FADA ROCK

TEXTO DE ZECA CAPELLINI E CLAUDIA DALLA VERDE

MÚSICAS DE VLADIMIR CAPELLA

PERSONAGENS

FADA ROCK
PLIC
PLOC
QUICA
TOTA
ZÉ AUGUSTO
PREFEITO
ESCRIVÃO
SEU SANTINO

CENA I

(TODOS EM CENA, MENOS FADA ROCK. NUM PALANQUE, PREFEITO E ESCRIVÃO.

COMO PÚBLICO, AS CRIANÇAS E AS IRMÃS PLIC E PLOC. FAIXA QUE DIZ: “BREVE
NESTE LOCAL - PRAÇA MUNICIPAL CORONEL PLOC. HOMENAGEM DE PLOCÓPO-
LIS AO SEU BENFEITOR. ADMINISTRAÇÃO GLÁUCIO SALIM SIMÃO)

PREFEITO – Povo de Plocópolis. Para princípio de papo pronunciarei em poucas pala-

vras proferidas pelo professor Pedro Paulo Pacífico de Paula, parapsicólogo, psiquiatra e
professor de patologia. Para Plocópolis progredir e para participar prontamente do pro-
cesso de parlamentarismo profissionalmente passional, é preciso que o povo prenda os
princípios presentes dos profetas paspalhões que pregam que as pedras das pedreiras
podem padecer e perder seu poder de provar o principal período polar pacificamente pre-
gados nos pedregulhos presos nas pessoas propícias a pressentimentos de panes popu-
lares da pequena população plocopolense... E finalizando essa solenidade , (pausa) en-
tregamos ao povo de Plocópolis a escritura de doação desse terreno. Escrivão, a escri-
tura.

ESCRIVÃO – (ABRINDO O LIVRO DE REGISTROS) Sumiu!

PREFEITO – Como sumiu?

ESCRIVÃO – Sumindo!

(OHS GENERALIZADOS. BUCHICHOS)

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PREFEITO – Em virtude do sumiço da escritura desse terreno doado pelo ilustre Coronel
Ploc – que Deus o tenha! – o mesmo retorna para as suas filhas e herdeiras, as senhori-
tas Plic e Ploc. Assim sendo, o projeto para a construção da praça municipal ficará enga-
vetado até o aparecimento da mesma. E tenho dito.

(SAEM TODOS, MENOS PLIC E PLOC)

PLIC – (TIRANDO A ESCRITURA DO DECOTE) Suma com isso. Rápido!

PLOC – (DE OLHOS ESBUGALHADOS) Como? Ah, sim, sim, maninha! (PERFILANDO-
SE) Se é pro bem da família Ploc...

PLIC E PLOC – (CANTANDO)

Já dizia o Coronel Ploc

Bom mesmo é ter e mandar
Na nossa família o enfoque
É ganhar, ganhar, ganhar
Ganhar, ganhar

Ganhar dinheiro, ganhar prestígio

Ganhar o jogo, ganhar o pão
Ganhar a causa e o prejuízo
Passar pros bobos, competição
Competição!

Ganhar os outros, ganhar o chão

Passar por cima e se for preciso
Ganhar na marra e forçar a mão
Forçar a mão!

(PLIC E PLOC RETIRAM A FAIXA DO PALANQUE E SAEM TRIUNFANTES)

CENA II

(ENTRA FADA ROCK COM MOCHILA E VIOLÃO À TIRACOLO. SENTA-SE NO CHÃO E

FAZ UM PIQUENIQUE NATURAL. QUICA, TOTA E ZÉ AUGUSTO ENTRAM PROCU-
RANDO)

QUICA – Vocês acham que vamos conseguir encontrar a escritura?

TOTA – Não custa procurar.

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ZÉ AUGUSTO – Querem saber? Eu vou pra casa.

TOTA – Ajuda, vá. Ela pode tá caída por aqui. (VÊ FADA) Moça, você não viu um papel
vermelho com um carimbo dourado?

FADA ROCK – Vi não.

QUICA – Não falei que é besteira continuar procurando?!

ZÉ AUGUSTO – Eu vou almoçar

FADA ROCK – Almoço eu não tenho, mas se vocês quiserem pão integral com mel com
um suquinho de maracujá!...

ZÉ AUGUSTO – Eu não como nada fora de casa.

TOTA – Não sabe o que tá perdendo!

