo os destinados a moças
ricas, por intermédio dos quais o clero acaba
dominando os seus futuros maridos ou aman-
tes; e, sabendo-se que estes são, em geral, pes-
soas poderosas e em altos cargos, a gente de
sotaina pretende, desse modo, influir decisiva-
mente nos atos dos poderes políticos do país e
obter a nossa completa regressão aos áureos
tempos das fogueiras e do beatício hipócrita.
Há mais.
Uma das mais urgentes medidas do nosso
tempo é fazer cessar essa fome de enriquecer
característica da burguesia que, além de todas
as infâmias que, para tal, emprega, corrom-
pe, pelo exemplo, a totalidade da nação. Para
amontoar milhões, a burguesia não vê óbices
morais, sentimentais nem mesmo legais. Toca
para adiante, passa por cima de cadáveres, tro-
peça em moribundos, derruba aleijados, enga- Facebook: Cole vo de Negros João Cândido
na mentecaptos; e desculpa-se de todas essas h ps://www.facebook.com/cole vojoao
baixezas, com a segurança da vida futura dos E-mail: joaocandidopco@gmail.com
filhos. Não encontraria mais motivo para pro- Telefone para contato: (11) 95208-8335
ceder dessa maneira, mais infame do que o dos Instagram: @joaocandido.pco
antigos salteadores dos grandes caminhos, se
riscássemos do Código Civil o direito de testar, e Condorcet, nas suas Réflexions sur l’Esclavage des
as fortunas, por morte dos seus detentores, vol- Nègres; quanto a tais chacais e hienas a serviço
tassem para o Estado; e nisto, imitaríamos os seus dos burgueses, eu tomo a liberdade de dizer-lhes
maiores, os burgueses da Revolução Francesa, que, tarde ou cedo, sem eles ou com eles, há de
que golpearam pro- se fazer uma reforma
fundamente a nobre- social contra “o Direi-
za, estabelecendo a to” de que são sacer-
igualdade de herança “Terminando este dotes, pois o seu deus
entre os filhos. O feu- já está morto no cora-
do, o castelo desapa- ar go que já vai ficando ção da massa humana
receram, pois a fortu- e só falta enterrá-lo,
na deixou de passar longo, confesso que foi com o seu cortejo de
intacta ou quase in- apostilas e sebentas,
tacta, do marquês a Revolução Russa que de consolidações e
para o seu filho mais manuais, não levando
velho. me inspirou tudo isso” tal enterro senão as
Todas estas me- grinaldas dos arqueó-
didas têm caráter fi- logos, antiquários, ge-
nanceiro, sem deixar de ter social; mas, a que me ólogos e paleontólogos. Requiescat in pace!
parece, mais urgente, é uma reforma radical do Muitas outras medidas radicais me ocorrem,
casamento, medida puramente social. como sejam: uma revisão draconiana nas pensões
Eu sou por todas as formas de casamento; não graciosas, uma reforma cataclismática no ensino
me repugna admitir a poligamia ou a poliandria; público, suprimindo o “doutor” ou tirando deste
mas transigiria se fosse governo. Continuaria a a feição de brâmane do código de Manu, cheio de
monogamia a ser a forma legal do matrimônio, privilégios e isenções; a confiscação de certas for-
mas suprimiria toda essa palhaçada de pretoria ou tunas, etc., etc.
juizado de paz. O Estado só interviria para proces- Iremos, porém, devagar e por partes; e, logo
sar e condenar o bígamo; tudo o mais correria por acabada esta guerra que é o maior crime da huma-
conta das famílias dos nubentes. Os pais é que se nidade, quando os filhos e os outros parentes dos
encarregariam do processo, hoje chamado – “pa- pobres-diabos que lá estão morrendo às centenas
péis de casamento” –, e das cerimônias que fos- de milhares, ou se estropiando, tiverem de ajus-
sem do seu gosto realizar; e o Estado só saberia do tar contas com esta burguesia cruel, sem caridade,
“caso”, como atualmente, com o nascimento, por piedade e cavalheirismo, que enriqueceu e está se
comunicação escrita das partes, para o competen- enriquecendo de apodrecer, com esse horroroso
te registro. Não haveria nunca comunhão de bens; crime, nós, os brasileiros, devemos iniciar a nossa
a mulher poderia soberanamente dispor dos seus. Revolução Social, com essas quatro medidas que
O divórcio seria completo e podia ser requerido expus. Será a primeira parte; as outras, depois.
por um dos cônjuges e sempre decretado, mesmo Terminando este artigo que já vai ficando longo,
que o motivo alegado fosse o amor de um deles confesso que foi a Revolução Russa que me inspi-
por terceiro ou terceira. rou tudo isso.
A muitos leitores parecerão absurdas essas Se Kant, conforme a legenda, no mesmo dia em
ideias; não pretendo convencer desde já todos, que a Bastilha, em Paris, foi tomada; se Kant, nesse
espero que o tempo e o raciocínio irão despertar dia, com estuporado assombro de toda a cidade de
neles simpatia por elas e a convicção da sua utili- Koenigsberg, mudou o itinerário da excursão que,
dade social. há muitos anos, fazia todas as manhãs, sempre e
Apelo para todos aqueles que não têm a su- religiosamente pelo mesmo caminho – a comoção
perstição da lei, dos códigos, dos praxistas, dos social maximalista tê-lo-ia hoje provocado a fazer
acórdãos, dos arestos, do Pegas, do Lobão, das Or- o mesmo desvio imprevisto e surpreendente; e
denações e outros alfarrábios caducos; e quanto também a Goethe dizer, como quando, em Valmy,
aos doutores do Direito que estão envenenados, viu os soldados da Revolução, mal-ajambrados e
intoxicados até à medula, com tudo o que decor- armados, de tamancos muitos, descalços alguns,
re do sinistro e cruel direito romano, codificado, destroçarem os brilhantes regimentos prussianos
em grande parte, por um tirano das margens do – dizer, diante disto, como disse: “A face do mundo
Propôntida e pela prostituta sua mulher, como diz mudou.”. Ave Rússia!
A imprensa revolucionária cumpre um
papel essencial na luta polí ca, por meio
dela se difunde o programa revolucio-
nário e as massas se agrupam para lutar
por ele, além de promover a elevação
cultural das massas e combater as
men ras e per dias dos monopólios da
imprensa capitalista. Com esse espírito
que o Cole vo de negros João Cândido,
do Par do da Causa Operária (PCO),
concebeu sua revista mensal,
a Revista João Cândido.