QUICA – (SENTA) Sabe, aqui vai ser uma praça. Vai ter árvore, banco, laguinho, coreto...

FADA ROCK – Coreto? Legal! Eu poderia até fazer um show.

TOTA – (LAMBUZADO DE MEL) Você faz show?

ZÉ AUGUSTO – Era o que faltava! Uma roqueira.

FADA ROCK – Pois é, meu nome é Fada Rock. E vocês, como se chamam?

QUICA – Eu sou Quica.

TOTA – Tota.

ZÉ AUGUSTO – Zé Augusto.

FADA ROCK – Muito prazer. Que tal eu inaugurando a praça com um big show?

QUICA – Legal, você tá contratada!

ZÉ AUGUSTO – Isso se acharem a escritura...

FADA ROCK – Como assim?

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QUICA – É que sem a escritura, o terreno volta prás irmãs Plic e Ploc. Aí em vez de
praça, a gente vai ter um shopping center.

FADA ROCK – Por mim, tudo bem, eu não me importo. Eu toco em shopping também.

ZÉ AUGUSTO – Que nada! A praça é do povo, mas o shopping é das irmãs Plic e Ploc. E
elas odeiam rock. Elas nem podem ver um violão que quebram e pisam em cima.

TOTA – Ah, mas nós vamos achar a escritura e vamos ter a praça.

FADA ROCK – Vocês têm razão. Praça é ótimo. Acho que vocês nem sabem como é
uma praça. (CANTANDO) O que é que tem na praça?

(ENTRAM PLIC E PLOC CANTANDO)

Tem grama seca

Vendedor de couro
Laguinho sujo
E cocô de cachorro

CRIANÇAS

As alamedas
E tem uma fonte
Um coretinho
E tem uma ponte

FADA ROCK – E quem precisa de praça?

PLIC E PLOC

Os vagabundos
E as fofoqueiras
Os desempregados
E as namoradeiras

CRIANÇAS

Os sorveteiros
Os aposentados
As babás
E os namorados

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FADA ROCK – E o que se faz na praça?

PLIC E PLOC

Ajuntamentos
Festival de rock
Nada que interesse
À família Ploc

CRIANÇAS

Quermesse
Festival de rock
E se fala mal
Da família Ploc

FADA ROCK – O que é que tem na praça?

(PLOC PUXA PLIC PARA UM CANTO E SUSSURA)

PLOC – Foi nesse violão que eu escondi a escritura.

PLIC – Mas por que você não rasgou, queimou e engoliu as cinzas?

PLOC – Não pensei nisso.

PLIC – (SE APROXIMA DE FADA ROCK) Eu quero esse violão. Vamos, passa pra cá.

FADA ROCK – Não, vocês vão quebrar e pisar em cima do meu violão...

PLOC – Mas é claro que vamos fazer isso...

PLIC – (PUXA PLOC PELO COLARINHO) Não, minha querida, não acredite em tudo que
lhe dizem... Nós adoramos violão... Quanto você quer por esse?

FADA ROCK – O que? Roqueira sem violão? Vocês estão malucas... Se quiserem eu
posso no máximo, dar uma canja.

PLIC E PLOC – Não, não, por favor, não toque!

PLOC – Pode cair a escritu... (PLIC TAPA A BOCA DA IRMÃ)

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(FADA ROCK COMEÇA A TOCAR, MAS SÓ PRODUZ SONS DISSONANTES E AS IR-

MÃS FICAM PARALISADAS)

QUICA – Rápido, rápido! Elas não podem se mexer. Vamos revistá-las, que a escritura
deve estar com elas.

(AS CRIANÇAS REVISTAM AS IRMÃS, MAS FADA ROCK, DESCONTENTE COM O

SOM, ENTRA EM DEPRESSÃO E PÁRA DE TOCAR, VOLTANDO LENTAMENTE AO
NORMAL. AS IRMÃS SE LIBERTAM, ENXOTAM AS CRIANÇAS E SE RETIRAM COM
DIGNIDADE)

ZÉ AUGUSTO – Que foi agora?

FADA ROCK – Bem, é um probleminha que eu tenho... Sozinha, eu toco numa boa, mas
na frente dos outros eu, ó. (POLEGAR PRA BAIXO)

TOTA – E como você faz no seu show?

FADA ROCK – Não sei...

ZÉ AUGUSTO – Como, não sabe?

FADA ROCK – É que eu nunca fiz nenhum show.

ZÉ AUGUSTO – Era o que faltava. Sem praça e com uma roqueira deprimida.

TOTA – Nada me tira da cabeça que a escritura está com as irmãs.

QUICA – Fada Rock, tem como ajudar a gente?

FADA ROCK – Tamos aí, mas como?

(QUICA OLHA EM VOLTA E PUXA FADA ROCK PARA O CANTO. POR TRÁS DE ZÉ
AUGUSTO E TOTA, ENTRA PLOC DISFARÇADA DE MOITA, TENTANDO ALCANÇAR
O VIOLÃO)

QUICA – Meninos, fiquem um pouco aí. Vamos fazer assim, ó... (COCHICHA NO OU-
VIDO DE FADA ROCK)

FADA ROCK – Joia Quica, se eu ficar de costas e fechar os olhos... (RISADINHAS)

(FOCO EM TOTA E ZÉ AUGUSTO)

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TOTA – O que elas estão falando, hein?

ZÉ AUGUSTO – Não me deixaram ouvir. Frescuras... (TENTA OUVÍ-LAS DE LONGE)

TOTA – Olha, Zé Augusto...

ZÉ AUGUSTO – Chiu!!!

(FOCO EM FADA ROCK E QUICA)

FADA ROCK – Mas eu não sei tocar...

QUICA – Fale mais baixo... Olha... (COCHICHA)

(FOCO EM TOTA E ZÉ AUGUSTO)

TOTA – (PARA SI PRÓPRIO) Ah, se eu fosse grande!...

ZÉ AUGUSTO – Pare de resmungar e vê se pesca alguma coisa...

(FOCO EM FADA ROCK E QUICA)

QUICA – Entendeu?

FADA ROCK – Entendi. Se tiver bem escuro e se ninguém...

(FOCO EM TOTA E ZÉ AUGUSTO)

ZÉ AUGUSTO – Ai, meu Deus!

TOTA – Se eu fosse grande e forte eu ia lá...

(FOCO EM QUICA E FADA ROCK)

QUICA – Isso eu garanto, olha... (COCHICHA)

(FOCO EM TOTA E ZÉ AUGUSTO)

TOTA – ...pegava aquelas duas bruxas e chutava elas.

(CHUTA PLOC, SEM PERCEBER QUE ELA É A MOITA)

ZÉ AUGUSTO – Sei, sei!

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(FOCO EM FADA ROCK E QUICA)

FADA ROCK – Tudo bem, tudo bem, já entendi... (COCHICHA)

(FOCO EM TOTA E ZÉ AUGUSTO)

TOTA – Cuspia nelas! (COSPE NA MOITA)

ZÉ AUGUSTO – Aí, mocinho!

(FOCO EM FADA ROCK E QUICA)

QUICA – Isso aí. (AS DUAS DÃO RISADINHAS E OLHAM PROS MENINOS)

(FOCO EM TOTA E ZÉ AUGUSTO)

TOTA – Botava fogo nelas.

(RISCA UM FÓSFORO E APROXIMA DA MOITA. PLOC PÕE A CABEÇA PRA FORA E

APAGA O FOGO. FOCO EM FADA ROCK E QUICA)

FADA ROCK – Vamos chamar eles agora?

QUICA – Tá. Crianças!

(FOCO EM TOTA E ZÉ AUGUSTO)

ZÉ AUGUSTO – Já acabaram, madames?

FADA ROCK – Já podem vir.

(FOCO EM TOTA E ZÉ AUGUSTO)

TOTA – Botava fogo nelas! (MESMA COISA)

(FOCO EM FADA ROCK E QUICA)
QUICA – (FAZENDO CHARME) Zé Augusto, venha aqui um instantinho pra ver se aprova
o nosso plano...

(FOCO EM TOTA E ZÉ AUGUSTO)

TOTA – Botava fogo nelas! (MESMA COISA)

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ZÉ AUGUSTO – Oh, Tota, pare de maltratar a coitada da moita e vamos lá. Não vê que
elas precisam de uma força masculina?

(FADA ROCK, QUICA, TOTA E ZÉ AUGUSTO FAZEM UMA RODA NO CENTRO DO

PALCO E COMBINAM. DESMANCHAM A RODA)

FADA ROCK – (PARA TOTA) Hoje à noite, onde?

TOTA – (PARA ZÉ AUGUSTO) Hoje à noite, onde?

ZÉ AUGUSTO – (PARA QUICA) Hoje à noite, onde?

QUICA – (PARA ZÉ AUGUSTO) Na Rua Sinistra, n.º 13.

ZÉ AUGUSTO – (PARA TOTA) Na Rua Sinistra, n.º 13.

TOTA – (PARA FADA ROCK) Na Rua Sinistra, n.º 13.

FADA ROCK – (PARA TOTA) Você tem certeza que lá tem sacada?

TOTA – (PARA ZÉ AUGUSTO) Você tem certeza que lá tem sacada?

ZÉ AUGUSTO – (PARA QUICA) Você tem certeza que lá tem sacada?

QUICA – (PARA ZÉ AUGUSTO) Absoluta.

ZÉ AUGUSTO – (PARA TOTA) Absoluta.

TOTA – (PARA FADA ROCK) Absoluta.

FADA ROCK – Falou, então. (SAI)

TOTA – Falou, então. (SAI)

ZÉ AUGUSTO – Falou, então. (SAI)

QUICA – (PARA A PLATÉIA) Falou, então. (SAI)

(ENQUANTO ESSA CENA SE DESENROLA, PLOC, ATRÁS DA MOITA TENTA À TODO

CUSTO PEGAR O VIOLÃO. APÓIA A MÃO NO CHÃO. FADA ROCK E AS CRIANÇAS,
AO SAÍREM PISAM EM SUA MÃO. PLOC SE CONTORCE DE DOR, MAS NÃO EMITE
NENHUM SOM. QUANDO TODOS SAEM, PLOC JOGA A MOITA NO CHÃO E SAI CHO-
RANDO. BLACK-OUT)

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CENA III

(LUZ SOBE EM RESISTÊNCIA COM O PALCO NA PENUMBRA. SACADA DA CASA

DAS IRMÃS PLIC E PLOC. UMA PLACA INDICANDO: RUA SINISTRA, N.º 13. ENTRA
FADA ROCK ACOMPANHADA PELAS CRIANÇAS, COM VIOLÃO)

FADA ROCK – (FAZENDO UMA SERENATA; CANTANDO)

Abre a janela, ó bela donzela

Abre a tramela, desse teu amor
Deixa o meu canto, perturbar o teu sono
Já que a tanto não ousa o cantor.

Tal qual a lua, pálida e serena

Tu me contemplas desse teu dossel
Sem emoção, sem coração, sem pena
Zombando um pouco do meu escarcéu.

Ah, não me deixes só na noite fria

Vagabundeando sôfrego de dor
Diga que és minha e eu te seguiria
Pra vida toda ou pra morrer de amor.

(ENQUANTO FADA ROCK CANTA, PLIC E PLOC APARECEM NA SACADA, ENLEVA-

DAS. AO VEREM FADA ROCK, PETRIFICAM-SE. AS CRIANÇAS PULAM A SACADA E
REVISTAM A CASA DURANTE A SERENATA. SURGE UM MONSTRO, QUE ATRA-
VESSA A CENA, INCOMODADO COM A MÚSICA. FADA ROCK, AO VÊ-LO, SE AS-
SUSTA E COMEÇA A TOCAR MAL. AS IRMÃS SE LIBERTAM, PERSEGUEM AS CRI-
ANÇAS E CONSEGUEM SEGURAR TOTA. FOGEM FADA ROCK, QUICA E ZÉ AU-
GUSTO)

PLIC – Mas que pouca vergonha! Você não é o filho da D. Aninha? Você vai ver só, seu
malandrinho. Ploc, telefone já pra ela e tranque esse menino no banheiro. Eu vou ver se
pego os outros e aquele maldito violão.

(MONTA NUMA VASSOURA E SAI EM DISPARADA. BLACK-OUT)

CENA IV

(AMANHECE. FADA ROCK, QUICA E ZÉ AUGUSTO ENTRAM, EXAUSTOS)

QUICA – Ufa, dessa escapamos!

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ZÉ AUGUSTO – Será que ela sabe nadar?

FADA ROCK – Quem???

ZÉ AUGUSTO – Ora, quem!!! A D. Plic. A última vez que eu vi, ela tinha caído no rio com
vassoura e tudo. (RI)

FADA ROCK – O problema foi que vocês demoraram demais...

QUICA – O problema, Fada Rock, é que você não cumpriu o nosso trato. Você tinha que
ter tocado esse violão até a gente sair da casa.

FADA ROCK – Mas ninguém me falou naquele monstro!

QUICA – O pior foi que elas prenderam o Tota.

ZÉ AUGUSTO – No mínimo, aquele idiota tropeçou no tapete.

FADA ROCK – Mesmo assim teria dado tempo dele escapar.

ZÉ AUGUSTO – Com o Tota lá dentro e essa incompetente fora, foi besteira até a gente
tentar... E agora eu vou embora. Precisamos ir pra escola, Quica, esqueceu?

FADA ROCK – Peraí, peraí, explica melhor esse “incompetente”.

QUICA – Deixa pra lá. Eu também tenho que ir depressa, porque se a minha mãe desco-
brir que passei a noite fora, eu levo uma surra. Tchau!

FADA ROCK – E eu nessa, como é que fico?

(QUICA E ZÉ AUGUSTO, QUE ESTAVAM DE SAÍDA, VOLTAM E DECLAMAM “A

CANÇÃO DA DESILUSÃO HUMANA”)

QUICA – Já que você perguntou, Fada Rock...

FADA ROCK – Mas eu não...

ZÉ AUGUSTO – e mesmo que não tivesse perguntado.

FADA ROCK – Vocês vão...

QUICA – Vamos dizer que você acabou...

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FADA ROCK – Mas isso é tão...

ZÉ AUGUSTO – acabou pra nós e tá falado.

FADA ROCK – Quer dizer que então...

QUICA – Nenhum adulto nunca acreditou...

FADA ROCK – Mas eu até dei uma mão...

ZÉ AUGUSTO – que Plic e Ploc tenham o papel roubado.

FADA ROCK – Pois é, eu em vão...

QUICA – Você até que nos ajudou...

FADA ROCK – E a condição...

ZÉ AUGUSTO – mas é como se não tivesse ajudado.

FADA ROCK – Ah, vocês estão...

QUICA – Estamos dizendo que o plano gorou...

FADA ROCK – Não...

ZÉ AUGUSTO – e o assunto tá liquidado.

FADA ROCK – Vocês foram no porão?

QUICA – Chega, acabou...

FADA ROCK – Vocês é que são...

ZÉ AUGUSTO – nosso contrato tá cancelado.

FADA ROCK – Me deixam assim, no chão?...

QUICA E ZÉ – Tchau, Fada Rock, e cuidado.

(SAEM)

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CENA V

(FADA ROCK, SÓ, CANTA A “BALADA DA ROQUEIRA QUE TOCA MAL”)

FADA ROCK

Ninguém ama uma roqueira que toca mal

Isso não passa de um problema profissional (BIS)

Já aconteceu antes com muita gente

Mas chegou a minha vez, então é diferente
Ninguém pra me ouvir, ninguém prá conversar
pra me dizer que é preciso superar, ninguém

Ninguém pra amar uma roqueira que toca mal

Isso não passa de um problema profissional

Mas se alguém desse uma força eu bem que poderia

Tocar pra multidão e não ficar tão fria
Eu sei, tenho talento
Mas de que adianta isso se eu me desalento, eu sei

Já aconteceu com muita gente, mas chegou a minha vez

Então é diferente, eu sei...

Ninguém ama uma roqueira que toca mal

Isso não passa de um problema profissional (BIS)

(TOCA E CANTA BEM. QUANDO TERMINA, OUVE PALMAS. ENTRA SEU SANTINO, O
LEITEIRO)

SEU SANTINO – Ma che brava ragazza! Mi recorda um merlo. Rita Lee!

FADA ROCK – O senhor gostou mesmo?

SEU SANTINO – Assai, la signorina dovevo fare um show.

FADA ROCK – Quer dizer que o senhor me viu e eu continuei cantando numa boa?

SEU SANTINO – Certo, bella!

FADA ROCK – Então, por favor, segura aqui este violão, que eu vou ali e já volto. Quica,
Zé Augusto, eu cantei bem, eu cantei bem!

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(SEU SANTINO OLHA O VIOLÃO. ENTRA PLOC PULANDO AMARELINHA)

PLOC – Bom dia, Seu Santino! Aí, hein? Tocando seu violãozinho?

SEU SANTINO – No, io, no, sono um vecchio. Questo violone é d’una bambina que me
lasció per tomare conta.

PLOC – Ah, é uma moça assim, dessa altura assim, com uma roupa assim e um cabelo
todo assim?

SEU SANTINO – Ecco.

PLOC – Ah, então eu conheço. O senhor pode deixar o violão comigo que eu entrego pra
ela.

SEU SANTINO – Ma...

PLOC – Vá, vá, Seu Santino, senão seu queijo vira leite... seu leite vira queijo... Ah, o
senhor entendeu... Eu fico com ele.

SEU SANTINO – Certo, signorina Ploc. Buon giorno e grazie. (SAI)

PLOC – (SEGURA O VIOLÃO COM AS MÃOS TRÊMULAS) Eu mal posso crer. Tanta
luta, tanto sacrifício e eis que tenho em mãos o nosso shopping center! A Plic vai ficar ver-
dinha de inveja quando souber que eu, euzinha, consegui o violão... Vou destruir esse ins-
trumento de tortura... Não! O pessoal ia desconfiar. Já sei: vou pegar a escritura. Oh, ad-
mirável mundo novo que será Plocópolis com o nosso shopping pop center!

(PÕE A MÃO NO VIOLÃO PARA PEGAR A ESCRITURA. NESSE MOMENTO APARE-

CEM QUICA E ZÉ AUGUSTO, COM O UNIFORME ESCOLAR, E FADA ROCK)

FADA ROCK – Sua ladrona! Querendo roubar meu violão... (PEGA O INSTRUMENTO)

ZÉ AUGUSTO – Agora trate de dizer onde tá escondida a escritura.

PLOC – Não!

FADA ROCK – D. Ploc, a senhora só sai daqui depois que disser onde tá a escritura da
praça.

PLOC – Não!

QUICA – E se telefonar pra D. Aninha mandando tirar o Tota do castigo.

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PLOC – Não!

ZÉ AUGUSTO – Vamos, fala logo, sua bruxa!

PLOC – Não!

(PLIC SURGE MONTADA NA VASSOURA)

PLIC – Monta aí, Ploc.

PLOC – Não!

(PLIC DÁ UM TAPA EM PLOC. IMEDIATAMENTE, MONTA NA VASSOURA E SAEM EM

DISPARADA. SAEM QUICA E ZÉ AUGUSTO. FADA ROCK SENTA-SE NO CHÃO E CO-
MEÇA A CHORAR. TEMPO. ENTRA TOTA, COM O UNIFORME ESCOLAR E COM CA-
DERNOS. ATRAVESSA A CENA. AO NOTAR A PRESENÇA DE FADA ROCK, FINGE
QUE NÃO A VÊ)

FADA ROCK – Tota! Tota! Tota!

(O MENINO OLHA PARA ELA E NÃO DEMONSTRA NENHUMA REAÇÃO. ELA SORRI
PARA ELE, QUE SEGUE O SEU CAMINHO. FADA ROCK OLHA PARA TODOS OS LA-
DOS E SAI, DEPRIMIDA)

CENA VI

(PORTA DA ESCOLA. PLIC ESPERA AS CRIANÇAS DISFARÇADA DE ANÃ)

PLIC – Ei, psiu, vocês três aí.

TOTA – Tão chamando a gente.

QUICA – (VÊ A ANÃ) O que será que essa anã quer?

ZÉ AUGUSTO – Eu não falo mais com desconhecidos. A última com quem conversamos
deu no que deu.

PLIC – Vocês ainda estão interessados naquela pracinha?

ZÉ AUGUSTO – Não.

PLIC – Ah, que pena! Eu queria propor um negociando pra vocês...

QUICA – Então diga logo que a gente tá com pressa.

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TOTA – É. Amanhã tem prova de OSPB e a gente precisa estudar.

PLIC – O negócio é o seguinte: eu consigo a escritura da praça pra vocês.

OS TRÊS – Como?

PLIC - Mas com uma condição: se vocês me entregarem, hoje, no fim da tarde, o violão
da Fada Rock.

TOTA - Mas ela não quer se desfazer dele.

PLIC - Não me interessa. Isso é problema de vocês. Consigam a violão e terão a escri-
tura da praça.

(SAEM AS CRIANÇAS. PLIC TIRA O DISFARCE E SAI)

CENA VII

(AS CRIANÇAS BRINCAM DE ESCRAVOS DE JÓ)

ZÉ AUGUSTO – Então tá tudo resolvido. A gente vai lá, pega o violão, entrega pra anã,
pega a escritura e inaugura a praça.

TOTA - Isso. A gente enche ela de suco de maracujá, ela dorme, a gente pega o violão e
tudo resolvido.

QUICA – Vocês estão querendo roubar a Fada Rock? A nossa amiga Fada Rock?

ZÉ AUGUSTO – Ela não é mais nossa amiga.

TOTA – A gente vai disfarçado e ela nem vai perceber que somos nós. Eu vou de Ho-
mem-Aranha, o Zé Augusto de Batman e você, Quica, de Mulher-Maravilha.

QUICA – Gente, isso não é brincadeira. Vocês tão querendo roubar de uma amiga a coisa
que ela mais ama na vida?

ZÉ AUGUSTO – Ela vai perder o violão por culpa dela mesma. Aquele instrumento é inútil
pra ela - Ela nem sabe tocar direito. – e muito útil pra nós, ou pra essa maldita anã seja
ela quem for.

TOTA – E se não der certo, a gente desamarra os balanços do parquinho, amarra a corda
lá em cima, se pendura e quando ela estiver passando, zás!

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ZÉ AUGUSTO – Cala a boca, idiota.

QUICA – Nós queremos o violão da Fada Rock pra conseguir a escritura da praça. Sem
nem discutir o caso, vamos roubando ele feito uns ladrões? Feito as irmãs Plic e Ploc?

ZÉ AUGUSTO – Só que elas querem o violão de ruindade, e nós por um bom motivo.

QUICA – Não existe um bom motivo pra trair um amigo.

ZÉ AUGUSTO – Um amigo que não presta pra nada, não é um amigo.

(PAUSA)

TOTA – Bom, então por que a gente não explica tudo pra Fada Rock e pede o violão pra
ela numa boa? (CHOQUE DE QUICA E ZÉ AUGUSTO) Se vocês me ouvissem, iam ver
como sou cheio de ideias.

(ENTRA FADA ROCK, FURIOSA)

FADA ROCK – Então quer dizer que estou num mato sem cachorro? Seja pelas irmãs
Plic e Ploc, seja pelos meus “amigos”, eu vou ter que sacrificar meu amado violão?

TOTA – Fada Rock, você também encontrou com a anã?

FADA ROCK – Que anã, que nada! Eu tava ali atrás e ouvi tudo.

ZÉ AUGUSTO – Então, como é que é? Vai entregar esse violão?

QUICA – Não é bem assim, Zé Augusto... Fada Rock, podemos conversar.

FADA ROCK – Não podemos, não. Na verdade, vocês são todos iguais. É, vocês três,
com a diferença que você, Quica, fala mais bonito. Eu até prefiro o jeito do Zé Augusto.
Pelo menos ele não enfeita a maldade dele.

ZÉ AUGUSTO – Falou. O violão, por favor!

FADA ROCK – Não tem violão nenhum. Hoje mesmo eu vou embora daqui. Fiquem com
o shopping center. Vocês merecem, seus falsos.

(SAI. AS CRIANÇAS GRITAM ATRÁS DELA)

TOTA – A gente não ia roubar seu violão, Fada Rock.

QUICA – A praça não era só pra gente, era pra cidade inteira.

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ZÉ AUGUSTO – E mesmo sem entregar o violão você não precisa ir embora. Apesar de
tudo, nós gostamos de você, mesmo que você fique velha sem dar seu show e nós gran-
des sem brincar na praça.

FADA ROCK – (VOLTANDO) Tá legal, tá legal. Vão correndo buscar a anã, antes que eu
me arrependa... Não, demorem um pouco. Eu quero me despedir do Doce Vampiro.

(AS CRIANÇAS SAEM. FADA ROCK COMEÇA A CANTAR. NÃO SE DEPRIME E

CANTA A MÚSICA TODA MUITO BEM)

FADA ROCK

Companheiro, isso é o fim

Você foi muito bom pra mim
Foi tanta estrada junto, e afinal
Não posso nem falar, estou tão down
Mas eu vou te tocar, sem me abalar,
Mesmo que toque mal

É, meu companheiro, valeu afinal

Meu Doce Vampiro, você foi parte de mim
E te arrancar agora me dói demais
Não sei se vou poder, não sou capaz
Me sinto num navio, tão grande e vazio
Sem atracar no cais.

É, meu companheiro, até nunca mais

Amigo é agora, esse é nosso bota-fora

Não sei quem é melhor, você ou eu
E se a Terra gira – né, seu Galileu?
A gente ainda se encontra, afinal de contas
Você e eu, fomos sempre unidos
Companheiro, valeu – valeu.

(ENTRAM AS CRIANÇAS COM A ANÃ)

FADA ROCK – Eis Doce Vampiro prá vocês. Espero que sejam tão felizes com ele
quanto eu fui.

(BEIJA O VIOLÃO E O ENTREGA PARA A ANÃ. COM O MOVIMENTO, TOTA NOTA AL-
GUMA COISA DENTRO DO INSTRUMENTO)

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 FADA ROCK
TEXTO DE ZECA CAPELLINI E CLAUDIA DALLA VERDE
MÚSICAS DE VLADIMIR CAPELLA

TOTA – Peraí... Eu vi alguma coisa...

ZÉ AUGUSTO – Onde?

TOTA – Aqui, dentro do violão...

PLIC – Não tem nada, não... (PLIC E TOTA DISPUTAM A POSSE DO VIOLÃO. ELA
PERDE AS ESTRIBEIRAS E GRITA) Solta, já disse que não tem nada! (AS CRIANÇAS
NOTAM ALGUMA COISA DE ERRADO. PLIC, AO PERCEBER A GAFE, COMEÇA A
TOSSIR E MUDANDO A VOZ, DEDILHA NAS CORDAS DO VIOLÃO, CANTARO-
LANDO) Não tem nada... Não tem nada...

PLOC – (ENTRANDO) Plic, você conseguiu, minha irmãzinha...

(TOTA SE APROXIMA DA ANÃ E DESMASCARA PLIC. PEGA O VIOLÀO DE SUA MÃO,

ENFIA A MÃO NA ABERTURA E ARRANCA A ESCRITURA. TODOS, EXCETO PLIC E
PLOC, PULAM DE ALEGRIA. CANTAM NOVAMENTE A MÚSICA “O QUE É QUE TEM
NA PRAÇA?”. PLIC E PLOC, AOS POUCOS VÃO FICANDO PARALISADAS, DESTA
VEZ PARA SEMPRE, TRANSFORMANDO-SE EM ESTÁTUAS DE PEDRA)

CENA VIII

(ENQUANTO ESSA CENA SE DESENROLA, ARMA-SE O CENÁRIO DA PRAÇA: UM

CORETO NO CENTRO; ÁRVORES, UM BANCO DE MADEIRA E NUM CANTO A ESTÁ-
TUA DE PLIC E PLOC, MONTADAS NUMA VASSOURA. MÚSICA ALEGRE TOCADA
PELA FANFARRA DA CIDADE. UMA FITA VERMELHA DE INAUGURAÇÃO ATRA-
VESSA A CENA. PREFEITO E ESCRIVÃO NO CORETO, INICIAM A SOLENIDADE)

PREFEITO – Povo de Plocópolis, É com muito orgulho que daremos início à solenidade
de inauguração da Praça Municipal Coronel Ploc. (PALMAS. O PREFEITO CAMINHA
ATÉ A FITA DE INAUGURAÇÃO E CORTA-A COM UMA TESOURA, FAZENDO POSES
PARA OS FOTÓGRAFOS. PALMAS. VOLTA PARA O CORETO) E agora, o momento
mais esperado. Para abrilhantar nossa tarde, recebemos aqui, nesta praça a ilustre pre-
sença da nossa querida amiga e estrela... FADA ROCK!

(FADA ROCK ENTRA E CANTA A MÚSICA “AGORA SÓ FALTA VOCÊ”, DE RITA LEE.
DEVERÁ SER UMA CENA COM MUITA MOVIMENTAÇÃO. FADA ROCK NO CENTRO E
TODAS AS CRIANÇAS À SUA VOLTA CANTAM E DANÇAM ANIMADAMENTE. BLACK-
OUT)

FIM

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 FADA ROCK
TEXTO DE ZECA CAPELLINI E CLAUDIA DALLA VERDE
MÚSICAS DE VLADIMIR CAPELLA

Obs.

Este texto foi retirado do site do CBTIJ - Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Ju-
ventude. Lembramos que qualquer montagem deste texto, seja profissional ou amadora,
requer a autorização do autor, da família ou da entidade detentora dos direitos autorais.

Contato dos Autores:

Cláudia Dalla Verde: cdallaverde@gmail.com
Zeca Capellini: zecapellini@gmail.com

Contato CBTIJ: cbtij@cbtij.org.br

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